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Resumo
Este trabalho contém uma revisão bibliográfica acerca de alguns materiais
alternativos que podem ser usados no concreto com a finalidade de fornecer à
construção civil uma aproximação com a sustentabilidade e até mesmo, em alguns
casos, fornecer ao concreto uma melhora nas suas propriedades. Isso se justifica na
extração e produção dos materiais componentes do concreto quando causam
impactos à saúde humana e ao meio ambiente, fazendo com que a construção civil
busque por novas alternativas de materiais do concreto, as quais são incentivadas
por iniciativas como o IPTU Verde, por exemplo, que solucionem essa problemática,
mesmo havendo algumas complicações na implantação dessas novas tecnologias,
como a existência de um oligopólio de empresas envolvidas nos materiais
tradicionais do concreto; a falta de mão de obra qualificada; e a falta de normas
regulamentadoras de novas tecnologias. Neste artigo pesquisou-se sobre o uso no
concreto das cinzas de casca de arroz, a borracha de pneus resíduos de
recauchutagem, a porcelana de isoladores elétricos, plásticos residuais e os
polímeros superabsorventes. Concluiu-se que, desde que com um traço
tecnologicamente estudado e eficiente, esses materiais podem ser utilizados para
finalidades específicas, auxiliando a construção civil no alcance da sustentabilidade.
1. Introdução
O concreto é uma mistura heterogênea formada, basicamente, por cimento, água, e
agregados, podendo conter aditivos. Nas construções, o concreto é o principal
componente, o qual pode ser moldado em formas diversas, dependendo do
interesse de aplicação. Essa mistura pode ser preparada no próprio canteiro de
obras ou em usinas. (COUTO et al., 2013, p. 50).
Para obter esses materiais, componentes do concreto, entretanto, muitos danos são
causados ao meio ambiente. Segundo Maury e Blumenschein (2012), a produção do
cimento, em todas as suas fases, gera impactos ao meio ambiente e à saúde
humana. Na extração da matéria-prima, por exemplo, o ambiente natural é
degradado assim como material particulado é emitido, causando problemas à saúde
humana. Além disso, a clinquerização (produção do clínquer, principal componente
do cimento), emite gases de efeito estufa, principalmente o dióxido de carbono.
Quanto aos agregados, Rodrigues et al. (2018, p. 28) afirma que a extração destes
gera impactos biológicos, geomorfológicos, hídricos e atmosféricos de grandes
proporções, os quais podem ser exemplificados na retirada da camada vegetal,
contaminação do solo e dos rios pelos produtos químicos utilizados, sedimentação e
poluição dos rios, e crescimento de processos erosivos em minas antigas que não
foram reparadas.
Em adição, por Menossi (2004, p. 3):
A quantidade de areia consumida anualmente na construção civil brasileira
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é de 320 milhões de m³. [...]. Quase todo esse material é retirado das
baixadas e dos leitos dos rios. A retirada de areia de um grande rio agride
sua calha natural, leva a um aumento da vazão de água e acelera o ritmo de
erosão das margens.
Considerando essas problemáticas nos processos de utilização desses materiais do
concreto, ocorre, atualmente, na construção civil, uma busca por materiais
alternativos, com exemplos como reaproveitamento de entulhos, cinza da casca de
arroz, borracha de pneu, entre outros. (CAMPOS e PAULON, 2015, p. 32).
Além disso, vinculado a esses grandes impactos ambientais que impulsionam o
setor da construção civil a alcançar sustentabilidade, a necessidade de
modernização das tecnologias clama pelo alcance de praticidade, resultando no
almejo da melhoria do modo como se extrai, prepara e utiliza a matéria da natureza.
(KOPPE et al. (2017, p. 2).
Para Motta e Aguilar (2009, p. 86), “acredita-se que a sustentabilidade é alcançada
através de um modelo de desenvolvimento que busca o bem-estar com o equilíbrio
sociocultural, econômico e ambiental”.
Sendo assim, o objetivo deste artigo é exemplificar alguns materiais alternativos que
podem ser utilizados no concreto através de uma revisão bibliográfica que comprova
uma aproximação do setor da construção civil com a sustentabilidade, além de, até
mesmo, uma melhora nas propriedades do concreto.
2. Desenvolvimento
Através de uma rica revisão bibliográfica, o item 2.1 desse artigo relata sobre os
problemas enfrentados bem como os incentivos para a implantação de novas
tecnologias no mercado da construção civil. Os itens 2.2, 2.3, 2.3, 2.4, 2.5 e 2.6
caracterizam os polímeros superabsorventes residuais, os isolantes elétricos de
porcelana, borracha de pneus de recauchutagem, plástico usados como agregados
e as cinzas de casca de arroz, respectivamente. Esses itens também descrevem o
comportamento que causam quando esses materiais são inseridos no concreto,
findando com a conclusão no item 3.
2.1 Implementação
É preciso salientar que para implantar uma nova tecnologia no mercado, algumas
dificuldades são enfrentadas. Estas são exemplificadas na falta de normas
regulamentadoras e políticas públicas, fato que dificulta a criação de soluções
sustentáveis.
O oligopólio das empresas envolvidas nos materiais tradicionais também é um
entrave, pois causam receio aos consumidores do uso de substitutos ecológicos e
não usuais, quando essas empresas persuadem os consumidores a usarem seus
produtos convencionais, garantindo-lhes maior durabilidade e resistência.
Além disso, a falta de mão de obra qualificada para o uso dessas novas tecnologias
também se torna um problema. (OLIVEIRA, 2015; JOHN 2002 apud SANTOS e DE
MEDEIROS, 2020).
É claro que há pontos positivos para as empresas na utilização de novas tecnologias
ecológicas. As certificações ambientais são um deles. O Brasil, por exemplo, ocupa
a terceira posição no ranking dos países com maior número de edifícios em
processo de certificação. (GBCI, 2014; OLIVEIRA, 2015 apud SANTOS e DE
MEDEIROS, 2020).
Outro exemplo de incentivo para as empresas implantarem tecnologias ecológicas é
o programa IPTU Verde, adotado por 55 cidades brasileiras, que fornece desconto
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Jensen e Hansen (2001 apud ONGHERO, 2013, p.28) afirmam que os agentes de
cura interna podem ser um agregado leve apresentando uma umidade específica ou
ainda os polímeros superabsorventes (PSAs).
Callister Jr. (2002) define polímeros superabsorventes (PSAs) como materiais com
grande capacidade de reter água em sua estrutura. No concreto, os PSAs funcionam
como aditivo, os quais formam macro poros cheios de água. (JENSEN e HANSEN,
2001 apud SUAREZ, 2015, p. 2).
Dito isso, Kohpe et al. (2017) expõe que todos os setores do mercado precisam
redirecionar seus resíduos, inclusive o setor da construção civil. Por isso, são
buscadas alternativas nobres para a disposição desses resíduos, sem a
necessidade de dispô-los em aterros sanitários. Dessa forma, muitos resíduos são
reaproveitados na construção civil, inclusive os PSAs residuais, fornecendo à este
setor a prática da sustentabilidade (com menor necessidade de extração e
disposição final de rejeitos), bem como uma alternativa para a problemática das
práticas faltantes de cura do concreto.
As pesquisas feitas por Kohpe et al. (2017) com polímeros superabsorventes
residuais (PSAR), utilizaram argamassas com os traços da Tabela 1.
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Em seus testes para verificar a resistência à compressão (Figura 1), Kohpe et al.
(2017) comprovou que quanto maior a umidade relativa, maior a resistência, embora
a cura inteira por PSAR não tenha contribuído para uma melhoria na resistência.
Kohpe et al. (2017) comprova pela Figura 3 que as argamassas REF 60%, REF 30%
e PSAR+ 60% apresentaram os maiores valores de retração. As duas primeiras
argamassas por falta de cura e a terceira devido ao surgimento de poros internos.
Figura 3 – Deslocamentos lineares das argamassas submetidas a 60% e 30% de umidade relativa
Fonte: Kohpe et al. (2017)
Sendo assim, o uso dos PSAs residuais apresenta resultados similares ao uso dos
PSAs comerciais, na matriz cimentícia. Embora não contribuam para o ganho da
resistência ao longo das idades, contribuem para a minimização da retração plástica
e da fissuração inicial. (KOHPE et al., 2017).
Schmidt (1979) define isolantes elétricos como materiais que oferecem resistência à
passagem de corrente elétrica, se comparados com os materiais condutores.
Murakami (2002) classifica os isolantes elétricos quanto aos materiais de fabricação:
podem ser, de um modo geral, de porcelana, vidro ou material não cerâmico.
Conforme Campos e Paulon (2015), é gerado um resíduo de 25 mil toneladas por
ano, no Brasil, tratando-se de isolantes elétricos de porcelana, que muitas vezes
degradam o meio ambiente quando descartados. Esse material possui similaridade
química e física com os agregados comumente utilizados em concretos e
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Através dos resultados dos ensaios (Figura 6), Silva et al. (2019) verificou que
quanto maior a porcentagem de adição de borracha no concreto menor a resistência
à compressão e a trabalhabilidade do concreto. Entretanto, pôde-se alcançar um
concreto dentro dos parâmetros estabelecidos pela ABNT:NBR 9781, a qual
estabelece resistência de 35 MPa para a finalidade de suportar baixo tráfego.
Também se verifica que os custos de fabricação do concreto com o uso de borracha
são menores que os custos de fabricação do concreto convencional.
Verificou-se, também, valores de absorção de água, índice de vazios e massa
específica para esses concretos (Figura 7). Concluiu-se, portanto, que o concreto
com adição de 9% apresentou menor índice de vazios e menor absorção. Ou seja,
demonstra ser um concreto menos poroso. Ademais, todos os concretos revelaram
valores de absorção de água menores que o limite de 6% exigido pela ABNT:NBR
9781 para baixo tráfego. (SILVA et al., 2019).
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Silva et al. (2019) fez uma análise de custos (Tabela 3) dos traços de 6% e 9%, bem
como do traço de referência, para produção de 1m³ de concreto. Pôde verificar que
o traço de 9% apresentou o menor custo. Isso se deve à possibilidade de a borracha
adicionada incrementar volume ao concreto, aumentando o rendimento e
consequentemente reduzindo os valores de confecção do concreto.
Os resultados experimentais (Tabela 7) por Choi et al. (2004) apud De Souza et al.
(2018), indicam que quanto maior o teor de plástico no concreto (partículas de 5 mm
até 15mm), menor a resistência à compressão, menor a resistência à tração, menor
o módulo de elasticidade e maior o slump.
Uma elevada atividade pozolânica pode ser observada na CCA quando obtida pela
combustão controlada da casca, podendo, portanto, ser utilizada na confecção de
pastas, argamassas e concretos. (TASHIMA, 2012). Além disso, “como a cinza
contém alto teor de sílica (~92%), isto a torna um resíduo valorizado.” (HOFFMANN
et al., 2010).
Ludwig (2014) utilizou 3 traços de concreto com teores diferentes de CCA (3%, 5% e
7%), para fazer uma comparação com um traço de referência, conforme Tabela 8.
Nesta, há também as quantidades (kg) de água, cimento, as relações a/c e os
valores de slump (cm) para cada traço.
Para esses traços, Ludwig (2014) rompeu seus corpos de prova utilizados em sua
pesquisa, ao longo das idades de 3 dias, 7 dias e 28 dias, para fins de comparar os
valores de resistência à compressão. Constatou, portanto, que o traço com menor
teor de CCA apresentou os maiores valores de resistência (Figura 8).
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Ademais, ainda sobre os ganhos do concreto com o uso do CCA, esta contribui mais
do que qualquer outro material pozolânico no ganho de resistência do concreto com
baixas idades. Além disso, a CCA reduz a exsudação, segregação, fornecendo ao
concreto maior trabalhabilidade. (MEHTA, 1992 apud LUDWIG, 2014).
3. Conclusão
Conclui-se, então, que os PSAs residuais atuam no concreto como aditivos que
formam macro poros cheios de água, realizando, desse modo, a cura úmida, que é
uma incorporação na matriz cimentícia a qual gera cura de dentro para fora. Esses
materiais, entretanto, não contribuem para o aumento da resistência à compressão
do concreto, mas auxiliam na redução da retração, principalmente nos 3 primeiros
dias de idade desse compósito.
Em adição, os concretos com isoladores elétricos de porcelana apresentaram
menores resistências à compressão e à tração do que o concreto convencional,
entretanto, com maiores idades, esses compósitos alternativos superaram o
concreto tradicional nessas propriedades mecânicas. Isso se justifica na melhor
distribuição granulométrica dos agregados alternativos, ocasionando melhor
adensamento do concreto, ausência de material orgânico, menor absorção de água,
e maior facilidade no preenchimento da zona de transição agregado-pasta dos
produtos de hidratação do cimento.
Além disso, através adição de borracha de pneus, resíduos de recauchutagem,
concluiu-se que quanto maior for a adição, menores os valores de resistência do
concreto. Entretanto, são valores que ainda possibilitam o uso desse material para
pavimentos de baixo tráfego, segundo a ABNT:NBR 9781.
Os plásticos residuais (PET e PEAD) também apresentam esse mesmo
comportamento no concreto, ou seja, quanto maior a adição destes no concreto,
menores as propriedades mecânicas deste. Entretanto, ainda podem ser utilizados
para blocos não estruturais, principalmente se os agregados forem triturados
(partículas de aproximadamente 2 mm).
Assim como os plásticos residuais e os resíduos de recauchutagem, as cinzas de
casca de arroz também resultaram na conclusão de que quanto maior a adição,
menores as propriedades mecânicas, embora ainda se possa ter um traço com
propriedades melhores que os concretos convencionais, com um gasto financeiro
similar.
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Por fim, conclui-se que desde que haja um rico controle tecnológico, pode-se utilizar
de materiais alternativos residuais para finalidades específicas, auxiliando a
construção civil no alcance da sustentabilidade.
Referências
COUTO et al. O Concreto Como Material de Construção. Cadernos de
graduação: ciências exatas e tecnológicas, Sergipe, v. 1, n.17, p. 49-58, out., 2013.