Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1 GENERALIDADES
2 MODELOS DE COMPORTAMENTO DA SUPERSTRUTURA
3 LAJE DE TABULEIRO
3.1 Dimensionamento
3.2 Superfícies de Influência
3.3 Encastramento Elástico nas Vigas Princípais
5 MODELOS DE GRELHA
Do ponto de vista global, a análise da superstrutura das pontes é em geral feita considerando a
estrutura como reticulada, admitindo por conseguinte a indeformabilidade das secções
transversais do tabuleiro no seu próprio plano. Após a análise transversal da superstrutura, a
análise longitudinal pode ser efectuada tendo em conta a distribuição transversal de cargas.
As mudanças de modelo estrutural ao longo das fases de construção e o efeito do tempo dão
lugar a redistribuição de esfoços por fluência an superstrutura. Este efeito tem de ser
considerado em simultâneo com a evolução do modelo estático.
Após conhecer a distribuição de esforços na estrutura final e a sua evolução durante as fases
construtivas, há que dimensionar, no caso das pontes de betão armado pré-esforçado as
armaduras ordinárias e de pré-esforço, com base nas verificações de segurança preconizadas
na regulamentação (REBAP – 1984, CEB-FIP e EC2), nomeadamente as verificações aos
estados limites de utilização e estados limites últimos, assuntos do âmbito das disciplinas de
Betão Armado e Pré-esforçado. No que se refere às Pontes com superstrutura Metálica ou Mista
Aço-Betão, os Eurocódigos 3 e 4 integram nas suas partes 2, regras específicas para o
dimensionamento e verificação da segurança deste deste tipo de estruturas.
Neste capítulo irão tratar-se de assuntos básicos e específicos da análise e dimensionamento
da superstrutura das pontes (admitindo que os restantes assuntos foram tratados noutras
discilinas, nomeadamente em Resistência dos Materiais, Teoria de Estruturas e Betão Armado
e Pré-esforçado), sendo que os aspectos específicos das pontes em caixão, metálicas e mistas,
pontes ferroviárias e muitos outros, são tratados no âmbito da disciplina de pontes a nível da
pós-graduação – Mestrado de Estruturas.
Figura 1 – Comportamento de laje duma superstrutura em laje contínua de 3 vãos, sob a acção
das sobrecargas concentradas de tráfego. A e B apoios intermédios; (---) deformada.
3. LAJE DE TABULEIRO
3.1 Dimensionamento
A laje de tabuleiro de pontes destina-se fundamentalmente a receber as acções directas das
cargas dos veículos e a conseguir a solidarização dos elementos estruturais principais como é
o caso dos tabuleiros em laje vigada (Figura 5). Neste caso, a própria laje constitui um banzo
superior para as vigas principais, o mesmo acontecendo no caso das secções em caixão. Para
efeitos de dimensionamento há em geral que considerar uma “largura” efectiva de laje a
colaborar com cada uma das vigas principais.
Quanto aos esforços locais, são obtidos por uma análise de laje, a qual deverá ter em
consideração o efeito de encastramento elástico das lajes na vigas principais, bem como o efeito
da deformabilidade destas vigas nos esforços. Na Figura 6 esquematiza-se o modelo de cálculo
para o efeito de encastramento elástico da laje nas vigas principais, para o caso da zona entre
vigas do tabuleiro em laje vigada da Figura 5.
As lajes de tabuleiro possuem em geral uma espessura mínima de 20cm (ie 25cm), não devendo
utilizar-se, por razões de durabilidade, espessuras menores mesmo que por critérios, de
resistência e deformabilidade, tal seja possível.
A laje de tabuleiro no caso de pontes em laje vigada ou em caixão, pode possuir esquadros junto
às vigas principais, ou almas do caixão, ou mesmo ser totalmente de espessura variável quando
a distância entre vigas principais o aconselhar, por razões de redução de peso próprio e melhoria
de resistência aos fortes momentos flectores transversais a que ficará sujeita (Figura 7). Tal é,
em geral, o caso das lajes das consolas que devem possuir no bordo livre uma espessura
mínima de 15cm, aumentando de espessura em direcção à secção de encastramento.
Os esforços na laje de tabuleiro devido às cargas localizadas transmitidas pelos rodados dos
veículos são calculados utilizando, regra geral, a teoria elástica das lajes e recorrendo às
superfícies de influência de esforços.
As cargas das rodas dos veículos são referidas no plano médio da laje, para efeitos de aplicação
das superfícies de influência. Caso contrário, e como se sabe da teoria elástica das lajes, uma
carga concentrada produz no ponto onde está aplicada esforços infinitos.
Para reduzir as cargas das rodas ao plano médio da laje, adopta-se uma degradação a 45º (1/1)
na espessura da laje a partir do contorno da área carregada (Art. 103 – REBAP, 1984). Na
espessura da camada de revestimento pode adoptar-se, em alternativa, uma degradação a 2/1
(Figura 9).
Os esforços na laje de tabuleiro são referidos ao mesmo plano das cargas – o plano médio da
laje, e são definidos por unidade de comprimento das direcções x e y e podem ser obtidos das
superfícies de influência de esforços. Estas superfícies são obtidas a partir das relações
esforços-deslocamentos transversais w os quais são calculados, no caso duma laje isótropa,
por resolução da equação de Lagrange (equação esta que é deduzida nas disciplinas de Análise
de Estruturas – Teoria das Lajes).
D𝜵𝟒 W = p
Em que:
𝑬𝒉³
D= , rigidez de flexão
𝟏𝟐(𝟏−𝝂𝟐 )
Considere-se o caso da Figura 11, em que se despreza o efeito das consolas e se pretende
calcular o grau de encastramento elástico da laje entre vigas principais.
As rotações de torção da viga consideram-se impedidas nas secções das carlingas (Figura 11
(b)) à distância L.
Recordando que:
A incógnita hiperstática é o momento X, absorvido por torção nas vigas e por flexão transvelsal
da laje.
Calcule-se pelo método das forças o valor de X, para a actuação de uma sobrecarga uniforme
p=1 distribuída em toda a área da laje entre secções de carlingas. Na Figura 12, indica-se a
combinação de diagramas M e T para a determinação dos valores de θo e θx.
Figura 12 – Diagramas de momentos flectores M e torsores T.
Pelo teorema de trabalhos virtuais (ou Teorema de Mohr da Resistência de Materiais), calculam-
se θo e θx, e por compatibilidade, e tomando p=1 (θx = θo), obtem-se:
𝒃𝟑
X= 𝐄𝐈𝟏
𝟑 𝑳𝟐 +𝟏𝟐𝒃
𝐆𝐉𝐯
Substituindo a expressão de X, e para o betão (ν ≈ 2, pelo que E/G = 2(1+ν) = 2,4); obtem-
se
𝟏
α= 𝑰𝒍 𝑳²
𝟏+𝟎.𝟔
𝑱𝒗 𝒃
Como se pode verificar, quando Jv tende para o infinito, o grau de encastramento elástico tende
para 1.
As superfícies de influência estão, em geral, disponíveis apenas para alguns pontos principais
da laje, nomeadamente a ½ vão e nas secções de encastramento. Há que utilizar envolventes
de diagramas de momentos para efeitos de dimensionamento. Na Figura 13 sugerem-se alguns
diagramas simplificados para as envolventes de momentos transversais e longitudinais em lajes
entre vigas, laje em consola ou laje apoiada em três lados (caso do painel de laje junto à carliga
do encontro).
No caso do tabuleiro da Figura 15, quando actua uma carga sobre a viga 3 qual a parcela desta
carga absorvida pelas restantes vigas? Ou seja, qual a Distribuição Transversal de Cargas?
É evidente que, por exemplo, um cálculo baseado num modelo de grelha, permite resolver este
problema. No entanto, torna-se necessário, pelo menos ao nível das fases de estudo prévio ou
de anteprojecto, dispor de soluções para as distribuições transversais de cargas que permitam
um fácil pré-dimensionamento.
Quando o número de carlingas cresce, aproximamo-nos mais dum modelo de laje ortotrópica,
cujo elemento tipo se representa na Figura 16.
O método é aplicável a um tabuleiro em laje vigada, o qual fica, de acordo com as hipóteses
simplificativas acima referidas, reduzido ao modelo de cálculo da Figura 17. O número de vigas
principais e de carlingas pode ser qualquer. A rigidez da viga i, na secção onde se pretende
obter a distribuição transversal de cargas, é designada por Ki. Esta rigidez é calculada para a
viga i como a força que se torna necessário aplicar na secção em causa para provocar um
deslocamento vertical unitário.
Designe-se por:
0 – um ponto genérico onde se consideram as cargas actuantes na secção do tabuleiro reduzidas
a uma força P e a momento M.
Wi – o deslocamento vertical da viga i
Wo,θ – o deslocamento e a rotação da carlinga referidas ao ponto 0
Xi – a coordenada da viga i em relação ao ponto 0
Ri – a reacção da viga i sobre a carlinga
Para o caso de n vigas, iguais K1=K2=...= K obtem-se
𝟏 𝐱𝐣
Rj = + x
𝒏 𝜮𝐱𝐢𝟐
Expressão que conduz a uma linha recta para a linha de influência transversal, conforme se
apresenta na Figura 18. Isto é uma consequência da hipótese simplificativa de carlingas rígidas.
O método de Guyon-Bares – Massonet foi inicialmente proposto pelo primeiro destes autores
em 1946, foi desenvolvido em 1950 por Massonet, e finalmente em 1966 Bares publicou uma
série de tabelas que vieram a permitir a aplicação prática do método. Contudo em 1969 Cusens
e Pama deram um novo desenvolvimento ao método com a publicação de uma série de ábacos.
O método é aplicável a tabuleiros em laje vigada, com ou sem carlingas, mas com um grande
número de vigas longitudinais. Em geral, obtem-se bons resultados quando o número de vigas
longitudinais é pelo menos de cinco.
No caso dum tabuleiro em laje vigada (Figura 20) há que assimilar a estrutura a uma laje
ortotrópica equivalente.
Para mais detalhes e generalizações do método refere-se a obra já citada de Cusens e Pama e
o livro de Samartin e Quiroga – “Cálculo de Estruturas de Pontes de Hormigon”, Ed. Rueda,
Madrid, 1983.
Estes ábacos estão baseados num modelo de placas designado por “Folded Plate Method”.
Além dos métodos clássicos referidos anteriormente – Método das Carlingas Flutuantes e
Método de Guyon-Bares – Massonet, a distribuição transversal de cargas pode ser obtida hoje
em dia com toda a qualidade recorrendo a métodos numéricos, nomeadamente baseados em
Modelos de Grelha
Modelos de Elementos Finitos
A simulação dum tabuleiro com base num dos modelos acima referidos não permite apenas
determinar a linha de distribuição transversal de carga mas sim proceder a análise global do
tabuleiro. No entanto, num tabuleiro com vários vãos, pode adoptar-se um modelo de grelha ou
de elementos finitos apenas para a análise dum tramo tipo, nomeadamente para obter a linha
de influência de distribuição transversal de cargas.
5. MODELO DE GRELHA
Nos modelos de grelha o tabuleiro é divido num conjunto de barras longitudinais e transversais
ligadas rigidamente nos nós e definindo um plano coincidente com o plano do tabuleiro (Figura
21).
Note-se que para o elemento de viga AB, θx é uma rotação de torção, enquanto θy é uma
rotação de flexão.
Existem vários programas de cálculo automático para a análise de grelhas, os quais pela
reduzida dimensão de memória que exigem e pela facilidade na preparação de dados e análise
de resultados que requerem, são bastante utilizados a nível da fase de projecto.
No entanto há que ter em atenção, na simulação ou idealização do tabuleiro duma ponte, por
um modelo de grelha, e resolver, entre outros, os seguintes problemas:
A previsão e verificação dos resultados de um modelo de elementos finitos dum tabuleiro deve
ser feita com base em modelos mais simples, utilizados eventualmente na análise estrutural das
fases de estudo prévio e anteprojecto. A comparação dos resultados dos modelos simples com
os do modelo de elementos finitos, permitirá identificar eventuais erros de modelação e de
introdução de dados que podem ter consequências importantes na análise da estrutura. Uma
simulação errada das condições de fronteira no modelo de elementos finitos, dará certamente
lugar a erros bem mais graves do que os associados à imprecisão inerente à utilização de
modelos simplificados que tenham essas condições devidamente contempladas. Embora a
disponibilidade de programas de cálculo seja, hoje em dia, muito grande, convém atender na
sua escolha para efeitos de projecto de pontes a algumas características importantes,
nomedamente:
Figura 24 – Simulação de tabuleiros em laje vigada (a) com elementos de viga central no plano
médio da laje (b) ou excêntricos em relação a esse plano (c).
Os elementos de laje (Figura 25) envolvem apenas momentos flectores e torsores (Mx, My e
Mxy) e fornecem 3 deslocamentos generalizados por nó (w, θx e θy).
Mv = 0,5M(q1) + 0,5M(q2)
Quando os pilares são monolíticos com o tabuleiro o modelo de cálculo longitudinal para análise
dos esforços devidos às cargas permanentes e sobrecargas é necessariamente um pórtico.
Em pórticos com montantes inclinados (Figura 27), a componente horizontal das reacções de
apoio desempenha um papel semelhante ao “impulso” H num arco. Os momentos no vão são
deduzidos em função de H que por outro lado provoca um “preesforço” natural do vão central.
Deve, no entanto, ter-se em conta que o esforço normal de compressão no vão central (N=H)
devido às cargas permanentes depende da evolução do sistema estático durante a construção.
Figura 27 – Pórtico de montantes inclinados.
Faz-se notar que, nas pontes construídas tramo a tramo, com cavalete ao solo ou sobre um
cimbre auto-lançável apoiado nos pilares, a distribuição final de momentos, considerada como
o somatório ΣMoi dos momentos Moi de cada fase não é substancialmente diferente da
distribuição Me que se obtem admitindo um comportamento elástico dos materiais, e aplicando
o peso próprio no modelo de cálculo final. Para tal é necessário que as juntas de construção
(entre fases) estejam convenientemente colocadas, isto é, nos pontos de momentos nulos
correspondentes à distribuição Me. Tal não é, por exemplo, o caso da construção dum tabuleiro
com vigas pré-fabricadas, solidarizadas sobre os apoios, para obter um tabuleiro em viga
contínua.
Figura 30 – Tabuleiros construídos por avanços sucessivos com betonagem “in situ” de
aduelas com continuidade dada pelas aduelas de fecho: diagramas de momentos flectores
resultantes do peso próprio.
Finalmente, um outro caso correspondente ao dos tabuleiros mistos aço-betão (Figura 31) em
que a parte metálica da superstrutura é montada numa ou em várias fases, por exemplo por
lançamento incremental. No final da montagem a distribuição de momentos na parte metálica
corresponde à distribuição de momentos devidos ao peso próprio na viga contínua cujas secções
são constituídas apenas por aço. Após esta fase, betona-se a laje de tabuleiro, servindo as vigas
de cimbre à laje. As tensões nas vigas, devidas ao seu peso próprio e ao peso próprio da laje,
são calculadas na estrutura de aço. Já no que se refere às tensões devidas à restante carga
permanente (pavimento, passeio, lancis, guardas de segurança, vigas de bordadura, etc) e às
sobrecargas, são calculadas nas secções mistas aço-betão.
Figura 31 – Tabuleiro misto aço-betão: evolução de esforços e das tensões com as fases
construtivas.