Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Rebeca Schmitz
Mesoestrutura:
esforços nos pilares
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:
Introdução
Os pilares de pontes são elementos que compõem a mesoestrutura e
que possuem quatro processos construtivos distintos: tradicional (com
escoramento), formas saltantes, formas deslizantes ou, ainda, pilares to-
talmente pré-moldados. Para cada situação de projeto, um dos métodos
se mostrará mais adequado. O método das formas deslizantes é bastante
empregado em pilares em leitos de corpos de água, como a ponte Rio-
-Niterói, construída na década de 1970. Esse mesmo processo será utilizado
na construção da nova ponte sobre o Rio Guaíba, na Grande Porto Alegre,
que contará também com pilares totalmente pré-moldados.
No que tange aos esforços sobre os pilares, a divisão da análise das
solicitações na superestrutura e na mesoestrutura é possível em pontes
que são concebidas no sistema estrutural em viga. No caso de outros
sistemas — em pórtico, arco, estaiadas ou pênsil — não há essa separação
da análise entre super e mesoestrutura. Os esforços são bastante variados,
o que faz com que se tenha que analisar a combinação deles, a fim de
produzir esforços máximos ou mínimos — por exemplo, a reação mínima
para garantir a estabilidade da estrutura.
Neste capítulo, você vai estudar sobre os pilares de pontes, as pos-
sibilidades de seções para pilares e os processos construtivos. Depois
dessa primeira análise qualitativa dos pilares, vai analisar os esforços sobre
2 Mesoestrutura: esforços nos pilares
esses elementos. Por fim, você vai verificar as principais indicações para
o dimensionamento dos pilares de ponte.
não embutida na altura das longarinas, e sim logo abaixo delas; essa viga é
chamada de viga de apoio ou travessa.
Na Figura 1c observa-se uma solução com dois pilares, onde se utiliza
transversinas, mas as longarinas são apoiadas diretamente sobre os pilares;
também se fez necessário travessas para fazer o contraventamento dos pilares.
El Debs e Takeya (2007) destacam que, quando os pilares tiverem alturas
elevadas, superiores a 40 metros, pode ser necessário mais vigas transversais
ao longo da sua altura, para garantir o contraventamento desses elementos.
Uma questão muito importante que deve ser considerada durante a esco-
lha do tipo de pilar e da quantidade em cada ponto de apoio é a vinculação
entre vigas e pilares. Essa vinculação pode ser bem variada. Considerando-
-se situações de sistema estrutural em pórtico, em que existe uma ligação
rígida entre superestrutura e mesoestrutura, a ligação deve ser moldada no
local, para que se garanta o monolitismo. Ao passo que, em estruturas onde
não ocorre essa continuidade, são necessários elementos entre as vigas e os
pilares, para que se faça a transmissão de esforços, que são os aparelhos de
apoio. A Figura 2 traz exemplos de ligações: a primeira é rígida e as demais
utilizam aparelhos de apoio.
Segundo Pfeil (1979), esses aparelhos de apoio podem ser essencialmente
de dois tipos: aqueles que permitem apenas a rotação e aqueles que, além da
rotação, permitem certa translação das vigas. Os materiais utilizados para
os aparelhos de apoio são bastante variados. Entretanto, pode-se dizer que
aqueles de elastômero fretado, popularmente chamados de neoprene fretado,
que são do segundo tipo, são os mais comumente empregados.
Escoramentos
Painel
Fôrma deslizante
sem treliça
Solicitações
As solicitações sobre os pilares são muito diversas. Com base em Pfeil (1979),
foi elaborado o Quadro 1, apresentando uma listagem delas. Salienta-se que,
para as cargas permanentes verticais — que são as reações da superestrutura
e peso da mesoestrutura — não é necessário nenhum tratamento diferenciado.
Quanto à reação da carga móvel, deve-se fazer alternância na posição das
cargas, tanto na seção transversal quanto ao longo do vão, buscando valores
de máxima e mínima reação. Em relação à carga de vento atuando em uma
das faces laterais da estrutura, ela pode provocar reações verticais, no sentido
de tombamento da superestrutura.
Em termos de esforços horizontais, aqueles longitudinais são na direção
do vão, e os transversais, perpendiculares ao vão. Verifica-se que o vento tem
duas componentes, enquanto que as demais ações geram esforços em apenas
uma direção. Na direção longitudinal, destaca-se a frenagem e a aceleração
dos veículos, que, segundo Pfeil (1979), são consideradas no eixo de simetria
da pista de rolamento, o que é uma simplificação adequada, considerando
que a relação entre vão e largura normalmente é elevada. O empuxo de terra
normalmente é absorvido por encontros e, com uma junta deslocável entre
encontro e mesoestrutura, impede-se que ele seja transmitido para o restante
da estrutura. Os efeitos da variação de temperatura e retração do concreto são
chamados por Pfeil (1979) de efeitos parasitários. Por fim, deve-se considerar
os esforços diretamente sobre os pilares. A pressão de água só ocorre se o
pilar estiver no leito do rio, e os empuxos de terra, somente se o pilar estiver
junto a taludes, o que não é tão comum, pois, nessas situações, é mais comum
se adotar encontros.
Esforços verticais
(Continua)
8 Mesoestrutura: esforços nos pilares
(Continuação)
Esforços horizontais
1 2 3
ELEVAÇÃO
1. Modelo de viga contínua para cálculo dos
efeitos das cargas verticais na super (esforços
solicitantes e reações de apoio)
1 2 3
Vmáx,Vmíx Mmáx C VERTICAIS
Frenação Deformações
impostas
kap
- Hl k2L k3L
Empuxo kenc
de terra C. H. LONGITUDINAIS - ELEVAÇÃO
k1L
Vento
C. H. TRANSVERSAIS - PLANTA
Figura 6. Modelo para o cálculo das solicitações: (1) cargas verticais e (2) cargas horizontais.
Fonte: Adaptada de Stucchi (2006).
Mesoestrutura: esforços nos pilares 11
d2
d1
q Fq Q Q
b/2
2·Q Fq = q · b Q · d1 + Q · d2 0
2·Q Fq = q · b ⁄ 2 Q · d1 + Q · d2 Q·b⁄2·b⁄4
Mesoestrutura: esforços nos pilares 13
Verifique que a apresentação das solicitações geradas pela carga móvel está con-
siderando que o veículo e a carga de multidão ocupam posições comuns. De fato,
isso não ocorre — é uma simplificação de cálculo. Nesse caso, sugere-se que se faça
uma redução na carga das rodas do veículo, equivalente à carga de multidão que
fica sobreposta.
Carga móvel
Carga móvel
Carga permanente
1,00
É importante salientar que deve ser feita uma linha de influência para
cada tipo de esforço; logo, a reação terá um conjunto de linhas de influência
(um para cada apoio), e o momento terá outro conjunto. Depois de feitas as
avaliações de todos os casos, destaca-se aqueles que produzirão os valores
máximos de reação e de momento e o valor mínimo de reação.
(1)
Mesoestrutura: esforços nos pilares 15
Dureza Shore A 50 60 70
Aaparelho = a . b
Camadas de
elastômero internas
(espessura mínima
5 mm)
Camadas de elastômero de Camadas de elastômero
cobrimento (espessura externas (espessura
mínima 4 mm) mínima 2,5 mm)
longo de sua altura. Além disso, se no ponto de apoio houver mais pilares e
viga de apoio, deve ser considerada a rigidez do conjunto.
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
Mesoestrutura: esforços nos pilares 17
2 mm
3 mm 3 mm
3 mm
3
12 12
37
m
m
0
90
hn = 2 x 12 = 24 mm
3 0,31 0 0 0 –5,75
Quadro 6. Força do vento sobre pilares — método para pontes com juntas deslocáveis
1 5 10 15 0,2 6,7
4 0 15 15 0,2 6,7
Dimensionamento
Para o dimensionamento de pilares, Pfeil (1979) sugere as seguintes etapas:
Conforme a NBR 7187, a menor dimensão para um pilar maciço não pode
ser inferior a 40 centímetros ou 1/25 da sua altura. Se o pilar tiver seção
celular, suas paredes não podem ter espessura menor que 20 centímetros, e
se o processo construtivo for por formas deslizantes, o mínimo passa a ser
25 centímetros. Já em se tratando de pilares-paredes, a referida norma limita
como mínima a espessura de 20 centímetros ou 1/25 da altura do pilar-parede.
Como vimos no item anterior, os pilares são elementos sujeitos a carrega-
mentos dos mais diversos; logo, sempre estão sujeitos a esforços combinados
(força axial, momento fletor, esforço cortante). Em se tratando de pilares
que não se enquadram como pilares-parede, a NBR 6118 faz a distinção da
análise conforme a esbeltez. A esbeltez de um elemento é determinada como
o comprimento de flambagem dividido pelo raio de giração. Se esse índice
22 Mesoestrutura: esforços nos pilares
(7)
(8)
Leitura recomendada
VELLOSO, F. C. Ponte Rio-Niterói (Ponte Presidente Costa e Silva): um marco em nossa
engenharia. Revista Da Cultura, nº. 21, p. 16-24, maio, 2013.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.