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CAPÍTULO 2- FIBRAS
Propriedades A C E S
Densidade (g.cm-3) 2,54 2,49 2,54 2,48
Resistência à tração (MPa) 25ºC 3033 3033 3448 4585
Resistência à tração (MPa) 370ºC - - 2620 3758
Módulo de Elasticidade (GPa) 25ºC - 69,0 72,4 85,5
Alongamento (%) a 25ºC - 4,8 4,8 5,7
Pela tabela 2.1, tem-se que a resistência das fibras de vidro é muito elevada,
porém apresentam um valor de módulo de elasticidade que pode ser considerado
baixo para algumas aplicações estruturais. Também existe a dependência da
temperatura de utilização, pois propriedades como resistência e módulo diminuem
com o aumento da temperatura.
Observa-se na figura 2.2 que as fibras de vidro são produzidas pelo mesmo
processo de fabricação até a etapa final, onde se originam as duas formas principais
do material: filamentos contínuos e filamentos descontínuos. Cada uma dessas
formas dará origem às inúmeras possibilidades de formação do material para ser
utilizado como reforço, tais como mantas, véus de superfície, tecidos e fios.
Os fios (rovings) de fibra de vidro são formados em duas etapas. Inicialmente
grupos de monofilamentos das fieiras, formando feixes, são enrolados em bobinas,
chamadas de tortas. Na ilustração da figura 2.1, um feixe é formado pela reunião de
5 monofilamentos e nesse caso o cabo da torta é chamado de split 1 ou S-1. Caso
houvessem dois feixes, o cabo da torta seria denominado de split 2 ou S-2. Assim,
quando é dito que o cabo de uma determinada torta é de split 5 (S5), isso
representa que o cabo é formado por cinco feixes, cada um deles formado pela
reunião de um determinado número de monofilamentos a critério de cada fabricante.
Na segunda etapa há a formação do roving, que ocorre pela reunião dos
cabos de várias tortas. O roving é enrolado em uma bobina cilíndrica, chamada de
roca, até que atinja o peso especificado para aquela roca. A quantidade de cabos no
roving produz fibras com diferentes densidades lineares. Para laminação à pistola,
por exemplo, os rovings são fornecidos com tex 2400, 4000 e 4800, ou seja,
-1 -1 -1
2400 gkm , 4000 gkm e 4800 gkm . A escolha do tex de uma fibra para um
determinado processo está relacionada à produtividade esperada para a fabricação
de um componente, bem como pelo equipamento disponível. Laminação à pistola,
por exemplo, poderá ter um tex diferente do processo de laminação manual, como
poderá ser diferente do tex da fibra utilizada no processo de bobinamento filamentar
(filament winding).
O roving é o primeiro produto na escala de produção das fibras de vidro para
a indústria de materiais compósitos, que faz o mercado oferecer o produto a um
preço atrativo, o que consequentemente favorece sua maior utilização. As fibras
picadas e as mantas, com diversas gramaturas, possuem maior valor agregado
devido às vantagens que oferecem e, especialmente as mantas, devido a isso têm
um preço maior que o do roving. Finalmente, o roving também é utilizado na
fabricação de tecidos, um produto muito mais elaborado e que oferece vantagens
significativas em relação ao próprio roving e em relação às mantas.
A última fase do processo produtivo consiste em preparar as fibras para cada
uma das aplicações que terão no mercado, conforme é ilustrado na figura 2.2. São
fios contínuos, fios picados, mantas, fios com torção e fios sem torção, cada um
deles com diversas gramaturas e tipo de fibra, que atenderão inúmeros processos
de fabricação, dando início a uma grande cadeia produtiva na fabricação de
compósitos.
A estocagem dessas fibras requer cuidados especiais, principalmente quanto
à limpeza e à umidade. Essa última, quando presente na fibra, causa dano no
tratamento superficial e interfere na qualidade da ligação fibra-matriz, podendo ser
decorrente de uma condição de armazenagem inadequada Para garantir a
qualidade da fibra dada pelo fabricante, uma boa condição de estocagem deve ser
mantida pelo transformador, que deve ser também seguida para as outras fibras que
serão abordadas nos itens seguintes.
Fibra aramida é o nome genérico das fibras poliamidas aromáticas, que são
conhecidas como Kevlar, nome comercial que a Du Pont atribuiu ao produto de sua
invenção. A fibra aramida se acredita ser obtida pela policondensação de diaminas
e diácidos a baixas temperaturas [3], produzindo macromoléculas de amida ligada a
dois anéis aromáticos. Após a síntese do polímero, as fibras são obtidas pelo
processo de fiação a úmido. Para que possa ser extrudado, o polímero é dissolvido
em um agente que é retirado no primeiro estágio do processo durante a passagem
no tanque de coagulação, sendo em seguida bobinado em novelos. A estrutura
química da fibra aramida é mostrada na figura 2.3 [3].
entanto, drasticamente melhoradas por meio dos processos que inclui oxidação e
carbonização e em alguns tipos de fibra a grafitização, que exige temperatura acima
de 2000ºC no forno de grafitização. Temperaturas de carbonização mais elevadas
resultam em um aumento do módulo de elasticidade, enquanto que fibras de alta
resistência mecânica são obtidas em temperaturas na faixa de 1500ºC.
As etapas do processo têm como objetivo orientar as camadas hexagonais
dos anéis de carbono paralelamente ao eixo da fibra, chamado de planos basais.
Essa é a razão de as fibras de carbono apresentar resistência em apenas uma
direção, caracterizando a anisotropia que existe nos materiais compósitos.
2.4.1- Mantas
Na forma de fibras curtas (chopped fibers), fios contínuos são picados com
determinados comprimentos num rolete contendo lâminas de aço, de acordo com o
processo de Laminação Manual (Hand lay-up) ou Laminação por Projeção (Spray-
up). Deste modo, os fios picados são elementos do fio contínuo com comprimentos
de 0,6 cm até 5 cm. Nesse caso, as fibras estão secas até o momento do contato
com a matriz.
Quando fios picados são unidos por um material ligante, são fabricadas duas
formas bastante usuais dos materiais de reforço, especialmente as fibras de vidro:
os véus e as mantas. Os véus são materiais finos utilizados na fabricação de
compósitos e atuam como camadas de proteção contra agentes químicos, por isso
muitas vezes são conhecidos como véus de superfície. Atuam como barreira
química, formando um liner no compósito, e não apresentam função estrutural. As
gramaturas mais utilizadas dos véus são de 25 a 80 gm-2.
As mantas são obtidas pelo arranjo aleatório de fibras de vidro cortadas de
forma uniforme com cerca de 5 cm de comprimento e agregadas em forma de
placas por ligantes especiais. Apresentam uma distribuição relativamente uniforme
da resistência em qualquer direção devido à distribuição ao acaso das fibras,
conforme ilustrado na figura 2.8. Possuem as vantagens de ser de fácil aplicação,
tendo excelente molhabilidade e boa moldabilidade, especialmente em moldes com
contornos sinuosos, e produzir laminados mais homogêneos e de espessura
controlada. A maior desvantagem está associada às baixas propriedades mecânicas
e elásticas que o material possui quando comparadas ao fio contínuo. As mantas
-2 -2 -2
são fabricadas nas gramatruas de 300 gm , 450 gm e 600 gm , o que proporciona
aproximadamente espessuras por camada de respectivamente de 0,8; 1,0 e 1,3
mm, para razões de 30% de fibra e 70% de matriz.
2.4.2- Tecidos
urdume e trama, há a formação do tecido tipo tela (plain weave), tipo sarja (twill
weave) e tipo cetim (satin weave), cada um deles possuindo diferentes
características e aplicações.
Como os tecidos são fabricados numa ampla variedade de entrelaçamentos,
surge à necessidade da definição de dois conceitos, que aliados a outras
características, definem o tecido a ser especificado para uma aplicação. Esses
conceitos já foram previamente discutidos, mas convém aqui mantê-los para melhor
fixação. O título expressa a relação que existe entre o comprimento e a massa do
tecido, o que determina sua densidade linear. Quando o título é dado por
comprimento de 1.000 metros do tecido, esse é indicado pela denominação de tex,
sendo frequente a relação para comprimento de 10.000 metros com a atribuição do
nome de dtex. Uma denominação comum na indústria têxtil é o título para
comprimento de 9.000 metros de tecido, que recebe a identificação de denier. Essas
denominações de título ou massa linear também são atribuídas aos fios (rovings).
Outro conceito, que é de compreensão imediata, se refere à massa do tecido
por unidade de área, que define a gramatura, expressa em gm-2. No entanto, nem
todos os tecidos apresentam igual distribuição de massa na direção da trama e do
urdume. Quando isso ocorre, os tecidos são denominados de desbalanceados, em
referência aos tecidos que possuem mesma distribuição de massa nas duas
direções, chamados de balanceados. Esse conhecimento é importante para o
cálculo de algumas propriedades físicas e mecânicas do compósito. Há, por
-2
exemplo, tecido de fibra de vidro de 800 gm que apresenta distribuição
desbalanceada. Nesse tecido, há cerca de 3 fios tex 1.100 por centímetro na trama
(8 fios por polegada) e cerca de 2 fios tex 2.200 por centímetro no urdume (5 fios
por polegada), o que implica numa sensível diferença na quantidade de fibras em
cada orientação, respectivamente 72% e 28%.
O tecido tipo tela é fabricado alternando-se o fio de urdume sobre e sob o fio
de trama, com esta sequência sendo invertida na fileira seguinte, de forma a se ter
um arranjo conforme mostrado na figura 2.9a. Essa construção proporciona maior
estabilidade ao tecido, dificulta o escorregamento dos fios e a menor formação de
porosidade no compósito. Oferece também a mesma resistência nas duas direções
de orientação dos fios, de modo que as maiores vantagens são obtidas quando as
fibras estiverem orientadas nas direções das tensões principais atuantes no
compósito. A orientação não é somente feita nas direções 0º/90º, mas também a
±45º, que confere ao tecido maior capacidade de resistir a esforços de torção,
proporcionado maior resistência ao cisalhamento.
Frequentemente se utilizam telas de fibra de vidro intercaladas entre
camadas de mantas na fabricação de compósitos. Essa montagem permite uma
maior compactação do laminado e também tem a vantagem de se obter as
propriedades que ambos os materiais oferecem. Tecidos de fibra de vidro tipo tela
-2 -2
são fabricados com gramaturas variando de 150 gm até 1.000 gm .
Na construção típica de um tecido tipo sarja, um fio da trama é entrelaçado
sob e sobre 2 fios do urdume em movimentos sucessivos. No tecido tipo cetim, há
uma passagem do fio da trama sob vários fios sucessivos do urdume e em seguida
sobre um fio ou alguns fios deste. Quando, por exemplo, esse arranjo é feito de
modo que a trama passe sob quatro fios sucessivos do urdume e em seguida sobre
um fio deste, a denominação adotada é aquela utilizada do idioma inglês, conhecida
como five-harness fabric. A figura 2.9b ilustra esse arranjo. Tecidos de sarja e cetim
são mais flexíveis que os tecidos tipo tela, o que permite uma melhor acomodação
a) b)
Figura 2.9- Arranjo dos fios nas formas principais de tecido: a) tecido tipo
tela (plain weave) e b) tecido tipo cetim (satin weave).
2.5- Bibliografia
[3] Chiao, C.C. ; Chiao, T. T. Aramid Fibers and Composites. In Lubin, G.,
Editor Van Nostrand Reinhold Co., pp 272, 1982.
[4] Du Pont- Catálogo Técnico. s/data.
[5] Buckley, J. D. Carbon-carbon, an overview. Ceramic Bulletin. n2, v67,
pp 364-368, 1988. In Belitskus, D.- Fiber and Wisker Reinforced
Ceramics for Structural Applications, Marcel Dekker, NY, pp 49, 1993.