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Centro de Investigação em
Estruturas e Construção da UNL
ÍNDICE
1. INTRODUÇÃO ............................................................................................................................... 2
2. MECANISMOS DE ADERÊNCIA AÇO-BETÃO ............................................................................ 3
2.1. Comportamento da ligação aço-betão durante um ensaio pull-out ........................................ 3
2.2. Roturas por “pull-out” e por “splitting” ..................................................................................... 7
2.3. Diferentes factores que influenciam a aderência.................................................................... 8
2.3.1. Geometria e nível de tensões da armadura..................................................................... 8
2.3.2. Qualidade e estado de tensão do betão .......................................................................... 9
2.3.3. Outros aspectos ............................................................................................................... 9
2.4. Confinamento .......................................................................................................................... 9
2.5. Ensaios para quantificar a aderência.................................................................................... 10
2.5.1. Testes “pull-out” ............................................................................................................. 10
2.5.2. Ensaio de viga (“beam test”) ......................................................................................... 11
2.6. Acções cíclicas...................................................................................................................... 11
3. COMPARAÇÃO ENTRE REGULAMENTOS/ESPECIFICAÇÕES/RECOMENDAÇÕES ........... 13
3.1. - Geometria das nervuras ..................................................................................................... 13
3.2. - Comprimentos de amarração ............................................................................................. 17
3.2.1. REBAP [25] .................................................................................................................... 17
3.2.2. EC2 [1] .......................................................................................................................... 19
3.2.3. EHE [26] ......................................................................................................................... 19
3.2.4. Comparação entre REBAP e EC2 ................................................................................. 21
3.2.5. Comparação entre o EC2 e o EHE ................................................................................ 22
4. CONCLUSÕES ............................................................................................................................ 24
5. BIBLIOGRAFIA ............................................................................................................................ 25
1. INTRODUÇÃO
A aderência entre o betão e os varões que constituem as armaduras dos elementos de
betão armado é de primordial importância para o funcionamento conjunto dos dois
materiais e tem particular relevância em diversos fenómenos de resistência de rigidez
destes elementos. Estes fenómenos influenciam, designadamente: o controle da abertura
das fendas em peças traccionadas e a limitação da deformação dos elementos sujeitos a
flexão e/ou a tracção, por mobilização do betão entre fendas - “tension stiffening effect”; a
transferência progressiva das forças ao longo dos varões para o betão quando os
esforços de flexão variam ao longo do elemento de betão armado, contribuindo assim
para o mecanismo de resistência ao esforço transverso; os mecanismos de transferência
das forças das extremidades dos varões, traccionados ou comprimidos, para o betão,
fenómeno que se designa por amarração, e a transferência dessas forças entre varões
por simples sobreposição dos mesmos no seio do betão, proporcionando a emenda dos
varões.
O presente trabalho constitui uma breve síntese dos conhecimentos sobre a aderência
entre os varões de aço e o betão. Este relatório subdivide-se em três partes
fundamentais, sendo a primeira relativa ao conhecimento teórico do tema, a segundo
relacionada com a sua abordagem por diferentes códigos e regulamentos,
nomeadamente pela EN 1992 (Eurocódigo 2) [1], e por último as conclusões. Este
trabalho foi solicitado pelo QSP - Qualidade Siderúrgica Portuguesa, Associação e surge
na sequência da preocupação desta associação de empresas, do sector da produção de
armaduras para betão armado, relativa ao método usado em Portugal para controlo da
qualidade das armaduras em relação à aderência ao betão. O método utilizado em
Portugal baseia-se no controlo da geometria das nervuras dos varões, não se recorrendo,
à semelhança do que é feito noutros países, aos ensaios normalizados para a
determinação das características de aderência dos varões. O controle laboratorial tem-se
mostrado menos conservativo em relação às alturas mínimas das nervuras que o simples
controlo geométrico, o que desonera a produção das armaduras pela redução do número
de paragens do processo de fabrico necessárias para a substituição dos roletes que
moldam as nervuras.
Figura 1 – (a) Tensões tangenciais função do escorregamento para vários cenários possíveis; (b)
escorregamento; (c) adesão, atrito e compressões das nervuras (bearing action); (d) fissuras
transversais e de “splitting”; (e) “splitting” parcial [5]
Figura 2 – Aderência e “splitting” em betão armado: (a) pico de tensões junto às extremidades das
nervuras; (b) escorregamento e compressões originadas pelas nervuras; (c) parâmetros principais
[5]
Etapa III
Para valores ainda superiores das tensões de aderência, τ ≤ τb = (1-3) fct, a fendilhação
longitudinal (“splitting cracks”, Fig. 1d e 2c) alastra-se radialmente devido ao aumento da
acção das nervuras, que esmagam o betão que lhes é adjacente e introduzem um estado
de tensão de tracção (σc na Fig. 2c). Esta pressão exercida pelas nervuras no betão
circundante (fig. 1.1.2b) é resistida pelas tensões de cintagem no betão: como
consequência, o betão circundante exerce uma acção de confinamento no varão, e a
resistência por aderência e a rigidez são asseguradas essencialmente pelo intrincamento
ao longo da armadura, pelas bielas radiais de betão e pelo anel de betão exterior não
danificado. No caso da armadura transversal ser reduzida, esta fase terminará assim que
a fendilhação radial “concrete splitting” atingir a face exterior de betão. A rotura ocorrerá
por “splitting” (etapa IVa).
No entanto em ancoragens relativamente longas e com um confinamento moderado,
poderá ocorrer uma rotura mista, ocorrendo numas zonas da ancoragem rotura por
“splitting” e noutras rotura por “pull-out”. Esta rotura é definida por “splitting-induced pull-
out failure”.
No caso da armadura transversal ser muita ou o recobrimento ser grande, o
confinamento vai impedir o “splitting”, ficando este limitado ao núcleo fendilhado em redor
do varão. Esta rotura é designada por “pull-out failure” (etapa IVb).
A acção dos varões com o aparecimento da fissuração longitudinal vai mobilizar todas as
possibilidades de confinamento. A eficiência do confinamento depende do recobrimento e
do espaçamento entre varões, da quantidade de armadura transversal e da coesão das
fendas.
Etapa IVa
No caso de varões nervurados confinados fraca ou medianamente por armadura
transversal, a fendilhação longitudinal (“splitting cracks”) ocorre em todo o recobrimento e
espaçamento entre varões e a aderência tende a perder-se abruptamente (Fig. 3c). Por
outro lado, armadura transversal em quantidade suficiente pode assegurar a eficiência da
aderência em vez da separação (“splitting”) do betão, devido à acção de confinamento
desenvolvida pelo reforço. Nesta fase podem ocorrer escorregamentos muito
significativos e até inaceitáveis.
Esta rotura, por “splitting”, é ainda mais preocupante em betões leves e em betões de alta
resistência, uma vez que as fendas não ocorrem só na pasta de cimento, mas também
atravessam os agregados. Isto provoca fendas menos rugosas e mais planas.
Etapa IVb
Como já referido na etapa III, no caso de varões nervurados fortemente confinados, não
ocorrerá “splitting”, ocorrendo a rotura por “pull-out” (Fig. 3a).
Figura 3 – Modos de rotura por aderência: (a) rotura por “pull-out”; (b) rotura por “pull-out”
induzida por “splitting” com esmagamento e/ou corte do betão debaixo às nervuras; (c) rotura por
“splitting” [5]
Figura 4 – Propagação das fendas de “splitting” numa ancoragem: (a) início, (b) fase intermédia;
(c) propagação completa (Giuriani et al. [9])
A inclinação dos flancos das nervuras é um factor muito importante. Se a inclinação entre
o flanco e o eixo do varão for superior a 45º o escorregamento ocorre quase por inteiro
devido ao esmagamento do betão com o qual as nervuras contactam (Fig. 3b e c). O
escorregamento é favorecido por pequenas inclinações. Para bons resultados as
nervuras deverão estar uniformemente espaçadas e o ângulo referido não deverá ser
inferior a 45º.
As tensões instaladas na armadura podem influenciar o comportamento em termos de
aderência dependendo da sua ordem de grandeza. Podem-se distinguir duas situações a
que correspondem dois tipos de ensaios “pull-out” existentes, um com um comprimento
de ancoragem curto e outro com o comprimento de ancoragem longo. Quando o
comprimento de ancoragem é curto as tensões no aço na rotura são de pequeno valor,
não influenciando o ensaio, mas quando o comprimento de ancoragem é longo as
tensões no aço já podem assumir valores significativos e influenciar o ensaio. A influência
das tensões no aço está relacionada com o efeito de Poisson, ou seja, com o crescer das
tensões de tracção dá-se uma redução no diâmetro do varão, reduzindo as tensões de
confinamento e consequentemente as tensões de aderência devidas ao atrito. Este
problema pode causar inconvenientes principalmente se os varões forem lisos, no caso
de varões nervurados só terá significado se o aço não se mantiver em regime elástico.
2.3.2. Qualidade e estado de tensão do betão
A aderência depende do comportamento “multiaxial“ do betão em compressão e da
resistência à tracção do betão. No entanto, a resistência à compressão e à tracção são
muito importantes para as roturas por “pull-out” e por “splitting” respectivamente.
Quanto à colocação dos varões durante a betonagem, o melhor comportamento da
aderência consegue-se em varões horizontais colocados na parte inferior da cofragem e
em varões verticais solicitados em sentido contrário ao da betonagem, ou seja, em
ambos os casos com as nervuras a serem empurradas contra a argamassa menos
porosa.
O estado de tensão no betão é um factor importante, podendo condicionar o tipo de
rotura num caso limite. Se o betão estiver sujeito a tensões de tracção na direcção
transversal, existe uma maior facilidade à abertura de uma fenda longitudinal ao varão, o
que significa que o comportamento de ancoragens que seriam propensas de romper por
“splitting”, e de emendas, é prejudicado, e ancoragens que teriam tendência a ter roturas
por “pull-out” podem, no limite, ter roturas por “splitting”.
As compressões transversais vão produzir um efeito de confinamento, que é favorável,
pois tende a não permitir que se abra a fenda longitudinal referida no parágrafo anterior.
2.3.3. Outros aspectos
Existem outros parâmetros que influenciam a aderência, uns relacionados com o betão (a
mistura e a máxima dimensão dos agregados) outros com o aço (espaçamento entre
varões, número de camadas de varões, diâmetro dos varões e tipo de material, a
ferrugem e a corrosão do aço), outros ainda tais como a degradação da aderência devido
às altas temperaturas e a melhoria do comportamento devido a baixas temperaturas.
2.4. Confinamento
O confinamento pode ser definido como activo ou passivo, dependendo da sua natureza.
É activo quando existem forças que actuam em permanência (p.e. num nó viga-pilar) e o
passivo é quando as forças só aparecem após deformação (geralmente conferido pelo
recobrimento e/ou estribos). Como foi referido, as compressões transversais favorecem a
aderência. O confinamento activo é mais eficiente do que o passivo. O confinamento
activo actua logo impedindo que ocorram abertura de fendas enquanto o passivo só é
mobilizado com a ocorrência de escorregamento e abertura de fendas.
O grande problema do confinamento passivo é controlar a abertura de fendas,
nomeadamente das fendas longitudinais que provocam o “splitting”. No caso do
confinamento activo, pode-se dizer que a resistência por aderência é praticamente uma
função linear da pressão transversal, cujos benefícios aumentam com o aumento do
recobrimento.
Para se conseguir controlar o “splitting” e melhorar a rigidez e resistência por aderência, é
necessário uma acção de confinamento ao longo do varão para compensar as tensões
de tracção induzidas pelas nervuras. Inicialmente, este confinamento é conferido pela
resistência à tracção do betão não fendilhado e pelas tensões de coesão entre as faces
das finas fendas de “splitting”. Quando as fendas de “splitting” se propagam e começam a
abrir, é necessário mais confinamento que será conferido pela armadura transversal. A
colocação de estribos só é eficaz até determinada quantidade, a partir da qual não se tem
benefícios. Para além das duas acções de confinamento passivo descritas, as forças de
confinamento activas ajudam a melhorar a aderência.
Segundo o “Model Code 90” [16]o betão é considerado não confinado quando se adopta
o recobrimento mínimo (c=Ø) e o mínimo de área de estribos num comprimento igual ao
comprimento de ancoragem (Ast,min=0.25As, sendo As a área total da armadura
longitudinal). Sendo considerado bem confinado quando o recobrimento e o espaçamento
livre entre varões são suficientemente grandes (≥5Ø e ≥10Ø, respectivamente), ou a
armadura transversal é pouco espaçada e tem área total suficientemente grande (Ast=As),
ou quando sujeito a uma elevada pressão transversal (≥7.5MPa).
Um exemplo de forte confinamento é o que acontece nos nós pilar/viga, onde o
confinamento activo é conferido pela parte superior do pilar e o confinamento passivo é
conferido pelos varões longitudinais do pilar.
Um caso pertinente é o problema real de aderência quando uma acção sísmica ocorre
num nó de ligação entre um pilar e uma viga. Quando o aço excede o limite elástico, o
escorregamento tende a crescer rapidamente por a barra estar plastificada e porque a
secção encolhe transversalmente por efeito de Poisson, diminuindo assim a acção de
confinamento conferido pelo betão.
Por causa da flexão cíclica as vigas podem sofrer fendilhação nas secções junto ao pilar,
mas a região afectada pela acção da aderência estende-se para o interior do nó, que está
aparentemente não fendilhada devido ao confinamento exercido pelo pilar e pelas vigas
transversais que nele convergem. (Fig. 7).
As fendas na interface viga-pilar vão aumentando durante a exposição à acção cíclica
devido à progressiva deterioração da aderência, agravando a rotação relativa entre o pilar
e a viga. O contributo do escorregamento de aderência para a rotação na interface entre
a viga e o pilar pode atingir 50% da rotação total, sendo a restante parcela devida à
deformação plástica das armaduras (Fig. 8) (Soleimani et al., 1979 [22]).
No interior do nó, as condições de aderência variam ao longo do comprimento (Fig. 9), as
diferenças estão relacionadas com a eficácia do confinamento, que por sua vez
dependerá da flexão que existir no pilar. Na zona onde a flexão provocar compressões o
confinamento será melhor, onde provocar tracções o confinamento será pior e na zona
central do nó, onde a flexão não provoca grandes tensões, tem-se um confinamento
intermédio.
O EC2 não faz referência a alturas de nervuras nem afastamento entre as mesmas, mas
impõe os seguintes valores mínimos para o parâmetro fR, com o Ø em mm:
⎧0.035 5≤φ ≤ 6
⎪
f R = ⎨0.040 6.5 ≤ φ ≤ 12 (3)
⎪0.056 φ > 12
⎩
τ 0.01 + τ 0.1 + τ 1
τm = (6)
3
14
Tensões de aderência [MPa]
12
10
8 τu
6
τm
4
2
0
0 10 20 30
Diâmetro [mm]
Embora o EC2 não seja muito específico no que diz respeito à geometria das nervuras, a
prEN 10080 [23] faz referência a todas as dimensões das mesmas, colocando limites
para a altura das nervuras (a) e para o espaçamento entre nervuras (c) (Tabela 2 e
Figura 5), referindo ainda que a inclinação das nervuras em relação ao eixo longitudinal
do varão deverá estar entre os 35º e os 75º, a inclinação dos flancos deverá ser superior
a 45º e que as nervuras longitudinais não deverão ter mais de 1.5Ø.
⎧6.88 φ <8
⎪
τ m ≥ ⎨7.84 − 0.12φ 8 ≤ φ ≤ 32 (7)
⎪ 4.00 φ > 32
⎩
⎧11.22 φ <8
⎪
τ r ≥ ⎨12.74 − 0.19φ 8 ≤ φ ≤ 32 (8)
⎪6.66 φ > 32
⎩
Quer o EC2 quer a UNE 36740:1998 [24] permitem liberdade nas dimensões das
nervuras transversais desde que se cumpram os já referidos requisitos ao nível das
tensões de aderência. Na Tabela 4 faz-se uma comparação das exigências entre ambos,
onde se pode observar que para todos os diâmetros com excepção do de 40mm as
exigências são semelhantes.
sendo:
As,cal – secção da armadura requerida pelo cálculo;
As,ef – secção de armadura efectivamente adoptada;
α1 – coeficiente que toma o valor de 0,7, no caso de amarrações curvas em
tracção, e é igual à unidade nos restantes casos;
Ø – diâmetro do varão ou diâmetro equivalente do agrupamento;
fsyd – valor de cálculo da tensão de cedência ou da tensão limite convencional de
proporcionalidade a 0,2% do aço;
fbd – valor de cálculo da tensão de rotura da aderência, apresentados na Tabela 5;
lb,min – comprimento de amarração mínimo, que é igual a 10Ø; 100mm; 0,3lb, no
caso de varões traccionados; 0,6lb no caso de varões comprimidos.
Na Tabela 5 apresentam-se as tensões de aderência de cálculo (fbd) para boas condições
de aderência segundo o REBAP e o EC2, estas tensões podem ser obtidas através das
seguintes expressões, que são válidas, segundo o EC2, para betões de classes inferiores
a C50/60 e diâmetros máximos de 32mm:
fbd = 2.25 fctd, com fctd = fctk / (γc=1.5) e fctk = 0.7 fctm , sendo fctm = 0.30 fck2/3
fck,cilindros 12 16 20 25 30 35 40 45 50
fbd (MPa) 1.7 2.0 2.3 2.7 3.0 3.4 3.7 4.0 4.3
Nota: Para outras condições de aderência deve-se multiplicar os valores da Tabela 5 por 0,7.
em que lb,rqd é o comprimento de amarração base dado pela expressão (12), o lb,min é
idêntico ao referido para o REBAP e os coeficientes α têm a função de ter em conta
diversos factores:
α1 tem em conta a forma da barra considerando adequado recobrimento;
α2 tem em conta a espessura do recobrimento;
α3 tem em conta o confinamento conferido pela armadura transversal;
α4 tem em conta a existência de varões transversais soldados;
α5 tem em conta a pressão transversal ao longo do comprimento de ancoragem.
O produto α2α3α5 não pode ser inferior a 0,7.
φ σ Sd
lb , rqd = × (12)
4 f bd
onde:
Ø – diâmetro do varão ou diâmetro equivalente do agrupamento;
σSd – valor de cálculo da tensão no varão na secção inicial da ancoragem;
fbd – valor de cálculo da tensão de rotura da aderência, apresentados na Tabela 5;
Se tivermos amarrações rectas, sem varões transversais soldados, o produto dos
coeficientes da expressão (11) podem assumir um valor entre 0,7 e 1,0, dependendo do
produto α=α2α3α5, uma vez que α1=α4=1,0. Neste documento vamos assumir todos os
coeficientes iguais à unidade. Nesta situação, os comprimentos de amarração calculados
de acordo com o EC2 são idênticos aos já apresentados para o REBAP nas Tabelas 6, 7
e 8.
A expressão (11) tem como base o preconizado no Model Code 90 [16], onde a
expressão é:
As ,cal
lb,net = α 1α 2α 3α 4α 5 lb ≥ lb ,min (13)
As ,ef
Tabela 9 – Coeficiente m
fck (MPa) m
B 400 S B 500 S
25 12 15
30 10 13
35 9 12
40 8 11
45 7 10
50 7 10
o produto α2α3α5 for unitário, sendo as exigências para os restantes tipos de amarrações
idênticas. Onde podem surgir diferenças é quando o produto α2α3α5 for inferior a 1, que é
a situação mais corrente, uma vez que o recobrimento raramente é inferior ao diâmetro
(α2<1) e frequentemente existe armadura transversal (α3<1). Na realidade o produto vai
assumir um valor entre 0,7 e 1,0, podendo os comprimentos de amarração entre o
REBAP e o EC2 ser muito próximos ou ir até 30% de diferença no caso de amarrações
rectas sem pressão transversal ao longo da amarração.
- fyk=400MPa
Comparando os comprimentos de amarração preconizados pelo EC2 com os do EHE não
se conseguem tirar conclusões muito claras.
Na Tabela 14 comparam-se, percentualmente, os comprimentos de amarração
apresentados nas Tabelas 6 e 10, onde se pode observar que com raras excepções os
comprimentos exigidos pelo EHE são menores que os do EC2, sendo as diferenças
significativas chegando nalguns casos aos 38%. Esta situação é idêntica ao comparar os
comprimentos exigidos pelo REBAP com os exigidos pelo EHE, onde se pode referir que
o EHE corresponde quase sempre a comprimentos de amarração inferiores.
Ø (mm) 12 16 20 25 30 35 40 45 50
- fyk=500MPa
Fazendo agora a comparação dos comprimentos de amarração preconizados pelo EC2
com os do EHE para fyk=500MPa as conclusões são idênticas às retiradas para
fyk=400MPa, variando um pouco os valores, como se pode observar nas Tabelas 15.
4. - CONCLUSÕES
O presente documento constitui uma síntese do estado do conhecimento sobre aderência
de varões nervurados de aço ao betão em elementos de betão armado. Não sendo
exaustivo no tratamento do tema, referem-se as publicações que, em maior detalhe, se
debruçam sobre cada um dos aspectos relevantes deste tópico.
A nível nacional, o problema da aderência aço-betão é tratado no REBAP [25] e nas
especificações do LNEC relativas a cada uma das classes de aço para armaduras
ordinárias [12 a 15]. No âmbito europeu, a versão final do EC2 [1] refere este assunto
seguindo de perto o estipulado no MC90 [16].
A geometria dos varões nervurados está definida de forma detalhada nas especificações
do LNEC, onde as dimensões mínimas das nervuras estão definidas. Por outro lado, o
EC2 limita-se a indicar valores máximos e mínimos para a área relativa das nervuras
transversais, permitindo, tal como a norma espanhola EHE [26], que estes limites sejam
excedidos desde que se garantam através de ensaios características mínimas de
aderência.
O REBAP é de todos os regulamentos e normas analisadas o mais conservativo em
relação ao fenómeno da aderência, exigindo comprimentos de amarração maiores que os
restantes, enquanto que o EHE é, em geral, o menos conservador.
Existem aspectos cujo estudo contribuirá para melhorar o conhecimento sobre a
aderência aço-betão, designadamente: a análise da relação entre os resultados dos
ensaios de aderência e a geometria das nervuras transversais, eventualmente traduzida
na sua área relativa; e o comportamento da aderência aço-betão face a acções
dinâmicas, nomeadamente a acção sísmica.
Em relação ao primeiro assunto, a Siderurgia Nacional dispõe de uma base de dados
com grande quantidade de informação que poderá ser usada na análise da relação entre
a geometria das nervuras e os resultados do “beam test”.
5. BIBLIOGRAFIA
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1999.
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[19] Goto, Y.; Otsuka, K.; “Studies on Internal Cracks Formed in Concrete Around
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[20] Gambarova, P.; Giuriani, E.; “Fracture Mechanics of Bond in Reinforced Concrete”,
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[21] Eligehausen, R.; Popov, E.P.; Bertero, V.V.; “Local bond stress-slip relationships of
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[22] Soleimani, P. ; Popov, E.P., Bertero, V.V. ; “Hysteretic behavior of reinforced-
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General”, Fevereiro, 2004.
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[25] Regulamento de Estruturas de Betão Armado e Pré-esforçado (REBAP), Imprensa
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[26] Instrucción de Hormigón Estructural (EHE), REAL DECRETO 2661/1998, Ministerio
de Fomento, 1998.
Os autores:
_____________________ _____________________
Válter J.G. Lúcio Rui P.C. Marreiros
Prof. Associado Assistente
_____________________
Prof. Válter J.G. Lúcio