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Avaliação da influência do tipo e da granulometria dos agregados

graúdos na aderência aço-concreto através do método de ensaio


APULOT.
Evaluation of the influence of the type of grain size of coarse aggregates in steel-concrete
bond through APULOT test method.

ROSSI JUNIOR, Marcio Henrique(1); BARBOSA, Mônica P.(2) ; SILVA, Bruno.V.(3) ; JACINTHO,
Ana Elisabete P.G.A.(2)

(1) Graduação, PUC-Campinas, marcinhomhrj@yahoo.com.br


(2) Professoras Doutoras, PUC-Campinas monica.barbosa@puc-campinas-edu.br, anajacintho@gmail.com
(3) Professor Dr., Universidade do Extremo Sul Catarinense, DEC, dovalesilva@hotmail.com, Criciúma, SC,
Brasil.
Resumo
Os isoladores elétricos de porcelana, após um determinado período de uso, perdem suas funções
isoladoras, tendo necessidade de serem substituídos. Dessa forma seu descarte gera dezenas de toneladas
de resíduos que ao serem descartados na natureza levam muitos anos para se decompor. Uma alternativa
para a racionalização do descarte desse material e preservação da natureza é a sua utilização em
substituição aos agregados comumente usados em argamassas e concretos.
Lorrain e Barbosa (2008) apresentaram uma alternativa simplificada para o ensaio de aderência PULL-OUT,
denominado de ensaio APULOT (PULL-OUT modificado) que pode ser aplicado em canteiro de obras. O
conceito do ensaio APULOT é realizar o controle de qualidade do concreto armado a partir de ensaios de
aderência aço-concreto.
Trabalhando com quatro tipos diferentes de concreto, sendo dois deles elaborados com agregado graúdo
natural e dois elaborados com agregados oriundos de isoladores de porcelana em substituição ao agregado
natural graúdo, esse trabalho avalia a influência da granulometria do agregado graúdo no ensaio de
aderência aço-concreto através do ensaio APULOT.
Os quatro tipos de concreto utilizados neste trabalho tiveram as granulometrias dos agregados natural e de
cerâmica variando entre 12,5 mm e 19 mm. Os ensaios foram realizados nas idades de 3 e 7 dias. O
diâmetro das barras de aço CA-50 nervuradas foi de 10 mm. Os resultados obtidos confirmam a influência
do diâmetro do agregado graúdo na aderência aço-concreto.
Palavra-Chave: Aderência aço-concreto, Ensaio APULOT, resistência do concreto.

Abstract
Electrical porcelain insulators, after a certain period of use, lose their insulating functions, having therefore,
to be replaced. It generates tens of tons of waste to be disposed of in nature, which take many years to
decompose. As an alternative for the rationalization of the disposal of this material and preservation of
nature, it could be cited its use to replace aggregates commonly used in mortar and concretes.
Lorrain e Barbosa (2008) presented an alternative for the bond test PULL-OUT, called APULOT test (PULL-
OUT modified) which can be applied to construction sites. The concept of the APULOT test is to perform the
quality control of reinforced concrete from steel-concrete bond test.
Based on four different types of concrete, two of them made with aggregates natural aggregate and the other
two made with aggregates coming from porcelain insulators instead of natural coarse aggregate, this study
evaluates the influence of particle size of the coarse aggregate on the steel-concrete bond test through the
APULOT test.
The four types of concrete used in this work had the particle sizes of natural aggregates and ceramics
ranging from 12.5 mm to 19 mm. The assays were performed at ages of 3 and 7 days. The diameters of
ribbed steel bars CA-50 were 10 mm. The results confirm the influence of the diameter of the coarse
aggregate in steel-concrete adhesion.
Keywords: steel-concrete bond, APULOT testing, concrete strength.

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1 Introdução
No ramo da construção civil, um dos ensaios mais aplicados para o controle da
qualidade do concreto é o ensaio de compressão axial de corpos de prova. Entretanto,
para a execução deste e de outros ensaios, é necessário o uso de equipamentos
apropriados ou a contratação de laboratórios especializados.
Com o objetivo de disponibilizar um ensaio alternativo ao ensaio tradicional de
resistência à compressão, que permita ser realizado no próprio canteiro de obras, de
maneira simples e com baixo custo, Lorrain e Barbosa (2008) apresentaram uma
alternativa simplificada para o ensaio de aderência PULL-OUT, denominado de ensaio
APULOT (PULL-OUT modificado).
O conceito do ensaio APULOT é realizar o controle de qualidade do concreto
armado a partir de ensaios de aderência aço-concreto. O objetivo do ensaio é verificar a
resistência à compressão do concreto por meio da resistência de aderência.
A aderência aço-concreto é influenciada por diversos fatores, como a resistência do
concreto, o comprimento de ancoragem, o diâmetro da barra e o tipo e tamanho do
agregado utilizado no concreto.
Para estudar a viabilidade do ensaio APULOT como ensaio de aderência e de
controle de qualidade do concreto, vários trabalhos de pesquisa estão sendo estudados
(DE AVILA JACINTHO et al., 2014; SILVA et al., 2013; SILVA et al., 2014), aprimorados e
discutidos por grupos de pesquisa do exterior e no Brasil, sobretudo na PUC-Campinas.
Acredita-se que sua validação poderá proporcionar uma alternativa para a avaliação do
controle de qualidade do concreto armado no ramo da construção civil.
O objetivo dessa pesquisa é avaliar a influência do tipo e da granulometria dos
agregados graúdos na aderência aço-concreto através do método de ensaio APULOT.
Para tanto, dois tipos distintos de agregados graúdos estão sendo utilizados: o agregado
graúdo natural de origem basáltica e o agregado graúdo reciclado cerâmico oriundo de
isoladores elétricos de porcelana em substituição ao agregado natural, ambos com duas
granulometrias diferentes: agregados de diâmetros de 12,5 mm e agregados de diâmetro
de 19 mm.

2 Concreto com Resíduos de Porcelana


Os isoladores elétricos são classificados como materiais inertes e com
decomposição muito lenta, sendo assim, seu emprego em concretos e argamassas se
torna uma alternativa para a racionalização do descarte e uma forma de diminuir o
impacto ambiental.
Segundo Campos (2009) apud Franck et al. (2004), os resíduos de isoladores
elétricos de porcelana, provenientes de substituição por partes das concessionarias
elétricas brasileiras, são um material com composição química similar à dos agregados
naturais. A substituição parcial dos agregados graúdos por resíduos de porcelana de
isoladores elétricos em concreto vem sendo tema de pesquisa na PUC-Campinas desde
2010. Campos e Jacintho (2009) obtiveram resultados do decréscimo da resistência à
compressão do concreto, quando incorporado 100% de resíduo de porcelana.
Entretanto, há algumas desvantagens ao uso de isoladores de porcelana na
questão referente ao seu vidrado superficial que pode ser potencialmente reativo com os
cimentos comumente utilizados, produzindo reações expansivas, trincas e diminuição da
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resistência mecânica e modulo de elasticidade. Outro problema relacionado a este
vidrado é que a região polida prejudica a aderência com a pasta de cimento, sendo o local
onde geralmente ocorrem as fraturas.

3 Aderência Aço-Concreto
A tensão de aderência pode ser definida como sendo a relação entre a força
atuante na barra e a superfície da barra unida ao concreto. Porém, existem vários fatores
que podem influenciar o comportamento da aderência, como a resistência mecânica do
concreto, diâmetros das barras de aço, limite de escoamento do aço, idade de carga,
cobrimento de concreto ao redor das barras, comprimento de ancoragem entre outros.
A aderência entre o aço e o concreto é um dos principais requisitos para o bom
funcionamento do concreto armado. A razão da existência do concreto armado consiste
na ação conjunta entre a armadura e o concreto. Esse resultado só é possível em razão
da aderência entre os dois materiais, uma vez que para absorver os esforços solicitantes,
os dois materiais atuam em conjunto.
A aderência, também garante a transferência de forças entre a barra de aço e o
concreto e a compatibilidade de deformação entre eles. Esta união dos dois materiais
define o concreto armado como um material estrutural.
O comportamento entre a barra de aço e o concreto que está em sua volta tem
muita importância com relação à capacidade de carga das peças de concreto armado,
sendo este conhecimento de fundamental importância para se chegar às regras de
cálculo de ancoragens e emendas por transpasse das barras da armadura; para o cálculo
das deflexões levando-se em conta o efeito de enrijecimento por tração; para o controle
da fissuração e, para a determinação da quantidade mínima de armadura.
A aderência aço-concreto é constituída por vários fatores, dentre eles se destacam:
Aderência por atrito: Que ocorre em virtude da força de atrito entre a barra de aço e
o concreto.
Aderência por adesão química: Existe em virtude do processo físico-químico que
está ligada à rugosidade e à limpeza da superfície da barra e que atua na interface entre
o concreto e a barra de aço durante as reações de hidratação do cimento.
Aderência mecânica: Proveniente da formação de consoles de concreto entre as
nervuras das barras de aço nervuradas. Esses consoles impedem o deslizamento rápido
no interior do concreto. Este tipo de aderência é a mais efetiva entre os três fatores. A
Figura 1 ilustra a aderência mecânica decorrente da presença de nervuras na superfície
das barras.

Figura 1 - Aderência mecânica (adaptado de FUSCO. 1995).

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De modo geral pode-se descrever o processo de arrancamento da armadura do
corpo de prova como sendo a composição de três processos que acontecem
seguidamente a outro, ou mesmo conjuntos. Ao aplicar-se uma força de tração sobre a
armadura de aço, atua em primeiro lugar, a aderência por adesão, uma reação provinda
da relação intermolecular entre a barra de aço e o concreto. Caso a força aplicada seja
maior do que a força por adesão, a mesma é rompida, e surge a força por Atrito. Por
último, caso for vencida a força por Atrito, surge a Aderência Mecânica, a qual se dá pelo
contato superficial dos dois materiais.

3.1 Ensaios de aderência APULOT

Lorrain e Barbosa (2008) apresentaram uma alternativa simplificada para o ensaio


de arrancamento direto PULL-OUT-TEST, denominado de ensaio APULOT (PULL-OUT-
MODIFICADO). O ensaio APULOT tem o mesmo princípio do ensaio PULL-OUT-TEST,
que é o arrancamento de uma barra de aço inserida no concreto.
O conceito do ensaio APULOT é realizar o controle de qualidade do concreto
armado a partir de ensaios de aderência aço-concreto. Um dos objetivos desse ensaio é
verificar a resistência à compressão do concreto por meio da tensão última (máxima) de
aderência. Ele pode ser realizado no próprio canteiro de obras, de maneira bastante
simplificada, pois se utiliza garrafas PET como moldes dos corpos de prova.
A resistência à compressão é obtida pela relação entre a aderência aço-concreto,
expressa na curva de correlação adotada por Lorrain et. al. (2011), apresentada na Figura
2.

Figura 2 – Curva de correlação Lorrain et. al. (2011).

O comprimento de ancoragem (zona aderente) é função da resistência à


compressão do concreto (fc) e do diâmetro da barra de aço (SILVA, 2010), conforme a
Equação 1.

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(Equação 1)

Onde: fsy é a tensão de escoamento do aço; Ø é o diâmetro da barra de aço; l exp é


o comprimento de ancoragem nos corpos de prova; τb,máx é a tensão máxima de
aderência obtida através da curva de correlação proposta por Lorrain e Barbosa (2008)
[7]. A Figura 2 ilustra o esquema do ensaio APULOT.

Figura 3 – Esquema do ensaio APULOT. (SILVA B. V. 2010).

4 Materiais e Métodos

4.1 Materiais empregados e composição

Nessa pesquisa foram utilizados, na preparação do concreto, dois tipos de


agregado graúdo: Agregado graúdo natural de origem basáltica e agregado de resíduos
de porcelana oriundo de isoladores elétricos de porcelana: de granulometria 12,5 mm e 19
mm. A Figura 4 ilustra os agregados de porcelana utilizados.
O cimento utilizado foi o CP V - ARI, conforme a NBR 5733. Para a preparação do
concreto utilizou-se areia lavada de rio de granulometria média e seca naturalmente ao
sol. O aço utilizado para o ensaio de arrancamento foi o CA 50, com diâmetro de 10 mm,
conforme a NBR 7480/2007.

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Figura 4 – [a] Agregado de resíduo de porcelana de granulometria 12,5 mm. [b] Agregado de resíduo de
porcelana de granulometria 19 mm.

Foram elaborados quatro diferentes tipos de composições de concreto, os quais foram


denominados pelas siglas T01, T02, T03 e T04:
• Concreto com agregado graúdo natural de granulometria 19 mm: T01;
• Concreto com agregado de resíduos de porcelana de granulometria 19 mm: T02;
• Concreto com agregado graúdo natural de granulometria 12,5 mm: T03;
• Concreto com agregado de resíduos de porcelana de granulometria 12,5 mm: T04.
As composições dos concretos T01, T02, T03 e T04 são apresentados na Tabela1.

Tabela 1 – Composições dos concretos.


Material T01 T02 T03 T04
(Kg/m³)
Cimento CPV-ARI 502,99 502,99 502,99 502,99
Areia 777,76 777,76 777,76 777,76
Água 192,38 228,33 192,38 228,33
Agregado Natural 977,01 - 977,01 -
Agregado de resíduo
- 977,01 - 977,01
de porcelana
Aditivo
1,31 1,31 1,31 1,31
Superplastificantes
Relação
0,38 0,57 0,38 0,57
água/cimento (a/c)

Destaca-se que, para o agregado graúdo de resíduo de porcelana, foi


antecipadamente determinado o índice de absorção do mesmo. Este índice no caso do
resíduo de porcelana cerâmica foi determinado em 4,6%.
Foram moldados 19 corpos de prova cilíndricos (Ø10 x 20 cm) para a determinação
dos ensaios das propriedades mecânicas, ou seja, da resistência à compressão axial,
resistência à tração por compressão diametral nas idades de 3, 7 e 28 dias e
determinação do módulo de elasticidade aos 28 dias.

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Para a realização do ensaio APULOT, foram moldadas 10 garrafas PET de 3L para
cada traço de concreto, totalizando 40 garrafas ensaiadas.
A Figura 5[a] ilustra os corpos de prova cilíndricos usados nos ensaios de
propriedades mecânicas e as Figuras 5[b] e 5[c] os moldes elaborados com garrafas PET
utilizadas nos ensaios de aderência.

Figura 5 – [a] Corpos de prova cilíndricos (Ø10 x 20 cm). [b] e [c] moldes de garrafas PET utilizados
no ensaio de aderência.

4.2 Ensaios das propriedades mecânicas e de aderência (APULOT)

Para o concreto em estudo foi determinado além da tensão de aderência a


resistência à compressão (segundo a NBR 5739) a resistência à tração por compressão
diametral (NBR 7222) e o módulo de elasticidade (segundo a NBR 8522). As Figuras 6 a
8 ilustram a execução desses ensaios.

Figura 6: Ensaio de resistência à Figura 7: Ensaio de resistência à Figura 8: Ensaio de módulo de


compressão axial. tração por compressão diametral. elasticidade.

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Neste estudo o comprimento de ancoragem foi fixado em 10 cm, tendo sido o
mesmo valor usado nos ensaios APULOT realizados por GARCÍA-TAENGUA et al (2014).
Para aplicação da carga utilizou-se um macaco hidráulico de pistão vazado com
capacidade de 60 Toneladas, conectado a uma bomba manual de pressão. As leituras
das deformações que ocorriam na célula de carga e as de deslocamento linear
acontecidas no LVDT (Linear variable differential tranformer) foram feitas pelo sistema de
aquisição de dados. A Figura 9 ilustra o ensaio de aderência APULOT.

Figura 9: macaco hidráulico utilizado no ensaio de aderência APULOT.

5 Resultados Obtidos

5.1 Ensaios de Resistência à compressão

Os ensaios de ruptura dos corpos de prova para a obtenção das resistências à


compressão axial e de tração por compressão diametral foram realizados nas idades de
3, 7 e 28 dias. O ensaio de determinação do módulo de elasticidade do concreto foi
realizado apenas aos 28 dias. Simultaneamente a esses ensaios foram realizados os
ensaios de aderência nas idades de 3, 7 e 28 dias.
As Tabelas 2 e 3 apresentam os resultados obtidos para os ensaios de resistência
à compressão, resistência à tração e módulo de elasticidade para os concretos com
agregados graúdo natural e para os concretos com resíduos de porcelana,
respectivamente, ambos elaborados com diferentes granulometrias. Na Figura 10 são
comparados os resultados dos ensaios de resistência à compressão dos concretos sem e
com resíduos nas granulometrias de 12,5 mm e de 19 mm aos 3 e 7 dias. A sigla “BN
12,5” significa agregado graúdo natural de granulometria 12,5 mm, “BN 19” significa
agregado graúdo natural de granulometria 19 mm, “BC 12,5” significa agregado graúdo de
resíduo de porcelana de granulometria 12,5 mm e “BC 19” significa agregado graúdo de
resíduo de porcelana de granulometria 19 mm.

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Tabela 2 – Ensaios de propriedades mecânicas dos concretos com agregado graúdo natural.
Agregado graúdo 12,5 mm 19 mm
Natural
Resistência Resistência Módulo Resistência Resistência Módulo
à à de à à de
Idades (dias)
Compressão Tração Elasticidade Compressão Tração Elasticidade
(MPa) (MPa) (GPa) (MPa) (MPa) (GPa)
3 46,4 3,61 - 45,98 5,88 -
7 48,09 3,51 - 50,23 4,74 -
28 56,8 4,52 44,40 62,18 6,07 48,21

Tabela 3 – Ensaios de propriedades mecânicas dos concretos com agregado graúdo de resíduos de
porcelana.
Agregado graúdo 12,5 mm 19 mm
de resíduo de
porcelana
Resistência Resistência Módulo Resistência Resistência Módulo
à à de à à de
Idades (dias)
Compressão Tração Elasticidade Compressão Tração Elasticidade
(MPa) (MPa) (GPa) (MPa) (MPa) (GPa)
3 28,33 3,47 - 29,05 4,24 -
7 36,33 4,82 - 26,62 4,19 -
28 36,74 4,64 56,30 33,12 3,87 56,00

Figura 10: Resistência à compressão aos 3, 7 e 28 dias.

Nota-se que o concreto produzido com agregado graúdo natural, obteve um


aumento da resistência à compressão de acordo com o aumento do diâmetro do
agregado. Para o concreto produzido com agregado graúdo de resíduo de porcelana,
houve o inverso. A resistência à compressão aumentou de acordo com a redução do
diâmetro do agregado. Observa-se também que o valor do módulo de elasticidade dos
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concretos elaborados com resíduos de porcelana foi superior àqueles elaborados com
agregados naturais.
Segundo ALHADAS (2008) apud NUNES (2005), o aumento da dimensão máxima
do agregado, para uma mesma mineralogia, pode ter dois efeitos opostos sobre a
resistência do concreto. Para um concreto com o mesmo teor de cimento e mesma
consistência, as misturas do concreto com agregados maiores requerem menos água de
amassamento do que aquelas que contêm agregados menores.
EVANGELISTA (2002), mantendo a mesma proporção volumétrica dos agregados
graúdos e água, o mesmo tipo de cimento e o mesmo abatimento de tronco de cone,
utilizando-se agregados britados de gnaisse com dimensões máximas de 19 mm e 9,5
mm, observou que não houve influência significativa das dimensões máximas do
agregado usado na resistência à compressão dos concretos a não ser nas situações onde
o concreto apresentava menor valor a/c. Para valores de relações a/c menores foi
observado maiores diferenças na resistência do concreto, ou seja um ganho maior de
resistência para os agregados de diâmetros maiores. Os resultados obtidos nesse estudo
confirmam aqueles obtidos pelo autor.
Pompeu (2004) relata em seus resultados que para concretos com resistência
entre 47 e 61 MPa, produzidos com basalto, a resistência à compressão é afetada pela
dimensão máxima característica. O autor constatou um aumento da resistência à
compressão do concreto com a redução da dimensão máxima característica. No estudo
foram utilizados agregados com dimensões máximas características de 19 mm e 9,5 mm
e o acréscimo da resistência observado foi na ordem de 7,5 % e 18,5 % dependendo do
teor de agregado utilizado na dosagem.
As resistências à compressão para os agregados graúdos de diâmetros de 12,5
mm para os dois concretos analisados são mostradas na Figura 11. Nota-se que há uma
perda de resistência para os concretos com agregados cerâmicos, chegando à ordem de
35,31% aos 28 dias.

Figura 11: Resistência à compressão para os concretos com agregados de 12,5 mm.

Em se tratando de agregados graúdos de resíduo de porcelana, CAMPOS (2009)


observou queda nos valores de resistência à compressão com o aumento do teor de
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material cerâmico substituído. Houve um decréscimo na resistência à compressão na
ordem de 30% para o traço com 100% de porcelana graúda. Estes resultados são
explicados devido ao formato lamelar que a porcelana adquire ao ser moída e sua grande
área vidrada, fatores estes que interferiram na aderência da argamassa do concreto com
estes agregados alternativos.

5.2 Ensaios de Resistência à tração.

A Figura 12 ilustra os resultados dos ensaios de resistência à tração por


compressão diametral dos dois tipos de concretos de diferentes granulometrias. Nota-se
que os concretos elaborados com agregados graúdos naturais de diâmetro de 19,0 mm
apresentaram maiores resistências à tração. Os concretos elaborados com agregados
graúdos de diâmetros 12,5 mm apresentaram resistências à tração próximas
independente da substituição ou não dos resíduos de cerâmica.

Figura 12: Resistência à tração nas idades de 3, 7 e 28 dias.

5.3 Ensaios de aderência APULOT.

5.3.1 Concretos com brita natural de diâmetros distintos.

Em todos os ensaios de aderência APULOT realizados com os concretos


elaborados com brita natural de 12,5 mm e de 19 mm e barras de aço de diâmetro de
10 mm houve ruptura da barra de aço. Isso significa que o concreto elaborado possui
resistência superior ao limite para ocorrer ruptura por deslizamento aço-concreto no
ensaio de aderência APULOT.
As Figuras 13 (a) e 13 (b) ilustram os ensaios APULOT realizados nas idades de 3,
7 e 28 dias para os concretos com agregados naturais de diâmetros de 12,5mm e 19,0
mm, respectivamente. Pode-se observar o comportamento típico de ruptura das barras de
aço pelas curvas obtidas. As tensões de ruptura cresceram com a idade dos corpos de
prova e foram ligeiramente superiores para os concretos com agregados de diâmetros
menores.
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(a) (b)
Figura 13: Tensão de aderência versus deslocamento dos concretos com brita natural (a) concreto com brita
de diâmetro 12,5mm e (b) concreto com brita de diâmetro de 19,0 mm.

5.3.2 Concretos com resíduo de cerâmica de diâmetros distintos.

Nas Figuras 14 (a) e (b) são apresentados os resultados dos ensaios de aderência
APULOT realizados com os concretos elaborados com resíduos de cerâmica de
diâmetros de 12,5 mm e de 19,0 mm. Nota-se que o comportamento dos ensaios, ruptura
das barras de aço, foi o mesmo dos concretos com brita natural. Isso se deve ao fato de
que a resistência à compressão dos concretos é superior ao limite para ocorrer ruptura
por deslizamento aço-concreto, independente do tipo de concreto, com brita natural ou
com resíduo cerâmico.

(a) (b)
Figura 14: Tensão de aderência versus deslocamento dos concretos com resíduo de cerâmica (a) concreto
com resíduo cerâmico de diâmetro 12,5mm e (b) concreto com resíduo cerâmico de diâmetro de 19,0 mm.

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6 Conclusão

Este estudo teve por objetivo principal comparar a influência dos agregados
graúdos de diâmetros diferentes, 12,5 mm e 19,0 mm, no comportamento da resistência à
compressão dos concretos e da tensão de aderência aço-concreto, usando o ensaio de
aderência APULOT. Observou-se que no tangente aos ensaios de aderência aço-
concreto não houve deslizamento da barra de aço em relação ao concreto, acontecendo
antes a ruptura da barra de aço, independente do tipo de concreto.
Entretanto, nos ensaios de propriedades mecânicas do concreto observa-se que os
concretos elaborados com agregados graúdos de diâmetros superiores obtiveram maior
ganho de resistência à compressão, assim como os concretos elaborados com agregados
naturais.
Para os ensaios de aderência APULOT, há necessidade de se aumentar o
diâmetro das barras de aço ou diminuir a resistência à compressão do concreto, para
melhor verificar o comportamento de aderência da barra de aço em relação ao concreto.

7 Referências

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