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Avaliação dos Aspectos de Dimensionamento de Elementos Estruturais

de Concreto Reforçado com Fibras


Evaluation of sizing aspects of structural elements of fiber reinforced concrete

Iva Emanuelly Pereira Lima (1); Aline da Silva Ramos Barboza (2)

(1) Doutoranda em Engenharia Civil, Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil, UFAL
(2) Professora Doutora, Programa de Pós Graduação em Engenharia Civil, UFAL
Campus A.C. Simões, Rod. BR 104, km 14, Tabuleiro dos Martins – Maceió, Alagoas

Resumo
Os concretos reforçados com fibras (CRF) apresentam uma menor propagação de fissuras e o seu reforço
promove para o compósito um acréscimo de resistência residual. Com base nisso, existem normativas que
determinam aspectos de desempenho mecânico do CRF, no entanto, a parcela de força resultante
resistente das fibras é determinada para situações de distribuição aleatória das fibras, por exemplo. Isso
posto, e a fim de obter essa força para um CRF com orientação preferencial das fibras, apresenta-se um
estudo relacionado com essas características, onde o estabelecimento da resultante foi obtido a partir da
caracterização do comportamento mecânico de uma amostra de concreto reforçado com fibras de aço
(CRFA), que apresenta teor volumétrico de 0,40%, e de outra amostragem de concreto reforçado com
fibras poliméricas (CRFP), que denota teor volumétrico de 1,00%. De acordo com o estudo realizado, a
partir da teoria de flexão em vigas, determinou-se a tensão de tração final das fibras na parte tracionada
do concreto, onde comparou-se este valor com os resultados determinados de acordo com o
fib model code 2010 (FIB, 2013) e com o ACI 544.8R (ACI, 2016). Por meio do comparativo, percebeu-se
que o valor intermediário correspondeu ao determinado nesse trabalho, onde os resultados não
apresentaram discrepâncias tão significativas.
Palavra-Chave: Concreto reforçado com fibras; Teoria de flexão em vigas; Tensão de tração final das fibras;
Orientação preferencial das fibras.

Abstract
Fiber reinforced concrete (FRC) has less crack propagation and its reinforcement promotes an increase in
residual strength for the composite. Based on this, there are regulations that determine aspects of the
mechanical performance of the FRC, however, the portion of the resulting resistant force of the fibers is
determined for situations of random distribution of the fibers, for example. That said, and in order to obtain
this force for a FRC with preferential orientation of the fibers, a study related to these characteristics is
presented, where the establishment of the resultant was obtained from the characterization of the
mechanical behavior of a sample of concrete reinforced with steel fibers (SFRC), which has a volumetric
content of 0.40%, and another sample of concrete reinforced with polymeric fibers (PFRC), which denotes
a volumetric content of 1.00%. According to the study carried out, based on the theory of bending in
beams, the final tensile stress of the fibers in the tensile part of the concrete was determined, where this
value was compared with the results determined according to the fib model code 2010 (FIB, 2013) and with
the ACI 544.8R (ACI, 2016). Through the comparison, it was noticed that the intermediate value
corresponded to that determined in this work, where the results did not present such significant
discrepancies.
Keywords: Fiber reinforced concrete; Theory of bending in beams; Final tensile stress of the fibers; Preferential
orientation of fibers.

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1 Introdução
O concreto fluido por ser caracterizado pela elevada fluidez apresenta-se como um fator
importante ao ser utilizado conjuntamente com a adição de fibras no concreto
(MARTINIE; ROSSI; ROUSSEAL, 2010; MARTINIE; ROUSSEL, 2011). Isso acontece
porque a fluidez do compósito permite que a distribuição das fibras ocorra de maneira
uniforme, sendo possível utilizar o fluxo de lançamento do concreto para orientar as
fibras, permitindo concentrá-las nos locais e nas direções de maiores tensões
(MARTINIE; ROUSSEL, 2011; KANG; KIM, 2012; FERRARA, 2015).
No entanto, a orientação dessas fibras é influenciada por diversos fatores, que vai desde
o procedimento de mistura até a fase final do endurecimento do concreto. Diante disso,
e para o máximo aproveitamento das propriedades do concreto reforçado com fibras,
devem ser adotados processos de produção que induzam essa orientação preferencial
das fibras nos locais submetidos às maiores tensões, pois quanto mais alinhadas às
linhas de tensão, maior será o reforço efetuado pelas fibras no elemento estrutural
(TORRENTS et al., 2012; LARANJEIRA et al., 2012; VASSANELI et al., 2012).
A partir disso, a forma mais simples e comumente adotada de induzir essa orientação
preferencial para as fibras é com o fluxo de lançamento do concreto, levando em
consideração as dimensões das fibras, o processo de lançamento do concreto e as
dimensões dos moldes (FERRARA, 2015; MELO, 2018). Isso acontece porque, para um
concreto fluido reforçado com fibras, existe uma resultante da força de arrasto sobre as
fibras que produz um momento capaz de induzir a orientação preferencial das fibras de
forma paralela ao fluxo, o que permite a governabilidade da dispersão e orientação das
fibras na matriz através de um conjunto adequadamente balanceado de propriedades no
estado fresco (FERRARA; PARK; SHAH, 2007; FERRARA, 2015; MELO, 2018).
Com base nisso, autores como Martinie e Roussel (2011) analisaram a resistência à
tração de concretos que possuíam as fibras preferencialmente orientadas e, por meio
dos seus estudos, perceberam que quando as fibras estavam alinhadas às linhas de
tensão, a eficiência do reforço foi de 100%, enquanto que no caso de dispersão aleatória
das fibras, a eficiência do reforço foi reduzida para 30%. Ademais, outra pesquisa com
resultados semelhantes à de Martinie e Roussel (2011) foi a de Laranjeira et al. (2012),
onde verificou-se que o comportamento mecânico pós-fissuração do concreto que
apresentava uma orientação preferencial das fibras foi bem superior ao que apresentava
uma distribuição aleatória das fibras. Diante disso, o comportamento mecânico de um
concreto que apresenta uma orientação preferencial das fibras, como é o caso de um
concreto fluido reforçado com fibras, pode ser diferente do comportamento mecânico de
um concreto que apresenta as fibras aleatoriamente distribuídas.
Por exemplo, quando as fibras estão aleatoriamente distribuídas na matriz, as cargas
máxima e de fissuração podem ser consideradas estatisticamente equivalentes, quando
no amolecimento (redução gradual dos valores de força abaixo da força de fissuração), a
carga máxima assume valor equivalente a carga de fissuração, e no endurecimento
(aumento inicial dos valores de força F com múltipla fissuração antes de se atingir a
força máxima), a carga máxima assume valor superior a carga de fissuração
(TOLEDO, 1997; DI PRISCO; PLIZZARI; VANDEWALLE, 2009; FIB, 2013). No entanto,
quando os elementos de CRF apresentam fibras com uma orientação preferencial, esse
mesmo comportamento pode não acontecer, pois a depender do tipo e orientação da
fibra utilizada, a carga máxima pode atingir um valor estatisticamente diferente da carga
de fissuração.
Sendo assim, quando as cargas citadas não são estatisticamente equivalentes na
análise de um concreto com orientação preferencial das fibras (como é o caso do
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concreto fluido reforçado com fibras), após o processo de ruptura da matriz, a linha
neutra do elemento pode não corresponder ao valor teórico admitido na literatura para
concretos com distribuição aleatória das fibras, o que, consequentemente, promove
variações no comportamento mecânico pós-fissuração do concreto e nos aspectos de
projeto do elemento estudado (TOLEDO, 1997; DI PRISCO; COLOMBO; DOZIO, 2013).
A partir dessa problemática, e sabendo que as normativas referentes ao CRF, a exemplo
do fib model code 2010 (FIB, 2013), do ACI 544.8R (ACI, 2016) e da
NBR 16935 (ABNT, 2021), não verificam a validade da orientação preferencial das
fibras, o presente trabalho tem como objetivo avaliar a relação existente entre a carga
máxima com a carga de fissuração de uma amostra de concreto reforçado com fibras de
aço (CRFA) e outra amostragem de concreto reforçado com fibras poliméricas (CRFP),
ambos com orientação preferencial das fibras, para posteriormente estabelecer o
posicionamento da linha neutra da estrutura e determinar uma equação preliminar da
tensão de tração final das fibras na parte tracionada desses concretos.

2 Metodologia

2.1 Caracterização e Dosagem dos Materiais


Ao que está relacionado à matriz dos concretos produzidos, foram utilizados os
seguintes materiais: agregado miúdo (areia), agregado graúdo (brita), cimento
(CP V ARI RS), adição mineral (RBMG – resíduo de beneficiamento de mármore e
granito), água e aditivo superplastificante. Ao que se refere ao reforço dos concretos,
utilizou-se fibras de aço para o CRFA e fibras poliméricas para o CRFP, onde as
características dessas fibras estão ilustradas na Tabela 1.

Tabela 1 – Propriedades das fibras de aço e fibras poliméricas, respectivamente.


Fibras de aço Fibras poliméricas
Parâmetro Correspondência Parâmetro Correspondência
Forma Tipo AI Comprimento (mm) 40
Fator de forma 80 Fator de forma 90
Densidade (g/cm³) 7,85 Densidade (g/cm³) 0,92
Módulo de elasticidade Módulo de elasticidade
longitudinal (GPa) 210 longitudinal (GPa) 9,50
Resistência à tração (MPa) 1100 Resistência à tração (MPa) 600 – 650

Ao que está relacionado à dosagem da matriz, a mesma foi determinada a partir de uma
adaptação do método de Gomes et al. (2003) referente a produção de um concreto
fluido. Em relação ao teor de fibras, este parâmetro foi determinado utilizando-se do
conceito de volume crítico de fibras proposto por Bentur e Mindess (1990). Assim, para o
presente trabalho, adotou-se um teor volumétrico de 0,4% para o CRFA e 1,0% para o
CRFP. Após isso, definiu-se o consumo de materiais por m³ para os dois concretos
produzidos (Tabela 2).
Observação: Para mais detalhes da dosagem utilizada neste trabalho, pode-se utilizar
como auxílio o trabalho de Lima (2020).

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Tabela 2 – Consumo de materiais por m³.
Materiais Massa (kg)
Cimento 377,90
RBMG 188,95
Agregado miúdo 774,53
Agregado graúdo 813,75
Água inicial 151,16
Água complementar 37,75
Água de absorção 11,17
Superplastificante 6,30
Para o CRFA
Fibras de aço 25,98
Para o CRFP
Fibras poliméricas 3,78

A partir disso, os concretos foram produzidos conforme o consumo de materiais ilustrado


na Tabela 2 e as produções foram executadas no Laboratório de Estruturas e Materiais
(LEMA) da Universidade Federal de Alagoas (UFAL). Assim, foram produzidas 16 vigas
com 150 x 150 x 550 mm, como recomendado pela EN 14651 (CEN, 2007), das quais
foram 8 vigas de concreto reforçado com fibras de aço (CRFA) e 8 vigas de concreto
reforçado com fibras poliméricas (CRFP), ambos os concretos classificados como fluido.
Após o tempo de cura, as vigas foram caracterizadas a partir do ensaio de flexão a três
pontos.

2.2 Aplicação do Ensaio de Flexão


Para a aplicação do ensaio de flexão a três pontos, normatizado pela
EN 14651 (CEN, 2007), utilizou-se a máquina universal de ensaio Shimadzu (modelo
AG-X Plus), onde o script do ensaio foi previamente configurado no software
Trapezium X (componente que faz parte da máquina de ensaio). Como forma de
ilustração, na Figura 1 pode-se observar como os ensaios foram preparados e
executados.
Observação: Para mais detalhes da preparação e execução do ensaio de flexão utilizado
neste trabalho, pode-se utilizar como auxílio o trabalho de Lima e Barboza (2020).

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Figura 1 – Montagem do experimento (LIMA; BARBOZA, 2020).

Conforme ilustrado em Lima e Barboza (2020) e a partir da Figura 1, pode-se observar o


esquema que representa a montagem do experimento: (1) máquina universal de ensaio
Shimadzu em conjunto com o corpo de prova e LVDTs posicionados; (2) computador
que apresenta o software Trapezium X; e (3) sistema de aquisição Spider 8 juntamente
com o computador que apresenta o software ITOM.
Assim, a partir da aplicação do ensaio de flexão, é possível realizar uma análise gráfica
dos resultados, onde são geradas duas curvas, sendo uma referente à força versus
deslocamento e a outra relacionada à força versus tempo de ensaio (Figura 2), como
proposto pela EN 14651 (CEN, 2007).

Figura 2 – Ilustração dos resultados obtidos pelo ensaio.

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Por meio das curvas ilustradas na Figura 2, observa-se que é possível obter a carga
aplicada no compósito para determinados deslocamentos e que, a partir de tempos pré-
estabelecidos, obtém-se as suas cargas associadas. Para mais, em paralelo a
realização dos ensaios, foram tiradas fotos a cada 10 segundos, tempo pré-estabelecido
em trabalhos anteriores definido pelo Grupo de Concreto Reforçado com Fibras da
UFAL, referentes ao progresso de abertura de fissura dos corpos de prova, com o
objetivo de verificar o tempo de fissuração para cada uma das vigas estudadas.
Diante disso, verificou-se através da análise das imagens, o tempo de fissuração para
cada viga ensaiada a partir da verificação da primeira fissura aparente. Sendo assim, a
partir desse tempo pré-estabelecido, determinou-se por meio dos gráficos a sua carga
associada, onde esta é definida como a carga de fissuração. Outrossim, a aplicação
deste ensaio também fornece os dados referentes a carga máxima aplicada no
compósito, que é o valor correspondente a maior carga suportada. Com isso, pode-se
fazer um estudo comparativo entre as cargas mencionadas e verificar, por meio de uma
análise estatística, a relação existente entre a carga máxima e a carga de fissuração,
para posterior análise do posicionamento da linha neutra da estrutura.
Por fim, ao final da realização dos ensaios, também por meio do software ITOM, foi
gerado um documento para cada viga com os dados de abertura de fissura, em
conformidade com o tempo de execução do ensaio, e com os dados da altura referente
a primeira fissura. Com base nisso, fez-se um estudo de validação numérica desse
comprimento por meio do método dos elementos finitos a partir do software ABAQUS.
Após isso, verificou-se também numericamente o comprimento referente à altura total de
tração e determinou-se analiticamente o posicionamento da linha neutra da estrutura.
Depois, a partir da teoria de flexão em vigas de Euler-Bernoulli, definiu-se uma equação
preliminar referente a tensão de tração final das fibras na parte tracionada do concreto.

3 Resultados e Discussão

3.1 Análise Estatística das Cargas


O conjunto de dados do ensaio de flexão (carga máxima e a carga de fissuração)
referente às vigas com fibras de aço foi tratado individualmente. Assim, para cada
amostra de carga analisada, verificou-se a média, o desvio padrão, a variância e o
coeficiente de variação (Tabela 3).

Tabela 3 – Resultados obtidos de carga máxima e carga de fissuração (CRFA).


Amostra (kN) (kN) Comportamento
V1 19,65 19,63 Endurecimento
V2 19,50 17,33 Endurecimento
V3 25,73 20,50 Endurecimento
V4 25,73 20,33 Endurecimento
V5 25,42 24,33 Endurecimento
V6 17,17 16,83 Endurecimento
V7 16,17 14,67 Endurecimento
V8 17,58 16,67 Endurecimento
Média 20,87 18,79
Desvio padrão 4,10 3,03
Variância 16,84 9,16
Coeficiente de variação (%) 19,67 16,11
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De acordo com os dados apresentados na Tabela 3, e por meio da análise dos gráficos
carga versus deslocamento e carga versus tempo (Figura 2), é possível observar que as
vigas apresentam um comportamento de endurecimento, ou seja, denotam em um certo
tempo uma carga maior do que a carga correspondente a formação da fissura. Isso
significa que, após a formação da primeira fissura na matriz, a redistribuição de esforços
propiciada pelas fibras permitiu o aumento da resistência de pós-fissuração do
compósito, fazendo com que a carga máxima resistida pelo compósito seja maior que a
carga necessária para formar a primeira fissura na matriz (carga de fissuração).
Ainda analisando a Tabela 3, verifica-se que a carga máxima apresenta valores
superiores de dispersão, se comparada com a carga de fissuração. Em relação ao
desvio padrão, que é uma medida de dispersão de observações dentro de um conjunto
de dados, a carga máxima apresenta valor superior e isso significa que os dados da
carga de fissuração são mais homogêneos. Ao que se refere à variância, que descreve a
variabilidade das observações em relação à média aritmética, a carga máxima também
apresenta valor superior e isso significa que os dados da carga de fissuração estão mais
próximos da média. Ao que está relacionado ao coeficiente de variação, que descreve a
variação dos dados em relação à média aritmética, a carga máxima também apresenta
valor superior e isso significa que os dados da carga de fissuração apresentam menor
dispersão em torno da média.
Em síntese, a carga máxima apresenta uma maior variabilidade dos dados e,
consequentemente, denota uma maior dispersão de valores referentes às variáveis.
Além disso, a carga máxima apresenta valor superior, se comparada com a carga de
fissuração, e isto ocorre devido ao alto módulo de elasticidade que as fibras de aço
apresentam. Este fato pode ser explicado porque esse tipo de fibra é pouco deformável
e colabora para enrijecer o compósito no pós-fissuração, mostrando que, mesmo após a
formação da primeira fissura na matriz (que corresponde a carga de fissuração), pode
ocorrer uma redistribuição de esforços propiciada pelas fibras, devido a aderência fibra-
matriz, que promove um incremento na carga suportada pelo compósito e refere-se a
carga máxima (BLANCO, 2013).
A partir dessa análise, pode-se verificar que para a amostra analisada, quando a viga
apresenta comportamento de endurecimento e a fibra apresenta alto módulo de
elasticidade, a carga máxima pode assumir valor superior a carga de fissuração, no
entanto, ainda não se sabe se há ou não uma equivalência estatística dessas cargas.
Assim, para a aplicação adequada de testes de homogeneidade de médias para avaliar
se há ou não essa equivalência estatística, fez-se preliminarmente um estudo referente
a normalidade dos dados das amostras.
Para a avaliação da normalidade dos dados das amostras, utilizou-se como auxílio o
teste de Jarque-Bera e foi adotado um nível de significância de 5%. A partir da aplicação
desse teste, o Valor-p resultou em 0,45 para a carga máxima e 0,76 para a carga de
fissuração. Assim, nota-se que para ambos os parâmetros analisados, o Valor-p > α e
conclui-se que os dados seguem uma distribuição normal.
Dando continuidade à análise relacionada ao comportamento das cargas, para aplicação
adequada de testes de homogeneidade de médias, analogamente ao mostrado para a
normalidade dos dados, fez-se um estudo referente a homocedasticidade dos dados das
amostras (análise da equivalência das variâncias). Como foi demonstrado que os dados
seguem uma distribuição normal (para ambos os parâmetros analisados), utilizou-se
como auxílio o teste de Bartlett e foi adotado um nível de significância de 5%. A partir da
aplicação desse teste, o Valor-p resultou em 0,44 e nota-se que o Valor-p > α. Assim,
conclui-se que as variâncias das cargas analisadas são equivalentes.
Diante do exposto, pode-se verificar tanto a normalidade quanto a homocedasticidade
dos dados analisados. Sendo assim, para avaliar a homogeneidade das amostras,
utilizou-se como auxílio o teste t e foi adotado um nível de significância de 5%. A partir
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da aplicação desse teste, o Valor-p resultou em 0,267 e nota-se que o Valor-p > α.
Assim, conclui-se que as cargas são equivalentes estatisticamente, ou seja, as amostras
provêm de uma população igualmente distribuída, pois a diferença não é
estatisticamente significativa.
Dessa forma, apesar das diferenças mostradas anteriormente nas análises, percebe-se
a partir da aplicação desse teste que os dois parâmetros apresentam uma
homogeneidade nas amostras, fazendo com que não exista uma diferença
estatisticamente significativa entre a carga máxima e a carga de fissuração, garantindo
que as cargas analisadas possuam funções de distribuição iguais.
Dando continuidade, e de maneira análoga ao mostrado anteriormente, fez-se o mesmo
procedimento de análise estatística das cargas para o CRFP. Sendo assim, o conjunto
de dados do ensaio de flexão (carga máxima e a carga de fissuração) referente às vigas
com fibras poliméricas foi tratado individualmente. Assim, para cada amostra de carga
analisada, verificou-se a média, o desvio padrão, a variância e o coeficiente de variação
(Tabela 4).

Tabela 4 – Resultados obtidos de carga máxima e carga de fissuração (CRFP).


Amostra (kN) (kN) Comportamento
V1 16,92 6,33 Amolecimento
V2 14,42 5,33 Amolecimento
V3 14,92 4,42 Amolecimento
V4 14,42 4,17 Amolecimento
V5 15,17 4,17 Amolecimento
V6 14,67 5,17 Amolecimento
V7 14,33 5,33 Amolecimento
V8 15,17 4,83 Amolecimento
Média 15,00 4,97
Desvio padrão 0,84 0,73
Variância 0,71 0,54
Coeficiente de variação (%) 5,62 14,76

Em observação da Tabela 4, verifica-se que a carga máxima apresenta valores


superiores de desvio padrão e variância, no entanto, o coeficiente de variação referente
a carga de fissuração é maior. Em relação ao desvio padrão, a carga máxima apresenta
valor superior e isso significa que os dados da carga de fissuração são mais
homogêneos. Ao que se refere à variância, a carga máxima também apresenta valor
superior e isso significa que os dados da carga de fissuração estão mais próximos da
média. E ao que está relacionado ao coeficiente de variação, a carga de fissuração
apresenta valor superior e isso significa que os dados da carga máxima apresentam
menor dispersão em torno da média.
Ademais, em observação da Tabela 4, pode-se verificar que os valores de carga máxima
são bem superiores à carga de fissuração. Assim, a fim de investigar essas grandes
variações, analisou-se o gráfico carga versus tempo (Figura 2) de cada uma das vigas, e
foi possível observar que, para o tempo correspondente a carga de fissuração, a matriz
já havia rompido e atingido anteriormente a sua carga máxima.
Dessa forma, sabendo que as vigas com fibras poliméricas apresentam comportamento
de amolecimento, após atingir a carga máxima, ocorre um amolecimento da matriz que
representa uma perda gradual de resistência, onde isso mostra que, para o tempo
correspondente a carga de fissuração, os valores referentes a esse parâmetro são
menores porque o elemento já havia rompido. Ou seja, o elemento atingiu a carga
máxima, mas só fissurou depois e esse retardamento das fissuras acontece porque as
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fibras poliméricas promovem um aumento na capacidade de deformação, o que permite
um melhor controle da velocidade de propagação das fissuras (TANESI, 1999).
A partir dessa análise, pode-se verificar para a amostra analisada, que apesar do
comportamento de amolecimento, quando a fibra apresenta baixo módulo de
elasticidade e o elemento apresenta uma orientação preferencial das fibras, a carga
máxima pode assumir valor superior a carga de fissuração, no entanto, ainda não se
sabe se há ou não uma equivalência estatística dessas cargas. Assim, para a aplicação
adequada de testes de homogeneidade de médias para avaliar se há ou não essa
equivalência estatística, fez-se preliminarmente um estudo referente a normalidade dos
dados das amostras.
Para a avaliação da normalidade dos dados das amostras, utilizou-se como auxílio o
teste de Jarque-Bera e foi adotado um nível de significância de 5%. A partir da aplicação
desse teste, o Valor-p resultou em 0,002 para a carga máxima e 0,710 para a carga de
fissuração. Assim, nota-se que o Valor-p < α para a carga máxima e conclui-se que os
dados não seguem uma distribuição normal e que o Valor-p > α para a carga de
fissuração e conclui-se que os dados seguem uma distribuição normal.
Dando continuidade à análise relacionada ao comportamento das cargas, para aplicação
adequada de testes de homogeneidade de médias, analogamente ao mostrado para a
normalidade dos dados, fez-se um estudo referente a homocedasticidade dos dados das
amostras. Assim, como a aplicação do teste de homocedasticidade avalia a variância
das duas amostras em conjunto, preferiu-se considerar que as amostras não se
enquadram no comportamento de uma distribuição normal (uma vez que a carga
máxima não apresenta uma normalidade nos dados).
Dessa forma, utilizou-se como auxílio o teste de Levene e foi adotado um nível de
significância de 5%. A partir da aplicação desse teste, o Valor-p resultou em 0,97 e nota-
se que o Valor-p > α. Assim, conclui-se que as variâncias das cargas analisadas são
equivalentes. Sendo assim, em síntese, as variâncias das cargas analisadas são
equivalentes e verifica-se que os dados não seguem uma distribuição normal para a
carga máxima e que os dados seguem uma distribuição normal para a carga de
fissuração.
Dando continuidade, para avaliar a homogeneidade das amostras, como a aplicação dos
testes de homogeneidade de médias avalia as amostras em conjunto, preferiu-se
também considerar para a análise das médias que as amostras não se enquadram no
comportamento de uma distribuição normal (uma vez que a carga máxima não
apresenta uma normalidade nos dados).
Sendo assim, para avaliar a homogeneidade das amostras, utilizou-se como auxílio o
teste de Mann-Whitney e foi adotado um nível de significância de 5%. A partir da
aplicação desse teste, o Valor-p resultou em 0,0002 e nota-se que o Valor-p < α. Assim,
conclui-se que as cargas não são equivalentes estatisticamente, ou seja, as amostras
não provêm de uma população igualmente distribuída, pois a diferença é
estatisticamente significativa.
Diante disso, em conformidade com Di Prisco, Colombo e Dozio (2013), quando os
elementos denotam amolecimento e as fibras estão distribuídas aleatoriamente na
matriz, a carga máxima equivale a carga de fissuração, no entanto, esse comportamento
não ocorreu para as vigas ensaiadas neste trabalho. A partir das análises, pode-se
verificar que, quando a viga apresenta comportamento de amolecimento e a fibra denota
baixo módulo de elasticidade (apresentando uma orientação preferencial), a carga
máxima pode assumir valor superior a carga de fissuração, pois o elemento pode atingir
a carga máxima, mas só fissurar depois devido ao retardamento das fissuras.
A partir do exposto, pode-se verificar comportamentos distintos aos descritos na
literatura. Assim, para dar continuidade ao presente trabalho, deve-se fazer um estudo
referente ao posicionamento da linha neutra tanto para as vigas com fibras de aço
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quanto para as vigas com fibras poliméricas, pois a diferença entre as cargas analisadas
pode comprometer os aspectos de projeto considerados nas normativas.

3.2 Definição do Posicionamento da Linha Neutra


O posicionamento da linha neutra da estrutura pode ser obtido através da definição dos
indicadores a e c (Figura 3), em que o primeiro corresponde à altura de tração da
resposta plástica (comprimento longitudinal da primeira fissura aparente) e o segundo
equivale à altura de tração da resposta elástica. Para isso, inicialmente, definiu-se
analiticamente para cada uma das vigas analisadas a altura referente a primeira fissura
aparente, que representa à altura de tração da resposta plástica (Tabela 5), e fez-se um
estudo de validação numérica desse comprimento.

Figura 3 – Elemento estrutural analisado (MOBASHER; YAO; SORANAKOM, 2015).

Tabela 5 – Altura referente a primeira fissura para as vigas de CRFA e CRFP, respectivamente.
CRFA CRFP
Altura Altura Altura Altura
Viga (px) (mm) Viga (px) (mm)
V1 656 42,50 V1 771 50,00
V2 769 49,80 V2 744 48,20
V3 808 52,40 V3 744 48,20
V4 823 53,30 V4 726 47,00
V5 780 50,50 V5 735 47,60
V6 702 45,50 V6 767 49,70
V7 810 52,50 V7 756 49,00
V8 764 49,50 V8 787 51,00
Média 49,50 Média 48,84
Desvio padrão 3,74 Desvio padrão 1,34

De acordo com os dados dispostos na Tabela 5 referentes ao CRFA, observa-se que a


altura da primeira fissura da amostra equivale a uma média de 49,50 mm com desvio
padrão de 3,74 mm (49,50 3,74 mm). Ainda analisando os dados ilustrados na mesma
Tabela, ao que se refere ao CRFP, verifica-se que a altura da primeira fissura da
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amostra equivale a uma média de 48,84 mm com desvio padrão de 1,34 mm
(48,84 1,34 mm). A fim de estabelecer um valor que represente tanto as vigas com
fibras de aço quanto as poliméricas, utilizou-se os dois intervalos especificados, em que
foi estabelecido o valor referente à altura da primeira fissura correspondente à 50 mm.
Com essa definição, fez-se um estudo de validação desse comprimento de forma
numérica (a partir do software ABAQUS), em que foi observado o tipo de solicitação que
a peça estava sofrendo a essa determinada altura. Sendo assim, verificou-se que a
partir dos pontos de evolução de tensão ao longo da fissura (com a altura investigada de
50 mm) em função do tempo de ensaio, todos os valores de tensão deram positivos, e
isso significa que para a altura de tração correspondente a 50 mm só ocorre tensão de
tração ao longo da fissura. Em análise disso, esse comportamento já era esperado, pois
a altura utilizada como estudo corresponde à altura de tração referente a resposta
plástica e tensões de compressão ainda não existem, o que valida o comportamento da
altura de tração determinada referente a resposta plástica.
Sendo assim, com o objetivo de determinar o posicionamento da linha neutra da
estrutura, fez-se essa mesma análise para outras alturas pré-determinadas (62,5 mm,
75 mm, 87,5 mm, 100 mm, 112,5 mm e 125 mm), onde foi observado o tipo de
solicitação que a peça estava sofrendo à essas alturas. Essas alturas foram definidas
em função do comprimento de tração referente a resposta plástica e seguiram um
padrão de incremento de 12,5 mm (correspondente a metade da altura do entalhe
realizado nas vigas ensaiadas), e os resultados referentes a esse estudo estão
ilustrados na Tabela 6.

Tabela 6 – Valores de tensão nas bordas referentes às alturas pré-estabelecidas.


Centroide (mm) Tração Compressão Variação (%)
62,5 Só tração –
75 0,013 0,013 0,0
87,5 0,014 0,007 +100,0
100 0,051 0,029 +75,9
112,5 0,019 0,036 - 47,2
125 Só compressão –

Analisando os dados ilustrados na Tabela 6, observa-se que, de modo geral, todos os


valores de tensão podem ser considerados nulos, pois estes resultados tendem a zero e
o maior número de casas decimais foi utilizado para investigar as variações entre as
tensões de tração e compressão nas bordas referentes às alturas pré-estabelecidas.
Para a altura correspondente a 62,5 mm, só existe solicitação de tensão de tração; para
a altura de 75 mm, a tensão de tração foi equivalente a tensão de compressão; para as
alturas de 87,5 mm e 100 mm, a tensão de tração foi maior que a tensão de compressão
em torno de 100% e 76%, respectivamente; para a altura de 112,5 mm, a tensão de
compressão foi superior a tensão de tração em torno de 47%; e, para a altura
equivalente a 125 mm, só existe solicitação de tensão de compressão.
Diante disso, sabe-se que para as alturas correspondentes a 62,5 mm e 125 mm, o eixo
neutro não se encontra posicionado nesses comprimentos, pois nessas bordas há a
predominância de um único tipo de solicitação de tensão (ou somente compressão ou
somente tração). Isso acontece porque deve existir os dois tipos de solicitação para que
possa ser considerado o eixo neutro da estrutura, pois é nesse posicionamento que
ocorre a separação da parte tracionada da parte comprimida do elemento. Para as
demais alturas investigadas (75 mm, 87,5 mm, 100 mm e 112,5 mm), verifica-se que há
os dois tipos de solicitações e que a altura limite para que ocorra esse tipo de
comportamento é a de 112,5 mm. Assim, para investigar a altura correspondente a
profundidade do eixo neutro da estrutura, verificou-se a correspondente abertura de
fissura para cada uma das alturas que apresentava os dois tipos de solicitações (75 mm,
87,5 mm, 100 mm e 112,5 mm).
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A partir disso, verificou-se que para as alturas do centroide equivalentes a 75 mm,
87,5 mm e 100 mm, a abertura de fissura ( ) para todas as vigas analisadas foi aferida
no estado limite de serviço, pois 1,5 mm ≤ < 2,5 mm. De maneira análoga, para a
altura do centroide equivalente a 112,5 mm, a abertura de fissura ( ) para todas as
vigas analisadas foi aferida no estado limite último, pois 2,5 mm ≤ < 3,5 mm. Diante
disso, constata-se que a única abertura de fissura medida no estado limite último foi a
equivalente à altura de 112,5 mm e as demais aberturas foram aferidas no estado limite
de serviço (para as alturas 75 mm, 87,5 mm e 100 mm). Dessa forma, considerando
como parâmetro o estado limite último do elemento (estádio III e abertura de fissura
≥ 2,5 mm), verificou-se que a altura do centroide equivalente a 112,5 mm
corresponde ao posicionamento da linha neutra da estrutura do CRF analisado.
Portanto, pode-se afirmar que a distância da linha neutra até a parte mais comprimida do
elemento e a distância da linha neutra até a parte mais tracionada do elemento é,
respectivamente, x = 37,5 mm e y = 112,5 mm.

3.3 Tensão de Tração Final das Fibras


Após estabelecer o posicionamento da linha neutra da estrutura, determinou-se a tensão
de tração final das fibras na parte tracionada do concreto e essa análise está disposta a
seguir. Para seções reforçadas com fibras + armaduras, com área de armadura
≥ 0,15% da área da seção transversal (A) e < 4% da área da seção transversal
(A), a representação da seção transversal da viga utilizada no ensaio, o respectivo
diagrama de deformações e a distribuição das resistências da seção de CRF está
ilustrada na Figura 4.
Observação: a viga utilizada neste trabalho tem seção transversal de 150 mm 150 mm
(base altura) e a distribuição de tensões no concreto foi feita de acordo com o
diagrama parábola-retângulo ilustrado na seção 8.2.10.1 da NBR 6118 (ABNT, 2014).
Sendo assim, foram utilizados os seguintes parâmetros: = 0,8 e = 0,85 para
concretos de classes até C50. Além disso, essa mesma idealização do diagrama de
tensões no CRF está ilustrada no fib Model Code 2010 (FIB, 2013) e na
NBR 16935 (ABNT, 2021).

Figura 4 – Representação da seção transversal do elemento, diagrama de deformações com medidas de


profundidade da linha neutra e detalhamento e simplificação das respectivas resistências.

Dando continuidade, por meio da Figura 4, fez-se um estudo referente a determinação


da tensão de tração final das fibras do CRF ( ) e essa hipótese está representada na
Equação 1. Para tal investigação, aplicou-se a Teoria de Euler-Bernoulli e por meio do
equilíbrio da seção, fez-se o estudo referente a determinação do . Ademais, vale
salientar que essa tensão foi determinada considerando como parâmetro o estado limite
último (Estádio III) do elemento analisado.
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(Equação 1)

Sendo → : tensão de tração final das fibras na parte tracionada do concreto (kPa);
: tensão de escoamento do aço (MPa); : momento fletor resistente de
cálculo (kN.m); : área de aço da armadura longitudinal (m²); : base da seção
transversal (m); c: cobrimento nominal (m); : diâmetro da armadura transversal (m);
: diâmetro da armadura longitudinal (m); x: distância da linha neutra da estrutura até a
parte mais comprimida do elemento (m); y: distância da linha neutra da estrutura até a
parte mais tracionada do elemento (m).

Com o objetivo de verificar a Equação 1 e fazer a sua validação preliminar, a mesma foi
comparada com as Equações determinadas em conformidade com o
fib model code 2010 (FIB, 2013) e de acordo com o ACI 544.8R (ACI, 2016),
respectivamente. Para isso, foram adotados os mesmos parâmetros necessários para as
equações e os resultados encontrados estão dispostos na Tabela 7.
Observação: Fez-se a análise da variação da tensão de tração obtida a partir da
equação determinada no estudo analítico deste trabalho em relação à tensão
determinada por meio das normatizações internacionais.

Tabela 7 – Tensão de tração final das fibras (CRFA e CRFP, respectivamente).


CRFA
Parâmetro de análise Tensão de tração (MPa) Variação (%)
Estudo analítico 3,03 -
fib model code 2010 (FIB, 2013) 2,64 12,85
ACI 544.8R (ACI, 2016) 3,58 -18,08
CRFP
Parâmetro de análise Tensão de tração (MPa) Variação (%)
Estudo analítico 2,18 -
fib model code 2010 (FIB, 2013) 1,91 12,52
ACI 544.8R (ACI, 2016) 3,05 -39,74

Analisando os dados da Tabela 7, pode-se verificar que, ao comparar a tensão de tração


final do CRFA obtida pelo estudo analítico com a determinada em conformidade com o
fib model code 2010 (FIB, 2013), o valor pelo primeiro método é maior que o segundo
em torno de 12%. No entanto, ao contrastar o resultado do estudo analítico com o
definido de acordo com o ACI 544.8R (ACI, 2016), o primeiro resultou em um valor
menor que o segundo em torno de 18%. A partir disso, nota-se que os resultados
apresentam variações, mostrando que os valores não se igualaram para nenhuma
análise. Ainda, percebe-se que ao comparar os três métodos utilizados, o valor
intermediário corresponde ao determinado analiticamente neste trabalho, onde esse
resultado está entre o valor obtido pelas duas normatizações internacionais.
Em paralelo, observa-se também pela Tabela 7 que, ao comparar a tensão de tração
final do CRFP obtida pelo estudo analítico com a determinada em conformidade com o
fib model code 2010, (FIB, 2013), o valor pelo primeiro é maior que o segundo em torno
de 12%. No entanto, ao contrastar o resultado do estudo analítico com o definido de
acordo com o ACI 544.8R (ACI, 2016), o primeiro resultou em um valor menor que o
segundo em torno de 39%. Isso mostra que ao comparar os três métodos utilizados no
cálculo de tensão de tração final do CRFP, o valor intermediário corresponde ao
determinado analiticamente neste trabalho. Ademais, percebe-se que as variações
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observadas foram mais significativas, se comparadas com as verificadas na análise do
CRFA, onde a maior analisada fica em torno de 39%.
Diante disso, percebe-se que o resultado definido pelo fib model code 2010 (FIB, 2013)
resulta em um valor menor e o estabelecido pelo ACI 544.8R (ACI, 2016) em um valor
maior, se comparados com o analítico, e isso pode ser justificado pela adoção dos
parâmetros estabelecidos por suas respectivas equações. Em síntese, os parâmetros
que foram inseridos na equação determinada pelo fib model code 2010 (FIB, 2013) são,
de modo geral, referentes a resistência à flexão do compósito (que são determinadas
por meio do ensaio de flexão), enquanto que os parâmetros solicitados pela equação
definida no ACI 544.8R (ACI, 2016) são relacionados tanto a resistência à flexão do
compósito quanto as características intrínsecas do material, o que pode justificar as
maiores discrepâncias encontradas.

4 Conclusões
De acordo com a investigação feita, verificou-se que para as vigas de CRFA, quando o
elemento apresenta comportamento de endurecimento e a fibra apresenta alto módulo
de elasticidade (apresentando uma orientação preferencial), a carga máxima pode
assumir valor superior a carga de fissuração. Além disso, constatou-se a partir da
aplicação adequada de testes estatísticos que para a amostra estudada não existe uma
diferença estatisticamente significativa entre a carga máxima e a carga de fissuração.
Em relação às vigas de CRFP, observou-se que, quando a viga apresenta
comportamento de amolecimento e a fibra denota baixo módulo de elasticidade
(apresentando uma orientação preferencial), a carga máxima pode assumir valor
superior a carga de fissuração. Além disso, constatou-se a partir da aplicação adequada
de testes estatísticos que para a amostra estudada existe uma diferença
estatisticamente significativa entre a carga máxima e a carga de fissuração.
A partir disso, verificou-se que ao utilizar a orientação preferencial das fibras no
compósito, a carga máxima pode atingir um valor estatisticamente diferente da carga de
fissuração, como aconteceu para as vigas de CRFP. Após isso, baseado nessas
diferenças estatísticas entre as cargas, foi estabelecido o posicionamento da linha
neutra da estrutura de uma amostra de CRFA e outra amostragem de CRFP
(considerando que os compósitos apresentam uma orientação preferencial das fibras)
para posterior determinação de uma equação para a tensão de tração final das fibras na
parte tracionada desses concretos.
Após o estabelecimento da equação referente à tensão de tração final das fibras, essa
equação foi comparada com as equações determinadas em conformidade com o
fib model code 2010 (FIB, 2013) e de acordo com o ACI 544.8R (ACI, 2016). A partir do
comparativo, percebeu-se que ao comparar os três métodos utilizados, de modo geral,
os resultados não apresentaram discrepâncias tão significativas e que o valor
intermediário correspondeu ao determinado analiticamente, onde os valores
apresentaram variações devido as diferentes formas de arranjo que cada método utiliza.
Ademais, a análise também ilustrou o aspecto conservador do modelo americano para
previsão da tensão de tração das fibras na parte tracionada do concreto com fibras.
Sendo assim, pode-se dizer que o presente trabalho alcançou as metas sugeridas
inicialmente, onde foi avaliada a relação existente entre a carga máxima com a carga de
fissuração de uma amostra de concreto reforçado com fibras de aço (CRFA) e outra
amostragem de concreto reforçado com fibras poliméricas (CRFP), e posteriormente foi
estabelecido o posicionamento da linha neutra da estrutura e determinada

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analiticamente uma equação preliminar para a tensão de tração final das fibras na parte
tracionada de um concreto com orientação preferencial das fibras.

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