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UTILIZAÇÃO DO AGREGADO PROVENIENTE DE RESÍDUOS DE

CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO EM SUBSTITUIÇÃO AO AGREGADO


MIÚDO NATURAL NO CONCRETO
USE OF THE AGGREGATE FROM CONSTRUCTION AND DEMOLITION WASTE
SUBSTITUTE TO THE NATURAL KID ADD TO CONCRETE

Celiane Silva (1); Luan Buarque (2); Carlos Silva (3); Giordano Gonzaga (4);

(1) Graduanda em Engenharia Civil, Centro Universitário Tiradentes – UNIT/AL


(2) Graduando em Engenharia Civil, Centro Universitário Tiradentes – UNIT/AL
(3) Graduado em Engenharia Civil, Centro Universitário Mário Pontes Jucá – UMJ
(4) Professor Doutor, Departamento de Engenharias – UNIT/AL
celianems@hotmail.com (1); luanrb97@outlook.com (2); carlos.fisufal@hotmail.com (3);
giordanogonzaga@yahoo.com.br (4)

Resumo
Sabe-se que o concreto, precedido da água, é o material mais utilizado pelo homem. Por sua vasta
utilização, percebe-se que a exigência a natureza, que é a principal fornecedora dos recursos naturais para
a produção do concreto, traz uma série de consequências ao meio ambiente. Frente a isto, vê-se que a
incrementação de resíduos de construção e demolição (RCD) como finos no concreto tem se mostrado
eficaz tanto na perspectiva da redução dos impactos ao meio ambiente, causados por sua má disposição
em aterros, quanto na função de agregado miúdo, apresentando um alto potencial de utilização. O presente
trabalho tem por objetivo a substituição parcial e total do agregado miúdo natural por agregado reciclado. Os
agregados oriundos de RCD foram coletados numa usina de reciclagem da cidade de Maceió/AL, de forma
a serem utilizados diretamente na produção dos concretos visando a viabilização do uso deste material de
forma mais abrangente, sem necessitar de mão-de-obra especializada em obras. Foram produzidos 5 traços
com substituição do agregado miúdo natural por agregado reciclado nas proporções de 0%, 25%, 50%, 75%
e 100%. De cada traço elaborado, foram moldados corpos de prova a serem ensaiados quanto a resistência
à compressão axial nas idades de 7, 14 e 28 dias. Percebeu-se que quanto maior foi a porcentagem de
substituição do agregado menor foi a trabalhabilidade dos concretos, pois os agregados mais porosos
também possuem um elevado índice de finos, influindo em sua resistência. Contudo, alguns concretos com
a referida substituição apresentaram níveis de resistência bem próximos aos seus traços de referência. Por
fim, concluiu-se que a substituição do agregado miúdo natural por agregado reciclado de RCD influi
positivamente nas propriedades do concreto, mostrando-se uma eficaz alternativa ao uso da matéria-prima
convencional e apresentando um caminho para a reinserção do mesmo na cadeia produtiva de mercado.
Palavra-Chave: Areia. Materiais alternativos. RCD. Reaproveitamento. Sustentabilidade.

Abstract
It is known that concrete, preceded by water, is the material most used by man. Because of its wide use, it is
perceived that the requirement of nature, which is the main supplier of natural resources for the production of
concrete, brings a series of consequences to the environment. In view of this, it can be seen that the
increase of construction and demolition waste (RCD) as fines in the concrete has been shown to be effective
both in terms of reducing the environmental impacts caused by bad disposal in landfills and in the function of
with a high potential for use. The present work aims at the partial and total replacement of the natural kid
aggregate by recycled aggregate. The aggregates from RCD were collected in a recycling plant in the city of
Maceió / AL, in order to be used directly in the production of the concretes in order to make the use of this
material more viable, without the need of specialized labor in construction. Five traces were produced with
replacement of the natural kid's aggregate by recycled aggregate in proportions of 0%, 25%, 50%, 75% and
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100%. From each plot, test specimens were tested for resistance to axial compression at the ages of 7, 14
and 28 days. It was noticed that the greater the percentage of substitution of the smaller aggregate was the
workability of the concretes, since the more porous aggregates also have a high index of fines, influencing its
resistance. However, some concretes with this substitution presented resistance levels very close to their
reference traces. Finally, it was concluded that the substitution of the natural kid's aggregate by recycled
RCD aggregate positively influences the properties of the concrete, showing an effective alternative to the
use of the conventional raw material and presenting a path for the reinsertion of the same in the productive
chain market.
Keywords: Sand. Alternative materials. C&D Waste. Reuse. Sustainability.

1 Introdução
O concreto é o segundo material mais utilizado no mundo, no entanto torna-se o primeiro
tomando como base a indústria da construção civil. Desde as primeiras construções o tal
exerce papel preponderante nas mais diversas aplicações em que se tem seu uso.
Entretanto, a utilização deste material em larga escala, requer também um alto
fornecimento da matéria prima que o compõe que é basicamente formada por água,
cimento e agregados miúdo e graúdo.
De acordo com Valverde (2001, p. 1), devido ao consumo do concreto em alta escala,
observa-se também que os agregados da construção civil (areia e brita) são os insumos
minerais mais consumidos no mundo, sendo que sua produção corresponde a cerca da
metade do consumo mundial de minerais.
Com relação a isso, levanta-se uma problemática devido ao fato de que estes insumos
em sua maior parte são extraídos da natureza e caracterizados como agregados naturais,
pois são utilizados na forma como se encontram.
Sabe-se que as atividades de extração mineral são indispensáveis tanto para o
desenvolvimento da construção civil quanto para a sociedade, mas são responsáveis por
efeitos muitas vezes irreversíveis sobre o meio ambiente (BRANDT, 1998). Um dos
principais fatores contribuintes do aumento das extrações de agregados naturais é a
extração mineral da areia natural, uma atividade não sustentável que vem
desencadeando impactos ambientais evidentes.
Em vista disso, torna-se notória a necessidade de uma alternativa para inibir parcial ou
totalmente a intensidade da utilização da areia na construção civil. Frente a isto, levanta-
se a possibilidade da utilização de agregados reciclados oriundos de resíduos gerados
pela indústria da construção, cuja inutilização e aglomeração tem se tornado um problema
nos centros urbanos.
Muitas cidades brasileiras têm sofrido com o elevado volume de entulho gerado pela
construção civil. Acerca disso, Cabral e Moreira (2011, p. 8) são característicos ao
mencionar que este tipo de resíduo é gerado através de várias fontes, sendo uma das
principais, a falta de serviço de qualidade que provoca a perda de materiais na obra
sendo estes descartados em forma de entulho. E, como consequência disso, têm-se a
falta de matéria prima e aterros para a deposição final dos resíduos.
Atualmente, tem-se empreendido várias iniciativas para minimizar a geração e melhorar a
gestão do resíduo de construção e demolição (RCD) visando a maximização de
benefícios econômicos e ambientais e enfatizando a reciclagem crescente para o reuso
destes materiais (PEDROZO, 2008).

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Segundo Assis (2015, p. 1), a reciclagem dos resíduos provenientes de obras e
demolições é uma alternativa para uma construção mais econômica e principalmente
sustentável, visando diminuir o impacto causado pelas atividades humanas. No Brasil, a
legislação CONAMA 307 fornece diretrizes para classificação do RCD, servindo de
estímulo para a separação dos resíduos que contenham fração mineral que possa ser
reaproveitada sob a forma de agregado.
Muito se tem avançado quanto à utilização de agregados reciclados de RCD para a
produção de concretos e outros produtos destinados à construção civil, assim como já
existem recomendações e normas técnicas que amparem o uso destes materiais. Estudos
comprovam o desempenho dos concretos confeccionados com resíduos cerâmicos em
relação aos concretos convencionais com agregados naturais (KHATIB, 2005).
Nesse sentido, o presente artigo visa apresentar o reaproveitamento do agregado
reciclado de RCD como agregado miúdo no concreto, em substituições parciais e totais,
analisando sua influência no comportamento do concreto em seus estados fresco e
endurecido.

2 Metodologia
Para a investigação da influência do agregado reciclado fino no concreto, utilizou-se dos
materiais, equipamentos e métodos apresentados a seguir.

2.1 Materiais componentes


Na produção dos concretos, utilizou-se do cimento CP II F - 32 por ser um aglomerante de
fácil acesso na região e de larga utilização em obras da construção civil, visto que o intuito
do trabalho é de apresentar a viabilidade do uso do agregado de RCD sem pré-
tratamentos específicos.
Quanto aos agregados utilizados, a areia natural de extração e o agregado graúdo foram
também obtidos da localidade, sendo a areia natural ensaiada para determinação de suas
características em comparação à areia reciclada.
O agregado miúdo reciclado foi coletado no setor de reciclagem da empresa responsável
pelo aterro sanitário da cidade de Maceió/AL, a qual realiza a coleta e beneficiamento do
resíduo que é utilizado em obras de base e sub-base de pavimentação do município.
Escolheu-se o agregado reciclado que apresentou uma classificação visual de areia
média, evitando-se granulometrias muito finas ou superiores onde se percebia uma maior
variabilidade de composição.
A Figura 1 mostra o setor de reciclagem de resíduos da construção do aterro, onde o
britador realiza a cominuição do entulho e através da das peneiras constantes em seus
braços mecânicos, separa o agregado de acordo a sua granulometria, da areia mais fina
até o pedregulho.

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Figura 1 - Setor de reciclagem. (AUTORES, (2018))

A água utilizada na dosagem das misturas foi obtida através da rede de abastecimento do
campus Amélia Maria Uchôa do Centro Universitário Tiradentes. Foi empregado também
às misturas um aditivo plastificante tendo como composição básica o resinato de sódio,
para garantir a trabalhabilidade ideal aos concretos.

2.2 Procedimento experimental


A determinação da dosagem dos concretos foi obtida pelo método IPT/EPUSP, onde
utilizando-se um traço piloto, foi definido o teor de argamassa seca ideal para o concreto,
obtendo-se uma mistura com a consistência e trabalhabilidade requeridas, sendo este de
53%.
Logo após, determinou-se o traço utilizando-se da Lei de Lyse e Molinari tendo como
base o traço piloto (traço médio ou básico) a partir da resistência requerida de 20Mpa.
Com isso, através da Curva de Abrams, cujo fundamento é que para certo conjunto
particular de materiais a resistência do concreto é função da relação a/c, e obteve-se o
valor ideal da relação a/c sendo 0,51, a qual em função do aumento do teor de agregado
reciclado na mistura, necessitou ser ajustada.
Foram produzidos 5 traços com substituição do agregado miúdo natural por agregado
reciclado fino nos teores de 0, 25, 50, 75 e 100%. Para a determinação das quantidades a
serem dosadas em cada percentual de substituição, os cálculos foram realizados com
base na massa específica do agregado natural.
Esse procedimento foi adotado devido ao fato de que o RCD possui uma variedade de
materiais em sua composição, referente ao grande leque de materiais de construção
existentes na construção civil possuindo, consequentemente, massas específicas
diferentes.
Além disso, não se utilizou dos métodos de classificação dos resíduos como a visual
fornecida pelo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA) ou a separação gravítica,
visando a minimização de empecilhos ao uso do resíduo no concreto.
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2.2.1 Determinação das características dos agregados
Houve um enfoque na determinação das características dos agregados miúdos com o
intuito de analisar as propriedades da areia reciclada em comparação à areia natural.
De acordo a ABNT NBR NM 248 (2003), determinou-se a composição granulométrica
tanto para areia natural quanto para a areia reciclada. A distribuição granulométrica foi
realizada através de peneiramento onde se utilizou do kit de peneiras constantes da série
normal com o auxílio de um agitador mecânico para a execução do ensaio.
A massa específica foi determinada com base na ABNT NBR 9776 (1987) pelo método do
Frasco de Chapman, já a massa unitária foi aferida com base na ABNT NBR 7251 (1982),
que trata desta propriedade para os agregados no estado solto.
Ambas foram determinadas para os dois seguimentos de agregado miúdo, sendo estas
propriedades preponderantes para a determinação da porosidade dos agregados, fator de
grande influência na produção de concretos com RCD.

2.2.2 Análise das propriedades mecânicas do concreto


Realizou-se a análise das características do concreto tendo como ponto de partida as
relacionadas ao seu desempenho mecânico, a saber, sua consistência e resistência à
compressão.
Um programa experimental para a produção dos concretos foi determinado, cujas
quantidades de corpos de prova elaborados estão representadas na tabela a seguir:

Tabela 1 – Produção dos corpos de prova


Rompimento por idade
Traço Total
7d 14d 28d
0% 3 3 3 9
25% 3 3 3 9
50% 3 3 3 9
75% 3 3 3 9
100% 3 3 3 9
∑ 45
AUTORES (2019)

A determinação das quantidades a serem produzidas para cada traço se deu em função
da ocorrência de erros inesperados no processo e dificuldades referentes ao
adensamento dos concretos que possam vir a lesar os resultados.
A cada traço produzido realizava-se o ensaio de abatimento do tronco de cone, abordado
na ABNT NBR NM 67 (1998), para a investigação da influência do aumento de teor do
agregado reciclado na trabalhabilidade do concreto.
O processo de moldagem dos corpos de prova foi baseado na ABNT NBR 5738 (2015),
onde se utilizou de uma balança eletrônica, com precisão de 0,1g, para separação dos
materiais para posterior mistura, a qual foi feita em processo totalmente mecânico através
de betoneira com capacidade de 45kg por betonada.
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Num primeiro momento, bateu-se a brita com metade da água de amassamento e logo
após acrescentou-se os demais materiais, iniciando com a mínima dosagem de aditivo
plastificante (0,2% com relação à massa de cimento) para o traço de referência, a qual
necessitou ser aumentada em função do teor de substituição do agregado miúdo natural
por reciclado.
No entanto, percebeu-se durante o procedimento de dosagem que a taxa de absorção do
agregado oriundo de RCD é bastante elevada devido ao seu alto índice de finos, o que
ocasionou a absorção de parte da água de amassamento do concreto. Diante disso, para
compensar o efeito da absorção da areia reciclada, realizou-se a correção da água no
momento do preparo das misturas com um aumento percentual de 14%.
Ao término de cada mistura, realizava-se o Slump Test do traço para adequação da
trabalhabilidade do concreto ao parâmetro definido de abatimento, sendo este de
70±10mm.
Foram moldados corpos de prova cilíndricos de concreto, com dimensões (ᶲ=50 mm e
h=100 mm), realizando-se adensamento manual conforme a ABNT NBR 5738 (2015). Os
corpos de prova foram ensaiados quanto a resistência à compressão axial, propriedade
mecânica preponderante ao estudo realizado, e as idades de referência para a realização
dos ensaios foram de 7, 14 e 28 dias.
Os traços com teor de substituição 0% e 25% foram moldados em mesma data, logo após
os teores de 50% e 100% e, por fim, o teor de 75%. Este fato foi essencial na análise da
resistência à compressão do concreto que será discutida adiante, principalmente pelo fato
de que o procedimento de cura utilizado foi a cura saturada com cal sendo os corpos de
prova imergidos totalmente em água.
Todos os corpos-de-prova foram desmoldados no dia posterior à execução das misturas e
devidamente identificados, ficando submersos desde sua desmoldagem até o momento
do rompimento.
Os ensaios mecânicos de resistência à compressão foram realizados atendendo a ABNT
NBR 5739 (2018). Os corpos de prova tiveram sua preparação de base e topo por retífica,
com o intuito de se obter o melhor encaixe do corpo de prova com os pratos do
equipamento. Após esse procedimento, cada corpo-de-prova foi posicionado no centro do
prato inferior da prensa e então deu-se início ao ensaio.
O carregamento foi aplicado continuamente com a prensa mecânica na opção velocidade
de ensaio, até que ocorresse o rompimento, caracterizado por uma queda brusca na
carga exercida pela prensa. Ao findar, retirava-se o corpo de prova da prensa para a
análise de sua ruptura e posterior descarte.

3 Resultados e Discussões
Através dos ensaios realizados para determinação das características dos agregados e
no que se refere às propriedades mecânicas do concreto, obteve-se os resultados
apresentados e debatidos a seguir.

3.1 Agregados
Sabe-se que a composição dos agregados provenientes de RCD é bastante variável.
Pode-se afirmar que sua composição varia por região do Brasil, por cidade e até mesmo
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por caçamba de resíduo coletada. Devido a isto, vê-se que as propriedades desses
agregados tendem a apresentar grande variabilidade.
Acerca dos agregados coletados para a execução deste trabalho, pode-se notar através
de classificação visual, sendo confirmada também através dos resultados experimentais,
que os tais agregados são compostos majoritariamente por materiais cerâmicos, o que
corrobora com o aumento do teor de absorção.
Na Figura 2 estão demonstradas as partições das faixas de composição granulométrica
do agregado miúdo reciclado, obtidas do ensaio de distribuição da granulometria.

Figura 2 – Diferentes granulometrias da areia reciclada

Fonte: AUTORES (2019)

Devido ao maior índice de materiais cerâmicos na areia reciclada, conclui-se que a


porosidade deste agregado é maior com relação à areia natural. Sendo mais porosos,
possui maior teor de finos, o que implica tanto na resistência à compressão do concreto
devido ao número de vazios, quanto na perca da trabalhabilidade pela elevada absorção
da água de amassamento.
Na tabela seguinte, estão demonstrados os valores obtidos das propriedades estudadas
como a massa específica e unitária, valores referentes à determinação da composição
granulométrica e sua classificação conforme as normatizações vigentes.

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Tabela 2 – Propriedades dos agregados miúdos
Agregado Agregado
Propriedade Norma
natural reciclado
Massa específica (g/cm3) 2,62 2,48 NBR 9776
Massa unitária (Kg/dm3) 1,42 1,318 NBR 7251
% material com D<0,075mm 0,52 1,48 NBR NM 46
Dmáx (mm) 4,75 4,75
NBR NM 248
Módulo de finura 2,34 2,38
Zona granulométrica Ótima Ótima NBR 7211
Fonte: AUTORES (2019)

Analisando-se a Tabela 2, pode-se concluir que mesmo os valores de massa específica e


massa unitária possuírem variações, os índices de módulo de finura e a classificação da
zona granulométrica foram bem próximos, o que se deve ao fato de que o RCD é
composto em sua maioria por produtos advindo de agregados convencionais. Mas, devido
à alta variabilidade de materiais em sua composição, como os cerâmicos, cimentícios,
resíduos de gesso e madeira etc., percebe-se que a massa específica tende a ser
variável.
Com relação ao percentual de material passante com diâmetro menor que 0,075mm,
obtido através da curva granulométrica, comprova-se o fato de que o agregado reciclado
possui um maior teor de finos (1,48%) em comparação ao agregado natural (0,52%).
As representações gráficas referentes aos resultados adquiridos das distribuições
granulométricas para o agregado miúdo natural e o agregado reciclado estão exibidas,
respectivamente, nas figuras abaixo:

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Figura 2 – Curva granulométrica do agregado natural

Fonte: AUTORES (2019)

Figura 3 – Curva granulométrica do agregado reciclado

Fonte: AUTORES (2019)

Observando-se a continuidade das curvas de distribuição granulométrica, pode-se notar


que a curva obtida do agregado miúdo natural foi de característica aproximadamente
uniforme, o que caracteriza a areia como solo uniforme porém mal graduado.
Já a curva granulométrica do agregado reciclado apresenta característica contínua, o que
o classifica como um solo de bem graduado onde as frações em sua curva de distribuição
granulométrica não apresentam mudanças bruscas de curvatura.
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3.2 Concreto
Acerca dos resultados obtidos através da análise dos estados fresco e endurecido do
concreto, em função do aumento do teor de substituição do agregado miúdo natural por
agregado reciclado, se discorrerá a seguir.

3.2.1 Estado fresco


A partir das análises do ensaio de abatimento do tronco de cone, realizado a cada traço
produzido, obteve-se os valores constantes no Quadro 1.

Quadro 1 - Relação da consistência do concreto com produtos utilizados na dosagem


% correção da
Traço Relação a/c % aditivo Abatimento (cm)
água
0% 0,51 0,2 - 6,5
25% 0,51 0,2 - 7
50% 0,51 0,6 14% 6
75% 0,51 0,6 14% 6
100% 0,51 0,6 14% 6
Fonte: AUTORES (2019)

Relacionou-se os dados de consistência com a quantidade de aditivo utilizada, o


percentual de água corrigido em função da absorção do agregado e a manutenção da
relação água cimento da dosagem, no intuito de representar os efeitos que tais técnicas
provocaram na produção dos concretos.
Pode-se observar que tanto o traço de referência quanto aquele com substituição de 25%
do agregado natural por reciclado obtiveram consistências boa e muito boa, visto que o
abatimento fixado como referência foi de 70±10mm. No entanto, ao ponto que se
aumentou o teor de substituição do agregado reciclado no concreto, especificamente a
partir do teor de 50%, houve um decaimento da trabalhabilidade do concreto o que
acarretou dificuldades de adensamento.
Isso se deve ao fato da não utilização dos métodos de pré-saturação ou pré-molhagem
dos agregados, que tem o objetivo de evitar a absorção da água de amassamento que é
destinada a hidratar o cimento. Assim, visto que o agregado reciclado possui um alto teor
de finos e material pulverulento, quanto maior foi o teor de substituição menor foi a
trabalhabilidade dos concretos havendo necessidade de se aumentar a quantidade de
aditivo para 0,6%.
Em consequência disso, sabe-se que a reação do aditivo plastificante na mistura de
concreto se dá apenas quando há presença de água, sendo novamente necessária sua
adição para que pudesse adquirir consistência utilizável para a moldagem dos corpos de
prova.
A correção da água de amassamento do concreto se deu num percentual de 14% em
função da relação água cimento, sendo esta quantidade acrescentada somente para
corrigir a absorção, pois fixou-se a relação água cimento para todos os traços elaborados.
Para tanto, à medida percentual da adição de água na mistura (14%) acrescentou-se
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também o cimento, tendo como base a relação a/c ideal de 0,51, para que esta se
mantivesse constante em todos os traços moldados.
Com isso, conseguiu-se manter o abatimento limite de 60mm, máximo admissível em
relação a referência adotada.
Ainda em relação à consistência do concreto, é importante salientar que a sazonalidade
também influenciou na mesma, pois devido a elevada temperatura local, as massas de
concreto também perderam parte de sua água para o ambiente. Isto foi notado uma vez
que se produzia os traços em dias de temperatura mais elevada, a trabalhabilidade fora
menor.
O fator temperatura também afetou, consequentemente, a resistência mecânica dos
concretos devido a sua influência na temperatura de cura, que será explanada
posteriormente nas propriedades do estado endurecido.

3.2.2 Estado endurecido


A propriedade preponderante do estado endurecido do concreto para o presente trabalho
foi a resistência à compressão. A respeito disso, sabe-se que concretos produzidos com
agregados reciclados são geralmente utilizados em aplicações não estruturais como
obras de recapeamento, produção de peças pré-moldadas de pavimentos ou outros
meios da pavimentação. Mas, estudos comprovam que sua utilização para fins estruturais
é possível, desde que se verifique as determinadas condições das características dos
agregados reciclados que prejudicam o aumento da resistência do concreto.
No presente estudo, os valores obtidos de resistência à compressão dos corpos de prova
do concreto, em função do percentual de substituição da areia natural por areia reciclada
e ao tempo de cura estão demonstrados no quadro a seguir:

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Quadro 2 - Resistência à compressão do concreto em função do teor de substituição e tempo de cura
Teor de
Corpo de prova
fc (7 dias) fc (14 dias) fc (28 dias)
Substituição Mpa Mpa Mpa
I 23,1 22,34 28,05
II 14,74 25,55 26,65
Traço 1 0% III 21,82 21,3 26,29
fcm (resistência média) 19,89 23,06 27,00
I 20,97 24,57 25,27
II 12,39 22,47 25,73
Traço 2 25% III 14,89 21,03 26,43
fcm (resistência média) 16,08 22,69 25,81
I 17,00 15,89 19,67
II 16,23 18,25 16,03
Traço 3 50% III 16,97 18,51 19,48
fcm (resistência média) 16,73 17,55 18,39
I 11,78 14,13 15,02
II 11,82 12,15 15,9
Traço 4 75% III 12,62 9,82 15,91
fcm (resistência média) 12,07 12,03 15,61
I 14,00 13,54 18,23
II 16,61 16,01 15,83
Traço 5 100% III 13,89 14,36 17,3
fcm (resistência média) 14,83 14,64 17,12
Fonte: AUTORES (2019)

No Quadro 2 apresentam-se os valores de resistência à compressão obtidos bem como


sua média a cada idade. Com base nestes dados, pode-se observar que o teor ideal de
substituição do agregado miúdo natural por reciclado foi de 25%, cujos valores de
resistência se mostraram bem próximos ao traço de referência e cujo comportamento
apresentou uma continuidade do aumento da resistência em função do tempo de cura.
Contudo, ao se verificar os valores obtidos a partir do percentual de substituição 50%,
nota-se que alguns corpos de prova não apresentaram evolução quanto à resistência com
o aumento da idade de cura.
Feitas análises, pode-se concluir que dois fatores influenciaram no decréscimo de
resistência nos teores a partir de 50%. O primeiro se deve ao fato da alta temperatura
local em virtude da sazonalidade, já citada anteriormente, a qual influenciou na
temperatura tanto da moldagem dos corpos de prova, contribuindo para a perda da água
de amassamento para o ambiente, quanto para o processo de cura, fator preponderante
para o aumento da resistência do concreto.
O segundo fator que influenciou negativamente na resistência dos concretos foi a perda
da trabalhabilidade que ocasionou dificuldades no adensamento, o qual foi feito
manualmente, provocando o aparecimento de bolhas de ar incorporadas no adensamento
o que prejudica a homogeneidade da mesma, além de possíveis irregularidades no topo
do corpo de prova nos ensaios de resistência à compressão.
Estes fatores justificam os valores obtidos das resistências médias que para os traços
com 75% e 100% de substituição do agregado natural por reciclado, obteve-se

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resistências cujos valores foram praticamente iguais aos 7 e 14 dias de cura, havendo aos
28 dias um aumento pouco significativo.
Nesse contexto, apresenta-se a Figura 4 que trata do gráfico com as resistências médias
das idades de 7, 14 e 28 dias para cada teor de substituição.

Figura 4 - Resistências médias dos traços elaborados para cada idade de cura

30
25
20
15 fc (7 dias)
fc (14 dias)
10
fck (28 dias)
5
0
Traço Traço Traço Traço Traço
0% 25% 50% 75% 100%

Fonte: AUTORES (2019)

A partir da análise do gráfico pode-se constatar que não houve aumento significante no
curso das idades de 7 e 14 dias tanto para o traço de 75% quanto para o de 100% devido
aos fatores já retratados anteriormente. Porém, o traço com 25% de substituição de areia
natural por areia reciclada foi bastante vantajoso apresentando uma resistência maior que
25Mpa aos 28 dias e com aumento contínuo de resistência em função da idade de cura.

4 Conclusões
Em vista do exposto, conclui-se que a incorporação de materiais granulares reciclados de
construção e demolição, em substituição ao agregado miúdo natural em matrizes
cimentícias de concretos provocam alterações em seu comportamento. Com os
resultados obtidos no presente trabalho pode-se notar que ao ponto que se eleva o
percentual de agregado reciclado no concreto sua trabalhabilidade é comprometida, e, em
consequência disto, conclui-se que os métodos para correção da absorção da água de
amassamento são indispensáveis.
No entanto, observou-se que estes resíduos podem substituir os agregados apresentando
um alto potencial de utilização. Com relação a isto, tem-se os resultados obtidos no teor
de 25% de substituição de areia natural por areia reciclada, no qual obteve-se
propriedades desejáveis e ainda contribuindo com uma diminuição de da quantidade de

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areia natural no concreto. Este valor, analisando-se em larga escala, reduziria uma
quantidade significante do consumo de agregados minerais, acarretando também na
redução da extração mineral.
De modo geral, pode-se constatar que não há implicações relevantes que impeçam o uso
do RCD em substituição do agregado miúdo natural. Dessa forma, em vista dos impactos
ambientais causados pela elevada demanda de extração da areia natural, deve-se intervir
com urgência o uso deste material tendo o RCD como alternativa imediata e eficaz para
sua substituição.

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