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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE

JANEIRO

INSTITUTO DE QUÍMICA

DEPARTAMENTO DE QUÍMICA FUNDAMENTAL

CURSO: QUÍMICA INDUSTRIAL

EXPERIMENTO VII:

NÍQUEL

Ana Julia Sebrão dos Santos – 20190010882, Gabriela Guimarães Travassos -


20190014925 e Luiza Dourado Bastos de Oliveira - 20190030197

DISCIPLINA: Química Inorgânica Experimental II (IC-678)

Leonardo da Cunha Ferreira

SEROPÉDICA

FEVEREIRO/2023
1. INTRODUÇÃO

O níquel apresenta símbolo Ni de número atômico 28 e distribuição eletrônica [Ar] 3d 8


4s2, é um metal da primeira série de transição e primeiro elemento do grupo 10 da
tabela periódica e é o vigésimo-segundo elemento mais abundante em peso na crosta
terrestre. É um sólido branco prateado e resistente. Esse metal se dissolve
rapidamente em ácidos, diluídos formando o complexo catiônico [Ni(H 2O)6]2+ que
possui coloração verde e H2.
É abundante e produzido em grandes quantidades. Usado na preparação de ligas
ferrosas e não-ferrosas, pois melhora a resistência mecânica e química do aço. A liga-
monel, por exemplo, é muito resistente à corrosão e é usada em equipamentos que
entram em contato com cloretos corrosivos. Essa liga contém 68% de níquel e 32% de
cobre, além de pequenas quantidades de ferro e manganês [LEE, 1999]. Dentre outras
utilizações, quando em alto grau de pureza também é empregado como catalisador na
hidrogenação de óleos vegetais para produção de margarina; em termopares
(sensores de temperatura simples); e seus sais dão cor verde a vidros e cerâmicas,
além de poder ser utilizado como imã [CRQ-IV, 2022].
A obtenção do níquel a partir de seus minérios é dificultada pela presença de outros
metais. O processo Mond, descoberto por Ludwing Mond, é um método alternativo
para produzir Ni de elevada pureza. Na qual, NiO e “gás d’ água” – H2 e CO são
aquecidos à 50°C, à pressão atmosférica; o H2 reduz o NiO a Ni, que por sua vez reage
com CO formando o complexo volátil (tetracarbonil)níquel(II), [Ni(CO) 4]-2, a molécula é
tetraédrica, e o composto é volátil, muito tóxico, facilmente oxidável e inflamável.
Quando o gás é aquecido à 230°C, se decompõe formando o metal Ni puro e CO, que
é reciclado. [LEE, John David, 1999].
Ni(s) + 4 CO(g) → Ni(CO)4 (g) → Ni (s)+ 4 CO (g)
É possível encontrar o níquel nos estados de oxidação de (-1) a (+4), porém sua
química predomina na forma de Ni 2+ com complexos quadráticos planos ou octaédricos
em sua maioria, dependendo da força dos ligantes da esfera de coordenação. Isso se
dá, pois em estados de oxidação mais elevados há grande instabilidade [LEE, 1999].
A utilização do níquel e seus compostos na indústria é muito diversificada. A aplicação
mais importante é na fabricação do aço inoxidável, pois o níquel é um elemento
resistente à ação corrosiva de muitos ácidos, sais e álcalis [NÍQUEL, 2015]. O níquel é
utilizado como uma das camadas base na galvanoplastia do cromo (para se conseguir
que o cromo adira ao ferro, este primeiro é coberto com cobre, depois níquel e
finalmente com o cromo, num processo conhecido como deposição). Serve também
como catalisador em certas reações de hidrogenação, tais como na fabricação da
margarina e manteiga a partir de gorduras líquidas [NÍQUEL, 2015].
2. OBJETIVOS

Estudar a química do níquel através do desenvolvimento de ensaios sobre as


características do comportamento químico do níquel e dos complexos formados de
níquel (II). Observação das reações ocorridas, partindo do hidróxido de níquel,
substituição e efeito de ligantes sobre os complexos de níquel e separação de níquel e
cobre.

3. METODOLOGIA

3.1 MATERIAIS E REAGENTES

Materiais

● Bastão de Vidro ● Pinça de Madeira


● Espátula ● Pipetas graduadas (10 mL e 50
mL)
● Béquer
● Papel de filtro
● Estante para tubos de ensaio
● Tubo de Ensaio
Reagentes

● Solução de Ni 2+
● Solução de Cianeto de
● Hidróxido de Sódio (NaOH 0,5M)
Potássio (KCN 1%)
● Água Destilada (H2O)
● Solução de Etilenodiamina
● Hidróxido de Sódio (NaOH
(0,2 M)
50%)
● Solução concentrada de Ácido
● Solução concentrada de
Clorídrico (HCl)
Hidróxido de Amônio (NH4OH)
● Liga de monel (1 g)
● Solução de Cloreto de Amônio
(NH4Cl) ● Ácido Nítrico (HNO3 5 M)
● Solução alcóolica de ● Solução diluída de Hidróxido de
Amônio (NH4OH)
dimetilglioxima
3.2 METODOLOGIA EXPERIMENTAL

Preparação e propriedades do hidróxido de níquel (II)

Foi adicionado 3 mL de uma solução de sulfato de níquel (II) 0,1 M em um tubo de


ensaio com mais 1,5 mL de hidróxido de sódio 1,0 M e 1,5 mL de água destilada até
a formação de uma suspensão verde. Feito isso, dividiu-se o suspensão em três
tubos de ensaio. No tubo 1 o precipitado f o i e x p o s t o ao ar com ajuda de um
bastão de vidro e reservado. Ao tubo 2 foi adicionado uma solução de NaOH a 50%
em excesso e a mistura foi aquecida. No tubo 3, a solubilidade do precipitado foi
testada com a adição de NH4OH concentrado.
Observou-se os três respectivos tubos de ensaio e suas modificações.

Complexos de níquel

a) Em um tubo de ensaio, saturou-se uma solução de hidróxido de amônio


concentrado com cloreto de amônio. Em seguida, verteu-se esta solução sobre uma
solução de Ni2+ e observou-se qualquer alteração.

b) Em outro tubo de ensaio, adicionou-se 5 gotas de uma solução de Ni 2+, 1,0 mL


de uma solução concentrada de hidróxido de amônio e 0,5 mL de solução alcoólica de
dimetilglioxima. Observou-se qualquer alteração.

c) Em outro tubo de ensaio, adicionou-se 5 gotas de uma solução 0,2 M de cloreto


de níquel (II) e gotas de uma solução de cianeto de potássio a 1%, até dissolução do
precipitado formado. Em seguida, adicionou-se 0,5 mL de solução alcoólica de
dimetilglioxima e observou-se qualquer alteração.

d) Efeito do número de ligantes sobre a cor dos complexos

Em dois tubos de ensaio, adicionou-se 2,0 mL de uma solução 0,2 M de cloreto de


níquel (II). No tubo 1, adicionou-se 2,0 mL de uma solução de etilenodiamina 0,2 M.
No tubo 2, adicionou-se 4,0 mL da solução de etilenodiamina. Em seguida, adicionou-
se gota a gota de ácido clorídrico concentrado em cada tubo até regeneração da cor
inicial.
Separação de níquel e cobre

Em um béquer dissolveu-se 1,0 g de liga monel em 10,0 mL de ácido nitrico 5 M. Em


seguida, dilui-se com 100 mL de água destilada, adicionou-se hidróxido de amônio
concentrado e agitou-se até a dissolução do precipitado formado. Juntou-se 10,0 mL
de solução alcoólica de dimetilglioxima e agitou-se. Após filtrou-se a solução, lavou-se
o precipitado com alguns mL de hidróxido de amônio diluído e observou-se.
4. RESULTADOS E DISCUSSÕES

4.1 Preparação e propriedades do hidróxido de níquel (II)

Na solução aquosa de sulfato de níquel estão presentes os íons sulfatos e complexos


hexa(aqua)níquel(II) que dão a coloração verde à solução. Esse complexo é octaédrico
visto que, Ni2+ apresenta configuração d8 e a água é um ligante de campo fraco, o que
acarreta na configuração t2g6 eg2 (paramagnético). Ao se adicionar a solução de
hidróxido de sódio, ocorre a abstração de prótons das águas coordenadas (um de cada
vez), formando ligantes hidroxilas na esfera de coordenação. Ou seja, não há
substituição de ligantes.
Para a formação de precipitado ocorre uma reação de dupla troca como visto abaixo e
é necessário que a entidade de coordenação seja neutra, pois dessa forma não se
dissocia em água. Dessa forma, como a carga do aqua complexo é +2, há a abstração
de dois prótons para torná-la neutra, já que hidroxilas possuem uma carga negativa
cada.

NiSO4 → [Ni(H2O)6]2 + SO42-

[Ni(H2O)6]2+ + 2 NaOH → [Ni(H2O)4(OH)2] + NaSO4

O hidróxido de níquel formado apresenta coloração verde claro.

1º tubo: Ao deixar o precipitado exposto ao ar, ele reage com o oxigênio gerando uma
reação de oxirredução, a qual o níquel se oxida para Ni3+ e o oxigênio se reduz a O 2-,
formando NiO(OH) que é amarronzado.
Devido ao tubo de ensaio usado ter sido grande para a pouca quantidade de
precipitado, a reação foi muito lenta por conta da dificuldade da interação com o ar.

2º tubo: Ao se adicionar mais hidróxido ao precipitado, ocorre abstração de mais dois


prótons formando uma entidade de coordenação aniônica, portanto solubilizando o
precipitado.
[Ni(H2O)4(OH)2] + 2 NaOH → [Ni(H2O)2(OH)4]2-
Após aquecimento, observou-se novamente a formação do precipitado devido a
reversão ao tetra(aqua)dihidróxidoníquel(II) porque ocorre a saída das duas
moléculas de água na esfera de coordenação, o que torna a entidade de
coordenação neutra novamente.

Figura 1: Resultado da reação, produto [Ni(H2O)4(OH)2]

3º tubo: Ao se acrescentar solução concentrada de NH4OH ao precipitado, está se


acrescentando amônia visto que, soluções de hidróxido de amônio contêm apenas
amônia dissolvida, como visto na reação abaixo.

NH3 + H2O → NH4+ + OH-

Ao reagir com a amônia concentrada, há a substituição dos seis ligantes, formando o


hexa(amin)níquel(II) que, por ser uma entidade catiônica é solúvel. A solução
inicialmente verde ficou violeta azulada que é característico desses complexos
octaédricos paramagnéticos.

Ni(OH)2(s) + NH4OH(aq) → [Ni(NH3)6]2+ (aq) + 6 H2O(l)


4.2 Complexos de níquel

a) Ao colocar a solução saturada sobre a solução de Ni 2+, este íon em solução


aquosa está coordenado a moléculas de água com geometria octaédrica, formando o
íon [Ni(H2O)6]2+ (verde). Nesse caso, ao adicionar solução tampão amoniacal (com
excesso de NH4Cl), houve a substituição das moléculas de água pela amônia formando
o complexo hexa(amin)níquel(II) de cor violeta azulado.
Complexos com amônia são octaédricos e geralmente azuis e paramagnéticos, visto
que o Ni2+ é um íon d8, tendo dois elétrons desemparelhados.
[Ni(H2O)6]2+ + 2 NH3 → [Ni(H2O)4(NH3)2]2+ + 2 H2O

[Ni(H2O)4(NH3)2]2+ + 4 NH3 → [Ni(NH3)6]2++ 4 H2O

O uso da solução tampão é para evitar a precipitação do hidróxido de níquel (também


verde), favorecendo a formação do complexo.

Figura 2: Estruturas do complexo de níquel. Fonte: Docbrown.

Figura 3: Resultado da reação, produto [Ni(NH3)6]2+


b) Quando foi adicionado NH4OH,a coloração mudou para o violeta como visto
anteriormente devido a formação do complexo com amônia. Já ao colocar solução
alcoólica de dimetilglioxima, ocorreu a formação do complexodimetilglioximatoníquel (II)
que é um precipitado com coloração vermelha, comprovada experimentalmente pela
cor rosada da solução.

Ni2+ + 2 HDMG ↔ [Ni(DMG)2] + 2 H+

Como a dimetilglioxima é um ligante bidentado, atua como agente quelante sendo


necessário apenas duas moléculas de DMG por centro métalico, pois o [Ni(DMG)2] tem
uma geometria quadrática plana. Esse complexo é estabilizado pela formação de dois
anéis quelatos de 5 membros, além das ligações de hidrogênio na
molécula.

Figura 4: Formação do complexo de níque com dimetilglioxima.


Fonte: Truman State University CHEM 222 Lab Manual3

Figura 5: Resultado da reação, produto [Ni(DMG)2]


c) Ao adicionar KCN (cianeto sendo ligante de campo forte) em uma solução de
NiCl2,observou-se a formação de um precipitado esverdeado e com o excesso de
cianeto o precipitado foi solubilizado. Em seguida, adicionou-se uma solução alcoólica
de dimetilglioxima. No item b, foi adicionado cianeto de potássio (KCN) ao complexo
Ni(DMG)2 – bis(dimetilglioximato)níquel(II) de coloração vermelho brilhante. Como o
CN- é ligante de campo forte, a interação entre o ligante CN - e o Ni2+ é fortalecida.
Dessa forma, os elétrons desemparelhados do Ni 2+se emparelham alterando a
geometria do composto para quadrática plana. Por fim, o agente complexante
dimetilglioxima não consegue identificar Ni 2+ por conta da dificuldade na substituição
devido ao ligante cianeto.

Ni2+ + 2 CN- → Ni(CN)2 → [Ni(CN)4]2- + 2 CN- → [Ni(CN)4]2-

Figura 6: Estrutura do complexo de níquel com cianeto. Fonte: Uniasselvi.

Figura 7: Resultado da reação, produto [Ni(CN)4]2-


d) No tubo de ensaio contendo menor volume de etilenodiamina, a coloração
mudou de verde para azul, pois a etilenodiaminaé um ligante bidentado, e forma com o
íon Ni2+ o complexo [Ni(en)3]2+ que é mais estável que, por exemplo, o complexo
[Ni(NH3)6]2+ apesar da basicidade dos átomos de nitrogênio da etilenodiamina e da
amônia serem semelhantes. Essa estabilidade vemdo efeito quelato, pois ligantes que
possuem dois ou mais sítios de coordenações disponíveis são mais estáveisdo que
ligantes monodentados.Além disso, o ligante etilenodiamina desdobra mais fortemente
o campo ligante, ou seja, aumenta a energia da transição eletrônica para os complexos
que o têm como ligante.
Essa mudança de cor do complexo formado se deve pelo aumento do número de certo
tipo de ligantes à estrutura do complexo. Nesse caso, ao colocar o dobro do volume
deetilenodiamina na solução de cloreto de níquel, promove uma variação de cores do
verde para o violeta pelo fato de que a água (ligante de campo relativamente mais
fraco) que absorve cores com maiores comprimentos de onda foi substituída na
estrutura do complexo por um ligante de campo forte (etilenodiamina), a qual absorve
cores com menores comprimentos de onda, promovendo essa intensa variação de
cores. Com a adição de ácido clorídrico concentrado, a etilenodiamina é protonada e
se descoordena do metal, voltando à solução ao hexa(aqua)níquel (II) e sua coloração
verde. Essa alteração das cores, consequente de energias, é decorrente de adições
com volumes diferentes de soluções de etilenodiamina ao complexo
hexa(aqua)niquel(II). A partir disso entende-se como a concentração do ligante
influencia na esfera de coordenação de um metal.

Ni2+ + 2C2H4(NH2)₂ → [Ni(en)2]2+


azul claro
Ni2+ + 3C2H4(NH2)₂→ [Ni(en)3]2+
Violeta

Figura 8: Resultado da reação, produtos [Ni(en)2]2+ e [Ni(en)3]2+


4.3 Separação de níquel e cobre
Liga monel 400 é uma liga binária à base de Níquel com adição de cerca de 30% de
Cobre. Com o objetivo de separar o níquel e o cobre usou-se HNO3. Ao diluir a solução
em água e adicionar NH4OH, formou o complexo [Ni(H2O)4(NH3)2] de coloração violeta.
Após adição da dimetilglioxima forma o precipitado que é o complexo
dimetilglioximatoníquel (II) que possui uma coloração vermelha.
Ni2+ (aq) + 2 HDMG(s) ↔ [Ni(DMG)2] (s) + 2 H+ (aq)

A DMG é um ligante bidentado, atuando como agente quelante, por isso o complexo com
níquel é muito estável, fazendo com que haja a formação do aqua complexo coordenado com
amônia, originando o complexo [Cu(H2O)2(NH3)4] que possui coloração azul intensa.
Isso é observado durante a filtração com NH 4OH diluído, onde o solvente carrega toda a
solução do complexo de cobre ficando no papel de filtro apenas o precipitado de níquel com a
DMG.

Figura 9: Filtração de separação do Cobre e Níquel


5. CONCLUSÃO

Diante dos experimentos propostos, foi possivel concluir a característica sobre o níquel
e os os efeitos e propriedades do hidróxido de níquel (II), como a substituição de
ligantes em complexos de níquel (II), com o efeito do número de ligantes e sua
mudança de coloração. De um modo geral, os resultados foram atingidos tendo sido
adquiridos novos conhecimentos sobre as propriedades desse metal.
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AFONSO, Júlio Carlos. Manganês no brasil: descoberta, extração, consumo e


comercialização numa perspectiva histórica. Química Nova, v. 42, p. 1172-1183,
2020.

DA ROCHA, Renan Azevedo; AFONSO, Júlio Carlos. Manganês. Química Nova Na


Esc., v. 34, p. 103-105, 2012.

VANYSEK, Petr. Electrochemical series. CRC handbook of chemistry and physics,


v. 87, 1998.

VOGEL, A. I. Química Analítica Qualitativa. 5 ed. Mestre Jou, 1981.

SHRIVER, Duward; ATKINS, Peter. Química Inorgânica. Porto Alegre: Bookman, 3ª


ed, 2003.
LEE, J. D. Química Inorgânica Não Tão Concisa. 5. ed. Edgard Blucher, 1999; cap 23
- 26.

CRQ - 4ª região São Paulo. Elementos químicos - Níquel. Disponível em:


https://www.crq4.org.br/artigo_niquel. Acesso em: 13/02/2023.

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