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Anais do 47º Congresso Brasileiro do Concreto -


CBC2005
Setembro / 2005 ISBN 85-98576-07-7
Volume V - Inovações Tecnológicas para o Concreto
Trabalho 47CBC0044 - p. V568-581
© 2005 IBRACON.

DOSAGEM DE CONCRETO AUTO-ADENSÁVEL REFORÇADO COM


FIBRAS DE AÇO
SELF-COMPACTING FIBRE REINFORCED CONCRETE MIX DESIGN

Pereira de Oliveira L.A (1); Ramos M (2); Castro Gomes J.P (3)

(1) Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civi, Universidade da Beira Interior


email: luiz.oliveira@ubi.pt

(2) Mestranda, Departamento de Engenharia Civi, Universidade da Beira Interior


email: mmm.ramos@iol.pt

(3) Professor Doutor, Departamento de Engenharia Civi, Universidade da Beira Interior


email: castro.gomes@ubi.pt

Calçada Fonte do Lameiro, Edif.2, 6201-001, Covilhã, Portugal

Resumo
O artigo apresenta os resultados de um estudo experimental elaborado para o desenvolvimento de uma
metodologia de dosagem de concreto auto-adensável reforçado com fibras de aço (CAARFA) para ser
utilizado no preenchimento de vazados de alvenarias estruturais. O método proposto é simples e baseia-se
na determinação da granulometria óptima dos materiais finos através da observação do teor de argamassa
no concreto fresco. Foram utilizados dois comprimentos de fibras, 30mm e 60mm, adicionadas ao concreto
em volumes de 0,5%, 1,0% e 1,5%. Os resultados obtidos confirmam a viabilidade do uso de uma
metodologia simples para a obtenção de misturas de concreto com fibras cujas propriedades reológicas
caracterizam como auto-adensáveis. A presença de fibras de aço no concreto auto-adensável pode ser
pensada como um aumento da fracção de agregados graúdos sendo portanto necessário um aumento da
fracção fina para volumes de fibras crescentes. As resistências à compressão e a equivalente à flexão
permitem determinar a mistura óptima para uma classe de resistência do concreto desejada.
Palavras-Chave: concreto auto-adensável,dosagem de concreto, fibras de aço, teor de argamassa

Abstract
This paper deals with the mix design and properties of self-compacting steel fiber reinforced concrete
(SCFRC) used to filling the voids of the structural masonry. The SCFRC is designed by application of
different fibers volumes (0 %, 0,5%, 1,0% and 1,5%.) of two fibers lengths, 30mm and 60mm. The optimum
mixture fine grading is determined observing the mortar ratio in the fresh concrete. It turned out that self-
compacting behavior could be obtained at high steel contents. It has also been shown the viability of a
simple mix design method to attain the self-compacting ability of the reinforced steel fibers mixtures. The
compressive and equivalent flexural strengths as parameters to find the optimal mixture for the desired
concrete strength class were studied.

Keywords: concrete mix design, mortar ratio, self-compacting concrete, steel fibers

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Introdução
A adição de fibras metálicas nos concretos estruturais tem contribuido signficativamente
na melhoria da durabilidade e das propriedades mecânicas do concreto endurecido,
particularmente na resistência à flexão, ductilidade, resistência ao impacto, resistência à
fadiga e a sua vulnerabilidade à fissuração e lascamento. A adição de fibras de aço, como
constata MIAO B et al. (2003), também influencia negativamente a trabalhabilidade do
concreto fresco, tornando o concreto inadequado para os casos onde se requer elevada
fluidez. Entretanto, a possibilidade de redução da densidade de armaduras ordinárias nas
estruturas e mesmo destas serem, em alguns casos, substituídas pelo concreto reforçado
com fibras metálicas tem interessado muitos pesquisadores. Em analogia ao concreto
auto-adensável, proposto por OKAMURA (2000), o concreto auto-adensável reforçado
com fibras de aço (CAARFA) difere de outros concretos, correntemente utilizados, pela
sua capacidade de no estado fresco preencher todos os espaços no interior da forma sem
o uso de qualquer energia de compactação externa. Este tipo de concreto é capaz de
passar pelos espaços entre as armaduras e de se adensar apenas pela acção do seu
peso próprio. Esta compactação deve ocorrer com a liberação do ar aprisionado durante o
processo de mistura e sem haver segregação dos materiais ou seja o concreto deve
manter a sua homogeneidade.
Nos últimos anos vários métodos de dosagem para o concreto auto-adensável tem sido
propostos, destes os mais conhecidos, segundo NAWA et al. (1998) são o de Okamura -
Ozawa e da Japan Society of Civil Engineering, ambos os métodos limitam a dimensão
máxima dos agregados e o conteúdo de agregados graúdos, impondo assim uma
granulometria fina à mistura. Estas limitações são justificadas, em princípio, pelo facto que
em relação aos agregados, a frequência de colisões e de contacto entre partículas pode
aumentar a medida que a distância relativa entre partículas diminui. Deste modo, as
tensões internas aumentam quando o concreto é deformado, particularmente na
proximidade de obstáculos. Como a energia requerida para fazer fluir o concreto é
consumida pelo aumento da tensão interna, resultando no bloqueio das partículas de
agregados, a limitação do volume de agregados abaixo de um certo nível normal torna-se
efectivamente favorável à minimização desse tipo de bloqueio. Assim o bloqueio pode ser
evitado com o uso de uma pasta altamente viscosa ou seja com o uso de adjuvantes
fluidificantes e com baixos valores de relação água/materiais finos. Neste contexto a
adição de fibras de aço vem representar um incremento fictício da dimensão máxima da
mistura ou seja uma modificação significativa das propriedades reológicas do concreto
pela interacção da forma geométrica das fibras com os agregados, aumentando assim a
resistência interna e diminuindo a fluidez da mistura. Em outras palavras, a composição
do concreto auto-adensável reforçado com fibras requer, a medida em que se aumenta o
volume de fibras ou a sua esbeltez, uma mistura mais rica em materiais finos ou seja um
teor de argamassa mais elevado.
A adição de fibras de aço no concreto auto-adensável é perfeitamente viável como
comprovam vários autores, tais como GROTH P and THUN H (2000), KHAYAT K. H and
ROUSSEL Y (2000), GRUNEWALD S and WALRAVEN J.C (2001), MIAO B et al. (2003),
HWANG C. L. et al. (2003). Não obstante, verifica-se a ausência de parâmetros simples
que possam servir como indicador, em um estudo de dosagem, da adequação da relação
volume de fibras e conteúdo de agregados na mistura.
Tendo em vista os argumentos precedentes, este artigo apresenta os resultados de um
estudo experimental desenvolvido para formular misturas auto-adensáveis reforçadas
com fibras de aço para ser utilizada como concreto de enchimento ou graute (concrete
infill ou grout) de alvenarias estruturais construídas com unidades vazadas. Neste
trabalho foi utilizado o conceito de apropriação do teor de argamassa da mistura em
função do volume e da esbeltez das fibras de aço.

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1 Materiais e Métodos
Tendo em vista a aplicação da mistura auto-adensável como concreto de enchimento de
vazados de alvenaria e do particular interesse da incorporação das fibras como agente
incrementador da resistência à flexão e da ductilidade das paredes, definiu-se do ponto de
vista da resistência à compressão uma mistura referência para atender a classe de
resistência C20/25, segundo a ENV 206 – Betão: Comportamento, produção, colocação e
critérios.

1.1 Materiais
Um cimento tipo II/B-L 32,5 e uma cinza volante, proveniente da usina termoeléctrica do
Pego no Concelho de Abrantes, foram utilizadas como ligante e adição, respectivamente,
nas misturas ensaiadas.
Um superplastificante à base de carboxilatos modificados, ViscoCrete 3000 da SIKA, com
massa volúmica 1,05 ± 0,02 kg/l, foi usado para se atingir uma viscosidade plástica
adequada. O ensaio de determinação da saturação de aditivo com o material cimentício
empregue para a execução das misturas, ou seja, cimento e cinza volante indicou que o
teor máximo compatível com o material cimentício utilizado é de 3,0 % de
superplastificante.
Dois tipos de agregados miúdos e de agregados graúdos, cujas características são
apresentadas na Tabela 1, foram utilizados na composição dos concretos. Com base na
obtenção da compacidade ótima com as misturas de agregados, a granulometria dos
agregados miúdos na mistura foi composta com 50% de cada tipo de areia. Da mesma
maneira determinou-se que os agregados graúdos são compostos de 70% dos grãos de
um granito britado com dimensão máxima de 9,5 mm e 30% dos grãos de um granito
britado com dimensão máxima 19 mm.

Tabela 1 – Características dos agregados miúdos e graúdos

Material Dimensão máxima Módulo de finura Massa específica

(mm) (kg/m3)

Areia 01 1,19 1,64 2600


Areia do Tejo 4,76 2,97 2450
Brita 3 - 6 9,52 5,24 2700
Brita 6 - 15 19,10 6,48 2700

Para este estudo foram utilizadas dois tipos de fibras de aço com a denominação
comercial DRAMIX ZP 30/0.50 e ZC 60/0.80, com esbeltez lf/df = 50 e 75,
respectivamente. A tensão de escoamento do aço destas fibras é de aproximadamente
1100 MPa.

1.2 Métodos
1.2.1 Verificação da trabalhabilidade do CAARFA

A trabalhabilidade do CAA pode ser verificada através de vários métodos (ver Figura 2),
ainda não normalizados, mas largamente utilizado no domínio da investigação. O método
mais comummente utilizado, pela sua simplicidade, é o “slump flow”, ou seja, o método de
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determinação da fluidez do concreto pela medida do espalhamento do concreto moldado


no cone de Abrams. O cone é preenchido com o concreto sem adensar, em seguida o
cone é levantado e o diâmetro de espalhamento do concreto é medido. Neste ensaio
mede-se também o tempo, em segundos, necessário para o concreto atingir o diâmetro
de 50 cm. Os valores típicos que caracterizam o auto-adensamento é de 650 a 750 mm
para o diâmetro final e 2 a 10 segundos para o tempo necessário a atingir o diâmetro igual
a 50 cm.

Ensaio Slump-flow Ensaio da Caixa L


Ensaio do Funil V
Figura 1 - Ensaios para a determinação da trabalhabilidade do concreto auto-adensável

Outro método de ensaio, recomendado pela ASSOCIATION FRANÇAISE DE GÉNIE


CIVIL (2000), é o da Caixa L, usualmente utilizado para verificar a capacidade de
enchimento e a tendência de bloqueio do CAA através das armaduras. Na Caixa L, o
concreto é colocado na parte vertical da caixa até ao topo. Após o rasamento do topo uma
comporta é aberta, deixando-se o concreto escoar na parte horizontal da caixa. A partir do
momento em que a comporta foi aberta, inicia-se a contagem do tempo que o concreto
leva para atingir uma distância de escoamento de 20 e 40 cm. Após o escoamento do
concreto, no interior da parte horizontal da caixa, medem-se as alturas H1 e H2, devendo a
H2/H1 ser da ordem de 0,8. A viscosidade do concreto, pode ser indirectamente avaliada
pelo método do funil V, o qual consiste em preencher um funil com cerca de 12 litros de
concreto e em seguida medir o tempo, em segundos, que o concreto leva para escoar do
funil.

1.2.2 Determinação da resistência mecânica do CAARFA

A resistência à compressão uniaxial do concreto endurecido foi determinada em cubos de


150 mm de arestas, segundo a especificação LNEC E 226: 1968 CONCRETO: ENSAIO
DE COMPRESSÃO e a resistência à flexão foi determinada segundo as recomendações
do RILEM TC 162-TDF em vigas de CAARFA de secção transversal 100 x 100 mm, bi-
apoiadas com um vão de 450 mm.

1.2.3 Verificação da distribuição das fibras

BARROS, J.A.O et al. (2002) observaram que o concreto normal reforçado com fibras de
aço pode apresentar segregação das fibras, caso não haja compatibilidade entre a sua
consistência e a energia de vibração utilizada para a compactação do mesmo.
Uma vez que a alta fluidez do CAARFA pode ser favorável à segregação de fibras de aço,
durante o processo de colocação do concreto, provocada pela elevada massa específica
do aço, aplicou-se uma metodologia de observação da distribuição das fibras.
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De modo a avaliar a homogeneidade da distribuição das fibras foi calculada a


percentagem de fibras em cada uma das colunas da secção de rotura do corpo de prova
ensaiado para as várias misturas estudadas.
A secção do corpo-de-prova após a rotura foi dividida em colunas (C) e linhas (L) para a
contagem das fibras em cada célula, como se apresenta na Figura 2. Cada uma das
dezesseis células possui dimensões de 2,5 x 2,5 cm.

Figura 2 - Secção de rotura dividida em células para avaliar a distribuição das fibras

2 Resultados e Discussão
2.1 Propriedades do CAARFA no estado fresco
O processo de ajustamento do teor de argamassa As (%) no concreto foi realizado durante
o procedimento das misturas numa betoneira de eixo horizontal. O processo de ajuste é
iniciado com um determinado teor de argamassa, em seguida acresce-se o teor até atingir
comportamento adequado do concreto fresco, conferido pelos ensaios Slump-Flow, Caixa
L e Funil V. As misturas soluções para os diferentes teores de fibras de aço são
apresentadas na Tabela 2.

Tabela 2. Misturas soluções e características das fibras


Proporções em massa Volume de fibras SP Teor de (lf/df)*Vf
(c: cv: a: b)* (%) argamassa
(%) As (%) (%)
ZP ZC
30/0.50 60/0.80
A : 1 : 0,15 : 1,78 : 1,72 0 - 2.0 63 0
w/cm = 0,40
B : 1 : 0,15 : 2,00 : 1,50 0,5 - 2,5 68 25
w/cm = 0,40
C : 1 : 0,3 : 2,06 : 1,44 1,0 - 2.5 70 50
w/cm = 0,40
D: 1 : 0,5 : 2,15 : 1,35 1,5 - 2.5 73 75
w/cm = 0,40
E : 1 : 0,15 : 2,00 : 1,50 - 0,5 2,0 68 37,5
w/cm = 0,40
F : 1 : 0,3 : 2,06 : 1,44 - 1,0 2,0 70 75
w/cm = 0,38
G : 1 : 0,5 : 2,25 : 1,25 - 1,5 2,0 75 112,5
w/cm = 0,35
* c = cimento tipo II 32,5; cv = cinza volante; a = areia; b = agregado graúdo (19mm), w/cm = água/materiais
finos. SP= superplastificante

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Durante a adequação das misturas com fibras de aço constatou-se que as fibras
modificam substancialmente a fluidez, medida pelo ensaio de espalhamento (Slump-flow),
da mistura de referência. Não obstante, a produção do CAARFA torna-se simples e
possível com a otimização do teor de argamassa, o qual aumenta a medida que mais
fibras são adicionadas à mistura.
A Tabela 3 apresenta os valores de slump-flow que caracterizam o auto-adensamento do
concreto, para os quais foram necessários os valores de teor de argamassa que se
apresentam na Tabela 2. Concluindo-se que o teor de argamassa necessário é
directamente proporcional a relação (lf/df)*Vf , conhecido como índice de fibras.

Tabela 3. Resultados dos ensaios de verificação da trabalhabilidade do CAARFA


Misturas Slump flow* Caixa L* Funil V*
D final T500 H2/H1 T40 T
(mm) (seg) (seg) (seg)
A 765 1’00’’ 0.88 - 2’73’’
B 735 1’38’’ 1,00 1’00’’ 3’22’’
C 730 1’85’’ 1,00 2’00’’ 4’02’’
D 760 1’02’’ 0.90 2’13’’ 3’36’’
E 740 1’00’’ 1,00 1’27’’ 2’74’’
F 720 2’14’’ 1,00 1’78’’ 3’91’’
G 790 1’73’’ 1,00 0’63’’ 3’41’’

A Figura 3 apresenta a tendência da evolução do teor de argamassa necessária para os


diferentes índices de fibras utilizado neste estudo. Verifica-se, pela linha de tendência,
que a mudança da esbeltez da fibra (lf/df), para um mesmo volume, não exigiu um
acréscimo significativo de argamassa. Porém, constata-se que o aumento do volume de
fibras, que é responsável por dobrar ou mesmo triplicar o valor do índice de fibras, exige
um acréscimo já considerável do teor de argamassa. Portanto, a procura do teor ótimo de
argamassa no CAARFA é uma etapa à ser considerada no estudo de dosagem, o que
valida também esta relação como um parâmetro de aplicação no estudo particular de
misturas auto-adensáveis reforçadas com fibras de aço
O ensaio de espalhamento do concreto, dito slump-flow, tem sido usado para caracterizar
o auto-adensamento de um concreto. No caso do CAARFA o aumento do volume de
fibras, se o teor de argamassa for adequado para evitar a segregação, acarreta também
um acréscimo do peso próprio da mistura o que contribui para o aumento do diâmetro de
espalhamento, como se mostra na Figura 4.
Figura 5 mostra o efeito do volume de fibras e do teor de argamassa na velocidade do
escoamento do concreto através do funil V. Quanto mais fibras eram adicionadas ao
concreto de referência maior era a necessidade de se adicionar finos ou seja de aumentar
o teor de argamassa no concreto. O tempo de fluidez medido no funil V tende a aumentar
quando o índice de fibras cresce, embora seja possível especular que possíveis volumes
elevados de fibras se não favorecerem o bloqueio de passagem pelo funil podem
também, pelo efeito de gravidade, diminuir o tempo de fluidez.

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76

74

Teor de Argamassa (%)


72

70

68
y = 0,0943x + 63,751
66
R2 = 0,9611
64

62
0 20 40 60 80 100 120
Indice de fibras (l/d*Vf)

Figura 3 - Influência do índice de fibras no teor de argamassa necessário.

800
790
780
Slump flow (mm)

770
760 l/d = 50
750 l/d = 75
740
730
720
710
0 20 40 60 80 100 120
Indice de fibras (l/d x Vf)

Figura 4 - Influência do índice de fibras no slump flow

4,5
Tempo de escoamento Funi V

3,5
(seg)

l/d = 50
l/d =75
3

2,5

2
20 40 60 80 100 120
Indice de fibras (l/d x Vf)

Figura 5 - Influência das fibras no tempo de escoamento do concreto no Funil V


A capacidade de passagem do CAARFA, verificada pelo ensaio da Caixa L, foi realizada
com uma única barra de aço, simulando dessa maneira as dimensões de um vazado de
um bloco de concreto com uma barra colocada no centro da secção ou vazado do bloco.
Os valores de H2/H1 apresentados na Tabela 3 indicam que as misturas não sofrem
nenhum bloqueio, uma vez que para todas as misturas o valor da relação foi superior a

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0,80. Não se observou uma correlação satisfatória entre o índice de fibras e a relação
H2/H1. Embora a figura 6 possa ser indicativa de uma forte correlação entre o
espalhamento medido pelo Slump-flow e o tempo de escoamento T40, medido na Caixa L,
para o caso das fibras mais longas ou seja de l/d = 75, este comportamento não é
evidente para as fibras mais curtas l/d = 50. Se por um lado o tempo T40 pode ser difícil de
ser tomado com precisão, pode haver aqui tanto um efeito de massa como de
imbricamento das fibras mais longas o que merece ser melhor observado. Não obstante,
todas as misturas apresentam características de auto-adensamento mesmo com adições
elevadas de fibras de aço, ou seja 120 kg de fibras de aço por metro cúbico de concreto
(Vf =1,5%).

1,9
Ensaio Caixa L - T40 (seg)

y = -0,0157x + 13,025
1,7
R2 = 0,9689
1,5
1,3
1,1
0,9
0,7
0,5
710 720 730 740 750 760 770 780 790 800
Slump flow (mm)

Figura 6 - Influência do volume de fibras com l/d =75 no tempo T40 de escoamento do concreto medido no
ensaio da Caixa L

2.2 Propriedades do CAARFA no estado endurecido


As resistências à compressão médias obtidas em seis corpos de prova aos 28 dias de
idade para as misturas ensaiadas são apresentadas na Tabela 4.
Tabela 4. Resultados da resistência à compressão
Mistura Resistência à compressão média Desvio padrão
(MPa) (MPa)
A 28,0 1,20
B 28,0 0,14
C 26,0 0,49
D 27,0 0,90
E 22,5 0,30
F 27,3 0,40
G 29,6 0,90

Os resultados da resistência à compressão das misturas demonstram não haver


influência significativa do aumento do volume de fibras para misturas com o mesmo
conteúdo de cimento.
Os valores obtidos para as resistências equivalentes à flexão, determinadas de acordo
com a recomendação RILEM TC 162-TDF (2000), são apresentados na Tabela 5.

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Tabela 5. Resistências equivalentes à tracção em flexão dos CAARFA


Volume de fibras Módulo de
Vf rotura à
feq,2 feq,3
Misturas
flexão
(N/mm2) (N/mm2)
(%) (MPa)
B 0,5 3,65 2,98 2,51
C 1,0 6,42 6,48 5,84
D 1,5 7,50 12,12 6,97
E 0,5 2,11 3,11 1,01
F 1,0 6,28 6,48 5,54
G 1,5 9,23 4,73 8,51

Os valores de resistências, apresentados na Tabela 5, são valores médios obtidos em 3


corpos-de-prova ensaiados para cada mistura.
Para a série de misturas com fibras l/d = 50, os valores indicam que as resistências
equivalentes à tracção na flexão, feq,2, aumentam cerca de 100% para cada 0,5% a mais
no volume de fibras. Para a série de fibras longas l/d =75 os resultados seguiram uma
tendência de aumento da resistência equivalente, excepto para o valor de feq,2 da mistura
G.
A Figura 7 apresenta curvas típicas força-flecha obtidas nos ensaios das vigas de
CAARFA e ilustra o desempenho das misturas com o aumento do volume de fibras.

14
F0,5
12
F1,0
F1,5
10
Carga (kN)

0
0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0
Flecha a 1/2 vão (mm)

Figura 7 - Relação carga-flecha para diferentes volumes de fibras

2.3 Distribuição das fibras na secção de fractura


Para efeito da determinação do número de fibras, considerou-se o critério de uma fibra se
o comprimento embebido da fibra fosse superior a aproximadamente 10 mm. Para o caso
contrário considerou-se meia fibra. A adopção deste critério, segundo AMORIM (2002),
prende-se ao facto de se admitir que o reforço da fibra é mobilizado na sua quase
totalidade para um comprimento embebido superior a 10 mm. Embora neste trabalho a
contagem das fibras tenha a simples intenção de verificar a homogeneidade da mistura,
ou seja da distribuição das fibras, considerou-se apropriado a adopção do critério citado.

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A Figura 8 ilustra a distribuição das fibras em corpos-de-prova tipo para os volumes de


fibras de 0,5%, 1,0% e 1,5%, respectivamente.

Vf = 0,5% Vf = 1,0%

Vf =1,5

Figura 8 - Distribuição das fibras na secção de rotura do CAARFA

Da análise dos resultados verificou-se que a distribuição das fibras segue uma tendência
aleatória. Conclui-se então que a característica da auto-adensamento do CAARFA
promove uma distribuição homogénea das fibras mesmo nos casos em que o volume de
fibras é considerado elevado. Este comportamento é singular deste tipo de concreto,
contrariando as distribuições de fibras que podem resultar nos concretos normais
reforçados com fibras compactados por vibração. Nestes é preciso compatibilizar a
energia de vibração com a consistência do concreto a fim de evitar a segregação das
fibras.
Os resultados obtidos por AMORIM (2002) atestam a necessidade desse compromisso,
energia de vibração x consistência do concreto, caso contrario esta inadequação trará
efeitos nos resultados da resistência à flexão.
A Figura 9 apresenta os valores médios de percentagens de fibras, para os diferentes
volumes de fibras, observados nas colunas, verificando-se que não houve alteração
significativa no conteúdo de fibras no sentido da concretagem.

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Direção de concretagem
4ª col

3ª col

2ª col

1ª col

0 5 10 15 20 25 30
% média de fibras

CAARFA 0,5 CAARFA 1,0 CAARFA 1,5

Figura 9 - Distribuição das fibras pelas colunas que caracterizam a secção de fractura

Utilizou-se, também, a técnica de análise de imagens, obtidas por meio digital, para a
apreciação da distribuição das fibras na direção perpendicular a seção de fractura. A
Figura 10 apresenta uma secção transversal cortada após impregnação de resina. Esta
lâmina cortada compreende uma zona equidistante da fissura sob deflexão máxima do
corpo de prova prismático. A Figura 11 apresenta uma secção de leitura do numero de
fibras, que é realizada digitalmente por renderização dos pontos onde se localizam as
fibra. Os valores médios encontrados nas secções confirmaram a distribuição homogênea
das fibras nessa direção.

Figura 10 – Corpo de prova embebido em resina

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Fig. 11 - Distribuição das fibras na secção 5-a e 5-c

Esta constatação leva-nos a concluir que o CAARFA se mantém homogêneo durante a


sua produção, não sofrendo segregação das fibras.

2.4 Um procedimento de dosagem do CAARFA


Tendo em vista os resultados obtidos nos capítulos precedentes e sabendo-se que a
restrição do conteúdo de agregados graúdos, como proposto nos métodos japoneses
(Okamura e JSCE), propõe-se que o parâmetro de controlo da composição do concreto
auto-adensável seja a relação de argamassa seca no concreto seco, As (%). Assim pode-
se, indiretamente, adequar o volume máximo de material graúdo em função do tipo e
características das fibras de aço utilizadas, o que significa uma simplificação considerável
das metodologias complexas de dosagem propostas até então.
A relação de argamassa foi objecto de observação nos estudos experimentais descritos
neste trabalho. Para tal, definiu-se o teor de argamassa do betão auto-adensável como:

1+ f + a
As (%) = × 100
1+ f + m
(1)

onde: “1” é a proporção unitária, em massa, de cimento; “f” é a proporção em massa de


filler ou material fino; “a” é a proporção em massa de areia e “m” é o total de agregados
(miúdos + graúdos).
Para a procura da mistura solução que atenda uma grandeza de resistência mecânica
desejada, analogamente ao estudo realizado por OLIVEIRA (1986), pode-se fazer uso do
método IPT, no qual a variação do conteúdo de cimento é realizada com a escolha de
pelo menos mais duas proporções intermediarias ou seja com m ± 1. A Figura 12 é um
exemplo com os valores determinados neste estudo, para misturas com As = 70%, Vf =
1,0% e relação água/materiais secos H = 10%, os traços aqui apontados são de m = 3,5;
4,5 e 5,5.

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.

7,00

módulo de ruptura à flexão (MPa)


y = -4,6605Ln(x) + 0,4103
6,00
R2 = 0,966
5,00

4,00

3,00

2,00

1,00

0,00
0,25 0,35 0,45 0,55 0,65 0,75
relação água/cimento (kg/kg)

Figura 12 – Variação do módulo de rotura à flexão em função da relação água/materiais cimentícios

0,75
relação água/cimento (kg/kg)

0,65

0,55

0,45
y = 0,215x - 0,4342
R2 = 0,9505
0,35

0,25
3 3,5 4 4,5 5 5,5 6
total de agregados m

Figura 13 – Variação do total de agregados em função da relação água/cimento

3 Conclusões

As principais conclusões envolvem o desenvolvimento de uma metodologia, simples e útil


ao tecnologista de concreto estrutural, de dosagem do concreto auto-adensável reforçado
com fibras de aço.
Primeiro, propõe-se a relação argamassa do concreto (teor de argamassa As%) como
parâmetro de controlo da adequação de misturas com fibras de aço que se destinam a ter
propriedades auto-adensáveis. Um teor óptimo deve ser constatado experimentalmente,
uma vez que cada esbeltez e volume de fibras necessita de um teor de argamassa
mínimo para assegurar o envolvimento dos agregados graúdos e das fibras, bem como
fornecer a capacidade de enchimento ao concreto. Observações qualitativas indicaram
que quando se emprega um teor adequado de argamassa no concreto mesmo para
volumes mais elevados de fibras, estas se distribuem homogeneamente, sem sofrerem
segregação.
Segundo, é possível obter concretos de enchimento auto-adensáveis com incorporação
de volume de fibras até 1,5%. Entretanto, o aumento do volume de fibras na mistura
exige, para manter a trabalhabilidade desejada, um acréscimo do conteúdo de finos, ou
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.

seja da argamassa do concreto. Neste estudo, os teores de argamassa óptimos que


variam em função do volume de fibras, encontra-se entre 60% e 75%.
O acréscimo do volume de fibras no concreto de enchimento auto-adensável é
responsável por um aumento importante da resistência equivalente à tracção na flexão.
Finalmente, constatou-se que a contribuição de cada 0,5% de volume de fibras
adicionada ao concreto de enchimento é significativa e pode ser tomada como uma
contribuição equivalente à uma determinada área de armadura passiva.

4 Referências
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pavimentos industriais. Dissertação de Mestrado. Universidade do Minho, Portugal,
2002

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