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ADIÇÃO DE BORRACHA ORIUNDAS DE PNEUS

INSERVÍVEIS NA PRODUÇÃO DE CONCRETO


Dorival Ladislau dos Santos Junior
dorivaljuniorr@gmail.com
Juyllian Carolaine Correia Silvestre
juyllianc@gmail.com
André Henrique Louback Cunha
andre_henrique_97@hotmail.com
Diego Rodrigues Bonifácio
diego.bonifacio.unijipa@hotmail.com

Resumo
Esse artigo visa trazer informações sobre a utilização de resíduos de borracha oriundas de
pneus inservíveis como agregado no processo de fabricação e utilização do concreto em
construções. Nos últimos anos a tecnologia cresce em uma escala gigantesca com isso novas
tecnologias vem sendo desenvolvidas para a utilização e ampliação de materiais alternativos
no processo de fabricação do concreto, devido a um fator econômico e sustentável a utilização
da borracha apresenta uma propriedade técnica que pode ser interessante nesse processo
construtivo. Toda via, as pesquisas visam analisar se essa utilização de fibras de borracha não
compromete as propriedades de resistência à compressão e tração do concreto. Visando que
essa utilização seja viável para construções onde os esforços solicitados as peças de concreto
sejam menores.

Palavras-chave: Resíduos de borracha de pneu. Concreto. Sustentável

Introdução
Desde o início do século XXI se enfrenta uma dificuldade pela humanidade na
destinação correta de resíduos, seja ele domiciliar, industrial, construção civil, serviços de
saúde entre outros. Devido a isso uma grande quantidade de pneus são descartados como
inservíveis, ou seja, quando não possuem mais nenhuma condição de reformar ou utilização
por aviões, caminhões e de carros. (ADHIKARI et al. Apud KAMIHURA, 2002).
Esse aumento em descarte indevido de materiais principalmente da borracha está
relacionado com a fragilidade da legislação e consequentemente pela falta de incentivo à
reciclagem. Lembrando que o descarte indevido ocasiona um problema ambiental por muitos
anos, visto que o tempo de degradação da borracha é de aproximadamente 600 anos. O Brasil
tem um índice de produção de 400 milhões de unidades por ano, já os descartes indevidos
chegam na casa dos 160 milhões de unidades pelo mesmo período, vale lembrar que grande
parte dos novos produtos são importados de outros países. Não bastando apenas os efeitos ao
meio ambiente ocasionados por esse descarte inadequado, essa fabricação demanda uma
quantidade expressiva de outros materiais como o aço e o petróleo (Dinâmica Ambiental
2017).
No processo de construção em um canteiro de obra, é comum, elevar-se o fator de
água para dar melhor trabalhabilidade no concreto, aumento que em alguns casos são maiores
do que o necessário para o processo de hidratação do concreto, o que ocasionara uma
diminuição em suas propriedades mecânicas, visto que essa adição quando superior a
necessária irá reportar uma porosidade maior quando o concreto estiver em seu estado
endurecido. Podemos visualizar o fator de água cimento em relação a resistência na Figura 1.
Figura 1 - Relação de água cimento no traço de concreto na resitencia final dos elementos produzidos.
Fonte: Clube do Concreto, 2013.

Sendo assim, os estudos para incorporação desse material na construção civil vem
surgindo como uma possibilidade de diminuir os impacto ambientais. Essas pesquisas vem
crescendo cada vez mais, entretanto grande parte é destinada em aplicação sem função
estrutural onde de certa forma é inviável esses dados para elementos de construção, sendo que
as mesma precisam suportar esforços que são solicitados a todo momento pela interação das
peças de uma obra (HOMES, DUNNE E O’DONNELL, 2014). Pelo fato do concreto ser um
elemento frágil a tração, porém com alta rigidez e por sua vez o resíduo do pneu se tratando
de um material elástico, é compreensivo o estudo aprimorado desse comportamento entre os
dois matérias quando estiverem trabalhando juntos.
De acordo com a ABNT NBR-10004 (2004), a deposição de materiais quando
inservíveis seguem uma classificação apresentada em normas, diferenciando-se por material.
Os pneus são classificados como resíduo de classe II B, inertes. A Resolução nº. 258/99 do
Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) determina que as empresas fabricantes e
as importadoras de pneumáticos fiquem obrigadas a coletar e dar destinação final
ambientalmente adequada aos pneus inservíveis. A construção civil é responsável por 20 a
50% do consumo dos recursos naturais extraídos do planeta (SJOSTROM apud JOHN, 2000).
De acordo com ROMUALDO et al. (2001), essa junção do resíduo da borracha como
um agregado ao concreto pode assumir um grande papel na preservação ambiental, pois, com
essa adição extra de um novo agregado a extração de recursos naturais, como a brita e areia
tende a diminuir, sem contar na diminuição exponencial desses resíduos em áreas urbanas ou
no meio ambiente (apud FAZZAN, J. V. et al., 2016). Segundo Albuquerque et al. (2006) o
concreto com adição de borracha de pneu pode ser um material ideal quando submetido a
efeitos de impacto e, que não necessita de alta resistência mecânica (apud FAZZAN, J. V. et
al., 2016).

1 Metodologia
Para a realização do presente artigo, foi realizado um estudo e pesquisa de dados já
existentes e publicados. Com o objetivo de embasar o tema sobre a utilização de resíduos de
borracha no traço de concreto.
O trabalho constou ainda de coleta de dados baseada na documentação indireta, que
consiste na leitura e análise de materiais produzidos por terceiros, que podem apresentar-se na
forma de textos, jornais, fotografias, filmes, documentos de arquivos públicos, contratos,
revistas, dissertações, entre outros.
Através dos dados coletados na pesquisa, foi possível debater sobre a importância da
adição de borracha com a utilização de resíduos de pneus inservíveis no processo construtivo
do concreto estrutural para utilização de construções onde os esforços solicitados são
menores.

Desenvolvimento
Segundo ECHEGARAY et al. (2015) “apesar do concreto ser um dos materiais de uso
mais consolidado no mundo, pode possuir problemas em sua produção. Visando reduzir
situações como estas, cientistas e pesquisadores tentam desenvolver materiais e métodos que
melhorem sua durabilidade e resistência. Mesmo a adição de outros compostos para o reforço
na mistura inicial no concreto (como aditivos) não impede deste ser danificado, com fissuras
que podem fazer com que toda a estrutura entre em colapso, por exemplo quando a partir
delas há o contato de oxigênio com as armaduras, causando assim a oxidação, popularmente
chamada de ferrugem” (apud SANTOS JUNIOR, D. L., et al. 2018). Tendo isso em mente a
utilização de borracha prova entre os agregados uma maior união devido sua característica
física e elástica assim evitando a fissuração que é provocada pela contração do concreto
durante seu processo de pega, como se trata de um material maleável sua resistência a tração
quando comparada a fissuração no estádio II do concreto tende a ser elevada, além de
melhorar o isolamento acústico e térmico da estrutura (SEBRAE, 2014). Na Figura 2,
podemos acompanhar alguns materiais recicláveis utilizáveis como alternativa para
agregados.

Figura 2 - Tipos de elementos utilizados como agregados/aditivos no processo de fabricação de cocnreto, no


quesito de sustenbalidade, economia e/ou ganho de resistencia.
Fonte: Sebrae, 2014.

Para ser inserido ao concreto, um pneu passa por trituração, seleção criteriosa do
resíduo da borracha através do peneiramento e por processo de cura, semelhante aos
blocos de concreto convencional. O material pode ser utilizado como enchimento
leve, aterro de estradas, suporte de bases, estabilizadores de encostas, diques,
barragens, sistemas de drenagens de gases em aterros sanitários, isolante térmico e
acústico, aditivos para pavimentos asfálticos e pistas esportivas, concretos leves e
blocos pré-moldados de concretos, porque possui densidade reduzida, melhor
propriedades de drenagem, isolamento térmico e acústico (SEBRAE, 2014, p.3).

Para Peres e Freire (2004) o ensaio de abrasão em argamassa com serragem de couro
utilizando a metodologia imposta pela NBR 13.818 (ABNT, 1997) - Anexo E, apresentou
resultados favoráveis, onde obtiveram como valor máximo escavado um volume de 2/3
abaixo do valor máximo permitido pela norma, que é ≤ 2.365 mm³. Conforme os resultados
apresentados, com os percentuais de desgaste final obtido de 0,21% para o concreto de
controle e média geral aproximada de 0,16% para os corpos de prova com resíduos de pneus,
pode-se dizer que os concretos com resíduos de pneus demonstram bom potencial de
durabilidade quando submetidos à abrasão (apud FIOROT et al., 2010). A resistência à
abrasão apresenta valor de desgaste menor para o concreto com as fibras, comparado com o
concreto controle, a granulometria das fibras influência no resultado do desgaste por abrasão
(AKASAKI et al., 2003).
A metodologia utilizada para tração de concreto, mencionado na Figura 3, por
FAZZAN, J. V, et al. (2016) para os corpos-de-prova sem a adição de resíduos (Mistura
Controle) foi o método proposto por Helene e Terzian (1993), onde são necessários três
pontos para se montar o diagrama para dosagem. Esquema que correlaciona a resistência à
compressão (fcj), relação água/cimento (a/c), traço (m) e consumo de cimento Portland (C).

Figura 3 - Diagrama com metodo proposto por Helene e Terzian.


Fonte: Helene e Terzian, 1993.

Após o calculo e estudo sobre o método e a realização de alguns ajustes para o traço
com a adição de residuo se chegou a um comparativo, onde:
- TC: Traço de concreto sem resíduo de borracha de pneu (Controle).
- TR: Traço de concreto com resíduo de borracha de pneu.
As composições dos concretos sem e com adição de resíduos estão definidas na Figura
4.
Figura 4 - Foto removida do artigo de FAZZAN, J. V et al., onde a mesma são dados elaborados pelos autores
da ublicação.
Fonte: FAZZAN, J. V et. al., 2016.

Em relação a resistência, sabe-se que “considerando a redução nas resistências à


compressão em função do incremento da borracha, decidiu-se por aumentar o consumo de
cimento para 360 kg/m³ [...]”, (FAZZAN, J. V et. al., 2016).
Segundo FAZZAN, J. V et al. (2016) os dados obtidos nos corpos-de-prova para
rompimentos de 7 e 28 dias com adição de resíduos de borracha foram significativos, ficando
evidente que o aumento de aproximadamente 5% no consumo de cimento e
superplastificantes influenciou diretamente o ganho final de resistência do concreto. Também
notou-se um ganho ligeiramente maior no módulo de elasticidade, lembrando que com a
utilização de superplastificantes requereu uma relação de a/c mais baixa, o que
consequentemente aumentou o módulo de elasticidade e a resistência informada
anteriormente. Pode-se notar os dados obtidas na Figura 5.

Figura 5 - Resultados de resistência à compressão axial e modelo de eslasticidade respectivamente, dos corpos
de prova com e sem resíduo de borracha de pneu aos 7 e 28 dias de cura.
Fonte: FAZZAN, J. V et. al., 2016.

Ainda seguindo os dados obtidos por FAZZAN, J. V et al.(2016), houve uma redução
final na massa especifica dos corpos-de-prova, dado que era esperado, visto que a massa
específica da borracha em relação aos outros materiais utilizados na mistura do concreto
convencional (cimento, areia e brita) é menor, redução que chegou a 10,4%. Reduções que
comprovam que a adição da borracha pode reduzir o peso próprio das estruturas que
consequentemente vira a reduzir os custos com as fundações. Pode-se notar os dados obtidas
na Figura 6.

Figura 6 - Resultados de Massa Específica dos corpos de prova com e sem resíduo de borracha de pneu.
Fonte: FAZZAN, J. V et. al., 2016.

Considerações Finais
O trabalho teve como objetivo estudar a possibilidade da adição de resíduos de
borracha de pneu na produção de concreto, tendo como principal objetivo a sustentabilidade,
porém, além deste benefício, através das pesquisas pode-se observar outras vantagens
consideráveis, tais como: a redução do peso próprio, que auxilia na economia, proporcionando
a redução de seções transversais e dimensões das fundações. Alcançou-se também uma boa
resistência à abrasão, pois notou-se no ensaio que o concreto com adição do resíduo
apresentou menores perdas de massa comparado ao concreto sem o resíduo, indicando assim
essa melhoria.
A implementação de resíduos de borracha de pneu resulta na diminuição da resistência
à compressão, no entanto com a adição de 5% de cimento a mais e aditivo, pode-se melhorar
essa resistência, e por ser um material maleável isso proporciona um pequeno ganho de
resistência a tração.
Ao se tratar da durabilidade do concreto, houve uma melhora com a adição de resíduo,
pois o mesmo junto ao cimento resulta em um aumento de resistência a micro fissuração,
aumentando assim a durabilidade.
Com isso se pode observar que o resíduo da borracha de pneus, deixará de ser um
problema ambiental, que se encontra atualmente na natureza causando problemas de saúde e
degradação ambiental, e passará a ser fonte de um material alternativo que está sendo
empregado com sucesso na construção civil, pois além de otimizar a vida útil dos aterros e o
consumo de fontes naturais de agregados, irá reduzir a sobrecarga nas edificações, já que a
borracha possuiu uma densidade baixa.

Referências
AKASAKI et al. Avaliação da resistência à abrasão do concreto com borracha
de pneu. 2003. Disponível em:
<http://www.engipapers.com.br/index.php?option=com_content&view=article&id=608
:00487adfi2003&catid=86&Itemid=499 >. Acesso em: 16 de dezembro de 2018.
Clube do Concreto. Adição da água no local da obra. 2013. Disponível em:
<http://www.clubedoconcreto.com.br/2013/10/adicao-de-agua-no-local-da-
obra.html>. Acesso em: 13 de dezembro de 2018.
Dinâmica Ambiental. Você sabe o tempo de decomposição de pneus? Entenda a
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https://www.dinamicambiental.com.br/blog/reciclagem/voce-decomposicao-pneus-
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FAZZAN, J. V. PEREIRA, A. M. AKASAKI, J. L. Estudo da viabilidade de
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Disponível em: <
https://www.amigosdanatureza.org.br/publicacoes/index.php/forum_ambiental/article/
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FIOROTI et al. Resistência à abrasão e expansão por umidade de concretos
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HOLMES, N. Longitudinal shear resistance of composite slabs containing
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Federal de Santa Catarina, Programa de Pós - Graduação em Engenharia Civil,
Florianópolis, 2002.
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<http://abre.ai/nlouwyq0ietwf89rw>. Acesso em: 19 de janeiro de 2019.

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