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A utilização de materiais alternativos do concreto para o


alcance da sustentabilidade no setor da construção civil
Bruno Gustavo Peroza – brunogperoza@gmail.com
MBA em Projeto, Desempenho e Construção de Estruturas e Fundações
Instituto de Pós-Graduação - IPOG
Xanxerê, SC, 21 de janeiro de 2023

Resumo
Este trabalho contém uma revisão bibliográfica acerca de alguns materiais
alternativos que podem ser usados no concreto com a finalidade de fornecer à
construção civil uma aproximação com a sustentabilidade e até mesmo, em alguns
casos, fornecer ao concreto uma melhora nas suas propriedades. Isso se justifica na
extração e produção dos materiais componentes do concreto quando causam
impactos à saúde humana e ao meio ambiente, fazendo com que a construção civil
busque por novas alternativas de materiais do concreto, as quais são incentivadas
por iniciativas como o IPTU Verde, por exemplo, que solucionem essa problemática,
mesmo havendo algumas complicações na implantação dessas novas tecnologias,
como a existência de um oligopólio de empresas envolvidas nos materiais
tradicionais do concreto; a falta de mão de obra qualificada; e a falta de normas
regulamentadoras de novas tecnologias. Neste artigo pesquisou-se sobre o uso no
concreto das cinzas de casca de arroz, a borracha de pneus resíduos de
recauchutagem, a porcelana de isoladores elétricos, plásticos residuais e os
polímeros superabsorventes. Concluiu-se que, desde que com um traço
tecnologicamente estudado e eficiente, esses materiais podem ser utilizados para
finalidades específicas, auxiliando a construção civil no alcance da sustentabilidade.

Palavras-chave: Concreto. Materiais alternativos. Sustentabilidade.

1. Introdução
O concreto é uma mistura heterogênea formada, basicamente, por cimento, água, e
agregados, podendo conter aditivos. Nas construções, o concreto é o principal
componente, o qual pode ser moldado em formas diversas, dependendo do
interesse de aplicação. Essa mistura pode ser preparada no próprio canteiro de
obras ou em usinas. (COUTO et al., 2013, p. 50).
Para obter esses materiais, componentes do concreto, entretanto, muitos danos são
causados ao meio ambiente. Segundo Maury e Blumenschein (2012), a produção do
cimento, em todas as suas fases, gera impactos ao meio ambiente e à saúde
humana. Na extração da matéria-prima, por exemplo, o ambiente natural é
degradado assim como material particulado é emitido, causando problemas à saúde
humana. Além disso, a clinquerização (produção do clínquer, principal componente
do cimento), emite gases de efeito estufa, principalmente o dióxido de carbono.
Quanto aos agregados, Rodrigues et al. (2018, p. 28) afirma que a extração destes
gera impactos biológicos, geomorfológicos, hídricos e atmosféricos de grandes
proporções, os quais podem ser exemplificados na retirada da camada vegetal,
contaminação do solo e dos rios pelos produtos químicos utilizados, sedimentação e
poluição dos rios, e crescimento de processos erosivos em minas antigas que não
foram reparadas.
Em adição, por Menossi (2004, p. 3):
A quantidade de areia consumida anualmente na construção civil brasileira
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é de 320 milhões de m³. [...]. Quase todo esse material é retirado das
baixadas e dos leitos dos rios. A retirada de areia de um grande rio agride
sua calha natural, leva a um aumento da vazão de água e acelera o ritmo de
erosão das margens.
Considerando essas problemáticas nos processos de utilização desses materiais do
concreto, ocorre, atualmente, na construção civil, uma busca por materiais
alternativos, com exemplos como reaproveitamento de entulhos, cinza da casca de
arroz, borracha de pneu, entre outros. (CAMPOS e PAULON, 2015, p. 32).
Além disso, vinculado a esses grandes impactos ambientais que impulsionam o
setor da construção civil a alcançar sustentabilidade, a necessidade de
modernização das tecnologias clama pelo alcance de praticidade, resultando no
almejo da melhoria do modo como se extrai, prepara e utiliza a matéria da natureza.
(KOPPE et al. (2017, p. 2).
Para Motta e Aguilar (2009, p. 86), “acredita-se que a sustentabilidade é alcançada
através de um modelo de desenvolvimento que busca o bem-estar com o equilíbrio
sociocultural, econômico e ambiental”.
Sendo assim, o objetivo deste artigo é exemplificar alguns materiais alternativos que
podem ser utilizados no concreto através de uma revisão bibliográfica que comprova
uma aproximação do setor da construção civil com a sustentabilidade, além de, até
mesmo, uma melhora nas propriedades do concreto.

2. Desenvolvimento
Através de uma rica revisão bibliográfica, o item 2.1 desse artigo relata sobre os
problemas enfrentados bem como os incentivos para a implantação de novas
tecnologias no mercado da construção civil. Os itens 2.2, 2.3, 2.3, 2.4, 2.5 e 2.6
caracterizam os polímeros superabsorventes residuais, os isolantes elétricos de
porcelana, borracha de pneus de recauchutagem, plástico usados como agregados
e as cinzas de casca de arroz, respectivamente. Esses itens também descrevem o
comportamento que causam quando esses materiais são inseridos no concreto,
findando com a conclusão no item 3.

2.1 Implementação
É preciso salientar que para implantar uma nova tecnologia no mercado, algumas
dificuldades são enfrentadas. Estas são exemplificadas na falta de normas
regulamentadoras e políticas públicas, fato que dificulta a criação de soluções
sustentáveis.
O oligopólio das empresas envolvidas nos materiais tradicionais também é um
entrave, pois causam receio aos consumidores do uso de substitutos ecológicos e
não usuais, quando essas empresas persuadem os consumidores a usarem seus
produtos convencionais, garantindo-lhes maior durabilidade e resistência.
Além disso, a falta de mão de obra qualificada para o uso dessas novas tecnologias
também se torna um problema. (OLIVEIRA, 2015; JOHN 2002 apud SANTOS e DE
MEDEIROS, 2020).
É claro que há pontos positivos para as empresas na utilização de novas tecnologias
ecológicas. As certificações ambientais são um deles. O Brasil, por exemplo, ocupa
a terceira posição no ranking dos países com maior número de edifícios em
processo de certificação. (GBCI, 2014; OLIVEIRA, 2015 apud SANTOS e DE
MEDEIROS, 2020).
Outro exemplo de incentivo para as empresas implantarem tecnologias ecológicas é
o programa IPTU Verde, adotado por 55 cidades brasileiras, que fornece desconto
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no IPTU às empresas de acordo com suas realizações. (PREFEITURA DE


SALVADOR, 2015 apud SANTOS e DE MEDEIROS, 2020).

2.2 Polímeros superabsorventes residuais


Figueiredo (2008 apud HELENE e LEVY, 2013, p. 5) designa a cura do concreto
como os procedimentos necessários para a desenvolver a proteção dos elementos
estruturais contra impactos, dessecação e desgastes prematuros, temperaturas
muito altas ou muito baixas e para evitar a evaporação da água de amassamento do
concreto.
Os procedimentos de cura, na grande maioria das obras, não são executados da
forma que deveriam. Nesses casos, causam aumento na porosidade do concreto,
bem como aumento na carbonatação e difusão de íons cloreto na massa. Com isso,
a cura auxilia no aumento da durabilidade das estruturas de concreto. (RINCÓN,
2000 apud HELENE e LEVY, 2013, p. 3; CASTRO-BORGES, 2007 apud HELENE e
LEVY, 2013, p.3).
Nunes e De Figueiredo (2007) pontuam que “os cuidados com a cura do concreto
desde as primeiras horas é o procedimento mais adequado para o controle da
retração plástica.”. Conceituam, também, que retração plástica é a perda da água do
concreto fresco para a superfície, ocasionando tensões de tração e por
consequência, fissuras.
Em adição, quando a cura é executada erroneamente, ocorrem falhas na
microestrutura do concreto e perdas no ganho de resistência mecânica de até 50%.
(MEHTA e MONTEIRO, 2014 apud KOHPE et al., 2017, p. 2).
Entretanto, KOHPE et al. (2017) apresenta uma alternativa para essa problemática:
[...] a técnica da cura úmida vem evoluindo para um novo campo de
pesquisa, a prática da cura inteira, uma incorporação à matriz cimentícia de
materiais capazes de gerar cura de dentro para fora. Sua pesquisa tem sido
voltada basicamente para o uso de concretos de alto desempenho, contudo,
conforme mencionado, concretos convencionais também são
frequentemente negligenciados na prática de cura úmida e tendem a evoluir
para essa tecnologia.

Jensen e Hansen (2001 apud ONGHERO, 2013, p.28) afirmam que os agentes de
cura interna podem ser um agregado leve apresentando uma umidade específica ou
ainda os polímeros superabsorventes (PSAs).
Callister Jr. (2002) define polímeros superabsorventes (PSAs) como materiais com
grande capacidade de reter água em sua estrutura. No concreto, os PSAs funcionam
como aditivo, os quais formam macro poros cheios de água. (JENSEN e HANSEN,
2001 apud SUAREZ, 2015, p. 2).
Dito isso, Kohpe et al. (2017) expõe que todos os setores do mercado precisam
redirecionar seus resíduos, inclusive o setor da construção civil. Por isso, são
buscadas alternativas nobres para a disposição desses resíduos, sem a
necessidade de dispô-los em aterros sanitários. Dessa forma, muitos resíduos são
reaproveitados na construção civil, inclusive os PSAs residuais, fornecendo à este
setor a prática da sustentabilidade (com menor necessidade de extração e
disposição final de rejeitos), bem como uma alternativa para a problemática das
práticas faltantes de cura do concreto.
As pesquisas feitas por Kohpe et al. (2017) com polímeros superabsorventes
residuais (PSAR), utilizaram argamassas com os traços da Tabela 1.
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Traço Identificação Dados dos traços


A REF Traço referência, sem adição
de PSAR.
B PSAR Traço contendo PSAR, na
dosagem de 0,65 kg/m³
C PSAR+ Traço com o dobro de PSAR do
traço B
Tabela 1 – Identificação das argamassas
Fonte: Kohpe et al. (2017)

Em seus testes para verificar a resistência à compressão (Figura 1), Kohpe et al.
(2017) comprovou que quanto maior a umidade relativa, maior a resistência, embora
a cura inteira por PSAR não tenha contribuído para uma melhoria na resistência.

Figura 1 – Resultado potencial de resistência à compressão das argamassas ao longo de 91 dias


Fonte: Kohpe et al. (2017)

Na verificação da retração das argamassas (Figura 2), Kohpe et al. (2017)


testemunhou comportamento similar entre as argamassas que usaram de PSAR e
as argamassas que não usaram, verificando uma variação diretamente ligada com a
condição de cura, ou seja, quanto menor a umidade relativa, maior a retração.
Entretanto, Kohpe et al. (2017) observou que o uso de PSAR contribuiu para uma
redução na retração nos três primeiros dias.
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Figura 2 – Retração das argamassas ao longo de 91 dias.


Fonte: Kohpe et al. (2017)

Kohpe et al. (2017) comprova pela Figura 3 que as argamassas REF 60%, REF 30%
e PSAR+ 60% apresentaram os maiores valores de retração. As duas primeiras
argamassas por falta de cura e a terceira devido ao surgimento de poros internos.

Figura 3 – Deslocamentos lineares das argamassas submetidas a 60% e 30% de umidade relativa
Fonte: Kohpe et al. (2017)

Sendo assim, o uso dos PSAs residuais apresenta resultados similares ao uso dos
PSAs comerciais, na matriz cimentícia. Embora não contribuam para o ganho da
resistência ao longo das idades, contribuem para a minimização da retração plástica
e da fissuração inicial. (KOHPE et al., 2017).

2.3 Isolantes elétricos de porcelana

Schmidt (1979) define isolantes elétricos como materiais que oferecem resistência à
passagem de corrente elétrica, se comparados com os materiais condutores.
Murakami (2002) classifica os isolantes elétricos quanto aos materiais de fabricação:
podem ser, de um modo geral, de porcelana, vidro ou material não cerâmico.
Conforme Campos e Paulon (2015), é gerado um resíduo de 25 mil toneladas por
ano, no Brasil, tratando-se de isolantes elétricos de porcelana, que muitas vezes
degradam o meio ambiente quando descartados. Esse material possui similaridade
química e física com os agregados comumente utilizados em concretos e
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argamassas. Portanto, os isoladores elétricos de porcelana residuais podem ser


utilizados, desde que com controle granulométrico, nos concretos.
Esse controle granulométrico é feito com pequenos ajustes no moinho do tipo
martelo e posteriormente, o material é submetido a um peneiramento.
Campos e Paulon (2015) realizaram pesquisas para estudar o comportamento de
concretos com substituição combinada nos teores de 25%, 50%, 75% e 100% de
ambos os agregados, como é possível observar nos traços de concreto, na Tabela
2.

Tabela 2 – Quantidade de materiais nos traços de concreto


Fonte: Paulon e Campos (2015)

Na Figura 4 e na Figura 5, Campos e Paulon (2015) dispuseram os resultados dos


cálculos dos ensaios de resistência a compressão simples e de resistência à tração
por compressão diametral, respectivamente. Puderam verificar, portanto, que, nos 3
primeiros dias, o concreto de referência Ref. C apresentou maior resistência à
compressão simples que os concretos contendo isoladores elétricos de porcelana.
Entretanto, quanto maior a idade dos concretos, maiores os valores de resistência a
compressão simples e a tração, dos concretos com isoladores elétricos de
porcelana, em relação ao concreto de referência. Isso foi possível devido à melhor
distribuição granulométrica dos agregados alternativos, o que possibilitou melhor
adensamento, ausência de material orgânico e menor absorção de água.

Figura 4 – Resistência à compressão simples


Fonte: Campos e Paulon (2015)
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Figura 5 – Resistência à tração por compressão diametral


Fonte: Campos e Paulon (2015)

Sendo assim, obtém-se, em relação ao concreto convencional, uma melhora no


adensamento do concreto, no preenchimento das formas, e menor suscetibilidade
ao processo de carbonatação. É obtido, também, uma maior facilidade no
preenchimento, na zona de transição agregado-pasta, dos produtos de hidratação
do cimento. Portanto, há uma melhora nas propriedades mecânicas, apresentando
maior resistência à compressão simples e à tração. (CAMPOS e PAULON, 2015).

2.4 Borracha de pneus de recauchutagem


Para melhorar as propriedades do concreto, bem como reduzir os problemas
ambientais causados pela deposição inadequada de pneus na natureza, pesquisas
tem apontado o uso de resíduos da recauchutagem de pneus como agregado do
concreto. (PELISSER e BERNARDI, 2010 apud SILVA et al., 2019).
Moreira et al. (2010) descreve o processo de recauchutagem como a substituição da
banda de rodagem e dos ombros (laterais superiores do pneu, logo abaixo da banda
de rodagem) da carcaça, por meio de reforma a quente.
Silva et al. (2019) realizou ensaios de resistência à compressão axial simples com
concreto contendo adição de 6% de borracha de pneu e com concreto com 9% de
adição de borracha de pneu com a finalidade de comparar com um concreto de
referência.
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Figura 6 – Resistência à compressão axial simples


Autor: Silva et al. (2019)

Através dos resultados dos ensaios (Figura 6), Silva et al. (2019) verificou que
quanto maior a porcentagem de adição de borracha no concreto menor a resistência
à compressão e a trabalhabilidade do concreto. Entretanto, pôde-se alcançar um
concreto dentro dos parâmetros estabelecidos pela ABNT:NBR 9781, a qual
estabelece resistência de 35 MPa para a finalidade de suportar baixo tráfego.
Também se verifica que os custos de fabricação do concreto com o uso de borracha
são menores que os custos de fabricação do concreto convencional.
Verificou-se, também, valores de absorção de água, índice de vazios e massa
específica para esses concretos (Figura 7). Concluiu-se, portanto, que o concreto
com adição de 9% apresentou menor índice de vazios e menor absorção. Ou seja,
demonstra ser um concreto menos poroso. Ademais, todos os concretos revelaram
valores de absorção de água menores que o limite de 6% exigido pela ABNT:NBR
9781 para baixo tráfego. (SILVA et al., 2019).
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Figura 7 – Massa específica, absorção de água e índice de vazios


Fonte: Silva et al. (2019)

Silva et al. (2019) fez uma análise de custos (Tabela 3) dos traços de 6% e 9%, bem
como do traço de referência, para produção de 1m³ de concreto. Pôde verificar que
o traço de 9% apresentou o menor custo. Isso se deve à possibilidade de a borracha
adicionada incrementar volume ao concreto, aumentando o rendimento e
consequentemente reduzindo os valores de confecção do concreto.

Tabela 3 - Avaliação de custos


Fonte: Silva et al. (2019)

2.5 Plástico como agregado


Segundo Evangelista et al. (2004):
Os depósitos de lixo, em geral, recebem em grande quantidade materiais
plásticos provenientes de instalações domésticas ou industriais, estes
diminuem a compactação e prejudicam a decomposição de materiais
biodegradáveis, pois criam camadas na qual afetam as trocas de líquidos e
gases gerados no processo de biodegradação da matéria orgânica.
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Os plásticos podem ser termofixos ou termoplásticos. Estes podem ser


reaproveitados pois podem ser moldados novamente quando submetidos ao
aquecimento adequado. Aqueles, entretanto, não se fundem novamente, impedindo
a nova moldagem. Portanto, os termoplásticos são os mais utilizados pela população
e são os que podem ser utilizados no concreto para fabricação de blocos não
estruturais, após fundidos, extrudados e cortados, tornando-se agregados
poliméricos. (EVANGELISTA et al., 2004).
Ferrari e Manca (2020) realizaram ensaios de resistência à compressão com blocos
puros, blocos com plástico triturado (PET e PEAD com partículas de 2mm) e blocos
com plástico granulado (PEAD com partículas de 5mm) com a finalidade de
comparar os resultados. Foi constatado, então, que os blocos com plástico triturado
apresentaram os maiores valores de resistência à compressão, já os blocos com
plástico granulado apresentaram os menores. (Tabelas 4, 5 e 6). Ainda, os valores
de resistência são comparados com blocos comerciais utilizados para vedação.

Tabela 4 – Resultados da resistência à compressão, blocos puros.


Autor: Ferrari e Manca, 2020.

Tabela 5 – Resultados da resistência à compressão, blocos com plástico triturado.


Autor: Ferrari e Manca, 2020.
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Tabela 6 – Resultados da resistência à compressão, blocos com plástico granulado.


Autor: Ferrari e Manca, 2020.

Os resultados experimentais (Tabela 7) por Choi et al. (2004) apud De Souza et al.
(2018), indicam que quanto maior o teor de plástico no concreto (partículas de 5 mm
até 15mm), menor a resistência à compressão, menor a resistência à tração, menor
o módulo de elasticidade e maior o slump.

Tabela 7 – Resultados experimentais obtidos por Choi et al. (2004)


Autor: Choi et al. (2004) apud De Souza (2018)

Sendo assim, a fabricação apenas de blocos não estruturais com os agregados


poliméricos é explicada por De Souza et al. (2018) quando ele afirma que os
agregados poliméricos advindos de resíduos fornecem baixa resistência mecânica.
Isso se deve à fraca interação do agregado plástico com a pasta de cimento, à
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menor resistência mecânica do plástico se comparada à resistência mecânica dos


agregados naturais, à diminuição do módulo de elasticidade e à diminuição do peso
específico.

2.6 Cinzas da casca de arroz


De acordo com a Sociedade Sul-Brasileira de Arroz Irrigado (SOSBAI) (2014), o
arroz é o segundo cereal mais cultivado no mundo, sendo a base alimentar de mais
de três bilhões de pessoas, ocupando, portanto, área aproximada de 158 milhões de
hectares no seu cultivo.
IBGE (2011 apud Tashima, et al., 2012, p. 152) apresenta que muitos problemas
ambientais são gerados do descarte da cinza da casca de arroz (CCA), subproduto
da queima da casca de arroz.
A cinza produzida pela queima da casca de arroz pode ocorrer com a finalidade de
produzir energia. (HOFFMANN et al., 2010). Tashima (2012) acrescenta:
Atualmente, são ainda as empresas beneficiadoras de arroz as principais
consumidoras de casca como combustível para a secagem e parboilização
do cereal. Como se trata, geralmente, de empresas de pequeno porte, não
possuem processos para aproveitamento e descarte adequados das cinzas
produzidas, que são geralmente depositadas em terrenos baldios ou
lançadas em cursos d’água, ocasionando poluição e contaminação de
mananciais.

Uma elevada atividade pozolânica pode ser observada na CCA quando obtida pela
combustão controlada da casca, podendo, portanto, ser utilizada na confecção de
pastas, argamassas e concretos. (TASHIMA, 2012). Além disso, “como a cinza
contém alto teor de sílica (~92%), isto a torna um resíduo valorizado.” (HOFFMANN
et al., 2010).
Ludwig (2014) utilizou 3 traços de concreto com teores diferentes de CCA (3%, 5% e
7%), para fazer uma comparação com um traço de referência, conforme Tabela 8.
Nesta, há também as quantidades (kg) de água, cimento, as relações a/c e os
valores de slump (cm) para cada traço.

Tabela 8 – Relação a/c e Slump Test


Fonte: Ludwig (2014)

Para esses traços, Ludwig (2014) rompeu seus corpos de prova utilizados em sua
pesquisa, ao longo das idades de 3 dias, 7 dias e 28 dias, para fins de comparar os
valores de resistência à compressão. Constatou, portanto, que o traço com menor
teor de CCA apresentou os maiores valores de resistência (Figura 8).
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Figura 8 – Resultados dos rompimentos de todas as idades


Autor: Ludwig (2014)

As tabelas 9 e 10 revelam os gastos para a produção de 1m³ de concreto 25 MPa


sem CCA e com CCA, respectivamente. Através da análise dos seus valores,
observa-se que os gastos demonstram pouca diferença. (LUDWIG, 2014).

Tabela 9 – Custo de insumos de 1m³ de concreto 25 MPa sem CCA


Fonte: Ludwig (2014)
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Tabela 10 – Custo de insumos de 1m³ de concreto 25 MPa com CCA


Fonte: Ludwig (2014)

Ademais, ainda sobre os ganhos do concreto com o uso do CCA, esta contribui mais
do que qualquer outro material pozolânico no ganho de resistência do concreto com
baixas idades. Além disso, a CCA reduz a exsudação, segregação, fornecendo ao
concreto maior trabalhabilidade. (MEHTA, 1992 apud LUDWIG, 2014).

3. Conclusão

Conclui-se, então, que os PSAs residuais atuam no concreto como aditivos que
formam macro poros cheios de água, realizando, desse modo, a cura úmida, que é
uma incorporação na matriz cimentícia a qual gera cura de dentro para fora. Esses
materiais, entretanto, não contribuem para o aumento da resistência à compressão
do concreto, mas auxiliam na redução da retração, principalmente nos 3 primeiros
dias de idade desse compósito.
Em adição, os concretos com isoladores elétricos de porcelana apresentaram
menores resistências à compressão e à tração do que o concreto convencional,
entretanto, com maiores idades, esses compósitos alternativos superaram o
concreto tradicional nessas propriedades mecânicas. Isso se justifica na melhor
distribuição granulométrica dos agregados alternativos, ocasionando melhor
adensamento do concreto, ausência de material orgânico, menor absorção de água,
e maior facilidade no preenchimento da zona de transição agregado-pasta dos
produtos de hidratação do cimento.
Além disso, através adição de borracha de pneus, resíduos de recauchutagem,
concluiu-se que quanto maior for a adição, menores os valores de resistência do
concreto. Entretanto, são valores que ainda possibilitam o uso desse material para
pavimentos de baixo tráfego, segundo a ABNT:NBR 9781.
Os plásticos residuais (PET e PEAD) também apresentam esse mesmo
comportamento no concreto, ou seja, quanto maior a adição destes no concreto,
menores as propriedades mecânicas deste. Entretanto, ainda podem ser utilizados
para blocos não estruturais, principalmente se os agregados forem triturados
(partículas de aproximadamente 2 mm).
Assim como os plásticos residuais e os resíduos de recauchutagem, as cinzas de
casca de arroz também resultaram na conclusão de que quanto maior a adição,
menores as propriedades mecânicas, embora ainda se possa ter um traço com
propriedades melhores que os concretos convencionais, com um gasto financeiro
similar.
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Por fim, conclui-se que desde que haja um rico controle tecnológico, pode-se utilizar
de materiais alternativos residuais para finalidades específicas, auxiliando a
construção civil no alcance da sustentabilidade.

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