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MATERIAIS COMPÓSITOS

Um compósito resulta da associação de dois materiais de


natureza diferente (fibras e resina), cujas qualidades se
completam, originando um material homogéneo onde as
características globais são superiores às dos constituintes.

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OS COMPÓSITOS E AS SUAS EXCELENTES PROPRIEDADES
As fibras apresentam propriedades mecânicas muito superiores às dos materiais idênticos na
forma maciça.

Griffith demonstrou que as fibras de vidro com 20 m de diâmetro apresentavam tensões de


rotura de 3500 MPa ao passo que o vidro na sua forma maciça apresentava tensões de
rotura de 160 MPa.

Devido às reduzidas dimensões da secção transversal, as fibras não são directamente


aplicáveis em aplicações de engenharia. No entanto, embebidas numa matriz, dão origem
a compósitos fibrosos que rapidamente se tornaram numa importante classe de materiais
que permitem conceber estruturas de elevada resistência mecânica e assinalável leveza.

A probabilidade de se encontrarem defeitos nas fibras é muito inferior


em relação ao mesmo material de forma maciça e por isso a tensão de
rotura é muito inferior. Já o módulo, neste caso é pouco afetado

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Propriedades de fibras e de materiais na sua forma maciça
Material Módulo de Resistência à Densidade Módulo Resistência
elasticidade tracção (r) específico específica
(E) (su) (g/cm3) (E/r) (su/r)
(GPa) (GPa)
Fibras:
Vidro E 72.4 3.5 2.54 28.5 1.38
Vidro S 85.5 4.6 2.48 34.5 1.85
Carbono (HM) 390 5.5 1.90 205 2.9
Boro 385 2.8 2.63 146 1.1
Sílica 72.4 5.8 2.19 33 2.65
Tungsténio 414 4.2 19.3 21 0.22
Berílio 240 1.3 1.83 131 0.71
Kevlar® 49 130 2.8 1.50 87 1.87
Materiais convencionais:
aço 210 0.34 – 2.1 7.8 26.9 0.043 – 0.27
Ligas de Al 70 0.14 – 0.62 2.7 25.9 0.052 – 0.23
vidro 70 0.7 – 2.1 2.5 28 0.28 – 0.84
Tungsténio 350 1.1 – 4.1 19.3 18.1 0.057 – 0.21
Berílio 300 0.7 1.83 164 0.38

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A resistência à tração das fibras é sempre muito elevada e por isso
raramente é um dos fatores de decisão no momento de escolher um
material para reforço.

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COMPÓSITOS: MATRIZ

 Função da Matriz: ◼ Características da Matriz:

◼ Transmitir a força entre as ◼ Tensão de corte interlaminar


fibras
◼ Impedir quebras devido a ◼ Resistência (dureza)
expansão entre as fibras ◼ Resistência “mistura/meio”
◼ Manter as fibras na
orientação apropriada ◼ Propriedades térmicas
◼ Proteger as fibras do meio ◼ Custo

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 Fases:
◼ matriz, que é contínua e envolve outra fase (fase dispersa)
 Propriedades:
◼ quantidade relativa das fases constituintes
◼ geometria da fase dispersa: forma, tamanho, distribuição e orientação
das partículas

(a) concentração

(b) tamanho

(c) forma

(d) distribuição

(e) orientação

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CLASSIFICAÇÃO DOS COMPÓSITOS SEGUNDO O TIPO DE MATRIZ

 COMPÓSITOS DE MATRIZ POLIMÉRICA

 COMPÓSITOS DE MATRIZ METÁLICA

 COMPÓSITOS DE MATRIZ CERÂMICA

 COMPÓSITOS DE MATRIZ CIMENTOSA

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CLASSIFICAÇÃO DE ACORDO COM O TIPO DE REFORÇO
Reforçado Partículas Grandes
com
Partículas Reforçado por dispersão

Reforçado Contínuo (alinhado)


Com
COMPÓSITOS Fibras Descontínuo (curto) Alinhado

Orientado
Aleatoriamente
Laminados
Estrutural
Painéis em sanduíche
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COMPÓSITOS DE FIBRAS

 Fibras
◼ fibras contínuas ou descontínuas, ou wiskers, colocados numa matriz.
Exemplo: madeiras, ossos, polímeros reforçados com fibras de vidro ou
de carbono e metais reforçados com fibras de boro ou SiC.

Fibras de vidro / matriz epóxido Fibras de carbono (6,5m)

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COMPÓSITOS DE FIBRAS
 São os mais importantes do ponto de vista tecnológico
 A secção recta pode ser circular, quadrada ou hexagonal

 Objectivos:
◼ alta rigidez e/ou resistência em relação ao seu peso
◼ Resistência específica = limite de resistência à tracção / densidade relativa
◼ Módulo específico = módulo de elasticidade / densidade relativa

 Comprimento da fibra (L)


◼ existe um valor crítico “Lc”, o qual permite uma melhora efectiva da propriedade
mecânica do material que é função do diâmetro da fibra e da ligação entre a fibra e
a matriz.
◼ fibra de vidro ou carbono Lc ~ 1mm
◼ se L >> Lc: fibras contínuas
◼ se L < Lc: pequeno reforço!

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Comprimento crítico de fibra

Tensão rotura fibra (tração) Diâmetro da fibra


𝜎𝑓 𝑑
𝐶𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑐𝑟í𝑡𝑖𝑐𝑜 =
2𝜏𝑐
Tensão de corte interlaminar
(interface fibra / matriz)

𝜎𝑓 𝑑 𝜎𝑓 𝑑
Fibras curtas: 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎 < 15 Fibras longas: 𝑐𝑜𝑚𝑝𝑟𝑖𝑚𝑒𝑛𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝑓𝑖𝑏𝑟𝑎 > 15
𝜏𝑐 𝜏𝑐
s(x) s(x)

Fraca eficiência Melhor eficiência


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COMPÓSITOS DE FIBRAS
◼ Orientação e Concentração das fibras: tem influência significativa sobre as
propriedades dos compósitos reforçados com fibras.

 Alinhamento paralelo ao eixo longitudinal das fibras


◼ propriedades anisotrópicas
◼ resistência e reforço máximo na direcção do alinhamento
(longitudinal) e mínimo na direcção perpendicular
(transversal)

 Alinhamento aleatório
◼ utilizado quando a direcção das tensões são multidireccionais

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A) FIBRAS DE VIDRO (são os reforços mais utilizados)
 Fibra de Vidro
◼ Composição: SiO2 - CaO - Al2O3 - B2O3 - MgO
◼ fibras com diâmetro de 3 a 20µm
◼ fácil fabricação e alta resistência
◼ económico e versátil
◼ compósito útil para aplicação em ambientes corrosivos.

Limitações:
 Baixa rigidez (não podem ser utilizados em peças de aviões e pontes)
 temperatura de serviço entre 200ºC e 300ºC (fibras com alta concentração de
sílica e em polímeros de alta temperatura)

Aplicações:
 carcaças de meios de transporte marítimo
 tubagens em plástico
 recipientes de armazenamento
 instrumento musical (flauta), tanques (piscina, caixa d´água), barcos,
material desportivo.

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São produzidas por estiramento de
vidro fundido (temperatura de
fusão de 1260º) através de uma
fieira em liga de platina-ródio com
orifícios de dimensões muito
precisas;

Revestimento plástico (com ligante)


para permitir a compatibilização da fibra
com as matrizes e proteção.

diâmetros típicos (9 ou 13m)

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PROPRIEDADES DAS FIBRAS DE VIDRO

O teor alcalino é o principal responsável pela resistência ao envelhecimento.


Fibras com teores alcalinos inferiores a 14% apresentam alterações menos significativas em contacto com
agentes atmosféricos ou químicos particularmente desfavoráveis.

Assim, a fibra do tipo A, fortemente alcalina, foi sendo progressivamente substituída pela fibra do tipo E,
um vidro de borosilicato com baixa quantidade de compostos alcalinos, que apresenta boas propriedades
eléctricas, mecânicas e químicas.

As fibras do tipo S e R são produzidas a partir de vidros de alta resistência e são muito aplicadas na
indústria aeronaútica.
Propriedade Vidro E Vidro S Vidro R
Densidade (g/cm3) 2.6 2.49 2.55
Módulo de Young (GPa) 73.0 85.5 86.0
Tensão de rotura (MPa) 3400 4580 4400
Deformação na rotura (%) 4.4 5.3 5.2

Coeficiente de expansão térmica 5.0 2.9 4.0


(10-6/ºC)
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Compósitos: Exemplo
• O gráfico mostra a resistência de um compósito de fibra de vidro,
em função da fracção do volume de fibra

• Para baixas quantidades de fibra, a resistência é controlada pela


resistência da matriz; A resistência aumenta à medida que aumenta
a quantidade de fibra adicionada ao compósito.

• A tensão de rotura da matriz é de ~50MPa.

• A tensão de rotura da fibra é de ~1200MPa.

Para fracção volúmica inferior a 10%, em vez de compósito deve-se


chamar plástico reforçado

A partir dos 75-80%, é muito difícil envolver as fibras com resina…

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Comportamento à tração do compósito

A tensão de rotura do compósito apresenta


valores intermédios entre a tensão de
rotura das fibras e da matriz e depende
sobretudo da fracção volúmica de fibras e
da orientação das fibras

A deformação máxima é a mesma das


fibras

Pode observer-se uma quebra que


corresponde à cedência da matriz

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B) FIBRAS DE CARBONO

Fibras de carbono – com percentagens de carbono


“Fibras de carbono” entre 80 e 95%.

Fibras de grafite – a percentagem de carbono


chega aos 95%. Para aplicações exigentes como
a aeronáutica e aeroespacial.

A produção de fibras de carbono centra-se na decomposição térmica de vários


precursores orgânicos. Podemos apresentar três: as fibras produzidas a partir da
celulose (designadas por “rayon fibers”), o poliacrilonitrilo (PAN) e as fibras
produzidas a partir do alcatrão (“pitch”).

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B) FIBRAS DE CARBONO
A produção a partir da celulose exige elevadíssimas temperaturas na grafitização,
tornando o processo muito dispendioso.
As fibras obtidas do precursor de alcatrão (pitch) apresentam propriedades
mecânicas ligeiramente inferiores.
Alcatrão
Propriedade PAN “Rayon fibers”
“Pitch”

Densidade (g/cm3) 1.8 2.0 1.7


O precursor actualmente mais utilizado
Módulo de Young (GPa) 200-400 400 415-680
é o poliacrilonitrilo (PAN).
Tensão de rotura (MPa) 2480-3100 1550 2070-2760

Deformação na rotura (%) 0.6-1.2 1-1.5 0.5-0.6

Coeficiente de expansão
-0.7 a -0.5 -1.6 a -0.9 -
térmica axial (10-6/ºC)

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PRODUÇÃO A PARTIR DO PAN
Formação
de Aquecimento
estrutura a 1100ºC
reticular

Supressão Estrutura Obtenção de elevado Tratamento


artificial do apenas com grau de orientação superficial –
ponto de átomos de da estrutura – alta elevados níveis
fusão carbono rigidez de adesão
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DESIGNAÇÃO DAS FIBRAS DE CARBONO

As fibras de carbono são designadas com base na sua resistência


mecânica e comercializadas segundo a designação:

-UHM para fibras com módulos superiores a 500 GPa; (THM)

- HM para fibras com módulos superiores a 300 GPa e rácio


resistência mecânica/módulo em tracção inferior a 1%;

- IM para fibras com módulos até 300 GPa e rácio resistência


mecânica/módulo de cerca de 1%;

- LM - fibras de baixo módulo, com valores inferiores a 100 GPa;

- HT para fibras de resistências à tracção superiores a 3000 MPa


e rácio resistência/rigidez entre 1.5 e 2%. (HS)

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D) FIBRAS ARAMÍDICAS (Kevlar)
As fibras aramídicas são produzidas à base de poliamidas aromáticas.

A solução de polímero é mantida a baixa temperatura (entre –50ºC e –80ºC) e, depois, extrudida a uma temperatura
de aproximadamente 200ºC.

Por este método a cadeia molecular é alinhada conseguindo-se obter uma melhoria das propriedades mecânicas.

CARACTERÍSTICAS: Propriedade Kevlar 29 Kevlar 49 Twaron

Densidade (g/cm3) 1.44 1.45 1.44


Apresentam excelente resistência química, mecânica,
óptima relação rigidez - peso, boa resistência ao
Módulo de Young (GPa) 60 129 60
impacto e à fadiga, boa capacidade de amortecimento
de vibrações. Tensão de rotura (MPa) 3000 3000 2600

As principais desvantagens são a baixa resistência à Deformação na rotura (%) 3.6 1.9 3
compressão e à flexão, bem como elevada
sensibilidade ao corte interlaminar. Coeficiente de expansão
-2.0 -2.0 -
térmica axial (10-6/ºC)
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Aramida (Kevlar)

• Material com resistência mecânica


muito elevada. Resistente a alta
temperatura, e resistência ao choque.
Utilizado no fabrico de equipamentos de
Fórmula 1, coletes a prova de bala,
capacetes, etc.

• Tecido de Aramida: Confeccionado a


partir de fibra aramida com outras fibras
sintéticas, apresenta excelentes
propriedades mecânicas, como alta
resistência ao corte e à abrasão. Resiste a
temperaturas na ordem de 280°C

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E) FIBRAS DE BORO

Propriedades mecânicas de fibras de boro


 As fibras de boro são produzidas em função do seu diâmetro
por deposição de boro em fase de
vapor sobre um fio de tungsténio Propriedade 100m 140m 200m
ou carbono, que actuam como
substrato. Densidade (g/cm3) 2.61 2.47 2.39

Módulo de Young
 O diâmetro das fibras que actuam 400 400 400
(GPa)
como substrato é cerca de 12 m
e o resultado, após deposição do Tensão de rotura
3450 3450 3450
boro, é uma fibra que pode (MPa)
atingir os 200 m. Deformação na
0.7-0.9 0.7-0.9 0.7-0.9
rotura (%)
 As fibras de boro utilizam-se na
forma de fitas pré-impregnadas Coeficiente de
numa resina de epóxido, fenólica expansão térmica 4.9 4.9 4.9
ou poliimida. Pelo seu elevado (106/ºC)
custo, os compósitos com fibras
de boro aplicam-se sobretudo na
indústria aeronaútica.

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F) OUTROS TIPOS DE FIBRAS

 Poliamidas - são mecanicamente resistentes, tenazes e resistentes à


abrasão. São produzidas em filamentos contínuos e podem ser
processadas em várias formas para aplicações na indústria têxtil.
Apresentam baixo módulo de elasticidade.

 Poliesteres - apresentam propriedades semelhantes às poliamidas,


excepto o módulo de elasticidade, que é superior. Os laminados com
fibras de poliester comportam-se melhor que os seus congéneres em
fibra de vidro nos casos em que se exige resistência ao impacto e à
abrasão.

Material Módulo de Resistência à Densidade Módulo Resistência


elasticidade tracção (r) específico específica
(E) (su) (g/cm3) (E/r) (su/r)
(GPa) (GPa)
Fibras:
Nylon 6 1 1.14 5.3 0.9
Poliéster 12 1.2 1.39 8.6 0.9

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OUTROS TIPOS DE FIBRAS
 Sisal - é constituído por fibras naturais
com diâmetros entre 125 e 500 m e com
comprimentos, habitualmente, entre 100 e
150 cm. Como reforço em materiais
compósitos as suas propriedades estão
francamente abaixo das que se conseguem
com reforços em fibra de vidro. Além disso
salienta-se o facto de serem bastante
higroscópicas.

Cerâmicas - obtidas por deposição


química em fase de vapor. Combinam
uma elevada resistência mecânica e
elevado módulo de elasticidade a uma
capacidade de resistência a altas
temperaturas bastante apreciável. São
normalmente produzidas sob a forma
de pequenos whiskers (cristais
simples).Vários materiais, como os
metais, óxidos, carbonetos e compostos Whisker de Mg2Si
orgânicos podem ser preparados sob a embebido numa
forma de whiskers. matriz de Mg

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RESUMO

 Os materiais compósitos são conhecidos por resultarem de uma


combinação macroscópica de dois, ou mais, materiais que
estabelecem entre si uma interface reconhecida e cujas
propriedades não podem ser obtidas simplesmente pela soma dos
diferentes materiais individualmente;

 O reforço, sob a forma de fibras ou partículas, é o elemento


resistente e, para o efeito, ocupa uma substancial fracção
volúmica do material – normalmente 20 % ou mais;

 A matriz, geralmente uma resina de epóxido ou de poliester,


acrescenta a necessária tenacidade ao compósito. Para além
disso, assegura a transferência de carga para o reforço e protege
a superfície das fibras;

 Os materiais utilizados para a produção de compósitos são


agrupáveis em três domínios: reforços, matrizes e cargas.

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