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VIABILIDADE DO USO DE FIBRAS DE BASALTO NAS ESTRUTURAS DE

CONCRETO ARMADO

FEASIBILITY OF USING BASALT FIBERS IN REINFORCED CONCRETE


STRUCTURES

José Leandro Gabriel Discher, eng.josedischer@gmail.com

Resumo: O presente artigo foi elaborado com o objetivo de verificar a viabilidade do uso de fibras de
basalto nas estruturas de concreto armado. Através de uma pesquisa bibliográfica procurou-se
determinar as propriedades deste tipo de fibra e de outras disponíveis no mercado, analisando os seus
usos, vantagens e desvantagens, de modo a identificar os meios e as aplicações que viabilizariam o
uso de fibras de basalto. Além de sua matéria prima se encontrar em abundância na natureza, o
processo de produção deste tipo de fibra é sustentável e barato. Devido às suas propriedades
mecânicas, térmicas e químicas este material adequa-se bem às demandas oriundas do uso de fibras
no concreto. Diante disso, infere-se que o uso de fibras de basalto nas estruturas de concreto armado
é viável sendo o seu uso uma forma de incrementar a estabilidade da estrutura.

Palavras-chave: Viabilidade. Fibras. Basalto. Reforço. Concreto.

Abstract: This article was developed with the objective of verifying the feasibility of using basalt fibers
in reinforced concrete structures. Through a bibliographic research, a search was made to determine
the properties of this type of fiber and others available in the market, analyzing their uses, advantages
and disadvantages, in order to identify the means and the applications that would make possible the
use of basalt fibers. In addition to the abundance of its raw material in nature, the production process
for this type of fiber is sustainable and has a low cost. Due to its mechanical, thermal and chemical
properties this material is well suited to the demands that arise from the use of fibers in concrete.
Therefore, it appears that the use of basalt fibers in reinforced concrete structures is feasible and its use
is a way to increase the stability of the structure.

Keywords: Feasibility. Fibers. Basalt. Reinforce. Concrete.

1 INTRODUÇÃO

O concreto é um dos produtos mais utilizados no mundo. Seu uso se dá


principalmente no setor de construção civil em que é valorizado pelas suas
propriedades e baixo custo. Características como alta resistência à compressão, boa
durabilidade, facilidade na fabricação e aplicação, disponibilidade no mercado e seu
baixo custo, fazem o concreto ser um material essencial na construção civil. Apesar
de seus benefícios, este material não é perfeito, uma vez que apresenta uma baixa
resistência à tração, aproximadamente um décimo da sua resistência à compressão,
e é um material frágil que frequentemente apresenta problemas como fissuras. Como
forma de evitar esses defeitos, emprega-se o uso de aço, formando assim um produto
denominado de concreto armado, caracterizado pela alta resistência à compressão
oriunda do concreto e alta resistência à tração lhe conferida pelo aço. Este compósito
é amplamente utilizado na parte estrutural da construção civil para resistir aos vários
esforços sofridos pela estrutura. Embora o concreto armado resolva as dificuldades
estruturais presentes no concreto simples, este não aborda todos aqueles presentes
durante a vida útil da edificação. Como forma de reduzir os empecilhos do concreto
armado, em 1960 começou-se a fazer o uso de fibras dando origem ao concreto
armado reforçado com fibras. Estas fibras são misturadas no cimento durante o
processo de concretagem, conferindo-lhe algumas características desejáveis como
aumento na resistência à tração e ductibilidade no concreto após fissuração. Essas
fibras podem ser compostas de diversos materiais, como vidro, polipropileno, aço,
mas recentemente tem-se dado uma atenção as fibras feitas de basalto.

2 CONCEITUALIZAÇÃO TEÓRICA

2.1 CONCRETO

O concreto é um material compósito definido como a mistura controlada entre


aglomerante (cimento), areia, agregado miúdo (areia), agregado graúdo (brita) e ar.
Este conjunto ainda pode conter adições (escória de alto-forno, pozolanas, fíler) e
aditivos químicos objetivando a modificação de suas propriedades para um
determinado fim. (MOURA et al., 2013).

2.1.1 Concreto fresco

Define-se concreto fresco como sendo o concreto acabado de ser produzido.


Este é a mistura que se encontra no estado plástico e deformável que será aplicado
em uma fôrma, sendo adensado e protegido para permitir o seu endurecimento.
(LARA, 2013).
Segundo Carvalho e Filho (2015 apud Neto, Vieira, 2018, p. 25) “[...] as
principais propriedades do concreto fresco são a consistência, trabalhabilidade e
homogeneidade.”
2.1.1.1 Consistência

Neto e Vieira (2018) definem a consistência como a propriedade do concreto


fresco que corresponde à capacidade que ele tem de se deformar.
Para Lara (2013) o ensaio de consistência mais usual, de fácil execução e
interpretação e o abatimento de tronco (slump test). Este ensaio é regido pela ABNT
NBR 16889. Podendo ser executado no laboratório e na obra, o teste consiste na
utilização de um cone de Abrams, o qual será preenchido com três camadas de
concreto, cada qual adensada com 25 golpes, sendo medido o abatimento do concreto
em mm após a remoção do cone. (LARA,2013)
Segundo Bauer (2019) o principal fator que influenciam na consistência é o fator
água/mistura seca, que é expresso em porcentagem do peso da água em relação ao
peso da mistura de cimento e agregados. Nota-se que uma porcentagem maior de
água na mistura torna a mistura mais fluída. Além disso, a granulometria e a forma do
grão do agregado de modo que uma granulometria maior e grãos com um formato
angular, lamelar ou acircular reduzem a plasticidade do concreto, ocorrendo o oposto
em quando a granulometria é maior e o grão tem um formato mais arredondado.
Outro fator importante é a incorporação de aditivos. Embora pouco aplicados
em concretos plásticos — concretos preparados com agregados satisfatórios,
suficiente cimento e correta quantidade de água para permitir determinada
consistência — são úteis nos concretos considerados “pobres” ou quando se deseja
uma superfície com textura áspera. Os aditivos podem ser classificados quanto a sua
função como dispersores, densificadores, retardadores, aceleradores e
incorporadores de ar. (BAUER, 2019)
Por fim, os últimos fatores que segundo Bauer (2019) influenciam na
consistência é o tempo e a temperatura. Com o decorrer do tempo o concreto vai
endurecendo devido as reações químicas que ocorrem entre a água e o cimento,
aumentando assim a consistência do concreto. Já o aumento da temperatura
proporciona uma maior velocidade da ocorrência dessas reações, fazendo com que o
concreto enrijeça mais rapidamente.
2.1.1.2 Trabalhabilidade

Neville (2016) afirma que conceituar trabalhabilidade como simplesmente a


facilidade de lançamento e resistência á segregação é uma forma muito vaga de
representar esta propriedade. Para tal ele define a trabalhabilidade como sendo “[...]
a quantidade de energia interna útil necessária para produzir o adensamento
completo.” (NEVILLE, 2016, p. 194).
Para ele os fatores que afetam a trabalhabilidade ocorrem com a interação de
fatores como a quantidade de água, o tipo e a granulometria dos agregados, a relação
agregado/cimento, a presença de aditivos e a finura do cimento. (NEVILLE, 2016)
Bauer (2019) destaca que a trabalhabilidade não é uma característica inerente
do concreto, mas que envolve outras considerações como a natureza da obra e o
método de execução adotado. Portanto um concreto preparado uma peça de grande
dimensão e pouco armada dificilmente será adequado para uma peça delgada e muito
armada.

2.1.2 Concreto endurecido

Segundo Lara (2013) o concreto endurecido é aquele que se encontra no


estado sólido e que já tendo desenvolvido resistência mecânica. Um complemento a
esse entendimento encontra-se evidenciado por Bauer (2019) ao descrevê-lo como o
concreto sólido obtido após o período de pega.
“No concreto endurecido, as principais características de interesse são as
mecânicas, destacando-se as resistências à compressão e à tração.” (CARVALHO;
FILHO, 2014, p. 33). Neto e Vieira (2018) acrescentam a afirmação anterior o
parâmetro de módulo de elasticidade.

2.1.2.1 Resistência à compressão

Segundo Carvalho e Filho (2014) "A principal característica do concreto é sua


resistência à compressão, a qual é determinada pelo ensaio de corpos de prova
submetidos à compressão centrada; esse ensaio também permite a obtenção de
outras características, como o módulo de deformação longitudinal (módulo de
elasticidade)".
Os fatores que mais influenciam na resistência à compressão do concreto é o
seu traço e a sua idade. (CARVALHO; FILHO, 2014)
A realização de ensaios e determinação do valor da resistência à compressão
do concreto são regulados pelas normas 6118, 5738 e 5739. (CARVALHO; FILHO,
2014)

2.1.2.2 Resistência à tração

O concreto é um material com alta resistência às tensões de compressão, no


entanto, este apresenta baixa uma resistência à tração (aproximadamente 10 % da
sua resistência à compressão). (BASTOS, 2016)
Em razão disso, geralmente não se conta com a ajuda dessa resistência.
Entretanto, ao fato da tração está diretamente relacionada com a fissuração do
concreto, torna-se essencial conhecer a sua resistência à tração. (CARVALHO;
FILHO, 2014)
A realização de ensaios e determinação do valor da resistência à tração do
concreto são regulados pelas normas 6118, 7222 e 12142. (CARVALHO; FILHO,
2014)

2.1.2.3 Módulo de elasticidade

O módulo de elasticidade ou módulo de Young é um coeficiente de


proporcionalidade resultante da Lei de Hook.
σ= ⋅ϵ
Este fator relaciona o valor da tensão aplicada em um corpo com a deformação
específica sofrida por ele em razão dessa tensão. (BEER et al, 2010)
A partir de ensaios de tração é possível elaborar um gráfico de tensão-
deformação. Segundo são 4 os tipos de gráfico possíveis de se obter:
Figura 1: Tipos de gráficos tensão-deformação quanto à elasticidade e à linearidade

Fonte: Neville e Brooks (2013)


O comportamento do concreto se enquadra na quarta categoria, sendo mais
evidente quando são aplicadas cargas elevadas. (NEVILLE; BROOKS, 2013)
Devido a não linearidade do seu gráfico faz-se necessário a utilização de dois
módulos de elasticidade alternativos para facilitar o dimensionamento de estruturas: o
módulo de elasticidade tangente inicial e o módulo elasticidade secante.

2.1.2.3.1 Módulo de elasticidade tangente inicial do concreto

É definido como a inclinação da reta tangente à curva obtida no diagrama


tensão-deformação do concreto. (CARVALHO; FILHO, 2014)
"O módulo de elasticidade (Eci) deve ser obtido segundo o método de ensaio
estabelecido na ABNT NBR 8522, sendo considerado nesta Norma o módulo de
deformação tangente inicial, obtido aos 28 dias de idade." (ABNT NBR 6118)
Esta norma enuncia ainda que na ausência de corpos de prova, podem-se
admitir as seguintes equações para estimar o valor do módulo de elasticidade
tangente inicial: (ABNT NBR 6118)
Para 20 ≤ ≤ 50 [ ]
= α ⋅ 5600 ⋅
: Módulo de elasticidade tangente do concreto
α : Parâmetro em função da natureza do agregado.
: Resistência característica à compressão

Para 55 ≤ ≤ 90 [ ]
/
= 21500 ⋅ α ⋅ + 1,25
10
: Módulo de elasticidade tangente do concreto
α : Parâmetro em função da natureza do agregado.
: Resistência característica à compressão

2.1.2.3.2 Módulo de elasticidade tangente inicial do concreto

Sua definição é a inclinação da reta que une a origem com um ponto da curva
obtida no diagrama de tesão-deformação do concreto, possuindo assim a
característica de variabilidade no seu valor. (CARVALHO; FILHO, 2014)
Assim como o módulo de elasticidade tangente inicial ( ), o módulo de
elasticidade secante ( ) pode ser obtido através do ensaio estabelecido pela ABNT
NBR 8522 ou usando a resistência à compressão característica ( ) através do uso
da seguinte expressão: (CARVALHO; FILHO, 2014)
f
E = 0,8 + 0,2 ⋅ ⋅ ≤
80

2.1.3 Concreto armado

O concreto é um material que apresenta alta resistência à tensão de


compressão, no entanto, este tem baixa resistência à tração (aproximadamente um
décimo da resistência à compressão). Dada essa deficiência surge a necessidade de
juntar ao concreto um material um material caracterizado pela alta resistência à
compressão, objetivando na obtenção de um material que resista bem as tensões de
compressão e tração. (BASTOS, 2006).
O concreto armado surgiu em 1861 com a patente de Joseph Monier sendo
caracterizado pela mesclagem entre o concreto e barras de aço, suprindo a deficiência
do concreto de resistir aos esforços de tração. (PORTO; FERNANDES, 2015).
Atualmente o concreto armado é o material construtivo de maior utilização em
todo o mundo, destacando-se pelo seu ótimo desempenho, facilidade de aplicação e
economia. (PORTO; FERNANDES, 2015).
2.2 BASALTO

O basalto é caracterizado como uma rocha vulcânica, estas que são formadas
através do resfriamento e solidificação do magma, tendo uma coloração escura ou
negra e constituída principalmente por minerais de silício, alumínio e ferro.
(INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, 2021)
É a rocha mais abundante da superfície terrestre e da superfície dos oceanos
possuindo uma densidade próxima à do vidro (2,8-2,9 g/cm³) além de ser tenaz e
resistente. (LAPENA, MARINUCCI, DE CARVALHO, 2012)
O magma que dá origem ao basalto é diretamente obtido através da fusão
parcial do manto superior terrestre. O magma basáltico é mais quente (1000~1200 °C)
quando comparado ao magma granítico (700~900 °C), e mais pobre em sílica na sua
composição (45~52% de sílica), fazendo-o ter uma característica mais fluida, o que o
torna mais propenso a chegar à superfície. (INSTITUTO DE GEOCIÊNCIAS, 2021)
Esta rocha é usada principalmente para produtos moldados, como pisos, tubos,
entre os demais, em aplicações que exigem uma alta resistência à abrasão,
temperaturas elevadas e ambientes químicos agressivos. Comparavelmente aos
vidros, o basalto é mais estável em produtos fortemente alcalinos, porém tem uma
estabilidade um pouco menor em ácidos fortes. Além disso, este material possui um
grande alcance de temperatura, tendo aplicabilidade desde temperaturas bem baixas
(-200ºC) até temperaturas elevadas (800 ºC), a partir das quais ocorrem mudanças
estruturais no material. (MILITKÝ; KOVAČIČ; RUBNEROVÁ, 2002)

2.3 FIBRAS

Fibras são pequenos pedaços de material de reforço com certas características


que aumentam a resistência à flexão e à tensão. (KAUR; TALVAR, 2017)
Elas podem ser feitas de materiais naturais (amianto, celulose, sisal) ou de
produtos manufaturados como vidro, aço, carbono e polímeros. (NEVILLE; BROOKS,
2013)
2.3.1 Concreto reforçado com fibras

"Segundo a ACI 544.1R-96 (Reapproved 2002), o concreto reforçado com


fibras é definido como sendo o concreto produzido com cimento hidráulico, contendo
agregados miúdos ou miúdos e graúdos e fibras descontínuas discretas." (NEVILLE;
BROOKS, 2013, p.401)
As fibras aumentam a integridade estrutural do concreto, sendo usadas nele
com a finalidade de controlar a fissuração no concreto devido a retração plásticas e
retração por secagem, além de melhorar a resistência à impactos e abrasão. (KAUR;
TALVAR, 2017)
Para Figueiredo (2011) a reduzida capacidade de resistência à tração do
concreto deve-se à sua ineficiência para interromper a propagação das fissuras
quando é submetido a este tipo de esforço. Como ocorre uma redução da área
disponível para transição das cargas, devido a propagação transversal das fissuras
em relação ao esforço de tensão, há um aumento na tensão nas extremidades dessas
fissuras que, ao superarem a capacidade resistente à tração do concreto, causam o
surgimento de mais fissuras próximas na região. Portanto, a ruptura à tração deve-se
a união de algumas fissuras que se unem e não pelo surgimento de numerosas
fissuras. (MEHTA; MONTEIRO, 2008 apud FIGUEIREDO, 2011, p.6)
Figura 2: Distribuição das linhas de tensão em concreto sem reforço de fibras

Fonte: Abreu, Oliveira (2015)


Através da aplicação de fibras, ocorre uma redução na concentração de
tensões nas extremidades das fissuras, uma vez que as fibras servem de "pontes"
para transferência de tensões pelas fissuras. Essa transferência permite uma melhor
distribuição de tensões fazendo a estrutura resistir de forma mais eficiente aos
esforços solicitantes e reduzindo a velocidade de formação de fissuras. (ABREU;
OLIVEIRA, 2015)
Figura 3: Distribuição das linhas de tensão em concreto com reforço de fibras

Fonte: Abreu, Oliveira (2015)


Após a fissuração, a extensão da fissura passará a depender das
características das fibras que a atravessam e sua interação com a matriz, como
módulo de elasticidade e forma. (ABREU; OLIVEIRA, 2015)
Um fator essencial no combate a formação de fissuras é a relação entre o
comprimento da fibra e a dimensão do agregado. Para maior eficiência da ação das
fibras, recomenda-se que o comprimento da fibra seja igual ou superior ao dobro da
dimensão máxima característica do agregado utilizado no concreto. Dessa forma as
fibras interceptarão com mais frequência a fissura que ocorre no compósito.
(FIGUEIREDO, 2011)
Uma das vantagens proporcionadas pelo reforço do concreto usando fibras é a
sua distribuição aleatória no material de forma a reforçar a peça como um todo.
Embora não seja conveniente para peças com esforços concentrados em uma
determinada região, o seu uso é eficaz para estruturas contínuas, como pavimentos,
revestimentos de túneis, onde os esforços encontram-se distribuídos em uma região
abrangente da estrutura. (FIGUEIREDO, 2011)
Segundo Figueiredo (2011) as fibras podem ser classificadas quanto ao seu
módulo de elasticidade comparado ao do concreto. "As fibras que possuem módulo
de elasticidade inferior ao do concreto endurecido, como as poliméricas, são
chamadas de fibras de baixo módulo. Já as fibras que possuem módulo de
elasticidade superior ao do concreto são conhecidas como fibras de alto módulo, como
é o caso das fibras de aço e de carbono." (FIGUEIREDO, 2011 p.7)
Como após a fissuração, parte da tensão, à qual a estrutura está submetida, é
transferida para as fibras, até que exceda a sua tensão de ruptura. Devido à natureza
das fibras de baixo módulo, se a estrutura estiver sob níveis elevados de tensão
ocorrerá um elevado nível de deformação da fibra, refletindo numa grande abertura
da fissura. Para tal, faz-se necessário o uso de maiores quantidade de fibras para
minimizar esse efeito, elevando o custo e reduzindo a trabalhabilidade do material.
Sob as mesmas condições, ocorre o inverso com as fibras de alto módulo.
(FIGUEIREDO, 2011)
Figueiredo (2011) ressalta ainda que aumentar indefinitivamente o
comprimento das fibras não trará um aumento de resistência na pós-fissuração. Esse
benefício deixa de ocorrer após a superação do comprimento crítico da fibra. Caso o
comprimento seja inferior ao comprimento crítico, a carga de arrancamento
proporcionada pelo comprimento embutido na matriz não é suficiente para produzir a
ruptura da fibra, ocorrendo assim uma desconexão entre a fibra e um dos lados da
fissura impedindo assim a sua ação no controle de fissuração.

2.3.1.1 Fibras de aço

São as formas mais usuais de fibras. (KAUR; TALVAR, 2017)


As fibras de aço são produzidas em diversas formas com comprimentos
variando entre 6mm e 64mm e diâmetro de 0,5mm à 10mm. Os formatos podem ser
observados na figura abaixo e servem para promover uma melhor aderência da fibra
na matriz. (BAGALA; FRASER; MAY, 2018)
Figura 4: Diferentes formatos das fibras de aço

Fonte: Bagala, Fraser e May (2018)


Um fenômeno indesejável decorrente de formas mais complexas destas fibras
são os ouriços. Ouriços são bolas formadas por fibras aglomeradas. Além da forma,
este fenômeno pode ser causado pela falta de homogeneização da mistura do
concreto com fibras, causando entupimento no mangote no caso de concreto
projetado e segregação na estrutura de concreto comprometendo-a. (FIGUEIREDO,
2011)
Figura 5: Ouriço de fibras de aço

Fonte: Figueiredo (2011)


Uma característica inerente ao uso de fibras de aço é do fato deste interferir
com os sinais de rádio. (KAUR; TALVAR, 2017)
O uso deste material está especificado na norma ABNR NBR 15530 (2019) -
"Fibras de aço para concreto — Requisitos e métodos de ensaio". (FIGUEIREDO,
2011)
Sua aplicação apresenta melhorias significativas na resistência a flexão,
impacto e fatiga no concreto. Além disso o seu uso é recorrente através da sua
incorporação no concreto projetado objetivando a sua ductilidade, resistência à
fissuração e impactos. (KAUR; TALVAR, 2017)
As fibras de aço encontram-se presentes em algumas estruturas da construção
civil como pavimentos, tubos de concreto para obras de saneamento e revestimento
de túneis. (FIGUEIREDO, 2011)
Apesar de Figueiredo (2011) salientar que a ocorrência da corrosão se dá
apenas na superfície da fibra Bagala, Fraser e May (2018) evidenciam o fato que o
produto da corrosão (ferrugem) cria um excesso de volume que aplica pressão no
concreto envolvente levando ao surgimento de fissuras. Essa formação de fissuras
permitem a penetração de agentes químicos presentes no ambiente interagem com o
concreto degradando-o.
Segundo Bagala, Fraser e May (2018) o concreto reforçado com fibras possui
um risco alto lascamento quando sujeito a altas temperatura, como as que ocorrem
em incêndios, enquanto o mesmo não ocorre com as fibras de vidro e de polímeros.
2.3.1.2 Fibras de vidro

A fibra de vidro possui uma forte presença na construção civil devido as suas
propriedades desejáveis resistência à tração, resistência à vibração, retenção das
características mecânicas na presença de altas temperaturas e seu baixo custo
quando comparada às outras fibras dúcteis disponíveis no mercado. (PERUZZI, 2002)
Figura 6: Fibras de vidro

Fonte: Kaur e Talvar (2017)


Outras características favoráveis foram ditas por Bagala, Fraser e May (2018),
como resistência à corrosão, ao frio e tem uma baixa condução térmica.
No entanto o vidro possui uma deficiência em relação a resistência a meios
alcalinos, característica inerente ao uso do cimento de Portland. A solução para este
problema ocorreu com o surgimento fibras de vidro cuja composição tinha adição de
zircônia dando origem à denominada fibra de vidro AR (álcali resistente).
Apesar da fibra de vidro AR contornar vários problemas da fibra de vidro
convencional, elas são cerca de 3 vezes mais caras. Em razão disso surgiram outros
meios para impedir a corrosão das fibras de vidro, como a modificação da matriz de
cimento. Este método consiste em utilizar cimentos de baixa alcalinidade e adição de
alguns materiais, como sílica ativa, cinza volante, metacaulinita, etc. com a finalidade
de reduzir o pH da solução dos poros e/ou minimizar a formação de hidróxido de
cálcio. (BAGALA; FRASER; MAY, 2018)
Os concretos de fibra de vidro são usados principalmente em painéis de
fachada de edifícios e como concreto pré-moldado arquitetônico. (KAUR; TALVAR,
2017)
2.3.1.3 Fibras poliméricas

Estas fibras têm servem principalmente para controlar as fissuras no concreto


fresco, prevenindo-as através da redução do grau de expansão no calor e retração da
matriz durante o frio, sendo úteis também no aumento a resistência do concreto
endurecido. Além disso, estas fibras melhoram a bombeabilidade do concreto e
reduzem o fenômeno de lascamento que ocorre durante impactos e incêndios. (KAUR;
TALVAR, 2017)
Embora a sua adição volumétrica de 0,1% não afete quaisquer propriedades
do concreto endurecido, quando este valor chega a 0,5%, ocorre uma redução na
resistência à compressão do concreto devido a maior dificuldade na homogeneização
desta mistura. No entanto, a adição de fibras poliméricas tem uma contribuição
considerável para a ductilidade da matriz após fissuração além de providenciar uma
taxa de amortecimento mais altas a matriz devido as suas propriedades visco
elásticas. (OLIVEIRA, 2016)
As fibras poliméricas podem ser classificadas em dois tipos, quanto à sua forma
física, como microfibras, quando o diâmetro é menor que 0,30mm, ou macrofibras, em
que o diâmetro é superior 0,30mm. As microfibras são comercializadas em duas
formas, as de monofilamento e as fibriladas. As fibriladas são caracterizadas por se
apresentarem como uma malha de filamentos finos de seção retangular. Essa
característica causa um efeito de intertravamento promovendo um aumento na
adesão entre a fibra e a matriz. (FIGUEIREDO, 2011)
Figura 7: Macrofibras poliméricas fibriladas (a) e monofilamentos (b)

Fonte: Leite (2018)


Enquanto as microfibras possuem um comprimento variando entre 6mm e
20mm e possuem a finalidade de serem aplicadas no concreto fresco para reduzir a
exsudação e a fissuração por retração plástica. Já as macrofibras poliméricas
possuem dimensões similares as fibras de aço e sua aplicação tem o objetivo de
proporcionar resistência pós-fissuração ao concreto. (LEITE, 2018)

2.3.1.4 Fibras de basalto

A produção de fibras de basalto é semelhante à utilizada nas fibras de vidro, no


entanto, esta é feita através da fusão da rocha de basalto sem necessidade de aditivos
e utiliza menos energia. Em razão disso, a sua produção é mais ecologicamente
correta e barata. No entanto, a única patente sobre o processo de produção de fibras
de basalto no Brasil pertence a Saint Gobain. (LAPENA, MARINUCCI, DE
CARVALHO, 2012)
Figura 8: Fibras de basalto

Fonte: Kizilkanat et al. (2015)


Apresentam uma estabilidade química equivalente às fibras de vidro, resistindo
melhor à álcalis e solventes porém com um desempenho inferior em ácidos. Além
disso, caracterizam-se por terem uma baixa absorção de umidade e possuírem
excelente molhabilidade para variados ligantes, revestimentos e matrizes. (LAPENA,
MARINUCCI, DE CARVALHO, 2012)
Além de possuir uma grande resistência térmica (-260ºC a 700°C), sendo
usadas como escudos de calor, possuem propriedades de isolamento elétrico (10
vezes mais que o vidro) dificultando os processos de corrosão. (LAPENA,
MARINUCCI, DE CARVALHO, 2012)
Outra propriedade importante das fibras de basalto é a sua alta resistência a
vibrações, o que as torna adequadas para aplicações sob altas vibração e cargas
acústicas, como em construções sob tais condições, na indústria aeronáutica,
indústria naval, etc. e a sua resistência a radiação UV. (LAPENA, MARINUCCI, DE
CARVALHO, 2012)
Apesar de não ocorrerem variações expressivas na resistência à compressão
do concreto com adição fibras de basalto, há um aumento expressivo na resistência
ao cisalhamento e na energia de fratura quando a sua composição no concreto
corresponde a 1% e 0,5% respetivamente. (KIZILKANAT et al, 2015)
Por Sim, Park e Moon (2005) determinou-se que a taxa de deterioração no meio
ambiente do vidro foi duas vezes mais rápida que a do basalto. Notou-se também que
a exposição de fibras de carbono e de vidro a temperaturas próximas a 1200ºC
comprometeram a sua estabilidade estrutural, as fibras de basalto se mantiveram
firmes.

3 CONCEPÇÃO DO ESTUDO

No presente trabalho foi realizada uma pesquisa qualitativa, exploratória e


bibliográfica com o intuito de se verificar a viabilidade do uso de fibras de basalto nas
estruturas de concreto armado.

4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Ao analisar as propriedades das fibras de basalto com as outras fibras mais


disponíveis no mercado, nota-se que estas possuem uma aplicação semelhante à das
fibras de vidro. A aplicação das fibras de basalto é mais viável que a das fibras de
vidro uma vez que possuem resistências superiores nos quesitos de vibração,
corrosão, temperatura e às intempéries, além de serem um material com um alto grau
de sustentabilidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após o levantamento e análise das informações da literatura existente é


possível afirmar que é viável o uso das fibras de basalto nas estruturas de concreto
armado.

Suas características são semelhantes as fibras que já se encontram no


mercado, podendo ser uma alternativa que possa suprir as demandas não atendidas
por elas. Além de ser um material com propriedades desejáveis e baixo impacto
ambiental na sua produção, a matéria prima deste encontra-se em abundância na
natureza fazendo com que o seu preço seja aceitável no mercado.

Entretanto, no Brasil, a sua aplicação torna-se pouco viável devido à ausência


tanto da sua fabricação quanto comercialização no território nacional. Espera-se
assim que com a proliferação da técnica de produção ou com a vinda de empresas
especializadas, as fibras de basalto possam ter uma atuação competitiva com as
outras fibras no território nacional.

REFERÊNCIAS
ABREU, R. V. S.; OLIVEIRA, H. C. P. Concreto reforçado com fibras:
aperfeiçoamento das propriedades físicas e mecânicas. 1º Seminário científico da
FACIG - Faculdade de Ciências Gerenciais, n.1, 2015.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Projeto de estruturas de


concreto — Procedimento: NBR 6118. Rio de Janeiro, 2014.

BAGALA, R.; FRASER, L.; MAY, R. Exploring the Properties of Fiber Reinforced
Concrete. 2018. 48 f.. Thesis (Bachelor of Science) - Worcester Polytechnic Institute,
Worcester.

BASTOS, P. S. S. Fundamentos do concreto armado, Bauru: UNESP, 2006. Notas


de aula.

BAUER, L. A. F. Materiais de construção. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2019. 2.v, 563
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