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FACULDADE ESTÁCIO DE SÁ CAMPO GRANDE – FESCG

ENGENHARIA CIVIL

VIABILIDADE ECONÔMICA DO USO DE RESÍDUO DE CONSTRUÇÃO E DEMOLIÇÃO


EM BASE DE PAVIMENTO URBANO

ECONOMIC FEASIBILITY OF THE USE OF CONSTRUCTION AND DEMOLITION


WASTE IN URBAN FLOORING BASE
Amanda Moraes Lopes¹
Wengley Fontinele Ribeiro ²
Suise Carolina Carmelo de Almeida³

RESUMO
Com o crescimento e o desenvolvimento das cidades, tem aumentado o consumo de materiais de
construção civil, gerando grande quantidade de Resíduos de Construção e Demolição (RCD). As
grandes construtoras estão preocupadas com a quantidade de entulho produzida e contam com
programas para diminuir o desperdício visando assim, ajudar as cidade no controle deste material, uma
vez que a maioria do material tem descarte em local inadequado. O objetivo principal destas
construtoras que aparecem na vanguarda deste segmento é sempre minimizar as perdas e aumentar os
lucros. Algumas cidades brasileiras estão no pioneirismo e reciclam o material para ser usado em
camadas de base do pavimento em substituição aos materiais convencionais por ser economicamente
mais viável. O presente artigo, objetiva realizar uma análise do custo-benefício da substituição da Bica
Corrida pelo (RCD) na base dos pavimentos da Cidade de Campo Grande, MS, para tal se fez
necessário um estudo da quantidade de entulho gerado na cidade e um levantamento básico preliminar
para implantação de uma usina de reciclagem buscando analisar a viabilidade da substituição da base
tradicional pelo RCD. Ao fim, o resultado foi negativo, o custo da substituição da base convencional
pela base em RCD é inviável por conta do custo maior.
Palavras chaves: Resíduos, Construção Civil, Gestão de Resíduos, Materiais Reciclados, Viabilidade
Econômica.

ABSTRACT
With the growth and development of cities, the consumption of civil construction materials has
increased, generating a large amount of Construction and Demolition Waste (CDW). Large
construction companies are concerned about the amount of debris produced and have programs to
reduce waste thus aiming to help the cities in the control of this material, since most of the material
has pirated disposal, but the main objective of these construction companies that appear at the
forefront of this segment is always to minimize losses and increase profits. Some Brazilian cities are
pioneering and recycle the ãmaterial to be used in pavement base layers, replacing conventional
materials because it is more economically viable. In order to carry out a cost-benefit analysis of
replacing the Bica Corrida with the (RCD) at the base of the pavements of the City of Campo Grande,
it was necessary to study the amount of debris generated in the city and a preliminary basic survey for
the implementation of a recycling plant seeking to analyze the feasibility of replacing the traditional
base by RCD.city and a survey of a recycling plant for analyze whether or not the replacement of the
base by the RCD is feasible.

¹ Bacharel no Curso de Engenharia Civil da Faculdade Estácio de Sá de Campo Grande. E-mail:


amandamoraes.eng@gmail.com.
² Bacharel no Curso de Engenharia Civil da Faculdade Estácio de Sá de Campo Grande. E-mail:
wengley.fontinele@hotmail.com
³ Professora Orientadora do Trabalho de Conclusão de Curso da Faculdade Estácio de Sá de Campo Grande.
Mestre em Engenharia Urbana. E-mail: suise.almeida@gmail.com
Keywords: Waste, Construction, Waste Management, Recycled Materials, Construction and
Demolition Waste, Economic Viability.
1 INTRODUÇÃO

O avanço das cidades brasileiras desencadeou o alto consumo de materiais de


construção civil, resultando em grande quantidade de Resíduos de Construção e Demolição
(RCD). Esses resíduos são gerados em quantidades expressivas nas cidades de grande e
médio porte no Brasil e são, comumente, descartados de forma irregular. Portanto, como
uma alternativa de minimizar a disposição ilegal do entulho, os municípios estão ampliando
as áreas para descarte de inertes.
Para mais, o RCD também tem sido reaproveitado para a utilização no pavimento.
Ele pode ser usado em camadas de base do pavimento, em substituição aos materiais
convencionais, com enfoque em vias urbanas, não apenas por suas vantagens econômicas,
mas também por reduzirem a quantidade de entulhos que são jogados em lixões causando
danos ao meio ambiente.
Em atenção à resolução CONAMA (2002) os RCD são classificados em 4 classes
(A, B, C e D), dividindo-se por categorias de acordo com o tipo de material a ser reciclado.
Os materiais que compõe a classe A (concreto, resíduos de agregados, argamassa
provenientes de reformas e reparos), são os que apresentam melhores capacidades técnicas
para utilização em obras de infraestrutura, tais como pavimentação, aterros, edificações e
etc.
Pólvora (2005) realizou ensaios em laboratórios com RCD. O material passou por
um processo de britagem produzindo quatro diferentes tipos de granulometria, que foram
analisadas separadamente, possibilitando montar uma mistura que atendesse às normas do
Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), podendo ser empregado
na base de pavimento.
Algumas cidades do país, como Belo Horizonte e São Paulo, já implantaram usinas
de reciclagem do RCD, obtendo resultados interessantes na diminuição dos custos de
construção. A vantajosidade estende-se para além do ponto de vista técnico e da
lucratividade financeira, cooperando com os princípios do desenvolvimento sustentável.
Não há ainda, na cidade de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, uma usina de reciclagem
de RCD. Destarte propõe-se uma análise do custo-benefício da substituição da Bica Corrida
pelo (RCD) na base dos pavimentos da cidade, através de um estudo da quantidade de
entulho gerado e um levantamento básico preliminar para implantação de uma usina de
reciclagem nos entornos, buscando analisar a viabilidade da substituição da base tradicional
pelo RCD, de modo a minimizar a utilização dos recursos naturais e expandir os ganhos

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econômicos.

2 REFERENCIAL TEÓRICO

A construção civil gera resíduos na produção de materiais, na atividade de canteiro,


durante a manutenção, modernização e na demolição sendo conhecido como Resíduos de
Construção e Demolição (RCD) ou entulho de obra e todo material retirado da construção
civil, podendo ser usado como material reciclado segundo Ângulo et. al., (2003).
A Resolução nº 307, de 05 de julho de 2002, do Conselho Nacional do Meio Ambiente
(CONAMA) define RCD como “todo resíduo gerado no processo construtivo, de reforma,
escavação ou demolição”.
Ainda segundo a Resolução, Entulho é considerado o “conjunto de fragmentos ou
restos de tijolo, concreto, argamassa, aço, madeira, etc., provenientes do desperdício na
construção, reforma e/ou demolição de estruturas, como prédios, residências e pontes.”
O entulho de construção compõe-se, portanto, de restos e fragmentos de materiais,
enquanto o de demolição é formado apenas por fragmentos, tendo por isso maior potencial
qualitativo, comparativamente ao entulho de construção. O processo de reciclagem do
entulho, para a obtenção de agregados, basicamente envolve a seleção dos materiais
recicláveis do entulho e a trituração em equipamentos apropriados. Os resíduos encontrados
predominantemente no entulho, que são recicláveis para a produção de agregados, pertencem
a dois grupos:
 Grupo I: Materiais compostos de cimento, cal, areia e brita: concretos, argamassa,
blocos de concreto.
 Grupo II: Materiais cerâmicos: telhas, manilhas, tijolos, azulejos.
 Grupo III: Materiais não-recicláveis: solo, gesso, metal, madeira, papel, plástico,
matéria orgânica, vidro e isopor.
Desses materiais, alguns são passíveis de serem selecionados e encaminhados para
outros usos. Assim, embalagens de papel e papelão, madeira e mesmo vidro e metal podem
ser recolhidos para reutilização ou reciclagem. (CONAMA, 2002, p.572)
Para o processo construtivo, o alto índice de perdas do setor é a principal causa do
entulho gerado, embora nem toda essa perda se transforme em resíduo, uma parte fica na
própria obra, essa quantidade de entulho gerado corresponde em média 50% do material
desperdiçado. Para as obras de reformas, o que ocorre é falta de reutilização e reciclagem
3
desses materiais, ocasionando as principais causas do entulho gerado pelas demolições do
processo conforme Ângulo et. al, (2003).
O entulho é, provavelmente, o mais heterogêneo dentre os resíduos industriais,
apresentando-se na forma sólida, com características físicas variáveis por depender do seu
processo gerador. É constituído de restos de praticamente todos os materiais de construção
civil, como: argamassa, areia, cerâmicas, concretos, madeira, metais, papéis, plásticos, pedras,
tijolos, tintas etc., podendo apresentar dimensões e geometria já conhecidas dos materiais de
construção civil como a areia e a brita.
Grande parte dos produtores de entulho permanecem jogando o material ao longo de
estradas, avenidas e em margens de rios e córregos. Assim surgiram os caçambeiros que
contribuem para que este quadro seja amenizado com a criação de locais pré-determinados,
mas nem sempre apropriados para o depósito de resíduos, lembrando que a maioria das
cidades tem um local específico para o descarte correto destes resíduos, mas que para isso
também é cobrado uma taxa, e que na maioria das vezes faz com que os resíduos sejam
descartados a esmo. As multas aplicadas por conta do descarte em local não autorizado
também são fonte de renda das cidades e municípios.

2.1 RECICLAGENS DE RCD


A reciclagem tem surgido como forma de amenizar a ação nociva dos resíduos no
ambiente urbano, gerando ainda novos produtos comercializáveis. Desta forma os agregados
reciclados de RCD podem ser utilizados em diversos novos produtos, como argamassa,
concretos, blocos de construção e base de pavimento.
Inúmeros benefícios são conquistados através de sua utilização, sejam as vantagens
econômicas, sociais e especialmente ambientais, conforme John (2000) e Pinto (1999):
• Redução no consumo de recursos naturais não renováveis, sendo substituído
por resíduos reciclados.
• Redução de áreas necessárias para aterro, pela minimização de volume de
resíduos para reciclagem, destacando-se aqui a necessidade da própria reciclagem dos
resíduos de construção e demolição.
• Economia na aquisição de matéria-prima, devido a substituição de materiais
convencionais, pelo entulho;
• Diminuição da poluição gerada pelo entulho e de suas consequências negativas
como enchentes e assoreamento de rios e córregos;

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• Preservação das reservas naturais de matéria-prima.
A forma mais simples de reciclagem do entulho é a sua utilização em base de bica
corrida de pavimento:
 É a forma de reciclagem que exige menor utilização de tecnologia o que
implica menor custo do processo;
 Permite a utilização de todos os componentes minerais do entulho como:
tijolos, argamassas, materiais cerâmicos, areia, pedras etc., sem a necessidade
de separação de nenhum deles;
 Economia de energia no processo de moagem do entulho;
 Possibilidade de utilização de uma maior parcela do entulho produzido, como o
proveniente de demolições e de pequenas obras que não suportam o
investimento em equipamentos de moagem/trituração.
De acordo com Hansen (1992), o processamento dos resíduos de construção e
demolição não difere muito daqueles usados para os agregados naturais, a separação do
resíduo deve ocorrer o mais cedo possível dentro da cadeia de reciclagem de materiais, de
preferência, durante o processo de demolição.

2.2 PROCEDIMENTOS DO BENEFICIAMENTO DO RCD


Os procedimentos e equipamentos utilizados no beneficiamento do RCD afetam as
principais características do agregado reciclado, como: classificação e composição; teor de
impurezas; granulometria; forma e resistência etc.
Existem diversos processos de beneficiamento para britagem e peneiramento de RCD,
o tipo desse processo será estabelecido para operar as usinas recicladoras que determinam os
custos do processo de reciclagem e a qualidade do produto conseguido.
A seguir estão descrito dois dos processos de beneficiamento utilizados em usinas.

2.2.1 Primeira Geração de Plantas de Processamento de Resíduos


Não são utilizados dispositivos de remoção de impurezas, com exceção de imãs magnéticos
para retirada de barras de aço, ou quaisquer outros elementos metálicos, os resíduos devem
estar livres de impurezas como madeiras, plásticos, papéis, vidros, terra, entre outros, pois não
existe a possibilidade de sua retirada no decorrer do processo. Para o sistema aberto
apresenta-se uma granulometria do produto final menos contínua e com menor definição do
diâmetro máximo, pois depois da britagem secundária o material é diretamente misturado aos

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produtos finais, diferentemente do que acontece no sistema fechado onde o material volta a
ser peneirado e britado. Conforme Hansen (1992) o sistema aberto possui maior capacidade
que o sistema fechado, sendo assim o mais vantajoso economicamente.

2.2.2 Segunda Geração de Plantas de processamento de resíduos.


As impurezas de maior dimensão, tais como madeiras, metais, plásticos e papéis, são retiradas
manualmente ou mecanicamente antes da britagem, depois de britados, os resíduos são limpos
por classificação seca ou úmida, as peças grandes, vindas de demolição, são reduzidas a
dimensões de 40 a 70 cm então passam pela britagem primária, o produto da britagem é
peneirado e o material geralmente menor que 10 mm são descartados para que se elimine a
possibilidade de uso de impurezas de tamanho reduzido, como gesso ou terra, em seguida,
procede-se a britagem secundária para algumas das faixas granulométricas existentes e
posteriormente executa-se o peneiramento.

De acordo com Quindt (1998), no processo de separação do resíduo da segunda


geração, a via úmida apresenta maiores benefícios que o processo de separação da via seca,
devido à menor quantidade de pó gerada, melhor separação e classificação, e o agregado
obtido fica praticamente livre de impurezas orgânicas.
Quando os agregados produzidos são provenientes de resíduos de construção
misturados, pode haver de ainda restarem menos de 1% de impurezas na composição dos
agregados obtidos. Este fato, segundo Hansen (1992), pode não afetar o uso do produto em
rodovias, ou outros serviços nos quais esta característica pode não influenciar de maneira tão
significativa. A eficiência desta prática já comprovada cientificamente, vem sendo confirmada
pela utilização, na prática, por diversas administrações municipais como São Paulo, Belo
Horizonte e Ribeirão Preto.
Em Belo Horizonte, a partir de 1993, a Superintendência de Limpeza Urbana (SLU)
iniciou o desenvolvimento de uma política específica, dirigida à gestão diferenciada dos RCD,
a qual tinha como objetivo minimizar o crescimento desordenado das deposições clandestinas
desses resíduos buscando também uma nova forma de destinação final para os RCD, que se
destina a reciclagem e o reaproveitamento em serviços públicos, como materiais de base de
vias públicas, por isso deram-se início à implantação do Programa de Correção das
Deposições Clandestinas e Reciclagem de Entulho, e teve como objetivo minimizar os

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resíduos, descrevendo que os RCD representam em massa, um percentual média de 28% em
relação à massa diária total do município.
Dentre esses programas, destaca-se o Programa de Reciclagem de Entulho que,
conforme descrito em Chenna (2007), compõe-se de uma rede física receptora que
compreende as Unidades de Recebimento de Pequenos Volumes (URPV) destinadas a receber
materiais como entulho, objetos volumosos e resíduos da poda, como também, as Estações de
Reciclagem de Entulho que visam ao beneficiamento do entulho e a sua transformação em
insumo para obras de infraestrutura e produção de artefatos. As usinas de RCD são
constituídas basicamente por um espaço para deposição do resíduo, uma linha de separação
onde a fração não mineral é separada, um britador que processa o resíduo na granulometria
desejada e um local de armazenamento, onde o entulho já processado aguarda para ser
utilizado, tendo capacidade de produzir somente material equivalente a classificados de
acordo com sua granulometria.

Figura 1: Esquema de uma usina de reciclagem

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Fonte: Diário Oficial do Município de Jeriquara/SP, (2018).

2.4 ESTUDOS DO RCD APLICADO NA BASE DE PAVIMENTO URBANO

Pólvora (2005) realizou ensaios em laboratório, com resíduos de construção e demolição


(RCD) britados em Campo Grande, produzindo quatro diferentes granulometrias, que foram
analisadas em laboratórios separadamente, possibilitando montar uma mistura que atende as
normas do DNER (BRASIL, 1996) para a utilização em base de pavimentação seguindo os
procedimentos metodológicos apresentados.

2.4.1 CARACTERIZAÇÃO E POSSIBILIDADE DO RCD EM USO DE PAVIMENTO


ASFÁLTICO
Quanto a granulometria, em estudo realizados no Brasil em 1996, foram obtidos os
seguintes resultados para a brita:

Os materiais produzidos no processo de britagem foram:

● Equivalente a Brita n° 1 – Diâmetro da Peneira - # 5 / 8

● Equivalente a Brita n° 0 – Diâmetro da Peneira - # 3 / 4

● Equivalente a Pedrisco – Diâmetro da Peneira - # 3 / 8

● Equivalente a Pó – Diâmetro da Peneira - # 1 / 8

A mistura sugerida que atendeu as normas do DNER, possui a seguinte composição:

● 20 % de # 5 / 8 Equivalente a Brita n° 1

● 20 % de # 3 / 4 Equivalente a Brita n° 0

● 20 % de # 3 / 8 Equivalente a Pedrisco

● 40 % de # 1 / 8 Equivalente a Pó

8
Quanto a Energia de compactação ou esforço de compactação, assim é chamada
pelo trabalho executado, referido à umidade de volume de solo após a compactação (BRASIL,
2006).
A compactação permite obter dados geotécnicos preliminares e fundamentais para a
moldagem do corpo-de-prova do Ensaio de CBR.

 Massa Especifica Seca = 1,880 kg/cm³


 Umidade Ótima = 8,5%

 Quanto ao ensaio ISC está relacionado com a determinação da capacidade de


suporte do material, visando compatibilizá-lo ao projeto e as especificações.

Tabela 1- Resultados dos Ensaios ISC


ITEM ISC EXPANSÃO

ENSAIO > 60 < 0,5 %

RESULTADOS 113,31 0,05%

Fonte: Pólvora 2005

Quanto ao ensaio de abrasão e impacto consiste em submeter certe quantidade de


agregado, satisfazendo assim a determinação granulométrica.
Na tabela 2 comparamos o resultado obtido no ensaio com os valores limites
impostos pela norma do DNER (BRASIL, 2006).

Tabela 2: Análise da Mistura no Ensaio Abrasão Los Angeles


NORMA DNER (BRASIL, 1996) Valor Obtido no Ensaio

< 55 % 42,80%

Fonte: Pólvora 2005

Conforme o exposto acima, o material em análise atende as especificações da norma


DNER (BRASIL, 1996).

2.5 BASE DE PAVIMENTO FLÉXIVEL


A base é uma das camadas que compõem a estrutura do pavimento, servindo para
resistir aos esforços do tráfego, sobre a qual, se constrói o revestimento. A maioria das bases,
a fim de alcançarem melhorias em sua resistência, utiliza misturas de diversos materiais.

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Estas, são bases estabilizadas granulometricamente com mistura entre dois solos, solo-
cimento, solo-cal, sendo a base de bica corrida uma das mais comuns e mais utilizadas.
A base de bica corrida, por sua vez, é composta por produtos resultantes de britagem
primária de rocha sã, que em uma condição granulométrica mínima assegura estabilidade à
camada, desde que as operações de espalhamento, homogeneização, umedecimento e
compactação, respeitem as normas já estabelecidas do Departamento Nacional de
Infraestrutura de Transportes (DNIT).
O material retirado da rocha sã deve ser constituído de fragmentos duros, limpos e
duráveis, livre de excesso de partículas lamelares ou alongado.
3 METODOLOGIA

Será apresentado uma alternativa à troca da base de bica corrida, comumente utilizada
em Campo Grande por uma base econômica por volume entre a execução da base de RCD em
pavimento urbano de Campo Grande e a base tradicional.
Elaborou-se um levantamento de custo com base nos trabalhos apresentados por
Mayer (2006) e Pólvora (2005), obtendo-se o volume de RCD produzido em Campo Grande,
MS, além de estimar o quanto deste volume poderia ser utilizado na execução de pavimento,
analisando-se como comparativo o quanto está sendo produzido para a aplicação da base
tradicional (bica corrida).
Com esta comparação podemos prever o volume total de RCD a ser produzido
anualmente com o objetivo de analisar um comparativo de custo/benefício, podendo assim
estudar a viabilidade da implantação de uma usina de reciclagem de entulho que atendesse
Campo Grande, para aplicação da base de RCD, já que a cidade não conta com uma
atualmente.
Na análise de dados para a implantação da usina, deverão ser obtidos, além do volume
de RCD já comentado, os seguintes dados de custo com os equipamentos da usina: pá
carregadeira, usina de britagem, estrutura física e preço estimado do aluguel de uma área para
instalação.
Belo Horizonte por ser pioneira na criação de usinas de beneficiamento de RCD foi
utilizada no estudo para parâmetro no cálculo dos investimentos inicias da implantação de
uma usina.

4. RESULTADOS

4.1 COMPOSIÇÕES GRAVIMÉTRICAS – ATERRO NOVA LIMA


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Segundo Lima (2000) que analisou em 40 amostras de dois aterros regularizados pela
Prefeitura Municipal de Campo Grande e utilizou-se para a classificação do material ao
Conselho Nacional do meio Ambiente (CONAMA) que adota as seguintes especificações
para as classes A, B, C e D que serão demonstradas abaixo:
Classe A: São os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregado, tais como:
a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras
de infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplenagem;
b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes
cerâmicos (tijolo, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;
c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto
(blocos, tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;
Classe B: São os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plástico,
papel/papelão, metais, vidros, madeiras e outros;
Classe C: São os resíduos para as quais não foram desenvolvidas tecnologias ou
aplicações economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como os
produtos oriundos do gesso;
Classe D: São os resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como:
tintas, solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados oriundos de demolições, reformas e
reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros.
Os resultados para classificação do material conforme CONAMA estão indicados na
tabela 3 abaixo.
Do total de entulho encaminhado ao Aterro de Nova Lima, 69,99% foram
classificado como Classe A, sendo, portanto aplicável na base de pavimentos.
Com base nos estudos de Pólvora (2005) e Lima (2000) conclui-se que a utilização
RCD na estrutura do pavimento atende as normas técnicas do DNER seguindo os
procedimentos metodológicos apresentados.

Tabela 3: Quadro de ensaio de composição gravimétrica – Aterro Nova Lima


CLASS.
ATERRO NOVA LIMA g %
CONAMA

20 LOTES TOTAL 42.770,00 100,00 A, B, C e D

MATERIAIS Rochas 891,24 3,36 A


CERÂMICOS Naturais

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Concretos 5.328,87 20,09 A

Argamassa 3.989,36 15,04 A

Tijolos e
4.816,94 18,16 A
Telhas

Azulejos 2.567,62 9,68 A

Cimento
970,82 3,66 A
Amianto

Gesso 172,41 0,65 C

Vidro 119,36 0,45 B

Material
metálico
plástico,
OUTROS
materiais
betuminosos
7.668,38 28,91 D
tintas e
adesivos;
papel de
embalagens
restos vegetais

Fonte: Lima (2000)

4.2 MASSA UNITÁRIA DO RCD

Quando o material chega para o processo de britagem, a massa especifica seca é de 1,089
t/m³ segundo Pinto (2000).
Com a separação do material, 30,01% em massa deste material é descartado (Lima,
2000), portanto sua massa é de 0,761 t e sua massa especifica seca é de 1,2 t/m³ (Carneiro,
2000) então seu volume é de 0,634 m³.
Após a britagem do material o volume é de 0,504 m³ e sua massa específica é de 1,51
t/m³ com uma massa de 0,761 t.

Figura 2: Demonstração da densidade do RCD

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Fonte: Lima (2000)

Segundo Lana et. al. (2001) foram coletadas as informações junto a Secretaria de
Limpeza Urbana – SLU, da Prefeitura Municipal de Belo Horizonte, órgão responsável pela
operação da usina de reciclagem de entulhos naquela cidade. A Usina de Reciclagem de
Entulhos de Estoril, processa cerca de 300 toneladas de entulho por dia e foi tomada por base
para o levantamento dos custos de implantação e operação para o empreendimento ora
considerado.
Para este trabalho, portanto, serão apresentados os estudos elaborados para uma Usina
com produção de 9 a 20m³ de RCD por dia.
Serão descartados deste estudo os valores mensais de folha de pessoal, energia,
aluguel, combustível, agua e custo de produção por conta da dificuldade de precisão destes
dados, uma vez que a planta escolhida como “base” de estudo encontra-se em outro estado
com preço bem diferente aqui do nosso.

Quadro 4: Custo de Implantação de uma usina de reciclagem (Dezembro/ 2020)


CUSTO DA IMPLANTAÇÃO DE UMA USINA DE RECICLAGEM (DEZEMBRO
2020)

ITEM CUSTO - USINA 20m³

PÁ-CARREGADEIRA (MODELO CASE) ANO 200 R$ 290.000,00

USINA DE BRITAGEM R$ 350.000,00

MONTAGEM R$ 10.000,00

INFRAESTRUTURA R$ 50.000,00

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TOTAL: R$ 700.000,00

Fonte: Pólvora (2005)

5 CONCLUSÃO

Após as pesquisas realizadas, e mesmo levando em conta que a utilização do RCD na


substituição da Bica Corrida poderia diminuir consideravelmente os lixões, e também o
descarte de material clandestino em pontos obscuros da cidade e beneficiar parte da população
através da geração de empregos, constatou-se que em Campo Grande/MS, essa tecnologia não
é bem aceita pela fiscalização. Assim sendo, mesmo que toda a pesquisa para encontrar
preços torne o custo da instalação da usina viável e apontem para inúmeras vantagens
econômicas e ambientais, devido ao descrédito por parte dos responsáveis técnicos, o uso do
material seria esporádico e pontual, de modo a aumentar significativamente o preço da base
de RCD nos primeiros anos de diluição no investimento da implantação da usina.
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