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UTILIZAÇÃO DE CONCRETO RECICLADO NA CONSTRUÇÃO

CIVIL
Isabella Samanta Vieira Lackin1
lackinisabella@gmail.com

Professor orientador: Paulo Ricardo

Coordenação de curso de Engenharia Civil

Resumo

Com o aquecimento da área da construção civil nos últimos anos, no Brasil, somado a
produção de resíduos no setor, temos como resultado um alto impacto ambiental. Com alto
consumo enérgico e utilização de recursos naturais. O resíduo da construção civil (RCC) ou
resíduo da construção e demolição (RCD) é todo resíduo gerado através da construção civil,
escavação ou demolição. É frequentemente descartado de forma incorreta, trazendo
problemas para as vias urbanas, como também, lotando aterros sanitários. Visto isso, tem se
feito necessário estudos que aprimoram o uso de RCC no setor tendo como exemplo, o
concreto reciclado, que utiliza o RCC como agregado. Que tem se mostrado um material
versátil, seguro e pode reduzir os custos de uma obra em outros países. No Brasil tem que
estimar se o uso do agregado reciclado para fabricação do concreto pode favorecer o meio
ambiente.

Palavras-chave: Construção. Resíduo. Concreto. Sustentabilidade.

1. INTRODUÇÃO

A indústria da construção é uma das mais antigas em todo o mundo e se utiliza de


técnicas e materiais que não mudaram muito ao longo do tempo. O concreto, por exemplo, é
produzido hoje com a mesma receita básica de anos atrás: água, cimento e agregado, podendo
variar apenas com o uso de um ou outro aditivo, ou adição, que podem levar a alguns efeitos
diferenciados. A preocupação com o meio ambiente tem levado todas as indústrias a começar
a repensar métodos e técnicas (LEITE, 2001).
No concreto podemos usar aditivos para a intensificar ou enfraquecer uma
característica que já está no concreto e a adição é quando o material substitui parcialmente ou
adiciona no cimento.
Resíduos da construção civil: são os provenientes de construções, reformas, reparos e
demolições de obras de construção civil, e os resultantes da preparação e da escavação de
terrenos, tais como: tijolos, blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais,
resinas, colas, tintas, madeiras e compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento
asfáltico, vidros, plásticos, tubulações, fiação elétrica etc. (CONAMA 307,2002).
A construção civil é um dos setores da economia que mais cresce no Brasil, segundo
os dados do Novo Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged) a construção
civil gerou mais de meio milhão de empregos desde o início da pandemia. Com esse
crescimento os resíduos da construção civil vêm crescendo abundantemente, mesmo em
cidades que tem uma gestão voltada para esse resíduo não é suficiente. A sociedade tem que

1
Graduação em Engenharia Civil – Faculdade Ages de Senhor do Bonfim
considerar cada vez mais o uso do concreto com resíduos reciclado para contribuir com o
meio ambiente.
Várias são as fontes de geração de resíduos na construção civil. Por exemplo, a falta
de qualidade dos bens e serviços, no setor da construção, pode dar origem às perdas de
materiais, que saem das obras em forma de entulho e contribuem sobremaneira no volume de
resíduos gerados. Por outro lado, existem ainda as perdas que não saem da edificação, que
podem levar ao mau funcionamento das mesmas e acabam por acarretar o aparecimento de
manifestações patológicas. Deste modo, há uma redução da vida útil das estruturas, que
necessitarão de manutenção mais frequente, vindo também a propiciar maior consumo de
matéria prima e geração de resíduos (LEITE, 2001).
Em Salvador, onde é significativa a geração de resíduos sólidos urbanos, o
crescimento populacional, o desenvolvimento econômico e a utilização de tecnologias
inadequadas têm contribuído para que essa quantidade aumente ainda mais. Em um momento
caracterizado pelo forte aquecimento do setor imobiliário na cidade, torna-se urgente a
necessidade de soluções alternativas para a destinação dos RCC (EVANGELISTA; COSTA;
ZANTA, 2010).
Segundo a empresa de limpeza urbana de Salvador (LIMPURB), em 2020 a coleta de
RCC aumentou 0,86% em relação a 2019, nesse ano foram coletadas 2.462,28 toneladas por
dia de resíduos e 750.389,92 toneladas por ano.
A geração de RCD já possui números assustadores e a tendência mundial é que estes
valores aumentem ainda mais. Encontrar uma utilização para estes resíduos é mais que uma
necessidade, é uma obrigação (LEITE, 2001).
Em muitos países da Europa, nos Estados Unidos e no Japão as usinas de reciclagem
de resíduos de construção e demolição já são uma realidade e o processo, em muitos deles, já
está muito avançado (LEITE, 2001).
As inúmeras pesquisas relacionadas ao estudo de agregados reciclados de concreto
atestam o grande potencial do material. No Brasil, os estudos concentram-se basicamente no
tratamento das sobras de concreto em centrais dosadoras, e ao reaproveitamento de resíduos
de construção e demolição (BUTTLER, 2003).

2. DESENVOLVIMENTO

Nenhuma sociedade poderá atingir o desenvolvimento sustentável sem que a


construção civil, que lhe dá suporte, passe por profundas transformações (CASSA, 2001).
Os resíduos de concreto, devido ao conhecimento das propriedades do material de
origem, na maioria dos casos, possuem uma grande potencialidade para serem reciclado como
matéria prima. Infelizmente, ainda não existem procedimentos nacionais para utilização,
devido a isto ocorre o panorama existente no Brasil, onde os resíduos são na maioria das
vezes despejados no meio ambiente. A falta de informação e estudos sobre estes materiais,
levam à um desperdício econômico enorme, pois se está jogando fora um material com grande
possibilidade de ser reaproveitado (GONÇALVES, 2001).
A cadeia produtiva da construção civil, também denominada construbusiness,
apresenta importantes impactos ambientais em todas as etapas do seu processo: extração de
matérias primas, produção de materiais, construção, uso e demolição. Qualquer sociedade
seriamente preocupada com esta questão deve colocar o aperfeiçoamento da construção civil
como prioridade (CASSA, 2001).

2.1 Concreto
O concreto é um material composto, constituído por cimento, água, agregado miúdo
(areia) e agregado graúdo (pedra ou brita). O concreto pode também conter adições e aditivos
químicos, com a finalidade de melhorar ou modificar suas propriedades básicas
(BASTOS,2019). O concreto de cimento Portland é o mais importante material estrutural e de
construção civil da atualidade. Mesmo sendo o mais recente dos materiais de construção de
estruturas, pode ser considerado como uma das descobertas mais interessantes da história do
desenvolvimento da humanidade e sua qualidade de vida (HELENE E ANDRADE,2010).
O concreto usado como material estrutural é chamado de concreto estrutural e pode ser
o concreto simples, sem armadura; o concreto armado quando a armadura não é pré-
tracionada ou protendida e o concreto protendido quando a armadura é ativa ou protendida
(COUTO et al, 2013).
O concreto simples é usado na fabricação de blocos de concreto; na construção de
estaca broca de fundação; na construção de tubulações; no cimento de pisos etc. (BOTELHO,
2006). O concreto armado é um material de construção resultante da união do concreto
simples e de barras de aço, envolvidas pelo concreto, com perfeita aderência entre os dois
materiais, de tal maneira que resistam ambos solidariamente aos esforços a que forem
submetidos. A utilização de barras de aço juntamente com o concreto, só é possível devido as
seguintes razões: trabalho conjunto do concreto e do aço, assegurado pela aderência entre os
dois materiais; o coeficiente de dilatação térmica do aço e do concreto são praticamente
iguais; o concreto protege de oxidação o aço da armadura garantido a durabilidade da
estrutura (SOUZA JÚNIOR).
Por vida útil entende-se o período de tempo no qual a estrutura é capaz de
desempenhar as funções para as quais foi projetada, sem necessidade de intervenção não
prevista. A questão da vida útil das estruturas de concreto deve ser considerada como
resultante de ações coordenadas e realizadas em todas as etapas do processo construtivo
(HELENE, 2002).
No projeto de controle de qualidade do concreto, a resistência é uma propriedade
normalmente especificada, porque, comparado aos ensaios envolvendo outras propriedades, o
ensaio de resistência é relativamente fácil. Além disso, acredita-se que muitas das
propriedades do concreto, como módulo de elasticidade, estanqueidade ou impermeabilidade,
e resistência a intempéries, incluindo águas agressivas, estão ligadas à resistência e, por isso
podem ser deduzidas a partir dos dados da resistência. A resistência à compressão do concreto
é muitas vezes maior do que outros tipos de resistências. Assim, a maior parte dos elementos
de concreto é projetada para tirar vantagem de uma maior resistência à compressão do
material. Embora na pratica, a maior parte do concreto esteja sujeita simultaneamente à
combinação de tensões a compreensão uniaxial são mais fáceis de realizar em laboratórios, e
o ensaio de resistência à compressão para o concreto aos 28 dias é aceito universalmente
como um índice geral da resistência do concreto (MEHTA E MONTEIRO, 2008).

2.2 Concreto reciclado

O concreto com agregados reciclados é aquele produzido com resíduos britados, em


substituição parcial ou total aos agregados convencionais. Como os agregados convencionais,
oriundos de rochas britadas, seixos e areias lavadas de rio são muito pouco porosos, a
resistência ou durabilidade do concreto convencional é controlada exclusivamente pela
porosidade (vazios) da pasta de cimento. Já os agregados reciclados são mais porosos que os
agregados de rochas britadas e areias naturais. Assim, a resistência e durabilidade deste outro
tipo de concreto são controladas, não apenas pela porosidade da pasta de cimento, mas
também pela porosidade do agregado, que facilmente ultrapassa os 10%. Assim, a diferença
essencial entre um concreto convencional e um concreto com agregado reciclado é a
porosidade (ÂNGULO E FIGUEIREDO, 2011).
VÁSQUEZ e BARRA, citado por ARAGÃO (2001) comenta que no Japão, uma parte
do resíduo de concreto demolido já é utilizado para pavimentação de rodovias. Todavia, já
existe um plano para que seja estimulado o uso deste resíduo para produção de novos
concretos. Muitos países estão adotando esta solução: utilizar cada vez mais os resíduos de
construção, e tentar incorporá-lo em usos cada vez mais nobres.
De acordo com Hansen, citado por Silva (2004) o procedimento básico da reciclagem
consiste em britar o resíduo até se obter a granulometria desejada. A britagem pode acontecer
somente uma vez (primária), ou pode se realizar mais de uma britagem, dependendo do tipo
de aproveitamento a ser dado para o resíduo.
De acordo com a resolução do CONAMA 307/2002, entende-se como reciclagem um
processo de reaproveitamento de um resíduo, após ter sido submetido à transformação. Nesta
resolução os resíduos da construção civil são classificados da seguinte forma:
- Classe A - são os resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, tais como:

a) de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras obras de


infraestrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;

b) de construção, demolição, reformas e reparos de edificações: componentes cerâmicos


(tijolos, blocos, telhas, placas de revestimento etc.), argamassa e concreto;

c) de processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto (blocos,


tubos, meios-fios etc.) produzidas nos canteiros de obras;

- Classe B - são os resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel,
papelão, metais, vidros, madeiras e gesso;

- Classe C - são os resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações
economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem ou recuperação;

- Classe D: são resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como tintas,
solventes, óleos e outros ou aqueles contaminados ou prejudiciais à saúde oriundos de
demolições, reformas e reparos de clínicas radiológicas, instalações industriais e outros, bem
como telhas e demais objetos e materiais que contenham amianto ou outros produtos nocivos
à saúde.

No artigo 10 fala que os resíduos da classe A deverão ser reutilizados ou reciclados na


forma de agregados, ou encaminhados a áreas de aterros de resíduos da construção civil,
sendo dispostos de modo a permitir a sua utilização ou reciclagem futura.
Para os resíduos passar chegar na forma de agregado é necessário passar pelo processo
de britagem, assim reduzindo sua granulometria. De acordo com Levy (2021) 75% do
concreto é composto por agregado, isso influencia a resistência e compromete a durabilidade
e o desempenho estrutural do concreto.
LEVY (1997) diz que a composição do entulho é função da fonte que o originou
e também do momento em que foi colhida a amostra. Esse entulho pode conter impurezas que
podem danificar o concreto como: vidro, gesso, matéria orgânica, metais, pavimentos
betuminosos, cloretos, esses matérias podem diminuir a resistência do concreto, podem causar
fissuras e corrosão na armadura.
SCHUL e HENDRICKS, citados por LEITE (2001) mostram registros da utilização de
alvenaria britada para produção de concreto desde a época dos romanos. Igualmente nesta
época era usada uma mistura de argilas, cinzas vulcânicas, cacos cerâmicos e pasta
aglomerante de cal, que servia como uma camada para pavimentos sobre a qual efetuava-se o
revestimento final no pavimento (BRITO FILHO, citado por LEITE 2021).
QUEBAUD e BUYLE-BODIN, citado por LEITE (2021) Os agregados reciclados
apresentam características peculiares que dependem muito dos materiais que chegam às
centrais de processamento e do tipo de processo utilizado nas mesmas como, por exemplo, o
tipo de britador, os dispositivos para extração de impurezas, entre outros.
LIMA, citado por ARAGÃO (2007) As características dos concretos com reciclados
variam mais que a de concretos convencionais, pois além das variações ligadas à relação
água/cimento e ao consumo de aglomerantes, há ainda as mudanças determinadas por
variações na composição e outras características físico-químicas dos resíduos reciclados.
Apesar disto, pode-se obter concretos com reciclado adequados a diversos serviços de
construção, desde que se tomem cuidados com a produção do agregado e do novo concreto
(escolha do resíduo, classificação e separação dos contaminantes, controle de qualidade,
adoção de procedimentos corretos de aplicação, análise das condições de exposição e outros
cuidados).
Uma das propriedades mecânicas mais abordadas e que tem relevância na
caracterização do concreto no estado endurecido é a resistência à compressão. Pode-se
correlacionar diversas propriedades do concreto, tais como resistência à tração e à abrasão, e
módulo de deformação longitudinal com a resistência à compressão (ARAGÃO, 2007).
Todos os materiais dos quais o concreto é composto afetam diretamente a sua
resistência e o seu desempenho final. Assim, os agregados também são extremamente
importantes para análise criteriosa das propriedades do concreto. Qualquer variação dos
materiais componentes do concreto merece um estudo sistemático e isso também se aplica ao
agregado reciclado, principalmente quando se pensa que eles correspondem até 80% de toda
mistura (LEITE, 2001).
SHETHAMARAI e MANOHARAN, citado por ARAGÃO (2007) obtiveram, em seus
estudos, valores de resistência à tração de concretos reciclados de material cerâmico menores
que os valores do concreto convencional.
RAVINDRARAJAH, citado por LEVY (2001), o módulo de deformação longitudinal
dos concretos com agregados reciclados é menor do que o dos concretos com agregados
naturais e além do mais esta diferença é maior para resistências à compressão mais elevadas.
A procedência dos resíduos de construção destinados à produção de agregados
reciclados deve ser considerada fator relevante, uma vez que dependo da sua origem, ao
passarem por um determinado britador estes resíduos darão origem a agregados com forma
totalmente diferentes entre si. Em determinadas condições podem levar a um consumo de
cimento extremamente elevado, tornado inviável técnica e economicamente a produção de
concretos de classes com resistências superiores a 30 MPa (LEITE, 2001).

3. METODOLOGIA

A metodologia utilizada na realização deste trabalho foi a revisão de literatura em


artigos, dissertação de mestrado e tese de doutorado, visando o uso de agregado
reciclado para a produção de concreto, a fim de oferecer uma forma mais sustentável
para construção civil ajudar o planeta.
Após os referenciais teóricos pesquisados foram constatados a resistência e a
durabilidade desse concreto reciclado e se ele é capaz de atender as necessidades na
construção civil e o que ainda precisa ser analisado para a utilização segura do
concreto reciclado.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

ARAGÃO (2007) fez uma análise de lajes pré-moldadas produzidas com concreto
reciclado de construção e demolição. Ele produziu três lajes, uma com agregado natural, outra
com agregado 50% reciclado e a última com agregado 100% com o FCK 25 Mpa, realizou
todos os ensaios de resistência à compreensão e modulo de elasticidade. Segundo os
resultados obtidos pelos ensaios o comportamento das lajes produzidas com concretos
reciclados foi muito semelhante ao comportamento da laje referência, para os valores de
deslocamento abaixo da flecha limite estabelecido pela NBR – 6118 (ABNT 2004).

Figura 1 – Laje após a moldagem (ARAGÃO, 2007).

Figura 2– Laje referência fissurada (ARAGÃO, 2007).


Figura 3 – Laje RCD-50% fissurada (ARAGÃO, 2007).

Figura 4 – Laje RCD-100% fissurada (ARAGÃO, 2007).

SILVA (2004) realizou um experimento fazendo 78 corpos de provas com concreto


convencional e substituindo 25%, 50% 75% e 100% com agregado reciclado, trabalhando
com fator água/cimento e traços diferentes em cada caso, os corpos de prova com concreto
reciclado foram ensaiados aos 3, 7 e 28 dias, o convencional só aos 28 dias. De acordo com o
resultado final dos ensaios a evolução da resistência à compressão do concreto reciclado se
comportou de forma semelhante à do concreto convencional, os números mostraram que o
desempenho da amostra com 50% de agregado reciclado obteve resultados melhores que
concreto convencional. Outro fato que foi verificado é que quanto mais rico for o traço (mais
cimento), maior serão as diferenças entre os valores obtidos pelos concretos reciclados em
relação aos concretos convencionais. Em traços mais pobres essas diferenças tendem a
diminuir, ou seja, as resistências se aproximam. A curva de Abrams apresentou o mesmo
formato normalmente apresentado pelos concretos convencionais, ou seja, ao aumentar-se o
fator a/c, a resistência do concreto diminui. Os resultados mostram que o agregado reciclado
tem uma perda por abrasão superior se comparado ao agregado natural.
O ensaio de perda por abrasão dos agregados oferece um indicativo da qualidade do
material a ser utilizado na produção do concreto. Com o mesmo se determina a resistência à
fragmentação por choque e atrito das partículas de agregado graúdo (LEITE, 2001).
A resistência a compressão do concreto é uma das propriedades mais importantes para
o bom desempenho de uma estrutura e está associada à sua capacidade de resistir as tensões
sem o surgimento de rupturas. Por esse motivo, características como a porosidade dos
agregados influenciam diretamente em sua resistência, ou seja, quanto maior o índice de
vazios dos agregados menor será a resistência do concreto (TOMAZ; MORAES 2017).
O agregado não só pode influenciar a resistência do concreto, pois agregados com
propriedades indesejáveis podem não apenas produzir um concreto pouco resistente, mas
também podem comprometer a durabilidade e o desempenho estrutural do concreto. Portanto,
este fato por si só, justifica a preocupação com a influência dos agregados na durabilidade do
concreto (LEVY, 2001).
Em concretos convencionais, produzidos com agregados naturais, densos e resistentes,
a resistência à compressão tem enorme influência da porosidade da matriz e da zona de
transição. Já em concretos reciclados, nos quais valores de resistência à compressão tendem a
ser inferiores à dos convencionais, a ruptura se faz nos agregados, levando-os a serem o
elemento determinante nesta propriedade para esses concretos (ARAGÃO, 2007).
LEITE (2001) afirma que quando se estuda a utilização de agregados para produção de
concretos, as características como granulometria, a absorção de água, a forma e a textura, a
resistência à compressão, o módulo de elasticidade e os tipos de substâncias deletérias
presentes nos materiais devem ser consideradas, principalmente quando se trata de novos
materiais como é o caso do agregado reciclado. Afinal, a viabilidade técnica de sua utilização
dependerá do total conhecimento do seu comportamento na estrutura do concreto.
Em estudos analisados por Buttler (2003) a relação água/cimento afeta a
permeabilidade do concreto, sendo que para os concretos reciclados os resultados de
permeabilidade foram superiores aos obtidos para os concretos de referência. A qualidade do
agregado reciclado tem pequena influência nessa propriedade.
Em concretos convencionais com alto fator a/c, os agregados naturais utilizados
apresentam resistência e densidade satisfatórias e todo o conjunto passa a contribuir para o
aumento da resistência. Já em concretos com agregados reciclados, a fragilidade está no grão
do agregado, entretanto, nesses concretos observa-se uma melhora na zona de transição. Por
outro lado, à medida que a relação a/c aumenta, a porosidade da matriz e da zona de transição
do concreto convencional aumentam também e a densidade e resistência do agregado graúdo
natural tem a sua influência muito diminuída, diferente do agregado reciclado, que passa a ter
os valores destas propriedades semelhantes aos da matriz do concreto, deixando de ser assim
o elo frágil do sistema, assim o módulo de elasticidade dos concretos reciclados é menor que
o do concreto de referência (ARAGÃO, 2007).
Quando se utiliza uma relação água/cimento elevada, a resistência não é afetada pelas
características do agregado reciclado. Entretanto quando se emprega uma relação
água/cimento baixa, as características do agregado reciclado influenciam significativamente
na resistência à compressão e tração. (BUTTLER, 2003).
A resistência à compressão do concreto reciclado é influenciada pela resistência do
concreto que originou o resíduo, ou seja, pela relação água/cimento deste. Esta conclusão é
confirmada, quando se analisa a diferença dos valores encontrados para uma mesma classe de
resistência de concreto reciclado quando é variado o tipo de agregado (GONÇALVES, 2001).
SILVA (2004) diz que é importante estudar os agregados isoladamente, reside no fato,
que 75% do volume do concreto é ocupado pelos agregados, não sendo surpreendente o fato
de sua qualidade ser de considerável importância. O agregado não só pode influenciar a
resistência do concreto, pois agregados com propriedades indesejáveis podem não apenas
produzir um concreto pouco resistente, mas também podem comprometer a durabilidade e o
desempenho estrutural do concreto.
BUTTLER (2003) afirma que a fase agregado é a principal responsável pela massa
unitária, módulo de elasticidade e estabilidade dimensional do concreto. A massa específica
do agregado graúdo influi diretamente na massa específica do concreto, sendo também
diretamente proporcional à resistência do concreto, isto é, quando maior a porosidade (índice
de vazios) do agregado, menor será sua resistência tornando-se o elo fraco da mistura.

5. CONCLUSÕES
Mesmo com os diversos problemas causados pela forma errada como no Brasil é
descartado os resíduos da construção civil, é muito pouco os estudos sobre a reciclagem de
resíduos.
Pelo estudo feito nas obras dos autores citados neste trabalho, foi comprovado pelos
ensaios feitos com concreto convencional e concreto reciclado que o concreto feito com
agregado reciclado atinge resultados de resistência à compressão próximo ao concreto
produzido de agregado natural e os resultados estão dentro da NBR 6118.
Observando esses resultados pode concluir que o concreto reciclado pode vir ser uma
alternativa na área da construção civil para contribuir com a preservação do meio ambiente.
Para que isso possa virar uma realidade é importante que no Brasil invista em pesquisas
cientificas sobre o caso e intensifique os estudos sobre durabilidade, trabalhabilidade,
porosidade, resistência a tração, resistência de aderência e também sobre o custo com o
gerenciamento de resíduos.

6. AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela oportunidade de concluir este artigo, a minha família
e amigos que me deram força durante esse processo. Agradeço também ao professor
orientador Paulo Ricardo pela paciência e dedicação nesse momento.

7. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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