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CLB-MCS 2018

3º Congresso Luso-Brasileiro
Materiais de Construção Sustentáveis
Coimbra, 14-16 de fevereiro de 2018

INFLUÊNCIA DA SUBSTITUIÇÃO DE AGREGADO MIÚDO POR RCD COM


ADIÇÃO DE FIBRA DE AÇO NAS PROPRIEDADES DA MECÂNICA DA
FRATURA
JOÃO P. P. ISIDRO1*, IURI D. O. C. BORGES1, JAVIER A. F. VALENCIA1

1: UniCEUB
SEPN 707/907- Campus Asa Norte – Bloco 7.
joaopauloisidro@gmail.com
iocborges@gmail.com
javier.valencia@ceub.edu.br

Palavras-chave: Resíduos de demolição, mecânica da fratura, fator de intensidade, fibras de aço

Resumo: Os resíduos de construção e demolição (RCD) constituem a maior parte dos resíduos
urbanos, em torno de 50%. A cerâmica vermelha, por exemplo, é um dos maiores contribuintes
na quantidade de resíduos sólidos no Brasil e em outras regiões do mundo, por causa disso,
torna-se cada vez mais importante a reciclagem e re-utilização desses materiais em favor dos
que vem diretamente da natureza, principalmente em cidades onde os materiais naturais são de
difícil acesso ou onde tem uma abundância de RCD, evitando geração de mais resíduos. O
objetivo desse trabalho foi analisar o fator de intensidade em concreto com adição de RCD e fibra
de aço. O Agregado reciclado foi utilizado para a substituição do agregado miúdo e caracterizado
com um traço padrão. Foram produzidas 5 misturas variando a quantidade de RCD mantendo o
mesmo volume de fibra. Foram ensaiadas vigas por flexão de três pontos pré-fissuradas no meio
de 3cm de acordo com o procedimento da RILEM-TMC50, obtendo gráficos de abertura de
fissura longitudinal por força e o valor limite de ruptura á flexão variando o traço original com
varias substituições até um valor máximo de 50% de RCD na mistura. Com os resultados obtidos,
foi calculado o fator de intensidade KI por meio de elementos finitos e comparado com os
resultados obtidos em laboratório. Concluindo-se que em substituições entre 0 e 25% de RCD e
uma adição de 1% de fibra, o fator de intensidade não tem uma mudança significativa na
resposta mecânica para este tipo de concreto, concluindo-se que substituições até 25% no
agregado miúdo por RCD não influencia na capacidade de absorver energia em solicitações
estruturais contribuindo para a redução do impacto ambiental que produz a extração de
agregados naturais e dando um destino adequado a esse tipo de resíduos.

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João P. P. Isidro, Iuri D. O. C. Borges, Javier A. F. Valencia

1. INTRODUÇÃO
A construção civil é uma das áreas com maior importância econômica na sociedade, pelo fato de ser
capaz de gerar um capital significativo e dar impulso econômico no país. Porém essa atividade gera
muitos impactos ambientais devido ao grande consumo de recursos naturais e de energia,
necessários em cada obra. A preocupação como o meio ambiente e a escassez de recursos naturais
têm levado à busca por alternativas mais sustentáveis. Uma das soluções para o destino do elevado
volume de resíduo de construção e demolição (RCD), é a reutilização e a reciclagem desses
materiais como agregado no concreto.

Porém uns dos problemas ao utilizar o RCD no concreto é a redução da resistência mecânica, já
observada em estudos como:[2];[6], entre outros. Uma alternativa para melhorar o desempenho
mecânico do concreto é adição de fibras como reforço.

Fibras de diversos tipos e tamanhos, são utilizadas desde dos anos setenta eficientemente no reforço
do concreto convencional. Em algumas aplicações, as fibras revelam ter potencial para substituírem
as armaduras convencionais, com vantagens econômicas e técnicas. Estas aplicações têm sido
essencialmente pavimentos de edificações industriais e estruturas de suporte em túneis. As
vantagens econômicas sucedem, fundamentalmente, da supressão de mão de obra necessária no
corte e na colocação das armaduras convencionais resultando em um menor tempo de execução da
estrutura. As vantagens técnicas estão relacionadas com o reforço homogéneo que as fibras
garantem; a ductilidade que introduzem no concreto; e com a melhora do comportamento à
fissuração do concreto.

2. METODOLOGIA
Embora já conhecidas às vantagens da utilização do concreto reforçado com fibras, sempre surgem
questionamentos sobre do uso limitado destes materiais. De acordo com [2] os resultados da
pesquisa mostram que a adição de fibra de aço e agregado reciclado aumentou a resistência
mecânica e modificou o comportamento mecânico pós-fissuração em relação ao do concreto de
referência. O comportamento tensão-deformação do concreto com agregado reciclado apresentou um
comportamento mais frágil do que a referência.

No entanto, alguns pesquisadores [3] observaram que a fratura global em elementos de concreto com
agregado reciclado (CAR) sob compressão, tensão ou flexão é semelhante ao dos elementos de
concreto convencionais, porém com uma tensão máxima inferior. A tenacidade total do composto e
do concreto convencional são iguais, o que resulta em um gradiente maior de deformação na zona do
processo de fratura do concreto com RCD [6].

Com a crescente crise do descarte de resíduos e o esgotamento de materiais de construção, o uso


de CAR tem sido estudado nas últimas três décadas [6], mais especificamente no âmbito nacional. A
resolução no307 do Conselho Nacional do meio Ambiente, que entrou em vigor no ano de 2002,
define os resíduos de construção civil como os provenientes de construções, reformas reparos e
demolições de obras de construção civil, assim como, os resíduos de preparações e escavações de
terrenos. A Associação Brasileira de Normas Técnicas respeita o disposto na CONAMA no307 [4],
adotando a mesma definição na NBR 15114 (2004).

Outros tipos de fibra também podem ser utilizados na produção de um concreto com RCD, de modo
que o reforço melhore as propriedades mecânicas do material, assim viabilizando o uso do concreto
com RCD, as mais utilizadas na construção civil são a de aço e polipropileno.

O emprego de fibras de aço já possui muitas aplicações práticas, elas aumentam consideravelmente
a tenacidade do concreto, que pode prevenir ou minimizar a fissuração do mesmo devido a variações
de temperatura e aumentar a resistência do concreto a cargas dinâmicas. Embora o aumento na

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resistência do concreto seja modesto, o principal efeito do reforço das fibras de aço é aumentar a
capacidade de carga no pós-pico [16]; [9]. Os compostos reforçados com fibras de aço são
influenciados pela: geometria, tipo, relação de aspecto, volume, orientação e distribuição da fibra. As
fibras podem ser de cinco tipos: fio liso estirado, fio deformado estirado, chapa lisa ou deformada,
fibras extraídas do derretimento do aço e fibras cortadas estiradas [1].

O comportamento do concreto com adição de fibras é controlado por processos de transferência de


tensão da matriz para as fibras. Em matrizes frágeis, como o concreto, o efeito da transferência de
tensão é influenciado por uma série de fatores tais como: a condição da matriz antes da fissuração ou
após a fissuração [1].

Antes da fissuração, segundo [1] o mecanismo dominante de transferência de tensão é o elástico, e


os deslocamentos longitudinais na interface da fibra e da matriz são geometricamente compatíveis
[15]. Em função da diferença entre os módulos de elasticidade da fibra e da matriz, tensões
tangenciais são desenvolvidas na interface, distribuindo a carga extrema entre a fibra e a matriz [17],
os autores afirmam que a distribuição das tensões tangenciais ao longo da interface fibra- matriz não
é uniforme [8].

Em avançados estágios de carga, ocorrem descolamentos entre a fibra e a matriz e o mecanismo de


transferência de tensão entre ambas passa a ser por atrito, ocorrendo deslocamentos relativos entre
elas, a tensão de atrito desenvolvida é uma tensão tangencial, considerada uniformemente distribuída
ao longo da interface. Este processo tem maior importância da pós-fissuração, onde as fibras atuam
como pontes de ligação através das fissuras, controlando, inclusive, propriedades como a resistência
e a deformação especifica última do compósito[8].

2.1. Analise da ruptura quase frágil


Para o estudo da ruptura quase frágil, usualmente é analisado um corpo de prova prismático com
entalhe pré-fissurado, obtendo o diagrama de carga versus deslocamento de abertura na boca da
trinca (CMOD), decorrente do procedimento conforme ilustrado na Figura 2-1 [6].

O CMOD, na carga crítica, é composto por uma parcela elástica e outra inelástica, com o diagrama
de ruptura subdividido em três fases distintas. Dentro da primeira fase, a microfissuração é dispersa
no volume do sólido [9], para todos os efeitos, a resposta é considerada elástica linear dentro dessa
fase, que varia entre 30 e 50% de carga crítica. Na segunda fase o crescimento da carga a
microfissuração passa a fiar mais pronunciada, especialmente no plano que contem a fissura [13]. A
terceira fase é a fase da instabilidade na propagação da fissura, controlada unicamente pelo
deslocamento (CMOD) [7].

Figura 1: Flexão de três pontos para modelo de dois parâmetros [12]

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3. PROCEDIMENTOS LABORATORIAIS
Para o teste de flexão, foram preparadas vigas de concreto de 13,5cm X 13,5cm X 54cm (largura ×
altura × comprimento) com um alcance efetivo igual a 550 mm e um entalhe de 2,5 cm de
profundidade, com rompimento aos 28 dias de acordo com as recomendações RILEM TC89-FMT
[14], Figura 3-2. Foi feita uma moagem do resíduo de tijolo cerâmico até atingir uma granulometria
comparável com o do agregado miúdo Figura 3-1

100
PORCENTAGEM QUE PASSA

■ Brita
DA AMOSTRA TOTAL (%)

80 ▲RCD
● Areia
60

40

20

0
1 10 100
ABERTURAS DAS PENEIRAS (mm)

Figura 2: Ensaio de granulometria do RCD utilizada nos corpos de prova

Figura 3: Tijolo cerâmico moido Figura 4: Processo de moagem do tijolo


cerâmico.

Foi produzido um concreto com uma resistência de 27 MPa segundo o procedimento descrito na ACI
com uma relação água cimento de 0,4. As substituições para cada traço foram:

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 5% de RCD + 0,65% de superplastificante

 10% de RCD + 0,65% de superplastificante

 25% de RCD + 0,65% de superplastificante

 50% de RCD + 0,65% de superplastificante


Foi adicionado superplastificante nos concretos que continham substituição de RCD por terem uma
quantidade maior de finos, buscando diminuir o impacto que os mesmos teríam na trabalhabilidade
do concreto, usando 0,65% do volume do cimento do traço de plastificante. O corpo de prova era
posicionado na prensa, para medir o deslocamento, foi utilizado um extensômetro mecânico em
contato com o um clip gauge que deslocava junto com a fenda, lia-se o valor do deslocamento e
anotava-se quando a força aplicada chegava em um valor pré-determinado. Quando abria-se uma
fissura e o valor da força começava a decrescer, dava-se como rompido e era levado para avaliar a
trinca que havia sido formada, então a trinca era destacada e medida usando uma régua, Figura 3-3:

Figura 5: Ensaio de flexão de três pontos no laboratório UniCEUB

O ensaio foi realizado mantendo um acréscimo de força constante da prensa para cada corpo de
prova, evitando rupturas bruscas. Na Figura 3-3 apresenta-se a ruptura e tamanho da trinca após o
corpo de prova fraturado para as diferentes substituições de RCD como agregado miúdo.

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Figura 6: Fratura do CP1 de 0% de substituição Figura 7: Fratura do CP1 de 5% de substituição

Figura 8: Fratura do CP1 de 10% de substituição Figura 9: Fratura do CP1 de 25% de substituição

Figura 10: Fratura do CP1 de


50% de substituição

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4. RESULTADOS
Os resultados obtidos para cada corpo de prova foram força x CMOD para cada traço como se
apresenta no Gráfico 4-1 e Gráfico 4-2

Figura 11: Gráfico força de ruptura á flexão x CMOD para CP de referencia 0% e 10%

Figura 12: Gráfico força de ruptura á flexão x CMOD para CP de 5%,10% e 25%
O traço de 50% de substituição não foi considerado por ter uma força de ruptura extremadamente

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baixa.
4.1 Determinação do DOUBLE-K parâmetro da fratura
Primeiro, obtém-se o gráfico P-CMOD dos testes padrão de flexão de três pontos e Em seguida,
usando a suposição de superposição assintótica linear, o comprimento da trinca elástico equivalente
a carga máxima é resolvido usando fórmulas LEFM para cada tipo de geometria da amostra como
mencionado abaixo [15].

𝐶𝑀𝑂𝐷 = 𝑉(𝛽) (1)


,
𝑉(𝛽) = 0,76 − 2,28𝛽 + 3,87𝛽 + 2,04𝛽 + (2)

Onde 𝛽 = (𝑎 + 𝐻 )⁄(𝐷 + 𝐻 ), a=ac Comprimento de trinca elástica equivalente na carga máxima Pu,
Ho é a espessura do suporte do medidor da abertura de fissura [15] A conformidade inicial medida
CMOD da curva P-CMOD é usada para calcular o módulo de Young E conforme a fórmula RILEM
(1990):

𝐸= . .
𝑉(𝛽 ) (3)

𝜎 = 2𝑃 + 𝑤 𝑆 (4)
Para determinar o fator de intensidade na mecânica da fratura linear e o ensaio de três pontos pode
ser determinado pela equação 5 segundo [15].

𝐾 = 𝜎 . √𝐷𝑘(∝) (5)
Onde:
. ∝( ∝) . . ∝ . ∝
𝑘(∝) = √∝ ( ∝)( ∝) ⁄ (6)

Tabela 1: Resultados dos ensaios à flexão, Modulo de elasticidade, tensão e fator de intensidade KI
Traço E médio (GPa) 𝝈𝑵 (MPa) KI(MPa∙m1/2)
0% 19,86 2,67 39,16
5% 19,01 3,55 54,33
10% 122,84 3,94 61,55
25% 29,00 2,96 45,99

5. CONCLUSÕES
Os resultados apresentaram respostas semelhantes no modulo de elasticidade para substituições até
25% de RCD no agregado miúdo, isso pode ser explicado pela adição de fibras de aço que ajudaram

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na resposta mecânica do composto e eliminado a perda de resistência que o RCD gera no concreto.
A propagação da fissura de todos os corpos de prova foram semelhantes, o que indica que a
substituição de RCD de tijolo cerâmico como agregado miúdo pode ser usado até uma proporção de
25% com adição de fibras de aço e de superplastificante, mantendo a homogeneidade e coesão do
concreto, sem ter perda nas suas propriedades mecânicas.

REFERÊNCIAS
[1] Bentur,.A., & Mindess, S., 2007. “Fibre reinforced cementitious composites”, Taylor & Francis.
[2] Carneiro, J. A., Lima, P. R. L., Leite, M. B., & Toledo Filho, R. D., 2014. “Compressive stress–
strain behavior of steel fiber reinforced-recycled aggregate concrete”. Cement and Concrete
Composites, 46, 65–72.
[3] Casuccio, M., Torrijos, M. C., Giaccio, G., & Zerbino, R., 2008. “Failure mechanism of recycled
aggregate concrete”. Construction and Building Materials, 22(7), 1500–1506.
[4] CONAMA. Conselho Nacional do Meio Ambiente. Resolução no307 de 5 de julho de
2002.Establece diretizes, criterios e procedimentos para a gestão dos residuos da construção.
Diario Oficila da Republica Federativa do Brasil. Brasilia, 17 jul. de 2002.
[5] Evangelista, F., Roesler, J. R., & Proença, S. P., 2012. “Three-dimensional cohesive zone
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“Fracture process zone characteristics and identification of the micro-fracture phases in
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[7] Guo, Y. C., Zhang, J. H., Chen, G., Chen, G. M., & Xie, Z. H., 2014. “Fracture behaviors of a
new steel fiber reinforced recycled aggregate concrete with crumb rubber”. Construction and
Building Materials, 53, 32–39.
[8] Kim, J.-K., & Mai, Y. W., 1998. “Engineered interfaces in fiber reinforced composites”, Elsevier
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[9] Kumar, S., & Barai, S. V., 2011. “Concrete fracture models and applications”, Springer.
Retrieved from
[10] Larrard, F. de. ,1999. “Concrete mixture proportioning : a scientific approach”, E & FN Spon.
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[12] Li, Z., 2011. “Advanced concrete technology”, Wiley.
[13] Razmi, A., & Mirsayar, M. M., 2017. “On the mixed mode I/II fracture properties of jute fiber-
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[14] RILEM Draft recommendtions (TC89-FMT) 1990 Size- effect method for determining fracture
energy and process zone size of concrete. Mater Struct 23 (138): 461-465.
[15] Tada, H., Paris, P.C., Irwin, G., 1985. “The Stress Analysis of Cracks Handbook”. Hellertown,
PA, Del Research Corporation.
[16] Vytlacilova, V., 2013. “Analysis of structures of cementitious composites with recyclates and
dispersion reinforcement of polymer fibres”, (Vol. 622, pp. 1325–1329).
[17] Yam, K. L., 2009. “The Wiley encyclopedia of packaging technology”, John Wiley & Sons.

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