Você está na página 1de 23

FIBRAS DE CARBONO

Manual Prático de Dimensionamento


Ari de Paula Machado

O objetivo deste trabalho é apresentar


de maneira prática, uma compilação
de informações técnicas existentes
sobre o reforço de estruturas de
concreto armado com a utilização de
sistemas estruturados com fibra de
carbono. O livro é uma referência útil e
de consulta rápida para os
profissionais que atuam na elaboração
de projetos de reforço estrutural.

Abaixo apresentamos um resumo dos


principais tópicos.

Ø Propriedades mecânicas dos


compostos reforçados com fibras;
Ø Reforço à flexão com a utilização
de lâminas de fibras de carbono
aderidas externamente ao concreto;
Ø Reforço cortante de vigas com
lâminas de fibras de carbono aderidas
externamente ao concreto.
Ø Reforço à flexão com a utilização
de barras e perfis de fibras de carbono
em montagem superficial;
Ø Reforço para o cortante com
barras e perfis de fibras de carbono
em montagem superficial;
Ø Reforço com lâminas de fibras de carbono;
Ø Aumento da resistência axial das peças de concreto;
Ø Reforço de elementos circulares ou em coroa circular de concreto armado com laminas de
fibras de carbono;
Ø Dimensionamento à flexão com a utilização de barras de fibras de carbono como armadura
de tração;
Ø Reforço de alvenarias à flexão e ao cortante com laminas, laminados e barras de fibras de
carbono;
Ø Considerações adicionais para o dimensionamento dos reforços com fibras de carbono;
Ø Reforço das estruturas com sistemas compostos para a prevenção de efeitos sísmicos;
Ø Vigas isostáticas de concreto protendidas com a utilização de compostos de CFC;
Ø Processo construtivo dos sistemas compostos;
Ø Principais recomendações para o projeto de estruturas de concreto armado sujeitas a
efeitos sísmicos;
Ø Tendências dos sistemas compostos;
Ø Reforços de estruturas de concreto armado com o emprego de sistemas compostos
estruturados com fibras de carbono.
CAPÍTULO 1
PROPRIEDADES MECÂNICAS DOS COMPOSTOS REFORÇA-
DOS COM FIBRAS
O vidro foi por muito tempo a fibra predominante para muitas aplicações na en-
genharia civil devido ao seu balanço econômico entre o seu custo e as características
de resistência específicas. As fibras de vidro são disponíveis comercialmente segundo
a formulação denominada E-Glass.
O material conhecido como E-Glass é produzido a partir de uma família de vi-
dros obtidos de silicatos de cálcio e alumina, podendo ser moldados de várias maneiras
e com aplicações virtualmente ilimitadas. As fibras de E-Glass são responsáveis por
cerca de 80% a 90% da produção comercial de fibras de vidro.
Como todo composto estruturado com fibras o sistema com E-Glass é anisotró-
pico relativamente ao seu comprimento (direção das fibras). Contudo, existem técnicas
de configuração das fibras e procedimentos têxteis específicos que eventualmente po-
dem arranjar as fibras de forma a que o produto final adquira um grau significativamen-
te alto de quase isotropia em seu desempenho.
As fibras de vidro são incomparavelmente mais resistentes relativamente às de-
mais formulações de vidros, tais como os utilizados em vidraças ou garrafas.
A resistência das fibras de vidro é fortemente influenciada pelo grau de proteção
contra agressões ambientais, abrasões e mesmo contaminação por contato.
Quando as fibras de vidro são mantidas sob carregamento constante, com ten-
sões inferiores à resistência instantânea estática, elas irão falhar em algum ponto após
um tempo proporcional à manutenção das tensões com um valor mínimo, produzindo a
ruptura por fluência, que é influenciada além das tensões pelas condições ambientais e
efeitos deletérios do vapor de água. Admite-se, teoricamente, que a superfície dos vi-
dros possui vazios submicroscópicos que agem como concentradores de tensões. A-
lém disso, a exposição a um ambiente com (Ph) elevado pode produzir degradações ou
rupturas com intensidade função do tempo de exposição.
Esses problemas potenciais foram descobertos já nos primeiros anos de fabrica-
ção das fibras de vidro e propiciaram um desenvolvimento continuado de tratamentos
protetores. Atualmente esses tratamentos são universalmente aplicados ainda no está-
gio de fabricação das fibras. Dependendo da matriz resinosa aplicada esses pré-
tratamentos permitem limitar as perdas de resistência por fluência entre 5% e 10%, a-
pós testes com água fervente com duração de 4 horas.

Outra fibra muito utilizada é a de carbono. Existem três processos distintos para
a produção comercial dessas fibras:

- através do alcatrão (PITCH), subproduto da destilação do petróleo.


- através das fibras precursoras de poliacrilonitril (PAN).
- através das fibras de rayon.

As propriedades das fibras de carbono são determinadas pela estrutura molecu-


lar e pelo grau de tolerância quanto a imperfeições construtivas. A formação das fibras
de carbono requer temperaturas acima de 1000º C. A essa temperatura a maioria das
fibras sintéticas derrete e vaporiza. Com o acrílico, entretanto, isso não ocorre e a sua
estrutura molecular permanece durante a carbonização em altas temperaturas.

Fibras de Carbono - Dimensionamento 17


Existem dois tipos de fibras de carbono: a fibra com elevado módulo de elastici-
dade, denominada Tipo 1, e a fibra com elevada resistência, denominada Tipo 2. As di-
ferenças entre as propriedades das fibras Tipo 1 e Tipo 2 são decorrentes da micro-
estrutura de cada fibra. Essas propriedades são derivadas do arranjo da molécula he-
xagonal nas camadas entrelaçadas existentes no grafite. Se as camadas apresentarem
arranjos tri-dimensionais o material é definido como sendo grafite. Se a aderência entre
as camadas for fraca e ocorrerem arranjos bi-dimensionais o material resultante é defi-
nido como sendo carbono. As fibras de carbono, portanto, possuem arranjo bi-
dimensional.
Fibras de carbono de elevado módulo de elasticidade (da ordem de 200GPa) e-
xigem que as camadas de grafite sejam alinhadas aproximadamente paralelas ao eixo
da fibra.
Rayon e fibras precursoras isotrópicas derivadas do alcatrão são utilizadas para
produzir carbono com baixos módulos de elasticidade (da ordem de 50GPa).
Tanto o PAN (poliacrilonitril) como precursores líquidos cristalinos de alcatrão
são utilizados para a produção de fibras de carbono com elevado módulo de elasticida-
de quando carbonizados a temperaturas superiores a 800ºC. O módulo de elasticidade
das fibras aumenta com o tratamento térmico em temperaturas situadas entre 1000ºC e
3000ºC. Os resultados variam em função da fibra precursora selecionada. A resistência
máxima da fibra aparenta ser maximizada a uma temperatura próxima de 1500ºC para
o PAN e algumas outras fibras precursoras.
As fibras de carbono não são facilmente impregnadas pelas resinas, particular-
mente as fibras com elevado módulo de elasticidade. Tratamentos superficiais que au-
mentam o número de grupos químicos ativos (e que eventualmente também aumentam
a rugosidade da superfície da fibra) foram desenvolvidos para determinados materiais
utilizados nas matrizes resinosas. As fibras de carbono são freqüentemente revestidas
por um tratamento superficial epoxídico que previne a abrasão da fibra, facilita o seu
manuseio e proporciona uma interface compatível com a matriz resinosa.

MATERIAIS CONSTITUINTES
Todos os sistemas compostos estruturados com fibras têm os seus materiais
constituintes, incluindo aí todas as resinas, tais como os imprimadores primários (pri-
mers), os regularizadores de superfície (putties), os saturantes, os adesivos, os reves-
timentos protetores e as fibras que os estruturam, desenvolvidos após exaustivos tes-
tes de materiais e estruturais. São as seguintes as principais características desses
materiais:

RESINAS

Uma grande variedade de resinas é utilizada nos sistemas compostos, incluindo


aí os imprimadores primários, os regularizadores de superfície, os saturantes e os ade-
sivos. São correntemente empregadas resinas à base de epoxídios, esteres de vinil e
poliesteres.

As resinas atualmente disponíveis foram formuladas de tal maneira a terem o


seu comportamento estrutural otimizado para uma larga variedade de condições ambi-
entais. As resinas também foram desenvolvidas para serem facilmente manuseadas e
aplicadas. Suas qualidades e características necessárias básicas são as seguintes:

18 Ari de Paula Machado


• compatibilidade com o substrato de concreto e resistência elevada de cola-
gem.
• resistência adequada aos agentes ambientais, que incluem elevadas tempera-
turas, água salgada, pressão de vapor e outros agentes químicos normalmente associ-
ados ao concreto exposto.
• capacidade de preenchimento de vazios.
• compatibilidade e aderência com a fibra utilizada no reforço.
• desenvolvimento de propriedades mecânicas apropriadas ao composto.
• compatibilidade e aderência ao sistema composto estruturado com fibras.

Imprimadores Primários

Os imprimadores primários são utilizados com o objetivo de penetrar no substra-


to de concreto para permitir através, de seu adesivo específico, a construção de uma
ponte de aderência para a resina de saturação ou outros adesivos a serem aplicados
posteriormente.
No Sistema Composto Estrutural MBrace® o imprimador utilizado é o MBrace
Primer, que é um composto epóxi-poliamina curada, bicomponente de baixa viscosida-
de e com 100% de sólidos. Suas principais características são:

• Resistência à tração 13,0 a 15,8 MPa.


• Alongamento máximo à tração 10 a 30%.
• Módulo tangencial 689,0 a 826,8 MPa.

Regularizadores de Superfície

Os regularizadores de superfície são utilizados para o preenchimento de vazios


ou correção de imperfeições superficiais visando propiciar uma superfície lisa e de-
sempenada sobre a qual o sistema compósito será colado.
O regularizador de superfície utilizado no Sistema Composto Estrutural MBrace®
é denominado Pasta MBrace, também um adesivo bicomponente com 100% de sólidos
e consistência firme. Suas principais características são:

• Resistência à tração 23,0 MPa.


• Alongamento máximo de tração 1,6%.
• Módulo de tração 262,0 MPa.

Esse produto pode ter uma espessura máxima recomendada de 3mm.

Resinas de Saturação

As resinas de saturação são utilizadas para a impregnação das fibras que cons-
tituem o reforço estrutural dos compostos, fixando-as no local e garantindo um meio
efetivo para a transferência das tensões de cisalhamento entre as mesmas. As resinas
de saturação também servem como adesivo para os sistemas pré-impregnados, permi-
tindo a transferência das tensões de cisalhamento entre o substrato de concreto previ-
amente imprimado e o sistema composto.
A resina influi muito pouco para a resistência final do sistema composto mas e-
xerce relevante função para a absorção dos esforços de flexão e cisalhamento.

Fibras de Carbono - Dimensionamento 19


Uma recomendação fundamental é de que se deve utilizar estritamente a quan-
tidade de resina necessária à impregnação ou à colagem, para que não ocorram alte-
rações sensíveis nas características do composto. Um excesso de resina acarreta uma
menor resistência final e um peso maior.
São as seguintes as características fundamentais das resinas utilizadas nos sis-
temas compostos:

• baixa retração durante o processo de cura da matriz.


• deformação de ruptura compatível com as deformações das armaduras exis-
tentes.
• permanência de sua estabilidade frente a atuação de agentes químicos.
• suficiente capacidade de aderência às fibras do sistema.
• módulo de elasticidade da ordem de 2000 MPa.
• proteção das fibras de carbono contra os efeitos do meio ambiente e da abra-
são.
• garantir a orientação das fibras de carbono na matriz.

Para o Sistema Composto Estrutural MBrace® é utilizado o MBrace Saturant, re-


sina epoxídica de baixa viscosidade, bicomponente e com 100% de sólidos. Suas prin-
cipais características são:

• Resistência à tração por flexão 43,0 MPa.


• Resistência direta à tração 78,0 MPa.
• Resistência à compressão 88,0 MPa.

Adesivos

Os adesivos são utilizados para a colagem sistemas compostos pré-


impregnados ao substrato de concreto. Esses adesivos estabelecem um meio de trans-
ferência das tensões de cisalhamento entre o substrato de concreto e o laminado, ou
mesmo entre diversas camadas de compósitos laminados.

Revestimentos Protetores

Os revestimentos protetores são utilizados para proteger a superfície colada dos


sistemas compostos de potenciais efeitos danosos produzidos pelo meio ambiente em
que está inserido. Esses revestimentos protetores usualmente são aplicados na face
exterior do sistema curado dos compostos.

No Sistema Sistema Composto Estrutural MBrace® os revestimentos protetores


são denominados de MBrace® Topcoat, MBrace® ATX e MBrace® FRL, e a finalidade
dos mesmos é garantir a proteção do sistema contra a luz ultra-violeta, respingos de
produtos químicos e a abrasão. Além disso imitam a cor original dos concretos ou me-
diante consulta podem ser fornecidos em uma grande variedade de cores e texturas. O
MBrace® FRL apresenta resistência contra incêndios para a Classe I da norma ASTM
E84. Podem ser também fornecidos revestimentos específicos para atender a condi-
ções ambientais específicas.

20 Ari de Paula Machado


FIBRAS

As fibras de carbono resultam do tratamento térmico (carbonização) de fibras


precursoras orgânicas tais como o poliacrilonitril (PAN) ou com base no alcatrão deri-
vado do petróleo ou do carvão (PITCH) em um ambiente inerte. O processo de produ-
ção consiste na oxidação dessas fibras precursoras seguido do processamento a ele-
vadas temperaturas (variando de 1000º C a 1500ºC para as fibras de carbono até cerca
de 3000ºC para as fibras de grafite). Nesse processo térmico as fibras resultantes a-
presentam os átomos de carbono perfeitamente alinhados ao longo da fibra precursora,
característica que confere extraordinária resistência mecânica ao produto final.
Quanto maior a temperatura em que o processo industrial se realiza maior será
o módulo de elasticidade do material resultante, que varia desde 100GPa a 300GPa
para as fibras de carbono até 650 GPa para as fibras de grafite. Quanto maior o módu-
lo de elasticidade maior é o custo do material, custando o produto de maior módulo de
elasticidade (grafite) cerca de 15 a 20 vezes mais caro do que a fibra de carbono com o
módulo de elasticidade situado no extremo inferior da faixa.
Normalmente os sistemas compostos estruturados comercialmente disponíveis
que utilizam as fibras de carbono como elemento resistente, que apresentam as se-
guintes características básicas:
• extraordinária resistência mecânica.
• elevada resistência a ataques químicos diversos.
• não são afetadas pela corrosão por se tratar de um produto inerte.
• extraordinária rijeza.
• estabilidade térmica e reológica
• bom comportamento à fadiga e à atuação de cargas cíclicas.
• peso específico da ordem de 1,8g/cm3, o que lhe confere extrema leveza a
ponto de não se considerar o seu peso próprio nos reforços.

Propriedades Físicas das Fibras de Carbono

O peso específico (densidade) das fibras de carbono varia de 1,6 a 1,9 g/cm3.
Observa-se que o material tem um peso específico cerca de 5 vezes menor do que o
do aço estrutural, da ordem de 7,85 g/cm3.

O coeficiente de dilatação térmica dos compostos unidirecionais de CFC varia


segundo suas direções longitudinal e transversal e dependem do tipo da fibra, da resi-
na, e do volume de fibra no composto. Apresentamos abaixo tabela com os coeficien-
tes de dilatação térmica para um composto unidirecional de fibra de carbono típico. Ob-
serve-se que o coeficiente negativo de dilatação térmica indica que o material sofre
contração com o aumento de temperatura e dilata com a diminuição da temperatura.

Direção Coef. de Dilatação Térmico


Longitudinal (a L) -10-6/ºC a 0
Transversal (a T) 22x10-6/ºC a 23x10-6/ºC

Somente como referência o coeficiente de dilatação térmico do concreto é da


ordem de 4 a 6x10-6/ºC.

Fibras de Carbono - Dimensionamento 21


A temperatura a partir da qual o polímero começa a “amolecer” é conhecida co-
mo temperatura de transição vítrea (TG). Acima dessa temperatura o módulo de elasti-
cidade é significativamente reduzido devido a mudanças em sua estrutura molecular. O
valor de TG depende fundamentalmente do tipo da resina, mas normalmente se situa
na faixa entre 80ºC a 100ºC. Em um material composto as fibras de carbono, que pos-
suem melhores propriedades térmicas do que as resinas, podem continuar suportando
alguma carga na sua direção longitudinal até que a sua temperatura limite seja alcan-
çada (situada no entorno de 1500ºC).
Entretanto, devido à redução da força de transferência por meio da cola entre as
fibras, as propriedades de tração do composto como um todo são reduzidas após a ul-
trapassagem da temperatura de transição vítrea (TG). Experimentos demonstram que
para temperaturas da ordem de 240ºC, bastante acima de TG, ocorre uma redução de
cerca de 20% na resistência à tração do composto.

Principais Características Mecânicas

As fibras de carbono atualmente disponíveis se caracterizam por possuírem um


baixo módulo de elasticidade e uma grande resistência à tração. Essa característica
está bem demonstrada na Figura 1.1, comparativamente às fibras de grafite, que apre-
sentam elevado módulo de elasticidade e uma baixa resistência à tração.

Figura 1.1 – Diagrama Tensão vs Deformação das Fibras.

A Figura 1.2 mostra os gráficos (resistência/módulo de elasticidade) dos diver-


sos tipos de fibra de carbono disponíveis no mercado.

PROPRIEDADES DOS MATERIAIS

O ACI 440 indica genericamente para os sistemas compostos estruturados com


fibras de carbono, CFC, as seguintes propriedades:

22 Ari de Paula Machado


Tipo da Fibra Módulo de Elas- Resistência Máxi- Deformação de
de Carbono ticidade ma de Tração Ruptura
(GPa) (MPa) (%)
De uso geral 220 - 235 < 3790 > 1,2
Alta resistência 220 - 235 3790 - 4825 > 1,4
Ultra alta resistência 220 - 235 4825 - 6200 > 1,5
Alto módulo 345 - 515 > 3100 > 0,5
Ultra alto módulo 515 - 690 >2410 >0,2

Figura 1. 2 – Gráfico Resistência/Módulo de Elasticidade das Fibras de Carbono.

O Sistema Composto Estrutural MBrace® utiliza fibra de carbono com as seguin-


tes características:
Propriedades Físicas
Material da Fibra – carbono de alta resistência Toray T700S
Peso por área do tecido – 300g/m2
Largura do tecido – 600mm.
Espessura nominal do tecido – 0,165 mm/camada

Propriedades Mecânicas a 0º
Resistência máxima de tração:
• por unidade de área – 3.800 MPa

Fibras de Carbono - Dimensionamento 23


• por unidade de largura – 0,625 kN/mm/camada
Módulo de elasticidade à tração:
• por unidade de área – 227 Gpa
• por unidade de largura – 38 kN/mm/camada
Deformação de alongamento máxima – 1,7%

Propriedades Mecânicas a 90º


Resistência máxima de tração:
• por unidade de área – 0
• por unidade de largura – 0
Módulo de elasticidade à tração:
• por unidade de área – 0
• por unidade de largura – 0
Deformação de alongamento máxima – não avaliado

As características para o Sistema Composto Estrutural MBrace® podem ser re-


sumidas nas seguintes tabelas:

Fibras de Carbono CF-130


Módulo de Elasticidade 228.000 MPa.
Deformação Específica de Ruptura 1,7% (0,017).
Resistência Última de Tração 3.790 MPa.
Espessura da Lâmina por Camada 0,165 mm.

Fibras de Carbono CF- 530


Módulo de Elasticidade 372.000 MPa.
Deformação Específica de Ruptura 0,9% (0,009).
Resistência Última de Tração 3.517 MPa.
Espessura da Lâmina por Camada 0,165 mm.

Fibras de Vidro EG- 900


Módulo de Elasticidade 72.400 MPa.
Deformação Específica de Ruptura 2,1% (0,021).
Resistência Última de Tração 1.517 MPa.
Espessura da Lâmina por Camada 0,353 mm.

Fotografia 1.1 – Rolo de fibra de carbono.

24 Ari de Paula Machado


Figura 1. 3 – Diagrama tensão deformação das fibras do Sistema Composto Estrutural MBrace®.

Apresenta-se na Figura 1.3 o diagrama tensão/deformação das fibras de carbo-


no CF-130 e CF-530 normalmente comercializadas pelo Sistema MBrace® comparati-
vamente ao do aço normalmente utilizado no concreto armado.
Pode se observar do diagrama tensão/deformação desse material que o mesmo
apresenta um comportamento frágil até a sua ruptura.

O SISTEMA COMPOSTO ESTRUTURAL

Os sistemas compostos estruturados com fibras de carbono, CFC, são construí-


dos com dois elementos distintos e fundamentais:
• a matriz polimérica, a quem cabe a função de manter as fibras que as estrutu-
ram coesas, propiciando a transferência das tensões de cisalhamento entre os dois e-
lementos estruturais, concreto e fibra de carbono.
• o elemento estrutural, constituído pelas fibras de carbono. As fibras dispostas
unidirecionalmente dentro das matrizes poliméricas absorvem as tensões de tração de-
correntes dos esforços solicitantes atuantes.
A Figura 1.4 mostra esquematicamente um sistema composto estruturado com
fibras de carbono CFC.
Naquela figura os bastonetes representam as fibras de carbono imersas na ma-
triz polimérica. Nos plásticos, as armaduras (fibras) são responsáveis pela resistência
mecânica do sistema, cabendo à matriz polimérica a transferência das tensões de cisa-
lhamento do substrato de concreto para o sistema composto.

A matriz polimérica

A matriz polimérica tem necessariamente que ter um alongamento de ruptura


muito maior do que o alongamento que ocorre na fibra de carbono, para permitir que a
mesma continue a possuir capacidade de carga mesmo após a tensão na fibra ter atin-
gido a sua tensão de ruptura (limite de resistência).
Dessa maneira, os sistemas compostos CFC devem trabalhar segundo o critério
fibra com ruptura frágil e matriz polimérica com ruptura dúctil, conforme indicado no la-
do esquerdo da Figura 1.5. Dessa maneira fica descartada a possibilidade de que o sis-
tema CFC entre em colapso pela ruptura frágil da matriz, possibilidade de ocorrência
que está indicada na parte direita da Figura 1.5.

Fibras de Carbono - Dimensionamento 25


Figura 1. 4 – Representação Esquemática de Um Sistema CFC.

Figura 1. 5 – Diagramas Tensão vs Deformação dos Sistemas CFC.

A Fotografia 1.21 mostra uma ampliação em microscópio eletrônico da matriz po-


limérica do Sistema Composto Estrutural MBrace®. É interessante observar que as fi-
bras de carbono do tecido CF-130W se encontram totalmente impregnadas pelas resi-
nas da matriz polimérica.
A Figura 1.6 apresenta a seqüência recomendada para a execução do Sistema
Composto Estrutural MBrace®, estruturado com lâmina de fibras de carbono CF-130.

As etapas de construção do sistema podem ser assim descritas:

– recuperação do substrato de concreto armado para que o sistema possa ser


aderido com segurança2.

1
Foto cedida pela MBT Inc.
2
- Essa exigência se aplica a qualquer sistema de reforço externo aderido, como, por exemplo, a colagem de chapas
de aço através de resinas epoxídicas.

26 Ari de Paula Machado


– imprimação da superfície sobre a qual será aplicado o sistema para se estabe-
lecer uma ponte de aderência entre o substrato de concreto e o sistema composto. Pa-
ra tanto se utiliza um imprimador epoxídico (primer) com elevado teor de sólidos que,
ao penetrar nos poros do concreto e ao estabelecer uma película sobre a superfície do
concreto cria uma interface altamente eficiente para a transmissão de esforços entre o
composto e a peça de concreto
– regularização e correção das imperfeições superficiais do substrato de concre-
to, de modo a estabelecer um plano adequadamente nivelado. É utilizada uma pasta
epoxídica contendo alto teor de sólidos (putty filler) para calafetar eventuais imperfei-
ções superficiais e criar um plano desempenado para a aplicação do sistema compos-
to.
– aplicação da primeira camada de resina saturante com alto teor de sólidos (sa-
turant resin) que servirá para impregnar (saturar) a lâmina de fibra de carbono e aderi-
la à superfície do concreto.
– aplicação da lâmina de fibra de carbono (CF-130) que vai reforçar o sistema
composto.

Fotografia 1.2 – Ampliação Em Microscópio Eletrônico do Sistema MBrace®.

– aplicação da segunda camada de resina saturante para completar a impregna-


ção da lâmina de fibra de carbono e acabando de conformar a matriz epoxídica que
envelopa o sistema.
– aplicação (opcional) de película de acabamento com elevado teor de sólidos,
alto brilho e resistente à corrosão, com o objetivo de proteção e/ou acabamento estéti-
co para o sistema.

Figura 1.6 – Materiais Componentes do Sistema MBrace®.

Fibras de Carbono - Dimensionamento 27


Materiais Utilizados nos Procedimentos de Montagem Sub-Superficiais

Nos procedimentos de montagem sub-superficial (ou apenas superficial) são uti-


lizadas preferencialmente perfis (ou fitas) e barras de fibras de carbono.
Tanto as fitas como as barras são posicionadas em ranhuras escavadas na su-
perfície dos elementos de concreto a serem reforçados e aderidas ao substrato de con-
creto com a utilização de adesivo estrutural.

O sistema construtivo desse tipo de montagem é o seguinte:

- com uma serra de concreto ou esmeril deve ser construída uma ranhura com
dimensões um pouco maior que as dimensões das barras ou dos perfís.
- recobrir os bordos das ranhuras com uma fita gomada para evitar o excesso de
adesivo.
- limpar adequadamente a ranhura com a utilização de ar comprimido ou um as-
pirador de pó.
- colocar o adesivo estrutural na ranhura com cuidado para que não haja incor-
poração de ar.
- posicionar a barra ou o perfil dentro da ranhura, como mostrado na Fotografia
1.3 abaixo.

Fotografia 1.3 – Aplicação em montagem superficial.

- recobrir a barra ou o perfil com o adesivo estrutural.


- limpar todo o excesso de adesivo e remover a fita protetora.

Para a fixação das barras ou dos perfis de fibras de carbono em montagens sub-
superficiais é especialmente recomendado como adesivo estrutural o CONCRESIVE
1430 da MBT.
São especialmente recomendados para utilização neste tipo de montagem os
perfis e barras de fibras de carbono produzidos e comercializados pela Master Builders
Technologies e pela Hughes Brothers, cujas características principais são apresenta-
das nas tabelas e quadros seguintes:

28 Ari de Paula Machado


Produtos da Master Builders Technologies

Barras “MBar™ 200 NSM” – Propriedades Físicas

Modulo de Elasticidade Deformação


Barra Área Diâmetro Nominal Resistência à Tração
à Tração Última à Tração
2 2 6
in mm in mm in MPa ksi GPa psi x 10 calculada
#2 32,71 0,0507 6,35 0,25” 1380 200 125 18,12 0,0118
#3 66,19 0,1026 9,53 0,37” 1310 190 121 17,57 0,0120
#4 113,87 0,1765 12,7 0,50” 1240 180 113 16,37 0,0126

® ®
NOTA: Usar como adesivo para as barras MBar 200 NSM a pasta epoxídica CONCRESIVE 1430.

Barras “MBar® 500 NSM” – Propriedades Físicas

Dimensões da Área da Seção Resistência à Módulo de Deformação


Régua (Fita) Transversal Tração Elasticidade Limite
(mm) (in) (mm2) (in2) (MPa) (psi) (GPa) (psix106) calculada
2x16 0,079x0,63 32 0,050 2068 300000 131 19 0,0170

OBS.: A resistência à tração indicada é a média menos 3 desvios padrões. Segundo a ACI 440 este valor é a resistência à tração
garantida ( f*fu ).
®
NOTA: Usar como adesivo para as barras MBar 500 NSM a pasta epoxídica CONCRESIVE® 1430.

Produtos da Hughes Brothers Inc.

Barras “ASLAN 200” – Propriedades Físicas

Diâmetro da Área da Seção Diâmetro Resistência à Módulo de Deformação


Barra Transversal Nominal Tração Elasticidade Limite
(mm) (in) (mm2) (in2) (mm) (in) (MPa) (ksi) (GPa) (psix106) calculada
6 #2 32,71 0,0507 6,35 0,25” 1380 200 125 18,12 0,0118
9 #3 66,19 0,1026 9,53 0,375” 1310 190 121 17,57 0,0120
13 #4 113,87 0,1765 12,70 0,50” 1240 180 113 16,37 0,0126
A Hugues Brothers se reserva o direito de fazer alterações no produto ou no processo que possam resultar em benefícios ou trocas
de algumas de suas características físicas e/ou mecânicas. ( web site para consultas: www.huguesbross.com).

Réguas (Fitas) “ASLAN 500” – Propriedades Físicas

Dimensões da Área da Seção Resistência à Módulo de Deformação


Régua (Fita) Transversal Tração Elasticidade Limite
(mm) (in) (mm2) (in2) (MPa) (psi) (GPa) (psix106) calculada
2x16 0,079x0,63 32 0,050 2068 300000 131 19 0,0170
A resistência à tração indicada representa o valor médio menos 3 no desvio padrão. Para a ACI 440, esse valor corresponde ao
valor (f*fu), tensão garantida de tração. ( web site para consultas: www.huguesbross.com).

Os diagramas tensão/deformação das barras ASLAN 200 e ASLAN 500 também


são reproduzidos para melhor informação das suas características, Figura 1.7 e Figura
1.8.

Fibras de Carbono - Dimensionamento 29


Figura 1.7 – Diagrama tensão/deformação das barras ASLAN 200.

Figura 1.8 – Diagrama tensão deformação da barra ASLAN 500.

As barras e os perfis de fibra de carbono de alta resistência são recomendados


em montagens superficiais para:

● aumentar a capacidade de suporte de carga das estruturas de concreto e al-


venarias.
● aumento da capacidade à flexão de vigas e lajes de concreto armado.
● aumento da resistência à flexão e de corte de muros de concreto e de alvena-
ria.
● melhoria da capacidade do concreto em túneis e em silos.
● restaurar a capacidade estrutural de elementos de concreto armado deteriora-
dos.
● substituição de barras de aço corroídas.
● substituição de cordoalhas de protensão.
● correção de erros construtivos e de projetos.
● substituir barras de reforço inexistentes.
● adequação das estruturas de concreto armado às ações sísmicas.
● servir para a ancoragem das lâminas de carbono dos sistemas compostos a-
deridos externamente.

30 Ari de Paula Machado


Exemplos de Aplicação de Barras e Perfis de Fibra de Carbono Em Monta-
gens Sub-Superficiais

A Fotografia 1.43 mostra uma aplicação de montagem sub-superficial em uma


laje de ponte para permitir aumentar a sua resistência à flexão.

Fotografia 1.4 – Montagem sub-superficial em laje de ponte.

Aplicação de barras de fibras de carbono em montagem sub-superficial na late-


ral de uma viga para aumentar a sua resistência ao cortante, Fotografia 1.54.

Fotografia 1.5 – Montagem sub-superficial para reforço ao corte.

Reforço de parede de silo com as barras aplicadas formando uma malha ortogo-
nal retangular, permitindo o reforço para esforços atuando no plano horizontal e esfor-
ços atuando no plano vertical, Fotografia 1.65.

3
- Martin Springs Rd. Bridge – Rolla, MO - EUA.
4
- Convention Center – Oklahoma City, OK – EUA.
5
- Silo em Boston, MA – EUA.

Fibras de Carbono - Dimensionamento 31


Fotografia 1.6 – Montagem sub-superficial para reforço de silo.

COMPORTAMENTO DO SISTEMA COMPÓSITO RELATIVAMENTE A MANI-


FESTAÇÕES DO MEIO AMBIENTE

Comportamento Relativamente a Calor - Umidade

Eventualmente pode ocorrer alguma degradação nos sistemas compostos estru-


turados com fibras de carbono relativamente aos efeitos cumulativos do calor e da umi-
dade.
Convém lembrar que o coeficiente de dilatação térmica das fibras de carbono é
quase zero (mas não é zero), podendo ser considerado mais ou menos da ordem de
(1/10) dos coeficientes térmicos do concreto e do aço. Normalmente os coeficientes de
dilatação térmica das resinas saturantes dos sistemas compósitos CFC são cerca de
10 vezes maiores do que os do concreto e do aço. Assim, o fato mais importante a
considerar relativamente à influência da variação da temperatura ambiente sobre os
sistemas CFC é que a deformação limitante é aquela correspondente à tração existente
no concreto, para qualquer temperatura acima de 0ºC.
Apresenta-se na Figura 1.9 o gráfico desenvolvido para o Sistema Composto Es-
trutural MBrace® do efeito de meio ambientes quentes e úmidos na resistência do com-
posto.
Não foi observada qualquer influência da variação de umidade e temperatura
sobre o módulo de elasticidade do composto.

Figura 1.9 – Efeito de meio-ambientes quentes e úmidos na resistência à tração.

32 Ari de Paula Machado


Efeito de Água Salgada e Alcalinidade no Sistema Composto

Os sistemas compostos estruturados com fibra de carbono possuem uma gran-


de tolerância à influência de água salgada e água alcalina, conforme Figura 1.10.

Figura 1.10 – Efeito da água salgada e da alcalinidade na resistência à tração.

Identicamente ao gráfico da Figura 1.9 não foi observada nenhuma alteração no


módulo de elasticidade do compósito.

Efeito da Luz Ultra-Violeta no Sistema Composto

Nas avaliações feitas com o Sistema Composto Estrutural MBrace® sob efeitos
de luz ultra-violeta não foi observada qualquer degradação sensível no sistema com-
posto.

Ciclos de Congelamento e Descongelamento no Sistema Composto

Da mesma maneira não foram observadas degradações sensíveis no Sistema


Composto Estrutural MBrace® sob a ação de ciclos alternados de congelamento-
descongelamento.

COMPORTAMENTO DO SISTEMA COMPOSTO ANTE A AÇÃO DO FOGO

Em qualquer projeto ou construção um dos aspectos mais importantes a ser


considerado é aquele que se refere à segurança física dos seus ocupantes, e uma das
ocorrências que mais causam preocupação é a possibilidade da ocorrência de incên-
dio.
Como os sistemas CFC são aderidos externamente às estruturas de concreto
armado para permitir o seu reforço, torna-se imprescindível a verificação da resistência
ao fogo da estrutura reforçada.
Existem diversos códigos e normas estruturais que especificam os requisitos
que devem ser verificados para que se tenha segurança relativamente à resistência da
estrutura reforçada ao fogo.
Contudo, o comportamento ao fogo dos materiais que constituem o sistema CFC
ainda escapa ao alcance desses códigos e normas em função do relativamente pouco
tempo de aplicação dos mesmos na indústria da construção civil.

Fibras de Carbono - Dimensionamento 33


A análise do comportamento ao fogo dos sistemas CFC deve levar em conside-
ração dois fatores relevantes:

► as resinas de epoxídicas utilizadas nos materiais dos sistemas CFC aderidos


externamente ao concreto são combustíveis, sendo assim fundamental avaliar o seu
potencial de geração de fumaça e propagação da chama.
► como se utiliza os sistemas CFC como elementos estruturais deverá ser ava-
liada a resistência ao fogo da estrutura de concreto reforçada com o mesmo.

Propagação da chama e geração de fumaça

Costuma-se adotar para essas verificações as recomendações da norma ASTM


E84 – “Características de Combustão de Superfície dos Materiais de Construção”.Os
ensaios preconizados por essa norma são utilizados para:

► determinar a rapidez da propagação da chama em uma área determinada.

► densidade da fumaça gerada quando uma superfície é exposta a uma fonte


térmica controlada à temperatura de combustão.
Os acabamentos de superfície, segundo as recomendações dessa norma de-
vem apresentar:

Classe I Classe II Classe III


Índice de propagação de chama < 25 < 75 < 200

Já o índice de propagação de fumaça deve ser inferior a 450 para poder classifi-
car o acabamento superficial.

Resistência ao fogo

A resistência ao fogo dos materiais de CFC é basicamente determinada pela


qualidade da resina utilizada no composto.
Essas resinas são tipicamente classificadas como termoplásticas e termo está-
veis (ou termofixas).
As resinas termoplásticas podem se fundir e novamente se solidificar repetidas
vezes ao serem aquecidas e resfriadas.
As resinas termoestáveis experimentam uma reação química para serem cura-
das mas não podem regressar ao estado inicial após sofrerem aquecimento.
Essas resinas que são utilizadas em praticamente todos os materiais compostos
da indústria da construção civil passam a um estado frágil vitrificado quando expostas a
altas temperaturas. A temperatura na qual se inicia essa transição á conhecida como
temperatura de transição vítrea TG. De modo geral a integridade estrutural de um sis-
tema CFC começa a se degradar a temperaturas superiores a TG decorrente do fato de
que a resina não mais consegue manter inalterada a adesão das fibras individuais no
composto de CFC.

De modo geral a temperatura de transição vítrea (TG) das resinas epoxídicas bí-
componentes, curadas à temperatura ambiente, se situam na ordem de 90ºC. Entretan-
to os revestimentos comuns contra incêndio, tais como painéis de gesso, fibras mine-

34 Ari de Paula Machado


rais diversas, pinturas intumescentes, etc., não proporcionam isolamento térmico sufi-
ciente para manter a temperatura na peça e no CFC abaixo de (TG).
Diante dessa constatação é prática corrente entre os projetistas desconsiderar
totalmente a resistência ao fogo desses materiais compostos e depender exclusiva-
mente da resistência ao fogo da estrutura existente na sua condição de não reforçada.
Esta não é uma situação exclusiva para os sistemas de CFC mas comum a reforços
estruturais que dependem de adesivos para a sua ancoragem, como é o caso do refor-
ço com lâminas de aço aderidas com resinas epoxídicas.

Quando se reforça uma estrutura de concreto armado com a utilização de siste-


mas CFC recomenda-se avaliar a resistência ao fogo da estrutura existente segundo os
procedimentos normativos correntes. Desde que essa estrutura, ao ser verificada atra-
vés do critério de resistência reduzida dos materiais, suporte as solicitações das de-
mandas de serviço antecipadas a condição fica atendida.
Considerando que a maioria das estruturas de concreto armado, quando ade-
quadamente dimensionadas, exibem uma resistência ao fogo superior àquela reco-
mendada pelos códigos é possível efetuar-se o reforço estrutural (aumento das cargas)
sem confrontar a metodologia corrente que estabelece que a um aumento de carga
corresponde uma diminuição da resistência ao fogo. Assim, um sistema de CFC pode
ser utilizado para compensar os aumentos de carga sob condições normais.
Em situações em que se necessita aumentar as cargas a tal ponto que a resis-
tência ao fogo não ofereça a segurança exigida pode resultar eficaz a utilização de pro-
teção contra incêndios.
São viabilizados nesse caso a utilização de fibras minerais isolantes térmicos,
painéis de gesso ou pinturas intumescentes que isolem a estrutura existente e reduzam
a temperatura na seção. A redução de temperatura aumenta a resistência dos materi-
ais com características mecânicas dependentes da temperatura. Convêm ressaltar que
esses meios protegem a estrutura existente e não somente o CFC.
Finalmente, dado que a estrutura existente proporciona resistência ao fogo exis-
te um limite na quantidade de reforço com CFC que se pode utilizar. Se a estrutura está
completamente isolada termicamente, a sua resistência à temperatura ambiente deve
exceder a nova demanda não antecipada.

PROTEÇÃO INTUMESCENTE RETARDADORA DE FOGO

Alguns sistemas compostos estruturados com fibras de carbono já desenvolve-


ram proteções visando retardar os efeitos das chamas sobre os mesmos.

A partir de estudos independentes realizados pela empresa Omega Point Rese-


arch, de San Antonio6 determinaram que o Sistema Composto Estrutural MBrace® em
sua aplicação standard (top coat convencional) cumpre com os requisitos mínimos da
norma ASTM E84 para a Classe III.
O produto normalmente aplicado, ATX Topcoat, não satisfaz aos requisitos da-
quela norma no que se refere à geração de fumaça, portanto não se deve utilizar esse
produto em espaços interiores submetidos a requisitos de geração de fumaça.
Para áreas com requisitos restritos de propagação de chama e de geração de
fumaça a aplicação de duas camadas de MBrace Topcoat FRL satisfaz a norma ASTM
E84 para a categoria Classe I, permitindo o seu uso irrestrito em edificações. Esse não

6
Omega Point Research – San Antonio – Texas – EUA.

Fibras de Carbono - Dimensionamento 35


é um produto padrão do Sistema MBrace® devendo portanto ser especificado quando a
sua utilização é recomendada.
A tabela abaixo indica as utilizações desses produtos.

Índice de Índice de
MBrace
propagação propagação Classe
Topcoat
da chama de fumaça

Sem Classe
155 405
Topcoat III
ATX
sem
Topcoat 70 500
corresp.
standard
FRL
0 10 Classe I
Topcoat
Alguns códigos locais se utilizam a nomenclatura “Classe
A, B e C” ao invés de “Classe I, II e III”, respectivamente.

Tabela 1.1 – Revestimentos protetores contra fogo.

REFORÇO COM CFC EM ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO SUBME-


TIDAS A AÇÕES DE ORIGEM TÉRMICA

Os sistemas compostos estruturados com plásticos e utilizando matrizes epoxí-


dicas são grandemente afetados na sua capacidade resistente quando trabalham em
locais com elevada temperatura ambiente ou quando submetidas a variações térmicas
significativas.
De maneira geral, os sistemas compostos quando utilizados como reforço de es-
truturas de concreto trabalham em locais onde a temperatura não excede o ponto de
transição vítrea da matriz, normalmente situado numa faixa de temperatura entre 80ºC
e 90ºC, em que os projetos de reforço são considerados adequados, sem que se torne
necessário maiores considerações sobre a temperatura atuando sobre o sistema, sen-
do a temperatura ambiente da ordem de 70ºC um valor considerado como o limite prá-
tico de dimensionamento. Ou seja, até este valor, não se faz necessária qualquer con-
sideração adicional referente à eficiência do sistema por ação da temperatura. Acima
do ponto de transição vítrea as matrizes epoxídicas começam a ser afetadas em sua
eficiência, conduzindo a uma diminuição da capacidade resistente do reforço aplicado.
Essa perda de eficiência pode ser considerada como uma das maiores desvan-
tagens das técnicas de reforço com a utilização de sistemas compostos estruturados
com plásticos.
Diversos estudos tem sido realizados com o objetivo específico de estudar o
comportamento das matrizes epoxídicas sob a ação de altas temperaturas e fogo (in-
cêndio). As pesquisas, entretanto, estão longe de esgotar o assunto.
No V Simpósio Epusp Sobre Estruturas de Concreto foi apresentado o estudo
“Eficiência do Reforço de CFRP em Estruturas de Concreto Sob o Efeito Térmico”7 do
qual transcrevemos alguns comentários e conclusões que reputamos bastante interes-
santes e que submetemos à apreciação e avaliação dos leitores.
A Figura 1.11 mostra o resultado dos ensaios da capacidade resistente dos cor-
pos de prova onde se constatou que essa capacidade apresenta uma maior diminuição

7
- Eficiência do reforço de CFRP em estruturas de concreto sob efeito térmico – A.S. Fortes; I. J. Padaratz;
A.O.Barros; I.F.Freire .

36 Ari de Paula Machado


no seu valor em temperaturas situadas na faixa entre 30ºC e 70ºC decrescendo o gra-
diente de perda após aquele valor limite da faixa, evidenciando que o reforço vai dimi-
nuindo a sua colaboração na resistência do conjunto. No caso dos reforços executados
com tecidos (mantas) e laminados colados diretamente sobre a superfície do concreto
a capacidade resistente da peça reforçada se aproxima mais rapidamente da capaci-
dade resistente decorrente exclusivamente do concreto do que no caso das peças re-
forçadas com laminados em montagem sub-superficial (near surface mounted).
Uma das conclusões mais interessantes do estudo é que se observou um me-
lhor comportamento mecânico das peças com reforço em montagem sub-superficial
comparativamente às peças com aplicação de tecidos e laminados diretamente aderi-
dos à superfície do concreto.
As principais conclusões do estudo são as seguintes:

● a capacidade de carga das peças ensaiadas teve seu valor reduzido em cerca
de 15% quando se variou a temperatura de 30ºC para 70ºC, sendo o valor máximo de
redução da ordem de 30% nas proximidades de 150ºC.
● decorrente dessa constatação é importantíssimo o estabelecimento de um co-
eficiente de minoração da capacidade resistente do reforço quando do dimensionamen-
to de elementos sujeitos à variações sensíveis de temperatura ou com risco elevado de
incêndio.
● a capacidade resistente das peças reforçadas com montagem sub-superficial
de laminados apresentou uma capacidade resistente sensivelmente superior às daque-
las reforçadas com sistemas aderidos diretamente à superfície do concreto. Apesar da
redução da capacidade resistente com o aumento da temperatura essas peças apre-
sentaram cargas de ruptura superiores às de ruptura daquelas reforçadas com as ou-
tras duas técnicas.
● segundo a conclusão do estudo pode-se admitir que a técnica de laminado em
montagem sub-superficial é a mais eficaz entre as três técnicas consideradas no traba-
lho apresentado.

Figura 1.11 – Diagrama de carga de ruptura vs. temperatura.

Fibras de Carbono - Dimensionamento 37


38 Ari de Paula Machado

Você também pode gostar