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UNIVERSIDADE TÉCNICA DE LISBOA

INSTITUTO SUPERIOR TÉCNICO

LIGAÇÃO CONTÍNUA VIGA-PILAR EM


ESTRUTURAS PRÉ-MOLDADAS DE BETÃO

Pedro Rego da Silva Ribeiro Reis


(Licenciado)

Dissertação para a obtenção do grau de Mestre


em Engenharia de Estruturas

Orientador: Doutor Válter José da Guia Lúcio


Co-Orientador: Doutor Jorge Miguel Silveira Filipe Mascarenhas Proença

Presidente: Doutor Francisco Batista Esteves Virtuoso


Vogais: Engenheiro José Faria Câncio Martins
Doutor Válter José da Guia Lúcio
Doutor Jorge Miguel Silveira Filipe Mascarenhas Proença

Dezembro de 2000
LIGAÇÃO CONTÍNUA VIGA-PILAR EM ESTRUTURAS
PRÉ-MOLDADAS DE BETÃO

Pedro Rego da Silva Ribeiro Reis


Curso de Mestrado em Engenharia de Estruturas
Orientador: Prof. Válter J. G. Lúcio
Co-orientador: Prof. Jorge Miguel S. F. Mascarenhas Proença

Resumo:
Neste trabalho concebeu-se uma ligação contínua viga-pilar para estruturas pré-moldadas de betão.

Para tal apresentam-se os diversos sistemas estruturais para edifícios de betão pré-moldado, as
exigências funcionais das ligações, os tipos de ligação e as normas e recomendações aplicáveis.
Referem-se os trabalhos de investigação existentes e a decorrer sobre o tema e descrevem-se alguns
sistemas de ligação em utilização no mercado Português.

Com estes dados concebeu-se um sistema de ligação que é economicamente competitivo, de


dimensionamento simples (equivalente às estruturas moldadas em obra) e de fácil execução.

Um provete representativo do sistema desenvolvido foi sujeito a um carregamento cíclico que


demonstrou estabilidade de resposta até uma ductilidade em deslocamento de 3, viabilizando assim a
utilização deste sistema para estruturas com um coeficiente de comportamento até 2,5.

Discutem-se também as problemáticas dos ensaios experimentais de ligações em termos de: história de
carregamento, caracterização da cedência e coeficiente de vão de corte a adoptar nos ensaios.

Mostra-se ainda que o Eurocódigo 8 faz um tratamento demasiadamente conservativo da performance


sísmica das estruturas pré-moldadas de betão, caminho contrário ao que está a ser seguido nos E.U.A.,
pondo em causa a sua competitividade económica.

Palavras-Chave:
Estruturas de betão armado
Estruturas pré-moldadas de betão
Estruturas pré-fabricadas
Ligação viga-pilar
Ductilidade
Ensaios experimentais
Sismo
CONTINUOUS BEAM TO COLUMN CONNECTION
IN PRECAST CONCRETE STRUCTURES

Pedro Rego da Silva Ribeiro Reis


Master in Structural Engineering
Supervisor: Prof. Válter J. G. Lúcio
Co-supervisor: Prof. Jorge Miguel S. F. Mascarenhas Proença

Abstract:
This dissertation presents a development of a continuous beam-to-column connection for precast
concrete structures.

Different structural systems for precast concrete buildings, the connections functional requirements, the
different types of connections and the applicable standards and recommendations are analysed. The
existing and on-going researches are reviewed and some connections in use in Portugal are described.

With the above data a new connection system was developed. This connection is economically
competitive, easy to erect and simple to design (equivalent to the cast-in-place structures).

An experimental model of the developed system was subjected to a cyclic load history which showed a
stable response up to a displacement ductility level of 3. This connection may then be used in structures
with a structural behaviour coefficient up to 2.5.

A discussion of the experimental program is also made in terms of the load history to impose, the
definition of the yielding values and the shear span ratio to use in the test programs.

In this work it is shown that Eurocode 8 is too conservative with respect to the seismic performance of
precast concrete structures, in contrast with the USA on-going standards, thus compromising the
economical advantage of precast concrete structures.

Key-words:
Concrete structures
Precast structures
Beam to column joint
Ductility
Experimental analysis
Earthquake
AGRADECIMENTOS

Ao Prof. Válter Lúcio, meu orientador científico (e não só), com quem é um prazer
trabalhar.

À Precimpor, SPGS, em especial ao Dr. Lopes Ferreira e ao Eng. Luís Amorim


Loureiro, o financiamento deste trabalho enquadrado no “Protocolo para a
investigação e desenvolvimento PRECIMPOR/ICIST” e a colaboração e
disponibilidade revelada ao longo deste ano.

Ao Prof. Jorge Proença toda a disponibilidade e simpatia que sempre revelou para
ajudar e debater questões relevantes para a realização deste trabalho.

Aos Srs. Fernando Alves, Fernando Costa e Pedro Claro pela ajuda prestada na
preparação e realização dos ensaios experimentais. E novamente ao Fernando Alves
cujo trabalho inteligência, motivação e amizade é de realçar.

Ao Sr. Leite Fernandes pela elaboração de algumas das figuras constantes deste
trabalho.

À Cristina Ventura pelo trabalho de secretariado.

Ao Grupo de Betão Armado do Departamento de Engenharia Civil do Instituto


Superior Técnico, coordenado pelo Prof. Júlio Appleton a disponibilização dos meios.

Às empresas que deram o seu contributo para o trabalho experimental:

 Dywidag – Systems International, Eng. Carlos Caxias, pelos varões Gewi,


uniões, contra porcas e bainhas de pré-esforço.
 Bettor MBT Portugal, Eng. Filipe Dourado, pelo Flowcable.

A todos os Professores, colegas e amigos que durante este ano ajudaram, motivaram e
tornaram possível a realização deste trabalho, muito obrigado.

Aos meus pais.


ÍNDICE

1 - INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 1
1.1 - OBJECTIVO .......................................................................................................... 1
1.2 - ENQUADRAMENTO GERAL ................................................................................... 1
1.3 - ORGANIZAÇÃO .................................................................................................... 2
2 - ESTRUTURAS PRÉ-MOLDADAS E A LIGAÇÃO VIGA-PILAR ................. 3
2.1 - SISTEMAS ESTRUTURAIS ..................................................................................... 3
2.1.1 - Sistemas Estruturais em Edifícios Pré-Moldados ...................................... 3
2.1.2 - Estruturas Reticuladas Pré-Moldadas ....................................................... 4
2.2 - EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS DAS LIGAÇÕES ............................................................ 8
2.2.1 - Segurança Estrutural .................................................................................. 9
2.2.2 - Facilidade de Execução.............................................................................. 9
2.2.3 - Processos de Ligação ............................................................................... 12
2.2.4 - Durabilidade ............................................................................................. 13
2.2.5 - Resistência ao Fogo.................................................................................. 13
2.2.6 - Estética ..................................................................................................... 15
2.2.7 - Economia .................................................................................................. 15
2.3 - TIPOS DE LIGAÇÃO ............................................................................................ 17
2.3.1 - Ligação com Betonagem do Nó ................................................................ 17
2.3.2 - Ligação com Pós-Esforço ......................................................................... 18
2.3.3 - Ligação com Soldadura ............................................................................ 19
2.3.4 - Ligação com Aparafusamento .................................................................. 20
2.3.5 - Ligação Monolítica................................................................................... 20
2.4 - NORMAS E RECOMENDAÇÕES ........................................................................... 21
2.4.1 - Portugal .................................................................................................... 21
2.4.2 - Europa ...................................................................................................... 22
2.4.3 - Estados Unidos da América ..................................................................... 35
2.4.4 - Outros ....................................................................................................... 35
2.5 - INVESTIGAÇÃO .................................................................................................. 35
2.5.1 - Portugal .................................................................................................... 35
2.5.2 - PRESSS ..................................................................................................... 36
2.5.3 - Outros ....................................................................................................... 46
2.6 - MERCADO PORTUGUÊS ..................................................................................... 51
2.6.1 - Pavicentro ................................................................................................. 51
2.6.2 - Castelo ...................................................................................................... 51
2.6.3 - Maprel. ..................................................................................................... 52
2.6.4 - Concremat. ............................................................................................... 54
3 - SISTEMA DE LIGAÇÃO DESENVOLVIDO .................................................. 55
3.1 - MOTIVAÇÃO...................................................................................................... 55
3.2 - SISTEMA DE LIGAÇÃO VIGA-PILAR ................................................................... 56
3.3 - SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS ............................................................................... 58
3.3.1 - Emendas de Varões .................................................................................. 58
3.3.2 - Bainhas ..................................................................................................... 60
3.3.3 - Calda de Cimento ..................................................................................... 61
3.3.4 - Betonagem Complementar ....................................................................... 61

i
4 - PROGRAMA EXPERIMENTAL....................................................................... 63
4.1 - MATERIAIS ........................................................................................................ 63
4.1.1 - Betão ......................................................................................................... 63
4.1.2 - Calda de Cimento ..................................................................................... 64
4.1.3 - Aço ............................................................................................................ 65
4.2 - CARACTERÍSTICAS DO MODELO ........................................................................ 66
4.2.1 - Condicionantes ......................................................................................... 66
4.2.2 - Geometria ................................................................................................. 68
4.2.3 - Pormenorização........................................................................................ 71
4.2.4 - Resistência ................................................................................................ 72
4.2.5 - Construção................................................................................................ 75
4.3 - SISTEMA DE ENSAIO .......................................................................................... 82
4.3.1 - Configuração do Ensaio ........................................................................... 82
4.3.2 - Procedimento de Ensaio ........................................................................... 86
5 - RESULTADOS EXPERIMENTAIS .................................................................. 91
5.1 - MATERIAIS ........................................................................................................ 91
5.1.1 - Betão ......................................................................................................... 91
5.1.2 - Calda de Cimento ..................................................................................... 94
5.1.3 - Aço ............................................................................................................ 96
5.2 - LIGAÇÃO ......................................................................................................... 100
5.2.1 - Carregamento Preliminar ...................................................................... 100
5.2.2 - Carregamento Cíclico ............................................................................ 105
5.3 - TRATAMENTO DOS RESULTADOS .................................................................... 111
6 - CONCLUSÕES ................................................................................................... 117
6.1 - CONCLUSÕES FINAIS ....................................................................................... 117
6.2 - DESENVOLVIMENTOS FUTUROS ...................................................................... 118
7 - REFERÊNCIAS.................................................................................................. 121

ii
NOTAÇÃO

Ad acção de cálculo
Apd acção de cálculo nas estruturas pré-moldadas
As área de armadura longitudinal
Asw área das secções dos estribos
b largura
d altura útil
Ea módulo de elasticidade do apoio
Ec módulo de elasticidade do betão
F força
fc valor de tensão de rotura por compressão do betão
fcd valor de cálculo da tensão de rotura por compressão do betão
fck valor característico da tensão de rotura por compressão do betão
fcm valor médio da tensão de rotura por compressão do betão
fctk valor característico da tensão de rotura por tracção do betão
fctm valor médio da tensão de rotura por tracção do betão
FR força resistente
FRd valor de cálculo da força resistente
fs valor da tensão de resistência à tracção do aço
fsuk tensão última característica do aço
fsyd valor de cálculo da tensão de cedência do aço
fsyk valor característico da tensão de cedência do aço
Fy força de cedência
h altura do elemento
kD factor da classe de ductilidade
kp factor de capacidade de dissipação de energia das ligações
kR factor de regularidade em altura
kW factor do tipo de rotura da parede
L comprimento
Lc vão de corte
M momento flector
MR momento resistente
NSd valor de cálculo do esforço axial actuante
q coeficiente de comportamento
q0 valor base do coeficiente de comportamento
qp coeficiente de comportamento das estruturas pré-moldadas
Rd valor de cálculo da resistência às cargas monótónicas
RM valor da força resistente às cargas monótónicas
Rpd valor de cálculo da força resistente estruturas pré-moldadas às
acções cíclicas
RS valor da força resistente à acção sísmica
s espaçamento
Sd valor de cálculo da acção sísmica
SE valor elástico da acção sísmica
Tad valor de cálculo do momento torsor acidental
V esforço transverso
Vcd termo corrector da teoria de Mörsch, no cálculo do esforço
transverso resistente

iii
VRd valor de cálculo do esforço transverso resistente
VSd Valor de cálculo do esforço transverso actuante
Vwd contribuição das armaduras de esforço transverso na resistência
segundo a teoria de Mörsch
 
c coeficiente minorativo das propriedades do betão
cycl factor de segurança que contabiliza a degradação de resistência
devido às acções cíclicas
Rd factor de segurança que contabiliza as incertezas do modelo
s coeficiente minorativo das propriedades do aço
 relação entre a armadura de compressão e de tracção
 deslocamento
y deslocamento de cedência
suk valor característico da extensão para a carga máxima
d ductilidade em deslocamento
 percentagem geométrica de armadura
w percentagem geométrica de armadura transversal
1 tensão de esforço transverso definida no artº 53 do REBAP

iv
1 - INTRODUÇÃO

1.1 - OBJECTIVO

Pretende-se desenvolver uma ligação viga pilar contínua para estruturas reticuladas
pré-moldadas de betão.

Existem em Portugal poucos estudos e experiência construtiva deste tipo de ligação. A


grande maioria das estruturas pré-moldadas tem pouco desenvolvimento em altura, o
que viabiliza a utilização de vigas simplesmente apoiadas nos pilares. Assim não
existe efeito de pórtico sendo os pilares em consola, ou as paredes resistentes,
responsáveis pela resistência às acções horizontais.

Adoptando ligações viga-pilar com continuidade gera-se efeito de pórtico viabilizando


a construção em altura. Uma ligação com bom comportamento, fácil de executar e
económica, pode garantir uma competitividade acrescida às estruturas pré-moldadas
face às moldadas em obra.

Para se atingir os objectivos e para credibilizar a ligação ela foi estudada em parceria
com a indústria e validada com recurso à análise experimental.

1.2 - ENQUADRAMENTO GERAL

Este estudo enquadra-se na investigação que tem sido efectuada no Departamento de


Engenharia Civil do IST. Neste Departamento já foram desenvolvidos os seguintes
trabalhos, no âmbito das estruturas pré-moldadas de betão:

 “Comportamento Sísmico de Estruturas Pré-fabricadas – Desenvolvimento de


um sistema reticulado contínuo”, Tese de Doutoramento do Prof. Dr. Jorge
Proença, sob orientação do Prof. Dr. João Azevedo, Outubro de 1996.
 “Ligações entre Elementos Pré-fabricados de Betão”, Dissertação de Mestrado
do Eng. António M. S. Silva, sob orientação do Prof. Dr. Válter J. G. Lúcio,
Abril de 1998

O presente trabalho, também sob orientação do Prof. Dr. Válter J. G. Lúcio, está na
sequência do anterior e tem o apoio da PRECIMPOR, SGPS no âmbito do Protocolo
para a investigação e desenvolvimento PRECIMPOR/ICIST.

1
1.3 - ORGANIZAÇÃO

No capítulo 2 apresenta-se o estudo dos assuntos que interessam às estruturas


pré-moldadas e mais em particular às ligações contínuas viga-pilar. Será com base
nesses dados e reflexões que se irá desenvolver o sistema de ligação. Assim, inicia-se
pelo estudo dos sistemas estruturais comuns nas estruturas pré-moldadas e mais em
particular nos das estruturas reticuladas pré-moldadas. De seguida abordam-se as
exigências funcionais das ligações em termos de, (i) segurança estrutural, (ii)
facilidade de execução, (iii) processos de ligação, (iv) durabilidade, (v) resistência ao
fogo, (vi) estética e (vii) economia.

São classificados e descritos diversos tipos de ligações em função da tecnologia


utilizada durante o processo de montagem, nomeadamente: (i) a ligação com
betonagem do nó, (ii) com pós-esforço, (iii) com soldadura, (iv) com aparafusamento
e (v) a ligação monolítica em que o sistema dispensa a existência de ligação
viga-pilar.

São enumeradas diversas normas e recomendações que interessam às estruturas


pré-moldadas, (i) em Portugal, tais como o REBAP, o RSA, o REGEU e os
documentos de homologação do LNEC de sistemas de pré-fabricação, (ii) na Europa,
o EC2, o EC8 e o Model Code 90, sendo efectuada uma comparação em termos de
performance sísmica do tratamento dado pelo EC8 aos diferentes tipos de estruturas,
(iii) nos Estados Unidos da América e (iv) no resto do mundo.

É identificada a investigação científica existente e a decorrer que interessa ao estudo


sendo divida por origem: (i) Portugal, (ii) PRESSS e (iii) Outros. O PRESSS, Precast
Seismic Structural Systems Research Program, é um programa de investigação a
decorrer nos Estados Unidos da América desde 1990. Termina-se o capítulo 2 com a
descrição de alguns sistemas de ligação em utilização no mercado Português.

No capítulo 3 descreve-se o sistema de ligação desenvolvido. Mais concretamente a


(i) motivação que levou ao tipo de ligação concebida, (ii) o sistema em concreto e (iii)
a descrição das soluções tecnológicas adoptadas no sistema.

No capítulo 4 apresenta-se o programa experimental a que um provete representativo


do sistema desenvolvido será sujeito com vista à sua caracterização estrutural e
sísmica. Discute-se a história de deslocamentos a impor a caracterização da cedência e
o coeficiente de vão de corte do provete a adoptar no ensaio.

No capítulo 5 apresentam-se os resultados experimentais e no capítulo 6 as


conclusões.

2
2 - ESTRUTURAS PRÉ-MOLDADAS E A LIGAÇÃO VIGA-PILAR

2.1 - SISTEMAS ESTRUTURAIS

2.1.1 - SISTEMAS ESTRUTURAIS EM EDIFÍCIOS PRÉ-MOLDADOS

As estruturas de edifícios pré-moldados têm como função resistir às cargas


verticais e horizontais.

Para as cargas verticais recorre-se a estruturas reticuladas viga-pilar ou a


estruturas de parede resistente. Para as cargas horizontais utilizam-se sistemas
estruturais em pórtico ou em consola. Nestes casos as consolas podem ser
paredes resistentes ou pilares.

Figura 2-1 – Estrutura com pilares em consola [1]

Os pilares em consola são normalmente utilizados em construções de pequeno


porte de um ou dois pisos. Existem também soluções mistas com combinações
das três soluções anteriores (pórticos, pilares em consola e paredes).

As soluções estruturais devem obedecer ao princípio da redundância, ou seja, a


resistência da estrutura deve depender de um número significativo de
elementos estruturais, garantindo-se assim que o colapso de um elemento não
ponha em causa a segurança do conjunto. Nos E.U.A. a edição de 1997 do
Uniform Building Code (UBC) [2] estabelece uma regra de redundância
impondo que o número de pórticos com funções resistentes às cargas
horizontais seja pelo menos (Nb/4+1), sendo Nb o número total de vãos.

3
Figura 2-2 – Exemplo de estrutura em parede [1]

Existe também a possibilidade de utilizar isolamento de base para as estruturas


pré-moldadas [3]. O isolamento vai aumentar a dissipação de energia, o
amortecimento e a flexibilidade da estrutura, conseguindo-se assim uma
diminuição das acelerações sísmicas, logo menores esforços. No entanto a
utilização destes sistemas não dispensa que a estrutura tenha resistência às
acções horizontais, que poderá ser conseguida com qualquer um dos sistemas
anteriormente descritos. Uma vantagem da utilização de isolamento de base
seria a uniformização da acção horizontal nas estruturas independentemente da
zona sísmica, permitindo a utilização do mesmo sistema de estrutural em
diferentes zonas sísmicas.

2.1.2 - ESTRUTURAS RETICULADAS PRÉ-MOLDADAS

As estruturas moldadas “in situ” tendem, quando não existem condicionantes


arquitectónicos, a serem constituídas por uma malha ortogonal regular, em que
os vão são idênticos em ambas as direcções.

Em estruturas moldadas “in situ” as lajes armadas em ambas as direcções, ou


seja com resistência à flexão em ambas as direcções, são a solução mais
económica para vencer o vão. Como as lajes representarem a maior parcela do
custo das estruturas, os restantes elementos que a suportam, as vigas e os
pilares, serão condicionados pelo sistema de laje adoptado.

Nas estruturas pré-moldadas, devido a condicionantes de fabrico e transporte,


as lajes tendem a ter uma das dimensões em planta muito superior à outra.
Para que as lajes pré-moldadas funcionassem em ambas as direcções seria
necessário elaborar sistemas de ligação, que viriam aumentar o custo, a
complexidade e o tempo de execução, ou executar toda a laje de uma só vez, o
que traria grandes condicionantes de transporte e elevação.

4
Figura 2-3 – Pavimento de uma estrutura pré-moldada

Assim, nas estruturas pré-moldadas as lajes costumam ser armadas em apenas


uma direcção.

Os tipos de lajes pré-moldadas mais comuns são:

 Lajes Alveoladas.
 Pré-lajes.
 Lajes em T ou duplo T.
 Lajes de vigotas pré-esforçadas e blocos de aligeiramento.

As lajes alveoladas são rectangulares com uma largura de 1,2 metros e podem
vencer vãos até 16 metros. O seu sistema de ligação tem capacidade de
distribuir os esforços entre os painéis. Como o nome indica são lajes vazadas
com alvéolos. Elas podem ser ou não pré-tensionadas, a opção depende dos
vãos e das cargas envolvidas.

As pré-lajes são uma cofragem perdida resistente. Elas servem de cofragem a


uma camada de betão complementar com função resistente, originando uma
laje maciça. Têm normalmente uma largura máxima de 2,5 metros e vencem
vãos até 12 metros. Este sistema tem como desvantagem a necessidade de

5
escoramento durante a execução para vão superiores a três metros. As pré-lajes
podem ser pré-tensionadas, não sendo, no entanto, a solução comum.

1.2
m

0m
<2

0.15-0.30m

Figura 2-4 – Laje alveolada

As lajes em T, duplo T têm larguras até 2,5 metros e vencem vãos até 22
metros, são normalmente pré-tensionadas.

Todas as lajes pré-moldadas necessitam de uma camada de betão


complementar, não apenas com função resistente de flexão, mas também para
criar um diafragma indeformável ao nível do piso. Em todas elas a sua
superfície superior deverá ser rugosa por forma a garantir uma boa aderência à
camada de betão complementar. Nas lajes alveoladas esta camada
complementar pode, em casos especiais, ser dispensada.

<12m

1,2 - 2,5
m

Figura 2-5 – Pré-laje

Existem ainda muitos outros tipos de pavimentos pré-moldados. No entanto,


os atrás descritos são os mais comuns em estruturas totalmente pré-moldadas.
Os pavimentos de vigotas e abobadilhas são uma solução muito comum em
estruturas com as vigas e pilares moldados “in situ”.

6
Uma laje maciça armada em ambas as direcção também pode ser pré-moldada,
tem, no entanto, grandes condicionantes de transporte devido ao peso e
dimensões. Elas são transportadas na vertical.

2.5
m

LAJE EM DUPLO T

0.3 - 0.6 m

Figura 2-6 – Laje em duplo T

Nos casos comuns das estruturas pré-moldadas, em que se adoptam lajes


armadas em apenas uma direcção, a solução estrutural tende a ser muito
diferente das estruturas moldadas “in situ”. De facto costumam existir muitos
mais pórticos na direcção perpendicular ao vão das lajes do que na outra.

Na direcção perpendicular ao vão das lajes os pórticos têm como função


resistir às cargas verticais e horizontais enquanto na direcção do vão das lajes
os pórticos resistem apenas às horizontais.

Das características de rigidez e resistência horizontal das estruturas depende o


seu comportamento face à acção sísmica e à acção do vento assim como a sua
consideração como estrutura de nós fixos ou móveis (“sway” ou “non sway”),
o que influência o dimensionamento dos pilares aos efeitos de segunda ordem.

O comportamento sísmico da estrutura depende das frequências próprias de


vibração, que são função da sua rigidez às acções horizontais, e que,
simplificadamente para um sistema de um grau de liberdade é dado por:

K
f  , sendo f a frequência própria, K a rigidez e M a massa.
M

A aceleração máxima da estrutura é obtida através dos espectros de resposta e


o seu valor é tanto maior quanto maior for a frequência própria da estrutura,

7
em condições normais. Do valor da aceleração máxima são obtidos os esforços
elásticos que conforme os tipos de estruturas podem ser minorados por um
coeficiente designado por coeficiente de comportamento. O coeficiente de
comportamento é uma medida da ductilidade da estrutura. A ductilidade é a
capacidade de deformação sem diminuição da resistência. Este coeficiente
estabelece a relação entre a resistência sísmica de uma estrutura com
comportamento não linear face a uma com comportamento linear.

Resumindo, para a acção do sismo existem requisitos de rigidez, resistência e


ductilidade.

A acção do vento nas estruturas é simulada como uma pressão estática. Pelo
que apenas é necessário garantir requisitos de resistência, sendo os requisitos
de rigidez e ductilidade menos importantes no comportamento da estrutura a
esta acção. Apenas no caso de estruturas com frequências própria de vibração
inferiores a 0.5 Hz será necessário efectuar estudos mais elaborados. No
entanto, apenas estruturas como as antenas são abrangidas por esses casos.
Nem mesmo depósitos de água elevados, estruturas com uma grande massa e
baixa rigidez, chegam a ser abrangidos por esse caso [4].

2.2 - EXIGÊNCIAS FUNCIONAIS DAS LIGAÇÕES

O sucesso e a competitividade das estruturas pré-moldadas dependem, em boa


medida, dos sistemas de ligação entre os seus elementos. De uma forma geral os
elementos pré-moldados são semelhantes aos moldados “in situ” excluindo as
ligações entre si.

As estruturas metálicas também são estruturas pré-fabricadas em que os seus


elementos são ligados em obra. No entanto os seus sistemas de ligação estão hoje bem
determinados e a sua evolução estabilizada, resumindo-se essencialmente a ligações
por soldadura ou aparafusamento.

As estruturas pré-moldadas de betão, graças à grande versatilidade do betão e de todos


os materiais com que o mesmo se pode conjugar, tem uma infinidade de
possibilidades de materializar as suas ligações, o limite é a criatividade.

No entanto, é na concepção das ligações que se condiciona o bom funcionamento e a


competitividade económica da estrutura.

As ligações são realizadas em dois momentos distintos: na fábrica e na obra. Os


responsáveis pelas obras têm preferência por sistemas que minimizam o trabalho em
obra, enquanto os responsáveis pelas fábricas são adeptos de sistemas que permitam
trabalho seriado em fábrica deixando o resto para a obra.

Pretende-se de seguida abordar os principais requisitos das ligações.

8
2.2.1 - SEGURANÇA ESTRUTURAL

As ligações entre os elementos podem ser dimensionadas apenas para a fase


definitiva ou também para as fases de montagem.

2.2.1.1 - FASE DE MONTAGEM

Existem processos de ligação que não contemplam a fase de montagem porque


a ligação definitiva é logo executada ou porque se recorre a escoramento.

O caso mais comum em que é necessário contemplar a fase de montagem é


quando a ligação definitiva viga-pilar é materializada após a colocação das
lajes. As vigas são provisoriamente simplesmente apoiadas nos pilares em
consolas curtas. Nestes casos a flexão a meio vão das vigas pode ser
condicionada pela fase de montagem. A ligação provisória deve ser
dimensionada para o corte e deverá garantir rigidez e resistência suficiente à
torção por forma a não condicionar a montagem das lajes.

2.2.1.2 - FASE DEFINITIVA

Na fase definitiva as acções impõem requisitos de resistência à ligação.


Basicamente a ligação deverá ser verificada ao corte e à flexão. Existem
requisitos de rigidez que não estão quantificados, admitindo-se que uma
rigidez da ligação semelhante ou superior à da viga não apresenta problemas.
Os limites serão os quantificados para os estados limites de deformação
considerando o comportamento conjunto da ligação e da viga.

No entanto, o sismo impõe requisitos de resistência, rigidez e ductilidade. A


ductilidade é conseguida com o aço a resistir à tracção e ou com
sobredimensionamento de zonas frágeis por forma a transferir a rotura para
zonas dúcteis.

2.2.2 - FACILIDADE DE EXECUÇÃO

O princípio fundamental da concepção de uma ligação é a simplicidade. Uma


ligação simples é, por norma, fácil de dimensionar e de executar, permite um
melhor controlo de qualidade e terá condições para ser mais económica.

2.2.2.1 - FABRICO

Como referido, pode acontecer que a facilidade de execução em fábrica seja


conseguida com a transferência de operações para a montagem ou vice-versa.
Pensa-se que de uma forma geral a melhor opção é simplificar o processo de
montagem mesmo que isso obrigue a trabalhos mais complicados e demorados
em fábrica.

9
Em fábrica os custos da não qualidade (custos da rejeição de um produto) são
mais reduzidos do que em obra, pelo que há mais qualidade na execução em
fábrica.

A existência de mão-de-obra especializada, melhores condições de trabalho,


organização e controle, assim como as menores consequências económicas da
não conformidade de um produto, levam a que, de uma forma geral, seja
sempre melhor “complicar na fábrica para simplificar em obra”.

Figura 2-7 – Instalações fabris da CIVIBRALI

Apesar da fábrica ser o local ideal para produzir “soluções por medida”, é
preferível, sempre que possível, recorrer a produtos normalizados. Os produtos
normalizados graças à produção em série, têm custos bem definidos, mais
reduzidos e oferecem superiores garantias de qualidade. Esta opção é válida
mesmo que provoque um sobredimensionamento, que pode ser compensado
por um menor risco na quantificação dos custos.

Como todos os processos industriais, a normalização e a repetividade


apresentam vantagens económicas e de qualidade. No entanto, essas vantagens
não devem limitar o uso de “soluções por medida” em fábrica quando
necessário.

2.2.2.2 - TRANSPORTE

Os transportes correntes têm capacidade até 40 tf, 16,40 m de comprimento,


2,55 m de largura e 4,0 m de altura total [5]. Sempre que estes valores sejam
excedidos recorre-se a transportes especiais que têm custos mais elevados.
Transportes que excedam uma das seguintes dimensões: comprimento 25
metros, largura 4,0 metros e altura 5,0 metros têm obrigatoriamente uma
brigada de trânsito a acompanhar.

I Foto gentilmente cedida pela CIVIBRAL

10
Simplificadamente, quanto maior a mais valia de um produto face ao seu custo
de betão por metro cúbico menor será o peso do transporte no seu custo final.

O projecto das estruturas pré-moldadas deve ter presente as condicionantes de


transporte. Devem ser previstos acessórios de suspensão nos elementos
pré-moldados para a sua movimentação de carga, descarga e montagem. As
ligações devem ser robustas e pouco sensíveis às acções da fase de transporte.

Figura 2-8 – Transporte de uma vigaI

2.2.2.3 - MONTAGEM

Os elementos pré-moldados devem poder ser montados rapidamente e em


segurança. O recurso a escoramento deve ser evitado, uma vez que implica
uma diminuição da rapidez de execução.

Os sistemas de ligação são o principal condicionante da rapidez e facilidade de


montagem.

O faseamento da montagem deverá ser claramente explicitado quando for


fundamental para assegurar a estabilidade da estrutura nesta fase, assim como
os tempos de espera entre operações. Os elementos devem ser claramente
identificados, no projecto, em fábrica e na obra de forma a garantir que o
faseamento é cumprido e evitar erros de produção e montagem.

Podem ser executadas ligações provisórias ou “perdidas” exclusivas para a


fase de montagem, de forma a minimizar o tempo de utilização dos meios de
elevação.

I Foto gentilmente cedida pela MAPREL

11
Figura 2-9 – Operação de montagem de uma estruturaI

2.2.2.4 - TOLERÂNCIAS

A particularidade das tolerâncias admissíveis em estruturas pré-moldadas de


betão face às estruturas moldadas “in situ” deve-se à fase de montagem e às
ligações. O não cumprimento das tolerâncias, ou a sua incorrecta definição,
pode levar à impossibilidade de montagem da estrutura ou a ligações
deficientes.

O PCI – Precast / Prestressed Concrete Institute lançou um novo manual com


recomendações para as tolerâncias a considerar nas estruturas pré-moldadas
[6].

2.2.3 - PROCESSOS DE LIGAÇÃO

Nos elementos pré-moldados com ligações contínuas existem, em geral, três


esforços distintos: tracção, compressão e corte. Os elementos a ligar são
constituídos por dois materiais: o betão e o aço. Para materializar a ligação há
que ligar esses materiais entre si, um ao outro ou a um terceiro, de forma a
transmitir os esforços em causa.

Existem inúmeros processos de ligação. Em estruturas pré-moldadas de betão


os mais utilizados são os seguintes:

 amarração e emenda;
 soldadura;
 aparafusamento;
 betão-betão;
 conectores.

I Foto gentilmente cedida pela MAPREL

12
Os processos construtivos e de cálculo estão devidamente tratados por Santos
Silva [7].

2.2.4 - DURABILIDADE

A durabilidade depende das características do material e do ambiente em que o


mesmo está inserido, e tem consequências em termos de resistência estrutural
e na aparência estética.

O betão é um material que não apresenta problemas de durabilidade, quer em


termos estruturais quer estéticos, caso se excluam problemas de reacção aos
alcalis motivados por incorrecta escolha dos inertes ou devido a ambientes
químicos especiais.

O aço, pelo contrário, tem muitos problemas de durabilidade, corrói facilmente


o que faz diminuir a secção, causando problemas estruturais, altera o aspecto
exterior e aumenta de volume conduzindo à delaminação do betão de
recobrimento, causando problemas estéticos.

O processo para garantir a durabilidade do aço é garantir o seu recobrimento


com materiais protectores como: pintura anti-corrosiva, galvanização,
recobrimento com argamassa ou betão. O recobrimento com betão está
regulamentado e é função do ambiente e da classe do betão.

2.2.5 - RESISTÊNCIA AO FOGO

Os regulamentos de segurança ao fogo [8] especificam características para os


materiais conforme a sua função, localização e utilização.

A classificação dos materiais divide-se em classes de reacção e de resistência


ao fogo.

As classes de reacção ao fogo são:

M0 Materiais não combustíveis


M1 Materiais não inflamáveis
M2 Materiais dificilmente inflamáveis
M3 Materiais moderadamente inflamáveis
M4 Materiais facilmente inflamáveis

Para cada material a sua classe é definida pelas normas ou na sua ausência
pelo LNEC.

As classes de resistência ao fogo são:

EF Estável ao fogo
PC Pára chamas
CF Corta fogo

13
A estas classes estão associados tempos de resistência que devem ser
enquadrados nos seguintes escalões em minutos:

15 30 45 60 90 120 180 240 360

Os elementos estruturais são elementos de suporte que podem ser também


elementos de compartimentação. Assim, por exemplo, vigas e pilares são
apenas elementos de suporte, enquanto as lajes e paredes resistentes serão
elementos de suporte e de compartimentação.

O regulamento de segurança contra incêndios impõe a classe EF (estável ao


fogo) para os elementos de suporte e a classe CF (corta fogo) para os
elementos de compartimentação.

Os tempos de resistência que os elementos devem satisfazer no caso dos


edifícios de habitação, estabelecimentos comerciais e empreendimentos
turísticos dependem da sua altura.

Elementos de
Altura do edifício Elementos de suporte
compartimentação
H<9m EF30 CF30
9 m  H < 28 m EF60 CF60
28 m  H EF90 CF90

No caso dos parques de estacionamento que ocupam a totalidade do edifício.

Elementos de
Número de pisos Elementos de suporte
compartimentação
Pisos < 2 EF30 CF30
Pisos = 2 EF60 CF60
Pisos > 2 EF90 CF90

No caso dos parques que ocupam apenas a parte inferior de um edifício, o


pavimento de separação e respectivos elementos de suporte devem ser das
seguintes classes, função da altura da parte restante do edifício e que é objecto
de ocupação permanente.

Altura restante do Elementos de Elementos de


edifício suporte compartimentação
H<9m EF90 CF90
9 m  H < 28 m EF120 CF120
28 m  H < 60 m EF180 CF180

Os elementos estruturais dos parques de estacionamento devem ser


constituídos por materiais de classe de reacção ao fogo M0.

14
O dimensionamento da resistência ao fogo dos elementos estruturais pode ser
efectuado com base na parte 1.2 do EC2, EC3 ou EC4, conforme se trate de
estruturas de betão armado, metálicas ou mistas.

No caso das estruturas de betão armado o seu dimensionamento é efectuado de


forma indirecta através da especificação de recobrimentos mínimos e
dimensões mínimas para cada tipo de elemento estrutural. Nas estruturas
mistas seguem-se procedimentos semelhantes, havendo também
especificações para as zonas de ligação viga pilar.

No caso da ligação viga-pilar em estruturas pré-moldadas a ligação pode ser


projectada para resistir à acção do fogo ou o elemento viga ser projectado para
funcionar como simplesmente apoiado nos pilares em caso de fogo. Assim,
seria possível a utilização de resina epoxy, ou outro material não estável ao
fogo, na execução da ligação de continuidade entre viga e pilar.

2.2.6 - ESTÉTICA

Não existem particularidades especiais de ordem estética nas estruturas


pré-moldadas que as tornem melhores ou piores que outras. As suas ligações,
normalmente visíveis, podem ser consideradas como uma desvantagem, caso
não resultem num aproveitamento estético. No entanto as ligações podem
facilmente ser escondidas sem especial custo acrescido.

Figura 2-10 – Parque de estacionamento pré-moldado na Alemanha [1]

Nos casos em que se pretenda tirar partido do acabamento final do betão ou


dispensar outros revestimentos os elementos pré-moldados garantem
normalmente um melhor acabamento superficial.

2.2.7 - ECONOMIA

A indústria da pré-moldagem de betão distingue-se da construção tradicional


por os seus elementos serem produzidos em fábrica ou em outro local

15
diferente daquele que irão ocupar para desempenhar as suas funções, e por
serem protegidos de condições atmosféricas adversas durante a sua execução.

Estas características implicam à partida custos superiores aos associados à


construção tradicional, nomeadamente as instalações fabris, o transporte,
meios poderosos de elevação, montagem e mão-de-obra mais especializada e
permanente.

No entanto, a mão-de-obra da indústria da pré-moldagem, por ser permanente,


tem maiores possibilidades de formação contínua, melhores condições de
trabalho e mais facilidade de organização, podendo assim apresentar melhor
produtividade compensando os seus custos mais elevados.

Por outro lado, a mão-de-obra especializada e uma melhor tecnologia em


fábrica permite a utilização de materiais e técnicas mais especializadas que na
construção tradicional, nomeadamente: betões de elevado desempenho, betões
leves ou com fibras, cofragens metálicas, cura a vapor, técnicas de vibração e
compactação mais elaboradas, pré-esforço por pré-tensão, diferentes
acessórios incorporados, armaduras electrossoldadas e pré-moldadas com
elevado grau de precisão.

As instalações fabris protegidas permitem uma produção contínua


independente das condições climatéricas, permitindo diminuir os riscos de não
produção e oferecendo melhores garantias de qualidade.

A montagem da estrutura é uma operação complexa e cuidada, sendo no


entanto extremamente rápida reduzindo o tempo de estaleiro e o espaço
ocupado pelo mesmo. O tempo de montagem somado ao tempo de fabricação
permite prazos de execução muito inferiores aos da construção tradicional.

Processos mais determinados permitem uma melhor definição dos custos, o


que diminui os riscos e permite assumir margens menores.

São estes os factores que hoje garantem a competitividade desta indústria.

No futuro, e face ao enquadramento de Portugal no contexto internacional,


nomeadamente a Comunidade Europeia e a moeda única, é de prever uma
convergência real da nossa economia reflectindo-se quer no preço dos
materiais como no da mão-de-obra. Os acordos de migração e o nível de
instrução da camada da população mais jovem fazem prever uma escassez
cada vez maior de mão-de-obra barata e não qualificada.

Em simultâneo, os sistemas de gestão da qualidade, cada vez mais populares,


podem contribuir para a mudança de mentalidades, abrindo assim caminho
para uma maior preocupação com a qualidade. A pré-moldagem tem a
vantagem de os custos da qualidade dos processos fabris serem inferiores aos
da construção tradicional.

A boa definição e quantificação de custos facilita a análise de possíveis mais


valias associadas a inovações tecnológicas, o que, aliado à existência de

16
pessoal mais qualificado e instalações fabris, conduz a uma maior facilidade
de implementação e rentabilização da inovação face à indústria tradicional da
construção.

Estão, assim, abertas as portas para o crescimento do peso da pré-moldagem


na indústria da construção civil.

Dentro da indústria da pré-moldagem os sistemas de ligação entre elementos


podem ter uma influência decisiva na competitividade entre soluções. Eles
podem influenciar a concepção do sistema estrutural, o fabrico e a montagem
dos elementos.

Uma viga simplesmente apoiada é mais barata por metro que uma viga
contínua, porque a economia de material conseguida com a continuidade não
compensa o custo da complexidade acrescida da ligação contínua. No entanto,
existem outros requisitos que as estruturas devem cumprir que inviabilizam
em muitas estruturas as soluções simplesmente apoiadas.

Como já foi descrito atrás, no ponto 2.2.2, o princípio da economia nas


ligações é a simplicidade. No entanto, sempre que existam trabalhos com
alguma complexidade, e haja a alternativa entre ser executado em fábrica ou
em obra, a opção deverá ser a fábrica.

2.3 - TIPOS DE LIGAÇÃO

As ligações viga-pilar podem dividir-se em dois grandes grupos em função do seu


comportamento estrutural à flexão: articuladas e de continuidade.

Neste trabalho vamos abordar exclusivamente as ligações de continuidade e dividi-las


em quatro grupos em função da tecnologia usada durante o processo de montagem:

 Betonagem da região do nó;


 Pré-esforço das armaduras que atravessam o nó;
 Soldadura de elementos metálicos salientes da viga e / ou do pilar;
 Aparafusamento de elementos metálicos salientes da viga e / ou do
pilar.

As ligações também se classificam em húmidas ou secas, conforme se utiliza, ou não,


betão ou argamassas para as materializar.

2.3.1 - LIGAÇÃO COM BETONAGEM DO NÓ

Esta ligação, húmida, é realizada através da betonagem do nó viga-pilar onde


anteriormente foram colocadas as armaduras inferiores e superiores de
continuidade.

Para a fase construtiva utilizam-se apoios provisórios metálicos ou apoios


perdidos em betão no pilar.

17
As faces dos elementos que estarão em contacto com o betão de segunda fase
deverão ser rugosas de forma a aumentar a aderência entre os betões. A
superfície do betão pré-moldado deve ser tratada, expondo os inertes e
saturando a superfície com água algumas horas antes da betonagem.

Este tipo de ligação apresenta como vantagem permitir elevadas tolerâncias de


posicionamento e a utilização de materiais económicos para a materialização
da ligação.

Figura 2-11– Ligação com betonagem do nóI

As desvantagens são o tempo de montagem muito elevado, colocação de


armaduras e betonagem, o tempo de espera para que o betão atinja resistência
suficiente para se proceder à montagem do piso seguinte, a existência de juntas
de betonagem no pilar e na viga nas zonas de esforço de flexão e corte mais
elevados e esteticamente a existência de acabamentos superficiais
diferenciados.

Em termos de qualidade deve ser garantida a qualidade do betão de segunda


fase assim como o preenchimento de todos os vazios.

Esta ligação funciona por amarração das armaduras no nó e pela transmissão


do esforço transverso através da ligação do betão pré-moldados ao betão
moldados em obra.

2.3.2 - LIGAÇÃO COM PÓS-ESFORÇO

O pós-esforço pode ser local, apenas na zona de ligação, ou contínuo, ao longo


de toda a viga, ser aderente ou não aderente, e serem utilizadas barras ou
cordões de aço de alta resistência.

I Foto gentilmente cedida pela MAPREL

18
Nos casos em que se utilizam apoios definitivos para as vigas, o esforço de
corte é transmitido directamente ao apoio, as barras ou cordões de pré-esforço
funcionam apenas para transmitir a tracção devida aos momentos flectores.
Quando se utilizam consolas curtas provisórias ou perdidas pode considerar-se
que o esforço transverso é transmitido por atrito na junta de ligação.

Antes de se proceder à pós-tensão a junta de ligação deverá ser preenchida


com argamassa e esperar que a mesma atinja a resistência necessária de forma
a evitar o seu esmagamento.

Esta ligação apresenta como desvantagens as tolerâncias apertadas de


posicionamento devido às bainhas e o tempo de espera pela resistência da
argamassa de ligação. E como vantagens a facilidade de execução, o fácil
controle de qualidade e o bom desempenho estrutural tanto a nível de
resistência como de ductilidade.

2.3.3 - LIGAÇÃO COM SOLDADURA

A soldadura liga elementos metálicos salientes dos elementos a ligar. Estes


podem ser varões, perfis ou chapas metálicas. Como nos casos anteriores o
pilar pode possuir uma consola curta definitiva, provisória ou perdida.

Figura 2-12 – Ligação soldada [9]

A soldadura pode ser utilizada para a transmissão de todos os esforços de


corte, tracção e compressão. Ou seja a ligação pode depender exclusivamente
das soldaduras.

Este tipo de ligação é de simples dimensionamento, admite elevadas


tolerâncias, permite elevadas resistências e é de rápida execução. Tem como
inconveniente a necessidade de mão-de-obra especializada em obra e a
garantia de qualidade da soldadura devido às condições climatéricas
eventualmente adversas assim como a localização dos cordões de soldadura
eventualmente pouco favoráveis a uma boa execução.

19
2.3.4 - LIGAÇÃO COM APARAFUSAMENTO

Este tipo de ligação é considerada segundo alguns aspectos a ideal para as


estruturas pré-moldadas. Apresenta facilidade de execução, rapidez de
montagem e boas garantias de qualidade. Tem como desvantagem obrigar a
tolerâncias de fabrico e posicionamento relativamente baixas.

No entanto, existem poucas referências a soluções com aparafusamento. A sua


concepção é complicada e pode ser incompatível com condicionantes
geométricos ou arquitectónicos.

Economicamente estas soluções podem obrigar ao uso de materiais e


acessórios com custos elevados.

2.3.5 - LIGAÇÃO MONOLÍTICA

Este tipo de ligação consiste na não existência de ligação viga-pilar sendo as


ligações exclusivamente viga-viga e pilar-pilar.

Figura 2-13 – Ligação monolítica [10]

Apresentam como vantagem transferir a ligação para zonas menos esforçadas


e com menos condicionantes geométricos, permitindo a realização de ligações
mais económicas.

A desvantagem é a dificuldade de execução em fábrica e de transporte, devido


às dimensões dos elementos que necessitam de uma grande área para um
pequeno volume de betão. Havendo vigas nas quatro direcções a sua
fabricação apresenta grandes dificuldades.

20
O tipo de ligação desenvolvido por Proença [11] poderá também ser
enquadrado neste tipo de ligação.

2.4 - NORMAS E RECOMENDAÇÕES

2.4.1 - PORTUGAL

As normas nacionais que interessam às estruturas de betão são o RGEU [12], o


RSA [13] e o REBAP [14].

O RSA – Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e


Pontes estabelece as regras gerais para a verificação da segurança das
estruturas de edifícios e pontes assim como a definição e quantificação das
acções a considerar nessa verificação. Esses critérios podem ser aplicados a
outros tipos de construções, directamente ou com ajustamentos convenientes.
O RSA não tem nenhuma referência explícita às estruturas pré-moldadas.

O REGEU – Regulamento Geral das Edificações Urbanas no seu artigo 17


refere “A aplicação de novos materiais ou processos de construção para os
quais não existam especificações oficiais nem suficiente prática de utilização
será condicionada ao prévio parecer do Laboratório de Engenharia Civil do
Ministério das Obras Públicas.”.

No REBAP – Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado o


comentário ao artigo 1 refere “... Convém chamar a atenção para que as regras
construtivas contidas no regulamento não cobrem de modo exaustivo todos os
tipos de estruturas – quer quanto à sua natureza e tipo de utilização quer
quanto aos processos de construção –, tratando-se apenas as situações mais
correntes na prática; os critérios gerais de dimensionamento são no entanto
plenamente aplicáveis em todos os casos. ...”.

Existem sistemas de construção pré-moldados de betão que foram objecto de


homologação pelo LNEC. Em termos estruturais os documentos de
homologação são essencialmente descritivos e remetem os critérios de
dimensionamento para o RSA e REBAP.

Os documentos de homologação do LNEC [15], [16], [17], [18] para


estruturas de edifícios pré-moldados de betão estão todos caducados e são os
seguintes.

SISTEMA ANO DE HOMOLOGAÇÃO


INDUBEL – IP2 1979
ENGIL EG1 1984
NOVOBRA NK1 1984
NOVOBRA NK2 1981

Os poucos pontos que são objecto de referência particular, no que se refere ao


comportamento estrutural, são o coeficiente de comportamento da estrutura

21
para efeitos de acção sísmica, que no entanto são iguais aos considerados no
REBAP para estruturas de ductilidade normal, e o cálculo do esforço
transverso resistente em vigas compostas por um elemento pré-moldado e
betão complementar moldado em obra com o espessamento da laje, que no
caso do sistema NOVOBRA NK1 é dado por:

ASW
VSd  0,7d fsyd + 0,91bd
s

Em que:

d – altura útil da viga;


ASW – área das secções dos estribos verticais;
s – espaçamento dos estribos;
fsyd – valor de cálculo da tensão de cedência do aço dos estribos;
1 – tensão definida no quadro VI artigo 53 do REBAP;
b – largura da superfície de contacto dos dois betões.

Este valor da resistência é ligeiramente inferior ao considerado pelo REBAP


que é:

ASW
VSd  0,9d fsyd + 1bd
s

A diferença deve-se à consideração de uma redução de resistência ao corte na


junta de betonagem entre o betão pré-moldado e o betão complementar.

A armadura mínima transversal também é modificada passando a ser w0,20,


em oposição ao valor w0,10 proposto no REBAP.

2.4.2 - EUROPA

Neste momento na Comunidade Europeia está em curso a elaboração dos


“Eurocódigos Estruturais”, pretende-se que os mesmos numa primeira fase
sirvam como alternativa às regras em vigor nos vários estados membros e que
as substituam num futuro próximo.

O programa prevê os seguintes Eurocódigos:

EN1991 EC1 Bases do projecto e acções em estruturas


EN1992 EC2 Projecto de estruturas de betão
EN1993 EC3 Projecto de estruturas de aço
EN1994 EC4 Projecto de estruturas mistas aço-betão
EN1995 EC5 Projecto de estruturas de madeira
EN1996 EC6 Projecto de estruturas de alvenaria
EN1997 EC7 Projecto geotécnico
EN1998 EC8 Projecto de estruturas em regiões sísmicas
EN1999 EC9 Projecto de estruturas de liga de alumínio

22
Os Eurocódigos que interessam às estruturas pré-moldadas de betão são o
EC1, o EC2 e o EC8, e, eventualmente, quando se recorre a elementos
metálicos para materializar as ligações o EC3 e o EC4.

2.4.2.1 - EUROCÓDIGO 2

O Eurocódigo 2 aplica-se ao projecto de edifícios e de obras de engenharia


civil de betão simples, de betão armado e de betão pré-esforçado. Ele está
dividido em várias partes.

A Parte 1.1 [19], já publicada como pré-norma, define regras gerais e regras
para edifícios de betão armado e pré-esforçado com inertes de peso normal.

As outras partes do Eurocódigo 2, em preparação ou planeadas são:

Parte 1.2 Estruturas de betão simples ou fracamente armado


Parte 1.3 Estruturas pré-moldadas de betão
Parte 1.4 Utilização de betões leves
Parte 1.5 Utilização de cabos de pré-esforço não aderentes e exteriores
Parte 1.6 Projecto das estruturas de betão armado em relação à fadiga
Parte 2 Pontes de betão armado e pré-esforçado
Parte 3 Fundações e estacas de betão
Parte 4 Reservatórios
Parte 5 Estruturas provisórias, estruturas projectadas para um tempo de
vida reduzido
Parte 6 Estruturas maciças de engenharia civil
Parte 10 Resistência ao fogo

A Parte 1.3 [20] é um complemento da Parte 1.1 para os aspectos particulares


de peças e estruturas pré-moldadas. Essa Parte dá atenção especial às juntas e
ligações entre elementos e trata os betões das classes C55/65 e C60/70 que não
são previstos na Parte 1.1.

De seguida pretende-se enumerar os aspectos particulares previstos para as


estruturas pré-moldadas na Parte 1.3 do EC2:

Bases para dimensionamento

Os coeficientes parciais de segurança relativos às acções podem ser


diminuídos para peças pré-moldadas, em acções transitórias, desde que o
comportamento da estrutura completa na condição definitiva não seja
afectado e seja permitido por documentos apropriadosI.

IO termo documento apropriado não é definido no EC2 devendo ser interpretado


como devidamente justificado, na opinião do autor.

23
Relativamente aos materiais poderão utilizar-se valores de c e s, diferentes
dos especificados na Parte 1.1 em peças pré-moldadas desde que justificados
por métodos de controle adequados ou por documentos apropriados.

No Anexo Informativo 105 da Parte 1.3 são dados os seguintes valores


indicativos para os coeficientes de segurança dos materiais.

 c=1,4 e s=1,1 (combinação fundamental) quando se verifiquem


simultaneamente as seguintes condições:
 Controlo de qualidade em fábrica e monitorização da produção
incluindo as seguintes verificações: Geometria da estrutura
(incluindo secção transversal), localização das armaduras,
propriedades do betão, propriedades do aço das armaduras
ordinárias e de pré-esforço;
 As peças que não cumpram os requisitos de qualidade são
rejeitadas;
 Sistema de garantia de qualidade supervisionado por organismo
certificado;
 50% das tolerâncias definidas na Parte 1.1 do EC2 são
alcançadas.

 c=1,3 e s=1,05 (combinação fundamental) quando para além dos


requisitos anteriores, se verifiquem igualmente as seguintes condições:
 Uma análise estatística é levada a cabo relativamente ao
desempenho de toda a produção contínua de peças idênticas;
 O dimensionamento é baseado nos valores reais das tolerâncias;
 O factor médio de conversão  da resistência de carotes e
amostras padrão é superior a 0,9.

Análise estrutural

O impedimento à deslocação horizontal provocado pelo atrito devido ao peso


de qualquer peça não pode ser considerado em zonas sísmicas.

Os seguintes sistemas estruturais são vulgarmente utilizados para assegurar a


análise global:

 Estruturas reticuladas, compostas por peças lineares (vigas e pilares),


podendo ser de pilares contínuos em consola em edifícios de pequeno
porte ou de pórticos parcialmente ou totalmente contínuos.

 Estruturas de paredes resistentes ou de painéis, caracterizados por


comportamento rígido no plano das paredes e por ligações rotuladas no
plano perpendicular (ligação laje-parede). A estabilidade neste plano é
conseguida por paredes de contraventamento ou por pórticos.

 Estruturas contraventadas, nas quais as vigas e os pilares podem


apresentar ligações rotuladas. A estabilidade às acções horizontais é
garantida por elementos de contraventamento.

24
 Diafragmas rígidos horizontais correspondentes às lajes de pavimento e
de cobertura, utilizadas para transferir as forças horizontais para os
elementos de contraventamento.

 Estruturas celulares ou estruturas pré-moldadas monolíticas.

Figura 2-14 – Sistemas estruturais [20]

Estes e outros sistemas estruturais podem actuar sozinhos ou combinados.

A análise global para as deformações impostas, variações de temperatura e


retracção, pode ser omitida quando as estruturas estejam divididas por meio de
juntas. Nos casos correntes, essa distância não deve exceder 30 metros, no
entanto para as estruturas pré-moldadas de betão a distância entre juntas de
dilatação pode ser superior, uma vez que parte da retracção e fluência já terá
ocorrido aquando da montagem da estrutura.

Podem ser consideradas como monolíticas as ligações que resultem do


enchimento por betonagem em obra e apresentem adequadas disposições

25
construtivas de armaduras, ou resultem de ligações aparafusadas ou soldadas
ou se comportem como contínuas através de ensaios rigorosos, que deverão
ser levados a cabo em condições desfavoráveis de resistência e rigidez. Todas
as outras deverão ser consideradas como rotuladas.

Ligações

As juntas secas só podem ser utilizadas quando o valor médio da tensão no


apoio não exceder 0,4fcd e se dispõe de mão de obra especializada no estaleiro
e em obra.

Nos apoios à compressão devem-se considerar as forças de “Bursting” quando


o modulo de elasticidade do material de apoio Ea> 0,7Ec ou a de “Splitting”
quando Ea<< Ec.

Figura 2-15 – Força de "Bursting" a) Força de “Splitting” b)

No caso de actuação conjunta de esforço axial e transverso este pode ser


desprezado se:

VSd<0,1NSd

Para as ligações à flexão e à tracção refere-se que a continuidade das


armaduras deve ser assegurada e pode ser conseguida por:

 Sobreposição de varões;
 Soldadura de varões ou chapas de aço;
 Armaduras seladas em negativos;
 Armaduras em laço sobrepostas;
 Uniões roscadas;
 Pré-esforço;

26
 Mangas roscadas ou seladas;
 Outros tipos de ligações quando convenientemente justificados.

A tensão de rotura de aderência, que controla o comprimento de amarração


dos varões, fbd pode ser aumentada em 40% desde que se verifique uma das
seguintes condições: recobrimento da armadura com um valor mínimo de 10,
existe significativa pressão transversal ou uma armadura de cintagem
adequada é utilizada.

2.4.2.2 - EUROCÓDIGO 8

O Eurocódigo 8 - Projecto de Estruturas em Regiões Sísmicas está dividido


em várias partes, em preparação ou planeadas, que são:

Parte 1-1 Regras para a caracterização da acção sísmica e sua combinação


com outras acções [21]
Parte 1-2 Regras para edifícios [22]
Parte 1-3 Regras para edifícios de diversos materiais estruturais [23]
Parte 1-4 Regras para reparação e reforço de edifícios existentes
Parte 2 Especificações para pontes
Parte 3 Especificações para torres, mastros e chaminés
Parte 4 Especificações para tanques, silos e condutas
Parte 5 Especificações para fundações, estruturas de retenção de terras e
projecto geotécnico

A parte 1-3 é para ser utilizada em conjunto com as Partes 1-1 e 1-2 e
apresenta disposições para projecto de edifícios de betão, de aço, de madeira e
de alvenaria. Esta parte possui um anexo, Anexo B, que refere aspectos
particulares de projecto de estruturas pré-moldadas de betão.

O EC8 ao contrário do EC1 e do EC2 vem trazer algumas inovações


relevantes à prática corrente de projecto definida pelos regulamentos
actualmente em vigor no nosso país, o RSA e o REBAP.

Quantificação da acção sísmica

No EC8 o sismo é considerado como uma acção de acidente, que de acordo


com o EC1 não é majorada. No entanto, o seu efeito na estrutura deverá
manter-se equivalente ao definido na RSA através do DNA – Documento
Nacional de Aplicação. Este, e outros, pontos poderão sofrer alterações com a
publicação do DNA.

A combinação sísmica é definida da seguinte forma:

Gki + Pk + IAEd + 2EiQki

Gki – Valor característico da acção permanente i;


Pki – Valor característico do pré-esforço;
I – Coeficiente de importância, ver Quadro 2-1;

27
AEd – valor de cálculo da acção sísmica;
2Ei- coeficiente de combinação para o valor quase-permanente da acção
variável i para a combinação sísmica;
Qki – valor característico da acção variável i.

O coeficiente de importância divide os edifícios em quatro categorias.

Categoria Descrição I
Edifícios de importância vital para a protecção civil,
Categoria I Hospitais, quartéis de bombeiros, centrais de energia, 1,4
etc.
Edifícios importantes em termos das consequências
Categoria II associadas ao seu colapso, escolas, igrejas, edifícios 1,2
com grande concentração de pessoas, etc.
Edifícios normais que não pertençam a nenhuma das
Categoria III 1,0
outras categorias.
Edifícios de menor importância para a segurança das
Categoria IV 0,8
pessoas, edifícios agrícolas, etc.
Quadro 2-1 – Coeficiente de importância

Em termos de análise sísmica são permitidos vários métodos: análise dinâmica


linear plana ou tridimensional, análise estática e análise dinâmica não linear. O
tipo de análise está condicionado às condições de regularidade estrutural, ver
Quadro 2-2.

Regularidade Simplificação
Planta Altura Modelo Análise
sim sim plano estática
sim não plano dinâmica
não sim tridimensional dinâmica
não não tridimensional dinâmica
Quadro 2-2 – Análise estrutural

O coeficiente de comportamento é um factor que se destina a corrigir os


resultados de uma análise elástica linear para os que obtêm com uma análise
não linear. Este coeficiente quantifica a capacidade de dissipação de energia
de uma estrutura, e é dado pela seguinte expressão para estruturas de
edifícios de betão:

(2.1) q=qo.kD.kR.kW 1,5

sendo:

q0 – valor base do coeficiente de comportamento, dependente do tipo de


estrutura, ver Quadro 2-3.
kD- factor dependente da classe de ductilidade escolhida, ver Quadro 2-4.
kR – factor dependente da regularidade da estrutura em altura, ver Quadro 2-5.
kW- factor dependente do tipo de rotura das paredes, ver Quadro 2-6.

28
Sistema estrutural q0
Pórtico 5,0
Sistema misto – Pórtico equivalente 5,0
Sistema misto – Parede equivalente Com paredes acopladas 5,0
Sem paredes acopladas 4,5
Sistema em parede Com paredes acopladas 5,0
Sem paredes acopladas 4,0
Sistema em núcleo 3,5
Pêndulo invertido 2,0
Quadro 2-3 – Coeficiente de comportamento de base q0

As estruturas mistas pórtico-parede são designadas por pórtico equivalente


quando mais de 50% das forças horizontais são absorvidas pelos pórticos,
sendo parede equivalente no caso inverso.

As estruturas de parede são classificadas como acopladas quando as vigas que


a elas acopladas são dimensionadas com “adequada” ductilidade, e como não
acopladas no caso contrário.

Considera-se um sistema em núcleo quando a resistência à torção da estrutura


é baixa, e como pêndulo invertido quando mais de 50% da massa está
concentrada no terço superior da estrutura ou quando a dissipação de energia
está concentrada na base de um único elemento da estrutura.

A classe de ductilidade da estrutura corresponde a uma opção inicial de


projecto. Existem três classes: alta (DCH), média (DCM) e baixa (DCL), a
classe DCL corresponde às estruturas de ductilidade normal do REBAP e a
DCM às de ductilidade melhorada.

Classe de ductilidade da estrutura kD


DCH 1,00
DCM 0,75
DCL 0,50
Quadro 2-4 – Factor kD, função da classe de ductilidade

Basicamente na classe DCL o dimensionamento é efectuado de acordo com o


EC2, com alguns requisitos de pormenorização com vista a garantir
ductilidade adequada. À medida que se aumenta a classe de ductilidade,
diminuem os esforços de dimensionamento devido ao sismo e aumenta o nível
dos requisitos de ductilidade, traduzidos basicamente em pormenorização
construtiva.

Regularidade em altura kR
regular 1,0
não regular 0,8
Quadro 2-5 – Factor de regularidade em altura

29
Sistema estrutural kW
Pórtico ou misto equivalente a 1,0
pórtico
Parede, misto equivalente a parede 1
1I
e núcleo 2,5  0,50

Quadro 2-6 – Coeficiente kW

Para os edifícios de estrutura pré-moldada de betão, que se enquadrem nos


seguintes sistemas estruturais: pórtico, parede, mistas pórtico parede,
estruturas celulares, pêndulos invertidos ou edifícios industriais de 1 piso com
vigas simplesmente apoiadas em pilares, o coeficiente de comportamento é
dado por:

(2.2) qp=kp.q

sendo,

q – coeficiente de comportamento da estrutura equivalente em betão moldado


na obra, ver expressão 2.1
kp – coeficiente de redução função da capacidade de dissipação de energia das
ligações, ver Quadro 2-7.

Tipo de ligação kp
Ligações fora das zonas críticas 1,00
Ligações sobredimensionadas ou 0,75
ligações dissipativas
Quadro 2-7 – kp coeficiente de redução

No caso dos edifícios industriais de um piso com vigas simplesmente apoiadas


nos pilares o coeficiente q0 a considerar é 3, ver (eq. 2.1). Estes edifícios
devem ter pelo menos 6 pilares e a ligação viga pilar deve ter espigões ou
cintas.

Nos sistemas estruturais que não se enquadram nos sistemas estruturais


referidos, assim como nos edifícios não regulares quer em altura como em
planta, o coeficiente de comportamento a considerar é:

q= 1,0

hw
I 0  , sendo:
lw

hw – altura total da zona deformável da parede


lw – maior dimensão da sua secção transversal.

30
Quanto aos modelos de cálculo não é efectuada nenhuma referência, pelo que
as regras serão as utilizadas para as estruturas moldadas em obra.

Tal como nas estruturas moldadas em obra também são consideradas as três
classes de ductilidade: DCH, DCM, DCL. No entanto o uso da DCH, alta
ductilidade, está condicionada à realização de um estudo aprofundado.

Dimensionamento dos elementos

Nos edifícios de betão o dimensionamento dos elementos depende da classe


de ductilidade adoptada para a estrutura. No caso da classe de baixa
ductilidade (DCL) os esforços de dimensionamento são obtidos directamente
do cálculo, havendo exigências de pormenorização e de dimensões dos
elementos.

À medida que a classe de ductilidade aumenta as exigências de


pormenorização tornam-se maiores e os esforços de dimensionamento passam
a ser condicionados por critérios de cálculo pela capacidade real (capacity
design), de forma a controlar os locais de rotura.

Os edifícios de estrutura pré-moldada de betão são dimensionados


conforme o tipo de ligação existindo três opções:

1. Ligações fora das zonas críticas  os esforços na ligação são


majorados. Apd= 1,1Ad,
2. Ligações sobredimensionadas (capacity design)  os esforços são
majorados por um factor  dependente da classe de ductilidade.
Apd=.Ad, sendo =2,0 para DCH e DCM e =1,5 para DCL.
3. Ligações dissipativas (Energy dissipating connections)  os esforços
não são majorados mas a ligação têm que cumprir requisitos de
ductilidade.

Para ter em conta as incertezas do modelo e a degradação da resistência da


ligação sujeita a ciclos de carga, a resistência monotónica das ligações,
localizadas nas regiões críticas, deveram ser minoradas pelos seguintes
factores:

(2.3) Rpd= Rd/ (Rd. cycl)

sendo:

Rd – resistência às cargas monotónicas

Rd- factor de segurança que contabiliza as incertezas do modelo, dado por:

Para resistência axial – Rd= 1,20/1,10/1,00 para DCH/DCM/DCL


Para resistência ao corte – Rd= 1,35/1,25/1,10 para DCH/DCM/DCL

31
cycl- factor de segurança que contabiliza a degradação da resistência após
determinados ciclos de carga:

Para resistência axial – cycl= 1,15


Para resistência ao corte – cycl= 1,20 em ligações verticais
cycl= 1+0,15 qp  1,20 em ligações horizontais

No caso da ligação ser através de perfis metálicos ou barras fixados ao betão


com o objectivo de resistir às forças sísmicas deve ser verificada a resistência
a uma história de deformações com um coeficiente de ductilidade de
deslocamento d= (qp+1)2 / 4, em ensaios com 3, 2, ou 1 ciclos de carga
completos para as classes de ductilidade H, M ou L, respectivamente.

Comparação

Nesta secção analisamos a relação entre a resistência a cargas monotónicas e o


valor de cálculo recomendado pelo EC8 para a acção sísmica em estruturas
com diferentes materiais: (i) betão armado, (ii) betão armado pré-moldado e
(iii) estrutura metálica ou mista com comportamento dissipativo.

Nesta análise considerou-se um edifício da categoria III (I=1,0) regular em


planta e em altura (kR=1,0) com estrutura em pórtico, adoptando-se uma classe
de ductilidade baixa (DCL).

Para a estrutura de betão moldada em obra o coeficiente de comportamento e a


acção sísmica de cálculo Sd serão:

q=q0.kD.kR.kW = 5,0  0,5  1,0  1,0 = 2,5

Sd= SE/q= SE/2,5

Para a estrutura pré-moldada de betão:

qp= kp.q= 2,5  0,75 = 1,875

Sd= SE/q= SE/1,875

Para a estrutura metálica ou mista:

u
q= 5 kR = 5  1,2  1,0 = 6,0
1

Sd= SE/q= SE/6

A resistência sísmica, RS, a considerar face à resistência monótónica, RM, será:

Estrutura de betão: RS=RM

32
Estrutura pré-moldada com ligação sobredimensionada:

Resistência ao corte
1,5.RS= RM / (Rd. cycl)  RS= RM / ( 1,51,101,20) = RM / 1,98

Resistência axial
1,5.RS= RM / (Rd. cycl)  RS= RM / ( 1,51,001,15) = RM / 1,725

Estrutura pré-moldada com ligação dissipativa:

Resistência ao corte
RS= RM / (Rd. cycl) = RM / (1,101,20) = RM / 1,32

Resistência axial
RS= RM / (Rd. cycl) = RM / (1,001,15) = RM / 1,15

Estrutura metálica ou mista: RS= 1,20 RM

No quadro seguinte compara-se a relação entre a resistência monótónica da


ligação e o esforço resultante da análise elástica à acção sísmica da estrutura

Tipo de estrutura RM/SE


betão 1 / 2,5= 40%
pré-moldada ligação esforço corte 1,98 / 1,875= 105%
sobredimensionada esforço de 1,725 / 1,875= 92%
axial
ligação dissipativa esforço corte 1,32 / 1,875 = 70%
esforço de 1,15 / 1,875 = 61 %
axial
estrutura metálica ou mista 1,2 / 6,0 = 20%
Quadro 2-8 – Relação RM/SE para diversos tipos de estruturas

No quadro seguinte considera-se a relação entre resistência monótónica face


ao esforço elástico sísmico de diversos tipos de estruturas face às estruturas de
betão moldadas em obra.

Tipo de estrutura (RM/SE)outras / (RM/SE)betão


betão 1,0
pré-moldada ligação esforço 2,6
sobredimensionada corte
esforço 2,3
de axial
ligação dissipativa esforço 1,8
corte
esforço 1,5
de axial
estrutura metálica ou mista 0,5
Quadro 2-9 – Relação (RM/SE)outras / (RM/SE)betão

33
Sobre o EC8 refere-se o estudo de Brito e Gomes [24] em que se compara o
EC8 ao REBAP em termos de consequências práticas de projecto.

Esta análise permitiu-nos concluir que o EC8 preconiza que as estruturas


pré-moldadas, e em particular as suas ligações, devem ser dimensionadas para
esforços 50% a 160% superiores aos de dimensionamento das estruturas de
betão armado moldado em obra. Os esforços de dimensionamento das
estruturas pré-moldadas chegam a ser mais de 5 vezes superiores aos das
estruturas metálicas, também elas pré-moldadas.

Este cenário retira qualquer possibilidade de concorrência das estruturas


pré-moldadas com os restantes tipos estruturais, tendo-se verificado já alguma
reacção da comunidade cientifica e técnica europeia ligada à pré-moldagem de
betão, de que é prova alguns documentos nacionais de aplicação em
preparação e ainda não publicados.

2.4.2.3 - CEB-FIP MODEL CODE 1990

O código modelo CEB-FIP, publicado em 1978 (MC78) teve um grande


impacto nos códigos nacionais de vários países. O REBAP e o EC2 referem-se
ao MC78 indicando que se baseiam nas suas recomendações. É de esperar que
o MC90 [25], que sintetiza os desenvolvimentos técnicos e científicos, desde
1978 até à sua publicação, na segurança, análise e projecto de estruturas de
betão, também venha a ter o mesmo impacto na regulamentação futura.

Muitas das recomendações para o betão pré-moldado patentes no MC90 já


estão incorporadas no EC2, pelo que se fará apenas referência a algumas
particularidades.

Para as fases provisórias no que se refere aos efeitos dinâmicos das acções de
transporte e elevação de peças é referido um coeficiente de 10,2.

Como referido no EC2 a redução dos factores de segurança é permitida desde


que haja controle de qualidade.

As ligações dos elementos devem estar dimensionadas para um momento


torsor acidental dado por:

Tad<VSd L/300

sendo

L – comprimento do elemento
VSd – Esforço transverso na ligação

34
2.4.3 - ESTADOS UNIDOS DA AMÉRICA

O American Concrete Institute publicou em 1993 o documento “Design


Recommendations for Precast Concrete Structures ACI 550R-93” [26]. Este
documento é composto por recomendações de carácter geral, remetendo
questões de pormenor para o “PCI Design Handbook” [27].

O PCI, Precast / Prestressed Concrete Institute, é um organismo americano


para a pré-moldagem em betão. Ele publica o PCI Journal, revista bimensal da
qual se recolheu a maioria dos artigos referenciados neste trabalho, e tem
diversas publicações das quais se destaca o “PCI Design Handbook” [27] e o
“Design and Typical Details of Conections for Precast and Prestressed
Concrete” [9].

2.4.4 - OUTROS

São de referir outras entidades que publicaram e produzem publicações de


interesse para a pré-moldagem de betão.

A Fédération Internationale de la Précontrainte FIP, o Commité


Euro-International du Béton CEB, que recentemente se agruparam no FIB
Fédération International du Béton, além do já referido “Model Code 90” [25]
também produziram outras publicações, referencia-se o “FIP- Planning and
design handbook on precast building structures” [1].

Da Nova Zelândia faz-se referência à publicação “Guidelines for the use of


structural precast concrete in buildings” [10].

2.5 - INVESTIGAÇÃO

É difícil distinguir a investigação em estruturas pré-moldadas de betão da restante


investigação na área das estruturas e materiais uma vez que a pré-moldagem utiliza,
ou pode utilizar, todas as tecnologias disponíveis.

A maior particularidade da pré-moldagem, face aos restantes campos da engenharia


civil, são as suas ligações. No entanto, também elas são concebidas com os materiais e
conceitos desenvolvidos para outras finalidades. Uma ligação não é mais que uma
concepção com base na técnica e materiais disponíveis.

Assim, é difícil encontrar ou distinguir investigação que possa ser classificada como
de estruturas pré-moldadas de betão, pelo que da pesquisa efectuada não se
encontraram muitos trabalhos de investigação que assim se posssam classificar.

2.5.1 - PORTUGAL

Da investigação realizada em Portugal referenciaram-se os seguintes


trabalhos:

35
“Comportamento de Ligações de Estruturas Pré-fabricadas de Betão” [28]
trabalho realizado por Pompeu dos Santos em 1983 como Tese para
especialista do LNEC. Este trabalho pretende avaliar o grau de monolítismo da
ligação viga-pilar, realizada com betonagem em obra do nó e da parte superior
da viga, as armaduras do nó e de continuidade eram colocadas em obra. Foram
estudados diversos modelos. Do estudo experimental o autor constatou que os
elementos estruturais pré-moldados e as suas ligações apresentam
comportamento idêntico aos das estruturas monolíticas de betão armado
moldadas em obra, quando submetidos a acções monótónicas ou repetidas.

“Comportamento Sísmico de Estruturas Pré-fabricadas e Desenvolvimento de


um Sistema Reticulado Contínuo” [11] trabalho realizado por Jorge Proença
em 1996 para Tese de Doutoramento no IST. Neste trabalho desenvolveu-se
um sistema pré-moldado reticulado contínuo, apenas com ligações viga-viga,
fora das zonas críticas do nó viga pilar. A ligação entre peças pré-moldadas é
conseguida através de chapas metálicas soldadas na face superior e inferior das
vigas. Foram ensaiadas duas localizações para a junta da ligação e diferentes
geometrias para as chapas de continuidade. O autor concluiu que o sistema
conduzia a estruturas com elevada capacidade de dissipação de energia em
virtude da elevada ductilidade de rotação das juntas.

“Ligações entre Elementos Pré-fabricados de Betão” [7] trabalho realizado


por António Santos Silva em 1998 para Dissertação de Mestrado no IST. Este
trabalho faz uma síntese dos conhecimentos actuais sobre as exigências e
soluções de ligações entre elementos pré-moldados de betão e a análise de
mecanismos de transmissão de forças nessas ligações.

2.5.2 - PRESSS

O Precast Seismic Structural Systems (PRESSS) Research Program é um


programa de investigação a decorrer nos Estados Unidos da América desde há
10 anos. O programa de investigação tem dois objectivos fundamentais:

 desenvolver recomendações de projecto baseadas em investigação


teórica e experimental que aumentem a viabilidade das estruturas
pré-moldadas em zonas sísmicas;
 desenvolver novos materiais, conceitos e tecnologias para estruturas
pré-moldadas em zonas sísmicas.

O âmbito do programa é o comportamento sísmico de edifícios em que a parte


principal da estrutura é constituída por elementos pré-moldados. O programa
de investigação foi dividido em três fases.

A Fase I consistiu em cinco projectos, que estão resumidos por Priestley em


[29].

36
Desenvolvimento de Concepção [30] (Concept Development) para o
desenvolvimento e avaliação de novas concepções de estruturas sísmicas para
edifícios de baixa e média altura.

Classificação e modelação de ligações [31], [32] (Connections Classification


and Modeling) para a pesquisa dos estudos experimentais existentes sobre
ligações e no desenvolvimento de um sistema de classificação das ligações
baseado no seu tipo e função.

Desenvolvimento de uma plataforma analítica (PRESSS Analytical Platform


Developement) para a adaptação de software de análise de estruturas sujeitas a
acções sísmicas às particularidades das estruturas pré-moldadas.

Recomendações de projecto preliminares [33] (Preliminary Design


Recommendations) para a criação de recomendações de projecto para os
códigos sísmicos, tanto para ligações fortes como dúcteis, com base no
conhecimento existente.

Coordenação (Coordination) para a coordenação dos programas de


investigação.

A Fase II visou o estudo analítico e experimental de sistemas de ligações


dúcteis e o desenvolvimento de um método de cálculo sísmico para estruturas
pré-moldadas [34].

F F

(a) Linear Elástico (LE) (b) Não- Linear Elástico (NLE)

F F

(c) Cedência emTracção e Compressão (TCY) (d) Combinado (NLE + TCY)


Cedência em Corte (SY)

F F

(e) Rígido Plástico (f) Combinado (LE + CF)


(Fricção de Coulomb CF)

Figura 2-16 – Características histéricas das ligações genéricas consideradas no PRESSS


( – coeficiente de amortecimento equivalente) [34]

37
Com o objectivo de viabilizar o uso de certas ligações em estruturas sísmicas,
independentemente da sua relação custo eficácia, foram estudadas ligações
com os seguintes comportamentos típicos: comportamento elástico linear,
comportamento elástico não linear, cedência à compressão e tracção,
combinado cedência + elástico não linear, rígido-plástico e combinado
rígido-plástico + elástico linear, ver Figura 2-16.

O desenvolvimento de um método de cálculo sísmico para estruturas pré-


moldadas com ligações dúcteis, justifica-se pelo facto de o seu comportamento
ser significativamente diferente do comportamento das estruturas de betão ou
do das estruturas metálicas em que se baseiam os códigos estruturais.

A fase II é constituída pelos seguintes projectos de investigação.

Ligações Dúcteis para Pórticos (Parte I) (Ductile Connections for Precast


Concrete Frame Systems Part I) para o desenvolvimento e ensaio de duas
ligações que simulassem os comportamentos tipo (b) e (c) (ver Figura 2-16).

38
Figura 2-17 – Ligação tipo (b) comportamento elástico não linear NLE [34]

500
400
300
200

100
0
-100
-200

-300
-400
-500
-40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50 60 70

Figura 2-18 – Resultados experimentais da ligação anterior (b) [34]

39
Figura 2-19 – Ligação tipo (c) comportamento com cedência em compressão e tracção [34]

200

150

100

50

-50

-100

-150

-200
-8 -6 -4 -2 0 2 4 6 8 10

Figura 2-20 – Resultados experimentais da ligação anterior [34]

40
Ligações Dúcteis para Pórticos (Parte II) (Ductile Connections for Precast
Concrete Frame Systems, Part II) para o desenvolvimento e ensaio de três
ligações com o comportamento tipo (b)I, (c)I e (e) (ver Figura 2-16).

Figura 2-21– Ligação tipo (c) comportamento não linear elástico


com viga pré-tensionada [34]

150

100

50

-50

-100

-150
-6 -4 -2 0 2 4 6

Figura 2-22– Resultados experimentais da ligação anterior [34]

I Nas ligações experimentais do tipo (b) e (c) pretendeu-se desenvolver o


mesmo tipo de ligações genéricas que o projecto anterior mas com uma
concepção diferente.

41
Figura 2-23 –Ligação tipo (e) comportamento rígido plástico [34]

150

100

50

-50

-100

-150
-4 -3 -2 -1 0 1 2 3 4

Figura 2-24 –Resultados experimentais da ligação anterior [34]

Além destes dois projectos sobre ligações foram desenvolvidos trabalhos no


NIST (National Institute of Standards and Technology) [35], [36], [37], [38]
sobre o mesmo tipo de ligações.

42
Comportamento Sísmico de um Edifício de Seis Pisos Sujeito a um Sismo
Moderado (Behaviour of a Six-storey Office Building Subjected to Moderate
Seismicity) que consistiu em dois trabalhos experimentais um de uma
estrutura em pórtico e o outro de uma estrutura de paredes resistentes, ambos
com as ligações tipo referidas.

Avaliação da Resposta Sísmica das Estruturas Pré-moldadas em Diferentes


Zonas Sísmicas e Diferentes Tipos de Solos (Seismic Response Evaluation of
Precast Structural Seismic Zones and Site Characteristics) para o estudo
analítico de estruturas com as ligações tipo referidas.

Resposta Dinâmica de Pórticos Pré-moldados de Betão (Dynamic Response


of Precast Concrete Frames) que consistiu no ensaio em mesa sísmica de
modelos à escala reduzida de estruturas de edifícios com seis pisos.

Figura 2-25 – Ensaio em mesa sísmica [34]

Pórticos Pré-moldados Ligados com Cordões de Pós-esforçados Sem Bainha


(Precast frames connected with unbonded post-tensioning) para o estudo do
comportamento de ligações secas pré-esforçadas [39], [40].

Ligações Dissipativas com FRC (High Performance Fiber Reinforced


Concrete (FRC) Energy Absorving Joints for Precast Concrete Frames) para a
determinação da capacidade de absorção de energia em flexão de ligações
com FRC [41].

43
Recomendações de Projecto (Codified Design Provisions for PRESS) em que
se desenvolveram regras de projecto para incorporação no NEHRP–
Recommended Provisions for Seismic Regulations for New Buildings.

Comportamento Sísmico e Dimensionamento da Painéis em Duplo T (Seismic


Behaviour and Design of Double Tee Panel Precast Systems).

Coordenação do PRESSS e Dimensionamento Sísmico com Base em


Deslocamentos (PRESSS Coordination – Displacement-based design
Procedures).

Figura 2-26 – Fluxograma do Displacement-Base Design [42]

Sobre o método de dimensionamento sísmico desenvolvido referem-se as


publicações [43] e [44].

A Fase III [42] e [45], a final, ainda a decorrer, está divida no estudo de
estruturas em pórtico e em parede. Para cada tipo de estrutura serão efectuados
os seguintes estudos: estudos de concepção, estudos analíticos e o teste e

44
montagem de um edifício em grande escala sendo concluídos por um trabalho
com vista a recomendações finais de projecto.

Figura 2-27 – Ensaio sísmico realizado em Figura 2-28 – Ligação Precast Hibrid
Agosto de 1999, imagem obtida no URLI Moment Resistant Frame, imagem obtida no
URLII
Do trabalho de investigação desenvolvido já foram criados sistemas de ligação
com utilização comercial, nomeadamente (i) o Dywidag Ductile Connector,
ver Figura 2-29, utilizado entre outras na estrutura do Wiltern Center Parking
em Los Angeles, sobre essa estrutura e sistema de ligação referenciam-se os
trabalhos [46] e [47]; e o (ii) PHMRF – Precast Hibrid Moment Resistant
Frame, ver Figura 2-28.

Figura 2-29– Dywidag Ductile Connector,


imagem obtida no URLIII

I http://www.soe.ucsd.edu/images/5story_bldg_hires3by4.jpg
II http://www.pankow.com/phmrf.html
III http://www.dywidag-systems.com/images/ductile.jpg

45
Dos trabalhos que eram referenciados pelos artigos do PRESSS, mas que não
faziam parte do programa de investigação destacam-se os seguintes [48], [49]
e [50].

2.5.3 - OUTROS

No Japão foi desenvolvido um sistema de ligação viga-pilar [51] com base em


anéis para ancoragem aparafusada das armaduras das vigas, com mostra a
Figura 2-30. Os resultados experimentais estão na Figura 2-31.

Figura 2-30 – Pormenor da ligação [51]

46
Figura 2-31 – Resultados experimentais [51]

Em Israel [52] foi desenvolvido um trabalho experimental, ver Figura 2-32,


cujo objectivo era aplicar os conceitos das ligações aparafusadas em estruturas
metálicas numa ligação viga-pilar para estruturas pré-moldadas de betão.
Foram experimentados dois conceitos das ligações metálicas do AISC
(American Institute of Steel Construction), rígida e semi-rígida.

Figura 2-32 – Ligação estudada [52]

Os resultados obtidos mostram uma boa ductilidade para ambos os tipos de


ligações, ver Figura 2-33.

47
Figura 2-33 – Resultados experimentais da ligação rígida [52]

Na Formosa [53] efectuou-se um estudo comparativo do comportamento do nó


viga-pilar em estruturas pré-moldadas e moldadas em obra. Na estrutura
pré-moldada a ligação era conseguida através da betonagem do nó em obra.

Os resultados experimentais mostram que ambas as ligações tinham


comportamento semelhante.

Figura 2-34 – Comportamento da ligação dos Figura 2-35 – Comportamento da ligação


elementos pré-moldados [53] monolítica [53]

Na Austrália [54] investigaram-se experimentalmente dois tipos de ligações de


elementos pré-moldados e uma ligação monolítica para comparar os
resultados. O estudo demonstrou que um bom comportamento à flexão da
ligação dos elementos pré-moldados e uma ductilidade e capacidade de
dissipação de energia superior à da ligação monolítica.

48
Figura 2-36 – Ligação de elementos pré-moldados tipo A [54]

Figura 2-37 – Ligação de elementos pré-moldados tipo B [54]

Ochs e Ehsani [55] estudaram cinco ligações diferentes com o objectivo de


comparar o seu comportamento: uma ligação monolítica com a rótula plástica
recolocada, e dois tipos de ligações de elementos pré-moldados em que para
cada uma se dimensionaram dois exemplares com diferentes localizações da
rotula plástica, à face do pilar ou recolocada. O estudo demonstrou que as
ligações dos elementos pré-moldados estudadas apresentavam um
comportamento similar ao das ligações monolíticas.

49
Figura 2-38 – Sistema de ensaio [55]

French e outros [56] ensaiaram sete ligações viga-pilar correspondentes a sete


concepções com tecnologias diferentes. Concluíram que as ligações com
emendas mecânicas aparafusadas de varões parecem as mais promissoras para
as regiões de elevado e moderado risco sísmico. Essas ligações são fáceis de
fabricar e emulam bem o comportamento das estruturas monolíticas de betão
armado.

CORTE A-A

Varões Roscados

Figura 2-39 – Ligação com emendas mecânicas [56]

50
2.6 - MERCADO PORTUGUÊS

Em Portugal existem diversas empresas de pré-moldagem de betão que já executaram


estruturas com ligação contínua viga-pilar. Pretende-se nesta secção apresentar
algumas das soluções já tenham sido objecto de aplicação prática por parte das
empresas a operar em Portugal.

2.6.1 - PAVICENTRO

A Pavicentro, materiais pré-fabricados, Lda. tem um sistema de construção de


edifícios para habitação em altura denominado SISTEMA PK em que a ligação
viga-pilar é realizada através de armaduras de continuidade montadas em obra
e com betonagem complementar da viga e do nó.

Figura 2-40– Ligação Viga-Pilar do SISTEMA PK [57]

Esta ligação é do tipo emulativo, pretende simular o comportamento das


estruturas monolíticas, o seu comportamento enquadra-se nas ligações
estudadas por Park [48].

2.6.2 - CASTELO

A empresa Pré-fabricados Castelo, Lda. utiliza um sistema denominado de


“Pilar Interrompido”, que consiste em as vigas e os pilares serem vazados na
zona do nó onde posteriormente são colocadas as armaduras superiores e
inferiores e o betão complementar.

51
Figura 2-41 – Ligação Viga-Pilar utilizada pelos PRÉ-FABRICADOS CASTELO [58]

Este sistema é emulativo das estruturas monolíticas e, segundo os fabricantes,


apresenta o mesmo tipo de comportamento.

2.6.3 - MAPREL.

A MAPREL, empresa de pavimentos e materiais pré-fabricados, Lda.


executou uma estrutura projectada pela AFA–Consultores de Engenharia, Lda.
em que a ligação consiste num cachorro metálico em U onde apoia a viga
através de um tubo metálico. Estes elementos são soldados e garantem a
transmissão do esforço transverso e eventuais tracções devidas a momentos
positivos no apoio.

A zona superior é betonada em obra e os varões são soldados a uma chapa


metálica previamente soldada ao pilar que por sua vez tem uma chapa no seu
interior.

Esta ligação garante a continuidade de momentos, sendo apenas betonado em


obra a zona superior das lajes e das vigas.

52
Figura 2-42 – Pormenor do cachorro [59]

Figura 2-43 – Ligação dos varões superioresI

I Foto gentilmente cedida pelo Eng.º Luís Filipe Loureiro

53
2.6.4 - CONCREMAT.

A CONCREMAT, S.A. utilizou uma ligação projectada pela VERSOR, LDA.


onde a continuidade das armaduras superiores é efectuada com recurso a
uniões mecânicas dos varões e a inferior por soldadura, sendo posteriormente
efectuada uma betonagem em obra da ligação das armaduras superiores e
selagem com argamassa da ligação das armaduras inferiores.

Figura 2-44 – Pormenor das emendas mecânicas Figura 2-45 – Pormenor ligação
VERSOR-CONCREMAT

Esta ligação também é emulativa, distingue-se das anteriores por necessitar de


preencher a junta com calda de cimento e de não haver betonagem no pilar que
é totalmente pré-moldado.

54
3 - SISTEMA DE LIGAÇÃO DESENVOLVIDO

3.1 - MOTIVAÇÃO

Como referido em 2.2.7 as estruturas pré-moldadas de betão deverão aumentar o seu


peso na indústria da construção, no entanto existem ainda preconceitos quanto à
performance estrutural deste tipo de soluções sendo as ligações o ponto crítico. A
ligação contínua viga-pilar é a mais referenciada por ser a mais decisiva para a
performance estrutural e para a economia da solução.

Nas estruturas reticuladas pré-moldadas, devido ao modo de funcionamento das lajes


pré-moldadas, apenas existe necessidade de pórticos resistentes às cargas verticais
numa das direcções. Na direcção perpendicular, os pórticos apenas terão que resistir,
para além de pequenas cargas permanentes, às cargas horizontais.

As normas modernas para concepção sísmica, nomeadamente o EC8, impõem que os


pilares sejam dimensionados segundo os princípios do “capacity design”, ou seja pilar
forte / viga fraca. Este tipo de concepção garante que toda a deformação plástica da
estrutura se concentra nas vigas e na ligação dos pilares à fundação. As zonas de
deformação plástica designam-se de zonas críticas.

SIM NÃO
DEFORMAÇÃO PLÁSTICA DEFORMAÇÃO PLÁSTICA
NAS VIGAS NOS PILARES
"CAPACITY DESIGN"

Figura 3-1 – Capacity Design

Neste contexto a ligação viga-pilar pode ser concebida de forma a estar localizada
dentro ou fora das zonas críticas; estando nas zonas críticas podem ser dissipativas ou
não dissipativas.

55
A ligação contínua viga-pilar a desenvolver tem como objectivo:

- Em termos de função ter flexibilidade para ser utilizada em pórticos


concebidos para resistir a cargas gravíticas e horizontais ou apenas
para resistir a cargas horizontais.
- Em termos de performance sísmica ser classificada como ligação
dissipativa e ter uma performance no mínimo equivalente às estruturas
de betão de ductilidade normal, segundo o REBAP, ou de baixa
ductilidade, segundo o EC8.
- Em termos construtivos seguir os princípios da simplicidade
enunciados em 2.2.2
- Ter um dimensionamento simples, o mais próximo possível das
estruturas moldadas em obra, de forma a ser acessível a todos os
projectistas.
- Ser economicamente competitiva com as soluções moldadas em obra
assim como com as restantes soluções pré-moldadas.
- Credibilizar a performance estrutural das estruturas pré-moldadas.

3.2 - SISTEMA DE LIGAÇÃO VIGA-PILAR

No sistema de ligação desenvolvido a continuidade é conseguida nas armaduras


através de emendas mecânicas para ligação das armaduras de continuidade e no betão
por injecção da junta com calda de cimento.

armadura
superior com
emendas mecânicas continuidade

emendas bainha para janelas para


armadura armadura
mecânicas injectar com manuseamento
inferior sem inferior com
calda da armadura
continuidade continuidade

Figura 3-2 – Ligação viga-pilar em vigas rectangulares com betonagem complementar

As soluções para a continuidade dos varões diferem conforme se trata da armadura


superior ou inferior. A armadura superior é colocada em obra sendo a viga
posteriormente completada na operação de betonagem complementar do pavimento,
não havendo assim um aumento de operações e sendo a espessura da camada
complementar do pavimento aproveitada para incrementar a altura útil da viga. A
armadura inferior é colocada num negativo realizado por uma bainha de pré-esforço,
que viabiliza a operação de ligação do varão à emenda mecânica, sendo a bainha
posteriormente injectada com calda de cimento.

56
armadura
superior com
emendas mecânicas continuidade

emendas bainha para injectar


armadura armadura
mecânicas com calda
inferior sem inferior com
continuidade continuidade

Figura 3-3 – Ligação viga-pilar em vigas em T com espessamento no apoio e betonagem


complementar

Na Figura 3-2 está esquematizado o sistema de ligação viga pilar com vigas de secção
rectangular com betonagem complementar. Neste sistema são previstas janelas para
manuseamento da armadura inferior da viga, que podem ser dispensadas em vigas
com geometrias diferentes. Na Figura 3-3 ilustra-se o sistema com vigas em T com
espessamento no apoio, geometria muito comum nas vigas pré-moldadas, em que as
janelas puderam ser dispensadas sendo a armadura manuseada na extremidade final
do espessamento. Nos casos em que não se pretende uma betonagem complementar
na viga a continuidade da armadura superior poderá ser conseguida com o mesmo
sistema adoptado para a armadura inferior, ver Figura 3-4.

janelas para armadura


manuseamento superior com
emendas continuidade
da armadura
mecânicas

emendas bainha para injectar


armadura armadura
mecânicas com calda
inferior sem inferior com
continuidade continuidade

Figura 3-4 – Ligação viga-pilar em vigas em T com espessamento no apoio e sem betonagem
complementar

57
3.3 - SOLUÇÕES TECNOLÓGICAS

3.3.1 - EMENDAS DE VARÕES

Os sistemas de emenda são em geral constituídos por um acessório tubular que


garante a continuidade podendo ser ligado aos varões por rosca, prensagem,
soldadura, injecção de grout ou a combinação de qualquer dos anteriores
sistemas.

Figura 3-5 – Emenda por prensagemI

Figura 3-6 – Emenda com Figura 3-7 – Emenda com Figura 3-8 – Emenda com rosca
groutII soldadura

Os sistemas de rosca dividem-se em macho-fêmea e macho-fêmea-macho, nos


sistemas macho-fêmea a fêmea é ligada ao varão em fábrica através de
prensagem. As duas tecnologias para execução da rosca no varão mais comuns
são: a compressão e moldagem, em que o varão ao ser comprimido aumenta
de secção sendo moldada a rosca, ver Figura 3-12, com este sistema não existe
perda de secção nem de resistência do varão; na outra tecnologia a rosca é
executada por desbaste do varão, ver Figura 3-13, existindo perda de secção e
de resistência do varão. Existe outro sistema em que o próprio varão é roscado
ao longo de todo o seu comprimento, ver Figura 3-11.

I Imagem gentilmente cedida por Ancon CCL


II Imagem gentilmente cedida por ERICO

58
Figura 3-9 – Macho-fêmea Figura 3-10 – Macho-fêmea-macho

A tecnologia de roscagem por compressão e moldagem exige equipamentos


muito dispendiosos, que apenas se justificam em fábrica ou estaleiro para
grandes volumes de produção. Quando não é o caso, a armadura será
encomendada ao fornecedor com as quantidades e dimensões pretendidas o
que apesar de económico exige um esforço de preparação de obra elevado.
Este sistema é indicado para obras com grandes quantidades ou elevada
preparação.

Figura 3-11 – Varão Figura 3-12 – Rosca por Figura 3-13 – Rosca por desbaste
roscado em todo o compressão e moldagem
comprimento

Na tecnologia de roscagem por desbaste a rosca pode ser efectuada com


equipamento portátil permitindo uma elevada flexibilidade de utilização. Das
consultas ao mercado verificou-se que os sistemas representados em Portugal
alugam o equipamento de roscagem por valores que poderão comprometer a
competitividade da solução. Assim, caso o equipamento esteja sujeito a
utilização intensiva o sistema é competitivo, caso contrário, por exemplo uma
utilização a 25% da capacidade, os custos por rosca serão muito elevados
comprometendo a competitividade. Resumindo, o custo do sistema depende da
boa gestão de obra, ou seja os custos são mal definidos pelo que na adopção
deste sistema existem riscos nos custos.

Os varões roscados em todo o comprimento são fornecidos de fábrica com


essa configuração, o processo de fabrico é equivalente ao dos varões normais
tendo as nervuras sido concebidas para cumprirem a função de rosca. Estes
varões são vendidos por um valor superior ao dos varões normais,
aproximadamente o dobro, e o custo da união é competitivo. O sistema não
exige preparação de obra especial porque o varão é fornecido com 12 m de
comprimento podendo ser cortado em obra pelos processos tradicionais. O
sistema de rosca com passo largo aceita boas tolerâncias de manuseamento e é
pouco sensível a impurezas. Em termos de custos eles são bem definidos
existindo poucos riscos económicos.

59
Em termos de resistência mecânica todos os sistemas apresentam boas
performances sendo a rotura para cargas estáticas pelo varão e não pela união,
com excepção do sistema de rosca por desbaste. No sistema de varão roscado
em todo o comprimento devem ser colocadas contra-porcas para cargas
dinâmicas, devido às folgas derivadas do passo largo.

Existem no entanto duas dúvidas:

 Deverão os sistemas de emenda ter capacidade de resistir a cargas


dinâmicas para serem adoptados em ligações sujeitas à acção sísmica?
 O facto da rotura final ser na união deverá inibir a sua utilização numa
ligação sísmica ou apenas condicionar o coeficiente de comportamento
em função da real ductilidade da ligação?

3.3.2 - BAINHAS

Durante a fase construtiva, para unir as armaduras da viga às do pilar, a


armadura da viga tem que ter liberdade de rotação e translação, conforme
indicado na Figura 3-14. Para garantir essa liberdade cria-se uma abertura na
viga ao longo do comprimento do varão que posteriormente será selada
criando assim a continuidade das peças.

Figura 3-14 – Movimentos com liberdade no varão

A abertura pode ser criada com recurso a moldes perdidos ou recuperáveis. Os


recuperáveis têm a vantagem de poupar material mas aumentam o trabalho em
fábrica e não oferecem as mesmas garantias de qualidade porque o
posicionamento do negativo é difícil de garantir e a desmoldagem é uma
operação crítica, caso seja feita muito cedo a forma poderá não ser garantida,

60
caso seja tarde demais a recuperação do molde poderá ser impossível. O molde
perdido pode ser de qualquer material que garanta a forma e a aderência. Entre
as opções existentes no mercado as bainhas dos sistemas de pré-esforço
revelaram-se a melhor opção, pois são concebidas para cumprir essas funções
sendo também económicas e fáceis de obter.

As bainhas de pré-esforço são flexíveis não garantindo rigidez suficiente


durante a fase de betonagem, pelo que se recomenda a colocação de varões
construtivos adjacentes à bainha por forma a impedir que esta se deforme. A
bainha deverá ser bem ligada à armadura de forma a garantir o seu correcto
posicionamento. O diâmetro interior da bainha deve ser dimensionado de
forma a garantir o recobrimento da armadura e as tolerâncias de
posicionamento pretendidas.

3.3.3 - CALDA DE CIMENTO

A calda de cimento tem como função estrutural garantir a amarração das


armaduras e resistir às compressões existentes na ligação viga-pilar. A calda
tem também como função preencher as aberturas deixadas para executar a
ligação, cumprindo assim funções estéticas e de garantia de durabilidade.

Em termos de características a calda deverá ter uma resistência à compressão


superior à do betão prescrito, a sua retracção deve ser controlada de forma a
eliminar possíveis fendilhações e deve ter boas características de resistência ao
fogo.

A velocidade de presa nos casos em que existe uma consola curta definitiva
não é um parâmetro crítico, no entanto, quando a mesma for provisória, dessa
característica dependerá a retirada do apoio.

Na operação de injecção as características mais importantes da calda são a sua


“pot-life” e viscosidade, uma “pot-life” baixa torna a operação crítica,
podendo eventualmente levar a reparações caso haja presa antes do fim da
operação. A baixa viscosidade facilita o correcto preenchimento de todos os
vazios e diminui a quantidade de pontos necessários para a injecção. Para
permitir a saída do ar e a inspecção visual do correcto preenchimento devem
ser colocadas purgas em todos os pontos de cotas extremas, sendo as mais
baixas para injecção.

3.3.4 - BETONAGEM COMPLEMENTAR

Os pavimentos pré-moldados em zonas sísmicas devem ser eficientemente


ligados entre si, às vigas, pilares e paredes resistentes de forma a poderem
transmitir as forças de inércia geradas pelos sismos.

Essa ligação é conseguida através da adição de uma camada de betão armado


com pelo menos 5 cm sobre os pavimentos pré-moldados, designada de
betonagem complementar ou “topping”.

61
Para garantir uma boa ligação da camada de betão complementar à viga devem
seguir-se os seguintes procedimentos:

 Introdução de rugosidades na superfície superior da viga;


 Remoção de sujidade e pó de toda a superfície;
 Saturação da superfície com água, durante pelo menos 6 horas antes da
aplicação do betão complementar, a água livre deve ser removida.

Quando se pretenda dispensar a betonagem complementar deve-se


dimensionar convenientemente as ligações entre elementos. Menegotto e
colaboradores [60] desenvolveram trabalho nessa área que se recomenda.

62
4 - PROGRAMA EXPERIMENTAL

O programa experimental do trabalho tem como objectivo caracterizar o


comportamento da ligação e de todos os materiais envolvidos que possam condicionar
o seu comportamento.

Nas secções seguintes apresentam-se os materiais utilizados no ensaio realizado, é


descrito o modelo e o seu processo de execução, a instrumentação e o sistema de
ensaio.

4.1 - MATERIAIS

4.1.1 - BETÃO

As betonagens foram executadas em duas fases distintas, a primeira


corresponde à betonagem do pilar e viga pré-moldados e a segunda à
betonagem complementar da viga.

A primeira foi efectuada no dia 7/6/2000 para a qual foram necessárias 3


amassaduras (A, B e C), a segunda betonagem foi efectuada no dia 19/6/2000
a que correspondeu apenas uma amassadura (D).

Figura 4-1 – Equipamento de ensaio dos provetes de betão

63
O betão de ambas as fases tem a seguinte composição por m3:

Brita 1 (5 a 15 mm) 1045 kg


Areia 806 kg
Cimento 378 kg
Água 170 l

Utilizou-se Cimento Portland composto Tipo II classe 32.5

Para cada amassadura foi medido o slump e recolhidos 6 provetes cúbicos de


151515 cm, na amassadura do dia 19/6/2000 foram recolhidos 9 provetes.
Os provetes foram ensaiados à compressão no dia 27/9/2000, o ensaio seguiu a
especificação do LNEC E226-1968 [61].

Na Figura 4-1 está o equipamento de ensaio existente no LERM, Laboratório


de Estruturas e Resistência de Materiais do IST.

4.1.2 - CALDA DE CIMENTO

A calda de cimento tem a seguinte composição para 68 litros de calda: 100 kg


de cimento, 6 kg de aditivo e 34 litros de água.

O aditivo utilizado foi o Flowcable da Bettor-MBT, que gentilmente o


ofereceu, e a sua principal função é anular a retracção.

Figura 4-2 – Equipamento de ensaio dos provetes de argamassa

A operação de injecção da argamassa foi efectuada no 5/7/2000 tendo sido


recolhidos 6 provetes para ensaio à flexão e compressão que se realizou no dia

64
27/9/2000. Na Figura 4-2 mostra-se o equipamento de ensaio existente no
LERM. O ensaio seguiu a especificação do LNEC E29-1979 [62].

4.1.3 - AÇO

Os aços utilizados no trabalho experimental foram o A500NR em todas as


armaduras sem continuidade na ligação e varões Gewi da Dywidag nas
armaduras de continuidade. Os varões e ligações do sistema Gewi foram
gentilmente oferecidos pela Dywidag.

Figura 4-3 – Equipamento de ensaio dos provetes de aço

Foram recolhidos 3 provetes de varões Gewi, para ensaiar à tracção. O ensaio


seguiu a norma nacional NP-105 [63]. Em termos de comprimento do provete,
optou-se por um provete de comprimento médio (k=8,16), segundo a norma
referida. Procedeu-se, também ao ensaio de 3 provetes do sistema de ligação
dos varões, tendo-se optado por um comprimento igual ao dos varões de forma
a facilitar a comparação dos resultados. Na Figura 4-3 mostra-se o
equipamento de ensaio existente no LERM.

65
4.2 - CARACTERÍSTICAS DO MODELO

4.2.1 - CONDICIONANTES

As características do modelo a ensaiar foram condicionadas pelas


características e dimensões do equipamento de ensaio disponível LERM, pelo
coeficiente de vão de corte e outras características adimensionais adoptadas.

Em termos de equipamento de ensaio os condicionantes principais foram a


capacidade da célula de carga, 500 kN em ambas as direcções (tracção e
compressão), o curso do actuador, 400 mm, e o equipamento de ensaio dos
varões que para o aço da classe A500 apenas tem capacidade de levar à rotura
varões com um diâmetro até 20 mm.

O coeficiente de vão de corte “shear span ratio” (Lc/h) é definido pela relação
entre o momento, o esforço transverso e a altura da viga, da seguinte forma:

Lc M
h = Vh

É o parâmetro que melhor define o comportamento de um elemento irá


apresentar na rotura, pelo que deverá ser definido conforme o objectivo do
programa experimental. De acordo com o documento [64] num modelo com
Lc/h4 o comportamento é claramente dominado pela flexão, enquanto que
para valores inferiores a 2,5 é o esforço transverso que comanda o
comportamento e a rotura. Refere-se também que quanto maior for o vão de
corte maior será a ductilidade apresentada pelo modelo.

Tendo em conta que numa viga com uma distribuição de esforços típicos da
acção sísmica a relação M/V no apoio é da ordem de:

M L
V=2

e numa viga bi-encastrada com carga uniformemente distribuída:

M L
V=6

sendo L o vão total da viga. Admitindo como esbelteza típica das vigas a
relação,

L
h = 10

66
então o coeficiente de vão de corte representativo das vigas em pórticos
sísmicos será:

M M 1 L 10
Vh = V h = 2 L = 5

e em pórticos sujeitos apenas a cargas gravíticas:

M M 1 L 10
Vh = V h = 6 L = 1,67

Pretendendo-se ensaiar o comportamento à flexão da ligação representativa de


pórticos com funções sísmicas e gravíticas optou-se por um vão de corte para
o ensaio de Lc= 3h.

Relativamente às características adimensionais pretende-se que as mesmas


sejam representativas das realidades construtivas, tendo-se adoptado pelas
seguintes relações:
 Geometricamente uma relação de altura/largura h/b=2.
 Percentagem de armadura total =1,5%.
 =0,5, sendo a área de armadura inferior metade da superior.

O REBAP [14] estipula uma percentagem máxima de armadura de 4%, sendo


o valor máximo corrente, não contabilizando as zonas de emenda, 2%,
considera-se portanto 1,5% é um valor representativo e que deverá condicionar
os resultados experimentais uma vez que a percentagem de armadura é um dos
principais parâmetros que condicionam a ductilidade, quanto maior a
percentagem de armadura menor será a ductilidade.

A relação entre a armadura inferior e superior corresponde ao valor mínimo


estipulado no EC8, é um valor comum e poderá condicionar os resultados
experimentais devido à inexistência de simetria. Verificou-se que na grande
maioria dos trabalhos experimentais as armaduras são simétricas (=1), no
entanto essa configuração apenas é representativa de ligações em pórticos com
funções exclusivamente sísmicas, em que os momentos máximos positivos e
negativos têm valor idêntico. Neste modelo maximizou-se a assimetria da
armadura para o valor limite do EC8.

Com base nos parâmetros e condicionantes descritos concebeu-se o modelo a


ensaiar que se descreve nos pontos seguintes.

67
4.2.2 - GEOMETRIA

Geometricamente o modelo é constituído por uma pilar e uma viga apoiada na


consola curta do pilar. O pilar tem um desenvolvimento total em altura de
2,43 m e a viga um desenvolvimento de 1,80 m, na Figura 4-4 o modelo está
representado com o pilar na vertical, no entanto, por condicionantes
geométricos do sistema de ensaio, o modelo foi ensaiado com o pilar deitado e
a viga na vertical.

PILAR

VIGA

Figura 4-4 – Geometria geral do modelo, dimensões em m

Para a constituição do modelo final os elementos foram inicialmente


pré-moldados e posteriormente colocados em posição e ligados. O pilar
pré-moldado, Figura 4-5, tem uma secção rectangular com 0,300,70 m, um
desenvolvimento de 2,43 m e uma consola curta para apoio da viga.

68
CORTE
TRANSVERSAL

ALÇADO

Figura 4-5 – Geometria do pilar pré-moldado, dimensões em m

A viga, Figura 4-6, é parcialmente pré-moldada sendo a zona a tracejado, os


12 cm superiores, completada após a colocação dos elementos na posição
final. Geometricamente é constituída por uma secção em T, de forma a simular
os efeitos da laje no seu comportamento e no da ligação, que nos últimos
0,50 m passa a rectangular de modo a permitir a ligação ao actuador. A viga
pré-moldada tem um desenvolvimento de 1,79 m, existindo uma junta de
1,0 cm na ligação ao pilar que assim realiza os 1,80 m da geometria final.

Para o manuseamento da armadura inferior de continuidade foram previstas


duas janelas. A primeira junto ao pilar para permitir o posicionamento do
varão na emenda e o aperto da contra-porca. E a segunda para que a meio
comprimento do varão haja acesso para enroscar o mesmo na emenda.

69
(a)

CORTE
TRANSVERSAL

ALÇADO

(b)

CORTE
TRANSVERSAL

JANELAS PARA
MANUSEAMENTO
DA ARMADURA

ALÇADO

Figura 4-6 – Geometria da viga pré-moldada, dimensões em m.


(a) geometria geral (b) geometria das janelas para manuseamento da armadura

70
4.2.3 - PORMENORIZAÇÃO

Na pormenorização das peças procurou-se seguir os procedimentos que seriam


adoptados no caso de se tratar de uma obra real com elementos de dimensões
equivalentes, podendo-se assim aferir a facilidade construtiva também ao nível
das armaduras.

O pilar foi dimensionado de forma a não condicionar os resultados do ensaio


(pilar forte/viga fraca), as armaduras do pilar estão ilustradas na Figura 4-7 e
Figura 4-8.

Figura 4-7 – Armadura pilar

Figura 4-8 – Armadura pilar (corte) Figura 4-9 – Armadura viga (corte)

71
Figura 4-10 – Armadura viga

Para a pormenorização da viga ver Figura 4-9 e Figura 4-10. O recobrimento


em todos os elementos é de 2 cm.

4.2.4 - RESISTÊNCIA

As características do modelo em termos de resistências foram determinadas


com base nos resultados experimentais do betão e do aço apresentados nos
pontos 5.1.1 e 5.1.2 respectivamente.

Determinaram-se os valores de cálculo, característicos, médios e últimos para


o momento na ligação e força no actuador que está aplicada a 1,46 m da
ligação, como descrito no ponto 4.3.2 referente à configuração do ensaio.

Consideraram-se betões diferentes para as resistências aos momentos positivos


e negativos. Para o momento negativo considerou-se o betão das amassaduras
A+B+C a que corresponde um betão da classe C25/30, ver Quadro 5-4, e para
o momento positivo a amassadura D a que corresponde um betão da classe
C20/25, ver Quadro 5-5.

Nos quadros abaixo apresentam-se os valores considerados no cálculo e as


resistências obtidas.

Tipo de h b d fc fs Arm. As  MR FR
resistência (m) (m) (m) (MPa) (MPa) - (cm2) (%) (kN.m) (kN)
Cálculo 0,50 0,25 0,45 16,7 435  12,57 1,01% 203 138,7
Caracteristica 0,50 0,25 0,45 25,8 563  12,57 1,01% 271 185,9
Média 0,50 0,25 0,45 29,8 563  12,57 1,01% 278 190,2
Última 0,50 0,25 0,45 29,8 635  12,57 1,01% 307 210,5
Quadro 4-1 – Resistências aos momentos negativos

72
Tipo de h b d fc fs Arm. As  MR FR
2
resistência (m) (m) (m) (MPa) (MPa) - (cm ) (%) (kN.m) (kN)
Cálculo 0,50 0,30 0,44 13,3 435  6,28 0,42% 109 74,6
Caracteristica 0,50 0,30 0,44 20,3 563  6,28 0,42% 143 98,1
Média 0,50 0,30 0,44 23,5 563  6,28 0,42% 145 99,3
Última 0,50 0,30 0,44 23,5 635  6,28 0,42% 162 110,9
Quadro 4-2 – Resistências aos momentos positivos

h- altura da viga
b- largura da viga
d- altura útil da viga
fc- resistência à compressão do betão
fs- resistência à tracção da armadura
Arm.- armadura tracionada
As- área da armadura
MR- momento resistente
FR- força de reacção no actuador

Chama-se atenção que para a resistência aos momentos positivos a largura da


viga considerada é condicionada pela largura do pilar.

A resistência ao corte da ligação entre betões é determinada de acordo com o


ponto 4.5.3.3 do EC2-Parte 1.3 (Peças e estruturas pré-moldadas de betão).

Rdj= kT Rd + N +  fyd ( sen+ cos) < 0,5  fcd

em que:

kT= 1,4 (superfície rugosa)

Rd = 0,26 MPa (C20/25 menor das classes de betão na ligação)

= 0,7 (superfície rugosa)

N= 0 (não existe esforço normal à superfície)

= 6,7/25= 0,27% (percentagem de armadura que atravessa as superfícies em


contacto 28/0,15)

fyd =435 MPa

= 90º (armaduras verticais)

 = 0,7 - f ck
= 0,6, com fck= 20 MPa
200

fcd = 20/1,5= 13,3 MPa

logo:

73
Rdj= 1,40,26 + 0 + 0,27%435(0,7sen90º + cos90º)< 0,5  fcd

e em que:

0,5  fcd = 0,50,613,3= 3,99 MPa

sendo portanto a resistência:



Rdj= 0,364 + 0,822= 1,19 MPa < 0,5  fcd = 3,99 MPa

A força máxima mobilizável na ligação corresponde à tracção total da


armadura superior,

Fs= As fsyd= 12,5710-4  435103= 545 kN

Admitindo uma distribuição plástica das tensões ao longo da superfície de


contacto, a tensão actuante será:

Sd= Fs / (b.L)

em que:

b= 0,25 m (largura da superfície de contacto)

L= 1,46 m (comprimento de distribuição da força, distância entra a ligação e o


actuador)

sendo portanto:

Sd= 0,545/(0,251,46)= 1,49 MPa > Rd= 1,19 MPa

Verificando-se que não se obtém uma resistência suficiente. Este facto não
condicionou os resultados experimentais do ensaio e deve-se ao facto de os
resultados experimentais do betão não corresponderem aos prescritos C30/35.

A resistência ao esforço transverso da viga, considerando o betão da 1ª fase, é:

VRd= Vcd+Vwd = 67,5+118= 185,5 kN/m

em que:

Vcd= [Rd k (1,2+401) + 0,15cp].bw.d

cp=0

Rd (C25/30)= 300 kPa

k= 1

74
1=0,02

Vcd=3001(1,2+400,02)0,250,45= 67,5 kN/m

Vwd= 0,9 d Asw/s fsyd= 0,90,456,710-4435103= 118 kN/m

1(C25/30)= 650 kPa

Asw/s (8/0,15)= 6,7 cm2/m

fsyd (A500)= 435 MPa

Assim a relação entre o esforço transverso resistente de cálculo e o actuante


decorrente da resistência à flexão de cálculo é de:

VRd / FRd= 187,5/139= 1,35

O EC8 prescreve uma relação de 1 para as classes de ductilidade baixa e


média e de 1,25 para a alta.

Salienta-se que o dimensionamento da armadura transversal não foi


condicionada pela resistência ao esforço transverso mas sim pela resistência ao
corte da ligação entre betões.

4.2.5 - CONSTRUÇÃO

A construção do modelo seguiu o seguinte faseamento:

1. montagem e construção das cofragens para as peças pré-moldadas;


2. corte, dobragem e montagem das armaduras das peças pré-moldadas;
3. posicionamento das armaduras na cofragens;
4. betonagem;
5. preparação da face superior da viga, criação de rugosidade;
6. cura do betão;
7. colocação da viga e pilar em posição para montagem, recurso a
escoramento provisório;
8. montagem e construção da cofragem da zona superior da viga (T);
9. colocação dos extensómetros nos varões de continuidade da armadura
superior;
10. corte, dobragem e montagem das armaduras;
11. posicionamento das armaduras na cofragem;
12. betonagem;
13. cura do betão;
14. colocação dos varões de continuidade da armadura inferior;
15. colocação da cofragem e purgas das zonas a injectar;
16. injecção de argamassa.

As cofragens foram executadas com madeira, a ligação dos seus painéis com
parafusos e de forma a permitir a reutilização. A sua concepção e execução

75
não careceram de características especiais para além dos acessórios de
posicionamento das emendas mecânicas como se pode observar na Figura
4-11.

A cofragem da viga, Figura 4-12, tem como particularidade as caixas que


formam o molde das aberturas para manuseamento da armadura inferior de
continuidade.

Figura 4-11 – Cofragem do pilar Figura 4-12 – Cofragem da viga

O posicionamento das armaduras na cofragem, como já referido no caso do


pilar, Figura 4-13, foi efectuada com recurso a acessórios especiais de
posicionamento das emendas. Para a viga, dada a fraca rigidez da armadura,
devido à ausência de armadura longitudinal superior e inferior, e à necessidade
de rigor no posicionamento, devido à posterior colocação dos varões de
continuidade, foram colocadas armaduras construtivas para garantir a rigidez e
posicionamento, Figura 4-14.

Figura 4-13 – Armadura do pilar

76
ARMADURA CONSTRUTIVA

Figura 4-14 – Armadura da viga Figura 4-15 – Central de betão

Figura 4-16 – Pilar betonado Figura 4-17 – Tratamento da superfície

77
As operações de betonagem em que se recorreu à central de betão existente no
LERM, Figura 4-15, decorreu com normalidade. Na Figura 4-16 pode-se
observar o pilar betonado com o betão ainda fresco e na Figura 4-17 a
introdução de rugosidade na superfície superior da viga para melhorar a
aderência ao betão de segunda fase.

Figura 4-18 – Colocação dos elementos

Depois de executados os elementos pré-moldados procedeu-se à sua


colocação, Figura 4-18, e depois à execução da cofragem de segunda fase,
colocação das armaduras e betonagem, ver Figura 4-19. De seguida procedeu-
se à cura do betão de segunda fase, Figura 4-20. Na Figura 4-21 observa-se a
operação de colocação da armadura inferior de continuidade.

78
Figura 4-19 – Cofragem e armaduras da 2ª fase

Figura 4-20 – Cura do betão

79
Figura 4-21 – Colocação da armadura inferior de continuidade

Após a colocação das armaduras de continuidade procede-se à injecção das


bainhas e da junta. As aberturas são cofradas com madeira e silicone para
evitar fugas, são colocadas purgas para injectar e controlar o correcto
preenchimento dos orifícios, ver Figura 4-23. A execução da calda seguiu os
procedimentos indicados na ficha técnica, ver Figura 4-22.

Figura 4-22 – Ficha técnica Flowcable

80
TUBOS
DE
PURGA

Figura 4-23 – injecção da calda de cimento

Figura 4-24 – Ligação contínua viga pilar concluída

Na Figura 4-24 pode-se observar a obra concluída e a peça a ser elevada para
colocação na zona de ensaio, é de referir também que foram previstos
acessório para elevação e manobra dos elementos pré-moldados assim como
do conjunto no seu todo.

81
4.3 - SISTEMA DE ENSAIO

4.3.1 - CONFIGURAÇÃO DO ENSAIO

O modelo está pré-esforçado contra o pavimento do LERM e à parede de


reacção por forma a impedir respectivamente a rotação e a translação. Para o
efeito o pavimento é constituído por uma laje de reacção rígida com 1 m de
espessura e com furos metro a metro em ambas as direcções e a parede de
reacção tem furos a diferentes cotas com intervalos de 195 mm. Ver Figura
4-25 com a configuração geral do ensaio.

Figura 4-25 – Configuração geral do ensaio (alçado lateral), dimensões em m

A carga é aplicada através de um actuador de parafuso Albert SGT1000 cujo


curso total é de 400 mm e a capacidade de carga é de 1000 kN. Este aparelho
está ligado à parede de reacção através de uma substrutura metálica concebida
para acomodar o recuo do veio do actuador e transmitir a força à parede, essa
substrutura está pré-esforçada à parede de reacção. A ligação do actuador ao
provete é feita com uma substrutura bi-rotulada no meio da qual é colocada
uma célula de carga de duplo efeito, neste caso uma célula de 500 kN de
capacidade

82
Figura 4-26 – Configuração geral do ensaio (alçado frontal), dimensões em m

O ensaio é comandado através de um sistema automático de controlo e


aquisição de dados, baseado no sistema utilizado por Proença [11], constituído
pelos seguintes componentes:

1. Controlador – Computador pessoal que através de um programa em


Visual Basic, desenvolvido por Proença e adaptado pelo autor, gere as
restantes unidades do sistema e armazena os dados.

2. Unidade de aquisição de dados – Data logger HP3852A com um


voltímetro HP44701A. O voltímetro efectua a conversão do sinal de
analógico para digital. O data logger dispõe de um conjunto de “slots”
nos quais são colocados acessórios de leitura de 10 canais por “slot”
(multiplexers HP44717A e HP44719A) e a unidade de output digital
HP44724 de 16 canais.

3. Transdutores eléctricos – Extensómetros, transdutores de


deslocamentos e célula de carga.

4. Comando do Actuador – Unidade que dispõe de um conjunto de


botoneiras que controlam o estado de movimento, a velocidade e o

83
sentido do motoredutor eléctrico que move o actuador. O comando
pode ser operado localmente ou em modo remoto através de ligação
digital ao controlador (computador).

Figura 4-27 – Vista geral do sistema de ensaio

O programa do módulo de controlo foi adaptado para o ensaio em causa e


foram acrescentadas novas funcionalidades. As novas funcionalidades
consistem na possibilidade de controlar o ensaio por força e em os critérios de
registo de dados e de fim de ciclo poderem ser alterados a qualquer instante
durante o ensaio. As adaptações relacionam-se com as configurações
referentes à instrumentação adoptada.

O controlador, após dado um comando de movimento para um valor de força e


deslocamento, está continuamente a ler os canais correspondentes à força e
deslocamento, tomando a decisão de registo de dados sempre que:

1. o deslocamento incremental excede o valor configurado;


2. a força incremental excede o valor configurado;
3. a rigidez incremental excede o valor configurado;
4. a trajectória Força-Deslocamento intersecta algum dos eixos
ordenados;
5. é dada ordem pelo utilizador.

A instrumentação do ensaio, para além da célula de carga e transdutor de


deslocamento do topo do modelo (D1), é ainda constituída por mais 6
transdutores de deslocamentos (D2 a D7) e 12 extensómetros.

84
Figura 4-28 – Posição e numeração dos transdutores de deslocamentos, dimensões em m.

Figura 4-29 – Localização e numerações dos extensómetros, armadura superior.

Figura 4-30 – Localização e numeração dos extensómetros, armadura inferior.

85
Os transdutores de deslocamentos têm a localização indicada na Figura 4-28.
Os extensómetros estão colocados nos varões da viga na proximidade da junta,
ver Figura 4-29 e Figura 4-30, em cada varão foram colocados dois
extensómetros em fases opostas de forma a anular efeitos locais de flexão dos
varões.

4.3.2 - PROCEDIMENTO DE ENSAIO

O ensaio cíclico alternado não se destina a reproduzir o comportamento que a


ligação teria quando sujeita a uma acção sísmica, mas sim a constituir uma
base de trabalho que permita a comparação e unificação de resultados de
diferentes tipos de ligações ou estruturas.

Não existe ainda um procedimento de ensaio unanimemente aceite para este


tipo de ensaios em estruturas de betão. Os dois procedimentos mais usados são
o proposto pelo ECCS [65], em 1985, e pelo PRESSS [66] em 1992.

O procedimento proposto pelo ECCS foi desenvolvido para o ensaio cíclico de


substruturas metálicas, no entanto, muitas substruturas de betão têm sido
ensaiadas com procedimentos nele baseados devido à inexistência, à data, de
outros procedimentos uniformizados.

Figura 4-31 – Procedimento ECCS

Esse procedimento (ECCS) propõe um historial convencional de


deslocamentos impostos alternados expressos exclusivamente em termos do
deslocamento de cedência y.

86
1. um ciclo completo alternado para cada uma da fracções do
deslocamento de cedência y: ¼, ½ , ¾ e 1.
2. três ciclos completos alternados para cada um dos múltiplos do
deslocamento de cedência y: 2n (n=1,2,3,...).

Este procedimento, designado de completo, pressupõe a realização de ensaios


preliminares com vista à identificação dos deslocamentos de cedência (para
momentos positivos e para momentos negativos). É prevista a possibilidade de
suprimir os ensaios preliminares através do procedimento designado por curto
(short testing procedure), em que os deslocamentos de cedência são
determinados durante o próprio ensaio. Os deslocamentos iniciais são
determinados com base numa estimativa do deslocamento de cedência, com o
qual, depois de confirmado experimentalmente, são determinados os
deslocamentos seguintes.

No ECCS a cedência é definida pelo ponto de intersecção entre a recta


tangente ao diagrama monotónico com 10% do declive elástico e a recta
(elástica) tangente na origem. No entanto a própria recomendação sugere
outras definições, ver Figura 4-32, que a serem utilizadas deverão ser
devidamente justificadas.

Figura 4-32 – Possíveis definições de cedência segundo o ECCS

Nesta figura apresentam-se algumas definições possíveis para o deslocamento


de cedência:

a) primeiro valor em que a peça deixa de ter comportamento linear;


b) valor correspondente à máxima resistência;
c) valor correspondente ao comportamento elásto-plástico puro;
d) procedimento recomendado pelo ECCS

No primeiro caso (a) não é considerada a resistência da peça, enquanto no


segundo caso (b) este parâmetro é o único que influência o valor do
deslocamento de cedência. O caso (b) tem a vantagem de o deslocamento de

87
cedência ficar fisicamente bem definido, em especial quando existem
fenómenos de instabilidade. O caso (c) é de fácil utilização em nós e em vigas
metálicas, mas não se pode aplicar quando existem fenómenos de
instabilidade.

O procedimento recomendado pelo ECCS (d) exige a realização de um ensaio


preliminar para a determinação do deslocamento de cedência.

Os procedimentos anteriores para determinação da cedência apresentam


grandes dificuldades de aplicação quando o comportamento inicial do material
não é elástico puro, como é o caso do betão armado.

Gomes [67] estudou, com resultados concordantes, os seguintes três processos


de determinação do deslocamento de cedência:

a) por extrapolação, prolongando a recta secante ao diagrama nos pontos


F=0,6Fy e F=0,75Fy, até atingir Fy determinado analiticamente;
b) impondo deslocamentos até se atingir Fy determinado analiticamente;
c) por controlo da deformação instalada no extensómetro situado na
armadura mais traccionada.

Noutros trabalhos experimentais, realizados por Cheok e Lew [36], French e


outros [56], Bull e Park [48], em estruturas de betão armado, em que a história
de carregamento se baseava no procedimento do ECCS o deslocamento de
cedência é determinado através de um primeiro ciclo do ensaio. Neste
primeiro ciclo carrega-se a peça até uma força máxima de 0,75 da força de
cedência em ambas as direcções. A força de cedência é calculada
analiticamente com os valores médios das características dos materiais. O
valor do deslocamento a que corresponde a força 0,75Fy é definido como
sendo 75% do deslocamento de cedência 0,75y.

Este procedimento, independentemente de caracterizar bem ou mal a cedência,


apresenta a vantagem de ser um método simples e bem definido, por outro
lado a sua grande utilização permite uma maior facilidade de comparação de
resultados. Foi este o método adoptado.

O procedimento proposto pelo PRESSS, ao qual não se teve acesso directo, foi
desenvolvido propositadamente para esse programa de investigação, cuja
motivação foi criar um procedimento de ensaio que se adaptasse bem ao tipo
de ligações em estudo, ligações de estruturas pré-moldadas de betão com aço
macio ou pós-esforçado em zonas sísmicas, e que uniformizasse os resultados
experimentais do programa em causa.

O procedimento é baseado em incrementos de deslocamento em ductilidade. O


primeiro ciclo é controlado pela força até ao valor de 0,75 da força de cedência
e os ciclos seguintes são controlados pelo deslocamento. São efectuados três
ciclos completos para os seguintes deslocamentos em ductilidade /y: 1, 1,5,
2, 3, 4, 5, etc. Entre cada conjunto de três ciclos é efectuado um pequeno ciclo
completo a uma ductilidade em deslocamento de 0,75y.

88
Figura 4-33 – Procedimento PRESSS

Os três ciclos completos permitem verificar a estabilidade da resposta a um


sismo de longa duração, o ciclo pequeno serve para determinar a perda de
rigidez ou seja o comportamento pós-sismo.

Este novo procedimento, comparando-o com o do ECCS, adapta-se melhor às


estruturas de betão porque tem ciclos para mais níveis de ductilidade. As
estruturas de betão apresentam geralmente ductilidades mais baixas que as
metálicas pelo que é importante um procedimento que os permita identificar.
Outra inovação é o ciclo pequeno entre cada conjunto de três ciclos, que
permite identificar o comportamento da estrutura pós-sismo assim como a
necessidade de reparação ou demolição, o que economicamente vem sendo
uma preocupação crescente, principalmente em zonas com sismos frequentes.

A melhor adaptação ao estudo em causa, a actualidade e o elevado número de


resultados experimentais com este procedimento conduziu à sua adopção para
o programa experimental.

89
90
5 - RESULTADOS EXPERIMENTAIS

5.1 - MATERIAIS

5.1.1 - BETÃO

Os resultados experimentais dos cubos de betão revelaram diferenças


superiores ao que seria de esperar para amassaduras equivalentes. Este facto
poderá dever-se às condições de armazenamento dos inertes no LERM. Os
silos de armazenamento situam-se debaixo do pavimento do laboratório
facilitando o acesso da água aos mesmos, a água poderá ser proveniente da
limpeza do laboratório ou das operações de cura do betão. No entanto os
diferentes resultados das amassaduras realizadas no mesmo dia apenas terão
como explicação uma falta de uniformidade na distribuição dos inertes no silo
ou o acumular de água na betoneira ao longo das três amassaduras, explicação
consistente com os resultados decrescentes da resistência do betão e do
abaixamente de Abrams.

Apresentam-se de seguida os resultados dos ensaios à compressão de cada


amassadura e respectivo abaixamento de Abrams.

Betão - Ensaio de compressão


1ª Fase
Amassadura - A

Provete Data Idade Peso Secção Fci fci fcm (fci-fcm)2


2
(-) de fabrico de ensaio (dias) (kg) (cm ) (kN) (MPa) (MPa) (MPa)
A7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,586 225 861,6 38,29 38,05 0,060
A7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,581 225 863,4 38,37 38,05 0,105
A7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,513 225 850,6 37,80 38,05 0,060
A7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,597 225 861,9 38,31 38,05 0,066
A7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,512 225 850,1 37,78 38,05 0,071
A7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,543 225 833,5 37,04 38,05 1,009

n= 6 número de amostras Consistência do betão


 0,52 MPa desvio padrão (abaixamento de Abrams)
 1,4% =/f cm (mm) NP ENV 206 RBLH
mín 7,0% 20 S1 PS
f cm = 38,05 MPa
f ck= 33,68 MPa f ck=f cm (1-1,64)

Quadro 5-1 – Ensaio de compressão do betão, amassadura A

91
Betão - Ensaio de compressão
1ª Fase
Amassadura - B

Provete Data Idade Peso Secção Fci fci fcm (fci-fcm)2


2
(-) de fabrico de ensaio (dias) (kg) (cm ) (kN) (MPa) (MPa) (MPa)
B7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,547 225 809,4 35,97 35,84 0,017
B7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,585 225 787,9 35,02 35,84 0,680
B7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,544 225 785,6 34,92 35,84 0,859
B7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,677 225 831,4 36,95 35,84 1,230
B7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,590 225 817,6 36,34 35,84 0,246
B7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,574 225 803,5 35,71 35,84 0,017

n= 6 número de amostras Consistência do betão


 0,78 MPa desvio padrão (abaixamento de Abrams)
 2,2% =/f cm (mm) NP ENV 206 RBLH
mín 7,0% 30 S1 PS
f cm = 35,84 MPa
f ck= 31,73 MPa f ck=f cm (1-1,64)

Quadro 5-2 – Ensaio de compressão do betão, amassadura B

Betão - Ensaio de compressão


1ª Fase
Amassadura - C

Provete Data Idade Peso Secção Fci fci fcm (fci-fcm)2


(-) de fabrico de ensaio (dias) (kg) (cm2) (kN) (MPa) (MPa) (MPa)
C7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,550 225 761,5 33,84 34,79 0,900
C7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,541 225 791,9 35,20 34,79 0,162
C7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,577 225 804,8 35,77 34,79 0,952
C7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,519 225 781,5 34,73 34,79 0,004
C7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,523 225 778,3 34,59 34,79 0,041
C7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,483 225 784,2 34,85 34,79 0,004

n= 6 número de amostras Consistência do betão


 0,64 MPa desvio padrão (abaixamento de Abrams)
 1,8% =/f cm (mm) NP ENV 206 RBLH
mín 7,0% 50 S2 P
f cm = 34,79 MPa
f ck= 30,80 MPa f ck=f cm (1-1,64)

Quadro 5-3 – Ensaio de compressão do betão, amassadura C

92
Betão - Ensaio de compressão
1ª Fase
Amassadura - A+B+C

2
Provete Data Idade Peso Secção Fci fci fcm (fci-fcm)
2
(-) de fabrico de ensaio (dias) (kg) (cm ) (kN) (MPa) (MPa) (MPa)
A7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,586 225 861,6 38,29 35,87 5,867
A7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,581 225 863,4 38,37 35,87 6,261
A7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,513 225 850,6 37,80 35,87 3,738
A7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,597 225 861,9 38,31 35,87 5,932
A7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,512 225 850,1 37,78 35,87 3,652
A7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,543 225 833,5 37,04 35,87 1,377
B7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,547 225 809,4 35,97 35,87 0,010
B7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,585 225 787,9 35,02 35,87 0,728
B7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,544 225 785,6 34,92 35,87 0,913
B7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,677 225 831,4 36,95 35,87 1,166
B7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,590 225 817,6 36,34 35,87 0,218
B7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,574 225 803,5 35,71 35,87 0,026
C7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,550 225 761,5 33,84 35,87 4,107
C7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,541 225 791,9 35,20 35,87 0,456
C7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,577 225 804,8 35,77 35,87 0,010
C7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,519 225 781,5 34,73 35,87 1,295
C7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,523 225 778,3 34,59 35,87 1,638
C7/6 07-06-2000 27-09-2000 111 7,483 225 784,2 34,85 35,87 1,036

n= 18 número de amostras
 1,50 MPa desvio padrão
 4,2% =/f cm
mín 7,0%
f cm = 35,87 MPa
f ck= 31,75 MPa fck=f cm (1-1,64)

Quadro 5-4 – Ensaio de compressão do betão, amassaduras A+B+C, betão de 1ª fase

O betão de 1ª Fase, ou seja o utilizado nos elementos pré-moldados, é


caracterizados pelos resultados das amassaduras A, B e C, conforme
determinado no Quadro 5-4. No Quadro 5-5 apresetam-se os resultados para o
betão de 2ª fase.

Resumindo, em termos de resistência o betão de 1ª fase apresenta como


resultado um fcm= 36 MPa e fck= 32 MPa, o de 2ª fase fcm= 29 MPa e
fck= 25 MPa.

Apesar do objectivo inicial ser obter um fck= 35 MPa para ambos os betões,
refere-se que em nada estes resultados influenciam a validade do restante
trabalho experimental, acrescentando até alguma proximidade à realidade
construtiva. O betão produzido em primeira fase (fck= 32 MPa) aproxima-se do
utilizado normalmente em fábrica (fck= 35 MPa), e o de segunda fase (fck=25
MPa) é idêntico ao utilizado em obra (fck= 25 MPa).

93
Betão - Ensaio de compressão
2ª Fase
Amassadura - D

Provete Data Idade Peso Secção Fci fci fcm (fci-fcm)2


(-) de fabrico de ensaio (dias) (kg) (cm2) (kN) (MPa) (MPa) (MPa)
D19/6 19-06-2000 27-09-2000 123 7,463 225 668,5 29,71 28,54 1,366
D19/6 19-06-2000 27-09-2000 123 7,432 225 680,6 30,25 28,54 2,913
D19/6 19-06-2000 27-09-2000 123 7,437 225 640,9 28,48 28,54 0,003
D19/6 19-06-2000 27-09-2000 123 7,453 225 654,3 29,08 28,54 0,289
D19/6 19-06-2000 27-09-2000 123 7,382 225 668,2 29,70 28,54 1,335
D19/6 19-06-2000 27-09-2000 123 7,427 225 641,3 28,50 28,54 0,002
D19/6 19-06-2000 27-09-2000 123 7,386 225 611,3 27,17 28,54 1,886
D19/6 19-06-2000 27-09-2000 123 7,434 225 598,8 26,61 28,54 3,721
D19/6 19-06-2000 27-09-2000 123 7,413 225 642,2 28,54 28,54 0,000

n= 9 número de amostras Consistência do betão


 1,20 MPa desvio padrão (abaixamento de Abrams)
 4,2% =/f cm (mm) NP ENV 206 RBLH
mín 7,0% 50 S2 P
fcm = 28,54 MPa
fck= 25,27 MPa fck=f cm (1-1,64)

Quadro 5-5 – Ensaio de compressão do betão, amassadura D

5.1.2 - CALDA DE CIMENTO

A calda de cimento não foi sujeita a nenhuma prescrição especial, para além
de se exigir características de resistência superiores à do betão adjacente e
ausência de retracção, a qual não foi confirmada experimentalmente.

O resultado dos ensaios de compressão da calda de cimento apresentam-se no


Quadro 5-6.

A resistência à compressão da calda é fck= 45 MPa, e é claramente superior à


do melhor betão adjacente (amassadura A – fck= 34 MPa). Assim, como
pretendido, as suas características não deverão condicionar a rotura da ligação.

Os resultados do ensaio de flexão apresentam-se no Quadro 5-7.

Com base nos resultados experimentais de compressão do melhor betão


adjacente (amassadura A), cuja resistência à tracção se estima de acordo com o
REBAP, obtêm-se, como pretendido, valores inferiores, embora pouco, aos
verificados para a argamassa.

fctk= 0,70fctm fctm= 0,30fck2/3

fck= 34 MPa  fctk= 2,20 MPa


fctm= 3,15 MPa

94
Argamassa - Ensaio de compressão

Provete Data Idade Peso Secção Fci fci fcm (fci-fcm)2


(-) de fabrico de ensaio (dias) (kg) (cm2) (kN) (MPa) (MPa) (MPa)
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,868 16 74,18 46,36 52,05 32,383
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,868 16 90,60 56,63 52,05 20,902
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,287 16 93,50 58,44 52,05 40,760
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,287 16 82,55 51,59 52,05 0,211
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,634 16 80,00 50,00 52,05 4,215
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,634 16 76,65 47,91 52,05 17,197
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,430 16 83,88 52,43 52,05 0,138
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,430 16 88,61 55,38 52,05 11,076
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,612 16 73,25 45,78 52,05 39,336
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,612 16 83,31 52,07 52,05 0,000
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,932 16 83,26 52,04 52,05 0,000
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,932 16 89,22 55,76 52,05 13,759

n= 12 número de amostras
 4,04 MPa desvio padrão
 7,8% =/f cm
mín 7,0%
f cm = 52,05 MPa
f ck= 45,42 MPa f ck=f cm (1-1,64)

Quadro 5-6 – Ensaio de compressão da argamassa

Argamassa - Ensaio de flexão

Provete Data Idade Carga fctmi fctm (fcti-fctm)2


(-) de fabrico de ensaio (dias) (kN) (MPa) (MPa) (MPa)
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,868 4,37 3,80 0,329
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,287 3,01 3,80 0,618
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,634 3,82 3,80 0,001
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,430 3,35 3,80 0,204
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,612 3,77 3,80 0,001
PRR-5/7 05-07-2000 29-09-2000 86 1,932 4,52 3,80 0,523

n= 6 número de amostras
 0,58 MPa desvio padrão
 15,2% =/fctm
mín 7,0%
fctm = 3,80 MPa
fctk= 2,85 MPa f ctk=fctm (1-1,64)

Quadro 5-7 – Ensaio de flexão da argamassa

95
5.1.3 - AÇO

Apresentam-se nas figuras seguintes os diagramas de tensão deformação dos


três provetes dos varões Gewi, classificados com BSt 500, ou seja A500, com
20 mm de diâmetro, utilizados como armadura de continuidade.

700
f su = 621 MPa

600 f sy = 554 MPa

500

400
 (MPa)

300

200

100

0
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16%

L/L (%)

Figura 5-1 – Diagrama tensão-deformação, provete 1, varão Gewi

700
f su = 626 MPa

600 f sy = 555 MPa

500

400
 (MPa)

300

200

100

0
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16%

L/L

Figura 5-2 – Diagrama tensão-deformação, provete 2, varão Gewi

96
700
f su = 624 MPa

600 f sy = 554 MPa

500

400
 (MPa)

300

200

100

0
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16%

L/L

Figura 5-3 – Diagrama tensão-deformação, provete 3, varão Gewi

Os resultados experimentais dos sistemas de união apresentam-se nas figuras


seguintes.

700
f su = 625 MPa

600 f sy = 553 MPa

500

400
 (MPa)

300

200

100

0
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16%

L/L (%)

Figura 5-4 – Diagrama tensão-deformação, provete 1, sistema de ligação Gewi

97
700
f su = 625 MPa

600 f sy = 553 MPa

500

400
 (MPa)

300

200

100

0
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16%

L/L (%)

Figura 5-5 – Diagrama tensão-deformação, provete 2, sistema de ligação Gewi

700
f su = 626 MPa

600 f sy = 554 MPa

500

400
 (MPa)

300

200

100

0
0% 2% 4% 6% 8% 10% 12% 14% 16%

L/L (%)

Figura 5-6 – Diagrama tensão-deformação, provete 3, sistema de ligação Gewi

98
No Quadro 5-8 e Quadro 5-9 apresentam-se os valores da extensão após rotura
do varão isolado e do sistema de ligação, respectivamente. No provete 3 do
sistema de ligação não foi possível medir o comprimento último devido à
rotação verificada na união aquando da rotura.

Provete l0 lu su=(lu-l0)/l0 Provete l0 lu su=(lu-l0)/l0


(-) (mm) (mm) (%) (-) (mm) (mm) (%)
1 256 292 14,1% 1 256 285 11,3%
2 256 294 14,8% 2 256 285 11,3%
3 256 294 14,8% 3 256 -
Quadro 5-8 – Extensão após rotura, Quadro 5-9 – Extensão após rotura,
varões Gewi sistemas de ligação Gewi

As uniões foram instrumentadas com dois extensómetros colocados no centro


em fases opostas de forma a anular possíveis efeitos de flexão, tendo os
resultados obtidos demonstrado um comportamentos elástico da união.
Refere-se também que a rotura foi sempre pelo varão e nunca pela união. Na
Figura 5-7 observa-se o sistema de ligação após a rotura.

Figura 5-7 – Sistema de ligação Gewi, pormenor da rotura

99
5.2 - LIGAÇÃO

5.2.1 - CARREGAMENTO PRELIMINAR

Este ensaio foi efectuado no dia 27 de Setembro de 2000 no LERM, 111 dias
após a betonagem dos elementos pré-moldados.

O carregamento foi controlado pela força e destina-se a determinar os


parâmetros de cedência em ambos os sentidos. Aplicou-se primeiro num
sentido uma força crescente até se atingir a força de cedência experimental,
força apartir da qual os incrementos de deslocamentos não correspondem a um
incremento na resistência. De seguida aplicou-se o mesmo procedimento no
sentido oposto. Depois descarregou-se até ao valor de força nulo para
posteriormente se aplicar o carregamento cíclico. O valor do deslocamento
final deste ensaio é guardado iniciando-se o ensaio seguinte com esse valor de
deslocamento.

Na Figura 5-8 pode-se observar o diagrama força-deslocamento do ciclo de


carga completo do carregamento preliminar.

Os deslocamentos de cedência y foram determinados conforme o


procedimento descrito em 4.3.2 em que se considera que o deslocamento
correspondente a 0,75 da força de cedência (0,75Fy) é 0,75 do deslocamento
de cedência (0,75y).

250

200

150

100
F (kN)

50

-50

-100

-150
-15 -10 -5 0 5 10 15 20 25
 (mm)

Figura 5-8 – Diagrama F- do carregamento preliminar

100
A Figura 5-8 apresenta o diagrama F- do carregamento preliminar na parte
que interessa à resistência aos momentos negativos com os valores que
interessam à determinação da cedência. Assim:

Fy= 227 kN  0,75Fy= 170 kN  0,75y= 12,3 mm  y = 16,5 mm

A Figura 5-10 apresenta o diagrama F- do carregamento preliminar na parte


que interessa à resistência aos momentos positivos. Para a determinação deste
diagrama ignoraram-se os valores iniciais a que correspondem rigidezes muito
baixas devido ao fecho das fendas, e efectuou-se uma translação do diagrama
para novo referencial. Os valores que interessam à determinação da cedência
são:

Fy= -105 kN  0,75Fy= -79 kN  0,75y= -11,8 mm  y = -15,7 mm

Resumindo, os deslocamentos determinados e que definem o restante ensaio


são:
 y = 16,5 mm  y = 15,7 mm

250

227

200

170

150
F (kN)

100

50

0
0 5 10 12,3 15 16,5 20 23,9 25
 (mm)

Figura 5-9 – Diagrama F- do carregamento para os momentos negativos

101
-20,0 -15,7 -11,8
0

-20

-40
F (kN)

-60

-79
-80

-100
-105

-120
-20 -16 -12 -8 -4 0
 (mm)

Figura 5-10– Diagrama F- do carregamento para os momentos positivos

Na Figura 5-11 pode-se observar a fendilhação verificada para o carregamento


correspondente a uma força F= 227 kN e = 23,9 mm em ambas as faces.

Figura 5-11 – Fendilhação para F= 227 kN

102
Na Figura 5-12 observa-se a fendilhação para o carregamento no sentido
oposto F= -105 kN e = -15,0 mm. As fendas correspondentes ao
carregamento nesta direcção estão marcadas a vermelho.

No sistema de ensaio montado inicialmente previu-se que a força horizontal


transmitida à peça fosse absorvida por atrito, tendo-se para o efeito
pré-esforçado a peça à laje do laboratório e colocado uma tela de borracha
para distribuir as tensões na superfície de contacto e melhorar o coeficiente de
atrito. No entanto durante o carregamento da peça verificou-se escorregamento
entre a peça e a laje, pelo que se concluiu que com a tela de borracha se tem
um coeficiente de atrito inferior ao que se obteria sem a mesma. Na Figura
5-13 pode observar-se a tela de borracha e o escorregamento da peça.

Os dados deste carregamento abortado foram tratados deduzindo-se ao


deslocamento de topo os deslocamentos da base. Como os resultados são
idênticos aos do carregamento preliminar os seus dados foram ignorados no
tratamento dos resultados. A força máxima a que a peça esteve sujeita neste
ensaio abortado foi de 109 kN.

Figura 5-12 – Fendilhação para F= -105 kN

103
Figura 5-13 – Escorregamento da peça

104
5.2.2 - CARREGAMENTO CÍCLICO

Este carregamento efectuou-se no dia 28 de Setembro de 2000 no LERM, 112


dias após a betonagem dos elementos pré-moldados.

O carregamento é controlado pelo deslocamento, e, como referido, a história


de carregamento baseou-se no procedimento utilizado no programa de
investigação PRESSS [66], mas em que o primeiro ciclo foi ignorado uma vez
que foi realizado o carregamento preliminar.

1
/y

-1

-2

-3

-4
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Ciclo

Figura 5-14 – Historial de deslocamentos a impor em função do deslocamento de cedência y

Na Figura 5-14, Figura 5-15 e Figura 5-16 podem-se observar a história de


deslocamentos a impor em termos de ductilidade, em termos de deslocamento
total e em termos de rotação (drift), respectivamente. Refere-se que o
referencial de deslocamentos se mantém o mesmo do carregamento
preliminar, tendo este carregamento começado com um deslocamento inicial
0= -5,18 mm.

Da Figura 5-17 à Figura 5-19 apresentam-se os resultados do ensaio em


termos de força – deslocamento, força – ductilidade e momento – rotação
(drift). A Figura 5-20 apresenta os valores da força de pico para cada ciclo.

A Figura 5-21 apresenta fotos da peça ao longo do ensaio (por lapso a foto
referenciada com Ciclo – 26; Força – 232,8 kN; Deslocamento – 49,5 mm
corresponde ao ciclo 25). Estas fotos correspondem aos ciclos iniciais e finais
dos conjuntos de três ciclos para os níveis de ductilidade 2 e 3.

105
80

60

40

20
(mm)

-20

-40

-60

-80
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Ciclo

Figura 5-15 – Historial de deslocamentos a impor

5,0%
4,5%
4,0%

3,4%
3,0%

2,3%
2,0%
1,7%

1,0% 1,1%
0,8% 0,8% 0,8% 0,8%
 "Drift"

0,0%

-0,8% -0,8% -0,8% -0,8%


-1,0% -1,1%
-1,6%
-2,0% -2,2%

-3,0%
-3,2%

-4,0%
-4,3%

-5,0%
0 5 10 15 20 25 30 35 40
Ciclo

Figura 5-16 – Historial de rotações (Drift) a impor

106
250

200

150

100
F (kN)

50

-50

-100

-150
-60 -40 -20 0 20 40 60 80
 (mm)

Figura 5-17 – Diagrama F-

250

200

150

100
F (kN)

50

-50

-100

-150
-4,0 -3,0 -2,0 -1,0 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0
y


Figura 5-18 – Diagrama F -
y

107
350

250

150
M (kN.m)

50

-50

-150

-250
-4,0% -3,0% -2,0% -1,0% 0,0% 1,0% 2,0% 3,0% 4,0% 5,0%
"Drift"

Figura 5-19 – Diagrama M-

250
232 233 230
224 226 222 226 221
219 216
200

169 167 166


150

106 100
100
85 81
Fpico (kN)

50

0 0 -3 -1
-19

-50
-62

-93
-100 -106 -103 -102 -100 -104 -106 -103 -103 -101
-109 -108 -107

-150
0 5 10 15 20 25 30 35
Ciclo

Figura 5-20 – História da força com os valores de pico para cada ciclo

108
Figura 5-21 – Fotos dos ciclos 17 a 30

109
Figura 5-22 –Fotos ciclos 33 e 34

Figura 5-23 – Foto da junta após o saneamento do betão

110
Figura 5-24 –Pormenor da rotura do varão

Na Figura 5-22 estão as fotos dos ciclos 33 e 34. No ciclo 34 deu-se a rotura
da ligação por tracção da armadura inferior. Depois da rotura o betão foi
saneado com a peça ainda em esforço para observação das armaduras (ver
Figura 5-23). A rotura do aço pode ser observada em pormenor na Figura
5-24.

5.3 - TRATAMENTO DOS RESULTADOS

A ligação completou três ciclos completos de carga para uma ductilidade em


deslocamento de 3, d= 3, com uma boa estabilidade de resposta, sendo a degradação
máxima da resistência nesse nível de 5,6 %, ver Figura 5-25.

A ductilidade em deslocamento é o principal parâmetro para se aferir a performance


sísmica de uma estrutura, no entanto ela não é referida explicitamente nos códigos
estruturais. Nos códigos estruturais a performance sísmica das estruturas é reflectida
através do parâmetro coeficiente de comportamento, que se destina a corrigir os
efeitos da acção dos sismos obtidos por uma análise linear de modo a transformá-los
nos valores que se obteriam por uma análise não linear.

111
250

200

150

100
F (kN)

50

-50

-100

-150
-50 -40 -30 -20 -10 0 10 20 30 40 50
 (mm)

Figura 5-25 – Diagrama F- para os três ciclos com d=3

Estudos efectuados [68] permitem relacionar coeficiente de comportamento com


ductilidade em deslocamento, no documento de justificação do EC8 [68] refere-se que
essa relação em osciladores de um grau de liberdade depende da frequência própria de
vibração da estrutura. Para frequências próprias baixas a relação entre coeficiente de
comportamento e a ductilidade em deslocamento é:

d= q

E para frequências próprias elevadas,

d= ½ (q2+1)

O EC8 recomenda que se estabeleça uma relação dada pela média de ambas as
expressões, ou seja:

q2  1
q 2
 q  1 (q  1) 2
d= 2 =q =
2 4 4

No entanto, nos códigos os coeficientes de comportamento recomendados não são


apenas função da ductilidade das ligações mas de o conjunto de diversos factores.

A única diferença das estruturas pré-moldadas face às moldadas em obra é a ligação


dos elementos pré-moldados, assim, caso as mesmas apresentem uma ductilidade
semelhante, poderão utilizar o mesmo coeficiente de comportamento.

112
Assim os resultados experimentais da ligação estudada viabilizam a sua utilização em
estruturas com um coeficiente de comportamento,

d= (q+1)2/4 d= 3  q= 2,5

Este valor é o indicado no REBAP para estruturas em pórtico com ductilidade normal
e no EC8 com ductilidade baixa.

Apesar de satisfatório face aos objectivos do trabalho este resultado não é considerado
muito bom, no entanto foi obtido em condições muito gravosas para a ligação. O
coeficiente de vão de corte utilizado M/Vh=2,92 é baixo condicionando o
comprimento da rotula plástica, e logo, a sua ductilidade. Caso o coeficiente de vão de
corte do ensaio fosse M/Vh=5 seria de esperar resultados mais favoráveis.

O EC8, na parte referente a estruturas pré-moldadas, indica que caso a mesma seja
ensaiada experimentalmente e atinja determinado nível de ductilidade em
deslocamento poderá ser utilizado o coeficiente de comportamento indicado na
expressão anterior. No entanto não define qual o coeficiente de vão de corte a utilizar
no ensaio nem o critério de determinação do deslocamento de cedência.

Neste ensaio o critério para a determinação do deslocamento de cedência está


indicado no ponto 5.2.1, tendo a força de cedência sido determinada
experimentalmente. Caso a força de cedência fosse determinada analiticamente, como
defendem alguns autores, com os valores médios da resistência do betão e da cedência
das armaduras, a força de cedência seria Fy+= 190,2 kN num sentido e Fy-=99,3
kN no outro sentido, como determinado em 4.2.4. Assim, e mantendo o procedimento
para determinação do deslocamento cedência, os novos valores seriam  y 2= 12,3 mm
e  y 2= 14,7 mm, ver Figura 5-26 e Figura 5-27.

250

200
190,2

150
142,7
F (kN)

100

50

0
0 5 9,3 10 12,3 15 20 23,9 25
 (mm)

Figura 5-26 – Determinação do novo deslocamento de cedência positivo

113
-14,7 -11
0

-20

-40
F (kN)

-60

-75

-80

-99
-100

-120
-20 -16 -12 -8 -4 0
 (mm)

Figura 5-27 – Determinação do novo deslocamento de cedência negativo

Resumindo os deslocamentos determinados segundo este critério são:

 y 2= 12,3 mm  y 2= 14,7 mm

e segundo o anterior critério:

 y 1= 16,5 mm  y 1= 15,7 mm

O factor de ductilidade em deslocamento que se obteria seria:

para o deslocamento positivo d= 3  y 1 /  y 2= 316,5/12,3= 4,0

e para o deslocamento negativo d= 3  y 1 /  y 2= 315,7/14,7= 3,2

Valores estes mais favoráveis que os considerados neste trabalho.

Em termos de estabilidade da resposta, para cada conjunto de três ciclos completos a


degradação máxima da resistência de pico foi de 8,2%, como se pode observar na
Figura 5-20 e no Quadro 5-10 que resume.

d Fpico+(%) Fpico-(%)
1,0 1,8 3,8
1,5 3,6 8,2
2,0 4,3 4,6
3,0 5,2 5,6
Quadro 5-10 – Forças de pico, degradação

114
Da análise do F-, Figura 5-17, observa-se que a plastificação da armadura ocorre a
primeira vez que determinado deslocamento é imposto, tendo comportamento elástico
nos ciclos seguintes. Depois do primeiro ciclo para d= 3 = 49,5 mm e após a
inversão do sinal do deslocamento para positivo, ver Figura 5-25, observa-se um
aumento da rigidez inicial seguido de uma perda para valores quase nulos e
novamente um ganho de rigidez. Este fenómeno está tratado em [64], ocorrendo nos
casos em que não existe simetria da armadura. A fase inicial de rigidez elevada
corresponde às armaduras inferiores comprimidas, depois de esgotada a sua
capacidade resistente elas plastificam ou encurvam provocando uma diminuição da
rigidez, que apenas volta a aumentar quando as fendas estiverem todas fechadas
passando a trabalhar o betão à compressão.

70

60

50

40
W (kN.m)

30

20

10

0
0 5 10 15 20 25 30 35
Ciclo

Figura 5-28 – Diagrama energia dissipada acumulada W ao longo dos ciclos

A energia dissipada acumulada ao longo dos ciclos, ver Figura 5-28, aumenta de
forma consistente com a história de deslocamentos impostos. No inicio de cada ciclo
o incremento de força é de sinal contrário ao incremento de deslocamento,
provocando uma diminuição da energia acumulada. Depois da inversão da força o
trabalho passa a ser positivo havendo assim um aumento da energia. Nas zonas de
comportamento não elástico ou plástico, correspondentes ao final de cada ciclo, existe
um aumento não recuperável da energia dissipada acumulada. Os ciclos 7 e 8, 15 e 16,
23 e 24, 31 e 32 a que correspondem deslocamentos impostos de d= 0,75 em que a
peça trabalha em regime quase elástico, verifica-se que não existe ganho significativo
da energia acumulada, seguindo-se um ciclo com ganhos não recuperados.

115
116
6 - CONCLUSÕES

6.1 - CONCLUSÕES FINAIS

No capítulo 2 descrevem-se os sistemas estruturais das estruturas pré-moldadas, as


exigências funcionais de um sistema de ligação, os diversos tipos de ligações de
continuidade, as normas e recomendações aplicáveis, o estado de arte da investigação
desta área e uma breve descrição de diversos tipos de ligações com continuidade
utilizadas em Portugal.

Sobre a investigação a decorrer nesta área realça-se o programa de investigação em


curso nos E.U.A. denominado PRESSS, iniciado em 1990 e estando neste momento
na sua fase final. É de esperar que os ensinamentos dessa investigação venham a ter
reflexos nos próximos códigos estruturais dos E.U.A. e recomenda-se que as próximas
revisões do EC8 aproveitem esses ensinamentos.

Em termos de impacto na indústria refere-se que neste momento está em construção o


edifício pré-moldado de betão mais alto da costa oeste dos E.U.A. com tecnologia
desenvolvida no referido programa de investigação. No artigo [69] descreve-se que o
referido edifício, ver Figura 6-1, terá 39 pisos atingindo uma altura de 133 metros, que
a sua performance sísmica será superior à das estruturas metálicas e que esta solução
estrutural revelou ser a mais económica.

No capítulo 3 descreve-se o sistema de ligação viga-pilar desenvolvido e possíveis


variantes do mesmo aplicáveis com os mesmos conceitos, descreve-se também as
soluções técnológicas particulares do sistema de ligação.

No capítulo 4 descreve-se o programa experimental referindo-se em particular as


problemáticas existentes quanto aos condicionantes de ensaio, à determinação dos
parâmetros de cedência e ao procedimento de ensaio. Devido às referidas
problemáticas optou-se por soluções conservativas que conduziram a resultados
experimentais em termos de performance sísmica inferiores ao que pensamos ser o
potencial do sistema de ligação.

No capítulo 5 apresentam-se os resultados experimentais sendo a conclusão


fundamental que o sistema de ligação resistiu a três ciclos completos a um nível de
ductilidade em deslocamento de 3, viabilizando assim a sua utilização em estruturas
com um coeficiente de comportamento até 2,5. A performance da ligação foi
semelhante à que seria de esperar para uma estrutura moldada em obra classificada
como de ductilidade normal, segundo o REBAP.

Refere-se ainda que o dimensionamento da ligação pode ser efectuado com as regras
habituais para as estruturas moldadas em obra devendo apenas haver cuidados
especiais na pormenorização devido às tolerâncias apertadas típicas das estruturas
pré-moldadas. A construção do modelo no laboratório revelou que o sistema de
ligação é de simples execução, rápida montagem e aceita elevadas tolerâncias.

117
Figura 6-1 – Edifício pré-moldado de betão em construção na costa oeste dos E.U.A.

6.2 - DESENVOLVIMENTOS FUTUROS

O conceito utilizado na continuidade da armadura inferior poderá ser desenvolvido


para a continuidade da armadura superior em ligações húmidas

O sistema anterior poderá também ser desenvolvido para ligações secas, sendo os
varões ligeiramente pré-esforçados para eliminar as folgas, podendo-se estudar
também a utilização de aço macio ou de alta resistência nos varões de pré-esforço.

Sendo as ligações das estruturas pré-moldadas diversas e difíceis de sistematizar num


código estrutural a possibilidade aberta no EC8 de a performance sísmica poder ser

118
comprovada experimentalmente parece um bom caminho; no entanto, recomenda-se
que sejam definidos procedimentos claros para o programa experimental e avaliação
dos resultados. Os pontos mais importantes a definir são o coeficiente de vão de corte
a utilizar no ensaio e o critério de cedência.

Os procedimentos de dimensionamento sísmico actualmente prescritos nos códigos


estruturais baseiam-se numa análise elástica sendo os comportamentos não lineares
contabilizados através do coeficiente de comportamento, no entanto, esse coeficiente
baseia-se num comportamento dos materiais elástico-plástico perfeito que não
corresponde à realidade. O procedimento de cálculo sísmico “Displacement based
design” que considera o real comportamento do material, poderá ser um
desenvolvimento futuro interessante no cálculo sísmico.

119
120
7 - REFERÊNCIAS

[1] FIP: “Planning and Design Handbook on Precast Building Structures”, Fédération
Internationale de la Précontrainte, Londres, 1994.
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Society for Earthquake Engineering, 1992.
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do grau de Doutor em Engenharia Civil, IST, Lisboa, 1996.
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[13] “Regulamento de Segurança e Acções para Estruturas de Edifícios e Pontes”,
Porto Editora.
[14] “Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado”, Porto Editora.
[15] Documento de Homologação “INDUBEL-IP2”, LNEC 1979.
[16] Documento de Homologação “ENGIL EG1”, LNEC 1984.
[17] Documento de Homologação “NOVOBRA NK1”, LNEC 1984.
[18] Documento de Homologação “NOVOBRA NK2”, LNEC 1981.
[19] ENV 1992-1-1:1998 “Eurocódigo 2: Projecto de Estruturas de betão Parte 1.1:
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Projecto de Estruturas de Betão, Parte 1-3 – Regras Gerais, Peças e Estruturas
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[22] ENV 1998-1-2:1994 “Eurocode 8 - Design provisions for earthquake resistance
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[23] ENV 1998-1-3:1995 “Eurocode 8 - Design provisions for earthquake resistance
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