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As placas cimentícias, assim como a chapa de gesso acartonado, são materiais utilizados
em escala mundial em países onde o sistema construtivo frame é utilizado, tanto Steel
Frame quanto Wood Frame. Devido a este fator, existem normas para padronizar a
placa, visando sua qualidade e segurança. Entre as diversas normas, existem poucas
diferenças entre as especificações e ensaios, variando conforme país, porém em quase
sua totalidade a base é seguida pela ISO 8336 (de âmbito internacional). Em países
europeus segue-se principalmente a EN 12467, nos países da América do Norte utiliza-
se a ASTM C 1185. No Brasil, utiliza-se a NBR 15498/2016.
A definição de placa cimentícia sofre breve variação em sua nomenclatura, porém há
um padrão em relação aos seus componentes:
Segundo a NBR 15498/2016-placas de fibrocimento sem amianto-requisitos e métodos
de ensaio, as placas cimentícias são “produtos resultantes da mistura de cimento
Portland, agregados, adições ou aditivos com reforço de fibras, fios, filamentos ou telas,
com exceção de fibras de amianto.”
Na normativa européia EN 12467- Fiber cement sheet, “As placas devem consistir
essencialmente de cimento ou de silicato de cálcio, o produto químico resultante da
reação do silício com o calcário, reforçadas com fibras, formando a massa de cimento.
As fibras de reforço devem satisfaze a um dos seguintes requisitos: elementos dispersos
na superfície, feixes de ponta a ponta ou fitas, telas ou tecidos”.
A ISO 8336- Fiber Cement sheets determina que as “placas planas de fibra de cimento
são compostas essencialmente de cimento ou de silicato de cálcio formado pela reação
química de um silicato e um material calcário, reforçado por fibras (ver 3.9). Para auxiliar
no recebimento de cargas, podem ser adicionados pigmentos agregados e que são
compatíveis com o cimento reforçado com fibras. Os reforços devem ser a combinação
dos seguintes materiais como fibra de celulose; fibra sintética orgânica ou inorgânica;
fibra de vidro.
No mercado nacional existem dois tipos distintos de placa cimentícia conforme sua
composição e características: fibrocimento e liga cimentícia. Além da composição,
diferem também em relação aos tratamentos. Nesta análise, será retratada os
tratamentos mais utilizados em edificações conforme recomendações dos fabricantes
existentes no mercado nacional.
As patologias oriundas de natureza estrutural, também um dos motivos que ocasionam
as trincas, não será abordado, visto ser uma análise complexa e que exige estudos de
várias informações como contraventamento, sobrecargas na estrutura, momento fletor,
flambagem excessiva, movimentações causadas por acomodação da estrutura no
terreno, etc. Este tipo de análise será abordado em futuro estudo em nova edição deste
documento. Os itens e informações descritas foram obtidas através de testes e
acompanhamentos diversos de obras e em laboratórios onde constatou-se que as
patologias apresentadas não foram causadas pela estrutura, mas sim relacionadas ao
material de revestimento, no caso a placa cimentícia/fibrocimento.
Placa tipo “fibrocimento”
Juntas
Junta aparente
As juntas aparentes podem variar conforme fabricante em sua recomendação de
execução, porém a forma mais encontrada é a aplicação de Primer entre as juntas,
instalação ou não de cordão de polietileno expandido tipo “Tarucel” ( variando
conforme fabricante) e em seguida aplicação de selante elástico à base de poliuretano,
como mástique ou selante PU.
Figura 1- Detalhe composição junta aparente
Figura7- Parede com juntas estufadas causadas por falhas no espaçamento entre placas ou
movimentações causadas por dilatação/retração excessiva
Placa tipo “liga cimentícia”
As placas tipo “liga cimentícia”, são compostas por liga de cimento, agregados e aditivos
que conferem resistência à umidade e aumento nas propriedades termo-acústicas, onde
possui como principal característica a estruturação por tela de fibra de vidro nas duas
faces, sistema denominado “open mesh”.
Surgiu nos Estados Unidos na década de 60, sendo um material para uso principalmente
em áreas externas onde exige-se grande resistência além do calor e chuva, da neve e
frio principalmente nas regiões próximas aos trópicos polares. Sua espessura mais
utilizada é de 12.5mm, próxima ao das chapas drywall ( seguindo o Padrão Imperial de
medidas) , facilitando a compatibilização do projeto que utiliza ambas as placas. Além
dos revestimentos de fachada, é utilizada como substrato para aplicação de
revestimento “EIFS” (External Insulation Finish System, voltado para aumento no
desempenho térmico, comumente encontrado em regiões frias). Seu uso como
substrato é indicado devido à elevada resistência à dilatação e proteção contra umidade.
Como principais características e vantagens em relação à placa fibrocimento, são o baixo
peso devido o fato de sua liga possuir agregados leves sem perder resistência,
estruturação por tela de fibra de vidro que minimiza a dilatação em qualquer sentido,
visto que a trama da tela possui a mesma gramatura que o urdume, não havendo sentido
com trama menor da tela.
Nos cantos e ângulos de 90° é recomendado a estruturação pois são áreas que também
concentram tensões e estão propensas a trincas. Nestas regiões são instaladas telas ou
cantoneiras compostas de tela de fibra de vidro e pvc, pois este é um material inerte e
não corrosivo. A peça é instalada utilizando a mesma massa das juntas, não sendo
necessário sua fixação por parafusos, como a cantoneira metálica do sistema drywall.
Segundo a Definição na Diretriz Sinat 003- relacionada ao sistema Light Steel Frame, o base coat
consiste em: “Massa para proteção do sistema à base de cimento reforçado com resina sintética
que deverá ser aplicada de modo a obter uma camada de aproximadamente 5mm antes da
colocação da tela e de 2mm após esta colocação. Pode ser aplicada manualmente ou com
máquina de projeção de argamassa”.
Já a Diretriz Sinat 009- sistemas de fachadas leves em Light Steel Frame, define base coat
como “camada de revestimento de argamassa reforçada com tela ou fibras aplicada
sobre a chapa cimentícia.”
O Manual de Vedações em Fachadas da CBCA- Centro Brasileiro da Construção em Aço, capitulo
2: Light Steel Frame, cita, a função do Base Coat: especifica-se que “para prevenir fissuras os
encontros entre placas cimentícias devem ser tratados com telas especiais, em geral de fibra de
vidro, aplicadas com argamassa especial para suportar tensões impostas pela dilatação e
contração térmica e higroscópica. A fim de proteger as placas contra umidade e movimentação
higroscópica e garantir a planicidade da fachada, deve ser prevista a aplicação de uma cada de
argamassa denominada base coat”.
Figura 11- Aplicação da tela de fibra de vidro e massa tipo Base Coat na superfície das
placas
No ponto de vista mecânico, a tela possui a tendência de absorver as movimentações
que a superfície irá sofrer, atuando em conjunto com a massa que geralmente possui
propriedades elastoméricas em sua composição, possuindo a capacidade de
movimentar-se com memória de elasticidade ideal para este tipo de aplicação.
Após determinado tempo de cura, variando conforme fabricante, é realizado os
procedimentos comuns de acabamento como pintura e revestimentos cerâmicos,
pedras, etc. No caso de pinturas, é importante também a aplicação de pintura
elastomérica e que possua também propriedades de permeância ao vapor.
Entre todos os processos de inicio de estruturação de juntas até a cura total, o tempo
estimado fica em 48 horas, abaixo das 72 horas mínimas aproximado em relação ao
tratamento de juntas das placas tipo fibrocimento.
Como analisado, o sistema Base Coat foi desenvolvido para anular o surgimento de
fissuras e trincas nas paredes, porém as mesmas podem surgir principalmente por falhas
durante o processo de execução ou falta de observação das informações que os
fabricantes dos materiais fornecem para a correta execução.
Uma das causas mais comuns que ocorrem em edificações é o estufamento de junta
causado pela falta de espaçamento entre as placas cimentícias. Apesar de este tipo de
placa apresentar uma variação dimensional de em média 0,2mm/m, o espaçamento
entre si é importante para permitir que a movimentação livre do material, quando
ocorrer.
Este tipo de ocorrência é causado pela falta do espaçamento/distância menor que o
recomendado pelo fabricante do material. No momento da movimentação da placa, por
não haver espaço de fuga, encosta na placa ao lado, empurrando a massa da junta e
causando estes ressaltos. A ausência da etapa de aplicação da fita de junta pode causar
este tipo de ocorrência.
A falta de execução de juntas de dilatação ou falha no dimensionamento também é um
fator que causa o estufamento das juntas. Geralmente as juntas são indicadas a cada 15
metros lineares ou panos com 60 m², onde é deixado junta de 1 cm de largura e aplicado
selante ou mástique. Com isso, há um ponto de fuga para as áreas de placas.
Outra situação que pode ser encontrada, porém em menor incidência, é o surgimento
de microfissuras na superfície do Base Coat após a sua cura. Isto é devido a duas
situações que se correlacionam:
I. Quantidade de água de amassamento abaixo do recomendado: massa com
pouca água, muito seca, além de dificultar sua aplicação irá interferir no
desempenho da mesma pois o cimento necessita de determinada quantidade de
água para reagir e criar resistência. A quantidade correta é indicada pelo
fabricante do produto;
II. Elevada temperatura do ambiente no momento da aplicação: em regiões de alta
incidência solar, as placas cimentícias poderão apresentar temperatura elevada
em sua superfície, fazendo com que a água de amassamento da massa Base Coat
possa evaporar rapidamente. Com isso, o cimento não irá obter cura adequada
e retrair devido à falta de água, causando as microfissuras.
Fabricantes de Base Coat recomendam que nestas situações seja necessário aspersão
de água para resfriamento da superfície das placas e conforme temperatura do local,
aspergir água após a aplicação total do tratamento de superfície, de modo a manter a
cura adequada dos componentes da massa. Na ASTM C 1516-05-Standard Practice for
Application of Direct-Applied Exterior Finish System, normativa americana que especifica
ítens como desempenho, componentes e métodos de aplicação do sistema DEFS,
também prevê esta situação de resfriamento, citando, no ítem 13, que “em dias quentes,
é permitido aspergir água na parede com água potável e limpa de modo a resfriar a
parede”.
Conclusão
Luan Banruque
Técnico Edificações
Crea 139457/TD
Curitiba-PR/2018
Fontes
Obs: As fotos das obras foram retiradas durante visita técnica para acompanhamento.