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ESTUDO FÍSICO QUÍMICO DE PNEUS PARA DE APROVEITAMENTO NA


ELABORAÇÃO DE ASFÁLTICO ECOLÓGICO

Pedro Emílio Amador Salomão 1; Everson Ferreira Junio 2; Samuel Augusto Braga de Souza3

RESUMO

As questões ambientais em todo o mundo vêm ganhando grande destaque seja na parte boa ou ruim. Nesse
contexto de descarte correto de resíduos, os pneus vêm ganhando grande destaque. Pneus quando descartados de
forma incorreta, geram um passivo ambiental que leva em média 600 anos para que o meio ambiente se
recupere. Visto esse problema gerado pela falta de descarte e destino correto dos pneus usados, iniciou-se
pesquisas voltadas para a utilização ambientalmente correta desses pneus, na qual destaca-se o asfalto ecológico.
Esse tipo de pavimento tem em sua composição a borracha proveniente de pneus descartáveis, melhorando
propriedades e dando um destino economicamente e ecologicamente correto a esses pneus. Neste artigo é
discutido o destino, composição e as formas de se utilizar esses pneus de forma ecologicamente correta.

Palavras-chave: Reciclagem; asfalto ecológico; reutilização de pneus.

CHEMICAL PHYSICAL STUDY OF TIRES FOR USE IN THE ELABORATION OF ECOLOGICAL


ASPHALT

ABSTRACT

Environmental issues in the whole world are gaining prominence whether in the good or the bad way. In this
context of correct waste disposal, the tires have been gaining great prominence. Tires when discarded incorrectly
generate an environmental liability that takes in average 600 years for the environment to recover. Given this
problem generated by the lack of disposal and correct destination of used tires, researches began on the
environmentally correct use of these tires, in which the ecological asphalt can be highlighted. This type of
pavement has in its composition the rubber coming from disposable tires, improving properties and giving an
economically and ecologically correct destination to these tires. This article discusses the fate, composition and
ways to use these tires in an ecologically correct way.

Keywords: Recycling; ecological asphalt; tires reuse.

1
Doutorando em Química dos materiais e Professor Adjunto da Universidade Presidente Antônio Carlos UNIPAC. E-mail:
pedroemilioamador@yahoo.com.br
2
Mestrando em Materiais para Engenharia pela Universidade Federal de Itajubá UNIFEI. E-mail:
eversonjunio@unifei.edu.br
3
Graduado em Engenharia Civil pela Universidade Presidente Antônio Carlos UNIPAC. E-mail:
samuelaugusto.93@gmail.com

Engenharia Ambiental - Espírito Santo do Pinhal, v. 14, n. 1, p. 60 -71, jan./jun. 2017.


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1. INTRODUÇÃO um veículo de transporte de acordo com a


patente de Janulevičius et AL. (2017).
Em um mundo cada vez mais O americano Charles Goodyear,
preocupado com sustentabilidade, diversos inventor conhecido por registrar a patente
profissionais buscam utilizar de na vulcanização da borracha em 1844,
tecnologias para a reciclagem de materiais descobriu após vários testes um método de
que não apresentam mais utilidade e fazer a mistura do enxofre com borracha
muitas vezes são descartados de forma para em seguida ser exposto a altas
irregular como reportado por Wachsmuth temperaturas, obtendo-se a borracha
et al. (2017). vulcanizada. Goodyear observou que assim
Materiais descartados na forma de que realizava esta mistura era possível
resíduos sem utilidade acabam gerando um manter e melhorar as propriedades da
passivo ambiental. Nessa situação se borracha, como elasticidade, resistência e
encontra os pneus, que tem por estimativa resiliência como reportado por Gomez et
a maior média de tempo de decomposição al. (2016). Assim o processo de
quando comparado com outros resíduos, vulcanização da borracha altera em escala
como madeira e papel, gerando um passivo nanométricas as propriedades químicas
ambiental que demora até 600 anos para como reportado por Matos et al. (2017).
sua degradação total como reportado por De acordo com Henkes et al. (2015)
Tada et al. (2013). o pneu é constituído de borracha natural,
Assim como vários outros resíduos, borracha sintética, aço e negro de carbono
os pneus apresentam uma metodologia (ou negro de fumo). De acordo com
para o descarte correto como pregado pela Lagarinhos et al. (2008) a borracha é
CONAMA na Resolução n° 416/2009. essencialmente constituída por carbono
Apesar de existir a resolução, muitas vezes elementar sob forma de partículas
os pneus são jogados de qualquer forma na aproximadamente esféricas, de diâmetro
natureza. Visto essa forma incorreta de máximo inferior a 1 µm, aglutinado em
descarte dos pneus, vários estudos vêm agregados.
sendo feito afim, na qual se pode destacar a No processo de fabricação da
utilização em misturas asfálticas para borracha natural o látex é extraído de
pavimentação de vias rodoviárias e urbanas algumas espécies vegetais, sendo a mais
como proposto por Di Giulio (2007). conhecida e importante é a seringueira
O pneu é um dos principais (Hevea Brasiliensis). Esta árvore é nativa
elementos criados para o funcionamento de da Amazônia e leva de 6 a 8 anos após o
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plantio para iniciar extração látex com boa 1.1 Asfalto ecológico e métodos de
qualidade. produção

De acordo com Oliveira et al. (2016)


Estudos realizados por Rodrigues et
a borracha natural, quando comparada com
al. (2015) e Tchobanoglous et al. (1993)
a sintética, apresenta benefícios como
mostram que o asfalto ecológico teve um
proporcionar uma baixa geração de calor
aprofundamento maior em pesquisas
sob atrito, alta resistência a rupturas, boa
próximo a década de 1960 nos Estados
resistência a abrasão, além das suas
Unidos. O pesquisado Charles H.
características elásticas, que são
McDonald, percebendo a grande
consideradas excelentes para aplicação em
notoriedade das questões ambientais teriam
composições de pneus.
no futuro, iniciou a pesquisa e percebeu
A borracha sintética foi
que os pneus triturados, e tratados
desenvolvida em 1940, obtida do
termicamente originavam um material
elastômero de petróleo, que proporciona
muito elástico, que poderia ser utilizado no
uma excelente propriedade de tração sem
asfalto para corrigir problemas
comprometer a sua resistência de abrasão.
relacionados à durabilidade, resistência,
Segundo dados da Associação
flexibilidade e resiliência.
Nacional da Indústria dos Pneumáticos
Vistos os custos operacionais, o
(ANIPA), foram produzidos em trono de
projeto de produzir asfalto reciclando
67 milhões de pneus em 2016 no Brasil
pneus ficou parado por um tempo, para
(Figura 1). A coleta de diversos pneus
voltar no final do século XX, quando o
inservíveis em geral é incorreta e contribui
custo de produção viabilizou a utilização.
com a degradação do meio ambiente.
Com base na nova proposta mundial de
sustentabilidade, delineada pelo protocolo
de Quioto em 1997, que reza sobre a
reutilização e reaproveitamento de
materiais descartados, descobriu-se através
de diversas pesquisas e experimentos, as
qualidades da utilização de agregados da
borracha em ligantes asfálticos.
De acordo com Choubane et al.
(1999) a utilização de pneus triturados em
Figura 1. Dados da associação nacional da misturas asfálticas tem demonstrado uma
indústria de pneus.

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melhora significativa nas propriedades ainda assim é possível associar melhorias à


básicas, como elasticidade e resistência mistura asfáltica.
muito superior quando comparado as b) processo úmido – Antes de ser
misturas convencionais. misturada com o agregado, a mistura da
Com base em estudos de Hurley et borracha moída é misturada com o ligante
al. (2005) pode ser obtido o asfalto- asfáltico na proporção de 18 a 25 %
borracha, que é um composto obtido a criando uma forte ligação química viscosa.
partir de cimento asfáltico de petróleo - Neste processo ocorre uma interação mais
CAP, borracha moída de pneus (BMP), efetiva da borracha com o ligante
diluentes e alguns aditivos especiais propiciando melhorias da elasticidade,
quando necessários. O volume de borracha resistência e durabilidade do asfalto.
de pneu varia entre 15 % e 20 % em De acordo com Silva (2005) o
relação ao peso total do composto. Existem asfalto-borracha gerado pelo processo
dois tipos de borracha nos pneus, que úmido é composto de asfalto, aditivos e
proporcionam diferentes propriedades: a borracha de pneus usados, que representa
sintética, responsável pela estabilidade cerca de 15 % do peso total da mistura, que
térmica; e a natural, que fornece as reagindo com o asfalto a uma temperatura
propriedades elásticas. elevada pode causar a expansão das
Para serem reaproveitados no partículas de borracha.
composto asfáltico, os pneus devem sofrer
um processo de trituração e moagem para 1.2 Produção e consumo de pneus no
separação do aço e nylon existentes em sua Brasil e no município de Teófilo Otoni

composição, pois apenas a borracha moída


De acordo com Associação Nacional
é aproveitada. Após esta segregação, a
da Indústria de Pneumáticos (ANIP), no
borracha é incorporada ao asfalto através
ano fiscal de 2016, foram produzidos no
de dois processos diferentes: seco e úmido.
Brasil 67.870,35 milhares de unidade de
a) processo seco – partículas
pneus, uma queda de cerca de 1,5 %
trituradas da borracha são misturadas com
quando comparado com 2015. Porém de
o agregado para em seguida formar o
acordo com especialistas da própria
concreto. Cerca de 1 a 3 % do agregado
associação, este ainda é um consumo
fino em peso são substituídos pelas
elevado, visto que a movimentação
partículas de borracha. Neste processo, a
financeira foi próxima de três bilhões de
interação de propriedades importantes da
dólares.
borracha ao ligante é prejudicada, mas
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A maioria dos pneus produzidos Apesar das grandes empresas


teve como forma de entrada no mercado a fazerem o descarte correto, o mesmo não
reposição frente aos usados (Figura 2): se pode dizer das pessoas físicas que
possuem automóveis, que são a grande
maioria dos consumidores de pneus, que
Principais Canais de Venda
70 por falta de um plano de gestão de resíduos
60 sólidos do município e falta de
50
40 201 conhecimento acabam por fazer o descarte
30 5
20 de qualquer forma.
10
0

Frota de Veículos em Teófilo Otoni

20.000
Figura 2. Destino dos pneus produzidos no Brasil
nos anos de 2015 e 2016.
10.000

Teófilo Otoni, município localizado


0
no Nordeste de Minas Gerais com
população estimada em 141.502 mil
habitantes, de acordo com Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatísticas
Figura 3. Frota de veículos de Teófilo Otoni/MG.
(IBGE, 2017). Apresenta uma frota de
veículos automotores de aproximadamente O objetivo deste trabalho é fazer os
51.103 mil veículos de acordo com estudos físico e químico de pneus
ográfico3. Isso gera um consumo e utilizados para verificar a possibilidade de
descarte anual de mais de 100.000,00 mil sua reciclagem na produção de asfalto
pneus que tem variados tipos de descartes ecológico. Como objetivos específicos
de acordo com SINDIPNEUS (2017). pode-se listar:
Grandes empresas da região fazem o - Caracterização morfológica (MEV);
descarte correto, enviando para o - Caracterização físico química (IV-TF);
município de Betim/MG, região - Verificação da viabilidade para reciclar
metropolitana de Belo Horizonte/MG, pneus usados;
sendo os mesmos reutilizados em diversas - Proposta de um projeto de uma planta
finalidades, dentre elas a produção de piloto.
asfalto ecológico.

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2. MATERIAL E MÉTODOS de elétrons por emissão de campo (FE-


SEM), modelo Supra 35-VP (Carl Zeiss,
Como já citado, a borracha é um Alemanha), de amostras de borrachas de
polímero natural originário do látex, que é pneus novos e usados para elucidar em
a seiva extraída da árvore Hevea escala nanométrica a superfície dos pneus.
Brasiliensis, popularmente conhecida Para verificar a composição química
como seringueira. A borracha é um foram feitas análise de 7 amostras de
polímero de adição conhecido como poli borracha provenientes de 7 pneus (1, 2 e 3
isopreno, formado pela adição de 1,4 de – novos; 4, 5, 6 e 7 – usados). As amostras
monômeros (metilbut-1,3-dieno), Figura 4: foram coletadas nas principais borracharias
da cidade de Teófilo Otoni/MG, sendo
retirada uma pequena parcela na região
lateral do pneu, para posteriormente ser
desaglomerada e mistura com KBr
Figura 4. Estrutura química da unidade polimérica
(Brometo de Potássio) afim de ser
do isopreno.
conformada em uma pastilha para análise.
O pneu convencional é uma mistura As amostras foram caracterizadas em
de látex (polímero natural) e borracha espectrômetro Rayleigh modelo WQF-
vulcanizada de origem no petróleo 510A. Os espectros foram medidos na
(polímero sintético). Cada fabricante tem região de 4000 cm-1 a 400 cm-1 com 64
sua formulação característica, na qual varreduras e uma resolução de 1 cm-1.
alguns utilizam o látex sobre a superfície e
derivado de petróleo na parte inferior,
porém alguns já utilizam uma mistura 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO
equitativa dos dois tipos de polímeros. Um
pneu novo pode apresentar uma Pelo MEV pode-se verificar na
composição diferente do pneu usado, além Figura 5 (a) que os pneus novos
de uma alteração na sua superfície devido apresentam superfície regular, com
ao atrito com o chão durante sua utilização. aproximação em uma escala de 200
Para confirmar e verificar essas micrômetros, mostrando uma boa
informações, neste trabalho foi feita uma distribuição dos polímeros. Na imagem (b)
Microscopia Eletrônica de Varredura pode ser visto que a superfície de um pneu
(MEV) em um equipamento com canhão com mais de 40 mil quilômetros rodados
apresenta uma imperfeição na superfície.
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Neste espectro (Figura 6) podem ser


vistas duas regiões distintas, porém
comuns em todas as amostras, tanto dos
pneus novos (1 a 3) quanto dos pneus
usados (4 a 7). De acordo com West (1996)
os dados obtidos na espectroscopia de
infravermelho, pode-se inferir que na
Região 1, há modos vibracionais atribuídos
ao isopreno, que é o principal constituinte
da borracha natural (Látex) ao passo que
na Região 2 podem ser vistos modos
vibracionais atribuídos a grupos da
borracha sintética. A Tabela 1 mostra a
quais grupos químicos correspondem aos
Figura 5. Microscopias Eletrônicas de Varredura.
respectivos comprimentos de onda, de
(a) Pneu novo. (b) Pneu com 40 mil Km de uso.
forma comparativa aos valores propostos
Apesar de ter uma parte da camada pela literatura.
exterior gasta pode-se afirmar que a
composição química do pneu se manteve Tabela 1: Comparação dos comprimentos de onda
encontrados com os propostos pela literatura e seus
constante, como comprovado pelo espectro modos vibracionais.
infravermelho com transformada de
Fourier (IV-FT) na Figura 6.

Isto pode comprovar que os pneus


são uma mistura entre borracha natural e
sintética, o que para produção do asfalto
Figura 6. Espectro IV-TR das amostras de pneus.
ecológico ajuda, pois cada tipo de polímero
colabora com uma característica.

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3.1 Produção e demanda de asfalto A utilização de pneus em asfaltos


tem sido uma das técnicas mais utilizadas
De acordo com dados publicados em todo o mundo, pois emprega grande
pela Associação Brasileira das Empresas volume desse resíduo até então sem
Distribuidoras de Asfaltos (ABEDA, 2017) aproveitamento, em misturas asfálticas
no ano fiscal de 2016 houve um aumento melhorando diferentes propriedades sob
de aproximadamente 2 % no consumo de vários aspectos.
asfalto, totalizando um volume de Na caracterização de infravermelho
2.150.233 toneladas de asfalto (Figura 7): (IV-FT) pode ser visto que um pneu
convencional apresenta borracha sintética
como natural, conferindo diferentes
propriedades. De acordo com Bertollo
(2003) um pneu de veículo de passeio
típico (Goodyear 175/65 R14) com massa
aproximada de 10 kg contém em massa:
- 2,5 kg de diferentes tipos de borracha
sintética;
- 2,0 kg de diferentes tipos de borracha
Figura 7. Produção de asfalto nos últimos 3 anos
no Brasil. natural;
- 2,5 kg de tipos de negro-de-fumo;
Juntamente com esse asfalto são - 0,75 kg de aço para as cinturas;
adicionados os agregados para - 0,50 kg de poliéster e náilon;
posteriormente ser depositado sobre uma - 0,25 kg de arames de aço;
superfície. Vale ressaltar que a produção - 1,50 kg de diferentes tipos de produtos
de asfalto segue a demanda, visto que este químicos, óleos, pigmentos entre outros.
material não pode ser armazenado. Na produção do asfalto ecológico, a
Com uma tendência de crescimento incorporação da borracha triturada de
na produção de asfalto e com intuído de pneus às misturas asfálticas pode ser de 2
reduzir os impactos ambientais causados formas: úmido e seco. No processo úmido,
pelo descarte incorreto de pneus, pode ser a borracha finamente triturada é adicionada
incorporado um polímero ligante ao ao Cimento Asfaltico de Petróleo (CAP)
asfalto, utilizando a borracha de pneus em aquecido, produzindo ligante modificado
misturas asfálticas. denominado de asfalto-borracha.

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De acordo com Bertollo (2003) e No processo seco a borracha


Morilha (2003) o ligante modificado por triturada entra como parte do agregado da
borracha moída de pneus por via úmida, mistura e junto com o ligante asfáltico dá
dependendo do seu processo de fabricação, origem ao produto “agregado-borracha” ou
pode ser estocável ou não-estocável. concreto asfáltico modificado com adição
O sistema não-estocável é produzido de borracha. A mistura modificada com
com equipamento misturador na própria adição de borracha via seca só deve ser
obra e nessa condição deve ser aplicado utilizada em misturas asfálticas a quente
imediatamente devido à sua instabilidade e (concreto asfáltico convencional ou com
assim apresenta algumas características granulometria especial descontínua – gap-
diferentes do asfalto-borracha estocável. O graded, por exemplo), não devendo ser
sistema estocável é preparado com usada em misturas a frio como proposto
borracha moída de pneus com uma baixa por Leite (2003) e Pinheiro (2004).
granulometria (partículas passantes na
peneira n° 40) e devidamente misturado 3.2 Planta piloto
em um terminal especial, produzindo um
ligante estável e relativamente homogêneo, A Figura 8 apresenta a estrutura de
que posteriormente é transportado para um pneu e suas partes formadoras.
cada obra. Esse sistema (estocável),
quando comparado com o sistema não
estocável, permite uma economia de tempo
e de custos já que o ligante asfáltico
modificado é produzido e transportado
para várias obras ao mesmo tempo,
enquanto que o não estocável deve ser
produzido em cada obra.
Como reportado por Motta et al. Figura 8. Estrutura de um pneu.
(2017) na produção por via úmida não-
estocável conduz a um inchamento O consumo de asfalto no Brasil e na

superficial da borracha do CAP o que região de Teófilo Otoni é elevado. Visto

permite o uso de borracha com maior esse consumo elevado, a presença de uma

tamanho de partícula e aumento da grande frota de veículo e as questões

viscosidade, não ocorre despolimerização ambientais envolvidas em torno do

nem desvulcanização. descarte dos pneus, pode-se propor uma

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planta piloto para fins acadêmicos e Uma planta piloto pode ser instalada
também a participação pública e privada na Universidade para fins acadêmicos em
com município, empresas e universidade parceria com empresas recolhendo e dando
para produção de asfalto ecológico. um destino aos pneus e a prefeitura, para
Para ser utilizado em asfalto abastecer a cidade no que diz respeito a
ecológico, o pneu deve ser triturado e produção de asfalto para manutenção de
apresentar uma baixa granulometria. O vias públicas.
processo de triturar segue algumas etapas
na qual, a primeira a se realizar é a
remoção da cinta de aço, que pode ser 4. CONCLUSÕES
reciclado em empresas de fundição, para
em seguida ir para um triturador de A produção de asfalto tende a crescer
grossos. O produto resultante do primeiro nos anos que se seguem devido a retomada
triturador, será levado para outro a fim de do crescimento do país e o investimento do
reduzir a granulometria, e posteriormente Governo Federal e obras de manutenção e
para um terceiro triturador que terá como construção de novas estradas.
produto resultante um pó de borracha. Este Para preservar o ambiente e dar um
pó de borracha é utilizado na composição destino correto aos pneus sem utilidade,
do asfalto ecológico com porções que estes podem ser incorporados em massas
variam de 15 % a 20 % da massa total. asfálticas respeitando uma porcentagem de
Uma planta industrial que processe 10 mil até 20 %, pois foi visto que a composição
pneus por ano deve contar com alguns do pneu (tanto novo quanto usado) se
equipamentos específicos (Figura 9): mantém constante independente de estar
usado ou não. A mistura dos componentes
da borracha natural complementa
propriedades da borracha sintética quando
utilizada na composição de asfalto
ecológico.
A região de Teófilo Otoni tem
demanda de consumo e insumo suficiente
para produzir esse tipo de asfalto, assim
fica a proposta de uma planta piloto a ser

Figura 9. Projeto de planta piloto de micro usina


desenvolvida pelas instituições privadas,
para produção de 900 m3 de asfalto ecológico. município e Estado.
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