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Placas cimentícias em estruturas Light Steel Framing

Análise de patologias em juntas entre placas cimentícias em fachadas


Introdução

Atualmente no crescente mercado da construção a seco, há diversas opções de


materiais voltados para revestimentos, sendo os mais utilizados as chapas de gesso
acartonado, utilizadas para fechamentos internos e advindas do sistema drywall que
atua em conjunto com o Light Steel Frame, e as placas cimentícias, voltadas para uso em
áreas externas como fachadas, forros, beirais e áreas úmidas internas, principalmente
banheiros.
Assim como as chapas de gesso acartonado que possuem diversas opções e locais para
uso- chapa RF “rosa” para áreas solicitadas à resistência ao fogo e chapa RU “verde”
para locais com incidência baixa e intermitente de umidade, por exemplo-as placas
cimentícias são encontradas com diversas opções de espessuras, composição e
tratamento de juntas e superfície, variando conforme local para uso e especificação do
fabricante.
Por serem utilizadas principalmente para revestimentos de fachadas e locais em áreas
externas, as placas cimentícias estão sujeitas a ação direta de intempéries como sol e
chuva, sendo necessário grande desempenho para evitar surgimento de fissuras e
trincas causadas por ações de dilatação/retração e higroscopia, sendo um material
técnico que exige estudos e ensaios para obter desempenho adequado.
Para se entender as causas das patologias e suas profilaxias relacionadas à situação de
trincas e fissuração, é necessário entender as características distintas dos tipos de placas
presentes no mercado assim como os tratamentos utilizados nos mesmos.
Definição

As placas cimentícias, assim como a chapa de gesso acartonado, são materiais utilizados
em escala mundial em países onde o sistema construtivo frame é utilizado, tanto Steel
Frame quanto Wood Frame. Devido a este fator, existem normas para padronizar a
placa, visando sua qualidade e segurança. Entre as diversas normas, existem poucas
diferenças entre as especificações e ensaios, variando conforme país, porém em quase
sua totalidade a base é seguida pela ISO 8336 (de âmbito internacional). Em países
europeus segue-se principalmente a EN 12467, nos países da América do Norte utiliza-
se a ASTM C 1185. No Brasil, utiliza-se a NBR 15498/2016.
A definição de placa cimentícia sofre breve variação em sua nomenclatura, porém há
um padrão em relação aos seus componentes:
Segundo a NBR 15498/2016-placas de fibrocimento sem amianto-requisitos e métodos
de ensaio, as placas cimentícias são “produtos resultantes da mistura de cimento
Portland, agregados, adições ou aditivos com reforço de fibras, fios, filamentos ou telas,
com exceção de fibras de amianto.”
Na normativa européia EN 12467- Fiber cement sheet, “As placas devem consistir
essencialmente de cimento ou de silicato de cálcio, o produto químico resultante da
reação do silício com o calcário, reforçadas com fibras, formando a massa de cimento.
As fibras de reforço devem satisfaze a um dos seguintes requisitos: elementos dispersos
na superfície, feixes de ponta a ponta ou fitas, telas ou tecidos”.
A ISO 8336- Fiber Cement sheets determina que as “placas planas de fibra de cimento
são compostas essencialmente de cimento ou de silicato de cálcio formado pela reação
química de um silicato e um material calcário, reforçado por fibras (ver 3.9). Para auxiliar
no recebimento de cargas, podem ser adicionados pigmentos agregados e que são
compatíveis com o cimento reforçado com fibras. Os reforços devem ser a combinação
dos seguintes materiais como fibra de celulose; fibra sintética orgânica ou inorgânica;
fibra de vidro.
No mercado nacional existem dois tipos distintos de placa cimentícia conforme sua
composição e características: fibrocimento e liga cimentícia. Além da composição,
diferem também em relação aos tratamentos. Nesta análise, será retratada os
tratamentos mais utilizados em edificações conforme recomendações dos fabricantes
existentes no mercado nacional.
As patologias oriundas de natureza estrutural, também um dos motivos que ocasionam
as trincas, não será abordado, visto ser uma análise complexa e que exige estudos de
várias informações como contraventamento, sobrecargas na estrutura, momento fletor,
flambagem excessiva, movimentações causadas por acomodação da estrutura no
terreno, etc. Este tipo de análise será abordado em futuro estudo em nova edição deste
documento. Os itens e informações descritas foram obtidas através de testes e
acompanhamentos diversos de obras e em laboratórios onde constatou-se que as
patologias apresentadas não foram causadas pela estrutura, mas sim relacionadas ao
material de revestimento, no caso a placa cimentícia/fibrocimento.
Placa tipo “fibrocimento”

As placas tipo fibrocimento são adaptações planificadas de telhas fibrocimento.


Possuem em sua composição cimento prensado com papel celulose e adicionado
filamentos sintéticos como fibra de vidro ou materiais similares. São também
impermeabilizadas. A celulose foi incluída na sua composição em substituição às fibras
de amianto, cancerígenas e proibidas por lei.
Como principais características, a flexibilidade causada pelo uso do papel celulose e o
elevado peso devido à sua composição (uma placa de 10 mm de espessura possui peso
aproximado de 50 kg). São utilizadas principalmente para revestimentos diversos de
fachadas, forros e beirais, sendo possível também encontrar no mercado placas com
revestimento pronto de fábrica, imitando aço ou madeira, visando uso decorativo.

Juntas

Os métodos encontrados para tratamento e proteção das juntas são a invisível e a


aparente.
A junta aparente é mais utilizada quando indica-se o uso da placa aparente para projetos
arquitetônicos que solicitam uso de linhas/juntas aparentes, visando a estética da
edificação e como acabamento semelhante ao concreto aparente, principalmente para
design industrial. As bordas das placas são quadradas.
A junta invisível é o método mais utilizado entre placas que utiliza como principais
materiais massa emborrachada e fita de junta. As bordas das placas são rebaixadas,
assim como as placas de gesso acartonado, para evitar diferenças de nível entre a
superfície da placa e da junta, interferindo no acabamento a ser realizado
posteriormente.

Junta aparente
As juntas aparentes podem variar conforme fabricante em sua recomendação de
execução, porém a forma mais encontrada é a aplicação de Primer entre as juntas,
instalação ou não de cordão de polietileno expandido tipo “Tarucel” ( variando
conforme fabricante) e em seguida aplicação de selante elástico à base de poliuretano,
como mástique ou selante PU.
Figura 1- Detalhe composição junta aparente

Figura 2- Fachada com placas de juntas aparentes


Juntas invisíveis

As juntas são tratadas através dos seguintes processos;


I. Limpeza da superfície das placas e entre as mesmas, visando retirar impurezas;
II. Aplicação de Primer na região das juntas, para garantir maior aderência da massa
emborrachada a ser aplicada, pois visto que as placas são impermeabilizadas,
possuem a dificuldade de garantir boa aderência aos produtos nela aplicados;
III. Instalação de cordão delimitador, geralmente de polietileno expandido
comumente chamado “Tarucel”, entre as juntas das placas, para evitar que a
massa emborrachada fique ancorada na base inferior, geralmente a membrana
impermeável, além de manter a proporção de Largura x Altura da junta;
IV. Aplicação de massa emborrachada na junta entre as placas;
V. Aplicação de fita de fibra de vidro de 5cm;
VI. Aplicação de nova camada de massa emborrachada;
VII. Instalação de fita de fibra de vidro de 10cm;
VIII. Aplicação de nova camada de massa emborrachada. Nesta última, é necessário
mantê-la nivelada com a superfície da placa. Conforme tempo de cura da massa,
a mesma pode retrair, sendo necessário aplicação de mais camadas para correto
nivelamento.
Em todos os processos onde há a aplicação de Primer e entre camadas de massa
emborrachada, é necessário aguardar tempo de cura, e a massa pode retrair durante
seu processo de secagem, sendo necessário camadas de massa até o nivelamento
correto. Ao todo, o processo pode levar no mínimo 72 horas até sua finalização,
respeitando o tempo de cura dos materiais.

Figura3- Exemplo do tratamento de juntas entre placas fibrocimento


Figura 4- Parede com juntas invisíveis

Após a cura total das juntas, o acabamento é realizado conforme especificação do


fabricante, porém em diversos tipos de placas é necessário aplicação de massa
específica especial em toda a superfície, realizando os procedimentos de pintura com
tinta elastomérica ou semelhante.

Patologias em juntas de placas fibrocimento

Devido ao processo de fabricação da placa fibrocimento, prensadas com pasta de


cimento e papel celulose, possuem a capacidade de grande dilatação no sentido
longitudinal, ou seja, sentido a qual foi produzida. Com isto, ao desempenharem sua
função de revestimento em fachadas, estão diretamente expostas à incidência solar e
aumento de sua dilatação/movimentação. As tensões encontradas em estruturas
concentram-se principalmente em vãos e cantos de materiais por serem áreas
consideradas mais frágeis (situação encontrada no uso de vergas e contravergas em vãos
de portas e janelas). No caso de fachadas revestidas com placas e materiais
semelhantes, a situação é a mesma: as tensões concentram-se principalmente nas
juntas e cantos, exigindo maior resistência dos materiais aplicados nas juntas como fitas,
selantes e massa emborrachada.
Em alguns casos analisados, verificou-se que as placas se movimentaram
excessivamente, concentrando tensões excessivas em seu perímetro acima das quais os
materiais aplicados nas juntas foram dimensionados para suportar, causando
descolamentos, empolamentos e ruptura das juntas. Estas placas possuem variação
dimensional acima de 2mm/m, o que as torna propensas a sofrerem movimentações
elevadas em exposição ao calor excessivo ou em períodos prolongados. Os parafusos
também sofreram principalmente nos perímetros das bordas, causando trincas nas
placas e diminuindo sua resistência. Com estas aberturas nas juntas, é passível de
ocorrer infiltração de água da chuva, aumento os danos na edificação.
Uma característica da placa fibrocimento e que influencia em seu desempenho e pode
contribuir para surgimento de fissuras e trincas é o fato de ela ser composta por várias
camadas de celulose e cimento. Ao receber incidência de calor e umidade, juntamente
com o envelhecimento natural o qual os materiais estão propensos a sofrerem, sua
impermeabilização fabril perde resistência e permite a absorção maior de umidade,
causando inchamento na presença de umidade e secagem na evaporação. Com este
processo, a placa começa a delaminar e perder sua resistência, causando
desprendimento da estrutura em situações mais avançadas de envelhecimento.

Figura 5- Detalhe das camadas de placa fibrocimento

No caso do tratamento de juntas, mesmo utilizando fitas entre 50mm e 100mm de


largura, não tornam-se suficiente para suportar as solicitações de tensões transmitidas
pelas placas, havendo em algumas situações um carregamento excessivo de tensões
acima das quais as fitas suportam, devido à área mínima de atuação e ancoragem das
mesmas, evoluindo para trincas e desprendimentos.
Outros fatores a serem analisados antes da especificação e execução de fachadas com
juntas tanto aparentes quanto invisíveis é a utilização de pinturas elastoméricas, de
elevada elasticidade, capazes de acompanhar a movimentação exigida pelas placas
fibrocimento. Caso o material não possua essa capacidade de resiliência, poderá
desprender-se da superfície, causando descolamentos e descascamentos. Observa-se
que pelo fato de a placa ser totalmente impermeabilizada, não permite uma correta
ancoragem de revestimentos, devendo os mesmos possuírem a denominada
“ancoragem química”, sendo basicamente utilizado produtos químicos em sua
composição voltados para a ancoragem correta nestas superfícies.
As massas emborrachadas utilizadas nas juntas também apresentam dificuldade em
garantir aderência de acabamentos, havendo dificuldade no mercado de encontrar
materiais que possam garantir essa aderência. As massas, além da dificuldade de
aderência, podem também apresentar uma perda de memória de elasticidade no
envelhecimento e ou em casos em que há grandes movimentações. Com isto, ocorre
desprendimento dos acabamentos e baixo desempenho das juntas, gerando trincas e
desprendimento da massa.

Fissuras causadas por sobrecarga


de movimentação

Fadiga e ruptura do material de


preenchimento das juntas

Figura 6- Fissuras em pontos de fixação

No caso dos acabamentos, é necessário análise mais aprofundada do tipo de material a


ser utilizado assim como as características que a placa fibrocimento possui, pois,
utilizando materiais com desempenho inferior ao recomendado, é passível de haver
patologias.
Outro fator a ser levado em consideração é a necessidade de uso de pinturas
elastoméricas para acabamento, pois nas movimentações a qual a parede é solicitada,
a pintura deverá possuir esta capacidade de movimentar-se, pois caso contrário perde
sua ancoragem, causando descascamentos e fissuras na superfície.
Em caso de uso de revestimentos cerâmicos, o indicado é o uso de argamassa ACIII
flexível ou conforme recomendado pelo fabricante, sendo que alguns possuem produtos
específicos para este fim. Algumas industrias recomendam também que caso seja
realizado revestimentos de placas cerâmicas ou pedras, seja aplicado previamente
chapisco com aditivo especifico antes do assentamento dos materiais, visando
aumentar a ancoragem.
Outra patologia encontrada nas situações é o estufamento das juntas, onde formam-se
ressaltos entre a placas, conforme a área da fachada pode ser marcada todas as juntas,
tanto no sentido vertical quanto no horizontal. Este tipo de ocorrência é causado pela
falta do espaçamento/distancia menor que o recomendado pelo fabricante do material.
No momento da movimentação da placa, por não haver espaço de fuga, encosta na
placa ao lado, empurrando a massa da junta e causando estes ressaltos. Conforme
aumento da movimentação, pode ocasionar quebra e desprendimento da estrutura.
Este fato é corrigido seguindo o espaçamento correto entre placas. É necessário prever
também juntas de dilatação, variando conforme fabricante da placa fibrocimento.

Figura7- Parede com juntas estufadas causadas por falhas no espaçamento entre placas ou
movimentações causadas por dilatação/retração excessiva
Placa tipo “liga cimentícia”

As placas tipo “liga cimentícia”, são compostas por liga de cimento, agregados e aditivos
que conferem resistência à umidade e aumento nas propriedades termo-acústicas, onde
possui como principal característica a estruturação por tela de fibra de vidro nas duas
faces, sistema denominado “open mesh”.
Surgiu nos Estados Unidos na década de 60, sendo um material para uso principalmente
em áreas externas onde exige-se grande resistência além do calor e chuva, da neve e
frio principalmente nas regiões próximas aos trópicos polares. Sua espessura mais
utilizada é de 12.5mm, próxima ao das chapas drywall ( seguindo o Padrão Imperial de
medidas) , facilitando a compatibilização do projeto que utiliza ambas as placas. Além
dos revestimentos de fachada, é utilizada como substrato para aplicação de
revestimento “EIFS” (External Insulation Finish System, voltado para aumento no
desempenho térmico, comumente encontrado em regiões frias). Seu uso como
substrato é indicado devido à elevada resistência à dilatação e proteção contra umidade.
Como principais características e vantagens em relação à placa fibrocimento, são o baixo
peso devido o fato de sua liga possuir agregados leves sem perder resistência,
estruturação por tela de fibra de vidro que minimiza a dilatação em qualquer sentido,
visto que a trama da tela possui a mesma gramatura que o urdume, não havendo sentido
com trama menor da tela.

Tela de fibra de vidro

Núcleo de liga de cimento com agregados

Tela de fibra de vidro


Figura 8- Detalhe das características da placa cimentícia com sistema
denominado “open mesh”
Juntas

Para as placas cimentícias, é realizado o tratamento das juntas e também o tratamento


e estruturação de toda a superfície.
Este método, denominado como Base Coat, também pode ser chamado de DEFS- Direct
Applied Exterior Finish Systems- Sistema de aplicação de acabamento exterior, definido
pela ASTM C1516, onde as juntas entre as placas são tratadas com massa específica e
fita de junta composta por fibra de vidro, largura mínima de 100 cm, sendo em seguida
aplicado em toda a superfície da placa a massa especifica tipo Base Coat juntamente
com tela de fibra de vidro, dimensões variadas, onde este conjunto funciona como uma
superfície monolítica que absorve as movimentações causadas por dilatação/retração,
absorvendo e neutralizando as tensões causadas por estes fenômenos. O uso de
diferentes tipos de massa varia conforme fabricante.
Com este tipo de aplicação, utilizando materiais específicos determinados pelos
fabricantes das placas, o risco de patologias é praticamente nulo, pois o sistema foi
desenvolvido para este princípio.
As bordas das placas não precisam ser rebaixadas, podendo ser quadradas, pois, visto
que como toda a superfície será tratada com massa específica, também ficará nivelada.

Processo de tratamento de superfície: estruturação das juntas

Os espaços entre as placas cimentícias, geralmente 3 a 5 mm, são preenchidas


totalmente com massa especifica, podendo ser a mesma que será aplicada em toda a
superfície ou outro tipo variando conforme fabricante. Em seguida, é instalada a fita de
junta constituída por fibra de vidro, de dimensões variadas, porém o mínimo é de 10 cm
de largura. Após a instalação é aguardo o tempo de cura conforme secagem da massa.
Em testes e estudos, verificou-se que a fita de junta atua como auxilio na estrutura das
juntas entre placas, onde somente a aplicação dela não é suficiente para total
estruturação e neutralização de tensões, absorvendo tensões de grau secundário
presente nas juntas (quando há baixa movimentação). Ela estrutura estes locais e em
conjunto de forma secundária com a tela de fibra de vidro que ficará em toda a
superfície minimizará as fissuras.
Figura 9- Fachada residencial com estruturação das juntas antes do tratamento de
superfície

Nos cantos e ângulos de 90° é recomendado a estruturação pois são áreas que também
concentram tensões e estão propensas a trincas. Nestas regiões são instaladas telas ou
cantoneiras compostas de tela de fibra de vidro e pvc, pois este é um material inerte e
não corrosivo. A peça é instalada utilizando a mesma massa das juntas, não sendo
necessário sua fixação por parafusos, como a cantoneira metálica do sistema drywall.

Figura 10- Detalhe de instalação de cantoneira em janela de banheiro


Definição Base Coat

Segundo a Definição na Diretriz Sinat 003- relacionada ao sistema Light Steel Frame, o base coat
consiste em: “Massa para proteção do sistema à base de cimento reforçado com resina sintética
que deverá ser aplicada de modo a obter uma camada de aproximadamente 5mm antes da
colocação da tela e de 2mm após esta colocação. Pode ser aplicada manualmente ou com
máquina de projeção de argamassa”.

Já a Diretriz Sinat 009- sistemas de fachadas leves em Light Steel Frame, define base coat
como “camada de revestimento de argamassa reforçada com tela ou fibras aplicada
sobre a chapa cimentícia.”
O Manual de Vedações em Fachadas da CBCA- Centro Brasileiro da Construção em Aço, capitulo
2: Light Steel Frame, cita, a função do Base Coat: especifica-se que “para prevenir fissuras os
encontros entre placas cimentícias devem ser tratados com telas especiais, em geral de fibra de
vidro, aplicadas com argamassa especial para suportar tensões impostas pela dilatação e
contração térmica e higroscópica. A fim de proteger as placas contra umidade e movimentação
higroscópica e garantir a planicidade da fachada, deve ser prevista a aplicação de uma cada de
argamassa denominada base coat”.

Processo de tratamento de superfície: Base Coat

Após o tempo determinado de cura do tratamento de juntas, é realizado a aplicação da


massa tipo Base Coat na superfície das placas. O pode ser aplicado tanto com
desempenadeira dentada quanto com projetor de massa (utilizado principalmente em
grandes fachadas). É aplicado uma camada de massa, em seguida instala-se a tela de
fibra de vidro e retirado o excesso de massa, aplicando nova camada até o recobrimento
total da tela. A espessura ideal no estado endurecido fica entre 3 a 5mm.

Figura 11- Aplicação da tela de fibra de vidro e massa tipo Base Coat na superfície das
placas
No ponto de vista mecânico, a tela possui a tendência de absorver as movimentações
que a superfície irá sofrer, atuando em conjunto com a massa que geralmente possui
propriedades elastoméricas em sua composição, possuindo a capacidade de
movimentar-se com memória de elasticidade ideal para este tipo de aplicação.
Após determinado tempo de cura, variando conforme fabricante, é realizado os
procedimentos comuns de acabamento como pintura e revestimentos cerâmicos,
pedras, etc. No caso de pinturas, é importante também a aplicação de pintura
elastomérica e que possua também propriedades de permeância ao vapor.
Entre todos os processos de inicio de estruturação de juntas até a cura total, o tempo
estimado fica em 48 horas, abaixo das 72 horas mínimas aproximado em relação ao
tratamento de juntas das placas tipo fibrocimento.

Figura 12- Residência em processo de finalização do tratamento de superfície tipo Base


Coat

Patologias em juntas de placas cimentícias

Como analisado, o sistema Base Coat foi desenvolvido para anular o surgimento de
fissuras e trincas nas paredes, porém as mesmas podem surgir principalmente por falhas
durante o processo de execução ou falta de observação das informações que os
fabricantes dos materiais fornecem para a correta execução.
Uma das causas mais comuns que ocorrem em edificações é o estufamento de junta
causado pela falta de espaçamento entre as placas cimentícias. Apesar de este tipo de
placa apresentar uma variação dimensional de em média 0,2mm/m, o espaçamento
entre si é importante para permitir que a movimentação livre do material, quando
ocorrer.
Este tipo de ocorrência é causado pela falta do espaçamento/distância menor que o
recomendado pelo fabricante do material. No momento da movimentação da placa, por
não haver espaço de fuga, encosta na placa ao lado, empurrando a massa da junta e
causando estes ressaltos. A ausência da etapa de aplicação da fita de junta pode causar
este tipo de ocorrência.
A falta de execução de juntas de dilatação ou falha no dimensionamento também é um
fator que causa o estufamento das juntas. Geralmente as juntas são indicadas a cada 15
metros lineares ou panos com 60 m², onde é deixado junta de 1 cm de largura e aplicado
selante ou mástique. Com isso, há um ponto de fuga para as áreas de placas.

Figura 13-Estufamento de juntas causado pela falta de espaçamento entre placas

Outra situação que pode ser encontrada, porém em menor incidência, é o surgimento
de microfissuras na superfície do Base Coat após a sua cura. Isto é devido a duas
situações que se correlacionam:
I. Quantidade de água de amassamento abaixo do recomendado: massa com
pouca água, muito seca, além de dificultar sua aplicação irá interferir no
desempenho da mesma pois o cimento necessita de determinada quantidade de
água para reagir e criar resistência. A quantidade correta é indicada pelo
fabricante do produto;
II. Elevada temperatura do ambiente no momento da aplicação: em regiões de alta
incidência solar, as placas cimentícias poderão apresentar temperatura elevada
em sua superfície, fazendo com que a água de amassamento da massa Base Coat
possa evaporar rapidamente. Com isso, o cimento não irá obter cura adequada
e retrair devido à falta de água, causando as microfissuras.
Fabricantes de Base Coat recomendam que nestas situações seja necessário aspersão
de água para resfriamento da superfície das placas e conforme temperatura do local,
aspergir água após a aplicação total do tratamento de superfície, de modo a manter a
cura adequada dos componentes da massa. Na ASTM C 1516-05-Standard Practice for
Application of Direct-Applied Exterior Finish System, normativa americana que especifica
ítens como desempenho, componentes e métodos de aplicação do sistema DEFS,
também prevê esta situação de resfriamento, citando, no ítem 13, que “em dias quentes,
é permitido aspergir água na parede com água potável e limpa de modo a resfriar a
parede”.
Conclusão

Como verificado, há diversos métodos de execução de revestimentos utilizando placas


cimentícias. O tratamento tipo Base Coat demonstra-se mais eficiente que somente o
de juntas com massa emborrachada, pois foi desenvolvido visando a redução de fissuras
e trincas, principais patologias presentes em sistemas de revestimentos.
Importante também é sempre consultar os fabricantes dos respectivos materiais, pois
os mesmos, como desenvolvedores do material, poderão especificar de forma correta
os métodos de aplicação, tipo de material a ser utilizado e limitações, visando sempre a
garantia e crescimento do sistema de construção a seco.
Por fim, no mercado nacional não existe somente um material que seja eficiente para
todos os tipos de aplicação, mas sim existe o material correto especificado para a
aplicação correta.

Luan Banruque
Técnico Edificações

Crea 139457/TD
Curitiba-PR/2018
Fontes

NBR 15498/2016- -placas de fibrocimento sem amianto-requisitos e métodos de


ensaio;
ISO 8336/2015- Fiber Cement sheets;
EN 12467- Fiber cement sheet;
Diretriz Sinat n° 009- Sistema de vedação vertical externa, sem função estrutural,
multicamadas, formado por perfis leves de aço zincado e fechamentos em chapas
delgadas com revestimento de argamassa ( Fachada leve em Steel Frame). Julho 2016
Diretriz Sinat n° 003- Sistemas construtivos estruturados em perfis leves de aço zincado
conformados a frio, com fechamentos em chapas delgadas ( Sistemas leves tipo “ Light
Steel Framing”) Maio de 2016

ASTM C1516-05-2017-Application of Direct-Applied Exterior Finish Systems;

Manual CBCA- Tecnologia de Vedação e Revestimento para Fachadas-2014;


PlacLux- Manual Técnico ProFort- Catálogo técnico-2018;
Brasilit- Guia de Sistemas de Produtos Planos- Catálogo técnico-2016;
Eternit- Cátalogo Técnico Eternit- Catálogo técnico-Download do site realizado em
abril/2018;
Decorlit- Ecoplac Cimentícia Decorlit- Catálogo técnico- versão 03/2015 conforme
disponível no site;
Knauf- Sistema de fachada Knauf Aquapanel- Catálogo técnico 2016;
USG- Manual Técnico Durock Next Gen-Catálogo técnico USG México- 2011
National Gypsum Company- Perma Base-Cement Board Construction Board-revisão
06/2015 conforme disponível no site;

Obs: As fotos das obras foram retiradas durante visita técnica para acompanhamento.

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