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ANTONIO CARLOS RAMOS DA SILVA ROLIM

São Paulo – SP
2022
PREFÁCIO

Esta publicação é o resultado da experiência docente em ministrar


aulas das disciplinas de Resistência de Materiais (FITO), Concreto
Armado (FITO, ITB) e Mecânica dos Solos (FATEC, FITO), no decor-
rer dos últimos oito anos.
Neste ínterim, foram avaliados cuidadosamente os resultados
obtidos no estudo de cada tópico abrangido em sala de aula, que
por vezes sugeriu uma reavaliação quanto a sequência dos assun-
tos ou quanto à escala de profundidade com que o assunto deves-
se ser abordado, tendo em vista os objetivos gerais das disciplinas
envolvidas.
Buscou-se nesta publicação ser conciso tanto quanto cada
assunto assim permitiu. Essa concisão pode ser observada pelas
breves definições, articulada quase sempre com ilustrações que
propiciam melhor percepção do que é explicado, estimulando a
INTUIÇÃO.

ix
Quase todos os capítulos têm lista de questões ou exercícios
que servem de recapitulação da matéria estudada – uma excelente
oportunidade para fixação do conteúdo.
Observe que há no apêndice uma infinidade de tabelas neces-
sárias ao estudo.
Por fim, é o objetivo desta publicação é trazer praticidade ao
cálculo estrutural, muitas vezes apresentando num emaranhado de
explicações que mais confundem do que preparam o aluno inician-
te, afastando o aluno dessa importante e fantástica área da enge-
nharia civil. Sugestões são muito bem-vindas para o aprimoramen-
to deste livro.

Prof. Antonio Carlos Rolim


prof.antoniorolim@gmail.com

x
SUMÁRIO

PARTE I – TÓPICOS INTRODUTÓRIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO

1.1 CONCRETO ARMADO: GENERALIDADES................................ 19


1.1.1 VANTAGENS DO CONCRETO ARMADO............................................. 19
1.1.2 APARENTES DESVANTAGENS E ALTERNATIVAS.......................... 20
1.1.3 TERMINOLOGIA BÁSICA......................................................................... 21
1.1.4 ESCOPO DO LIVRO..................................................................................... 22
1.1.5 CARACTERÍSTICAS DO CONCRETO.................................................... 23
1.1.5.1 Peso específico............................................................................ 23
1.1.5.2 Resistência à compressão...................................................... 24
1.1.5.3 Resistência à tração.................................................................. 29
1.1.5.4 Classes de resistência............................................................... 30
1.1.5.5 Módulo de elasticidade........................................................... 31
1.1.5.6 Fluência.......................................................................................... 35
1.1.5.7 Coeficiente de Poisson............................................................. 38
1.1.6 CARACTERÍSTICAS DOS AÇOS ESTRUTURAIS............................... 38
1.1.6.1 Aspecto geométrico.................................................................. 39
1.1.6.2 Fornecimento.............................................................................. 39
1.1.6.3 Tabela-padrão............................................................................. 40
1.1.6.4 Classificação................................................................................. 41
1.1.6.5 Diagrama tensão x deformação de cálculo..................... 43

xi
1.1.6.6 Tabela com os valores de cálculo dos aços..................... 45
1.1.7 NORMAS APLICÁVEIS............................................................................... 46
1.1.8 “NÚMEROS MÁGICOS” EM ESTRUTURAS DE CONCRETO........ 47
1.2 CONCEPÇÃO E LANÇAMENTO DA ESTRUTURA.................... 55
1.2.1 CONCEPÇÃO ESTRUTURAL.................................................................... 55
1.2.2 LANÇAMENTO DA ESTRUTURA........................................................... 56
1.2.2.1 Como posicionar os pilares................................................... 57
1.2.2.2 Como posicionar as vigas e lajes......................................... 58
1.3 PRÉ-DIMENSIONAMENTO DOS ELEMENTOS........................ 61
1.3.1 ESPESSURA OU ‘ALTURA’ DA LAJE MACIÇA.................................... 61
1.3.2 LARGURA E ALTURA DE VIGA RETANGULAR................................ 64
1.3.3 DIMENSÕES DOS PILARES..................................................................... 65
1.3.4 DESENHOS PRELIMINARES DE FÔRMAS........................................ 67
1.4 CARREGAMENTO DAS ESTRUTURAS...................................... 69
1.4.1 CARREGAMENTO....................................................................................... 69
1.4.2 CARACTERIZAÇÃO DAS CARGAS......................................................... 71
1.4.3 O “CAMINHO” DAS CARGAS................................................................... 72
1.4.4 PESO PRÓPRIO DOS ELEMENTOS ESTRUTURAIS....................... 73
1.4.5 CARGAS ADICIONAIS DOS ELEMENTOS FIXOS............................. 75
1.4.6 CARGAS ACIDENTAIS (SOBRECARGA).............................................. 76
1.4.7 A CARGA DE PROJETO DE UMA LAJE................................................ 77
1.4.8 DISTRIBUIÇÃO DE CARGAS DAS LAJES PARA AS VIGAS............ 77
1.4.9 DISTRIBUIÇÃO DE CARGAS DAS VIGAS PARA OS PILARES..... 80

PARTE II – TÉCNICAS DE ARMAR E LEITURA DE PROJETOS

2.1 ARRANJOS USUAIS DAS ARMADURAS..................................... 85


2.1.1 LAJES................................................................................................................ 85
2.1.2 VIGAS............................................................................................................... 86
2.1.3 PILARES.......................................................................................................... 87
2.2 DESENHO E LEITURA DE PROJETOS DE ESTRUTURA........ 89
2.2.1 TERMINOLOGIA NOS DESENHOS....................................................... 89
2.2.2 PLANTA DE FÔRMAS................................................................................ 90
2.2.2.1 Pilares............................................................................................. 90
2.2.2.2 Vigas................................................................................................ 91
2.2.2.3 Lajes................................................................................................. 92
2.2.2.4 Nível das lajes e das fundações (planta).......................... 93
2.2.2.5 Escadas........................................................................................... 94
2.2.2.6 Planta de cargas.......................................................................... 94
xii
2.2.2.7 Cortes nas plantas de fôrmas................................................ 95
2.2.3 DESENHO DE ARMADURAS................................................................... 96
2.2.3.1 Pilares............................................................................................. 96
2.2.3.2 Vigas................................................................................................ 97
2.2.3.3 Lajes................................................................................................. 98

PARTE III – BASES PARA O CÁLCULO

3.1 DURABILIDADE E MEIO AMBIENTE......................................103


3.1.1 COBRIMENTO DAS ARMADURAS..................................................... 103
3.1.2 QUALIDADE DO CONCRETO DO COBRIMENTO......................... 106
3.2 SEGURANÇA ESTRUTURAL......................................................109
3.2.1 VALORES DE CÁLCULO DAS RESISTÊNCIAS................................ 111
3.2.2 VALORES DE CÁLCULO DAS SOLICITAÇÕES................................ 112
3.2.3 COMBINAÇÃO DAS AÇÕES................................................................... 113
3.3 ADERÊNCIA E ANCORAGEM.....................................................115
3.3.1 COMPRIMENTO DE ANCORAGEM BÁSICO................................... 116
3.3.2 COMPRIMENTO DE ANCORAGEM NECESSÁRIO....................... 119
3.4 DOMÍNIOS DE DEFORMAÇÃO..................................................123
3.4.1 DOMÍNIO 1................................................................................................. 124
3.4.2 DOMÍNIO 2................................................................................................. 125
3.4.3 DOMÍNIO 3................................................................................................. 127
3.4.4 DOMÍNIO 4................................................................................................. 128
3.4.5 DOMÍNIO 4A.............................................................................................. 129
3.4.6 DOMÍNIO 5................................................................................................. 129
3.5 FLEXÃO NORMAL........................................................................131
3.5.1 INTRODUÇÃO............................................................................................ 131
3.5.2 DIAGRAMA DE TENSÕES NORMAIS .............................................. 132
3.5.3 SEÇÕES RETANGULARES SOB FLEXÃO ........................................ 134
3.5.3.1 Terminologia básica............................................................... 134
3.5.3.2 Estudo dos diagramas de tensão x deformação dos
aços utilizados em concreto armado............................ 134
3.5.3.3 Equações de equilíbrio e de compatibilidade das
deformações............................................................................ 139
3.5.3.4 Desenvolvimento analítico do cálculo da armadura
de tração.................................................................................... 141
3.5.3.5 Criação de tabelas para cálculo........................................ 143
3.5.3.6 Roteiro de cálculo simplificado com o uso de
tabelas........................................................................................ 146
xiii
PARTE IV – DIMENSIONAMENTO E CÁLCULO DAS PEÇAS ESTRUTURAIS

4.1 LAJES MACIÇAS............................................................................149


4.1.1 ESPESSURA, VÃOS LIVRES E TEÓRICOS........................................ 149
4.1.2 CÁLCULO DO CARREGAMENTO........................................................ 150
4.1.3 LAJE ARMADA EM CRUZ OU EM UMA SÓ DIREÇÃO................. 150
4.1.4 CASOS DE VINCULAÇÃO DOS PAINÉIS DE LAJE......................... 151
4.1.5 COMPATIBILIZAÇÃO DE MOMENTOS NEGATIVOS................... 157
4.1.6 VERIFICAÇÃO DA ACEITABILIDADE DAS DEFORMAÇÕES.... 158
4.1.7 CÁLCULO DOS MOMENTOS FLETORES......................................... 160
4.1.8 ÁREA DE SEÇÃO DAS ARMADURAS................................................ 161
4.1.8.1 Armadura mínima (As,min)................................................... 161
4.1.8.1.1 Área de seção da armadura calculada (Ascalc)... 162
4.1.8.1.2 Área de seção da armadura (As)............................ 162
4.1.9 DISPOSIÇÃO DAS BARRAS DAS ARMADURAS............................ 164
4.2 VIGAS RETANGULARES..............................................................179
4.2.1 ARMADURA DE TRAÇÃO DE VIGAS NORMALMENTE
ARMADAS................................................................................................... 179
4.2.1.1 Linha neutra.............................................................................. 179
4.2.1.2 Determinação da altura útil (d)........................................ 181
4.2.1.3 Cálculo dos momentos de projeto (Md)........................ 183
4.2.1.3.1 Momento mínimo de projeto (Mdmin)................. 183
4.2.1.3.2 Momento de projeto (Md)........................................ 184
4.2.1.4 Determinação da seção de armadura (As)................... 185
4.2.1.4.1 Definição dos limites mínimo e máximo ........... 185
4.2.1.4.2 Área de seção da armadura calculada................. 185
4.2.1.4.3 Área de seção da armadura (As)............................ 187
4.2.1.5 Definição do diâmetro (ϕℓ) e do número de barras
(n) da armadura longitudinal.......................................... 187
4.2.2 ARMADURAS DE CISALHAMENTO (ESTRIBOS)........................ 197
4.2.2.1 Força cortante solicitante de cálculo.............................. 197
4.2.2.2 Força cortante resistente de cálculo, relativa à ruína
das diagonais comprimidas.............................................. 198
4.2.2.3 Verificação das tensões de compressão nas bielas... 199
4.2.2.4 Força cortante resistida pelo concreto.......................... 199
4.2.2.5 Força cortante residual a ser resistida pela
armadura.................................................................................. 199
4.2.2.6 Cálculo da armadura transversal..................................... 200
4.2.2.6.1 Armadura a partir da força residual (Asw,calc)... 200

xiv
4.2.2.6.2 Armadura mínima (Asw,min).................................... 200
4.2.2.6.3 Armadura adotada (Asw).......................................... 200
4.2.2.7 Critérios para determinação da bitola e dos
espaçamentos máximos entre estribos e entre
ramos sucessivos................................................................... 201
4.2.2.7.1 Critérios para definição das bitolas...................... 201
4.2.2.7.2 Limites para espaçamento entre estribos e
entre ramos.................................................................... 201
4.3 PILARES (λ≤90)...........................................................................207
4.3.1 PRÉ-DIMENSIONAMENTO, PESO PRÓPRIO E
CARREGAMENTO .......................................................................................
DOS PILARES............................................................................................ 208
4.3.2 COMPRIMENTO DE FLAMBAGEM E ÍNDICE DE ESBELTEZ.. 208
4.3.3 CLASSIFICAÇÃO DOS PILARES.......................................................... 209
4.3.3.1 Classificação quanto à esbeltez......................................... 210
4.3.3.2 Classificação quanto à solicitação.................................... 212
4.3.4 DETERMINAÇÃO DA CARGA DO PILAR......................................... 213
4.3.4.1 Carga característica............................................................... 213
4.3.4.2 Carga de projeto...................................................................... 213
4.3.5 EXCENTRICIDADES DE PRIMEIRA ORDEM................................. 214
4.3.5.1 Excentricidade inicial............................................................ 214
4.3.5.2 Excentricidade acidental..................................................... 218
4.3.5.3 Excentricidade de forma...................................................... 219
4.3.6 EXCENTRICIDADES DE SEGUNDA ORDEM.................................. 220
4.3.7 CÁLCULO DA ARMADURA LONGITUDINAL................................. 221
4.3.8 CRITÉRIOS DAS DISPOSIÇÕES CONSTRUTIVAS ........................ 225
4.3.8.1 Armaduras longitudinais (principal)............................. 225
4.3.8.2 Armaduras transversais (estribos) ................................ 226
4.3.9 ROTEIROS DE CÁLCULO PARA PILARES....................................... 226
4.3.9.1 ROTEIRO A: Etapas iniciais (todos os pilares)........... 228
4.3.9.2 ROTEIRO B: Pilares curtos (λ < 35)................................ 228
4.3.9.3 ROTEIRO C: Pilares pouco ou medianamente
esbeltos (λ ≥ 35).................................................................... 229
4.3.9.4 ROTEIRO D: Etapas finais (todos os pilares).............. 232
4.4 ESCADAS.........................................................................................239
4.4.1 CÁLCULO DA ESPESSURA MÉDIA ................................................... 240
4.4.2 CARREGAMENTO ESTRUTURAL...................................................... 241
4.4.3 CÁLCULO DOS MOMENTOS FLETORES......................................... 242
4.4.4 CÁLCULO DA SEÇÃO DA ARMADURA PRINCIPAL ................... 243

xv
4.4.5 DISPOSIÇÃO DAS BARRAS DAS ARMADURAS............................ 244
4.4.5.1 Definição do diâmetro (Φℓ) e do espaçamento (St)
da armadura principal........................................................ 244
4.5 SAPATA ISOLADA.........................................................................251
4.5.1 DEFINIÇÃO DA TENSÃO ADMISSÍVEL DO SOLO ...................... 253
4.5.2 DETERMINAÇÃO DA ÁREA MÍNIMA DA BASE .......................... 254
4.5.3 DIMENSÕES HORIZONTAIS DA BASE ............................................ 255
4.5.4 CÁLCULO DOS BALANÇOS ( ) DA SAPATA....................... 257
4.5.5 ALTURAS DA CABEÇA (h) E DA BORDA (h0) DA SAPATA....... 257
4.5.6 CÁLCULO DOS MOMENTOS FLETORES......................................... 259
4.5.7 DEFINIÇÃO DOS MOMENTOS DE PROJETO................................. 260
4.5.8 CÁLCULO DA SEÇÃO DAS ARMADURAS........................................ 261
4.5.9 DEFINIÇÃO DA BITOLA (Φ) E DO ESPAÇAMENTO (St, Sℓ)
DAS BARRAS............................................................................................. 263
4.5.10 VERIFICAÇÕES IMPORTANTES...................................................... 263
4.5.10.1 Ruptura por compressão diagonal excessiva........... 264
4.5.10.2 Deslizamento das armaduras longitudinais............. 265
4.5.10.3 Dispensa das armaduras de cisalhamento................ 266

APÊNDICES

A - TABELAS DE AÇO (CLASSE A)................................................................. 279


B - TABELAS DE AÇO (CLASSE B)................................................................. 280
C - TABELA-MÃE: BITOLAS COMERCIAIS................................................. 281
D - TABELA DE ARMADURA PARA LAJES................................................. 282
E - TABELA DE ARMADURA PARA ESTRIBOS......................................... 283
F - TABELA K – FLEXÃO SIMPLES NORMAL............................................ 284
G - TABELAS DE LAJES – MOMENTOS FLETORES................................. 285
H - ÁBACOS PARA PILARES: FLEXO-COMPRESSÃO............................. 295

REFERÊNCIAS......................................................................................302

xvi
PARTE I

TÓPICOS
INTRODUTÓRIOS
EM ESTRUTURAS
DE CONCRETO
1.1 CONCRETO ARMADO: GENERALIDADES

Concreto armado é a associação do concreto simples1 com arma-


duras, composta por barras de aço. Para o bom funcionamento de
uma estrutura de concreto armado, os dois materiais devem resis-
tir aos esforços solicitantes de modo interdependente ou solidário.
Essa solidariedade é obtida por mecanismos de aderência2 entre
esses dois materiais.

1.1.1 VANTAGENS DO CONCRETO ARMADO


O concreto apresenta várias vantagens em relação a outros mate-
riais estruturais, o que justifica seu largo uso e aceitação. Suas prin-
cipais vantagens são:
• alta moldabilidade, permitindo concepções arquitetôni-
cas das mais variadas e versatilidade de formas;

1
Ou seja, o concreto sem armaduras. É produzido a partir da mistura de cimen-
to, brita, areia, água e, eventualmente, aditivos, em proporções adequadas.
2
Aspecto importante para o concreto armado, será estudado no tópico 3.3.

19
• a perfeita adesão dos materiais concreto e aço faz com que
todo o conjunto trabalhe como peça monolítica quando
a peça é solicitada, apresentando resistência satisfatória
aos diversos tipos de solicitação, nos limites do seu dimen-
sionamento e da correta disposição de armaduras;
• processo construtivo amplamente conhecido e bem di-
fundido em todo o país;
• baixo custo dos materiais e de mão de obra;
• sistema estrutural com longo tempo de vida útil, ou seja,
possui grande durabilidade, sendo que o próprio concre-
to protege as armaduras contra a corrosão e contra fogo,
desde que o cobrimento seja adequado;
• os gastos de manutenção são reduzidos, desde que a es-
trutura seja bem projetada e adequadamente construída.

1.1.2 APARENTES DESVANTAGENS E ALTERNATIVAS


O concreto apresenta algumas desvantagens. As principais são:
• baixa resistência à tração;
• peso próprio elevado;
• custo de formas para moldagem;
• fissuração;
• corrosão das armaduras.

As alternativas ou providências que podem ser tomadas para


suprir ou atenuar as deficiências que o concreto apresenta são vá-
rias. Por exemplo, a baixa resistência à tração e a fissuração pode
ser contornada com o uso correto de armadura de aço, com barras

20 ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO PARA EDIFICAÇÕES


de aço adequadas e limitação do diâmetro das barras e da tensão na
armadura. O uso de concretos com maior resistência à compressão
é uma das maneiras de se conseguir peças mais esbeltas, diminuin-
do o peso próprio das estruturas.
A corrosão da armadura é evitada com o uso de cobrimento
adequado, cujo valor depende do microclima no qual estrutura for
construída,3 e pelo controle de fissuração, já citado.

1.1.3 TERMINOLOGIA BÁSICA


ESTRUTURA: É o conjunto dos elementos interligados de uma
construção, que é estável para determinada carga, com-
posto com a finalidade de receber e transmitir esforços.
ELEMENTOS ESTRUTURAIS: em edifícios, os elementos es-
truturais principais são lajes, vigas, pilares e fundação.
LAJES: são placas que, além das cargas permanentes, recebem
as ações de uso e as transmitem para as vigas, também
tem a função de travar as vigas e pilares de um pavimento.
VIGAS: são barras horizontais que delimitam as lajes, supor-
tam paredes e recebem ações das lajes ou de outras vigas
e as transmitem aos pilares.
PILARES: são barras verticais que recebem as ações das vigas
e dos andares superiores e que transmitem essas ações
para os elementos inferiores ou para a fundação.
ESCADAS: são lajes inclinadas com degraus sobre elas, execu-
tadas para vencer os desníveis entre pavimentos.

3
Ver tópico 3.1 – Durabilidade e meio ambiente.

TÓPICOS INTRODUTÓRIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO 21


FUNDAÇÃO: são elementos que recebem os esforços da estru-
tura e as transferem para o solo.

1.1.4 ESCOPO DO LIVRO


Os tópicos apresentados neste livro podem ser aplicados ao cálculo
de edifícios de pequeno porte com estruturas regulares muito
simples, que apresentem:
• até quatro pavimentos e ausência de protensão;
• cargas acidentais nunca superiores a 3 kN/m²;
• comprimento de pilares até 4 m e distância entre pilares de
3 a 6 m;
• largura do lado menor de lajes (ℓx) de até 5 m;
• largura de balanços de até 1,5 m;
• efeito de vento sobre a estrutura não considerado;
• ambientes quimicamente não agressivos.

Na prática de projeto, esse tipo de construção é classificado


pelo IBRACON (Instituto Brasileiro do Concreto) como estruturas
de Nível 1, que abrange as estruturas correntes de edifícios habita-
cionais, edificações em geral, residências, escolas, escritórios e ou-
tros edifícios comerciais que estejam dentro das limitações listadas
acima.

22 ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO PARA EDIFICAÇÕES


Tabela 1 – Classificação das estruturas pela complexidade

CLASSIFICAÇÃO PORTE DESCRIÇÃO


Pequenos edifícios regulares, sem protensão, com
Nível 1 PEQUENO
pequenos vãos, sem empuxos não equilibrados.**
Pode haver protensão e é obrigatório considerar o
Nível 2 INTERMEDIÁRIO efeito do vento, porém com estrutura simétrica, com
pórticos bem delineados, com vãos moderados.
Complexidade superior ao dos níveis anteriores. Não
Nível 3 GRANDE poderá ser considerada nenhuma simplificação nos
cálculos.
** A consideração do efeito de vento poderá ser omitida, desde que as prescrições para di-
mensionamento dos pilares sejam rigorosamente obedecidas.

1.1.5 CARACTERÍSTICAS DO CONCRETO


Este tópico tem por finalidade destacar as principais características
e propriedades do material concreto, sobretudo os aspectos rela-
cionados ao projeto estrutural.

1.1.5.1 Peso específico


Para efeito de cálculo, pode-se adotar para o concreto simples o va-
lor de 24 kN/m³ e para o concreto armado o valor de 25 kN/m³.
Quando, em razão de traço especial, for determinado outro peso es-
pecífico para o concreto simples, pode-se acrescentar 1 a 1,5 kN/m³,
para se chegar ao peso específico do concreto armado.
Nos cálculos estruturais considera-se a aceleração da gravida-
de em 10 m/s². Portanto, para determinar o peso (força) a partir da
massa, usa-se a seguinte correspondência: 1 kg = 10 N. Logo, 2 500
kg de concreto é 25 kN.

TÓPICOS INTRODUTÓRIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO 23


1.1.5.2 Resistência à compressão
A resistência à compressão do concreto é a característica mecânica
mais importante porque dá uma ideia geral da qualidade do con-
creto. Embora, na prática, possa ser necessário obter informações
sobre outras características, tais como, resistência à tração, elasti-
cidade e durabilidade, podem-se determinar essas características a
partir de correlações com a resistência à compressão.

Tabela 2 – Siglas para resistência à compressão do concreto

SIGLA REFERE-SE:
resistência característica (referencial), ou seja, é a resistência à compressão
fck
do concreto à idade de 28 dias: fck ≥ fcm,j28.
resistência média de dosagem à idade “j” dias, cujo controle pode ser
fcmj
efetuado em diversas idades.
resistência de cálculo ou de projeto, cujo valor é calculado a partir do fck,
fcd aplicando-se um coeficiente de ponderação como margem de segurança para
o projeto estrutural.

Por ser a característica mais importante, deve ser objeto de con-


trole tecnológico, de acordo com as prescrições da NBR 6118:2014.
Para garantir que o fck seja alcançado, o traço do concreto deve ser
definido para a resistência de dosagem (fcmj). A resistência de do-
sagem considera um desvio padrão (Sd) em função das condições
de preparo da mistura. A resistência de dosagem é definida de acor-
do com a expressão seguinte:

24 ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO PARA EDIFICAÇÕES


onde:
resistência média de dosagem à compressão do concreto, prevista
=
para a idade de “j” dias, expressa em MPa;
resistência característica à compressão prevista do concreto, aos “j”
=
dias, conforme a idade de controle, expressa em MPa;
= desvio padrão da dosagem, expressa em MPa.

Tabela 3 – Tabela-resumo das condições de preparo

CONDIÇÕES DE PREPARO DO CONCRETO (NBR 12655:2015)


REQUISITOS
A B C
classes todas C10 a C20 C10 e C15
desvio-padrão
4,0 MPa 5,5 MPa 7,0 MPa
(Sd)¹
o cimento é medido
o cimento e os o cimento é medido
em massa, a água é
agregados são em massa, a água
medida em volume
dosagem dos medidos em massa, é medida em
e a sua quantidade
materiais e a água é medida em volume mediante
é corrigida em
controle da massa ou volume com dispositivo dosador
função da estimativa
umidade dos dispositivo dosador e e os agregados
da umidade dos
agregados corrigida em função medidos em massa
agregados por meio
da umidade dos combinada com
da consistência do
agregados volume ²
concreto
¹ O desvio-padrão (Sd) pode ser diminuído se o concreto estiver sendo produzido com os
mesmos materiais, equipamentos e condições. Neste caso, o Sd deve ser fixado com no
mínimo 20 resultados consecutivos obtidos no intervalo de 30 dias, em período imedia-
tamente anterior, contudo, o Sd não poderá ser inferior a 2,0 MPa.
² Por massa combinada com volume, entende-se que o canteiro deva dispor de meios
práticos que permitam a confiável conversão de massa para volume de agregados, le-
vando em conta a umidade da areia

O concreto utilizado para fins estruturais deve ser submetido a


ensaios de controle de recebimento e aceitação. Embora haja diver-
sos ensaios para o controle de propriedades especiais que podem
ser especificados e exigidos pelo profissional responsável pelo pro-
jeto estrutural, dois ensaios são obrigatórios:

TÓPICOS INTRODUTÓRIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO 25


• consistência (controle de recebimento ou lançamento);
• resistência à compressão (controle de aceitação).

ENSAIO DE CONSISTÊNCIA:
O método do controle de consistência mais utilizado é pelo abati-
mento do tronco de cone (slump test).

Fig. 01 – Aferição da consistência pelo abatimento do tronco de cone

Esse ensaio visa estabelecer uma relação com a trabalhabilida-


de do concreto, ou seja, o grau de facilidade de moldagem do con-
creto fresco necessário às condições de lançamento: convencional
ou bombeado.4 Deve ser executado no recebimento do concreto ou
de acordo com certa periodicidade e condições quando produzido
no canteiro. A NBR 8953:2015 apresenta as classes de consistên-
cias, reproduzida na tabela a seguir.

4
O grau de trabalhabilidade deve ser diferente para concreto do tipo extrusado
(execução de sarjetas), vibro-prensado (blocos, pavers e telhas) ou centrifuga-
do (produção de tubos de concreto).

26 ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO PARA EDIFICAÇÕES


Tabela 4 – Classes de consistência (NBR 8953:2015)

ABATIMENTO
CLASSE APLICAÇÕES TÍPICAS
(mm)
S10 10 ≤ a < 50 concreto extrusado, vibro-prensado ou centrifugado
alguns tipos de pavimentos e de elementos de
S50 50 ≤ a < 100
fundações
elementos estruturais com lançamento convencional do
S100 100 ≤ a < 160
concreto
elementos estruturais com lançamento bombeado do
S160 160 ≤ a < 220
concreto
elementos estruturais esbeltos ou com alta densidade
S220 ≥ 220
de armaduras

O procedimento de ensaio de consistência por abatimento do


tronco de cone é regido pelos requisitos estabelecidos na ABNT
NBR NM 67:1996 (Norma Mercosul).

ENSAIO DE RESISTÊNCIA À COMPRESSÃO:


A resistência característica à compressão do concreto, que é repre-
sentada pela notação fck, é um valor de resistência que deve ser
atingido ou ultrapassado pelo concreto dosado em mais de 95%
das ocorrências (ver Figura 02). É o valor especificado pelo calcu-
lista para a obra.
Para este requisito ser atendido é que os parâmetros norma-
lizados de dosagem devem ser observados (Tabela 3), para que
o fcm especificado para o traço, dentro de condições específicas,
seja o suficiente para se garantir o fck estabelecido para o projeto
estrutural.

TÓPICOS INTRODUTÓRIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO 27


Fig. 02 – Curva de Gauss da distribuição
da resistência à compressão do concreto

Além dos cuidados de dosagem para se garantir o fck especi-


ficado em projeto, a NBR 12655:2015 exige que seja realizado o
ensaio de resistência à compressão por meio do rompimento de
corpos de provas cilíndricos. O procedimento de ensaio é regido
pela norma ABNT NBR 5739:2018.

Fig. 03 – Corpos de prova para aferição da resistência à compressão


Crédito: Somsak Nitimongkolchai (2017)

28 ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO PARA EDIFICAÇÕES


O fck é uma espécie de “valor líquido”. Fazendo-se uma com-
paração com o salário recebido por um trabalhador, o fcm é o valor
bruto, enquanto o fck é o valor líquido que é efetivamente recebido,
ou seja, é o valor com o qual o trabalhador pode realmente con-
tar. Como no salário, sobre o fcm são aplicadas reduções relativas
a erros que podem acontecer no processo produtivo, por isso, o fck
deve ser sempre menor que a resistência média os corpos de prova.

1.1.5.3 Resistência à tração


O concreto é um material que resiste mal à tração e, por isso, ge-
ralmente não se leva em conta essa resistência. Mesmo assim, a
resistência à tração tem necessidade de ser avaliada nas peças su-
jeitas ao esforço cortante e quando se precisa conhecer o grau de
fissuração.
Existem ensaios para se obter esse valor, tais como a determi-
nação à tração por compressão diametral (fct,sp) e tração na flexão
(fct,f) para avaliação da resistência à tração direta (fct), mas, no
projeto geralmente se usa as correlações que a norma faz, a partir
da resistência à compressão. Quando não forem realizados ensaios
para determinação das resistências à tração, esta pode ser avaliada
mediante as seguintes expressões:
• resistência média à tração ......

• resistência inferior à tração.....

• resistência superior à tração....

TÓPICOS INTRODUTÓRIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO 29


Na Tabela 5, abaixo, os valores de referência (inferior, médio e
superior) da resistência à tração foram obtidos à partir das expres-
sões apresentadas na página anterior:

Tabela 5 – Resistência à tração direta (fct) do concreto (em MPa)

fck fctk fct fctk


(MPa) INFERIOR MÉDIO SUPERIOR
20 1,55 2,21 2,87
25 1,79 2,56 3,33
30 2,03 2,90 3,77
35 2,25 3,21 4,17
40 2,46 3,51 4,56
45 2,66 3,80 4,94
50 2,85 4,07 5,29

Os princípios relativos à resistência do concreto à tração direta


(fct) são correlatos aos da resistência à compressão (fck), expostos
no subtópico anterior.
Portanto, quando realizados os ensaios, a resistência média do
concreto à tração (fctm) é valor obtido da média aritmética dos re-
sultados e a resistência característica do concreto à tração (fctk) é
valor da resistência que tem 5% de probabilidade de não ser alcan-
çado pelos resultados de um lote de concreto.
Os valores de fctk são usados, por exemplo, no dimensiona-
mento dos estribos de vigas, sujeitos a cisalhamento.

1.1.5.4 Classes de resistência


De acordo com o escopo definido neste livro no tópico 1.1.4., a com-
plexidade das estruturas é a de Nível 1 (pequeno porte) e, portanto,

30 ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO PARA EDIFICAÇÕES


as classes de resistência de concreto correspondentes são as com-
preendidos no Grupo I.
Os concretos para fins estruturais são classificados nos grupos
I e II, de acordo a resistência característica à compressão (fck), de-
terminadas em projeto e verificados por controle tecnológico.
A Tabela 6, abaixo, apresenta a relação das classes de resistên-
cia do Grupo I (C20 a C50), conforme a ABNT NBR 8953:2015.
Os concretos com classe de resistência inferior a C20 não são
estruturais e, portanto, não podem ser usados na execução de es-
truturas de concreto.

Tabela 6 – Classes de resistência do Grupo I (20 a 50 MPa)

fck fck* fcd**


CLASSE
(MPa) (kN/cm²) (kN/cm²)
C20 20 2,0 1,43
C25 25 2,5 1,79
C30 30 3,0 2,14
C35 35 3,5 2,50
C40 40 4,0 2,86
C45 45 4,5 3,21
C50 50 5,0 3,57
* 1 Pa = 1 N/m². ** γc=1,4.

1.1.5.5 Módulo de elasticidade


Para o cálculo de deformações dos componentes estruturais é ne-
cessário conhecer o módulo de elasticidade do concreto para se de-
terminar a relação entre as tensões e as deformações oriundas do
carregamento. O concreto tem comportamento aproximadamente
elástico quando submetido ao carregamento pela primeira vez, por

TÓPICOS INTRODUTÓRIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO 31


isso, a relação entre tensão e deformação pode ser considerada li-
near,5 de acordo com a Lei de Hooke:

σ = tensão
σ=E·ε E = módulo de elasticidade
ε = deformação específica

A flecha elástica imediata6 de elementos estruturais submeti-


dos a esforços de flexão, tais como lajes e vigas, são obtidas tendo
como uma de suas variáveis a elasticidade do concreto. Quando não
houver dados de ensaios, é permitido estimar o módulo de elasti-
cidade, de acordo com as expressões abaixo, cujos resultados são
apresentados nas tabelas.

Módulo de elasticidade (Ec):


, onde Ec e fck são dados em MPa.

CLASSE C20 C25 C30 C35 C40 C45 C50


fck 20 25 30 35 40 45 50

4,472 5,000 5,477 5,916 6,324 6,708 7,071

Ec 25 044 28 000 30 672 33 130 35 418 37 566 39 598

Essas expressões, apresentadas na ABNT NBR 6118:2014,


correlacionam o módulo de elasticidade (Ec) com a resistência à
compressão (fck), que são válidas em termos gerais, mesmo tendo

5
A não-linearidade do concreto em tensões normais é devido principalmente
ao efeito da fluência.
6
Ver tópico 4.1.6 – Verificação da aceitabilidade das deformações.

32 ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO PARA EDIFICAÇÕES


outras variáveis que possam influenciar no resultado, tais como a
umidade e idade.
As propriedades do agregado graúdo também influenciam o
módulo de elasticidade do concreto, em virtude de seu próprio mó-
dulo do agregado e de sua proporção volumétrica. Quanto maior
o módulo de elasticidade do agregado, maior será o do concreto,
por isso, um fator de correção (αE) ao módulo de elasticidade (Ec)
é aplicado.

Módulo de elasticidade inicial (Eci):


, onde Ec é dado em MPa e αE obtido na tabela.

basalto e granito e
BRITA calcário arenito
diabásio gnaisse
αE = 1,2 1,0 0,9 0,7

Com isso:

MÓDULO DE ELASTICIDADE INICIAL (Eci)


CLASSE basalto e granito e
calcário arenito
diabásio gnaisse
C20 30 053 25 044 22 540 17 531
C25 33 600 28 000 25 200 19 600
C30 36 806 30 672 27 605 21 470
C35 39 756 33 130 29 817 23 191
C40 42 502 35 418 31 876 24 793
C45 45 079 37 566 33 809 26 296
C50 47 518 39 598 35 638 27 719

TÓPICOS INTRODUTÓRIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO 33


A deformação elástica do concreto depende da composição
do traço do concreto, especialmente da natureza dos agregados. A
deformação resultante do primeiro carregamento é considerada
como elástica e o aumento da deformação devido ao carregamento
permanente é atribuído à fluência (ver tópico 1.1.5.6).

Módulo de deformação secante (Ecs):


, onde Eci e Ecs são dados em MPa.

sendo:

CLASSE C20 C25 C30 C35 C40 C45 C50


αi 0,8500 0,8625 0,8750 0,8875 0,9000 0,9125 0,9250
Ec 25 044 28 000 30 672 33 130 35 418 37 566 39 598
Ecs 21 287 24 150 26 838 29 403 31 876 34 279 36 628

Por razões de ordem prática, obtêm-se valores estimados, po-


rém, com aproximação muito satisfatória a partir das formulações
que consideram a resistência à compressão e o tipo de agregado
graúdo usado na mistura do concreto.
Para avaliação do comportamento de um elemento da estru-
tura de concreto, a ABNT NBR 6118:2014 recomenda a adoção do
módulo de deformação secante, que pode ser obtido segundo mé-
todo de ensaio estabelecido na ABNT NBR 8522:2017 ou estimados
pelas expressões acima, cujos resultados de Ecs das respectivas clas-
ses de concreto são apresentadas na Tabela 7.

34 ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO PARA EDIFICAÇÕES


Tabela 7 – Módulo de Elasticidade Secante do Concreto (Ecs)

MÓDULO DE ELASTICIDADE DE ACORDO COM O AGREGADO


CLASSE basalto e granito e
calcário arenito
diabásio gnaisse
C20 25 544 21 287 19 158 14 901
C25 28 980 24 150 21 735 16 905
C30 32 206 26 838 24 154 18 787
C35 35 284 29 403 26 463 20 582
C40 38 251 31 876 28 688 22 313
C45 41 135 34 279 30 851 23 995
C50 43 954 36 628 32 965 25 640

1.1.5.6 Fluência
O aumento da deformação de um elemento estrutural submetido a
um carregamento constante ao longo do tempo,7 medida a partir da
deformação elástica inicial,8 é chamado de fluência.
A fluência não tem relação, portanto, com o aumento de carga,
como no caso da flecha imediata ocasionada pelo primeiro carre-
gamento, mas com a permanência de uma dada carga por período
prolongado, por isso a deformação resultante da fluência denomi-
na-se flecha diferida no tempo.

7
Após a deformação elástica inicial, contudo, sem considerar outras deforma-
ções não associadas com o carregamento, ou seja, retração, expansão e defor-
mações térmicas, que muitas vezes requerem também a passagem do tempo.
Geralmente a parcela dessas deformações é pequena e, por isso, desprezada
nos cálculos.
8
Estimada a partir do módulo de deformação secante (Ecs) na idade do carre-
gamento inicial, conforme tópico 1.1.5.5.

TÓPICOS INTRODUTÓRIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO 35


Fig. 04 – Mecanismo de deformação por efeito da fluência

Pode-se concluir que o cálculo da flecha total se faz pela soma


da flecha elástica imediata com a flecha diferida no tempo.
As especificações das características do concreto a ser utiliza-
do na estrutura deve ser alvo de preocupação do projetista, pois
diversos fatores pois diversos fatores contribuem para a fluência,
como: tipo de agregado, relação água/cimento, tipo de cimento e
da resistência à compressão. A fluência é inversamente proporcio-
nal à resistência do concreto por ocasião do momento do primeiro
carregamento.

Fig. 05 – Flecha imediata, diferida no tempo e total

36 ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO PARA EDIFICAÇÕES


No cálculo dos elementos estruturais submetidos a cargas
transversais e, portanto, sujeitos à flexão, é importante a verificação
das flechas, para se determinar a aceitabilidade das deformações
previstas. No que se refere à fluência, a ABNT NBR 6118:2014 apre-
senta as seguintes expressões para que o seu valor seja estimado:

αf = fator de fluência
Δξ = intervalo do coeficiente ξ, em função da diferença de tempo
ξ = coeficiente em função do tempo
t tempo, em meses, para a data que se deseja estabelecer o valor da
=
flecha diferida
t0 tempo, em meses, para a data de início do carregamento, geralmen-
=
te o momento da retirada do escoramento
ρ' = taxa de armadura de compressão, se houver
As' = área da seção transversal da armadura de compressão
b, d = largura e altura útil, respectivas, do elemento estrutural

O fator de fluência (αf) assim obtido, será usado como um fator


de majoração da flecha elástica imediata (f), para se obter a flecha
total (ftotal,∞), como segue:

9
O cálculo da flecha elástica imediata (f) leva em conta o módulo de deforma-
ção secante do concreto (Ecs), e é exemplificado no tópico 4.1.6.

TÓPICOS INTRODUTÓRIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO 37


A deformação devido ao efeito da fluência nos elementos su-
jeitos a esforços fletores não pode ser ignorada, porque a fluência
pode até triplicar os valores calculados para as flechas imediatas.

1.1.5.7 Coeficiente de Poisson


O cálculo de alguns tipos de estrutura exige o uso do coeficiente
de Poisson, que é a relação entre a deformação longitudinal e a de-
formação transversal resultante de carregamento axial. Em geral,
o coeficiente de Poisson (ν) para o concreto varia da faixa de 0,15
a 0,20. Esse coeficiente é usado para elaboração de tabelas de lajes
para o cálculo dos momentos fletores.

Fig. 06 – Deformação longitudinal e transversal

1.1.6 CARACTERÍSTICAS DOS AÇOS ESTRUTURAIS


As armaduras usadas no concreto armado apresentam-se em forma
de barras e fios. De acordo com as normas, as barras são produtos
obtidos por laminação a quente e os fios são produtos obtidos por
trefilação ou processo equivalente, p.ex., estiramento.

38 ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO PARA EDIFICAÇÕES


1.1.6.1 Aspecto geométrico
O aspecto geométrico das barras e dos fios é o de peças cilíndricas
de seção circular.
O valor arredondado, em milímetros, do diâmetro da seção
transversal nominal das barras e dos fios, é denominado bitola (ϕ).
As primeiras barras empregadas tinham a superfície lisa. São
chamadas barras lisas. Quando se pensou em obterem-se aços de
maior resistência com o intuito de diminuir-se o consumo de ar-
madura, dois problemas tiveram que ser enfrentados: a limitação
da fissuração do concreto e a melhoria das condições de aderên-
cia entre o aço e concreto. Surgiram, então, as barras com mossas
ou saliências transversais também denominadas de barras de alta
aderência.

1.1.6.2 Fornecimento
a) Comprimentos
O comprimento normal de fabricação das barras e dos
fios é de 12 metros. A tolerância de fabricação nesse
comprimento é de +/- 5%. Contudo, é possível conse-

TÓPICOS INTRODUTÓRIOS EM ESTRUTURAS DE CONCRETO 39


guirem-se comprimentos maiores (ou especiais), mas,
para isso, deverá ser feita encomenda especial.

b) Bitolas comerciais (ϕ)


As barras e fios apresentam-se no mercado com bitolas
(ou seja, diâmetros) padronizadas. As bitolas disponí-
veis são:

BARRAS (φ):
CA-25: 6,3 – 8,0 – 10,0 – 12,5 – 16,0 – 20,0 – 25,0 – 32,0
CA-50: 6,3 – 8,0 – 10,0 – 12,5 – 16,0 – 20,0 – 25,0 – 32,0 – 40,0

FIOS (φ):
CA-60: 4,2 – 5,0 – 6,0 – 7,0 – 8,0 – 9,5

1.1.6.3 Tabela-padrão
O quadro de valores na tabela apresentada neste tópico é muito im-
portante para o detalhamento das peças de concreto armado. Para
elaboração dessa tabela foram utilizados os valores nominais, a sa-
ber: áreas das seções transversais, massas lineares (kg/m) e diâme-
tro das seções transversais.
Para o cálculo das massas lineares, foi utilizado para a massa
específica do aço o valor de 7,85 kg/dm³ ou 7 850 kg/m³. O peso
específico é de 78,5 kN/m³.

40 ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO PARA EDIFICAÇÕES

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