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Andrei Nardelli (1); Cristine Yohana Ribas (1); Guilherme Conrat Koettker (1);
Ronaldo Pilar (1); Rudiele Aparecida Schankoski (1); Luiz Roberto Prudêncio Junior (1);
Resumo
Atualmente, em se tratando de ganho de tenacidade do concreto, as fibras de aço têm
sido as mais empregadas. Entretanto, várias empresas produtoras de fibras sintéticas têm
buscado desenvolver produtos com desempenho similar e que apresentem outras
vantagens técnicas e econômicas. Desta forma, esse trabalho teve como objetivo estudar
as propriedades de concretos convencionais reforçados com fibras de aço e de
polietileno, a fim de verificar se essa última pode ser uma alternativa para a substituição
de fibras de aço. Para isso, as diferenças de comportamento mecânico existentes foram
quantificadas por meio de ensaios a compressão simples de corpos-de-prova cilíndricos e
de tração na flexão de prismas. Com o estudo pôde-se constatar que a incorporação de
fibras ao concreto não causa variações significativas com relação às resistências à
compressão simples e à tração na flexão. Pôde-se concluir que a fibra de aço se mostrou
mais eficiente em relação à tenacidade para os mesmos teores de incorporação.
Abstract
Nowadays, when it concerns to gain toughness, steel fibers have been the most used.
However, several companies which produce synthetic fibers have tried to develop
products with similar performance and provide other technical and economic advantages.
Thus, the aim of this study is to evaluate the properties of conventional concrete reinforced
with steel and polyethylene fibers in order to verify if the polyethylene fiber may be an
alternative for the replacement of steel fibers for an equivalent performance. In this regard,
the differences in mechanical behavior were quantified by testing the compressive elastic
modulus, modulus of rupture and toughness of beams. The results obtained showed that
the incorporation of fibers in concrete do not cause significant variations on the
compressive and flexural strenght. As a result, the steel fiber demonstrated to be more
efficient regarding thoughness for the same fiber content.
Atualmente são produzidas fibras sintéticas com o objetivo de substituir as fibras de aço
ou acrescentar alguma propriedade específica. Sabe-se que as fibras poliméricas são
mais leves, o que resulta em um menor consumo (kg/m³) e não oxidam. Contudo, o
conhecimento de seu comportamento mecânico ainda é limitado (BURATTI, MAZZOTTI e
SAVOIA, 2011).
De acordo com Soutsos, Le, Lampropoulos (2010), no caso de concreto reforçado com
fibras, a resistência à tração residual do material é considerável e não pode ser ignorada
no dimensionamento de estruturas de concreto. Os autores enfatizam tal importância com
o fato de a norma RILEM TC-162 ter no seu texto recomendações para que no
dimensionamento de estruturas de concreto este parâmetro seja estimado e considerado
no dimensionamento. Assim, é salutar a realização de pesquisas sobre concreto
reforçado com fibras para a confirmação de suas vantagens e quantificação da melhora
das propriedades mecânicas que serão utilizadas com o propósito de dimensionamento.
Não há norma atual de determinação de tenacidade em concreto que não exija o uso do
“yoke”. Isso porque o sistema apresenta grande confiabilidade ao medir o deslocamento
tendo como base o próprio prisma, eliminando a medição de deformações externas ao
sistema (FIGUEIREDO, 2011). Além disso, seu ponto de fixação no prisma, na linha
neutra, faz com que o sistema não restrinja o comportamento do prisma durante o ensaio.
Apesar de a norma japonesa utilizar o ensaio de flexão a três pontos como referência, de
acordo com Gopalaratnam e Gettu (1995), o ensaio de flexão a quatro pontos é o mais
recomendado, uma vez que apresenta uma região entre os pontos de aplicação de carga
de flexão pura com tensão de tração constante, enquanto que no ensaio de flexão a três
pontos, em todo o vão da prisma, há variação dos esforços de flexão e presença de
cisalhamento.
O ensaio de flexão a quatro pontos (Figura 1) consiste num prisma bi apoiado no terço
médio com dois apoios centrais que exercem a função de transmitir a carga. A partir do
momento em que o carregamento é aplicado, o prisma deforma-se até a ruptura. Nessa
situação, o momento máximo é constante e o esforço cortante é nulo no trecho entre os
apoios de transmissão da carga. Para induzir a ruptura do material nesse trecho de
momento constante, Gava (2006) recomenda que sejam feitos entalhes na lateral do
prisma, criando uma seção efetiva menor que será percorrida pela fissura ao longo de
toda a altura do prisma.
.
Nesse ensaio, o sistema de aquisição de dados acoplado à prensa deve garantir que
sejam transmitidos a um computador a leitura simultânea dos dados de deformação e
carregamento aplicado num determinado tempo do ensaio. De posse desses dados, um
gráfico tensão versus deformação pode ser traçado com a finalidade de melhor descrever
o comportamento mecânico do material à flexão. Com este ensaio e sistema de aquisição
ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 3
é possível determinar: a tenacidade do material, as resistências à tração de ruptura e pós-
ruptura, e as respectivas deformações do sistema.
3 Programa experimental
3.1 Materiais
Foram utilizadas nesse trabalho fibras metálica e polimérica. A escolha das fibras de
polietileno utilizadas nos ensaios foi feita com base no trabalho de Schmitt (2012).
3.1.2 Concretos
Foram dosados concretos para uma resistência à compressão média de 38,5 MPa aos 28
dias. A composição final do traço unitário, em massa, foi 1 : 1,01 : 1,69 : 2,28 : 0,58
(cimento: areia fina: areia de britagem: brita 0: água). O cimento utilizado foi o Cimento de
Alta Resistência Inicial (CP V - ARI), devido à necessidade de desforma em 24 horas
após a concretagem. Foi utilizado areia fina natural, areia de britagem e brita 0, as
características são apresentadas na Tabela 2.
As placas confeccionadas foram armazenadas em câmara úmida até dois dias antes do
ensaio. Cada placa foi serrada de forma a se obter três prismas de 100x130x400 mm e,
posteriormente, foram feitos entalhes nas duas faces laterais, na metade do comprimento,
com 15 mm de profundidade. Nesta mesma posição, mediram-se as deformações por
meio de transdutores. As dimensões finais dos prismas foram 100x100x400mm, com 300
mm entre os apoios, como proposto pela ASTM 1018 : 1994b.
Figura 3 - Detalhamento das fôrmas de madeira empregadas na confecção das placas de concreto.
Em seguida, com os prismas já serrados, foi feito o capeamento da face superior, a fim de
garantir uma superfície plana que serviu de base para o aparato de aplicação de carga.
Na face inferior do prisma não houve a necessidade de reparos na superfície posto que
essa face esteve em contato com a forma durante a cura do concreto, dando um
acabamento plano e liso.
Após a fixação dos pinos, um vidro de 4x25x250 mm foi colado na seção mediana do
prisma, onde foram posicionados os LVDTs para medição dos seus deslocamentos
verticais. A utilização de vidro é justificada pela fragilidade do material. Logo, se
ocorressem deformações que pudessem induzir a erros no resultado do ensaio, o vidro se
partiria, acusando o erro.
Precedendo a realização dos ensaios era feita a calibração dos instrumentos para
validação dos resultados, instrumentos esses conectados a um sistema de aquisição de
dados. Foi utilizada uma célula de carga com capacidade de 50 kN. Em seguida ocorria o
posicionamento centralizado do prisma em relação os apoios e a colocação dos suportes
de fixação dos transdutores de deslocamento. A disposição dos aparatos utilizados no
ensaio pode ser observada na Figura 4.
Tabela 4 - Resultados de abatimento do tronco de cone para concreto sem fibra e fibra de aço
Sem
Abatimento (cm) F.A. 20kg F.A. 40kg F.A. 60kg
fibra
Antes 15,0 15,0 16,0 16,0
Depois 15,0 12,0 13,0
Tabela 5 – Resultados de abatimento do tronco de cone para concreto com fibra polimérica “L1” e “L2”
F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2
Abatimento (cm)
4kg 6kg 8kg 10kg 4kg 6kg 8kg 10kg
Antes 19,5 19,5 17,5 17,5 18,0 18,0 18,0 17,5
Depois 14,5 16,0 15,0 14,0 15,0 14,0 14,0 12,5
45
Resistência à compressão
40
35
30
(MPa)
25
20
15
10
5
0
Sem F.A. F.A. F.A. F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2
fibra 20kg 40kg 60kg 4 kg 6 kg 8 kg 10 kg 4 kg 6 kg 8 kg 10 kg
Figura 5 - Resistência à compressão dos corpos de prova
A partir das medições realizadas pela célula de carga e pelos transdutores foram
realizados gráficos para cada amostra confeccionada (Figura 6).
12 12 12
8 8 8
4 4 4
0 0 0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5
F.A. 20 kg/m³ F.P. L1 6 kg/m³ F.P. L2 6 kg/m³
24 24 24
20 20 20
16 16 16
Carga (kN)
12 12 12
8 8 8
4 4 4
0 0 0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5
F.A. 40 kg/m³ F.P. L1 8 kg/m³ F.P. L2 8 kg/m³
24 24 24
20 20 20
16 16 16
Carga (kN)
12 12 12
8 8 8
4 4 4
0 0 0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5
F.A. 60 kg/m³ F.P. L1 10 kg/m³ F.P. L2 10 kg/m³
24 24 24
20 20 20
16 16 16
Carga (kN)
12 12 12
8 8 8
4 4 4
0 0 0
0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5 0 0,5 1 1,5 2 2,5
Deslocamento (mm) Deslocamento (mm) Deslocamento (mm)
Figura 6 - Curvas de carga por deslocamento dos ensaios de tração na flexão
A resistência à flexão foi determinada a partir da carga de ruptura, isto é, o ponto de pico
do gráfico tensão versus deslocamento, de acordo com a Equação 1 conforme JSCE SF4
(1984).
L
f PU . Equação 1
U b.h 2
A resistência média à flexão aos 28 dias do concreto de referência, sem adição de fibras,
foi de 5,5 MPa. A incorporação de fibras de aço ou fibras de polietileno nos comprimentos
L1 e L2 não influenciou de maneira perceptível no resultado, obtendo-se valores próximos
de resistência, conforme pode ser observado na Figura 7.
7
Resistência à tração na
6
5
flexão (MPa)
4
3
2
1
0
Sem F.A. F.A. F.A. F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2
fibra 20kg 40kg 60kg 4 kg 6 kg 8 kg 10 kg 4 kg 6 kg 8 kg 10 kg
Figura 7 - Resistência à tração na flexão dos prismas
Tb L
f . Equação 2
e tb b.h 2
4,0
Fator de tenacidade na
3,5
3,0
flexão (MPa)
2,5
2,0
1,5
1,0
0,5
0,0
Sem F.A. F.A. F.A. F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L1 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2 F.P. L2
fibra 20kg 40kg 60kg 4 kg 6 kg 8 kg 10 kg 4 kg 6 kg 8 kg 10 kg
Figura 8 - Fator de tenacidade na flexão
A partir da análise da Figura 7 pôde-se perceber que ocorreram variações aleatórias não
relacionadas aos tipos e teores volumétricos das fibras estudadas. Esse comportamento
pode ser explicado pois a resistência à tração na flexão é influenciada diretamente pela
resistência do concreto, uma vez que as fibras não sofrem grandes solicitações até a
fissuração do concreto.
Ao analisar as funções fator de tenacidade na flexão por teor volumétrico de fibras, a linha
de tendência que melhor explica o comportamento dos prismas ensaiados é do tipo
exponencial. Os valores R² obtidos (Tabela 6) indicam que a amostra pode ser explicada
pela função encontrada.
3,0
Fator de tenacidade na flexão (MPa)
2,5
2,0
1,5
FP L1
1,0 FP L2
FA
0,5
0,0
0,0 0,2 0,4 0,6 0,8 1,0
Teor de fibra 10-²
(m³/m³)
Por meio da observação dos resultados do fator de tenacidade das fibras de aço e
poliméricas, para um mesmo fator de tenacidade, foi possível determinar um intervalo de
análise da equivalência para os teores de incorporação. Foi plotada uma reta que
relaciona os teores de fibra de aço e polimérica. Obteve-se a equação apresentada na
Figura 10. Observa-se que o coeficiente angular é igual a um, indicando que os teores
das diferentes fibras tem a mesma evolução, porém as fibras poliméricas devem ser
acrescidas de 0,0026 m³/m³ de concreto (coeficiente linear).
Outro fato que pode-se concluir do gráfico é que maior comprimento da F.P. L2 (55,64
mm), em relação a F.P. L1 (41,32 mm), não influenciou de maneira perceptível nos
valores de tenacidade na flexão. Conclui-se que o acréscimo no comprimento de
ancoragem, a partir de 41,32 mm, não afetou de modo significativo os resultados de
tenacidade. Outro fator que pode ter influenciado foram os teores de incorporação de
fibras poliméricas. Deve-se observar que foram mantidos os teores constantes, em
ANAIS DO 55º CONGRESSO BRASILEIRO DO CONCRETO - CBC2013 – 55CBC 12
massa, ou seja, 4, 6, 8 e 10 kg/m³ de concreto. Assim, como as fibras possuíam a mesma
densidade, porém comprimentos diferentes, é correto afirmar que para o mesmo teor, em
massa, as misturas com F.P. L2, tinham, nominalmente, um número menor de fibras.
0,50
0,45
Teor de fibra de Aço 10-²
0,40
(m³/m³)
0,35 y = 1x - 0,26
0,30
0,25
0,20
0,55 0,60 0,65 0,70 0,75
Teor de fibra Polimérica 10-²
(m³/m³)
Figura 10 - Gráfico relacionando o comportamento da fibra de aço com a polimérica para mesmo fator de
tenacidade.
2,8
Fator de tenacidade na flexão da F.A
2,6
2,4 y = 1,7025x - 0,2163
2,2 R² = 0,9999
2
(MPa)
1,8
1,6
1,4
1,2
1
0,8
0,8 1 1,2 1,4 1,6 1,8
Fator de tenacidade na flexão da média das F.P. (MPa)
5 Considerações finais
Pôde-se concluir que a incorporação de fibras de aço e polimérica não tiveram grande
influência na resistência à compressão dos concretos. Comportamento análogo é
constatado para a resistência à tração na flexão dos prismas. Por outro lado, o ganho de
tenacidade, tanto com a adição de fibras de aço quanto poliméricas, foi considerável,
resultado que já era esperado.
Dong Joo Kim, Seung Hun Park, Gum Sung Ryu, Kyung Taek Koh, Comparative flexural
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macro fibers, Construction and Building Materials, Volume 25, Issue 11, November 2011,
Pages 4144-4155, ISSN 0950-0618, 10.1016/j.conbuildmat.2011.04.051.
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M.N. Soutsos, T.T. Le, A.P. Lampropoulos, Flexural performance of fibre reinforced
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Volume 36, November 2012, Pages 704-710, ISSN 0950-0618,
http://dx.doi.org/10.1016/j.conbuildmat.2012.06.042.
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ROBINS PJ, AUSTIN SA, JONES PA. Pull-out behaviour of hooked steel fibres. Mater
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