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Resumo
Ao analisar lajes nervuradas unidirecionais, em termos normativos, considerando o tipo vigota isolada, é
plausível afirmar que o rompimento de uma nervura traria ao colapso uma faixa de laje representativa na
ordem de influência da nervura rompida. A ABNT NBR 6118:2014, no item 14.7.7, não recomenda a utilização
da rigidez da capa de concreto, anulando a possibilidade de transmissão de carregamentos, redução das
flechas da laje e, assim, também, a possibilidade de abertura de furos nas lajes. Sendo obrigatório dessa
forma a existência de vigas nos contornos de shafts e aberturas.
Entretanto, FLÓRIO (2003) apresenta a metodologia de análise dessas lajes, mais especificamente as
lajes nervuradas unidirecionais de vigotas armadas, através da analogia de grelha considerando a rigidez da
capa na direção transversal à nervura para diversos casos lineares e não-lineares, obtendo percentuais
consideráveis de transmissão de cargas na direção da capa, o que simultaneamente denota a amortização
dos esforços solicitantes das nervuras, quando comparado com o modelo de viga isolada, e, dessa forma,
abrindo campos de análise que consideram a rigidez da capa para maior estabilização da laje como um todo.
Sendo possível que a capa suporte esforços provenientes da compatibilização de uma grelha e tendo
em vista a necessidade de passagem de tubulações por essas lajes, em certas dimensões, essas aberturas
podem vir a ser viáveis desde que haja o detalhamento de reforços de borda dessas aberturas para servir de
meio de transmissão dos esforços das pontas das vigotas interrompidas pela abertura, para as vigotas
adjacentes. Esse estudo apresenta uma solução para o problema e a metodologia a ser utilizada no
dimensionamento e análise.
Palavras-Chave: Lajes, Nervuradas, Unidirecionais, Pré-moldada, Treliçada, Aberturas.
Abstract
In normative terms, it is plausible to affirm that in the analysis, the unidirectional ribbed slabs, isolated
beams, the rupture of a rib would bring to the collapse a representative slab band in the order of influence of
the ruptured rib. NBR 6118 (ABNT, 2014) prohibits the use of rigidity of the concrete cover, avoiding the
possibility of transmission of loads, reducing the arrows of the slab and, also, the possibility of opening holes
in the slabs. Therefore, it is mandatory that there be beams in the contours of shafts and openings.
However, FLORIO (2003) presents the methodology of analysis of these slabs, more specifically the
unidirectional ribbed slabs of armed beams, through the grid analogy considering the stiffness of the cover in
the transversal direction to the rib for several linear and non-linear cases, obtaining percentages transport of
loads in the direction of the cover, which coincidentally denotes the amortization of the stresses applying to
the ribs, when compared to the isolated beam model, and, thus, opening fields of analysis that consider the
stiffness of the cover for greater stabilization of the slab as a whole.
It being possible for the cover to support stresses coming from the compatibility of a grate and in view of
the need for passage of pipes through these slabs, in certain dimensions, such apertures may become feasible
provided there is detailing of edge reinforcements of such apertures for serve as a means of transmitting the
efforts of the tips of the beams interrupted by the aperture to adjacent beams. This study presents a solution
to the problem and the methodology to be used in the design and analysis.
Key-Words: Slabs, Rib, Unidirectional, Pre-cast, Latticework, Openings.
1.2 Justificativa
Por apresentar vantagens em relação a outros sistemas, principalmente na redução de
custos, a utilização do sistema estrutural de lajes pré-fabricadas de vigotas treliçadas tem
se tornado cada vez mais frequente atualmente. Porém apesar do crescimento na
popularidade do seu uso, sente-se ainda que muito pode ser aproveitado por parte dos
projetistas sem experiência no assunto. Torna-se oportuno ampliar o estudo sobre esse tipo
de sistema, tendo em vista potencializar o acervo de informações técnicas sobre seu
comportamento objetivando seu melhor aproveitamento.
Os furos e aberturas em lajes são feitos usualmente para passagens de tubulações dos
sistemas prediais. Qualquer estrutura que apresente, em suas exigências de projeto, a
necessidade de furos ou aberturas, deve ser projetada e detalhada para absorverem as
alterações do fluxo de tensões que ocorrem no entorno destes locais.
Assim, espera-se que este trabalho possa ajudar os projetistas a potencializarem o uso do
sistema estrutural de lajes treliçadas unidirecionais pré-fabricadas de concreto armado e
ampliar o acervo de informações técnicas a seu respeito.
Através deste método a laje é substituída por uma grelha equivalente, onde a sua rigidez
longitudinal concentra-se nas barras longitudinais e a sua rigidez transversal concentra-se
nas barras transversais. Assim, a estrutura torna-se um problema simples de analise
matricial aplicada a uma grelha. Quando a laje analisada consiste em uma laje nervurada
em uma direção, como é o caso em estudo, a discretização da malha é determinada de
acordo com a localização das nervuras, sendo a localização das barras na direção da
Quando se fala em modelos de grelha, surge além dos esforços de momento fletor e
cortante, esforços referentes ao momento torsor nas barras, sendo a rigidez à torção um
parâmetro a ser estudado na analogia de grelhas tal qual a rigidez a flexão.
= ∗ (Equação 1)
(Equação 2)
=
2(1 + )
Como pode ser observado em estudos realizados sobre o assunto, assim como em
LEOHARDT (1981), o parâmetro de rigidez a torção cai consideravelmente com o
surgimento de fissuras nas peças de concreto armado.
Já a inércia à torção ( ), segundo LEOHARDT (1979), para vigas com seção I ou T, como
é o caso da configuração adotada para o dimensionamento das vigotas da laje em estudo,
deve-se calcular dividindo-se a seção em retângulos e somando os valores parciais dos
retângulos.
(Equação 3)
= = + + + ⋯+
Para Estádio I:
= 0,3 ∗ ∗ (Equação 4)
Para Estádio II:
= 0,1 ∗ ∗ (Equação 5)
Para casos de flexo-torção:
= 0,05 ∗ ∗ (Equação 6)
No método das grelhas equivalentes o carregamento atuante na laje pode ser aplicado de
duas formas: distribuído ao longo da barra ou aplicado diretamente no nó das grelhas.
Optou-se pela segunda forma devido a posição do furo que iremos analisar. Dessa forma
há um melhor aproveitamento da carga aplicada na análise da estrutura para o seu
dimensionamento. Assim calcula-se a área de influência de cada nó e aplica-se nele a carga
correspondente, tal como na figura 3.
Na modelagem do SAP 2000 as nervuras foram modeladas como vigas “T” com as
dimensões da vigota anteriormente descritas e as barras transversais como barras
retangulares com largura igual ao comprimento do intereixo e altura igual a espessura da
capa.
O tipo de vigota escolhido foi o TR08645 + ∅ 8.0 de acordo com manual dos fabricantes no
mercado e dimensionamento da área de aço adicional. Para que se chegasse a essa
escolha seguiu-se os passos recomendados pelo item 14.7.7 da NBR 6118:2014
considerando a vigota como elemento isolado de viga com seção transversal em forma de
“T”. Com as seguintes dimensões em cm:
(Fonte: Autor)
Temos que:
∗ 5 ∗ (0,33 ∗ 3,3)
= = = 1,65 / (Equação 7)
3,3
50 (Equação 11)
= = = 43,478
1,15 1,15
Admitindo primeiramente que a linha neutra se encontre na alma e utilizando a tabela para
cálculo da área de aço de CARVALHO (2014):
Como < a linha neutra encontra-se na mesa da viga e apesar de ter o formato em T é
calculada com o formato de viga retangular. Calcula-se então a área de aço necessária
obtida no valor de 0,798 cm², chegando-se então na treliça escolhida, a TR08645 que
possui área de aço igual a 0,39 cm², verifica-se que será necessário armadura longitudinal
adicional de 0,4 cm². Acrescenta-se então uma barra com ∅8.0, cuja a área é igual a 0,5
suprindo assim a área de aço calculada.
O gráfico 1 refere-se ao deslocamento vertical da vigota central em cada uma das lajes
analisadas. Comparado ao método descrito pela NBR 6118:2014 todas as lajes obtiveram
flechas menores do que a flecha determinada pela metodologia da norma, com exceção da
laje com abertura central, isso porque estamos analisando apenas a vigota central e nas
demais lajes com aberturas, as mesmas não cortam essa vigota, dessa forma a vigota
central tem pouca sensibilidade a abertura e não sofre seus efeitos na flecha.
0
-0,002 0 33 66 99 132 165 198 231 264 297 330 363
ν NBR
-0,004
ν s/ Ab.
Flecha (m)
-0,006
ν Ab. Canto
-0,008
ν Ab. Centro
-0,01
ν Ab. Lateral
-0,012
-0,014
Posição (cm)
Gráfico 1 - Flecha na vigota central para cada laje analisada. (Fonte: Autor)
1,8
1,6 M. NBR
1,4
1,2 M s/ Ab.
1
0,8 M Ab. Canto
0,6
0,4 M Ab. Centro
0,2
0
M Ab. Lateral
0 33 66 99 132 165 198 231 264 297 330 363
Posição (cm)
Gráfico 2 - Valor dos momentos fletores para a vigota central em cada laje analisada
(Fonte: Autor)
As lajes analisadas via analogia de grelha transmitiram em média 21% dos esforços para
as vigas adjacentes, resultado próximo daquele obtido por FLÓRIO (2003) para as mesmas
condições, sem aberturas. As lajes com aberturas utilizaram-se mais da rigidez da capa
transferindo mais esforços para as vigas adjacentes na ordem de crescimento de 1%,
garantindo a proximidade das flechas e esforços com aqueles encontrados pela
metodologia indicada pela NBR 6118 (ABNT, 2014). Pode-se reparar que, como existe
abertura no centro do vão da laje, as vigotas centrais sofrem uma redução na carga
transmitidas as vigas transversais devido a inexistência de peças nessa abertura, ou seja,
essas vigotas coletam menos cargas que as demais adjacentes a abertura. Esse fato
explica a mudança do valor de transmissão de cargas no gráfico da laje com abertura
central que causa o desvio de horizontalidade observado no gráfico.
2
1,5 R. NBR
Reação (KN)
1 R. s/ Ab.
0,5
R. Ab. Canto
0
-0,5 0 33 66 99 132 165 198 231 264 297 330 363 R. Ab. Centro
-1 R. Ab. Lateral
Posição (cm)
Gráfico 3 - Carregamento transmitido às vigas adjacentes à direção das vigotas através da capa (Fonte:
Autor).
3
Reação (KN)
R. NBR
2 R. s/ Ab.
1 R. Ab. Canto
R. Ab. Centro
0
0 33 66 99 132 165 198 231 264 297 330 363 R. Ab. Lateral
Posição (cm)
Gráfico 4 - Carregamento transmitido às vigas transversais à direção das vigotas através das vigotas
3. Reforço de borda
Validado o modelo, é necessário prover condições de suporte para os novos esforços
causados localmente na borda da abertura. O modelo de grelha equivalente das lajes, a fim
de garantir a correta compatibilidade dos esforços, precisa, ainda, ser comparado ao
modelo físico construtivo real. Nisso, há de ser lembrado que o caso em análise trata de
uma abertura onde ocorre um rompimento da nervura, que é mais alta que a laje. Portanto,
seria necessária armadura de suspensão, o que não é recomendável pela pouca espessura
da laje e pela sua pouca rigidez.
Por outro lado, na borda da abertura ficaria exposta a extremidade interrompida da vigota
e alvéolos dos blocos ou EPS de enchimento, o que é esteticamente desagradável. Assim,
recomenda-se que seja abandonada a hipótese de suporte dos esforços através da capa,
diretamente, e prover a criação de uma peça mais robusta e com inércia compatível aos
esforços solicitantes. Ainda, deve-se atentar para a existência de esforço torçor na borda
da abertura causado pelo momento fletor da vigota que solicita a rigidez da capa, momento
fletor na capa proveniente do carregamento de apoio da vigota na extremidade da abertura
e, na mesma posição, esforço cortante. Então, a fim de evitar armaduras complexas e de
difícil instalação, incompatibilidades de rigidez ou fissurações inconvenientes, é indicada a
criação de uma peça semelhante a uma vigota transversal na borda da abertura que se
prolongue transversalmente tangenciando a borda da abertura até um comprimento de 2
vigotas para cada lado convenientemente dimensionado para os esforços obtidos via
análise estrutural. Para efeito ilustrativo, a tabela 1 apresenta a ordem de grandeza dos
esforços solicitantes obtidos nas lajes analisadas nesse trabalho.
Tabela 1 – Esforços solicitantes máximos obtidos na borda das aberturas nos modelos analisados.
Laje Momento Esforço Momento Torçor
Fletor Cortante Máximo (kNm)
Máximo(kNm) Máximo (kN)
Abertura no Canto 0.4577 1.452 0.2978
Abertura Lateral 0.3921 1.305 0.2638
Abertura no Centro 0.3706 1.288 0.1998
Figura 10 - Detalhe da borda da abertura sem a nervura de suporte, com as duas possíveis soluções.
(Fonte: Autor)
Referências
DROPPA Jr., A. (1999). Análise estrutural de lajes formadas por elementos pré-
moldados tipo vigota com armação treliçada. Dissertação (Mestrado) – Escola de
Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1999.
Bibliografia complementar