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UNIVERSIDADE FEDERAL DE SÃO CARLOS

CAMPUS LAGOA DO SINO


CENTRO DE CIÊNCIAS DA NATUREZA
ENGENHARIA AMBIENTAL

Título do Trabalho (Pré-Projeto)

Prof. Dr. Jonathan Gazzola


Ricardo Manoel Romão, RA: 727197

Buri
2021
Sumário

1. Introdução

Os materiais com características fibrosas são considerados polifásicos por


possuírem duas fases básicas distintas, sendo elas as fibras e a matriz onde as
fibras se encontram embutidas. As fibras atuam como reforço mecânico da matriz,
possuindo normalmente um volume bem menor ao dela. Se tratando da construção
civil, as matrizes mais utilizadas são as definidas como frágeis, ou seja, as que se
rompem sem deformação plástica, geralmente são argamassas, pastas e concretos
aglomerantes minerais (AGOPYAN, 1993) (MONTEIRO, 2006).
Utilizando a adição de fibras nas matrizes é possível se atingir melhoras nas
propriedades mecânicas dos materiais, como por exemplo resistência à flexão,
resistência à tração e ao impacto. O principal benefício que se pode obter
reforçando uma matriz frágil com fibras é ocasionar a alteração no comportamento
que aquele material teria após sua fissura, assim, o material sofre uma significativa
deformação plástica antes antes do rompimento, caso o contrário, o material se
romperia imediatamente após o início da fissuração da matriz. De forma a garantir
essa alteração, é necessário a determinação de formatos, comprimentos e volumes
de fibras adequados, sendo tais valores objetos de diversas pesquisas e estipulação
de modelos teóricos (AGOPYAN, 1993) (MONTEIRO, 2006).
O emprego de fibras para reforçar materiais não é algo novo no setor da
construção civil, datando desde o antigo Egito, onde os materiais vernaculares
conhecidos como adobes e também os tijolos eram reforçados com as raízes das
plantas. O cimento-amianto é considerado o primeiro material reforçado com fibras a
ser produzido em escala industrial, ocupando até hoje um lugar de destaque, apesar
dos riscos de exposição prolongada. Por mais que os materiais fibrosos tenham sido
desenvolvidos pensando inicialmente na construção civil, outras áreas da
engenharia obtiveram diversos avanços no embasamento científico para produção
desses materiais, podemos ressaltar como exemplos as indústrias naval,
aeronáutica, bélica e mecânica, principalmente devido aos acontecimentos da
segunda guerra mundial. Graças a esse fato, existem diversos estudos sobre
matrizes poliméricas e metálicas (AGOPYAN, 1993).
A partir da década de 1960, com a descoberta dos problemas de saúde
derivados da aplicação do amianto na construção civil e das consequentes
restrições impostas ao seu uso, a engenharia civil volta a estudar a aplicação dos
materiais fibrosos procurando uma alternativa para o amianto. Assim, o engenheiro
civil dinamarques Herbert Krenchel detém os créditos sobre a tese que é
considerada pioneira nos estudos dos materiais fibrosos dentro da construção civil,
provendo base para a teoria dos compósitos de matrizes frágeis (KRENCHEL,
1964). Na década de 1970, os estudos de materiais fibrosos, com a elaboração de
fibras de vidro resistentes a álcalis, se concentraram no desenvolvimento de
cimento reforçados com essas fibras. Em 1980, foram constatadas restrições de
durabilidade desses materiais, dessa os estudos voltaram-se as fibras metálicas,
nessa época diversas fibras de aço baratas e eficientes foram disponibilizadas para
comercialização no mercado. O estudo de fibras para o reforço de matrizes no
Brasil teve sua origem em 1980 com o trabalho realizado pelo Centro de Pesquisa e
Desenvolvimento (CEPED) na cidade de Camaçari, Bahia (AGOPYAN, 1993).
No setor da construção civil as matrizes geralmente utilizadas são as frágeis,
sendo concretos, argamassas e pastas, onde as propriedades básicas podem ser
encontradas na tabela abaixo.

Tabela 1 - Propriedades das Matrizes

Massa Módulo de Resistência


Deformação na
Matriz Específica Deformação à Tração
Ruptura (%)
(Kg/m³) (GPa) (MPa)

Pasta de Cimento
2000-2200 10-25 3-6 0,01-0,05
Portland

Pasta de Gesso 1600-1800 2-3 2-3 0,2-0,3

Argamassa de
2100-2200 25-35 2-4 0,005-0,015
Cimento Portland

Concreto de
2200-2400 30-40 1-4 0,005-0,015
Cimento Portland

Fonte: (AGOPYAN, 1993)


As fibras mais utilizadas são as de vidro, de amianto crisotila, de propileno,
de aço de alta resistência e as de cocô. As propriedades dessas fibras podem ser
encontradas na tabela a seguir.

Tabela 2 - Propriedades das Fibras


Módulo de Resistência Alongamento
Diâmetro Comprimento Densidade
Fibras Elasticidade à Tração na Ruptura
(Micrômetro) (mm) (Kg/m³)
(GPa) (MPa) (%)

Amianto
0,02-30 <40 2500 164 200-1800 2-3
Crisotila
Vidro Tipo E 8-10 10-50 2540 72 3500 4,8
Vidro
Resistente a
12,5 10-50 2540 80 2500 3,6
Álcalis (Sem
Filamentos)
Aço 100-600 10-60 7860 200 700-2000 3,5
Polipropileno
500-4000 20-75 900 Até 8 400 8
Fibrilado
Côco 300 10-200 1000 6 100 40
Fonte: (AGOPYAN, 1993)

O Brasil também desenvolveu suas fibras para reforço, estando suas


propriedades dispostas na tabela a seguir.

Tabela 3 - Fibras Brasileiras

Produç
Módulo Alonga
ão
Compri Resistênci de mento Celul
Diâmetro Brasilei Preço
Fibra mento a à Tração Elasticid na ose
(mm) ra (US$/ton)
(mm) (MPa) ade Ruptura (%)
(Gton/
(GPa) (%)
ano)
Coco 0,21 - 0,37 10 - 200 99 - 116 1,5 - 4,2 23 - 43 50 2 150
Sisal 0,28 - 0,40 30 - 100 275 - 350 15 5 66 0,25 100 - 200
Papel
- 1-2 300 - 500 10 - 40 - 100 0,21 150 - 200
Jornal
5,1 -
Bambu - 2,3 - 3,5 73 - 505 3,2 - - -
24,6
Vários
Juta 0,02 - 0,1 230 - 3,7 - 6,5 70 - -
Metros
0,009 -
Malva 1,5 - 5 230 - 5 70 0,25 -
0,12
500 -
Piaçava 5 140 5,6 6 - 0,1 -
600
Fonte: (AGOPYAN, 1993)

2. Justificativa

3. Objetivos

3.1. Gerais
Compreender os conceitos relativos à determinação do comprimento crítico
de uma fibra. Assimilar e reproduzir os métodos relativos ao ensaio de pullout, os
aplicando para o desenvolvimento de materiais alternativos.
3.2. Específicos

4. Metodologia da Pesquisa

4.1. Diferentes Interpretações para o Ensaio de Pullout

Materiais compósitos, são aqueles formados por duas ou mais fases onde
essas possuem diferentes propriedades físicas e químicas. Dentre eles, aqueles
considerados mais importantes no âmbito tecnológico são os que demonstram
possuir fase dispersa, com matriz contínua, possuindo forma de fibras. Compósitos
reforçados com fibras apresentam vantagens como incrivelmente elevados módulos
de elasticidade e de índices de resistência mecânica quando comparados com
materiais de densidade semelhante (HULL; CLYNE, 1981).
A eficiência da ligação da fibra com a matriz, juntamente com a influência do
comprimento desta, são importantíssimos para garantir valores altos de rigidez e de
resistência para o compósito. Quando as fibras são muito curtas, isso acaba
resultando em uma transmissão com pouca eficiência da carga externa aplicada
sobre a matriz contínua. Logo, existe a necessidade de um comprimento crítico (lc)
mínimo da fibra para que assim ocorra uma transmissão efetiva dos esforços.
Assim, é possível se assegurar que existam maiores rigidez e resistência na direção
em que a fibra está se alinhando (MONTEIRO, 2006).
São diversas as metodologias sugeridas para determinação do lc, dentre elas
vale destacar as pesquisas desenvolvidas por Kelly e Tyson (1965), Hull e Clyne
(1981) e Yue et al (1995).
Kelly e Tyson (1965) estabeleceram um lc, que tem que ser excedido para
que ocorra o rompimento da fibra, sem que ocorra o escorregamento por entre a
matriz. Caso o valor determinado seja abaixo do lc, não ocorre uma transmissão
efetiva de carga da matriz para a fibra, assim não ocorreria o rompimento e dessa
maneira, a falha do compósito seria regida pela resistência da matriz ou da
interface, dessa forma, prevalecendo a que tiver o valor mais baixo. Valores que têm
o comprimento de fibra menor que o crítico, geralmente ocorre falha da interface
com o desacoplamento ou “debonding” da fibra. O valor do comprimento crítico
pode ser expresso pela equação abaixo:

𝑑 * σ𝑓
𝑙𝑐 = 2𝑡

Equação 1. Comprimento crítico de fibra. Fonte: MONTEIRO, 2006.

Onde:
● d é o Diâmetro da Fibra;
● σf é Resistência a Tração;
● t é a Tensão de Cisalhamento.

No caso da presença de uma matriz metálica, a tensão cisalhante seria


relativa à resistência da própria matriz (tm). Em caso da presença de matriz
polimérica, ela seria relativa a resistência do cisalhamento da interface entre fibra e
matriz (ti).
Em outra dedução do comprimento crítico, proposta por Hull e Clyne (1981),
o valor de lc foi reduzido pela metade, pois foi substituído o raio pelo diâmetro da
fibra.
𝑟 * σ𝑓
𝑙𝑐 = 2𝑡

Equação 2. Comprimento crítico em função do raio. Fonte: MONTEIRO, 2006.

Onde:
r é o Raio da Fibra.

O valor do comprimento crítico atua como um parâmetro que indica a


situação da fibra. Dessa forma, fibras contínuas geralmente acabam por possuir um
comprimento 15 vezes maior que o lc, onde l > lc. O comprimento crítico de uma
determinada fibra aplicada como reforço para uma matriz possibilita, por meio da
Equação 2, o cálculo da tensão cisalhante na interface fibra-matriz. O valor
determinado da tensão na interface está ligado à eficiência da ligação molecular,
atômica ou polar entre a superfície da fibra e a matriz. Como esta ligação dá caráter
ao grau de acoplamento entre as fases do material compósito, a determinação do
valor relativo a tensão de cisalhamento é de importância intrínseca para o projeto de
um material composto reforçado com determinada fibra.
A tensão cisalhante pode ser obtida por meio de cálculos teóricos ou através
de experimentos de determinação do comprimento crítico, dessa forma obtendo o
valor de t para as equações. Dentre os ensaios para essa determinação, existe o
denominado de pullout, onde é determinado, de maneira relativamente simples, o
comprimento crítico da fibra. Durante o ensaio de pullout a fibra é embutida até um
determinado comprimento (L) em uma cápsula do material que atua simulando a
matriz do compósito testado. Em seguida, o conjunto é submetido à força de tração
por meio de garras da máquina que prendem a ponta livre da fibra e a outra
extremidade da cápsula. Quando os valores de L são muito baixos, a fibra acaba
por escorregar de dentro da cápsula, logo esses valores estão abaixo do lc. Quando
temos L = lc, ocorre o rompimento da fibra sem que haja o escorregamento. Um
gráfico similar ao da imagem abaixo pode ser utilizado para obtenção do lc e
consequentemente o valor de t por meio da equação 2.
Figura 1. Esquema do Ensaio de Pullout. Fonte: MONTEIRO, 2006.

Porém, nem sempre é possível que ocorra a obtenção de gráficos simples


similares a figura 1.Tal dificuldade é geralmente associada a fibras lignocelulósicas
quando embutidas em polímeros, isso ocorre devido à uma grande dispersão
estatística dos resultados apresentados (MONTEIRO, 2006).
A interpretação de um ensaio de pullout é relativa à forma ao qual se
determina o valor do comprimento crítico, ou demais possíveis parâmetros, por meio
do gráfico experimental da variação da tensão com o comprimento embutido. Como
ponto de partida, como mostrado na figura 1, lc seria adquirido por meio da
interseção entre duas retas; uma mais inclinada, relativa ao trecho onde a fibra sofre
o desacoplamento (debonding) da cápsula e outra na posição horizontal, com
correspondência ao trecho onde a fibra sofre rompimento sem que ocorra o
desacoplar do material que está simulando a matriz. O valor do trecho em horizontal
corresponde a resistência à tração da fibra. O gráfico de e L é formado de pontos
que não necessariamente são ajustáveis a duas retas como foi apresentado na
figura 1. Dessa forma, o primeiro trecho inclinado, que está relacionado com os
comprimentos embutidos até na metade de lc, pode ser interpretado por uma reta do
tipo abaixo.

𝑘*𝐿
σ = σ0 + 𝑑

Equação 2. Reta Relativa ao Trecho em que a Fibra se Desacopla.


Onde:

● σ0 é a tensão de tração inicial;


● k é uma constante relativa a fibra reforçando uma dada matriz

Yue et al (1995) propõem a curva de pullout como dada em variação da força


de desacoplamento da fibra (Fd) em relação a L. Dessa maneira, é proposto um
trecho de características parabólicas, não possuindo linearidade desde o ponto
inicial em Fd = 0 e L = 0 até lc. Posterior ao comprimento crítico, se tem um trecho
linear ascendente até o desacoplamento da fibra. Assim, obtém-se a imagem
abaixo.

Figura 2. Trecho inicial da curva de pullout. Fonte: MONTEIRO, 2006; YUE et al,
1995.

A partir dos parâmetros da curva representada pela Figura 2, a tensão


cisalhante interfacial (ti) pode ser obtida da seguinte forma:

−1
𝑡𝑖(2π𝑟𝑁 ) = 𝐹0 + (α * 𝑙𝑐)

Equação 3. Tensão cisalhante interfacial teórica. Fonte: YUE et al, 1995.

Onde:

● r é o raio da fibra;
● N é um parâmetro dependente das propriedades físicas da matriz e da fibra,
assim como também das características geométricas do corpo de prova;
● F0 é a força de desacoplamento inicial;
● 𝛼 é o ângulo formado, detalhado na Figura 2.

4.2. Fibra Vegetal de Coco

Como base para os métodos deste projeto serão utilizados os dados obtidos
pelo trabalho de Da Luz e Monteiro (2017), eles realizaram ensaios de pullout para
determinar o comprimento crítico de fibra da para a fibra vegetal extraída do
mesocarpo do coco verde (Cocos nucifera L.) embutida na matriz polimérica feita a
base de resina epóxi de diglicidil-éter-do-bisfenol-A (DGEBA) e do endurecedor
trietilenotetramina (TETA). Obtendo o valor de lc igual a 12,40 mm abaixo do
comprimento onde ocorre o livre desacoplamento da fibra e um segundo valor de lc
igual a 28,75 mm a partir do qual a fibra não desacopla da matriz.

Figura 3. Curva de Pullout Obtida no Ensaio de Referência. Fonte: DA LUZ e


MONTEIRO, 2017.

5. Cronograma
6. Resultados Esperados

7. Referências

AGOPYAN, Vahan. SIMPÓSIO INTERNACIONAL SOBRE MATERIAIS


REFORÇADOS COM FIBRAS PARA CONSTRUÇÃO CIVIL. São Paulo: Usp, 1993.
138 p.

DA LUZ, Fernanda Santos; MONTEIRO, Sergio Neves. AVALIAÇÃO DA ADESÃO


INTERFACIAL DAS FIBRAS DE COCO E PALF NA MATRIZ EPÓXI POR ENSAIO
PULLOUT. São Paulo, 2017. Disponível em:
https://scholar.archive.org/work/p2u2h4fa2zcfjl4kyi25kuidxi/access/wayback/https://abmproc
eedings.com.br/ptbr/article/download-pdf/avaliacao-da-adesao-interfacial-das-fibras-de-coco-
e-palf-na-matriz-epoxi-por-ensaio-pullout. Acesso em: 10 jan. 2023.

HULL, D., CLYNE T.W., An Introduction to Composite Materials, Cambridge,


Cambridge Univers. Press, 1981. Disponível em:
https://www.slideshare.net/SubodhKumar56/d-hull-t-w-clyne-an-introduction-to-composite-
materials-cambridge-solid-state-science-seriescambridge-university-press-1996. Acesso em:
06 mar. 2022. (HULL; CLYNE, 1981)

KELLY, A., TYSON, W.R., High Strength Materials, Nova York, Wiley, 1965.

Krenchel, H. (1964). Fibre reinforcement: theoretical and practical investigations of the


elasticity and strength of fibre-reinforced materials.
MONTEIRO, Sergio Neves. Ensaios de Pullout em Fibras Lignocelulósicas: uma
metodologia de análise. Revista Matéria, Rio de Janeiro, v. 11, n. 3, p. 1-8, 11 set. 2006.
Disponível em: http://www.materia.coppe.ufrj.br/sarra/artigos/artigo10789. Acesso em: 05
mar. 2022.

PEREIRA, Warley Augusto et al. Desenvolvimento de compósitos poliméricos reforçados


com fibra da folha do buriti. Revista Matéria, Rio de Janeiro, v. 26, n. 1, p. 1-22, 13 set.
2020. (PEREIRA et al., 2020)

YUE, C.Y., LOOI, H.C., QUEK, M.Y., “Assesment of Fibre-Matrix Adhesion and
Interfacial Properties Using the Pullout Test”, International Journal Adhesion and
Adhesives, v. 15, pp. 73-80, 1995.

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