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Gestão de resíduos da construção civil brasileira: o que faremos

com tantos desperdícios?


Leisimar Palis Costa(1); Magda Stella de Melo Martins(2)
(1)
Estudante do Curso de Especialização em Gestão Ambiental: Diagnóstico e Adequação Ambiental
do Instituto Federal do Triângulo Mineiro - Campus Uberaba, Uberaba/MG; leisipalis@gmail.com; (2)
Professora Coordenadora dos Cursos de Pós-Graduação em Gestão Ambiental e Saneamento
Ambiental do IFTM - Campus Uberaba, Uberaba/MG; magda@iftm.edu.br

RESUMO: A gestão de resíduos da construção civil brasileira é assunto dessa pesquisa. Para isso foi
necessário um levantamento bibliográfico abordando leis, normas técnicas, autores e artigos científicos
publicados sobre gestão de resíduos sólidos da construção civil e demolição no Brasil. Baseado na
Resolução CONAMA nº 307, no Programa Brasileiro da Produtividade e Qualidade do Habitat, nas
Normas Brasileiras da ABNT 15112:2004, 15113:2004, 15114:2004, 15115:2004 e 15116:2004. A
origem dos resíduos sólidos gerados na construção civil, podem ser ligados a má execução dos
serviços nas diversas etapas de uma obra ou na ausência de treinamento da mão de obra e
padronização. Muitas vezes, erros de marcação, prumo ou nivelamento, têm que ser corrigidos com a
alvenaria. Existe uma legislação coerente que trata do destino e reaproveitamento dos resíduos sólidos
da construção civil no Brasil. Porém, a aplicação e a fiscalização da origem e destino desses resíduos
caminham a passos lentos. Cabe aos profissionais envolvidos na construção civil muitas leituras,
pesquisas e discernimento no trato com as dificuldades impostas e na escolha do destino mais
apropriado para os resíduos gerados por esse setor da economia brasileira.

Palavras-chave: Resíduos. Construção Civil. Reciclagem.

INTRODUÇÃO

A Construção Civil é o nome dado a todo tipo de construção que interaja com uma comunidade,
cidade ou população. Seu papel está diretamente ligado com o bem-estar dos beneficiados,
abrangendo princípios de cidadania como inclusão social e divisão entre espaços particulares e
públicos.
A quantidade de entulho gerada nas cidades brasileiras é muito significativa e pode servir como
um indicador do desperdício de materiais. Os resíduos produzidos pela Indústria de Construção variam
entre 41% e 70% da massa total de resíduos sólidos urbanos.
De acordo com Mesquita (2012), no Brasil, a construção civil é responsável por cerca de 14%
do PIB nacional e é um dos maiores consumidores de matérias-primas naturais, estimando que sejam
utilizados entre 20% e 50% do total de recursos naturais consumidos pela sociedade. Além disso, gera
um entulho que variam entre 41% e 70% da massa total de resíduos sólidos urbanos produzidos.
A Norma Brasileira (NBR) 10004 da Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT), define
resíduos sólidos como todos os restos sólidos ou semissólidos que resultam de atividades de origem
industrial, doméstica, hospitalar, comercial, agrícola, de serviços e de varrição. Os resíduos podem ser
classificados em perigosos e não perigosos.
O Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA conceitua na resolução 307/2002,
resíduos da construção civil como

"os provenientes de construções, reformas, reparos e demolições de obras


de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de
terrenos tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos,
rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros,
argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos, tubulações,
fiação elétrica etc., comumente chamados de entulhos de obras, caliça ou
metralha.” (Art.2)

Logo, praticamente todas as atividades desenvolvidas no setor da construção civil são


geradoras de entulho.
Atualmente, a Construção Civil é conhecida como uma das mais importantes atividades para o
desenvolvimento socioeconômico, e mesmo assim, ainda, é a responsável por uma parcela
considerável como grande geradora de impactos ambientais, podendo responder pelo consumo
excessivo de recursos naturais, pela constante modificação da paisagem ou pela grande geração de
resíduos sólidos classificados como RCD (resíduos de construção e demolição).
Com o passar dos anos, pode-se observar o crescente avanço na qualidade da construção
civil, resultado de implantações de programas de redução de perdas (pensando no financeiro da
empresa) e de sistemas de gestão da qualidade (devido a criação da Norma de Desempenho de
edificações habitacionais NBR 15.575/2013). Pensando nesses avanços, não há dúvidas, que nas
próximas décadas, haverá uma grande preocupação com a sustentabilidade, antes de tudo, para
garantir o próprio futuro da humanidade.
O resíduo sólido de construção e demolição é responsável por uma grande parcela dos
impactos ambientais, e frequentemente é disposto de maneira clandestina, em terrenos baldios, em
áreas públicas, ou até mesmo em aterros, diminuindo sua potencialidade.
Além dos impactos gerados, as empresas fornecedoras de insumos para a construção civil vêm
consumindo gradativamente os recursos naturais do planeta. Algumas jazidas de agregados naturais
estão cada vez mais escassas, obrigando as empresas a buscarem as matérias-primas em lugares
cada vez mais distantes para a comercialização e produção desses agregados. Para minimizar o
problema gerado pela escassez das jazidas, deve-se substituir os agregados convencionais por fontes
alternativas como é o caso da reciclagem e a reutilização de resíduos sólidos da construção e
demolição.
Para tanto, existem um conjunto de leis, políticas públicas e normas técnicas fundamentais na
gestão dos resíduos da construção civil, contribuindo para minimizar os impactos ambientais:

 Resolução CONAMA nº 307 – Gestão dos Resíduos da Construção Civil, de 5 de julho de 2002
Estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão destes resíduos, classificando-os em
quatro diferentes classes:

“Classe A – resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados (tijolo,


concreto, etc);
Classe B – resíduos reutilizáveis/recicláveis para outras indústrias (plástico,
papel, etc);
Classe C – resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias
viáveis que permitam sua reciclagem (gesso e outros) e
Classe D – resíduos perigosos (tintas, solventes, etc), ou contaminados (de
clínicas radiológicas, instalações industriais e outros).” (Art.3)

 PBPQ-H – Programa Brasileiro da Produtividade e Qualidade do Habitat: A sua meta é organizar


o setor da construção civil em torno de duas questões principais: a melhoria da qualidade do habitat e
a modernização produtiva.

 Lei Federal nº 9605, dos Crimes Ambientais, de 12 de fevereiro de 1998 – considera como
crime ambiental todo e qualquer dano ou prejuízo causado aos elementos que compõem o ambiente,
determinando as sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas a esse
meio.
 Legislações municipais referidas à Resolução CONAMA

 ABNT NBR 15112:2004: Esta Norma fixa os requisitos exigíveis para projeto, implantação e
operação de áreas de transbordo e triagem de resíduos da construção civil e resíduos volumosos.

 ABNT NBR 15113:2004: Esta Norma fixa os requisitos mínimos exigíveis para projeto, implantação
e operação de aterros de resíduos sólidos da construção civil classe A e de resíduos inertes.

 ABNT NBR 15114:2004: Esta Norma fixa os requisitos mínimos exigíveis para projeto, implantação
e operação de áreas de reciclagem de resíduos sólidos da construção civil classe A.

 ABNT NBR 15115:2004: Esta Norma estabelece os critérios para execução de camadas de reforço
do subleito, sub-base e base de pavimentos, bem como camada de revestimento primário, com
agregado reciclado de resíduo sólido da construção civil, denominado agregado reciclado, em obras
de pavimentação.
 ABNT NBR 15116:2004: Esta Norma estabelece os requisitos para o emprego de agregados
reciclados de resíduos sólidos da construção civil.

A reutilização de materiais na construção civil tem por objetivo principal a transformação dos
resíduos das obras, normalmente encarados como entulhos e caliça, em produtos comerciais que
possam ser novamente utilizados. Com isso, criar oportunidades de reuso e reciclagem que se
traduzam em sustentabilidade social e ambiental.
De acordo coma a Associação Brasileira para reciclagem de resíduos da construção civil e
demolição – a ABRECON, o segmento da reciclagem de resíduos da construção e demolição no Brasil
ainda é incipiente. A reciclagem deste resíduo é um mercado desenvolvido em muitos países da
Europa, em grande parte pela escassez de recursos naturais que aqueles países têm.
De acordo com os critérios e normas para orçamento de obras civis utilizados pela AGETOP –
Agência Goiânia de Transportes e Obras, o entulho gerado durante a obra, estima o volume igual 7%
da área de construção.
De acordo com Bertol et al., (2013) a quantidade total de resíduos gerada por metro quadrado
de obra construída é aproximadamente 45% menor em obras que possuem certificação PBQP-H e
ISO9001, por terem maior controle no registro de saída de resíduos, devido as exigências das normas.
Os resíduos da construção apresentam um grande potencial de uso ou reuso, principalmente
os classificados na Classe A. Para a viabilização da sua reciclagem, além de investimentos municipais,
são necessários implantações de programas de coleta e gestão adequadas e construção de usinas de
reciclagem em todo o Brasil. O agregado reciclável pode ficar 80% mais barato.
A implantação de uma usina de reciclagem de RCD pode gerar benefícios sociais para a cidade
e ainda dar retorno financeiro considerável para o empresário, dado as condições ofertadas, tais como
matéria prima e venda dos produtos.
A forma e a textura do agregado reciclado são obtidas por meio de britagem. A granulometria
dependerá do diâmetro máximo do britador, bem como da composição do resíduo de construção e
demolição. Essas usinas trituram o concreto que podem substituir as britas
Vários produtos fabricados com concreto e pedra virgens podem ser também produzidos com
agregado reciclado.
Atualmente, encontram-se usinas especializadas no processamento desse tipo de agregado
em municípios como Campinas, Americana, Limeira, Jundiaí, Grande São Paulo, todas no estado de
São Paulo, em Belo Horizonte (MG), no Rio de Janeiro (RJ), em Palmas (TO) e Brasília (DF).
Mediante esta situação em que se encontra os resíduos sólidos da construção civil, o presente
trabalho tem por objetivo fazer uma abordagem sobre o tema, destacando sua importância para
minimizar os impactos relacionados ao homem/meio ambiente.

MATERIAL E MÉTODOS

Este trabalho fundamenta-se no levantamento bibliográfico abordando leis, normas técnicas,


autores e artigos científicos publicados sobre gestão de resíduos sólidos da construção civil e
demolição no Brasil.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A origem dos resíduos sólidos gerados na construção civil, podem ser ligados a má execução
dos serviços nas diversas etapas de uma obra ou na ausência de treinamento da mão de obra e
padronização. Muitas vezes, erros de marcação, prumo ou nivelamento, têm que ser corrigidos com a
alvenaria. No entanto, em muitos casos esses erros são repassados às fases posteriores, e só então
corrigidos.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Existe uma legislação coerente que trata do destino e reaproveitamento dos resíduos sólidos
da construção civil no Brasil. Porém, a aplicação e a fiscalização dessas políticas públicas caminham
a passos lentos. A relação custo benefício de reaproveitamento desses resíduos ainda é questionável,
considerando que diversos estados brasileiros não possuem usinas de trituração de resíduos para
serem utilizados como agregados nas construções. Cabe aos profissionais envolvidos na construção
civil muitas leituras, pesquisas e discernimento no trato com as dificuldades impostas e na escolha do
destino mais apropriado para os resíduos gerados por esse setor da economia brasileira.
REFERÊNCIAS

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). NBR 10.004: Resíduos sólidos –


Classificação. Rio de Janeiro, 2004a.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA PARA RECICLAGEM DE RESÍDUOS DA CONSTRUÇÃO CIVIL E


DEMOLIÇÃO. Disponível em: <http://www.abrecon.org.br/index.php/mercado/>. Acesso em 8 out
2015.

______. NBR 15112: Resíduos da construção civil e resíduos volumosos - Áreas de transbordo e
triagem - Diretrizes para projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro, 2004b.

______. NBR 15113: Resíduos sólidos da construção civil e resíduos inertes - Aterros - Diretrizes para
projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro, 2004c.

______. NBR 15114: Resíduos sólidos da construção civil - Áreas de reciclagem - Diretrizes para
projeto, implantação e operação. Rio de Janeiro, 2004d.

______. NBR 15115: Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil - Execução de
camadas de pavimentação – Procedimentos. Rio de Janeiro, 2004e.

______. NBR 15116: Agregados reciclados de resíduos sólidos da construção civil - Utilização em
pavimentação e preparo de concreto sem função estrutural – Requisitos. Rio de Janeiro, 2004f.

BERTOL, Alessandra Cardoso; RAFFLER, Andréia; SANTOS, Jaqueline Pimentel dos. Análise da
correlação entre a geração de resíduos da construção civil e as características das obras. 2013.

CONSELHO NACIONAL DO MEIO AMBIENTE (CONAMA). Resolução Nº 307, de 5 jul 2002. Brasília,
2002.

Critério e normas para orçamento de obras civis utilizados pela AGETOP. Disponível em
<http://www.sgc.goias.gov.br/upload/links/arq_663_Normas.pdf>. Acesso em 10 out 2015.

Gestão Ambiental de Resíduos da Construção Civil: A experiência do SindusCon-SP. Disponível


em <http://www.sindusconsp.com.br/downloads/prodserv/publicacoes/manual_residuos_solidos.pdf>.
Acesso em 5 out 2015.

MESQUITA, A. S. G. Análise da geração de resíduos sólidos da construção civil em Teresina, Piauí.


HOLOS, v. 2, p. 58-65, 2012.

Os resíduos da construção: problema ou solução? Disponível em


<http://www.espacoacademico.com.br/061/61sposto.htm>. Acesso em 5 out 2015.

Redução do desperdício em canteiros de obras - um estudo para a grande Florianópolis.


Disponível em:<http://www.abepro.org.br/biblioteca/ENEGEP1999_A0283.PDF>. Acesso em 8 out
2015.

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