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ANÁLISE DA TENACIDADE DO CONCRETO COM FIBRAS DE

POLIETILENO BUSCANDO ALTERNATIVA À SUBSTITUIÇÃO DE


FIBRAS METÁLICAS
Analysis of the toughness of concrete with polyethylene fibers as an alternative to replace
metallic fibers.

Andrei Nardelli (1); Cristine Yohana Ribas (1); Guilherme Conrat Koettker (1);
Ronaldo Pilar (1); Rudiele Aparecida Schankoski (1); Luiz Roberto Prudêncio Junior (1);

(1) Departamento de Engenharia Civil - Universidade Federal de Santa Catarina.


e-mail: andreinardelli@hotmail.com; cristine.cyr@gmail.com; guilhermekoettker@hotmail.com;
rudiele_as@yahoo.com.br; ronaldo_pilar@hotmail.com; prudenciouk@hotmail.com

Resumo
Atualmente, em se tratando de ganho de tenacidade do concreto, as fibras de aço têm
sido as mais empregadas. Entretanto, várias empresas produtoras de fibras sintéticas têm
buscado desenvolver produtos com desempenho similar e que apresentem outras
vantagens técnicas e econômicas. Desta forma, esse trabalho teve como objetivo estudar
as propriedades de concretos convencionais reforçados com fibras de aço e de
polietileno, a fim de verificar se essa última pode ser uma alternativa para a substituição
de fibras de aço. Para isso, as diferenças de comportamento mecânico existentes foram
quantificadas por meio de ensaios a compressão simples de corpos-de-prova cilíndricos e
de tração na flexão de prismas. Com o estudo pôde-se constatar que a incorporação de
fibras ao concreto não causa variações significativas com relação às resistências à
compressão simples e à tração na flexão. Pôde-se concluir que a fibra de aço se mostrou
mais eficiente em relação à tenacidade para os mesmos teores de incorporação.

Palavra-Chave: fibras poliméricas, fibras metálicas, concreto reforçado com fibras.

Abstract
Nowadays, when it concerns to gain toughness, steel fibers have been the most used.
However, several companies which produce synthetic fibers have tried to develop
products with similar performance and provide other technical and economic advantages.
Thus, the aim of this study is to evaluate the properties of conventional concrete reinforced
with steel and polyethylene fibers in order to verify if the polyethylene fiber may be an
alternative for the replacement of steel fibers for an equivalent performance. In this regard,
the differences in mechanical behavior were quantified by testing the compressive elastic
modulus, modulus of rupture and toughness of beams. The results obtained showed that
the incorporation of fibers in concrete do not cause significant variations on the
compressive and flexural strenght. As a result, the steel fiber demonstrated to be more
efficient regarding thoughness for the same fiber content.

Keywords: polymer fibers, metal fibers, fiber reinforced concrete.

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1 Introdução

Fibras de diferentes materiais vêm sendo amplamente utilizadas na engenharia civil.


Quando incorporadas ao concreto convencional, possuem a vantagem de proporcionar
uma melhora nas suas propriedades mecânicas. De acordo com Robins, Austin e Jones
(2002), as fibras proporcionam uma tensão de tração residual ao concreto devido aos
mecanismos de ligação (“ponte”) que criam nas superfícies de fratura. Burati, Mazzotti e
Savoia (2011) afirmam que as propriedades do concreto reforçado com fibras dependem
não apenas das características da matriz cimentícia, mas também do tipo e da geometria
da fibra.

As tradicionais fibras de aço, quando adicionadas ao concreto, são amplamente utilizadas


em estradas, pisos industriais, revestimentos de túneis, estruturas de concreto armado,
entre outras (ALTUN; AKTAŞ, 2013). Segundo Soutsos, Le e Lampropoulos (2012), para
que o incremento na ductibilidade do concreto proporcionado pela adição de fibras seja
signifignificativo, é necessário um consumo mínimo de fibra entre 35 e 45 kg/m³ de
concreto para lajes sem juntas e 20 kg/m³ para pisos.

Atualmente são produzidas fibras sintéticas com o objetivo de substituir as fibras de aço
ou acrescentar alguma propriedade específica. Sabe-se que as fibras poliméricas são
mais leves, o que resulta em um menor consumo (kg/m³) e não oxidam. Contudo, o
conhecimento de seu comportamento mecânico ainda é limitado (BURATTI, MAZZOTTI e
SAVOIA, 2011).

De acordo com Soutsos, Le, Lampropoulos (2010), no caso de concreto reforçado com
fibras, a resistência à tração residual do material é considerável e não pode ser ignorada
no dimensionamento de estruturas de concreto. Os autores enfatizam tal importância com
o fato de a norma RILEM TC-162 ter no seu texto recomendações para que no
dimensionamento de estruturas de concreto este parâmetro seja estimado e considerado
no dimensionamento. Assim, é salutar a realização de pesquisas sobre concreto
reforçado com fibras para a confirmação de suas vantagens e quantificação da melhora
das propriedades mecânicas que serão utilizadas com o propósito de dimensionamento.

Com o objetivo de quantificar a tenacidade que diferentes tipos de fibras proporcionam,


foram moldados prismas de concreto usando diferentes tipos e dosagens de fibras de aço
e de polietileno.

2 Determinação da tenacidade à flexão do concreto

É essencial, durante a realização do ensaio para determinação da tenacidade à flexão do


concreto, que se utilize uma prensa na qual seja possível controlar a velocidade de
aplicação de carga bem como o controle eletrônico do deslocamento dos corpos de prova
(FIGUEIREDO, 2011). Esse controle do deslocamento é feito por meio de um transdutor

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do tipo LVDT (do inglês, linear variable differential transformer) apoiado num suporte
denominado “yoke” (JSCE-SF4, 1984).

Não há norma atual de determinação de tenacidade em concreto que não exija o uso do
“yoke”. Isso porque o sistema apresenta grande confiabilidade ao medir o deslocamento
tendo como base o próprio prisma, eliminando a medição de deformações externas ao
sistema (FIGUEIREDO, 2011). Além disso, seu ponto de fixação no prisma, na linha
neutra, faz com que o sistema não restrinja o comportamento do prisma durante o ensaio.

Apesar de a norma japonesa utilizar o ensaio de flexão a três pontos como referência, de
acordo com Gopalaratnam e Gettu (1995), o ensaio de flexão a quatro pontos é o mais
recomendado, uma vez que apresenta uma região entre os pontos de aplicação de carga
de flexão pura com tensão de tração constante, enquanto que no ensaio de flexão a três
pontos, em todo o vão da prisma, há variação dos esforços de flexão e presença de
cisalhamento.

O ensaio de flexão a quatro pontos (Figura 1) consiste num prisma bi apoiado no terço
médio com dois apoios centrais que exercem a função de transmitir a carga. A partir do
momento em que o carregamento é aplicado, o prisma deforma-se até a ruptura. Nessa
situação, o momento máximo é constante e o esforço cortante é nulo no trecho entre os
apoios de transmissão da carga. Para induzir a ruptura do material nesse trecho de
momento constante, Gava (2006) recomenda que sejam feitos entalhes na lateral do
prisma, criando uma seção efetiva menor que será percorrida pela fissura ao longo de
toda a altura do prisma.

Figura 1 - Esquema do ensaio de flexão à quatro pontos.

.
Nesse ensaio, o sistema de aquisição de dados acoplado à prensa deve garantir que
sejam transmitidos a um computador a leitura simultânea dos dados de deformação e
carregamento aplicado num determinado tempo do ensaio. De posse desses dados, um
gráfico tensão versus deformação pode ser traçado com a finalidade de melhor descrever
o comportamento mecânico do material à flexão. Com este ensaio e sistema de aquisição
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é possível determinar: a tenacidade do material, as resistências à tração de ruptura e pós-
ruptura, e as respectivas deformações do sistema.

Um parâmetro relevante para descrever o comportamento à flexão de concretos


reforçados com fibras são a tensão última do material e o fator de tenacidade na flexão
(Equação 1), a partir do gráfico tensão versus deformação. Esses índices, normatizados
pela JSCE SF4, são utilizados como parâmetro de comparação para concretos reforçados
com diferentes tipos de fibras.

3 Programa experimental

3.1 Materiais

3.1.1 Escolha das fibras

Foram utilizadas nesse trabalho fibras metálica e polimérica. A escolha das fibras de
polietileno utilizadas nos ensaios foi feita com base no trabalho de Schmitt (2012).

A fibra polimérica (F.P.) de polietileno apresenta formato senoidal, sem tratamento


superficial. Foram utilizados dois comprimentos de fibra, denominados “L1” e “L2”. A fibra
de aço (F.A.) utilizada nessa pesquisa foi a da marca Steel Jet, fabricada a partir de
arame trefilado de aço carbono, de acordo com a norma da American Society for Testing
and Material (ASTM). Sua designação é de A-820 Tipo I – “cold draw high tensile
deformed steel wire”, com um formato senoidal de seção praticamente retangular. As
características de ambas as fibras estão listadas na Tabela 1.

Tabela 1 - Características das fibras


Massa específica Resistência à Comprimento Espessura Largura Fator de
Fibras (kg/m³) tração (MPa) (mm) (mm) (mm) Forma

De Aço 7420 710 a 880 38,85 0,74 2,62 54,40


Polimérica L1 1330 332,5 41,32 0,98 - 42,68
Polimérica L2 1330 332,5 55,64 0,88 - 63,41

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Figura 2 - Fotografia das fibras metálica (esquerda) e polimérica (direita) utilizadas.

3.1.2 Concretos

Foram dosados concretos para uma resistência à compressão média de 38,5 MPa aos 28
dias. A composição final do traço unitário, em massa, foi 1 : 1,01 : 1,69 : 2,28 : 0,58
(cimento: areia fina: areia de britagem: brita 0: água). O cimento utilizado foi o Cimento de
Alta Resistência Inicial (CP V - ARI), devido à necessidade de desforma em 24 horas
após a concretagem. Foi utilizado areia fina natural, areia de britagem e brita 0, as
características são apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2 - Características dos agregados.


Massa
Diâmetro máximo
Agregado específica Módulo de finura
(mm)
(kg/m³)
Areia fina 2650 0,6 1,12
Areia de britagem 2660 4,8 2,90
Brita 0 2660 12,5 6,22

Foi utilizado um aditivo polifuncional da RheoSet, a fim de conferir trabalhabilidade ao


concreto fresco, na proporção de 0,6% em relação à massa de cimento. Durante a
concretagem, a trabalhabilidade das misturas foi verificada por meio do ensaio de
abatimento do tronco de cone (slump test), conforme prescreve a ABNT NBR NM 67
(1998).

3.2 Confecção dos Corpos de Prova

O programa experimental consistiu em dosar concretos com fibras de aço e de polietileno


com o objetivo de encontrar um teor volumétrico equivalente entre as fibras. Um resumo
dos teores de fibras empregado nesta pesquisa é apresentado na Tabela 3. Deve-se
destacar que o teor de fibra é referente à fração entre seu respectivo volume por metro
cúbico de concreto.

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Tabela 3 - Teores de fibras adotados
Teor 1 Equivalente Teor 2 Equivalente Teor 3 Equivalente Teor 4 Equivalente
Fibra
(m³/m³) (kg/m³) (m³/m³) (kg/m³) (m³/m³) (kg/m³) (m³/m³) (kg/m³)
De aço 0,0027 20 0,0054 40 0,0081 60 - -
Polimérica L1 0,0030 4 0,0045 6 0,0060 8 0,0075 10
Polimérica L2 0,0030 4 0,0045 6 0,0060 8 0,0075 10

Para cada mistura, foram moldados três corpos-de-prova cilíndricos de 10 x 20 cm,


utilizados para sua caracterização quanto à resistência à compressão simples conforme a
ABNT NBR 5739 (2007).

Os prismas foram moldados no formato de placas, em fôrmas com dimensões de 500 x


500 x 10 cm, conforme se pode observar na Figura 3. A utilização desse formato de placa
é justificada, pois busca-se evitar o alinhamento preferencial das fibras, fato que acontece
principalmente nas bordas da fôrma. O adensamento foi realizado por meio de mesa
vibratória até a homogeneização do material.

As placas confeccionadas foram armazenadas em câmara úmida até dois dias antes do
ensaio. Cada placa foi serrada de forma a se obter três prismas de 100x130x400 mm e,
posteriormente, foram feitos entalhes nas duas faces laterais, na metade do comprimento,
com 15 mm de profundidade. Nesta mesma posição, mediram-se as deformações por
meio de transdutores. As dimensões finais dos prismas foram 100x100x400mm, com 300
mm entre os apoios, como proposto pela ASTM 1018 : 1994b.

Figura 3 - Detalhamento das fôrmas de madeira empregadas na confecção das placas de concreto.

Em seguida, com os prismas já serrados, foi feito o capeamento da face superior, a fim de
garantir uma superfície plana que serviu de base para o aparato de aplicação de carga.
Na face inferior do prisma não houve a necessidade de reparos na superfície posto que
essa face esteve em contato com a forma durante a cura do concreto, dando um
acabamento plano e liso.

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O sistema “yoke” adotado consistiu em um pórtico em formato de “U” apoiados por meio
de dois pinos fixados na linha neutra do prisma, sendo que o sistema foi utilizado nas
duas faces laterais. Essa configuração permite o ajuste de cada lado do prisma
individualmente, facilitando o manuseio (GAVA, 2006).

Após a fixação dos pinos, um vidro de 4x25x250 mm foi colado na seção mediana do
prisma, onde foram posicionados os LVDTs para medição dos seus deslocamentos
verticais. A utilização de vidro é justificada pela fragilidade do material. Logo, se
ocorressem deformações que pudessem induzir a erros no resultado do ensaio, o vidro se
partiria, acusando o erro.

3.3 Procedimento de ensaio – Ensaio de flexão

Os procedimentos metodológicos adotados baseiam-se no trabalho de Gava (2006). Para


cada uma das fibras estudadas foram ensaiados três prismas aos 28 dias, buscando obter
resultados de suas influências na resistência à tração do concreto.

Precedendo a realização dos ensaios era feita a calibração dos instrumentos para
validação dos resultados, instrumentos esses conectados a um sistema de aquisição de
dados. Foi utilizada uma célula de carga com capacidade de 50 kN. Em seguida ocorria o
posicionamento centralizado do prisma em relação os apoios e a colocação dos suportes
de fixação dos transdutores de deslocamento. A disposição dos aparatos utilizados no
ensaio pode ser observada na Figura 4.

Figura 4 - Disposição final do ensaio

A velocidade de carregamento foi de 0,5mm/min. A aplicação de carga foi feita até a


ruptura, no caso do prisma sem fibra, e até um deslocamento médio de 4 mm no caso dos
prismas com fibra. A aquisição de dados foi feita em intervalos de 1 s. Com os prismas
rompidos, foi realizado o levantamento da quantidade das fibras na seção transversal
fraturada no ensaio.
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4 Resultados e Discussões

Com o objetivo de avaliar a influência da incorporação das fibras na trabalhabilidade,


todas as misturas, antes de serem moldadas, foram ensaiadas medindo-se seu
abatimento de tronco de cone. Conforme se pode observar nas Tabelas 4 e 5, a
incorporação de fibras no concreto interferiu sensivelmente nos valores de abatimento.
Contudo, as variações ocorridas em função do teor de fibra utilizados neste trabalho
foram pequenas.

Tabela 4 - Resultados de abatimento do tronco de cone para concreto sem fibra e fibra de aço
Sem
Abatimento (cm) F.A. 20kg F.A. 40kg F.A. 60kg
fibra
Antes 15,0 15,0 16,0 16,0
Depois 15,0 12,0 13,0

Tabela 5 – Resultados de abatimento do tronco de cone para concreto com fibra polimérica “L1” e “L2”
F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2
Abatimento (cm)
4kg 6kg 8kg 10kg 4kg 6kg 8kg 10kg
Antes 19,5 19,5 17,5 17,5 18,0 18,0 18,0 17,5
Depois 14,5 16,0 15,0 14,0 15,0 14,0 14,0 12,5

4.1 Resistência à compressão simples

Os resultados de resistência à compressão das misturas, aos 28 dias de idade, não


apresentaram grandes variações, podendo se afirmar que, dentro das possibilidades
impostas pelo programa experimental, a incorporação de fibras não influenciou na
resistência mecânica, conforme pode ser visualizado na Figura 5.

45
Resistência à compressão

40
35
30
(MPa)

25
20
15
10
5
0
Sem F.A. F.A. F.A. F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2
fibra 20kg 40kg 60kg 4 kg 6 kg 8 kg 10 kg 4 kg 6 kg 8 kg 10 kg
Figura 5 - Resistência à compressão dos corpos de prova

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4.2 Gráficos carregamento versus deslocamento

A partir das medições realizadas pela célula de carga e pelos transdutores foram
realizados gráficos para cada amostra confeccionada (Figura 6).

Sem fibra F.P. L1 4 kg/m³ F.P. L2 4 kg/m³


24 24 24
20 20 20
16 16 16
Carga (kN)

12 12 12
8 8 8
4 4 4
0 0 0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5
F.A. 20 kg/m³ F.P. L1 6 kg/m³ F.P. L2 6 kg/m³
24 24 24
20 20 20
16 16 16
Carga (kN)

12 12 12
8 8 8
4 4 4
0 0 0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5
F.A. 40 kg/m³ F.P. L1 8 kg/m³ F.P. L2 8 kg/m³
24 24 24
20 20 20
16 16 16
Carga (kN)

12 12 12
8 8 8
4 4 4
0 0 0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5
F.A. 60 kg/m³ F.P. L1 10 kg/m³ F.P. L2 10 kg/m³
24 24 24
20 20 20
16 16 16
Carga (kN)

12 12 12
8 8 8
4 4 4
0 0 0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5
Deslocamento (mm) Deslocamento (mm) Deslocamento (mm)
Figura 6 - Curvas de carga por deslocamento dos ensaios de tração na flexão

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4.3 Resistência à tração na flexão

A resistência à flexão foi determinada a partir da carga de ruptura, isto é, o ponto de pico
do gráfico tensão versus deslocamento, de acordo com a Equação 1 conforme JSCE SF4
(1984).

L
f  PU . Equação 1
U b.h 2

Onde, fU é a tensão de resistência, PU é a carga última que o material resiste antes da


ruptura, L é o vão do prisma, b é base e h é a altura do prisma.

A resistência média à flexão aos 28 dias do concreto de referência, sem adição de fibras,
foi de 5,5 MPa. A incorporação de fibras de aço ou fibras de polietileno nos comprimentos
L1 e L2 não influenciou de maneira perceptível no resultado, obtendo-se valores próximos
de resistência, conforme pode ser observado na Figura 7.

7
Resistência à tração na

6
5
flexão (MPa)

4
3
2
1
0
Sem F.A. F.A. F.A. F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2
fibra 20kg 40kg 60kg 4 kg 6 kg 8 kg 10 kg 4 kg 6 kg 8 kg 10 kg
Figura 7 - Resistência à tração na flexão dos prismas

4.4 Fator de tenacidade na flexão

O fator de tenacidade na flexão foi determinado de acordo com a Equação 2, conforme


JSCE SF4 (1984).

Tb L
f  . Equação 2
e  tb b.h 2

Onde, fe é o fator de tenacidade na flexão, Tb é a tenacidade na flexão, 𝛿𝑡𝑏 é a deflexão


equivalente a L/150, b é base e h é a altura do prisma e L é o vão do prisma durante o
ensaio.
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Tendo em vista o comportamento frágil do concreto, os prismas de referência, sem a
adição de fibras, apresentaram um valor muito próximo à zero para o fator de tenacidade
na flexão. Com a adição de fibras de aço o fator apresentou valor médio de 1,16 MPa,
1,85 MPa e 2,75 MPa para as dosagens de 20, 40 e 60 kg/m³ de concreto,
respectivamente. Os valores obtidos para os prismas com adição fibra polimérica, nas
dosagens de 4, 6, 8 e 10 kg/m³ de concreto apresentaram a mesma tendência, ou seja,
com acréscimo do teor de fibra obteve-se um aumento na tenacidade dos prismas. Pode-
se notar também que para os mesmo teores de fibras poliméricas, independente do
comprimento, os valores de tenacidade se assemelham. Nominalmente, para os
concretos com fibras poliméricas, a mistura F.P. L1, com 10 kg/m³ de concreto, obteve o
maior resultado de tenacidade na flexão (1,61 MPa) e a mistura F.P. L1, com 4 kg/m³ de
concreto, obteve o menor valor (0,83 MPa). Os resultados podem ser observados na
Figura 8.

4,0
Fator de tenacidade na

3,5
3,0
flexão (MPa)

2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
Sem F.A. F.A. F.A. F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2
fibra 20kg 40kg 60kg 4 kg 6 kg 8 kg 10 kg 4 kg 6 kg 8 kg 10 kg
Figura 8 - Fator de tenacidade na flexão

4.5 Análise de equivalência

Com o objetivo de avaliar se há uma equivalência entre os teores volumétricos de fibras


de aço e poliméricas, foram comparados os parâmetros de resistência à tração na flexão
e a tenacidade dos prismas.

4.5.1 Resistência à tração na flexão

A partir da análise da Figura 7 pôde-se perceber que ocorreram variações aleatórias não
relacionadas aos tipos e teores volumétricos das fibras estudadas. Esse comportamento
pode ser explicado pois a resistência à tração na flexão é influenciada diretamente pela
resistência do concreto, uma vez que as fibras não sofrem grandes solicitações até a
fissuração do concreto.

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4.5.2 Tenacidade

Ao analisar as funções fator de tenacidade na flexão por teor volumétrico de fibras, a linha
de tendência que melhor explica o comportamento dos prismas ensaiados é do tipo
exponencial. Os valores R² obtidos (Tabela 6) indicam que a amostra pode ser explicada
pela função encontrada.

3,0
Fator de tenacidade na flexão (MPa)

2,5

2,0

1,5
FP L1
1,0 FP L2
FA
0,5

0,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Teor de fibra 10-²
(m³/m³)

Figura 9 - Comportamento do fator de tenacidade na flexão dos diferentes teores de fibra.

Tabela 6 - Parâmetros das linhas de tendências.


Linha de Tendência Equação R²
F.P L1 Y= 0,4994.e1,6395x 0,9056
F.P L2 Y= 0,6132.e1,2062x 0,7435
F.A Y= 0,7635.e1,5981x 0,9966

Por meio da observação dos resultados do fator de tenacidade das fibras de aço e
poliméricas, para um mesmo fator de tenacidade, foi possível determinar um intervalo de
análise da equivalência para os teores de incorporação. Foi plotada uma reta que
relaciona os teores de fibra de aço e polimérica. Obteve-se a equação apresentada na
Figura 10. Observa-se que o coeficiente angular é igual a um, indicando que os teores
das diferentes fibras tem a mesma evolução, porém as fibras poliméricas devem ser
acrescidas de 0,0026 m³/m³ de concreto (coeficiente linear).

Outro fato que pode-se concluir do gráfico é que maior comprimento da F.P. L2 (55,64
mm), em relação a F.P. L1 (41,32 mm), não influenciou de maneira perceptível nos
valores de tenacidade na flexão. Conclui-se que o acréscimo no comprimento de
ancoragem, a partir de 41,32 mm, não afetou de modo significativo os resultados de
tenacidade. Outro fator que pode ter influenciado foram os teores de incorporação de
fibras poliméricas. Deve-se observar que foram mantidos os teores constantes, em
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massa, ou seja, 4, 6, 8 e 10 kg/m³ de concreto. Assim, como as fibras possuíam a mesma
densidade, porém comprimentos diferentes, é correto afirmar que para o mesmo teor, em
massa, as misturas com F.P. L2, tinham, nominalmente, um número menor de fibras.

0,50

0,45
Teor de fibra de Aço 10-²

0,40
(m³/m³)

0,35 y = 1x - 0,26
0,30

0,25

0,20
0,55 0,60 0,65 0,70 0,75
Teor de fibra Polimérica 10-²
(m³/m³)

Figura 10 - Gráfico relacionando o comportamento da fibra de aço com a polimérica para mesmo fator de
tenacidade.

A fim de relacionar e quantificar a diferença entre a fibra de aço e a de polietileno, plotou-


se uma reta com os resultados de fator de tenacidade na flexão dos dois tipos de fibra nos
pontos com mesmo teor de volume de fibra (0,3%, 0,45%, 0,6% e 0,75%), sendo que foi
realizada uma média das curvas de F.P. L1 e F.P L2 por apresentarem comportamento
semelhante. O gráfico pode ser visualizado na Figura 11.

2,8
Fator de tenacidade na flexão da F.A

2,6
2,4 y = 1,7025x - 0,2163
2,2 R² = 0,9999
2
(MPa)

1,8
1,6
1,4
1,2
1
0,8
0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8
Fator de tenacidade na flexão da média das F.P. (MPa)

Figura 11 - Gráfico relacionando o comportamento da fibra de aço com a polimérica.

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Com base na linearização dos pontos é possível concluir que a fibra de aço apresenta
70,25% maior desempenho no fator de tenacidade na flexão que as fibras de polietileno
L1 e L2 para o mesmo teor de volume de fibra por volume de concreto.

5 Considerações finais

De posse dos resultados do programa experimental, foi analisada a influência da


incorporação de fibras de aço e polimérica em relação ao comportamento à flexão e
resistência à compressão de concretos reforçados com fibras.

Pôde-se concluir que a incorporação de fibras de aço e polimérica não tiveram grande
influência na resistência à compressão dos concretos. Comportamento análogo é
constatado para a resistência à tração na flexão dos prismas. Por outro lado, o ganho de
tenacidade, tanto com a adição de fibras de aço quanto poliméricas, foi considerável,
resultado que já era esperado.

Percebeu-se também que, objetivando uma equivalência em relação ao fator de


tenacidade na flexão, é necessário um acréscimo de 0,0026 m³ de fibra polimérica por
metro cúbico de concreto. Além disso, foi possível perceber que a fibra de aço apresenta
um desempenho 70,25% maior do que a fibra polimérica em termos de fator de
tenacidade, para o mesmo teor de fibra.

Apesar da prensa utilizada ser servo-controlada, nota-se na Figura 6, que ocorreram


instabilidades pós-pico. Essas instabilidades influenciaram nos parâmetros de cálculo do
fator de tenacidade.

Conclui-se, em concordância com a literatura do assunto, que a incorporação de


diferentes tipos de fibra e em diferentes tamanhos pouco influência os resultados de
resistência à compressão e tração na flexão. Contudo, notou-se a influência das fibras
nos resultados de fator de tenacidade na flexão dos primas. Isso se deve, provavelmente,
pelo fato de que o concreto ao fissurar, não mais contribui na tenacidade, ficando a cargo
das fibras responder às solicitações impostas.

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