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Disciplina: Projecto de Estradas e Pontes

Curso: Engenharia Civil, 4º Ano, 2º Semestre 2016

Capítulo 6 – SUPERSTRUTURA: ANÁLISE E DIMENSIONAMENTO

1 GENERALIDADES
2 MODELOS DE COMPORTAMENTO DA SUPERSTRUTURA
3 LAJE DE TABULEIRO
3.1 Dimensionamento
3.2 Superfícies de Influência
3.3 Encastramento Elástico nas Vigas Princípais

4 ANÁLISE TRANSVERSAL DA SUPERSTRUTURA


4.1 Distribuição transversal de cargas
4.2 Métodos Clássicos
4.2.1 Métodos das Carlingas flutuantes
4.2.2 Métodos de Guyon-Bares-Massonnet
4.3 Métodos Numéricos
4.3.1 Modelos de Grelha
4.3.2 Modelos de Elementos Finitos

5 MODELOS DE GRELHA

6 MODELOS DE ELEMENTOS FINITOS

7 ANÁLISE LONGITUDINAL DA SUPERSTRUTURA


7.1 Tabuleiros Curvos e Enviesados, e Tabuleiros Mistos Aço-Betão
7.2 Influência do Faseamento Construtivo
1. GENERALIDADES
A análise e dimensionamento da superstrutura (tabuleiro) das pontes é feita durante e após a
fase de concepção, cujos princípios básicos foram discutidos nos capítulo anteriores.
Fundamentalmente, há que efectuar uma análise de esforços no tabuleiro; verificar as
correspondentes deformações e dimensionar as armaduras ordinárias e de pré-esforço, no caso
das pontes de betão ou secções de aço no caso de pontes metálicas e mistas.

Uma das características específicas da análise da superstrutura das pontes é a necessidade de


efectuar uma análise estrutural em duas direcções:

 Análise Estrutural Transversal


 Análise Estrutural Longitudinal

É evidente que esta decomposição é apenas um método simplificado de decomposição dum


problema tridimensional.

Fazer a análise transversal corresponde fundamentalmente a conseguir determinar a


distribuição transversal das sobrecargas no tabuleiro pelos vários elementos longitudinais
principais, como é o caso das pontes em laje vigada ou em laje nervurada.

Do ponto de vista global, a análise da superstrutura das pontes é em geral feita considerando a
estrutura como reticulada, admitindo por conseguinte a indeformabilidade das secções
transversais do tabuleiro no seu próprio plano. Após a análise transversal da superstrutura, a
análise longitudinal pode ser efectuada tendo em conta a distribuição transversal de cargas.

Um outro aspecto específico da análise da superstrutura das pontes é a necessidade de serem


tomadas em consideração as distribuições de esforços de esforços durante a fase construtiva
em que o modelo de cálculo se vai alterando à medida que a construção vai progredindo. Tal é
o caso duma ponte em laje vigada, construída por uma sucessão de fases de betonagem, em
que a estrutura pode ser analisada como uma viga contínua com um número de tramos
crescente à medida que se avança na construção. Um outro caso é o das pontes construídas
por consolas conforme adiante se analisará.

As mudanças de modelo estrutural ao longo das fases de construção e o efeito do tempo dão
lugar a redistribuição de esfoços por fluência an superstrutura. Este efeito tem de ser
considerado em simultâneo com a evolução do modelo estático.

Após conhecer a distribuição de esforços na estrutura final e a sua evolução durante as fases
construtivas, há que dimensionar, no caso das pontes de betão armado pré-esforçado as
armaduras ordinárias e de pré-esforço, com base nas verificações de segurança preconizadas
na regulamentação (REBAP – 1984, CEB-FIP e EC2), nomeadamente as verificações aos
estados limites de utilização e estados limites últimos, assuntos do âmbito das disciplinas de
Betão Armado e Pré-esforçado. No que se refere às Pontes com superstrutura Metálica ou Mista
Aço-Betão, os Eurocódigos 3 e 4 integram nas suas partes 2, regras específicas para o
dimensionamento e verificação da segurança deste deste tipo de estruturas.
Neste capítulo irão tratar-se de assuntos básicos e específicos da análise e dimensionamento
da superstrutura das pontes (admitindo que os restantes assuntos foram tratados noutras
discilinas, nomeadamente em Resistência dos Materiais, Teoria de Estruturas e Betão Armado
e Pré-esforçado), sendo que os aspectos específicos das pontes em caixão, metálicas e mistas,
pontes ferroviárias e muitos outros, são tratados no âmbito da disciplina de pontes a nível da
pós-graduação – Mestrado de Estruturas.

2. MODELOS DE COMPORTAMENTO DE SUPERSTRUTURA


A superstrutura das pontes tem fundamentalmente três tipos de comportamento:
 de laje
 de viga
 de casca

O comportamento de laje aparece em qualquer tipo de superstrutura – laje, vigada ou caixão.


Nas pontes em laje maciça ou vazada (aligeirada), embora a superstrutura esteja apoiada
apenas ao longo de direcções transversais (encontros e apoios intermédios em pilares) a relação
de vãos Lx/Ly e o efeito das sobrecargas concentradas devidas aos veículos introduz uma
flexão transversal do tabuleiro (Figura 1).

Figura 1 – Comportamento de laje duma superstrutura em laje contínua de 3 vãos, sob a acção
das sobrecargas concentradas de tráfego. A e B apoios intermédios; (---) deformada.

Uma superstrutura em laje vigada (Figura 2) tem um comportamento de viga na direcção


longitudinal quando não se consideram ou se restringem, por intermédio das carlingas, as
deformações transversais do tabuleiro em caixão.
Figura 2 – Comportamento dum tabuIeiro em laje vigada.

Os deslocamentos de flexão e de torção (ν,θ) – Figura 2 (a) estão associados ao


comportamento de viga, no qual se admite a indeformabilidade da secção transversal. As
deformações da laje de tabuleiro – Figura 2 (b), interactuam com a deformação da própria
secção transversal. As deformações da secção transversal no seu plano, são parcialmente
restringidas pelas carlingas, nas pontes em laje vigada, ou pelos diafragmas nas pontes em
caixão, conforme se ilustra na Figura 3.

Figura 3 – Influência de carlingas ou diafragmas nas deformações das secções transversais.


A associação dos vários tipos de comportamento estrutural da superstrutura das pontes conduz
a um comportamento tridimensional que pode ser simulado como uma casca em que as paredes
da superstrutura possuem esforços de membrana (Nx, Ny, Nxy) e de flexão-torção (Mx, My,
Mxy) conforme se ilustra na Figura 4 para um tabuleiro em caixão.

Figura 4 – Comportamento de casca de um tabuleiro em caixão.

3. LAJE DE TABULEIRO
3.1 Dimensionamento
A laje de tabuleiro de pontes destina-se fundamentalmente a receber as acções directas das
cargas dos veículos e a conseguir a solidarização dos elementos estruturais principais como é
o caso dos tabuleiros em laje vigada (Figura 5). Neste caso, a própria laje constitui um banzo
superior para as vigas principais, o mesmo acontecendo no caso das secções em caixão. Para
efeitos de dimensionamento há em geral que considerar uma “largura” efectiva de laje a
colaborar com cada uma das vigas principais.

Figura 5 – Laje de tabuleiro: Superstrutura em laje vigada.

A laje de tabuleiro está sujeita a dois tipos de esforços:

 Esforços globais, devidos ao comportamento de viga da superstrutura


 Esforços locais, devidos ao comportamento de laje sob as acções localizadas (cargas
das rodas) das sobrecargas.
Os esforços globais, nomeadamente tracções ou compressões longitudinais, são obtidos da
própria análise longitudinal da superstrutura.

Quanto aos esforços locais, são obtidos por uma análise de laje, a qual deverá ter em
consideração o efeito de encastramento elástico das lajes na vigas principais, bem como o efeito
da deformabilidade destas vigas nos esforços. Na Figura 6 esquematiza-se o modelo de cálculo
para o efeito de encastramento elástico da laje nas vigas principais, para o caso da zona entre
vigas do tabuleiro em laje vigada da Figura 5.

Figura 6 – Encastramento elástico da laje de tabuleiro.

As lajes de tabuleiro possuem em geral uma espessura mínima de 20cm (ie 25cm), não devendo
utilizar-se, por razões de durabilidade, espessuras menores mesmo que por critérios, de
resistência e deformabilidade, tal seja possível.

A laje de tabuleiro no caso de pontes em laje vigada ou em caixão, pode possuir esquadros junto
às vigas principais, ou almas do caixão, ou mesmo ser totalmente de espessura variável quando
a distância entre vigas principais o aconselhar, por razões de redução de peso próprio e melhoria
de resistência aos fortes momentos flectores transversais a que ficará sujeita (Figura 7). Tal é,
em geral, o caso das lajes das consolas que devem possuir no bordo livre uma espessura
mínima de 15cm, aumentando de espessura em direcção à secção de encastramento.

Figura 7 – Variação da espessura da laje de tabuleiro em pontes em laje vigada (a-b) e em


caixão (c). (b) tabuleiro tipo Homberg sem carlingas.
A laje de tabuleiro pode ser realizada apenas em betão armado ou, quando o nível de esforços
o exige, possuir pré-esforço transversal (Figura 8).

Figura 8 – Pré-esforço transversal da laje de tabuleiro.

Quando não existe pré-esforço transversal a quantidade de armadura ordinária na laje de


tabuleiro é em geral considerável, atingindo valores da ordem dos 120 a 140 kgf aço/m3 betão.
As armaduras ordinárias na laje de tabuleiro podem representar valores da ordem dos 50% da
armadura ordinária total da superstrutura.

Quando a laje do tabuleiro é pré-esforçada transversalmente, as armaduras ordinárias podem


reduzir-se a varões de ø8 a ø12 desde que tal garanta a resistência aos estados limites últimos.

A existência de esquadros na laje de tabuleiro permite aumentar a excentricidade dos cabos de


pré-esforço. Os cabos de pré-esforço transversal devem ser cabos de pequena capacidade mas
com pequeno espaçamento entre eles. Como ordem de grandeza dir-se-á cabos da ordem dos
500 kN com afastamentos entre 0,5 e 1,0m. As ancoragens activas e passivas são normalmente
alternadas ao longo do comprimento da laje.

3.2 Superfícies De Influência


A laje de tabuleiro, quer nas pontes em laje vigada quer nas pontes em caixão, pode considerar-
se em geral como uma placa longa elasticamente encastrada ao longo dos bordos longitudinais
(Figura 6). O apoio é, por conseguinte, apenas ao longo de dois bordos, pois as carlingas hoje
em dia são, em geral, desligadas da laje de tabuleiro, a menos das zonas junto aos encontros
onde a laje se apoia nas carlingas extremas ou, no caso da ponte em caixão, no diafragma de
extremidade.

Os esforços na laje de tabuleiro devido às cargas localizadas transmitidas pelos rodados dos
veículos são calculados utilizando, regra geral, a teoria elástica das lajes e recorrendo às
superfícies de influência de esforços.

As cargas das rodas dos veículos são referidas no plano médio da laje, para efeitos de aplicação
das superfícies de influência. Caso contrário, e como se sabe da teoria elástica das lajes, uma
carga concentrada produz no ponto onde está aplicada esforços infinitos.
Para reduzir as cargas das rodas ao plano médio da laje, adopta-se uma degradação a 45º (1/1)
na espessura da laje a partir do contorno da área carregada (Art. 103 – REBAP, 1984). Na
espessura da camada de revestimento pode adoptar-se, em alternativa, uma degradação a 2/1
(Figura 9).

Figura 9 – Degradação das cargas dos rodados na espessura da laje de tabuleiro.

Os esforços na laje de tabuleiro são referidos ao mesmo plano das cargas – o plano médio da
laje, e são definidos por unidade de comprimento das direcções x e y e podem ser obtidos das
superfícies de influência de esforços. Estas superfícies são obtidas a partir das relações
esforços-deslocamentos transversais w os quais são calculados, no caso duma laje isótropa,
por resolução da equação de Lagrange (equação esta que é deduzida nas disciplinas de Análise
de Estruturas – Teoria das Lajes).

D𝜵𝟒 W = p

Em que:
𝑬𝒉³
D= , rigidez de flexão
𝟏𝟐(𝟏−𝝂𝟐 )

p = p(x,y) , carga distribuída segundo eixo z


𝝏𝟒 𝒘 𝝏𝟒 𝒘 𝝏𝟒𝒘
𝜵𝟒 W = +𝟐 +
𝝏𝒙𝟒 𝝏𝒙𝟒𝝏𝒚𝟒 𝝏𝒚𝟒
As superfícies de influência dos deslocamentos são obtidas por integração da equação de
Lagrange para uma força concentrada unitária num ponto genérico da laje (isto é, com p(x,y) =
0).

Figura 10 – Superfícies de influência do Momento Mx.


3.3 Encastramento Elástico Nas Vigas Principais
Conforme se referiu na secção 3.1 no caso de pontes em laje vigada ou em laje nervurada, a
laje de tabuleiro pode considerar-se encastrada elasticamente nas vigas principais (Figura 6).
Uma situação semelhante pode considera-se no caso da laje de tabuleiro duma secção em
caixão, em que a laje se encontra elasticamente encastrada nas almas.

Considere-se o caso da Figura 11, em que se despreza o efeito das consolas e se pretende
calcular o grau de encastramento elástico da laje entre vigas principais.

Figura 11 – Encastramento elástico da laje de tabuleiro.

As rotações de torção da viga consideram-se impedidas nas secções das carlingas (Figura 11
(b)) à distância L.

Recordando que:

EI1 – é a rigidez de flexão da laje de tabuleiro, em que E é o módulo de elasticidade, I


o momento de inércia por unidade de comprimento;

GJv – a rigidez de torção das vigas, em que G é o módulo de distorção, Jv é o factor de


rigidez à torção.

A incógnita hiperstática é o momento X, absorvido por torção nas vigas e por flexão transvelsal
da laje.

Calcule-se pelo método das forças o valor de X, para a actuação de uma sobrecarga uniforme
p=1 distribuída em toda a área da laje entre secções de carlingas. Na Figura 12, indica-se a
combinação de diagramas M e T para a determinação dos valores de θo e θx.
Figura 12 – Diagramas de momentos flectores M e torsores T.

Pelo teorema de trabalhos virtuais (ou Teorema de Mohr da Resistência de Materiais), calculam-
se θo e θx, e por compatibilidade, e tomando p=1 (θx = θo), obtem-se:

𝒃𝟑
X= 𝐄𝐈𝟏
𝟑 𝑳𝟐 +𝟏𝟐𝒃
𝐆𝐉𝐯

Definindo-se o grau de encastramento elástico α como a relação entre o momento hiperstático


X e o momento de encastramento perfeito
𝑋
α= 𝑝𝑏2
12

Substituindo a expressão de X, e para o betão (ν ≈ 2, pelo que E/G = 2(1+ν) = 2,4); obtem-
se
𝟏
α= 𝑰𝒍 𝑳²
𝟏+𝟎.𝟔
𝑱𝒗 𝒃

Como se pode verificar, quando Jv tende para o infinito, o grau de encastramento elástico tende
para 1.

Esta expressão merece as seguintes observações:

 só é exacta para a secção a meio vão entre carlingas


 não tem em conta a influência da fissuração na rigidez de flexão da laje, e (mais importante)
na rigidez de torção da viga
 foi deduzida para o efeito duma carga uniformemente distribuída. Só é exacta para as
sobrecargas uniformes.
Conhecido o grau de encastramento elástico α, os momentos na laje de tabuleiro podem ser
estimados considerando uma interpolação linear entre os momentos obtidos das superfícies de
influência para lajes com bordos longitudinais encastrados e simplesmente apoiados.

As superfícies de influência estão, em geral, disponíveis apenas para alguns pontos principais
da laje, nomeadamente a ½ vão e nas secções de encastramento. Há que utilizar envolventes
de diagramas de momentos para efeitos de dimensionamento. Na Figura 13 sugerem-se alguns
diagramas simplificados para as envolventes de momentos transversais e longitudinais em lajes
entre vigas, laje em consola ou laje apoiada em três lados (caso do painel de laje junto à carliga
do encontro).

Figura 13 – Envolventes de momentos na laje de tabuleiro.


Um outro aspecto a ser considerado, pelo menos no caso de tabuleiros sem carlingas ou com
carlingas muito afastadas, é o flexão longitudinal diferencial entre vigas principais, sob a acção
de sobrecargas excêntricas (Figura 14).

Figura 14 – Flexão transversal da laje de tabuleiro sob sobrecargas excêntricas.


4. ANÁLISE TRANSVERSAL DE CARGAS
4.1 Métodos De Distribuição Transversal De Cargas
Um dos problemas clássicos da análise de tabuleiros de pontes, consiste no problema da
distribuição transversal de cargas nos tabuleiros, em laje vigada ou nervurada betonadas “in
situ”, ou constituídos por um conjunto de vigas pré-fabricadas. Em qualquer das soluções, o
sistema estrutural é fundamentalmente uma grelha constituída por um conjunto de vigas
longitudinais solidarizadas por carlingas (Figura 15). O mesmo problema se coloca para um
tabuleiro misto aço-betão, sendo neste caso as vigas 1~4 um conjunto de vigas principais de
aço solidarizadas pelas carlingas ou diafragmas constituídas por treliças transversais em aço.

Figura 15 – Tabuleiro em laje vigada.

No caso do tabuleiro da Figura 15, quando actua uma carga sobre a viga 3 qual a parcela desta
carga absorvida pelas restantes vigas? Ou seja, qual a Distribuição Transversal de Cargas?

É evidente que, por exemplo, um cálculo baseado num modelo de grelha, permite resolver este
problema. No entanto, torna-se necessário, pelo menos ao nível das fases de estudo prévio ou
de anteprojecto, dispor de soluções para as distribuições transversais de cargas que permitam
um fácil pré-dimensionamento.

Quando o número de carlingas cresce, aproximamo-nos mais dum modelo de laje ortotrópica,
cujo elemento tipo se representa na Figura 16.

Figura 16 – Elemento duma laje vigada – modelo de laje ortotrópica.


As vigas longitudinais ficam submetidas a momentos flectores Mx momentos torsores Tx e
esforços transversos Vx. As vigas transversais, ficam submetidas a My, Ty e Vy. Em qualquer
situação, mesmo quando se analisa o tabuleiro com um modelo de grelha, considera-se a laje
interactuando com as vigas, para o que se torna necessário definir uma largura efectiva de laje
a funcionar como banzo superior da viga. Mesmo no caso em que as carlingas se encontram
separadas da laje de tabuleiro, o que é hoje em dia corrente nas superstruturas em laje vigada,
pode considerar-se uma largura de laje a funcionar em conjunto com a carlinga.

A análise da distribuição transversal de cargas na superstrutura é feita por métodos clássicos


(método das carlingas flutuantes, e método de Guyon-Bares – Massonet, baseado em modelos
de laje ortotrópica); e por métodos numéricos (modelos de grelha, e modelos de elementos
finitos) que permitem uma análise mais rigorosa da distribuição transversal de cargas.

4.2 Método Das Carlingas Flutuantes


Este método, devido a Courboun, é de todos o mais elementar mas a precisão dos resultados
obtidos é, em geral, relativamente pequena. Permite no entanto, pelo menos numa fase inicial
da análise, uma rápida estimativa da distribuição transversal das cargas.

Admite as seguintes hipótese simplificativas:


i. as carlingas são rígidas e encontram-se elasticamente apoiadas nas vigas principais
ii. a rigidez de torção das vigas principais é nula

O método é aplicável a um tabuleiro em laje vigada, o qual fica, de acordo com as hipóteses
simplificativas acima referidas, reduzido ao modelo de cálculo da Figura 17. O número de vigas
principais e de carlingas pode ser qualquer. A rigidez da viga i, na secção onde se pretende
obter a distribuição transversal de cargas, é designada por Ki. Esta rigidez é calculada para a
viga i como a força que se torna necessário aplicar na secção em causa para provocar um
deslocamento vertical unitário.

Figura 17 – Modelo para o método das carlingas flutuantes.

Designe-se por:
0 – um ponto genérico onde se consideram as cargas actuantes na secção do tabuleiro reduzidas
a uma força P e a momento M.
Wi – o deslocamento vertical da viga i
Wo,θ – o deslocamento e a rotação da carlinga referidas ao ponto 0
Xi – a coordenada da viga i em relação ao ponto 0
Ri – a reacção da viga i sobre a carlinga
Para o caso de n vigas, iguais K1=K2=...= K obtem-se

𝟏 𝐱𝐣
Rj = + x
𝒏 𝜮𝐱𝐢𝟐

Expressão que conduz a uma linha recta para a linha de influência transversal, conforme se
apresenta na Figura 18. Isto é uma consequência da hipótese simplificativa de carlingas rígidas.

Figura 18 – Linha de influência da reacção de apoio Rj.

4.3 Método De Guyon-Bares – Massonet


Este método já permite, em geral, uma precisão melhor do que o método das carlingas
flutuantes.

O método de Guyon-Bares – Massonet foi inicialmente proposto pelo primeiro destes autores
em 1946, foi desenvolvido em 1950 por Massonet, e finalmente em 1966 Bares publicou uma
série de tabelas que vieram a permitir a aplicação prática do método. Contudo em 1969 Cusens
e Pama deram um novo desenvolvimento ao método com a publicação de uma série de ábacos.

O método é aplicável a tabuleiros em laje vigada, com ou sem carlingas, mas com um grande
número de vigas longitudinais. Em geral, obtem-se bons resultados quando o número de vigas
longitudinais é pelo menos de cinco.

Fundamentalmente, o método em questão baseia-se na redução do tabuleiro a uma placa (laje)


ortotrópica (Figura 19).
Figura 19 – Laje ortotrópica.

No caso dum tabuleiro em laje vigada (Figura 20) há que assimilar a estrutura a uma laje
ortotrópica equivalente.

Figura 20 – Tabuleiro em laje vigada.

Para mais detalhes e generalizações do método refere-se a obra já citada de Cusens e Pama e
o livro de Samartin e Quiroga – “Cálculo de Estruturas de Pontes de Hormigon”, Ed. Rueda,
Madrid, 1983.

4.4 Outros Métodos De Distribuição Transversal De Cargas


Existem para aplicações práticas publicações com ábacos que permitem a obtenção da
distribuição transversal de cargas. Um desses conjuntos de ábacos, são apresentados no Cap.
10 da referência E.C. Hambly-Bridge Deck Behaviour – Chapman & Hall 1976.

Estes ábacos estão baseados num modelo de placas designado por “Folded Plate Method”.

Além dos métodos clássicos referidos anteriormente – Método das Carlingas Flutuantes e
Método de Guyon-Bares – Massonet, a distribuição transversal de cargas pode ser obtida hoje
em dia com toda a qualidade recorrendo a métodos numéricos, nomeadamente baseados em
 Modelos de Grelha
 Modelos de Elementos Finitos
A simulação dum tabuleiro com base num dos modelos acima referidos não permite apenas
determinar a linha de distribuição transversal de carga mas sim proceder a análise global do
tabuleiro. No entanto, num tabuleiro com vários vãos, pode adoptar-se um modelo de grelha ou
de elementos finitos apenas para a análise dum tramo tipo, nomeadamente para obter a linha
de influência de distribuição transversal de cargas.

5. MODELO DE GRELHA
Nos modelos de grelha o tabuleiro é divido num conjunto de barras longitudinais e transversais
ligadas rigidamente nos nós e definindo um plano coincidente com o plano do tabuleiro (Figura
21).

Para as cargas permanentes e sobrecargas de tráfego a estrutura é solicitada


perpendicularmente ao seu plano, pelo que cada nó da grelha possui três deslocamentos
generalizados – um deslocamento normal ao plano w e duas rotações θx e θy.

Note-se que para o elemento de viga AB, θx é uma rotação de torção, enquanto θy é uma
rotação de flexão.

Figura 21 – Modelo de grelha – deslocamentos generalizados θx, θy e w.

Para um elemento genérico da grelha, representam-se (Figura 22) os deslocamentos e forças


generalizadas nos nós (referidos ao referencial local do elemento) para a análise de estrutura
pelo método dos deslocamentos.

Figura 22 – Elemento de grelha – deslocamentos e forças generalizadas.

Existem vários programas de cálculo automático para a análise de grelhas, os quais pela
reduzida dimensão de memória que exigem e pela facilidade na preparação de dados e análise
de resultados que requerem, são bastante utilizados a nível da fase de projecto.

No entanto há que ter em atenção, na simulação ou idealização do tabuleiro duma ponte, por
um modelo de grelha, e resolver, entre outros, os seguintes problemas:

 Definição da geometria da malha


 Determinação das propriedades geométricas das secções das barras
 Cálculo do vector das forças nodais
6. MÉTODOS DE ELEMENTOS FINITOS
A grande potencialidade do MEF na análise de tabuleiros de pontes advém da sua enorme
versatilidade nomeadamente na aplicação a geometrias complexas e condições de apoio
quaisquer bem como no tratamento de todo o tipo de carregamentos, incluindo a acções de
deformações impostas e do pré-esforço. A diversidade de programas hoje em dia disponíveis no
mercado de softwares dos computadores tornaram no MEF no método preferencial de análise
estrutural de tabuleiro de pontes, permitindo realizar análises estáticas e dinâmicas de tabuleiros
com elementos finitos de diversos tipos, eventualmente combinados e/ou integrados. A
possibilidade de geração automática das malhas reduz consideravelmente o tempo necessário
à elaboração dos ficheiros de dados, sendo corrente preferir redes com maior número de
elementos gerados automaticamente, em detrimento de redes com um menor número de graus
de liberdade, e que requerem por isso um menor tempo de computação mas com maior tempo
na preparação dos dados.

A utilização do MEF requer, no entanto, conhecimentos dos fundamentos, potencialidades e


limitações do método, nomeadamente do tipo de elemento finito utilizado e das condições de
convergência dos resultados em relação à solução exacta para o modelo estrutural estabelecido.
Um aspecto que se julga importante referir, relaciona-se com a necessidade de predimensionar
e definir convenientemente a estrutura antes de avançar para o modelo de elementos finitos. A
potencialidade do MEF reside no tratamento numérico do modelo e na precisão dos resultados
da análise estrutural. A sua aplicação não transforma uma má concepção numa boa solução,
por maior que seja a dimensão do modelo e melhor que seja a precisão dos resultados obtidos
na análise estrutural com esse modelo.

A previsão e verificação dos resultados de um modelo de elementos finitos dum tabuleiro deve
ser feita com base em modelos mais simples, utilizados eventualmente na análise estrutural das
fases de estudo prévio e anteprojecto. A comparação dos resultados dos modelos simples com
os do modelo de elementos finitos, permitirá identificar eventuais erros de modelação e de
introdução de dados que podem ter consequências importantes na análise da estrutura. Uma
simulação errada das condições de fronteira no modelo de elementos finitos, dará certamente
lugar a erros bem mais graves do que os associados à imprecisão inerente à utilização de
modelos simplificados que tenham essas condições devidamente contempladas. Embora a
disponibilidade de programas de cálculo seja, hoje em dia, muito grande, convém atender na
sua escolha para efeitos de projecto de pontes a algumas características importantes,
nomedamente:

 Possibilidade de geração automática da malha;


 Tipos de elementos da laje disponíveis no programa;
 Possibilidade de combinação de elementos de laje com elementos de barra
tridimensional;
 Existência de elementos de casca fina (esforços de membrana e de laje);
 Tratamento gráfico de esforços em lajes e cascas

As redes de elementos a a adoptar são fundamentalmente ditadas pela geometria do tabuleiro


e pelas características dos carregamentos. Em geral, nas zonas onde existem maiores
gradientes de deformação - próximo de apoios, junto de cargas concentradas, zonas adjacentes
a grandes variações de geometria – convém utilizar malhas mais finas (Figura 23).
Figura 23 – Rede de elementos finitos para um tabuleiro curvo em laje com um apoio central.

Figura 24 – Simulação de tabuleiros em laje vigada (a) com elementos de viga central no plano
médio da laje (b) ou excêntricos em relação a esse plano (c).

Na análise de tabuleiro de pontes utilizam-se em geral dois tipos de elementos finitos –


elementos de laje (são utilizados em tabuleiros de laje maciça, nervurada ou vazada) e
elementos de casca (para tabuleiros em caixão).

Os elementos de laje (Figura 25) envolvem apenas momentos flectores e torsores (Mx, My e
Mxy) e fornecem 3 deslocamentos generalizados por nó (w, θx e θy).

Figura 25 – Momento flectores e torsores num elemento de laje.


Os elementos de casca (Figura 26) têm, além de deslocamentos e esforços característicos do
elemento de laje, os deslocamentos (u, v) e os esforços de membrana (Nx, Ny e Nxy).

Figura 26 – Esforços de membrana e de flexão num elemento de casca.


7. ANÁLISE LONGITUDINAL DA SUPERSTRUTURA
7.1 Modelo de Cálculo Longitudinal
Os modelos de cálculo para a análise longitudinal da superstrutura são em geral de estrutura
reticulada, tipo viga contínua ou pórtico. Efectivamente os modelos tipo grelha ou em especial,
de elementos finitos são pouco adequados para uma análise global da superstrutura na medida
em que se tornam demasiado pesados quer a nível de preparação de dados e interpretação de
resultados quer a nível de tempo de computação. A utilização dos modelos de elementos finitos
tipo laje ou casca está reservada em geral à análise de problemas locais ou à análise de um,
dois ou três tramos da superstrutura.

Afectuada a análise de distribuição transversal de cargas, pode avançar-se para a análise


longitudinal que permite a obtenção de esforços nos elementos principais da superstrutura.
Assim, num tabuleiro em laje vigada ou nervurada, adopta-se em geral um modelo de cálculo da
superstrutura constituído por uma viga contínua ou um pórtico (caso de pilares monolíticos com
a superstrutura) submetida a acção de cargas resultantes da análise transversal. No caso duma
estrutura em caixão, a estrutura é analisada globalmente na direcção longitudinal como uma
viga contínua ou um pórtico, remetendo-se por exemplo, para a análise transversal a
determinação dos momentos transversais nas almas e banzos de caixão.

Os modelos de cálculo longitudinal, baseados em modelos de estrutura reticulada em que a


superstrutura é tratada como uma peça linear, em geral de secção variável, são por isso
indispensáveis quer a nível de fases preliminares de projecto (estudo prévio e anteprojecto) quer
a nível de projecto de execução. Nas fases preliminares, permitem a obtenção de “esforços
médios” a nível de cada secção transversal com os quais se estimam, por exemplo, quantidades
de pré-esforço, se verificam tensões médias no betão, se calculam flechas globais e frequências
próprias de vibração da superstrutura.

A análise da superstrutura para a acção das cargas permanentes fornece a distribuição de


esforços os quais se admitem igualmente absorvidos pelas vigas principais ou nervuras. Já no
que se refere ao efeito das sobrecargas é necessário ter em conta a linha de influência da
distribuição transversal de cargas q1 (uniformemente distribuída) e q2 (“faca”) que provocam os
momentos flectores longitudinais máximos, numa das vigas principais, devem ser aplicadas a
toda a largura da faixa de rodagem (incluindo bermas). Se M(q1) e M(q2) representarem os
momentos longitudinais no tabuleiro, o momento absorvido por qualquer das vigas Mv será
dado por:

Mv = 0,5M(q1) + 0,5M(q2)

Em geral, a linha de influência de distribuição transversal de carga (ou de momentos, porque


são proporcionais) é determinada apenas na secção mais desfavorável (meio vão, em geral)
sendo considerada aplicável a todo o vão no caso da sobrecarga uniforme q1.

Quando os pilares são monolíticos com o tabuleiro o modelo de cálculo longitudinal para análise
dos esforços devidos às cargas permanentes e sobrecargas é necessariamente um pórtico.

Em pórticos com montantes inclinados (Figura 27), a componente horizontal das reacções de
apoio desempenha um papel semelhante ao “impulso” H num arco. Os momentos no vão são
deduzidos em função de H que por outro lado provoca um “preesforço” natural do vão central.
Deve, no entanto, ter-se em conta que o esforço normal de compressão no vão central (N=H)
devido às cargas permanentes depende da evolução do sistema estático durante a construção.
Figura 27 – Pórtico de montantes inclinados.

Quando se mobilizam os efeitos de pórtico, em pontes de montantes verticais ou inclinados, é


fundamental ter em conta as condições de rigidez da ligação dos montantes às fundações. Para
o modelo de cálculo longitudinal, o modo mais simples de ter este efeito em conta é determinar
os coeficientes de rigidez da fundação (Ver Dimensionamento de Estruturas), nomeadamente
os coeficientes de Vogt para sapatas ou coeficientes para maciços de encabeçamento de
estacas, e introduzir estes coeficientes (Ku, Kv, Kθ) nos apoios elásticos correspondentes.

7.2 Tabuleiros Curvos e Enviesados


Os condicionamentos geométricos associados ao traçado em planta da via rodoviária ou
ferroviária na qual a ponte se insere, obriga frequentemente à adopção de uma directriz curva
para a ponte. A análise e dimensionamento de pontes curvas está fora do âmbito desta disciplina
cujo objectivo é uma introdução ao projecto e construção de pontes.

7.3 Influência do Processo Construtivo


O sistema estático durante a construção dum tabuleiro evolui de acordo com o processo
construtivo previamente definido no projecto. Numa construção tramo a tramo, duma ponte de
betão armado pré-esforçado, as juntas de construção são executadas normalmente em secções
próximas de 1/5 dos vãos interiores, onde os momentos flectores devido as cargas permanentes,
no sistema estático final, são aproximadamente nulos. Os diagramas de momentos flectores
devidos ao peso próprio do tabuleiro vão evoluindo de acordo com o esquema representado na
Figura 28. Em cada fase de descimbramento, há que verificar se o pré-esforço existente nessa
fase é suficiente para garantir o estado limite de descompressão na parte do tabuleiro já
construída sob a acção do seu peso próprio e do pré-esforço aplicado até essa fase. Em geral,
quando este estado limite está garantido nestas fases, a segurança em relação ao estado limite
último fica automaticamente garantida, mas tal depende, como é natural, das armaduras
ordinárias existentes.

Faz-se notar que, nas pontes construídas tramo a tramo, com cavalete ao solo ou sobre um
cimbre auto-lançável apoiado nos pilares, a distribuição final de momentos, considerada como
o somatório ΣMoi dos momentos Moi de cada fase não é substancialmente diferente da
distribuição Me que se obtem admitindo um comportamento elástico dos materiais, e aplicando
o peso próprio no modelo de cálculo final. Para tal é necessário que as juntas de construção
(entre fases) estejam convenientemente colocadas, isto é, nos pontos de momentos nulos
correspondentes à distribuição Me. Tal não é, por exemplo, o caso da construção dum tabuleiro
com vigas pré-fabricadas, solidarizadas sobre os apoios, para obter um tabuleiro em viga
contínua.

Figura 28 – Evolução do diagrama de momentos flectores devido ao peso próprio ao longo da


construção.

Efectivamente, conforme se representa na Figura 29, a distribuição de momentos


correspondentes às fases construtivas é uma distribuição correspondente a sucessivos tramos
simplesmente apoiados. Uma situação semelhante acontece quando o tabuleiro é construído
por avanços sucessivos em que a aduela de fecho entre consolas se localiza a meio dos vãos.
A distribuição de momentos no final da fase construtiva, neste caso, corresponde a duas
consolas sob a acção do seu peso próprio, conforme se mostra na Figura 30. O diagrama Me
corresponde ao de um tabuleiro contínuo betonado sobre cimbre com comprimento total da
ponte.
Figura 29 – Tabuleiro construído com vigas pré-fabricadas, com continuidade dada após
montagem, nas secções sobre os apoios – diagramas de momentos flectores.

Figura 30 – Tabuleiros construídos por avanços sucessivos com betonagem “in situ” de
aduelas com continuidade dada pelas aduelas de fecho: diagramas de momentos flectores
resultantes do peso próprio.

Finalmente, um outro caso correspondente ao dos tabuleiros mistos aço-betão (Figura 31) em
que a parte metálica da superstrutura é montada numa ou em várias fases, por exemplo por
lançamento incremental. No final da montagem a distribuição de momentos na parte metálica
corresponde à distribuição de momentos devidos ao peso próprio na viga contínua cujas secções
são constituídas apenas por aço. Após esta fase, betona-se a laje de tabuleiro, servindo as vigas
de cimbre à laje. As tensões nas vigas, devidas ao seu peso próprio e ao peso próprio da laje,
são calculadas na estrutura de aço. Já no que se refere às tensões devidas à restante carga
permanente (pavimento, passeio, lancis, guardas de segurança, vigas de bordadura, etc) e às
sobrecargas, são calculadas nas secções mistas aço-betão.
Figura 31 – Tabuleiro misto aço-betão: evolução de esforços e das tensões com as fases
construtivas.

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