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Brazilian Journal of Development 60016

ISSN: 2525-8761

Propriedades mecânicas de tijolos ecológicos formulados com resíduos


de construção civil

Mechanical properties of ecological bricks formulated with civil


construction waste

DOI:10.34117/bjdv8n8-333

Recebimento dos originais: 21/06/2022


Aceitação para publicação: 29/07/2022

Eduardo Ramos Muniz


Mestrando em Engenharia Aplicada e Sustentabilidade, Mestrado no Instituto Federal
de Educação Ciência e Tecnologia Goiano e Professor pela
Faculdade de Inhumas (FACMAIS)
Instituição: Faculdade de Inhumas (FACMAIS)
Endereço: Avenida Monte Alegre, nº 100, Residencial Monte Alegre, Inhumas - GO,
CEP: 75401-057
E-mail: eduardoramosmuniz@gmail.com

Lorena Alves de Oliveira


Doutora em Agronomia
Instituição: Universidade Paulista (UNIP)
Endereço: Rodovia BR - 153, Km 503, Fazenda Botafogo, Goiânia – GO,
CEP: 74845-090
E-mail: eng.lorena.oliveira@hotmail.com

RESUMO
Os tijolos de solo-cimento, mais conhecidos como tijolos ecológicos, representam uma
alternativa em plena sintonia com as diretrizes do desenvolvimento sustentável, pois
requerem baixo consumo de energia na extração da matéria-prima, dispensam o processo
de queima e reduzem a necessidade de transporte, uma vez que os tijolos são produzidos
com o solo do próprio local da obra. O objetivo foi avaliar o aproveitamento dos resíduos
da construção civil na confecção de tijolos ecológicos. Os tijolos foram fabricados
basicamente de uma mistura constituída de solo, cimento, diferentes porcentagens de
resíduo de construção. Os resultados obtidos foram comparados com as normas vigentes.
Apesar das dosagens dos tijolos produzidos não atingir os valores de resistência a
compressão exigidos pela NBR 10834(1994), a adição dos resíduos de construção civil
melhorou significativamente as características dos mesmos, tanto em questão de absorção
de água, pois somente a testemunha não obteve o índice esperado pela NBR 10834(1994),
quanto em perda de massa, todos atenderam a norma que é abaixo de 5%.

Palavras-chave: solo-cimento, sustentabilidade ambiental, resistência a compressão.

ABSTRACT
The soil-cement bricks, better known as ecological bricks represent an alternative fully in
line with the guidelines of sustainable development because they require low power
consumption in the extraction of raw materials, exempt the firing process and reduce the
need for transport once the bricks are produced with the floor of the work site itself. The
aim was to evaluate the use of construction waste in the production of ecological bricks.

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The bricks were manufactured basically consists of a mixture of soil, cement, construction
residue different percentages. The results were compared with current standards.
Although the dosages of the bricks produced do not achieve the compression strength
values required by NBR 10834 (1994), the addition of building waste significantly
improved characteristics of the same, both in question of water absorption, since only the
witness received no the rate expected by NBR 10834 (1994), the mass loss, all met the
standard that is below 5%.

Keywords: soil-cement, environmental sustainability, resistance to compression.

1 INTRODUÇÃO
Que a construção civil é o ramo que mais fornece empregabilidade, isso é
inegável, porém o que a maioria da população não sabe, é que na construção, a
quantidade de resíduos deixados é cerca de cinco vezes maior do que a quantidade de
produtos, fazendo com que este ramo se torne o centro das discussões. Para as empresas
que apostam em uma construção mais sustentável, pesquisas mostram que o custo
imediato é superior em 5% ao custo normal, porém a economia que se gera a longo prazo
pode chegar até 30%, além de ajudar a natureza (NETO, 2014).
O solo é o material mais utilizado na construção civil desde tempos mais
primórdios, pois ele apresenta um bom isolamento térmico e acústico, tem baixo custo e
é muito abundante. Estudos indicam que o primeiro registro de terra estabilizada, terra
misturada com cinzas e moldadas em adobe são de 4.500 a.C. e foram encontrados na
região de Tépé Gawa (PEREIRA et. al., 2010).
Esse contexto faz com que novos materiais, ou ainda, materiais de elevado
desempenho, e sistemas construtivos mais eficientes sejam os principais objetivos na
tentativa de estabelecer uma relação saudável entre baixo custo e qualidade de nossas
obras sem desprezar a cultura, a realidade de consumo e os limites da mão de obra.
Os tijolos de solo-cimento, atualmente, mais conhecidos como tijolos ecológicos,
de acordo com Grande (2003) representa uma alternativa em plena sintonia com as
diretrizes do desenvolvimento sustentável, pois requerem baixo consumo de energia na
extração da matéria-prima, dispensam o processo de queima, reduzindo assim a emissão
de gás carbônico para o meio ambiente, além de reduzir a necessidade de transporte,
uma vez que os tijolos podem ser produzidos com o solo do próprio local da obra.
O tijolo de solo-cimento segundo a NBR 8491/1994 é aquele que possui 85% do
seu volume de constituído por mistura homogênea de solo, cimento Portland, cal, água
e eventual aditivo em proporções que atendam a mesma. Segundo a Associação

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Brasileira de Cimento Portland, o solo-cimento foi utilizado inicialmente para bases de


pavimentação de vias (PEREIRA et. al., 2010 apud ABPC, 1986).
Para fabricar tijolos “normais”, ou seja, blocos cerâmicos que utilizam de
queimas para a cura, utiliza-se na fabricação uma grande parte de argila “gorda” com
uma pequena parte de argila “magra” para ocorrer a homogeneização da massa. A argila
“gorda” possui um grande índice de plasticidade, já em contrapartida, a argila magra
possui baixo índice de plasticidade pela grande quantidade de quartzo, além de uma
granulometria maior do que a da argila gorda (MOTTA et al., 2001). Em algumas
remessas, quando é o caso de a argila magra não corresponder às expectativas para
homogeneizar a massa, é necessário utilizar uma espécie de aditivo para fazer a correção
na massa. Esse aditivo é chamado de chamote, que nada mais é do que o resíduo
cerâmico queimado e rejeitado do processo; para este caso utiliza-se uma faixa de 5 a
10% (Manfredini & Schianchi, 2009).
Para que o tijolo de solo-cimento seja caracterizado como produto de qualidade,
o mesmo deve atender aos requisitos da NBR 8491/1984 no que diz respeito às
dimensões e respectivas tolerâncias, resistência à compressão e absorção de água, assim
poderá ser disponibilizado para o mercado consumidor.
Uma das características mais importantes que os tijolos ecológicos tem que
demonstrar, é a sua resistência à compressão. Segundo (SOUZA, et. al., 2011 apud
FUNTAC, 1999) quanto maior for o aumento no teor de cimento Portland na pasta do
tijolo de solo-cimento, maior sua resistência, sendo possível obter uma resistência de até
2,8 MPa, por meio da adição de 10% do mesmo.
Projetos de pesquisa e desenvolvimento dedicados à fabricação e estudo desses
tijolos têm ganhado espaço e sua difusão no mercado da construção civil começa a
crescer. Os tijolos ecológicos são vendidos, atualmente, a preços bastante semelhantes
aos tijolos de barro queimado, além de possuírem o fator de preservação do meio
ambiente associada à sua compra.
Segundo (OLIVEIRA et. al., 2014 apud TAVEIRA, 1987), além das muitas
vantagens, os tijolos ecológicos beneficiam em: i) não oferecer condições para
proliferação e moradia para insetos nocivos à saúde, pelo seu acabamento liso ii)
proporciona uma construção limpa, onde os resíduos poderão virar futuros tijolos
ecológicos. iii) aumenta a resistência estrutural, e funciona como sistema térmico e
acústico. iv) se os tijolos forem fabricados com furos, dispensam conduítes para

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instalações elétricas e hidráulicas. v) diminuição de até 80% na utilização de cimento,


entre outras.
O objetivo deste artigo é mostrar que com a quantidade exorbitante de resíduos
da construção civil, algo de útil pode ser feito com tais dejetos, além de proporcionar
construções mais limpas, sendo elas construções com selo de sustentabilidade, além de
avaliar o aproveitamento desses resíduos da construção civil na confecção de tijolos
ecológicos. Contribuindo com uma alternativa para a reciclagem destes resíduos e
reduzir o impacto ambiental das construções promovendo o desenvolvimento
sustentável.

2 MATERIAIS E MÉTODOS
Para que as propriedades mecânicas pudessem ser avaliadas de forma completa,
selecionamos uma empresa da região central do estado de Goiás, onde a mesma recolhe
as caçambas estacionárias com resíduo da construção civil e transporta para seu pátio, na
zona Agroindustrial de Aparecida de Goiânia – GO.
Assim que o resíduo bruto é chegado no pátio, ele passa por uma “separação
bruta”; que nada mais é do que a retirada do material Classe B, C e D e após isso é
colocado no triturador, conforme Figura 01. Os materiais resultantes desse processo são
classificados em: i) brita 02; ii) brita 01; iii) brita 0; iv) areia grossa; e v) areia média.
Como se trata de tijolos de solo-cimento, utilizou-se o resíduo tipo v, que é a
classificação para areia média; então todo o resíduo de construção foi fornecido
gratuitamente pela empresa RENOVE.
Para a fabricação, a empresa TIJOLEKO com sede em Anápolis-GO,
disponibilizou seu espaço, prensa e alguns instrumentos necessários para confecção dos
mesmos.

Figura 01 - Material retirado in loco

Fonte – Acervo dos autores

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De acordo com a NBR 10832 – Tijolo maciço de solo-cimento, utilizou-se na


fabricação do mesmo, basicamente uma mistura constituída de solo retirado das
proximidades da indústria em Anápolis-GO, Cimento Portland do tipo CP V - ARI, e
como aditivo, diferentes porcentagens de resíduos da construção (0%, 10%, 20%, 30%,
40%, 50%), devidamente calculada. A quantidade de cimento portland foi fixada em 10%
para cada um dos tipos fixados.
Como descrito acima, os ensaios seguiram rigorosamente as normas técnicas
vigentes, e utilizou-se as amostras com as seguintes nomenclaturas:
A - Solo + 50% de resíduo + 10% Cimento Portland;
B - Solo + 40% de resíduo + 10% Cimento Portland;
C - Solo + 30% de resíduo + 10% Cimento Portland;
D - Solo + 20% de resíduo + 10% Cimento Portland;
E - Solo + 10% de resíduo + 10% Cimento Portland;
X - Solo + 00% de resíduo + 10% Cimento Portland.
Antes de executar a mistura, os componentes foram passados pela peneira de 200
mm, com o intuito de desfazer pequenos torrões presentes em alguns materiais; após este
processo adiciona-se aos poucos o cimento, solo, resíduo da construção civil, sendo
realizada uma rigorosa homogeneização manual até adquirir uma coloração uniforme;
finalizando a etapa de homogeneização dos materiais secos, a água potável foi
gradualmente inserida e realizada nova homogeneização, até a mistura adquirir um
aspecto de farofa.
A mistura necessita ter o aspecto de farofa, uma vez que para a prensa manual não
se tem condições de prensar o material seco, nem tampouco úmido demais. No primeiro
dos casos, o bloco cerâmico não seria prensado e se desfaria assim que a forma fosse
removida; e no outro caso, se tornaria barro e tampouco seria prensado.
A mistura, de acordo com o descrito acima, consta na NBR 10833 (2012) e foi
levada até a prensa manual onde a prensagem foi feita dentro de moldes. Todos os
elementos fabricados, conforme Figura 02, foram estocados em uma área para cura e
mantidos úmidos por 07 dias, para que não houvesse desidratação.

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Figura 02 – Tijolos moldados e prensados

Fonte – Acervo dos autores

Após a cura, os tijolos moldados foram transportados para o laboratório de solos


da Universidade Paulista – UNIP. Os corpos-de-prova devidamente curados, foram
submetidos ao ensaio de Resistência a Compressão, seguindo a norma da NBR 8492
(2012), a qual prescreve os métodos que devem ser utilizados nos ensaios para os tijolos
maciços; os ensaios foram realizados após 40 e 80 dias de cura na prensa hidráulica do
Laboratório de Solos da Universidade Paulista.
A NBR 8492 (2012) descreve os métodos a serem executados para que os ensaios
sejam validados:

4.3. Ensaio à compressão simples


4.3.1. De cada amostra devem ser preparados sete corpos de prova da seguinte
maneira:
a) cortar o tijolo ao meio, perpendicularmente à sua maior dimensão;
b) sobrepor, por suas faces maiores, as duas metades obtidas e as superfícies
cortadas invertidas, ligando-as com uma camada fina de pasta de cimento
Portland, pré-contraída (repouso de aproximadamente 30 min), com 2 mm a
3mm de espessura e aguardar o endurecimento da pasta. A resistência da pasta
de cimento, não pode ser menor que a do tijolo em ensaio;
...
4.3.3. Após o endurecimento do material utilizado, os corpos de prova devem
ser identificados e imersos em água por no mínimo 6h.
4.3.4. Os corpos de prova devem ser retirados da água logo antes do ensaio e
enxugados superficialmente com um pano levemente umedecido. Essa
operação deve ser realizada em no máximo 3 min.
...
4.3.6. O corpo de prova deve ser colocado diretamente sobre o prato inferior
da máquina de ensaio a compressão, de maneira a ficar centrado em relação a
este.
4.3.7. A aplicação da carga deve ser uniforme e à razão de 500 N/s.

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4.3.8. A carga deve ser gradativamente elevada até ocorrer a ruptura do corpo
de prova. ABNT NBR 8492 (2012, p. 6-7).

Portanto, seguindo a NBR acima, realizou-se o corte em todos os corpos de prova


que deveriam ser ensaiados pelo método da compressão, e após isso realizou-se a inserção
de pasta de cimento Portland entre as duas metades dos blocos, conforme Figura 03.
Após a cura da pasta de cimento portland, os tijolos colados foram imersos em
água por 24 horas como pode ser visto na Figura 04.

Figura 03 – Tijolos recapeados já com a pasta de cimento portland

Fonte – Acervo dos autores

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Figura 04 – corpos de prova imersos em água por 24 horas

Fonte – Acervo dos autores

Dando continuidade ao ensaio de resistência a compressão, os corpos de prova


foram retirados da água (Figura 05), secos e levados à prensa hidráulica até que fossem
rompidos, conforme demonstra a Figura 06.

Figura 05 – corpos de prova retirados da água para ir à prensa hidráulica

Fonte – Acervo dos autores

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Figura 06 – corpo de prova rompido na prensa hidráulica

Fonte – Acervo dos autores

Também foi realizado o ensaio de absorção de água de acordo com a NBR-8492


(2012), onde os tijolos foram secos em estufa a uma temperatura de 110 ºC durante 24
horas conforme Figura 07 e pesados após a temperatura do corpo de prova ser idêntica à
temperatura ambiente, adquirindo assim o valor de massa M1.
Após os tijolos estarem em temperatura ambiente, imergiu-os por 24 horas em
água conforme demonstra a Figura 08, de onde, retirou-se para nova pesagem após
superficialmente serem enxugados, adquirindo assim o valor de massa M2.
Para cálculo dos respectivos valores de absorção, temos a equação que segue:

M2 − M1
A= x 100
M1

Sendo:
M1= massa do tijolo seco em estufa;
M2= massa do tijolo saturado;
A= absorção de água, em porcentagem.

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Figura 07 – corpos de prova posicionados na estufa

Fonte – Acervo dos autores

Figura 08 – corpos de prova submersos após serem retirados da estufa

Fonte – Acervo dos autores

A NBR 8692 (2012) solicita somente estes dois ensaios, porém realizou-se mais
um ensaio pertinente à perda de massa por imersão. Tal ensaio foi realizado de acordo
com as diretrizes do ME 26 – IPT/BNH.
Os corpos de prova utilizados para o referido ensaio foram os mesmo utilizados
para o ensaio referente à absorção, tomando evidentemente os devidos cuidados, como:
os corpos de prova serem colocados na estufa (Figura 07), após os corpos de prova serem
retirados da estuda, foram imersos em água parada sem que nenhuma parte entrasse em
contato com as superfícies do recipiente, (excluso a parte inferior onde o bloco é apoiado)

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tomou-se o cuidado para que a água estivesse a no mínimo 10 cm acima do corpo de


prova.
Do mesmo modo que o ensaio anterior, os tijolos permaneceram submersos por
24h, após esse período foi coletada a porcentagem desprendida do tijolo através de uma
peneira de 0,075 mm, onde a massa desprendida e pesada foi adicionada à equação:

Md x 100
Pi = x 100
M0

Sendo:
Md= massa desprendida do corpo-de-prova;
Mo= massa do corpo-de-prova após estufa;
Pi= perda de massa por imersão, em porcentagem

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
Apresenta-se abaixo individualmente os resultados obtidos para cada um dos
ensaios realizados, sendo eles: análise à compressão; análise à perda de massa; e análise
à absorção de água.
Para se realizar a comparação, utiliza-se como referência, valores retirados da
ABNT NBR 8491:2012 Tijolos de solo-cimento – Requisitos, que são dados como:

5.2. Resistência à compressão


A amostra ensaiada de acordo com a ABNT NBR 8492 não pode apresentar a
média dos valores de resistência à compressão menor que 2,0 MPa (20
Kgf/cm²) nem valor individual inferior a 1,70 MPa (170 Kgf/cm²), com idade
mínima de sete dias.
5.3. Absorção de água
A amostra ensaiada de acordo com a ABNT NBR 8492 não pode apresentar a
média dos valores de absorção de água maior do que 20% nem valores
individuais superiores a 22%, com idade mínima de sete dias. ABNT NBR
8491 (2012, p. 8).

Portanto, após a compilação dos dados obtidos nos ensaios, será possível verificar,
de acordo com as NBR’s 8491 e 8492 se os tijolos de solo cimento com aditivo do tipo
Resíduo da construção civil atende a estas normas, podendo ser comercializado e
utilizado em obras mais limpas e amigas do meio ambiente.

3.1 ANÁLISE À COMPRESSÃO


Na Tabela 01 são apresentadas as resistências médias referentes a idade dos
corpos de prova - 40 e aos 80 dias.

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Tabela 01 – Dados obtidos no ensaio de resistência à compressão


Dosagem Resistência Média (MPa)
40 dias 80 dias
Solo + 00% resíduo + 10%cimento 0,54 0,67
Solo + 10% resíduo + 10%cimento 0,65 0,67
Solo + 20% resíduo + 10%cimento 0,65 0,66
Solo + 30% resíduo + 10%cimento 0,79 0,82
Solo + 40% resíduo + 10%cimento 1,07 1,01
Solo + 50% resíduo + 10%cimento 1,08 1,20
Fonte – Os autores.

Analisando a Tabela 01, observa-se um aumento de resistência ao incorporar


resíduo de construção no solo. Esse aumento foi maior principalmente nos tijolos de solo
com 40 e 50% de resíduo, a resistência coincidentemente dobrou.
No entanto, de acordo com a NBR 8491 (2012), a amostra ensaiada deve
apresentar com no mínimo sete dias de idade, uma média dos valores de resistência à
compressão igual ou maior que 2,0 MPa, e valores individuais iguais ou maiores que
1,7MPa. Através dos dados descritos na referida tabela é possível observar que nenhuma
das dosagens estudadas alcançou os valores estabelecidos pela norma.
Percebe-se que as dosagens tiveram suas resistências aumentadas aos 80 dias em
relação aos 40 dias. Esse comportamento indica que as reações químicas ocorridas no
cimento, melhoram as propriedades mecânicas ao longo do tempo.

3.2 ANÁLISE À PERDA DE MASSA


Na Tabela 02 são apresentadas as perdas de massas dos tijolos de diferentes
quantidades de aditivos e diferentes idade dos corpos de prova - 40 e aos 80 dias. Para a
verificação da perda de massa pelo mesmo.

Tabela 02 – Dados obtidos no ensaio de perda de massa


Dosagem Perda de massa (%)
40 dias 80 dias
Solo + 00% resíduo + 10%cimento 0,09 0,10
Solo + 10% resíduo + 10%cimento 0,20 0,20
Solo + 20% resíduo + 10%cimento 0,20 0,20
Solo + 30% resíduo + 10%cimento 0,20 0,20
Solo + 40% resíduo + 10%cimento 0,20 0,20
Solo + 50% resíduo + 10%cimento 0,22 0,21
Fonte – Os autores.

Os tijolos ensaiados, apresentaram perda de massa dentro dos padrões


especificados uma vez que eles não chegam a perder nem 1% da massa em nenhuma das
idades ensaiadas.

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3.3 ANÁLISE DA ABSORÇÃO DE ÁGUA


Na Tabela 03 são apresentados os valores de absorção de água nos tijolos de
diferentes quantidades de aditivos e diferentes idade dos corpos de prova - 40 e aos 80
dias. Para a verificação da percentagem que o mesmo absorve.

Tabela 03 – Dados obtidos no ensaio de absorção de água


Dosagem Absorção de água (%)
40 dias 80 dias
Solo + 00% resíduo + 10%cimento 21,32 23,58
Solo + 10% resíduo + 10%cimento 21,93 21,57
Solo + 20% resíduo + 10%cimento 19,15 19,67
Solo + 30% resíduo + 10%cimento 18,55 20,19
Solo + 40% resíduo + 10%cimento 15,30 15,55
Solo + 50% resíduo + 10%cimento 16,95 18,60
Fonte – Os autores.

A NBR 8491 (2012) prescreve que a média dos valores de absorção de água deve
ser menor ou igual a 20%, e os valores individuais iguais ou menores que 22%, aos 28
dias.
Através da Tabela 03 percebe-se que apenas o tipo de bloco que não possui
qualquer porcentagem de resíduo (tipo x), não está de acordo com a Norma, mostrando
que, a inclusão do resíduo pode ser benéfica, reduzindo a porosidade do bloco e
automaticamente a absorção de água pelos tijolos.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os tijolos de solo-cimento é uma alternativa para uma construção mais limpa, uma
vez que a maioria deles não necessita de cortes, pois possuem furos internos que
possibilitam a passagem dos conduítes e conduletes, ou até mesmo tubulações de água,
esgotamento sanitário e até mesmo águas pluviais.
Ademais ainda temos a questão da emissão de gás carbônico para o meio
ambiente, que no caso do tijolo de solo-cimento é zerada, uma vez que o bloco não é
direcionado à queima.
Em relação ao resíduo da construção civil, observou-se que as quantidades desse
aditivo incorporado ao solo não foram suficientes para alcançar a viabilidade técnica dos
tijolos de solo-cimento.
Como nenhuma Norma regulamenta sobre a quantidade de aditivo pode ser
colocada na mistura, optou-se por no máximo 50%, que é metade da massa total;
comparando com os resultados de compressão observa-se que, aumentando ainda mais o

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aditivo resíduo, há a possibilidade do aumento da resistência, bem como aumentando a


porcentagem de cimento portland; porém não deve-se esquecer de que se trata de um
tijolo de solo-cimento, sendo de extrema importância a presença do solo no mesmo.
Apesar de nenhuma das dosagens dos tijolos produzidos terem atingido os valores
de resistência a compressão prescritos pela NBR 6491 (2012), a adição dos resíduos de
construção civil melhorou significativamente as características dos mesmos, tanto em
questão de absorção de água, pois somente a testemunha não obteve o índice esperado,
quanto em perda de massa, onde todos obtiveram o índice bem abaixo do limite, que é
abaixo de 5%.
Além de melhorar significativamente, esse tipo de tijolo é um meio de manter a
construção limpa, reduzir custos em compras de insumos, desperdício em canteiro, além
de ajudar o meio ambiente, pois é um tijolo ecológico.

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REFERÊNCIAS

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Paulo, SP., p. 51.

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2012.

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Extrudados de Cerâmica. Manfredini&Schianchi Equipamentos. 2009.

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