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Concretos com resíduos: Incorporação de agregados

reciclados em sua produção

Amanda Cassioli Dutra1

Ana Ester Garcia de Paiva 2

Elias Rogério Campi Xavier 3

Felipe Gonçalves Machado 4

Gabriel Silva Galvão 5

Tiago Tessarollo6

Viviane dos Santos Dias 7

Resumo

O presente artigo é fruto da revisão bibliográfica de diferentes tipos de


documentos científicos e traz uma síntese a respeito da incorporação de
agregados reciclados na produção de concretos. Essa técnica tem se
mostrado uma excelente alternativa para a substituição dos agregados
extraídos in natura. Uma vez que os reciclados são escolhidos a partir da
análise do seu ciclo de vida e a fim de incorporarem o mínimo de energia
possível ao produto final.

Palavras-chave: Agregados reciclados, Concretos especiais.

1 Graduando em Engenharia Civil pela Ufes – Campus Goiabeiras. E-mail: amanda.dutra@edu.ufes.br@edu.ufes.br

2 Graduando em Engenharia Civil pela Ufes – Campus Goiabeiras. E-mail: ana.paiva@edu.ufes.br

3 Graduando em Engenharia Civil pela Ufes – Campus Goiabeiras. E-mail: elias.xavier@edu.ufes.br

4 Graduando em Engenharia Civil pela Ufes – Campus Goiabeiras. E-mail: felipe.machado@edu.ufes.br

5 Graduando em Engenharia Civil pela Ufes – Campus Goiabeiras. E-mail: gabriel.galvao@edu.ufes.br

6 Graduando em Engenharia Civil pela Ufes – Campus Goiabeiras. E-mail: tiago.tessarollo@edu.ufes.br

7 Graduando em Engenharia Civil pela Ufes – Campus Goiabeiras. E-mail: viviane.s.dias@edu.ufes.br


1. INTRODUÇÃO

Para Bastos (2019) o concreto pode ser definido como “um material composto,
constituído por cimento, água, agregado miúdo (areia) e agregado graúdo (pedra
ou brita)”. Portanto, traz em sua composição dois tipos de constituintes que
merecem extrema atenção, a saber: o cimento e os agregados. Embora a água
também tenha o seu valor e os motivos de preocupação quanto ao uso, ela é
devolvida em grande parte para o meio ambiente quando o concreto começa a
ser hidratado, o que não acontece com os outros elementos.

O primeiro deles, aliás, é um material que demanda de uma grande quantidade


de energia para ser produzido e, principalmente, uma grande quantidade
também até o seu uso final (JOHN, 2000). Além disso, para ser produzido
consome muitos recursos naturais, dentre eles o calcário e materiais argilosos.
Já o segundo, por sua vez, embora não gastem tanta energia desde a sua
extração, beneficiamento e uso, caracterizam por serem diretamente explorados
de fontes não renováveis.

Deste modo, a necessidade de se pensar em meios de mitigar estes efeitos é


urgente e, inclusive, já vem sendo realizada. Uma das alternativas promissoras
para tal é a substituição dos agregados provenientes da extração natural por
aqueles provenientes de reciclagem. Exemplos disso são o pó de mármore, o
rejeito de construção civil (RCD) e o resíduo de corte de granito (RCG).

Um grande incentivo para essa estratégia foi a liberação do uso dos agregados
reciclados de construção civil - Classe II da resolução 307 do CONAMA, a partir
da ABNT NBR 15116:2021 para a utilização na produção de concretos com
resistência máxima de projeto igual a 20 MPa.

Ou seja, a estratégia de substituição dos agregados, pelo menos em partes, nos


traços de concretos não estruturais provou-se eficaz de acordo com diversas
pesquisas científicas, tornou-se normatizada e agora está se consolidando dia
após dia. Um próximo passo importantíssimo seria a mobilização de todo o setor
da construção civil a fim de massificar tal estratégia. Todavia, Araújo (2016)
explica que isso ainda não ocorre pois não se traduz em grandes vantagens
financeiras. Embora, Lage (2020) demonstra que para a Espanha - onde a
disponibilidade é mais escassa e o custo de recursos naturais é mais elevado -,

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a utilização dos agregados reciclados pode reduzir em até 50% o seu custo para
a produção de concretos.

2. OBJETIVOS

2.1. Gerais

Estudar os diferentes tipos de agregados oriundos do reaproveitamento de


materiais descartados, as suas propriedades físico-químicas e sua influência no
concreto, aplicações e sua viabilidade econômica para utilização na construção
civil.

2.2. Específicos

Constituem objetivos específicos:

● Destacar diferentes tipos de agregados reciclados;


● Evidenciar as propriedades dos agregados reciclados;
● Analisar a influência dos agregados reciclados no concreto;
● Estudar as aplicações dos concretos reciclados;
● Analisar a influência dos agregados reciclados no concreto;
● Estudar a viabilidade econômica dos agregados reciclados.

3. METODOLOGIA

Visando atingir os objetivos propostos, a metodologia para confecção do trabalho


será uma pesquisa bibliográfica, baseando-se na escrita de outros autores sobre
o tema, realizando uma comparação entre as ideias.

4. DESENVOLVIMENTO

4.1. Agregados reciclados

O uso de materiais reciclados para utilização de agregados está cada vez mais
presente na construção civil e são feitos diversos estudos para reciclagem e
reaproveitamento de materiais de diversas indústrias com baixo custo e boa
qualidade. A seguir serão apresentados alguns dos materiais utilizados.

4.1.1. Reciclagem de resíduos de construção e demolição (RCD)

Resolução nº 307 do CONAMA (BRASIL, 2002), classifica em seu Grupo A os


resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como os provenientes

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de construção, demolição, reformas e reparos resíduos de pavimentação e de
outras obras de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
resíduos de componentes cerâmicos (tijolos, blocos, telhas, placas de
revestimento etc.), argamassa e concreto; resíduos de processo de fabricação
e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos, tubos, meio fio etc.)
produzidas nos canteiros de obras. Esses rejeitos da construção civil (RCC),
quando depositados irregularmente, causam, além de poluição ambiental, a
ocupação desordenada de terrenos; são heterogêneos, uma vez que provêm de
restos de construções (BARBOSA, 2012). A Figura 1 mostra a caracterização da
composição percentual dos RCC e volumosos.

Figura 1 - Estimativa percentual da composição volumétrica de RCC e volumosos de Olimpia-


SP.

Fonte: DAEMO apud. MARQUES NETO & CÓRDOBA (2010).

Dessa forma, a reciclagem de resíduos de construção e demolição (RCD) é uma


ótima alternativa de destinação a esses resíduos, mas ainda não é muito
difundida. Segundo o diagnóstico sobre a gestão de resíduos sólidos no Espírito
Santo (2019), de forma geral, os municípios capixabas destinam 38% dos
resíduos da construção civil que recolhem para estações de bota-fora, que são
áreas devidamente autorizadas ou licenciadas para recebimento dos RCC da
Classe A.

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Figura 2 - Destinações do RCC coletado pelas prefeituras municipais do Espírito Santo.

Fonte: Plano Estadual de Resíduos Sólidos do Espírito Santo (PERS-ES).

Para a reutilização de resíduos da construção civil como agregados são


necessárias usinas de reciclagem. Fagury e Grande (2007) analisaram os
processos de uma usina em São Carlos-SP. Segundo eles, a coleta do material
e seu transporte até a central de moagem são realizados por caminhões com
caçambas estacionárias. Recebidos na usina, esses resíduos são
descarregados em montes de acordo com uma pré-seleção quanto à sua
natureza e destino final, passando posteriormente, por uma triagem manual, em
que são retirados materiais, tais como vidros, plásticos e metais, também
destinados à reciclagem. Os resíduos já triados são então moídos e britados e
seguem para um rotativo de peneiras, onde são classificados segundo sua
granulometria como areia, pedrisco, brita 1, brita 2, brita 3 e pedregulho.

4.1.2. Reaproveitamento dos resíduos de rocha granítica


ornamental

No que se refere à indústria de rochas ornamentais, grande geradora de resíduos


sólidos, cerca de 200.000 toneladas por ano são depositadas, de forma incorreta,
geralmente em leitos de rios e locais inapropriados (BARBOSA et al, 2012).
Segundo Gonçalves (2000) no processo de beneficiamento das rochas
ornamentais são gerados vários tipos de resíduos, que são: os resíduos da
extração do bloco; resíduos da serragem para enquadrá-los nas dimensões
padrão; do processo de serragem e resíduo de polímero. O resíduo gerado no
processo de serragem (RCG) é o produzido em maior quantidade e existem
muitos estudos para utilização em argamassas e tijolos de cimento. A exemplo
disso, tem-se o estudo de Silva (1998) sobre a utilização em argamassas de
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assentamento como substituto de parte cal e na confecção de tijolos de solo
cimento.

4.1.3. Outros

Além, dos materiais citados para utilização como agregado reciclado, existem
inúmeros outros que também podem ser utilizados. Segundo Jalali (2007), existe
um corpo de investigação bastante consistente em termos da utilização de
resíduos em concreto, a saber: com características pozolânicas, cinzas volantes,
escórias de alto forno, sílica de fumo, cinzas de resíduos vegetais, cinzas de
resíduos sólidos urbanos, resíduos de vidro, etc. Existe igualmente investigação
sobre a incorporação de resíduos em concreto, como agregados ou filler
oriundos da indústria automóvel, de plástico, têxteis, de extração de agregados
e da indústria cerâmica, além dos os resíduos de construção e demolição (RCD)
e o pó de pedra da indústria das rochas ornamentais já mencionados.

4.2. Propriedades dos agregados reciclados

De acordo com Angulo (2005), alguns métodos podem ser utilizados para
caracterizar os agregados reciclados, tais como a análise granulométrica, a
análise química, análise mineralógica, a análise termogravimétrica, a separação
por densidade e determinação da massa específica aparente e absorção de
água.

Conforme Angulo e Figueiredo (2011), tratando-se do Resíduo de Construção e


Demolição (RCD), a composição do agregado varia conforme cada caçamba e
cada cidade, sendo que os teores de materiais indesejáveis podem ser
superiores a 50%. Dessa forma, as propriedades dos agregados de RCD tendem
a apresentar grande variabilidade.

A porosidade varia para cada tipo de material presente nos agregados de RCD,
sendo que quanto maior a quantidade de cerâmica vermelha presente, maior a
porosidade e absorção de água. Ainda, quanto menor a porosidade do RCS,
mais resistentes a esforços mecânicos ou de abrasão será o agregado, além do
fato de que quanto mais porosos, maior o teor de finos presente. (ANGULO e
FIGUEIREDO, 2011).

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Ademais, Leite (2001), faz as seguintes afirmações em sua tese, considerando
o resíduo objeto da pesquisa com uma composição de 29,84% de rocha natural,
28,26% de argamassa e 26,33% de material cerâmico:

• A massa específica dos agregados reciclados foi menor que a dos


agregados naturais, do mesmo modo a massa unitária. Dessa forma, com
tais reduções, é necessário compensar o volume de material reciclado em
misturas de concreto;
• As taxas de absorção dos agregados reciclados são elevadas, de modo
que existe a necessidade de se compensá-las durante a produção de
concreto;
• O agregado reciclado utilizado apresentou-se em forma lamelar, com
textura rugosa, o que pode prejudicar a trabalhabilidade dos concretos
produzidos.

Angulo (2005), também evidencia em sua pesquisa que a presença de gesso foi
desprezível nos agregados de RCD nacionais. Araújo (2015), ressalta a
importância de se haver um tratamento mecânico para limpar o agregado
reciclado. Em sua pesquisa, o tratamento resultou em uma recuperação de 53%
de agregados de melhor qualidade, com maior massa específica e menor
absorção que os agregados brutos.

4.3. Influência dos agregados reciclados no concreto

As propriedades dos concretos com agregados reciclados possuem uma maior


heterogeneidade e variabilidade quando comparados aos concretos
convencionais (LIMA, 1999). Dentre os fatores que influenciam os concretos com
agregados reciclados podemos citar a composição do agregado que será
utilizado, a origem e tratamento dos resíduos que serão reciclados.

Os agregados reciclados, no geral, apresentam menor resistência mecânica e


massa específica, e maior absorção de água do que os agregados naturais,
fatores esses que impactam diretamente nas propriedades do concreto
produzido. Alguns estudos, portanto, abordam a influência da substituição parcial
ou total do agregado natural, por agregado reciclado.

Campos (2018) apresentaram algumas conclusões após a análise da


substituição parcial dos agregados:

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• Os agregados reciclados comprometeram a fluidez dos concretos
estudados, possivelmente devido ao fato de possuírem um maior teor de
material pulverulento e maior absorção de água. Apesar disso, com o uso
de aditivo foi possível a correção na fluidez das massas;
• A substituição de 20% do agregado natural pelo reciclado, não
apresentaram diferenças estatisticamente significativas na resistência à
compressão, à tração e no módulo de elasticidade, aos 28 dias.

Silva, Felix e Santos (2014) apresentaram estudos com a substituição parcial e


integral dos agregados naturais, e obtiveram as seguintes conclusões em sua
tese:

• É possível a substituição integral do agregado natural pelo agregado


reciclado sem prejuízo das resistências à compressão e à tração do
concreto;
• Assim como apontaram Campos, Barbosa, Pimentel e Maciel (2018),
verificaram que a substituição parcial dos agregados não apresentou
diferenças significativas nas resistências à compressão e tração, em
relação a referência;
• É fundamental a adequada seleção dos resíduos que darão origem ao
agregado reciclado. Recomenda-se utilizar reciclados com baixo teor de
resíduos cerâmicos;
• Em relação ao módulo de elasticidade, apesar de ter sofrido influência,
não apresentou uma diferença significativa, variando entre 6% e 12%.

Yang (2008) apresentaram estudos mais detalhados e categorizados em função


da massa específica dos agregados reciclados, e a absorção de água, e
apontam as seguintes conclusões em sua pesquisa:

• Devida maior absorção de água dos agregados reciclados, o abatimento


foi ligeiramente afetado, sendo que quanto maior a absorção menor o
abatimento;
• A quantidade total de água e a taxa de exsudação do concreto fresco
decresceram com o aumento da absorção de água dos agregados
reciclados;
• A resistência a compressão do concreto com agregados graúdos
reciclados com baixa absorção foi similar ao concreto de referência, no

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entanto, houve uma redução de até 40% na resistência quando utilizados
materiais com alta absorção.

Assim sendo, podemos observar que a substituição dos agregados, miúdos ou


graúdos, parcial ou total, é extremamente viável analisando do ponto de vista da
manutenção das propriedades mecânicas dos concretos.

4.4. Aplicações dos materiais resultantes de reciclagem em obras


de Engenharia

A seguir serão apresentadas algumas das aplicações dos materiais originados


da reciclagem de entulhos e as vantagens de cada uma (WATANABE, 2008):

a) Uso em pavimentação: o seu uso como base, sub-base ou revestimento


primário é considerada a forma mais simples de reciclagem do entulho na
forma de brita corrida ou ainda em mistura de resíduos com solo. Entre
as suas vantagens, tem-se:
• Baixa utilização de tecnologia e menor custo no processo;
• Permite o uso de todos os componentes minerais do entulho sem
a necessidade de separação entre eles;
• Economia de energia no processo de moagem do entulho, visto
que parte do material permanece como granulometria graúdo ao
ser usado no concreto;
• Possibilidade de uso de uma maior parcela de entulho produzido,
como o proveniente de demolições e de pequenas obras;
• Maior eficiência do resíduo quando adicionado aos solos
saprolíticos em relação a mesma adição feita com brita.
b) Uso como agregado para concreto: Também poderá ser empregado
como agregado para concreto não estrutural, por meio da substituição dos
agregados convencionais (brita e areia). Entre as suas vantagens, tem-
se:
• Uso de todos os componentes minerais do entulho sem a
necessidade de separação de nenhum deles;
• Economia de energia no processo de moagem do entulho;
• Possibilidade de uso de uma maior parcela do entulho produzido;

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• Possibilidade de melhorias no desempenho do concreto em
relação aos agregados convencionais, quando se utiliza baixo
consumo de cimento.
c) Uso como agregado para a confecção de argamassa: Ao ser processado
por argamasseiras em granulometria semelhante à da areia, ele poderá
ser utilizado como agregado para argamassa de assentamento e
revestimento. Apresentando as seguintes vantagens:
• Uso do resíduo no local gerador eliminando custos com transporte;
• Efeito pozolâmico apresentado pelo entulho moído;
• Redução no consumo do cimento e da cal;
• Ganho na resistência à compressão das argamassas.
d) Outros usos: utilização de concreto reciclado com agregado;
cascalhamento de estradas; preenchimento de vazios em construções;
preenchimento de valas de instalações e reforço de aterros.

Com ênfase no uso de resíduos em concretos, tem-se estudos comprovando a


viabilidade de concretos produzidos com resíduos provenientes do
beneficiamento de rochas ornamentais como substituto parcial de cimento. Tal
estudo evidenciou que não há alterações significativas no desempenho dos
concretos produzidos em determinadas proporções, tanto em relação à
resistência à compressão axial, quanto à resistência à tração por compressão
diametral (DEGEN, 2013).

Ademais, estudos realizados por Francisco (2017) mostram que a utilização de


agregado reciclado para a confecção de um concreto compósito em aplicações
não estruturais tem viabilidade de aplicação na proporção de 50% de utilização
de material reciclado.

Adicionalmente, ao analisar a utilização de concreto com materiais reciclados na


aplicação de elementos estruturais conclui-se que ele pode ser utilizado na
produção de elementos como: pisos, contramarco de janelas, painéis de pré-
moldados e lajes pré-moldadas, desde que observada suas particularidades: sua
menor resistência, maior deformabilidade e maior permeabilidade que podem vir
a serem fatores limitantes em determinadas aplicações (SANTANA, 2011).

4.5. Viabilidade econômica

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Alguns fatores devem ser estudados ao analisar a viabilidade econômica do uso
de agregados reciclados:

• Decisão de onde dispor da construção e demolição resíduos: centro de


reciclagem ou aterro sanitário;
• Decisão de qual porta de uso: agregados naturais ou reciclados;
• Imposição de impostos para deposição em aterro e para utilização de
matérias-primas;
• Utilização de subsídios sobre o uso de um centro de reciclagem.

Tomadas as devidas decisões a respeito destes fatores, pode-se analisar de


forma efetiva a eficácia econômica dos agregados reciclados.

Ao analisar o quão viável economicamente são os concretos com agregados


reciclados, algumas considerações devem ser feitas, tais como a existência de
comprovação de que haverá economia financeira ao utilizar os agregados
reciclados através de um cálculo de custo operacional complexo (VIEIRA e
MOULIN, 2004).

Neste cálculo considera-se não apenas o preço que se paga pelos agregados
reciclados, mas também a vida útil e, consequentemente, o desempenho dos
agregados reciclados, conforme pode-se visualizar na Tabela 1 e Tabela 2.

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Tabela 1 - Comparação entre o preço médio para os agregados naturais e reciclados.

Fonte: Vieira E Moulin (2004).

Tabela 2 - Comparação entre a vida útil estimada para o concreto convencional e com
agregados reciclados.

Fonte: Vieira E Moulin (2004).

Considerando o cenário mundial quanto à diferença de preço por tonelada de


agregado reciclado e agregado natural, certamente depende muito da área em
que a obra se acomoda, pois o custo do agregado natural varia muito de uma
área para outra. Em algumas áreas, o preço dos agregados naturais se
assemelha ao preço dos agregados reciclados, mas tomando como exemplo a
Espanha os agregados reciclados são mais baratos. O custo de uma tonelada
de agregado natural é entre 5€ e 7,5€. Para o mesmo país, o custo de uma
tonelada de agregado de concreto reciclado está entre 3€ e 6€ enquanto o custo
para agregados mistos reciclados é o intervalo de 2–5 €/ton. (LAGE, 2020).

Porém o fator de transporte e distância pesarão ao tratar da viabilidade


econômica dos agregados reciclados já que, tomando como exemplo estudo
realizado na Universidade de Belgrado, Sérvia, temos que o preço do agregado
natural incluindo transporte é apenas 3 €/ton, enquanto o preço dos agregados
de concreto reciclado excluindo o transporte é de 11,5 V/t. (TOSIC, 2015).

Entretanto, embora a substituição de produtos naturais agregados por


agregados reciclados é uma opção tecnicamente viável para melhorar a
sustentabilidade do concreto em termos de esgotamento natural e redução da
geração de resíduos, uma análise profunda do impacto ambiental é necessária
antes de reivindicar uma melhoria de sustentabilidade de nossa produção de

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concreto. Fatores como a distância entre a usina de concreto e a usina de
reciclagem (alterando a distância de transporte e, portanto, o consumo de
energia suposição) ou algumas abordagens para compensar o efeito negativo
de agregado reciclado nas propriedades mecânicas do concreto (por exemplo,
aumentar o teor de cimento) poderia reduzir a sustentabilidade capacidade de
usar agregados reciclados. (LAGE, 2020).

5. CONCLUSÕES

A indústria da construção civil, destaca-se pelo grande impacto ambiental de


suas atividades, sendo necessário, com urgência, a mudança paradigmas que
causam tal devastação. Disso, surge a busca insistente, de materiais
alternativos, que visam a sustentabilidade do setor, além de atender
propriedades inerentes para a utilização, como: baixo custo, agilidade de
execução, durabilidade e melhoria das propriedades do produto final.

Nesse contexto, verifica-se que o emprego de agregados reciclados, em


substituição aos materiais tradicionais para a produção de concreto, se torna
uma opção, sendo de grande importância a realização de estudos para a
evolução do material. Portanto, diante das considerações realizadas ao longo do
estudo, conclui-se que a utilização de agregados reciclados é viável para a
confecção do concreto, desde que consideradas as particularidades do concreto,
quanto a influências em suas propriedades mecânicas. Ainda, pode-se ressaltar
que a utilização de agregados reciclados não compromete as propriedades
essenciais do concreto para a sua utilização, além de colaborar com a redução
de entulhos oriundos das obras, possibilitando o avanço da sustentabilidade no
setor da construção civil.

Abstract

This article is the result of a bibliographic review of different types of scientific


documents and provides a summary regarding the incorporation of recycled
aggregates in the production of concrete. This technique has proved to be an
excellent alternative for the replacement of aggregates extracted in natura.
Since the recycled products are chosen based on their life cycle analysis and
in order to incorporate as little energy as possible into the final product.

Keywords: Recycled aggregates, Special concrete.


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