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A
TEORIA DO CICLO
INFINITO
UMA VIAGEM PARA QUEM DESAFIA O DESCONHECIDO

Capa:

Alex Corrêa de Souza

Design:
Alex Corrêa de Souza
Revisão de Texto:
Gabrielly Magalhães Aguiar

SOUZA, A. C.; A Teoria do Ciclo Infinito.


Editorial Independente. Nepomuceno, Minas
Gerais, Brasil: 2019.

Contato: alexsouzaa@hotmail.com

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“Agradeço a tudo que tornou possível
a elaboração desta obra. Dedico a
todos aqueles que possuem o
desconforto da razão, o sentimento de
inquietude com o que já foi dado. Em
especial, dedico esta obra também à
criança qual um dia eu fui, que
sonhava escrever um livro.”

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CAPÍTULO 1

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APRESENTAÇÃO

Estamos acostumados um uma ordem linear de tempo, um


calendário onde o tempo se inicia no dia primeiro de janeiro e
termina no dia trinte um de dezembro, assim fechando um ano e
abrindo o outro. Vamos contando os dias de acordo com a rotação
da Terra em torno de si mesma e os anos com o giro que a Terra
dá em torno de uma estrela, que nomeamos de Sol. Posicionamo-
nos diante de eventos históricos, para assim determinar a
contagem dos anos. Nós ocidentais utilizamos o nascimento de
Jesus Cristo de Nazaré como referência histórica, para determinar
o tempo-espaço de eventos diversos.

É uma questão organizacional e também de sentido.


Imagine não ter referência de tempo, de localização?! O tempo é
significado, mas também pode ser imperativo, pois não se curva
aos desejos humanos de qualquer forma. O tempo é pretérito e a
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gente recebe as consequências, não porque deseja, mas porque
não há liberdade ao nível extremo. Há uma aparente lacuna,
talvez preenchimento de onde o Homem com seu conhecimento
altera seu tempo e o tempo altera o Homem. É um dualismo
temporal.

No início... Não houve início, assim como não há meio ou


fim. Imagine um sistema de tempo cíclico, onde tudo se expande
e se constrói e depois tudo regride e se contrai. A expansão gera
a contração ou a contração gera a expansão, a própria ordem do
que começou primeiro é conflitiva com a ideia de que não há
início, meio e fim, mas sim algo que sempre existiu da forma que
é, que se repete e repete, infinitamente. Um circuito fechado, um
caminho traçado, que se assimila a um anel ou a uma corrente
sem elos, mas fechada em si.

É um novo paradigma de tempo, logo também de espaço.


É uma nova forma de pensar o universo e tudo que nele está
constituído, que se constituiu, que irá se constituir ou
desconstituir.

Você leitor poderá contestar cada linha, cada ideia, sugiro


que faça mesmo isso. Sugiro também que abra sua mente para
pensar novas possibilidades, quem sabre agregar ainda mais a
essas ideias.

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Nós vamos passar por marcos históricos, por concepções
mentais, às vezes paradoxais. Vamos caminhar por outras
teorias, outros conhecimentos, nos aventurar por esse vasto
campo do saber, da imaginação, da fantasia. Juntos trilharemos
caminhos de muito conhecimento e também de contradição. A
realidade é uma evidência que será questionada, tentar defini-la
é um desafio.

Vamos começar uma viagem. Arrume suas malas, leve o


que achar necessário. Eu não sou piloto, eu sou um informante,
quem guia é você, por esse mesmo motivo você é responsável
por cada palavra interpretada e criticada, pela consequência de
saber, ignorar ou desconhecer. Antes de prosseguir se assegure
que está preparado. Antes de prosseguir nessa viagem, faça uma
pausa e pense... Porque esse é um caminho é sem volta. A
turbulência da nossa viagem não está no vácuo do espaço, na
mudança dos ventos, a turbulência está dentro da sua mente, no
que acredita ser real, na mudança brusca de direção, na
fenomenologia e existencialismo. Sair da caverna pode ser
fantástico, mas saber também tem seu preço... Vamos lá!

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CAPÍTULO 2

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O UNIVERSO HABITUAL E SUAS DERIVAÇÕES
CULTURAIS

No inicio... Como anteriormente havia citado, não há início


meio ou fim, de forma geral, quando se pensa em um infinito 1,
não de modo intrínseco ao universo, mas essa ideia será mais
bem discutida em capítulos posteriores. Antes de fazer uma
ruptura com o tempo é preciso falar sobre ele, sobre a
concepção habitual de universo2, mais aceita hoje na
comunidade científica e também popular..

Para que as ideias façam sentido para mente, inicialmente


será adotado aqui o sistema conceitual de tempo do calendário

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Infinito é a ideia de que algo não tem fim, ou seja, não possível mensurar, medir,
determinar onde começa ou termina.
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Trata-se do modelo teórico científico mais aceito entre os cientistas do século
XXI.

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gregoriano. A adesão de um calendário se faz necessário para
que eu possa posicionar eventos históricos de uma forma lógica
e organizada, para que você leitor possa compreender de que
estou falando e de que época. A consciência humana está
culturalmente organizada assim.

O universo teoricamente surgiu de uma grande explosão, o


Big Bang, Teoria mais em evidência. Uma explosão de
proporções tão gigantescas que expandiu o cosmos em questão
de milésimos de segundo. A partir daí toda essa energia foi se
agrupando e se tornando matéria, formando galáxias, buracos
negros, estrelas, planetas, satélites naturais. Olha que magnifico,
tudo surgiu de uma explosão colossal de uma fonte energética.

Há diversas e diversas explicações sobre o surgimento e


funcionamento do universo, posições científicas, filosóficas,
religiosas e etc. Formas diversas de dar significado a isso que
chamamos de vida, experiência. A riqueza cultural é gigantesca,
o Homem e sua criatividade criam explicações fantásticas, lindas,
também trágicas. Muitas vezes recorrendo a figuras divinas,
mitológicas.

Eu vou contar uma forma diferente de conceber o universo


e tudo que nele está presente. Não estou preocupado com a
verdade absoluta, mas sim com a exposição de um modelo de

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pensamento diferente do que já foi produzido. Pode ser verdade,
ou apenas mais uma ilustração de um ser humano tentando dar
significado a sua experiência. De qualquer forma, alguma coisa
tem algum proveito. Pra você que gosta de pensar, você está no
lugar certo.

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CAPÍTULO 3

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O NASCIMENTO DA LINGUAGEM E SUAS
IMPLICAÇÕES

A linguagem surge como uma estrutura adaptativa muito


eficaz, pois se os indivíduos conseguem manter alguma
comunicação entre si eles podem compartilhar alguma
informação. Inicialmente a linguagem era rudimentar, pode-se
observar essa linguagem rudimentar em outros mamíferos ou
outras formas de vida. Elas se comunicam através de alguns sons
ou gestos, através até da química, como é o caso das bactérias,
que transmitem informação genética uma para as outras.

Quando o homem desenvolve sua linguagem, ele também


desenvolve o seu cérebro, a sua mente. A linguagem humana
surgiu do rudimentar e foi evoluindo, da comunicação química ou
biológica às frases inteiras. A complexidade de sua linguagem é
a complexidade indica a complexidade da mente.
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Os símbolos se tornam importante ferramenta na evolução,
possibilitando grupos se tornarem mais resistentes ao ambiente,
se reproduzirem com maior segurança e frequência; com a
linguagem um indivíduo pode avisar o outro de perigo eminente,
configurar um ataque. A linguagem humana se torna especial, se
torna realmente muito interessante quando o Homem faz suas
primeiras obras de arte que se tem evidência, as representações
da vida cotidiana nas paredes das cavernas.

Com todo avanço chegamos à diversos símbolos, com a


globalização estamos chegando ao patamar de comunicação
simbólica global. Carl Jung e outros autores já diziam de um
inconsciente coletivo, que seria uma linguagem inconsciente,
comum a todos os homens, essa é uma história paralela, outra
linha de pensamento, que não deixa de ser interessante e
explicativa. O inconsciente3 será abordado muitas vezes aqui, o
termo mente4 será frequentemente utilizado.

3 “Inconsciente se trata de um instância psíquica que não pode ser acessada


diretamente, o inconsciente é um lugar desconhecido pela consciência: uma
“outra cena”. Na primeira tópica elaborada por Sigmund Freud, trata-se de uma
instância ou um sistema (Ics) constituído por conteúdos recalcados que
escapam às outras instâncias, o pré-consciente e o consciente (Pcs-Cs). Na
segunda tópica deixa de ser instância, passando servir para qualificar Id (Isso),
Ego (Eu) e Seperego (Supereu)” ROUDINESCO, 1998.

4Quando utilizada a palavra mente no texto, essa se refere aos constructos


psíquicos elaborados por Sigmund Freud em sua segunda tópica. Id, Ego e
Superego.
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Quando o Homem faz suas pinturas na caverna ele
inaugura seu campo do simbólico, o campo da representação da
sua realidade. Ele é capaz de expressar o psíquico no externo, no
ambiente. A partir desse momento o Homem dá seu salto
evolutivo, sendo capaz de pensar sua realidade e transmiti-la para
as demais gerações. É isso que eu estou fazendo aqui. Você está
lendo? Você está dentro do mesmo processo.

Antes de surgir letras nessa página, minha mente está


articulando uma linha de raciocínio, uma realidade psíquica, que
é linguagem consciente e inconsciente. Essa linguagem encontra
conexão numa cultura e se expressa no papel através de letras.
Você está lendo e compreendendo esses símbolos através da sua
cultura, através da sua mente. Eu e você, nós somos capazes de
representar o pensamento, transformar energia em palavras com
sentido, com objetivo. Mas as palavras não são as únicas
linguagens, o Homem também criou seu tempo para dar
significado ao tempo.

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CAPÍTULO 4

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TEMPOS E A FANTASIA PRÁTICA DE TEMPO

Pensemos em no mínimo três tempos; um tempo real, mais


um tempo cronométrico e outro tempo mental, ideológico, no
campo da criação, no campo da representação, uma fantasia
prática.

Vamos começar pelo tempo real; imagine que há um tempo


sem alguém para observar que há tempo. Uma energia que
movimenta independente do desejo humano, independente de
qualquer ação de qualquer outro objeto presente no universo.
Esse tempo tem sua própria estrutura e existe por si, sem
qualquer significado, propósito, existe apenas por existir ou nem
isso. É uma suposição, porque para que algo exista não há de
haver um observador para relatar sua existência? Esse é um
problema epistemológico que eu não entrarei em discussão, mas
pode pensar aí...
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Esse tempo real também cria a condição de espaço ou
vice-versa, pode ser que ambos não existam isolados. Tempo
também é espaço, espaço é tempo. Ambos são a mesma coisa.
Tempo, espaço e matéria são formas energéticas. Tudo fruto da
mesma fonte, mas se manifesta de diferentes formas em
diferentes condições. A energia pode se manifestar através de
tempo, espaço e matéria ou qualquer outra coisa que ainda que
nos seja desconhecida. Você aglomera uma porção energética e
transforma em uma galáxia, pode-se aglomerar uma porção
energética, organiza-la de forma que se torne um Homem. Você
aglomera a energia e forma um tempo-espaço-matéria.

Todo universo é basicamente energia. Tudo ao seu redor,


tudo que existe, já existiu ou vai existir. Tudo energia configurada
de uma forma; essa configuração é tema de compreensão da
física, da física quântica, da química. A configuração é tema da
construção de todo tipo de conhecimento.

É apenas uma proposição de tempo, que chamo de tempo


real, a questão é imaginar que existe um tempo que a gente não
compreende ou controla que independe de nós. A explicação
desse tempo já é uma crise, pois para explica-lo é necessário
recorrer a formulações fenomenológicas, existenciais, recorrer a
algum tipo de conhecimento, à representação. Portanto me

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abstenho de explicar esse tempo, apenas cogito a possibilidade
de sua existência. Resumindo sua condição em energia.

O segundo tempo proposto é o cronométrico. Esse tempo


é uma criação humana, uma forma de medir a energia que se
movimenta em nós e através de nós. São os relógios, de todos os
tipos. São todas as construções métricas de tempo que a raça
humana já produziu, para dar sentido, configuração a sua
experiência no universo. Conceitualmente esse tempo é bem mais
simples, pois ele é somente unidades representativas de medida.
Quantas horas? Estamos em qual ano? Quantos minutos o carro
leva para dar a volta na pista?

O tempo cronométrico como foi dito, é uma forma de


organização coletiva coerente, racional, simbólica, mas também é
global, ou seja, a unidade de medida para ser válida deve ser
observada por um terceiro observador em outro local. O
observador deve conseguir reproduzir essa mesma medição
seguindo uma fórmula, uma configuração criada. Assim nós
podemos organizar nossa vida, combinar encontros, agendar
eventos, dizer quantos anos temos ou simbolizar nosso ciclo
biológico. O tempo que leva pra agua ferver, o tempo de
lançamento de um satélite, o tempo para uma doença se
desenvolver, a expectativa de vida de um ser humano, o ciclo
circadiano, e por ai vai... São tantas e tantas formas de medir o
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tempo... Tempo cronológico puro e simples objeto da criação
humana.

O terceiro tempo proposto é o tempo da mente, qual do


título a esse capítulo e eu a chamo de fantasia prática de tempo.
Esse tempo está no campo da representação psíquica, ou seja,
seu núcleo está na mente, na forma que organizamos as nossas
experiências, nossas ideias, nossos sentimentos, tudo o que
passa pela mente

Antes eu vou explicar porque chamo esse tempo de


fantasia prática de tempo, é mais didático. Primeiro que esse
tempo tem origem na sobrevivência da espécie, ou seja, esse
tempo é prático, natural, foi desenvolvido pelas necessidades de
sobrevivência do próprio meio. Aqui é só fazer uma conexão com
Charles Darwin e a sua obra A Origem das Espécies. Desenvolver
um mecanismo de tempo psicológico é necessário para
sobreviver no ambiente, é prático, necessário.

Esse tempo é uma fantasia justamente porque ele não


corresponde ao tempo real qual foi descrito acima, ele é um tempo
psicológico, mental. Esse tempo está organizado em cada
indivíduo de modo adaptativo, para que ele possa representar
suas experiências, sua atividade mental. A fantasia é essa criação
de uma realidade qual só existe dentro da mente, para dar sentido

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a si e ao meio. Esse tempo então é uma fantasia prática; não
encontra correspondência direta no real e é necessário para
sobrevivência.

A fantasia prática de tempo poderia ser dividida em vários


tempos; começando por cada indivíduo, que funciona a seu
tempo. No indivíduo há a representação de tempo, uma externa e
outra interna, mas ambas estão na mente, no campo da
representação. A diferença é que a representação externa está
voltada para o ritmo dos eventos dos ambientes externos, como a
percepção e organização do dia e noite. Essa representação
externa está para uma experiência coletiva, um sentido da
significação individual para o social. Seria uma confusão se não
conseguíssemos organizar uma experiência coletiva, imagine,
cada um vivendo num ritmo de tempo qual não encontra
correspondência em uma realidade externa coletiva. Como
civilização, necessitamos de correspondência externa. A
civilização é um conjunto de muitos aspectos, um desses
aspectos é o desenvolvimento de tempo.

A representação interna é mais complexa, individualizada


e profunda. Porque esse tempo de representação interna não
precisa necessariamente corresponder ao externo. Esse tempo é
uma experiência puramente subjetiva, não segue as medições
cronométricas ou do tempo real, esse tempo se organiza de forma
24
que é preciso para estruturar a mente. Esse tempo possui sua
própria lógica de funcionamento, se organiza de acordo com a
necessidade de cada sujeito e também se torna inconsciente.
Esse tempo está organizado na mente, seja em partes quais não
acessamos, parte que acessamos com o desejo ou partes que já
estão na consciência. Agora eu estou utilizando esse tempo, você
para me compreender também está fazendo conexões com seu
próprio tempo.

Portando, nós temos uma experiência de tempo coletiva e


outra individual, todos nós funcionamos dessa maneira. Eu e
você. Os outros seres vivos também podem possuir seus tempos,
mas são mais rudimentares ou não posso dizer como existem ou
funcionam, porque não podem descrevê-lo e nós não podemos
acessá-lo.

É muito evidente que nós não podemos ter certeza


absoluta das ideias, das coisas, por um motivo muito simples;
nossos pensamentos estão enviesados nas nossas crenças, nos
nossos sentidos, na nossa experiência. Tudo o que produzimos
passa por um processo psíquico de senso-percepção. Nossos
sentidos nos enganam o tempo topo. Tá, você pode argumentar
que existem uma metodologia científica positivista ou pós-
positivista, uma forma de assegurar maior confiabilidade da
realidade, mas são fragmentos. Ciência que se exalta e cai em
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declínio, muda paradigmas, concepções da verdade, entra em
crise. Vez ou outra o ovo se torna vilão e mocinho. Esse método
de amostragem pega uma pequena parte da realidade e
generaliza, até funciona, mas concordemos que ele não abrange
tudo e está longe de ser absoluto.

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CAPÍTULO 5

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PROTESTO!

Onde está tal Teoria do Ciclo Infinito? Calma leitor, aguenta


a ansiedade. Eu estou fazendo uma espécie de recapitulação de
várias coisas. Você percebeu o quanto você já viajou sobre as
concepções de tempo, espaço, energia, cultura e muito mais?
Vamos Chegar lá, prometo, porém você precisa compreender a
complexidade do tempo-espaço, da energia, da cultura, dos
campos de conhecimento. São tantos campos de conhecimento
que é impossível aborda-los aqui de forma completa, então me
cabe trazer o que é relevante na obra.

É necessário que você perceba que as coisas são mais


subjetivas que parecem ser, que a realidade é frágil. Que a
verdade também é muito frágil. Estamos acostumados com
aquela versão pacata dos livros populares, história bonitas ou
trágicas, parece que poucas pessoas se arriscam a sair dessa
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redoma. Talvez pela própria castração da cultura ou desistência
da abstração para o pragmático.

Eu compreendo seu protesto; mas confia em mim, curte a


viagem. Se precisar, vai respirar um ar puro, tomar uma água,
beber um café. Só não deixe de ler até o final, nem adianta pular
para o final, porque não vai fazer sentido.

Eu também protesto. É tudo muito confuso, todas essas


experiências, conceitos e conceitos. Simplifica... Aqui não é
2+2=4. Acalma aí e vamos prosseguir viagem.

Passou um intervalo de tempo cronológico de mais ou


menos três semanas e eu observei que esse protesto é mais meu
do que de qualquer outra pessoa, eu transferi minha ansiedade
em falar sobre o assunto para você leitor. Talvez você nem
estivesse ansioso para saber mais, mas eu estava ansioso para
contar mais.

Após essa percepção, essa reflexão, essa pausa, vamos


voltar a dar seguimento aos assuntos, seja como for, a viagem
continua.

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CAPÍTULO 6

31
A TEORIA EM SI E ALGUMAS DERIVAÇÕES

Depois de tantas reflexões sobre o tempo, espaço, energia,


mente e outros constructos, chegamos agora na esperada parte
sobre A Teoria do Ciclo Infinito. Um segredo revelador leitor: A
Teoria do Ciclo Infinito em si foi uma espécie de atrativo para
trazer sua mente até esses textos. Está confuso? Indignado?
Calma, a leitura não fica menos rica por isso, pelo contrário.
Continuemos a viagem.

A teoria consiste em afirmar que o tempo funciona de forma


cíclica, não só o tempo, mas também o espaço, que tudo se
resume em energia. Como afirmado anteriormente, não há início
meio ou fim. O universo tem funcionamento em uma constante
repetitiva e infinita. Ele se inicia com uma explosão colossal, dá
origem a uma infinidade de fenômenos, se expande, logo começa

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a se contrair. Como ele se contrai forma novamente uma
concentração energética que volta expandir, da mesma forma que
a anterior. Assim de maneira consecutiva, repetitiva e infinita.

Pensar dessa forma está implícito pensar que existe um


ciclo repetitivo infinito, dando seguimento, tudo que está
acontecendo, já aconteceu infinitas vezes nessas repetições.
Tudo que vai acontecer, acontecerá nas repetições e tornará
acontecer e acontecer, de modo infinito.

De modo hipotético, eu afirmo que nós não temos


conhecimento disso, por uma explicação simples, portanto temos
sempre a percepção que tudo está ocorrendo pela primeira vez,
pela ausência da memória anterior. A questão é que tudo
existente se faz e depois se desfaz, para assim se constituir de
novo. Nada nesse universo resta além de energia concentrada,
que se manifesta de formas variadas.

Não penso que seja possível deixar qualquer mensagem


para que no próximo ciclo possamos entender, descobrir e tomar
certeza desse processo, fazer algo diferente, porque tudo que se
constitui se desfaz. Junto com esse fazer e desfazer, está a
mensagem deixada, que se desfaz junto.

É um paradigma que se fecha, pois como provar a


existência de algo que não se pode observar? Mesmo que tal ideia
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seja uma verdade, vejo um impasse empírico de provar tal, pois
para provar seria necessária uma observação externa desse
universo que se estende e contrai. Se existir outros universos que
fazem o mesmo movimento, talvez seja possível, porém aqui
torna haver um paradoxo ainda maior.

O observador em outro universo não pode ter certeza que


ele também está ou não sendo observado, pode apenas supor,
como está acontecendo aqui. O que o torna potencialmente
também pertencente ao mesmo fenômeno, de forma que o
observador nunca poderá ter certeza que está na última instância
de observação.

A Teoria do Ciclo Infinito em primeiro momento parece uma


ideia absurda, porém mesmo que estatisticamente estupida ela
pode ser possível. Não é meu objetivo aqui traçar uma equação
física para comprovar tal teoria, mas é minha intenção apenas me
aproveitar dessa ideia para dar vários desdobramentos críticos,
reflexivos sobre a realidade ou as realidades, sobre nosso modo
de perceber e considerar o tempo, para nossa maneira individual
e coletiva de perceber e dar sentido ao universo que se apresenta.

Aqui faço uma ressalva de viés psicanalítico, cujo sinto ser


de importância: a realidade psíquica não e necessariamente
equivalente a realidade externa. Algo pode se manifestar

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psiquicamente de maneira real na psique de algum indivíduo ou
até de um grupo de indivíduos e isso pode não haver uma ligação
de causa e efeito com a realidade externa. Na real, presume-se
que há uma realidade externa, na qual não acessamos
diretamente, porque existe processos intermediários a essa
condição.

Discutir a realidade na psicanálise é assunto que ocupa


muito trabalho, não é objetivo aqui destrinchar essa ramo de
conhecimento, mas apenas considera-lo para que faça algum
sentido dentro da obra. Esse assunto pode ser conteúdo de uma
próxima obra, quem sabe...

Portando, a Teoria do Ciclo Infinito não é difícil de


apreender, o que se torna realmente interessante são os
desdobramentos consequentes dessa teoria.

Leitor, acontece que seja pela Teoria do Infinito ou não, há


notáveis evidências e pensamentos conflitantes, consequência
dos fenômenos da Teoria do Ciclo Infinito ou de qualquer outra
matriz paradigmática.

No próximo capítulo vou me atentar para alguns desses


desdobramentos. Muito provavelmente iremos entrar em
paradoxos, mas isso já não é uma novidade nessa altura de
discussão e crítica.
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36
CAPÍTULO 7

37
A TEORIA DO CICLO INFINITO E AS DERIVAÇÕES
DE DETERMINISMO E LIVRE-ARBÍTRIO

Leitor, até aqui se foi apresentas séries de ideias. Algumas


foram trazidas de maneira superficial, não há como negar, outras
com maior aprofundamento. Cabe a escolha de aprofundamento,
pela complexidade, quantidade e qualidade. Cabe a você
escolher se aprofundar ainda mais em conceitos utilizados, tanto
os citados de maneira breve quanto aos outros utilizados, pra isso
existem outras bibliografias.

Eu vou lhe apresentar alguns desdobramentos resultados


pela Teoria do Ciclo infinito, mas como anteriormente dito, pode
haver teorias semelhantes ou não, porém os desdobramentos
podem ser um casos a parte.

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O primeiro desdobramento a ser discutido é o determinismo
e ao livre-arbítrio5. Pois, se o universo se repete, então não há um
livre-arbítrio absoluto, esse universo tem uma probabilidade finita
de eventos.

Ainda indo mais para outras observações, existe uma


relação de causa e efeito nos fenômenos. Talvez causa e efeito
não sejam as palavra mais adequada em uma linha de raciocínio
alternativa, mas é possível dizer que existe uma previsão
enquanto acontecimento no universo, padrões. Há uma
sequencia de eventos, que de formas variadas se seguem na
nossa percepção de tempo e num tempo-espaço externo ou
interno. Podemos dizer que se trata de uma sequencias de
eventos previsíveis, conhecidos. Nós humanos não podemos
prever todas as sequências, porém conseguimos identificar várias
repetições. O que não conseguimos controlar são todas as
hipóteses quais formulamos, chamamos algumas de aleatórias,
pois não conseguimos identificar quando haverá novamente esse
evento no tempo-espaço, pois as probabilidades são inacessíveis
a capacidade humana ou são muito pequenas.

5É de influência da discussão de Determinismo e Livre-Arbítrio é uma derivada


da epistemologia Positivista. Aqui é importante afirmar a influência darwinista
como paradigma.
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Mas o Homem acredita que há um livre-arbítrio. Isso é até
pregado por religiões, como dogma e também assunto na filosofia
de modo geral. É outro desdobramento religioso e filosófico. Eu
quero trazer a interpretação como ilusão ou fantasia 6, que se
acomoda para organizar as questões psicobiossociais7. O livre-
arbítrio além de ser uma ideia que dá liberdade ao Homem,
quanto também ajuda na sua organização de civilização.
Verdadeiro ou não, o livre-arbítrio tem uma finalidade prática, útil.

Abordamos o Determinismo em oposição ao livre-arbítrio,


agora vamos nos fixar um pouco mais no Livre-arbítrio. O
Determinismo é uma corrente de pensamento, o Livre-Arbítrio
outra.

Aqui aparece outra reflexão paradoxal. Se é infinito não


deveria pode haver libre arbítrio. Pois o infinito8 não há como

6 As concepções de ilusão e fantasia estão descritas na obra do Sigmund


Freud, especificamente no Futuro de uma Ilusão, a Interpretação dos Sonhos,
também no Id e o Ego, dentre outras obras. Fantasia se refere à segunda
tópica.
7 Psicobiossocial é uma conceituação de Freud no texto Psicanálise Selvagem.

Freud apresenta o conceito de sexo na linguagem popular para depois


diferencia-lo com a psicanálise. A sexualidade não se refere apenas ao ato
sexual, o sexo é uma forma de sexualidade. Seria mais adequado apresentar
o termo psicobiossexualidade, como intenção de integração do corpo.
8 É importante afirmar que na Teoria do Ciclo Infinito o que é infinita é a

repetição dos eventos no universo de maneira cíclica, não a quantidade de


hipóteses dentro desse universo. A quantidade seria finita dentro desse
universo, porque o que é infinito não são as hipóteses, mas sim o ciclo. É muito
importante considerar e entender isso.

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quantificar número de hipóteses. Também há um terceiro
pensamento: a integração de determinismo e livre arbítrio,
associados em um mesmo universo.

É em primeira impressão que isso seja conflitante, mas


pode haver um funcionamento de o Determinismo funciona em
partes, conjuntamente com influência do livre arbítrio. Essa foi
apenas outra ideia contrária para reflexão.

É possível pensar então que o universo se repete e repete,


isso é infinito, porém dentro de repetição há uma finitude de
eventos. Nossa ilusão de liberdade está atrelada a essa finitude
de repetições dentro infinitude de repetições do universo.

Pode ser angustiante conceber que tudo não passa de uma


repetição, mas a angustia não exclui o caráter da verdade e nem
da possibilidade. Querendo ou não, tudo vai se repetir da mesma
forma que antes e depois, agora, pra sempre. O que nos resta é
mesmo a ilusão, a fantasia ou a ignorância. A ignorância já está
excluída aqui, pois nessa repetição eu estou aqui te contando
essa teoria. No raciocínio, você já leu isso antes e vai ler infinitas
vezes, achando sempre que foi a primeira vez. E eu escrevendo
infinitas vezes, achando que estou escrevendo a primeira vez.

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Dessa forma se dá as sequencias de repetição. A liberdade
é mera consequência de eventos caóticos. A escolha é finita,
porém infinita na repetição.

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CAPÍTULO 8

43
A POSSÍVEL VÍRGULA

Eu selecionei muitos assuntos, alguns investimentos


maiores de razão e afeto ao que me considerava mais cabível ao
contexto e objetivo. Sinto que ainda há muito que há o que falar.
Seja pelas minhas palavras ou pelas suas. Não afirmo que voltarei
a escrever diretamente a essa obra, por isso faço um convite e
também um desafio a você leitor.

Meu desafio é você continuar escrevendo sobre as ideias


que foi utilizando para parâmetro de crítica ao longo da obra. Para
isso eu deixo a finalização dessa obra em aberto. Quem vai
continuar essa história é você, nem que seja para se opor
totalmente ao que foi dito.

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Num ato de elaboração, você pode passar sua construção
adiante, juntamente com essa obra, sugerindo ao outro que
também faça suas reflexões e críticas.

Num último aviso, me direciono aos que abriram essa obra


lendo pelo fim, por essas palavras; volte e leia desde o começo,
do contrário, não vai encontrar maiores sentidos. Talvez quem
está terminando agora já não encontre sentido algum.

Quanto à continuação, a escolha é sua. Na intenção e


esperança da vírgula, o capítulo 9 está em branco para sua
elaboração.

Foi um prazer fazer essa viagem, por tantas ideias e


conflitos. A viagem não termina aqui. Ela não começou aqui e não
terminará aqui, pois a partir de agora só vamos caminhar
separados, dentro de uma mesma “caixa”.

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CAPÍTULO 9

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48
49
50
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