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Capítulo 5

Torção

V.1 - Introdução

Seja a barra de seção transversal circular da Figura 1.a, rigidamente vinculada em sua
extremidade “A” a um sólido fixo, tendo a extremidade “B”, livre, onde é aplicada uma carga
momento “TS”, cujo vetor apresenta linha de ação alinhada com seu eixo longitudinal. Em razão
de tal carregamento, o elemento de comprimento infinitesimal “dx”, delimitado pela seções S1 e
S2, passa a ser solicitado mediante par de momentos de intensidade T, Figura 1.b. O ponto sobre
a superfície da barra que, antes da ação dos citados momentos estava posicionado em “c”, em
razão de sua ação passa a ocupar a posição “e”, enquanto, o ponto posicionado em “d” desloca-
se para a posição “g”, de modo que a seção “S2” gira em relação a “S1”, em torno do eixo normal
ao seu plano, de um ângulo “α”, Figura 1.b. Este tipo de movimentação está associado a um
padrão deformacional conhecido como torção. Por esta razão, o momento “T” que solicita o
elemento da barra objeto de análise é denominado de momento Torsor, enquanto a carga
momento “TS” aplicada em sua extremidade livre representa o carga momento torsional.

Figura 1 – Barra de seção circular solicitada em torção

Portanto, diante desta realidade, carregamento torsional é todo aquele que leva ao surgimento de
momento torsor em membros estruturais que, por sua vez, provoca deformação de torção na
massa sólida assim solicitada.

Membros estruturais solicitados mediante esforços de torção de intensidade significativa estão


longe de ser os mais frequentes na prática da construção civil. Tais tipos de solicitação ocorrem
em estruturas de concreto armado tais como, vigas de suporte de marquises ou lajes em balanço,
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de suporte de escadas auto portantes ou voadoras e aquelas posicionadas no polígono de


contorno delimitador da planta baixa de prédios, denominadas de vigas de extremidade. Podem-
se citar, ainda, as transversinas de pontes.

A ligação de uma laje em balanço, Figuras 2 e 3.a, à viga que lhe serve de suporte não pode ser
modelada como rótula, Figura 3.b, pois, se assim o fosse, a laje seria instável, pela possibilidade
de apresentar deslocamento rotacional de corpo rígido. Para garantir a estabilidade da laje objeto
de atenção seria necessário modelar tal ligação como engastamento, Figura 3.c.

Figura 2 – Laje embalanço

Uma vez modelando-se a ligação da laje em balanço à viga de apoio como sendo rígida, a ação
“p” ao solicitar a laje, é transmitida através desta, mediante esforço cortante, e, o momento fletor
M, à ligação com a viga de suporte, Figura 4. O momento M representa então um carregamento
torsional exercido pela laje sobre sua viga de apoio, que, por sua vez, o transmite aos pilares,
mediante momento torsor, que em virtude de seu modo de desempenho mecânico, responde com
o momento “T”, e assim, a viga em sua configuração de equilíbrio fica solicitada à torção. Este
tipo de torção que existe, necessariamente, para garantir a estabilidade externa do elemento
estrutural, no caso em discussão, a laje em balanço, é denominada de Torção de Equilíbrio que,
se for desconsiderada no dimensionamento de uma peça, pode levar à ruína por instabilidade.
Deve-se, nesse caso, providenciar o detalhamento apropriado da armadura na ligação laje-viga,
de modo que, quando a laje trabalhar em flexão, a rigidez da ligação seja garantida e a viga
absorva o momento da ligação que é fletor para a marquise e carregamento torsional para a viga.
Assim, a viga trabalhará, inclusive, à torção.
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Figura 3 – Modelagem da ligação Laje em balanço – viga de apoio

Figura 4 – Carregamento e Esforços da viga de suporte de laje em balanço

A Torção de Compatibilidade, em contra partida, é aquela cuja consideração é desnecessária ao


equilíbrio de um sistema estrutural, de modo que pode ser desprezada, desde que a peça tenha
capacidade de adaptação plástica, o que acontece na maioria das ligações viga-pilar e viga-laje
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de estruturas de concreto armado. De qualquer forma, uma vez sendo desnecessário o


detalhamento da armadura na ligação em questão para assegurar a rigidez da ligação, em essa
armadura sendo abstraída, ocorrerá fissuração compatível com os esforços solicitantes e a
rigidez a torção será expressivamente atenuada. Tal comportamento é comum, inclusive, em
vigas de bordo, Figura 5, que tendem a girar devido á interligação com a laje e são impedidas por
força de sua ligação aos pilares.

Figura 5 – Ligações de lajes a vigas de apoio

As ligações das escadas auto portantes às vigas de apoio, Figura 6, podem ser modeladas
alternativamente mediante o esquema da Figura 7.a ou mediante o esquema da Figura 7.b. Se as
ligações escada-viga for modelada conforme o esquema da Figura 7.b, para a viga de apoio
aplicam-se os mesmos comentários já apresentados para as vigas de apoio da laje em balanço.

Figura 6 -Escada auto portante


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Figura 7 – Modelagens da ligação de escada portante à viga de apoio

Em superestruturas de pontes de concreto armado as lajes são apoiadas em vigas longitudinais,


conhecidas como longarinas, contraventadas por vigas transversais, normalmente isoladas da
laje, denominadas transversinas, Figura 8. A finalidade precípua das transversinas é conferir
melhor rigidez transversal ao conjunto, uma vez que promove, entre outros efeitos, o
contraventamento lateral das longarinas. As cargas acidentais variam amplamente, e uma
longarina deve estar mais carregada que a outra. O momento “M1” no apoio da longarina mais
carregada é bem mais intenso que o da outra, “M2”. Tal diferença de momentos promove
carregamento torsional na Transversina 2.

Figura 8 – Superestrutura de ponte


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V.2 - Recomendações Normativas

Vale ressaltar que a Torção Pura é aquela em que o membro estrutural está submetido,
exclusivamente, a Momentos Torsores enquanto a Flexo-Torção é o caso em que há a ação
combinada de tal esforço com Momentos Fletores e Esforços Cortantes.

Geometria da seção resistente - Seções poligonais convexas cheias

Como será visto em seção apresentada adiante que trata da modelagem de cálculo o
dimensionamento de seções transversais em torção será realizado mediante a consideração de
massa resistente definida por uma seção vazada correspondente, Figura 9, a partir da seção
cheia, fixando-se a espessura de parede fictícia he, conforme os limites:

Onde “Ac” é a área da seção cheia; “uc” o seu perímetro; e, “c1” a distância entre o eixo da barra
de aço longitudinal do canto e a face lateral do elemento estrutural, Figura Ex1.

Caso Ac/uc seja inferior a 2c1, pode-se adotar he = Ac/uc ≤ bw - 2c1.

Figura 9 – Seções modelo em Torção

Treliça de Thürlimann e Lampert

O dimensionamento de membros estruturais em torção será fundamentado no modelo da treliça


espacial de Thürlimann e Lampert, Figura 10.a, composta de quatro treliças planas cada uma
coplanar ao plano médio das paredes finas do sólido vazado fictício.
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As diagonais comprimidas, referentes aos elementos de concreto, têm inclinação que pode ser
fixada no intervalo 30o ≤  ≤ 45o, conforme a realidade estrutural. Tal modelo será melhor descrito
em seção apresentada adiante nestas Notas de Estudo. Os tirantes são representados por barras
das armaduras longitudinal e transversal, esta últimas os estribos. Esta concepção fundamenta-
se na trajetória das tensões, Figura 10.b, de peças submetidas à torção. A disposição dos tirantes
deve-se ao fato das armaduras de aço absorverem esforços normais decorrentes da
decomposição das tensões principais de tração, σI.

Figura 10 – Treliça de Thürlimann e Lampert

Segurança das bielas

Para a segurança das bielas no caso de Torção Pura deve-se considerar satisfeita a condição:

Se Tsd representa o Momento Torsor Solicitante e TRd,2 o Momento Torsor correspondente à ruína
das diagonais comprimidas. No caso de combinação de torção com esforço cortante, deverá
adotar-se em projeto ângulos de inclinação das bielas coincidentes para esses dois esforços. A
resistência da diagonal comprimida deve ser satisfeita considerando-se:

Para a qual Vsd representa o Esforço Cortante Solicitante e VRd,2 o Esforço Cortante
correspondente à ruína das diagonais comprimidas
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Armaduras de Torção

Sempre que a torção for necessária ao equilíbrio de elemento estrutural, deve existir armadura
destinada a resistir aos esforços de tração decorrentes. Essa armadura deve ser constituída por
estribos verticais periféricos, normais ao eixo do elemento estrutural, e, barras longitudinais
distribuídas ao longo do perímetro da seção resistente, Figura 11, que devem apresentar taxas
geométricas mínimas:

Para a definição das armaduras deve-se considerar satisfeitas as condições:

Onde TRd,3 é o Momento Torsor correspondente à ruína do aço dos estribos e TRd,4 o limite
referente à parcela resistida pelas barras longitudinais, paralelas ao eixo do elemento estrutural.

Devem ser consideradas efetivas as armaduras contidas na massa correspondente à parede


fictícia, Figura 11. Nas seções poligonais, em cada vértice dos estribos de torção, deve ser
colocada pelo menos uma barra longitudinal, Figura 11. As barras longitudinais da armadura de
torção podem ter arranjo distribuído ou concentrado ao longo do perímetro interno dos estribos,
Figura 11, espaçadas no máximo em 350 mm.

O diâmetro mínimo da barra dos estribo deve ser de 5 mm e o máximo de 1/10 da largura da
alma da viga.

Em se tratando de solicitações combinadas envolvendo Flexão e Torção a armadura transversal


pode ser calculada pela soma das armaduras calculadas separadamente para o esforço cortante
e para o momento torsor. As verificações podem ser efetuadas separadamente para a torção e
para a flexão.
Na zona tracionada de flexão, a armadura longitudinal de torção deve ser acrescentada à
armadura necessária para solicitações normais, considerando-se em cada seção os esforços que
agem concomitantemente.
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Figura 11 – Detalhe da armadura longitudinal

O espaçamento mínimo entre duas peças consecutivas de estribo, medido segundo o eixo
longitudinal do elemento estrutural, deve ser suficiente para permitir a passagem da agulha do
dispositivo adensador, de modo que um limite em torno de 100 mm é satisfatório.

O espaçamento máximo entre os estribos destinados a absorver tensão cisalhante decorrente de


Torção Pura deve ser

E, em flexo-torção seria:

V.3 – Dimensionamento à Torção Pura


Conforme a NBR 6118/2014, , uma estrutura de concreto armado só pode ser considerada
dimensionada se, além de ela ser projetada com dimensões das seções de aço e concreto
suficientes a resistir aos esforços solicitantes, incluir a verificação aos estados limites de serviço
pertinentes. Nos casos de membros estruturais solicitados em Torção, este último requesito é
satisfeito se consideradas as recomendações normativas supra enunciadas no item V.2,
referentes a armaduras mínima e máxima, e, seus espaçamentos.
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O dimensionamento propriamente dito compreende as etapas de verificação da segurança das


bielas, determinação da armadura longitudinal e determinação da armadura transversal.
A verificação da segurança das bielas se resume a comparar o Momento Torsor Solicitante de
Projeto com o seu correspondente referente à ruína das bielas na forma:

Onde:

E:

A determinação da área da armadura longitudinal deve ser realizada a partir da equação:

E a transversal a partir de:

A modelagem de cálculo e a dedução da formulação voltadas para o Dimensionamento em


Torção encontram-se detalhadas nas seções V.6 e V.7 destas Notas de Estudos.

Exercício V.1 – Determinar a armadura atendendo ao estado-limite último de ruína do material de


uma viga com seção transversal retangular com dimensões b = 35 cm e h = 50 cm,
manufaturada em concreto C 30, armado com barras de aço CA 50, solicitada em torção pura
mediante um momento torsor de intensidade T = 40,0 kNm, adotando-se cobrimento para as
armaduras de 25 mm.

Parâmetros Geométricos: Tome-se como base a Figura Ex 1.

Parâmetros Físicos
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Armaduras mínimas:

Momento Torsor de Projeto:

Segurança das Bielas:


Adotar θ = 45o

Armadura longitudinal:

Armadura transversal:

Detalhamento:
Armadura longitudinal:

Armadura transversal:
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Figura Figura Ex1 – Seção Transversal

As armaduras devem então ser distribuídas conforme desenho da Figura Ex2.

Figura Ex2 – Distribuição da armadura

V.4 - Interação de Torção, Cisalhamento e Flexão

A grande maioria das vigas torcionadas também está submetida a esforços cortantes e momentos
fletores, o que dá origem a um estado de tensões mais complexo e mais difícil de ser analisado.

A experiência vem demonstrando que, de uma maneira geral, a filosofia e os princípios básicos
de dimensionamento propostos para a torção pura também são adequados, com uma certa
aproximação, para solicitações compostas, por esta razão, em geral, o procedimento adotado
para o dimensionamento ás solicitações compostas é realizada a partir da simples superposição
dos resultados obtidos para cada um dos esforços solicitantes considerados separadamente. Tal
proposta se mostra a favor da segurança, pois, a armadura longitudinal prevista para absorver
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tração em torção distribuída na parte comprimida pela flexão poderia ser reduzida, se fosse
considerado o alívio sofrido por sua resultante de tração nessa região. Estendendo a análise aos
estribos, observe-se que, se um sólido está solicitado exclusivamente em torção no modo
apresentado na Figura 12.a, o montante AB do estribo, Figura 12.b, seria comprimido, ao passo
que, na hipótese de solicitação exclusiva em flexão ele estaria experimentando alongamento,
Figura 12.c, de modo que a ação simultânea dos dois tipos de solicitação levaria a uma tensão
solicitante inferior àquela verificada na análise de cada tipo de solicitação, separadamente.

Figura 12 – Superposição de esforços nos estribos

Para a verificação da tensão na biela da região em que ocorre a superposição de tensões de


flexão e de tensões de torção, não bastará a observação do comportamento das resultantes
relativas à torção e ao cisalhamento tomadas separadamente. Há a necessidade de uma análise
que considere a interação delas.
Na figura 13, apresenta-se uma superfície que mostra a interação dos três tipos de esforços, com
base em resultados experimentais. Qualquer ponto interior a essa superfície indica que a
verificação da tensão na biela foi atendida. Pode-se observar que, para uma mesma relação
Vsd/Vult o momento torsor resistente diminui com o aumento da relação Msd/Mult.

Figura 13 – Envoltória de interação Flexão-Torção


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Cabe a ressalva de que a superposição dos efeitos das treliças de cisalhamento e de torção só
estará coerente se for adotada nos dois casos a mesma inclinação para as diagonais
comprimidas.
Em se tratando da interação entre os efeitos do Esforço Cortante e do Momento Torsor, no que
diz respeito à ruína das bielas, tem-se que se verificar o atendimento à inequação:

Exercício V.2 – Determinar a armadura atendendo ao estado-limite último de ruína do material de


um trecho de viga manufaturada em concreto C 30, armado com barras de aço CA 50, com seção
transversal retangular de largura b = 35 cm e altura h = 50 cm. Sabe-se que no trecho objeto do
dimensionamento, a viga é solicitada mediante a ação de Esforço Cortante, Momento Fletor e
Momento Torsor de intensidades V = 40,0 kN, M = 40,0 kNm e T = 40,0 kNm, respectivamente.
Recomenda-se a adoção de cobrimento para as armaduras de pelo menos 25 mm.

Parâmetros Geométricos:

Conforme Figura Ex1 do exercício anterior.

Parâmetros Físicos
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Armaduras mínimas de flexão:


Longitudinal:

As min  0 ,15% Ac  0 ,15% x1750  2 ,63 cm2


Md min  0 ,8Wo fctk , sup  0 ,8 x0 ,0146x 3 ,77  0 ,044 MNm

Transversal:

As1, min fct , m 2 ,9


 1000 b  1000 0 ,35  2 ,03 cm 2 / m
s fywk 500

Armaduras mínimas de Torção:

Esforços:

Segurança das Bielas:


Adotar θ = 45o

Armadura longitudinal de flexão:


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Armadura transversal de flexão:


Mecanismos Complementares - Esforço Cortante Básico:

Armadura longitudinal de torção:

Armadura transversal de torção:

Distribuição

Se houvesse apenas torção a Armadura Longitudinal seria


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Entretanto, deve-se acrescentar a armadura de flexão:


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V.5 – Exercício Proposto: Calcular as armaduras atendendo ao estado-limite último de


ruína do material, para a viga V1, Figura EP1, m concreto C 30, aço CA-50, adotando-se
cobrimento para as armaduras de 25 mm.

Figura EP1 – Caracterização do membro estrutural

V.6 – Modelagem
Preâmbulo
O dimensionamento de membros estruturais solicitados à torção baseia-se entre outros princípios
no fato de que devido à fragilidade do concreto às tensões de tração, compete a esse material,
exclusivamente, a absorção das tensões de compressão, e às armaduras de aço a função de
absorver as tensões de tração.
Uma proposta de modo de distribuição de tensões decorrentes da torção é formulada através do
modelo da treliça espacial generalizada, desenvolvido por Thürlimann e Lampert, de concepção
semelhante àquela que norteia a analogia da treliça de Mörsch. Na concepção desses modelos a
massa de concreto em compressão exerce a função das diagonais comprimidas, as bielas, e, as
barras da armadura de aço, os elementos tracionados, desempenham o papel dos tirantes. O
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modelo de Thürlimann e Lampert herda algumas características do modelo de Bredt, segundo o


qual, uma vez que a massa de um sólido de concreto, Figura 14.a, fissura, Estádio II, e que as
tensões tangenciais decorrentes dos momentos torsores, Figura 14.b, para a maioria das seções,
são nulas em seus centros e máximas em suas extremidades, seu comportamento à torção pode
ser assimilado ao de peças ocas de paredes finas ainda não fissuradas, Estádio I, Figura 14.c.

Figura 14 – a – Sólido de concreto; b – Tensões cisalhantes; c - sólido oco de paredes finas

Base Preliminar da Mecânica dos Sólidos

Seja, então, o sólido vazado da Figura 15.a, de paredes de espessura he, variável, e, muito
pequena, comparativamente, às dimensões da seção transversal. O momento torsor “T” que
solicita o sólido provoca tensões cisalhantes “” em suas seções transversais, cuja distribuição,
Figura 15.b, pode ser considerada uniforme na espessura, mas, é variável ao longo do perímetro
da seção. As tensões de cisalhamento que solicitam as faces “ab” e “cd” do elemento da Figura
15.c, apresentam intensidades iguais àquelas que atuam nas faces “ad” e “bc”, localizadas na
seção transversal do sólido. As tensões de cisalhamento nas faces “ab” e “cd” do elemento,
Figura 15.c, apresentam como resultantes as forças:

Onde “1” e “2” são as tensões cisalhantes que solicitam a superfície das áreas bcc’b’ e cdd’c’,
e, os parâmetros “he1” e “he2” representam as espessuras das paredes bb’ e cc’. Em razão do
equilíbrio do elemento da Figura 10.c, tem-se:

Logo:
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Figura 15 – Sólido vazado de parede fina

Assim, o produto da tensão cisalhante pela espessura da parede ao longo do perímetro da seção
transversal é constante. Tal produto é denominado de fluxo de cisalhamento e definido na forma
generalizada:

Com referência à seção transversal do sólido da Figura 16.a, note-se que a força infinitesimal que
atua no elemento sombreado será:

O momento da força infinitesimal “dF” em relação ao centro geométrico “O” da seção transversal
será:

O momento total associado às tensões cisalhantes deve equilibrar o momento torsor, logo:
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Onde “Lm” representa o comprimento da linha média da seção vazada. O produto r.ds representa
o dobro da área do triângulo sombreado de modo que a integral da equação acima representa o
dobro da área limitada pela linha média da parede do sólido oco, região hachurada da Figura
16.b, ou seja:

Logo:

Figura 16 – Seção transversal de sólido vazado de parede delgada

Tal equação para o cálculo da tensão cisalhante pode ser aplicada a elementos de concreto
armado desde que “he” e “Ae”, sejam, respectivamente, a espessura da parede da seção fictícia e
a área interna delimitada pela linha média dessa parede, já definidas anteriormente.

Treliça de Thürlimann e Lampert

A treliça espacial do modelo de Thürlimann e Lampert, Figura 17.a, é composta de quatro treliças
planas coplanares ao plano médio das paredes finas do sólido vazado, equivalente ao sólido
objeto de dimensionamento.

As bielas apresentam-se inclinadas de um ângulo “θ” com a projeção do eixo “x” da peça.
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Os tirantes são representados por barras da armadura longitudinal e pelas barras da armadura
transversal, no caso estribos. Esta concepção fundamenta-se na trajetória das tensões, Figura
17.b, de peças submetidas à torção. A disposição dos tirantes deve-se ao fato das armaduras de
aço absorverem esforços normais decorrentes da decomposição das tensões principais de
tração, σI. Observe-se que, à tensão principal de tração “σI”, está associado o esforço normal
“NI”, que pode ser decomposto em suas componentes “NxI” e “NyI”, nas direções das armaduras
longitudinal e transversal, respectivamente, Figura 17.c.

Figura 17 – a. Treliça espacial; b. Tensões principais na capa superficial do sólido em torção

Para efeito de dedução das equações voltadas para o dimensionamento em torção, será
considerada uma seção quadrada com armadura transversal constituída por estribos verticais,
Figura 18.a, e armadura longitudinal formada por quatro barras, uma em cada vértice da seção
transversal, Figura 18.b.

Figura 18 – a. Treliça Espacial; b. Disposição dos tirantes


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V.7 – Torção Pura – Formulação

Segurança das bielas à ruína

Seja o corpo sólido da Figura 19.a, modelado em torção mediante a treliça ilustrada na Figura
19.b. Se o parâmetro “Cd” representa o esforço normal absorvido por uma das bielas, Figura 14.c,
então sua componente na direção vertical, Figura 19.d, será:

De análise detalhada das Figuras 19.b e 19.c pode-se deduzir que ao longo de cada um dos
segmentos AB, BD, DC e CA, do perímetro da seção ABDC há a contribuição de ações
resistentes desta magnitude com as direções e sentidos indicados na Figura 19.e. Tais ações
produzem dois conjugados, cada um de intensidade:

Onde o parâmetro “l” representa a dimensão da seção transversal da treliça espacial, Figura 19.b.
A resultante dos dois conjugados cuja intensidade é dada pela Equação V.11 deve equilibrar o
momento torsor solicitante, para que assim seja garantida a estabilidade contra a ruína das
bielas. Assim sendo, tem-se no plano ABDC, Figura 19.b.

Observe-se que o esforço normal Cd, Figura 19.c, atua na área:

A tensão normal em tal área devida a Cd será:

Mas, da Figura 19.c pode-se deduzir que:

Consequentemente:

e:
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Por outro lado, da Figura 19.a conclui-se que:

Logo:

A tensão resistente reduzida nas bielas pode ser obtida mediante:

onde:

e o “fcd” é a resistência de cálculo do concreto em compressão.

Para que se verifique a segurança das bielas é necessário que a tensão resistente equilibre a
tensão solicitante. A tensão resistente a considerar, conforme as normas do CEB 90, é a
resistência reduzida, expressa mediante a forma:

e, portanto:

ou ainda:

Assim:

representa o momento torsor que levaria as bielas à ruína, e a equação V.24 pode ser reduzida a
forma:
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Segurança dos tirantes

Considerando-se o equilíbrio das ações horizontais no diagrama de corpo livre da Figura 19.c, e
que a componente horizontal do esforço normal absorvido na biela, Figura 19.d é:

Para a estabilidade interna de uma barra da armadura longitudinal deve-se considerar o equilíbrio
de esforços na direção x, Figura 19.c, resultando então:

Onde “Rld” é o esforço normal absorvido em cada uma das quadro barras de aço da armadura
longitudinal, devendo ser obtido a partir da expressão:

Desde que “Asu” represente a área da seção transversal de cada uma das quadro barras de aço
da armadura longitudinal. Assim, a área total da armadura longitudinal será:

De modo que:

e:

Combinando-se as equações V.12, V.28 e V.32 tem-se:

Considerando-se a equação V.18 e promovendo-se a distribuição uniforme da armadura no


perímetro de comprimento ue = 4l, obtém-se:
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e, por fim.

Com vista à verificação da estabilidade interna da armadura transversal atente-se para o


equilíbrio de esforços na direção vertical, Figura 19.c, que pode ser expresso mediante:

Onde “Rwd” é o esforço normal em um tirante transversal.

Se “G” e “H” são os pontos médios dos segmentos FA e AE, Figura 19.b, então a distância entre
os pontos “G” e “H” é igual a distância entre os pontos “A” e “E” da treliça, sendo dada mediante:

O segmento GH, representa o segmento de influência do tirante AC, Figura 19.b. Para se
promover melhor uniformidade de desempenho da armadura transversal a área do tirante AC
pode ser distribuída ao longo do segmento GH. Se “s” for o espaçamento longitudinal dos estribos
resultante de tal distribuição então o total de estribos de armadura transversal distribuída ao longo
do segmento GH será:

Se “Ast” representa a área de um montante de estribo então:

Confrontando-se as equações V.37 e V.40 obtém-se:

E considerando a equação V.12 resulta:


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Figura 19 – Treliça espacial

Que tendo em vista a equação V.18 assume a forma:

A inclinação da biela correspondente à distribuição da armadura tal qual foi projetada, pode ser
obtida da equação V.36 resultando a forma:

Que, uma vez substituída na equação V.43 tem-se a equação:


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O momento torsor resistente será então:

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