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Notas de aula - Ferrovias:

Geotecnia básica aplicada à construção de


estradas

Prof. George Wilton Albuquerque Rangel


Faculdade de Ciências e Tecnologia (FCT)
Engenharia de Transportes
Revisão 04 – 23/09/2023
Sumário
1 Introdução.....................................................................................................................3

2 Elastoplasticidade aplicada em ferrovias ......................................................................4


2.1 O tensor tensão de Cauchy e os invariantes das tensões ......................................8
2.2 A relação tensão-deformação, o tensor deformação e a Lei de Hooke ................12
2.3 Critérios de escoamento clássicos para carregamentos estáticos ........................20
2.3.1 Critério de Tresca ............................................................................................21
2.3.2 Critério de Von Mises ......................................................................................22
2.3.3 Critério de Mohr-Coulomb ...............................................................................23
2.3.4 Critério de Drucker-Prager ...............................................................................25

3 O ângulo de atrito interno, de dilatância e a coesão ...................................................27

4 A produção dos agregados britados ...........................................................................30

5 Ensaios geotécnicos de laboratório ............................................................................34


5.1 Granulometria .......................................................................................................34
5.2 Forma das partículas ............................................................................................37
5.3 Limites de Atterberg ..............................................................................................38
5.3.1 Limite de liquidez (LL)......................................................................................38
5.3.2 Limite de plasticidade (LP) ..............................................................................39
5.3.3 Índice de plasticidade (LP) ..............................................................................39
5.4 Massa específica, massa unitária, volume de vazios, absorção e porosidade .....41
5.5 Compactação Proctor ...........................................................................................43
5.5.1 Compactação em corpos de prova em miniatura, Mini-Proctor .......................46
5.6 Índice de Suporte Califórnia (ISC ou CBR) ...........................................................46
5.6.1 O ensaio Mini-CBR ..........................................................................................49
5.7 Resistência à abrasão Los Angeles ......................................................................49
5.8 Resistência ao choque Treton...............................................................................51
5.9 Resistência ao esmagamento ...............................................................................52
5.10 Compressão unidimensional e adensamento .....................................................52
5.11 Compressão simples em solos coesivos.............................................................54
5.12 Ensaio de cisalhamento direto ............................................................................55
5.13 Ensaios triaxiais, o módulo de resiliência e modelos para sua estimativa ..........56

6 Classificação dos agregados e solos..........................................................................65


6.1 Classificação HRB ................................................................................................65
6.2 Classificação USCS ..............................................................................................67
6.3 Classificação MCT ................................................................................................73

7 Sondagens .................................................................................................................81
7.1 Sondagens à trato .................................................................................................81
7.2 Sondagens à percussão (SPT) .............................................................................82

A fotografia da capa foi tirada pelo autor em maio/2013, durante a construção de um


aterro na Extensão Sul da Ferrovia Norte-Sul
7.3 Sondagens mistas.................................................................................................85

8 Solos moles e inservíveis ...........................................................................................86


8.1 Resistência não drenada ao cisalhamento (su) .....................................................89

9 Referências bibliográficas...........................................................................................91

A fotografia da capa foi tirada pelo autor em maio/2013, durante a construção de um


aterro na Extensão Sul da Ferrovia Norte-Sul
1 Introdução
Para a construção das camadas dos pavimentos, seja rodoviário ou ferroviário,
geralmente são utilizados agregados disponíveis na região do empreendimento, sempre
procurando a redução da distância média de transporte (DMT), que pode resultar em custos
maiores que os próprios materiais a serem utilizados. Esse aspecto pode limitar a utilização dos
melhores materiais possíveis para determinada finalidade, existindo então, limites técnicos que
devem ser respeitados a fim de garantir a mínima qualidade da obra, tornando tais limites os
critérios para a aprovação ou recusa dos materiais. Em casos específicos, por falta de materiais
apropriados e elevados custos para sua obtenção, pode-se inclusive aceitar materiais que não
se enquadrem em determinada especificação, evidentemente, após análises específicas de
engenharia para cada situação.
Entende-se como agregados rochas britadas e naturais, pedregulhos, areias, siltes e
argilas, podendo ser divididos em graúdo ou miúdo. No dicionário, solo é a “porção da superfície
terrestre onde se anda, se constrói, etc.; terra; chão”, podendo ser considerado um agregado
miúdo (AURÉLIO, 2004).
O agregado como material de construção de pavimentos é um material que deve ser
inerte. Porém, é sabido que o agregado pode não ser inerte, existindo inclusive ensaios químicos
para verificar sua reação com a água ou com outras substâncias em que este poderá sofrer
contato. De um modo geral, os materiais utilizados em pavimentos devem ser resistentes,
apresentar pouca deformação e possuir permeabilidade compatível com sua função estrutural
(BERNUCCI, MOTTA, et al., 2008).
Este texto apresenta os ensaios padrões geralmente utilizados na construção e
manutenção da via permanente ferroviária em relação às camadas geotécnicas, materiais que
em geral já existem a milhões de anos na natureza. São apresentadas as classificações e
definições teóricas aplicadas em obras reais, sempre buscando unir a teoria com a prática.
O Capítulo 2 objetiva demonstrar o que é a elasticidade e plasticidade, apresentar a base
teórica do comportamento de materiais geralmente empregados em pavimentos ferroviários, as
simplificações consideradas para fins de cálculos práticos, a relação tensão-deformação e os
critérios básicos de escoamento.
O Capítulo 3 define os parâmetros resistivos básicos utilizados em geotecnia. O Capítulo
4 apresenta uma breve revisão de como os materiais britados são produzidos.
O Capítulo 5 apresenta os ensaios básicos realizados em projetos de infraestrutura
ferroviária para a caracterização de materiais e ainda alguns considerados avançados, mas que
vêm ganhando espaço, tais como triaxiais e cisalhamento direto.
Os Capítulos 6 e 7 tratam da investigação geotécnica básica e da classificação dos
materiais geotécnicos.
Por fim, no Capítulo 8 o objetivo é fazer uma breve revisão do que é solo mole, apresentar
os principais problemas inerentes a este tipo de material e comentar sobre as técnicas
geralmente utilizadas em obras ferroviárias.

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Introdução
2 Elastoplasticidade aplicada em ferrovias
A elasticidade é a propriedade que um material tem de se deformar ao ser submetido a
uma ação externa e retornar à sua forma original quando interrompida a ação. Já a plasticidade
é a propriedade de um material mudar de forma de modo irreversível quando submetido a uma
dada tensão.
Os materiais do pavimento ferroviário, tais como metais (trilhos), concreto ou madeira
(dormentes), rochas (lastro) e o solo (sublastro e subleito) apresentam comportamento plástico
quando solicitados acima de certos níveis de tensão ou após um certo número de ciclos de
carregamento, necessitando de modelos teóricos que os representem adequadamente. A
relação tensão-deformação pode ser complexa e o seu aspecto varia muito de material para
material, podendo depender da temperatura, número de repetições de carga, histórico de
tensões, estado de tensão etc. Os modelos que representam o comportamento do aço
geralmente são diferentes daqueles que representam o comportamento do concreto, britas e
solos. A complexidade é ainda maior quando se aplica tais materiais, com diferentes
comportamentos, em uma mesma estrutura e tenta-se fazer uma análise global do
comportamento do pavimento ferroviário.
Na mecânica dos materiais as não linearidades são divididas em físicas e geométricas.
Na física, a relação tensão-deformação é não linear (Figura 2.1), na geométrica, a não
linearidade decorre de mudanças geométricas durante a solicitação. Na não linearidade física os
materiais ainda são divididos em dois grupos: com comportamento elástico não-linear; e com
comportamento inelástico, que engloba diferentes modelos reológicos, como o viscoelástico,
viscoplástico e o elastoplástico, neste último onde existe uma deformação plástica permanente
(FERNANDES, 2022). Portanto, a elastoplasticidade é um dos modelos de um comportamento
inelástico, tratando-se de uma não linearidade física. Tal modelo é amplamente utilizado para
representar o comportamento dos materiais usualmente aplicados em pavimentos ferroviários
(aço, concreto, britas, areias e argilas). Pode-se dizer que o asfalto (utilizado em alguns
empreendimentos ferroviários) tem um modelo inelástico composto, o viscoelastoplástico,
misturando o viscoelástico e o viscoplástico.

(a) Material elástico não-linear (b) Material elastoplástico, com deformação


permanente (𝜀 𝑝 ) ao ser descarregado

Figura 2.1 – Diagramas tensão-deformação, (FERNANDES, 2022).


Em geral, os materiais aplicados em ferrovias apresentam comportamento
elastoplástico, com uma região elástica e outra plástica. Para exemplificar, na Figura 2.2
apresenta-se o resultado típico e genérico de um ensaio à tração no aço estrutural. No qual no
ponto “A” o diagrama deixa de ser linear. A partir do ponto “B” as deformações deixam de ser
reversíveis. A partir do limite de escoamento no ponto “B” até o ponto “C” as deformações
aumentam praticamente sem aumento da tensão, com acréscimo de tensão antes da ruptura no
ponto “D”. Entre os pontos “C” e “D” tem-se o endurecimento, onde existe aumento da resistência
do material até o máximo, no ponto “D”, denominada tensão última. No trecho entre os pontos
“C” e “F”, na prática existe a estricção da seção transversal, reduzindo-a, na prática aumentando
um pouco mais a tensão última. Na teoria, para a simplificação do problema, pode-se
desconsiderar tal estricção, com a fratura ocorrendo no ponto “E”.

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Elastoplasticidade aplicada em ferrovias
Figura 2.2 – Diagrama tensão-deformação de um corpo de prova de aço estrutural, ensaiado à
tração simples, sem escala (FERNANDES, 2022).
O gráfico da Figura 2.2 é sem escala. Trata-se de artifício para melhorar a visualização
do comportamento do material. Na realidade, a condição ensaiada, em escalada, se parece mais
com o gráfico apresentado na Figura 2.3(a). Agora fica evidente a diferença entre um material
dúctil, como o aço estrutural, e um material frágil, como o concreto Figura 2.3(b). O material dúctil
sofre grandes deformações permanentes antes da ruptura, já o frágil rompe para baixos valores
de deformação. Na prática, o aço avisa que vai romper, já o concreto não.

(a) De um aço estrutural (b) De um material frágil, como o concreto

Figura 2.3 – Diagramas tensão-deformação em escala, (FERNANDES, 2022).


No caso do concreto, pode ser difícil definir um limite elástico e de proporcionalidade,
uma vez que desde o início das solicitações o material já evidencia comportamento não linear.
Tal aspecto é ainda mais relevante quando o elemento estrutural é submetido a milhões de
carregamentos repetidos (eixos), como nos dormentes. Na Figura 2.4, observa-se que para
tensões cíclicas a resistência vai reduzindo até a ruptura (fadiga).

Figura 2.4 – Diagrama tensão-deformação de um corpo de prova de concreto ensaiado à

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Elastoplasticidade aplicada em ferrovias
compressão simples para inúmeros ciclos de carga, (AZEVEDO, 1985).
Tal questão é tão importante que os normativos geralmente especificam ensaios de
flexão nos dormentes, solicitando-os a milhões de ciclos de carga (ABNT NBR 11709, 2015).
Tais ensaios são onerosos e geralmente realizados apenas no protótipo de projeto. A
recomendação é um ensaio de carga repetida, no apoio do trilho, a cada 10 mil dormentes
produzidos. Caso o elemento não atinja a vida útil prevista em projeto, a partir de um número de
carregamentos repetidos, problemas estruturais como fissuras generalizadas poderão ocorrer,
comprometendo a segurança operacional (Figura 2.5).

Figura 2.5 – Exemplo de dormentes de concreto fissurados com 5 anos de idade instalados na
via após serem aprovados em ensaios de carregamento estático.
Diferentes repostas entre carregamentos cíclicos e monotônicos ocorrem principalmente
em pedras britadas (lastro) e no solo (sublastro e subleito). Estudos na Grã-Bretanha mostraram
que alguns solos se deformam de maneira significativa a tensões inferiores àquelas medidas em
ensaios estáticos, quando aplicados carregamentos cíclicos, levando a uma rápida plastificação
do material, existindo ainda a influência da frequência de carregamento e do histórico de tensões
(STOPATTO, 1987).
É importante distinguir diagramas de materiais que apresentam comportamento elástico
não-linear e elastoplástico (Figura 2.6), visto que no diagrama elastoplástico, quando as ações
não são mais atuantes, poderá ocorrer deformações permanentes, tornando a solução do
problema dependente do histórico de tensões a que o material foi submetido. Na Figura 2.6(b),
quando o material é solicitado acima do seu limite de escoamento e essa solicitação é cessada,
haverá uma deformação permanente residual (εp ). Quando o material é novamente solicitado e
um novo limite de tensão for atingido, ocorrerá aumento da parcela de deformação permanente.
A cada ciclo de carga o material vai acumulando deformações permanentes, com redução da
parcela elástica e aumento da parcela permanente, até a ruptura total ou parcial.

εp

(a) elástico não linear (b) elastoplástico

Figura 2.6 – Diagramas tensão-deformação, (AZEVEDO, 1985).


Existem também outros comportamentos descritos por diagramas tensão-deformação,
alguns simplificados apresentados na Figura 2.7, correspondentes a modelos de comportamento
axial. O termo endurecimento (do inglês hardening) refere-se ao aumento da resistência do

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material em deformação plástica. De forma oposta, a diminuição da resistência com o fluxo
plástico denomina-se amolecimento (IBAÑES, 2003). Verifica-se algumas características:
a) os materiais com comportamento perfeitamente plástico (Figura 2.7(b)(d)), sem
endurecimento, apresentam superfície de escoamento fixa e o mesmo estado de tensão
do início do escoamento;
b) nos materiais com endurecimento plástico (Figura 2.7(c)(e)) a superfície de escoamento
se expande à medida que o fluxo plástico ocorre, variando o estado de tensões.

(a) Linear elástico (análise linear) (b) Rígido perfeitamente plástico (c) Rígido-plástico com endurecimento

(d) Elastoplástico perfeito (análise por (e) Elastoplástico com endurecimento


métodos iterativos) (análise por métodos iterativos)

Figura 2.7 – Diagramas tensão-deformação simplificados, correspondente a modelos de


comportamento uniaxial, (AZEVEDO, 1985).
O comportamento não-linear resulta na consideração de deformações de 2ª ordem,
devendo o material ser representado por modelos constitutivos não-lineares. À medida que o
carregamento aumenta, ocorre a variação geométrica da estrutura, que pode influenciar na
solução final do problema. Assim, deve-se preservar os termos de 2ª ordem, tornando-se o
problema iterativo até que as variações não sejam significativas. Tal análise é complexa, sendo
geralmente realizada utilizando ferramentas computacionais e teorias matemáticas avançadas.
Assim, em um material com endurecimento ou amolecimento, considerando um
determinado critério de escoamento inicial, poderá haver a alteração de parâmetros com o fluxo
plástico, definido por uma regra de endurecimento ou amolecimento. Por sua vez, a direção do
fluxo plástico é definida por outra regra, conhecida como lei de fluxo ou em inglês “flow rule”.
Em muitos casos o comportamento real do material é complexo e, para aplicações
práticas, comumente são utilizados modelos mais simplificados do que aqueles que realmente
traduzem seu comportamento. Tais simplificações dependem do método de resolução, dos
objetivos da análise e da precisão necessária. Todavia, pode-se afirmar que um material
submetido a um estado de tensões tem sua deformação total decomposta em dois estágios,
conforme a equação (2.1):
a) o primeiro elástico, com deformações reversíveis;
b) o segundo plástico, com deformações irreversíveis.
p
εij t = εeij + εij (2.1)
Onde:
εij t= tensor de deformação total em um material sujeito a um estado de tensões;
εeij = tensor de deformações elásticas;
p
εij = tensor de deformações plásticas.

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O componente elástico é comumente descrito pela teoria da elasticidade, utilizando-se a
Lei de Hooke Generalizada. Necessita-se então definir o modelo matemático para o componente
plástico, deve considerar (ALVES FILHO, 2012):
a) o critério de escoamento, para determinação do nível de tensão no qual ocorrerá o início
do escoamento;
b) regra de escoamento, para definição da relação entre tensão e deformação após a
plastificação;
c) lei de encruamento, para definir como a superfície de escoamento se altera em função
do grau de deformação plástica.

2.1 O tensor tensão de Cauchy e os invariantes das tensões


Tensor é um ente matemático que é independente do referencial. A ordem de um tensor
é a dimensionalidade da matriz necessária para representá-lo. Um tensor de ordem x em um
espaço com 3 dimensões possui 3x componentes. Um tensor de ordem 1 em um espaço de 3
dimensões (31) é um vetor. Um tensor de ordem 0 para n dimensões (n0) é um escalar.
Qualquer ponto no interior de um material é sujeito a esforços em razão do peso próprio,
além daqueles gerados pela ação das forças externas. Quando se divide as forças resultantes
por uma área, esses esforços podem ser representados por componentes normais e tangenciais,
definindo-se os estados de tensão normais (σ11 , σ22 , σ33 ) e cisalhantes (σ12 , σ13 , σ21 , σ23 , σ31 ,
σ32 ), conforme mostra o cubo da Figura 2.8, representando um ponto no interior da estrutura
(GERSCOVICH, 2012).

Figura 2.8 - Componentes de tensão tridimensional,


disponível em <https://pt.wikipedia.org/wiki/Tens%C3%A3o_(mec%C3%A2nica)>. Acesso em
21/09/2023.
O estado de tensões em dado ponto do material, que configura a tensão resultante “S”,
pode ser expresso pelo tensor tensão de Cauchy, de ordem 2, expresso na equação (2.2). Logo,
na condição tridimensional, quando um sistema de eixos ortogonais passa pelo ponto em análise,
a tensão principal correspondente pode ser modelada por 9 componentes (32), 3 para cada
dimensão (AZEVEDO, 1985), (IBAÑES, 2003) e (AZEVEDO, 2007a).

σ11 τ12 τ13


( τ21 σ22 τ23 ) (2.2)
τ31 τ32 σ33

É possível então calcular a tensão para qualquer orientação, conhecida as componentes


nesse ponto, para um determinado referencial. Assim, a partir da equação (2.3), isolando os
termos em apenas um lado da igualmente e colocando os cossenos diretores em evidência,
obtém-se o sistema da equação (2.4).

S1 cosθ σ11 τ12 τ13 cos⁡(n̂, 1)


(S2 ) = S (cosϕ) = ( τ21 σ22 τ23 ) (cos⁡(n̂, 2)) (2.3)
S3 cosψ τ31 τ32 σ33 cos⁡(n̂, 3)

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0 cosθ σ11 − S τ12 τ13
(0) = (cosϕ) ( τ21 σ22 − S τ23 ) (2.4)
0 cosψ τ31 τ32 σ33 − S
Onde:
S1 , S2 , S3 = tensões normais correspondentes a um sistema coordenado (1, 2, 3) [F][L] -2;
σ11 , σ22 , σ33 = componentes normais das tensões [F][L]-2;
τ12 , τ13 , τ21 , τ23 , τ31 , τ32 = componentes cisalhantes das tensões [F][L]-2;
cosθ = cos⁡(n̂, 1), cosϕ = cos⁡(n̂, 2), cosψ = cos⁡(n̂, 3) = cossenos diretores; n̂ = normal ao plano
de referência;
θ, ϕ, ψ = ângulos entre a normal n̂ e o eixo coordenado correspondente.
Conhecendo os componentes das tensões em três planos ortogonais em torno de um
ponto, as componentes da tensão em qualquer outro plano podem ser obtidas por equilíbrio de
forças, resultando em τ12 = τ21 , τ13 = τ31 e τ23 = τ32 . Se os próprios eixos coordenados (1,
2, 3) do ponto em análise forem escolhidos como eixos principais do sistema tridimensional de
referência (x, y, z), tem-se σx = σ11 , σy = σ22 , σz = σ33 , τxy = τ12 , τyz = τ23 e τxz = τ13
(AZEVEDO, 2007a).
Verificando a equação (2.4), percebe-se que o sistema matricial aceita solução de
maneira que o determinante principal seja nulo. Desenvolvendo-o, chega-se na equação (2.5),
do 3º grau, reescrita na forma da equação (2.6). Assim, na equação (2.7) tem-se os denominados
invariantes das tensões I1 , I2 e I3 , considerando que tais termos não variam em relação aos eixos
coordenados e de referência (veja I1 ).

2
S 3 − (σ11 + σ22 + σ33 )S 2 + (σ11 σ22 + σ11 σ33 + σ22 σ33 − τ12 − τ223 − τ13
2 ) 1
S
(2.5)
−(σ11 σ22 σ33 + 2τ12 τ23 τ13 − σ11 τ223 − σ22 τ13
2 2 )
− σ33 τ12 =0

S 3 − I1 ⁡S 2 + I2 ⁡S1 − I3 = 0 (2.6)

I1 = σ11 + σ22 + σ33 = σx + σy + σz


2
I2 = σ11 σ22 + σ11 σ33 + σ22 σ33 − τ12 − τ223 − τ13
2 (2.7)
I3 = σ11 σ22 σ33 + 2τ12 τ23 τ13 − σ11 τ223 − σ22 τ13
2 2
− σ33 τ12

As três raízes da equação (2.6) são as três tensões normais principais do campo de
tensões (S1 , S2 , S3 ), convencionalmente expressas por σ1 > σ2 > σ3 , normais, no ponto de
análise. As tensões principais são valores extremos das tensões normais e, portanto, de
relevância para o cálculo do estado de tensões em determinado ponto da estrutura (AZEVEDO,
2007a).
Na análise estrutural utilizando o Método dos Elementos Finitos (MEF), extensamente
utilizando na engenharia, uma malha com muitos pontos representa a geometria da estrutura.
Em cada ponto são calculadas as tensões principais, que exercerão influência nos demais pontos
adjacentes. É possível então, a depender da ferramenta computacional, apresentar apenas as
tensões principais em uma determinada direção principal (Figura 2.9).

Figura 2.9 – Dormente de concreto simulado utilizando o MEF no software ABAQUS


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As três raízes distintas correspondem a três direções únicas e ortogonais. Se duas raízes
forem iguais, por exemplo, σ2 = σ3 , uma direção principal será única (σ1 ), ortogonal às duas
anteriores. Se as três raízes forem iguais, não existem direções principais únicas, o que
corresponde ao estado de tensão hidrostático (I1 /3). Analisando as tensões principais no Círculo
de Mohr, a tensão máxima de cisalhamento é calculada conforme a equação (2.8) e a tensão
normal pela equação (2.9).

(σ1 − σ3 )
τmax = ± (2.8)
2

(σ1 + σ3 )
σn = (2.9)
2
Onde:
τmax = tensão máxima de cisalhamento [F][L]-2;
σn = tensão normal correspondente à tensão de cisalhamento máxima [F][L] -2;
σ1 = tensão máxima principal [F][L]-2; σ3 = tensão mínima principal [F][L]-2.
Alguns materiais em determinadas análises têm critério de escoamento independente da
tensão hidrostática, como o aço. Porém, o mesmo não ocorre com os solos e materiais
granulares, sendo de relevante interesse uma análise de tensões em um plano octaédrico, pois
a tensão normal octaédrica corresponde ao estado de tensão hidrostático, como será
demonstrado. Em um plano octaédrico qualquer (Figura 2.10), considerando que este plano está
orientado com os eixos principais (σ1 = σ2 = σ3 ), a normal desse plano faz ângulos iguais com
os eixos principais (1, 2, 3), resultando em cossenos diretores iguais, sendo válida a equação
(2.10) (IBAÑES, 2003) e (AZEVEDO, 2007a).
2 2 2
2 2 2
√3 √3 √3
cosθ + cosϕ + cosψ = ( ) + ( ) + ( ) = 1 (2.10)
3 3 3
Onde:
θ, ϕ, ψ⁡= ângulos entre a normal ao plano octaédrico de referência e os eixos principais, 1, 2 e 3
respectivamente;
√3
(± ) = satisfazem dois planos octaédricos, mas existem 8 planos.
3

Figura 2.10 – Um dos oito planos octaédricos e as tensões octaédricas normal e cisalhante,
nele atuantes, (IBAÑES, 2003)
Define-se então a tensão normal octaédrica ou tensão hidrostática (σoct), normal ao plano
octaédrico, apresentada na equação (2.11). Conforme pode ser visto na Figura 2.10, também
existe a tensão cisalhante octaédrica (τoct), ortogonal ao plano octaédrico, que ocorre com
frequência na teoria da plasticidade e pode ser calculada pela equação (2.12) (AZEVEDO,
2007a). Por experimentos práticos, comprova-se que a σoct não contribui para o escoamento,
diferentemente da τoct (ALVES FILHO, 2012). Assim, considerando um ensaio de tração ou
compressão uniaxial (σ2 = σ3 = 0), a tensão de escoamento (σe ) pode ser definida pela equação
(2.13), a partir da equação (2.12).

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2 2 2
√3 √3 √3 σ1 + σ2 + σ3 I1
σoct = σ1 ( ) + σ2 ( ) + σ3 ( ) = = (2.11)
3 3 3 3 3

1
τoct = [(σ1 − σoct)2 + (σ2 − σoct )2 + (σ3 − σoct )2 ]
3
1
τoct = √(σ1 − σ2 )2 + (σ2 − σ3 )2 + (σ1 − σ3 )2 (2.12)
3
2
τoct = [I12 − 3⁡I2 ]
9

1 1 √2
σe,uniaxial = √(σ1 − 0)2 + (0 − 0)2 + (σ1 − 0)2 = √σ1 2 + σ1 2 = σ (2.13)
3 3 3 1
Onde:
τoct= tensão cisalhante octaédrica [F][L]-2;
σoct= tensão normal octaédrica [F][L]-2;
σ1 , σ2 , σ3 = tensões principais [F][L]-2;
σe = tensão de escoamento [F][L]-2;
I1 e I2 = primeiro e segundo invariantes das tensões [F][L] -2.
Na teoria da plasticidade é comum dividir o tensor de tensões em dois termos, sendo um
o tensor hidrostático (σoct ) e o outro o tensor desvio (ou tensor desviador, ou tensor de tensões
desviadoras). O tensor desvio se refere à variação angular, sendo a parcela do estado de tensão
que representa o cisalhamento, portanto, de suma importância. Os componentes do tensor
desvio é obtido subtraindo a pressão hidrostática (σoct) da diagonal principal do tensor das
tensões, conforme equação (2.14) (HELWANY, 2007).

σ11 − σoct τ12 τ13 σ11 τ12 τ13 σoct 0 0


( τ12 σ22 − σoct τ23 ) = ( τ12 σ22 τ23 ) − ( 0 σoct 0 ) (2.14)
τ13 τ23 σ33 − σoct τ13 τ23 σ33 0 0 σoct

A tensão hidrostática (σoct) causa a variação volumétrica (∆V = ε1 + ε2 + ε3 ) e a relação


entre elas é expressa pelo módulo de elasticidade volumétrico (K), equação (2.15), conhecido
do inglês como “Bulk Modulus”, que para um meio isotrópico pode ser determinado utilizando a
equação (2.16). É importante lembrar que a tensão hidrostática causa apenas variação de
volume e não mudança de forma.

σoct = K⁡∆V⁡ (2.15)

E 2G(1 + ν)
K= = (2.16)
3(1 − 2ν) 3(1 − 2ν)
Onde:
E = módulo de elasticidade [F][L]-2;
ν = coeficiente de Poisson;
G = módulo de cisalhamento [F][L]-2.
De maneira análoga ao que foi feito para os invariantes das tensões (I1 , I2 e I3 ), as
equações dos invariantes das tensões desvio (J1 , J2 , J3 ) são obtidas fazendo o determinante
principal da equação (2.14) igual a zero, chegando-se nas equações (2.17), (2.18) e (2.19)
(HELWANY, 2007). É comum alguns critérios de escoamento apresentarem suas expressões
matemáticas em função dos invariantes das tensões desvio e não em função das tensões
principais, buscando uma simplificação algébrica.

J1 = σ1 − σoct + ⁡ σ2 − σoct + ⁡ σ3 − σoct = 0 (2.17)

1 2 3
J2 = (I − 3⁡I2 ) = τoct (2.18)
3 1 2

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Elastoplasticidade aplicada em ferrovias
1
J2 = [(σ − σ2 )2 + (σ2 − σ3 )2 + (σ1 − σ3 )2 ]
6 1

2 3 2
J3 = ⁡I − ⁡I ⁡I + I3 (2.19)
27 1 3 1 2

A partir da equação (2.6), após algumas operações matemáticas, chega-se às tensões


principais de desvio, apresentadas nas equações (2.20), (2.21) e (2.22) (AZEVEDO, 1985). Logo,
para obter as tensões principais dos componentes das tensões (σ1 , σ2 , σ3 ) basta somar a pressão
hidrostática (σoct) com a tensão de desvio correspondente. A equação (2.23) é conhecida como
“Ângulo de Lode” e é utilizado nos critérios de escoamento generalizados de Tresla e de Mohr-
Coulomb.

J2 2π
σ1′ = 2√ ⁡sen (θ + ) (2.20)
3 3

J2
σ′2 = 2√ ⁡sen(θ) (2.21)
3

J2 2π
σ′3 = 2√ ⁡sen (θ − ) (2.22)
3 3

J3
arcsen [−3√3⁡ 3]
(2.23)
2⁡J2 2
sendo, θ =
3

2.2 A relação tensão-deformação, o tensor deformação e a Lei de


Hooke
Em um sistema triaxial, para a formação da relação tensão-deformação, devem ser
desenvolvidos três conjuntos de equações. O primeiro conjunto representa as tensões e é
determinado impondo-se condições de equilíbrio baseados na estática, equações (2.24), (2.25)
e (2.26), para cada um dos 3 eixos de um elemento infinitesimal (sistema coordenado x, y, z)
(AZEVEDO, 2007a).

∂σx ∂τyx ∂τzx


+ + + Px = 0 (2.24)
∂x ∂y ∂z

∂τxy ∂σy ∂τzy


+ + + Py = 0 (2.25)
∂x ∂y ∂z

∂τxz ∂τyz ∂σz


+ + + Pz = 0 (2.26)
∂x ∂y ∂z
Onde:
σx , σy , σz = tensões normais de um elemento infinitesimal [F][L] -2;
τxy = τyx , τzx = τxz , τzy = τyz = tensões cisalhantes de um elemento infinitesimal [F][L]-2;
Px , Py , Pz = forças de massa atuantes em um elemento infinitesimal [F].
O segundo conjunto de equações representa as deformações e distorções,
determinados por semelhança, baseando-se na continuidade de deslocamentos e em
deformações infinitesimais. São definidas 6 relações deformação-deslocamento básicas,
equações (2.27) a (2.32) (ALVES FILHO, 2012). As deformações são determinadas a partir da
variação de comprimento em cada eixo infinitesimal, conforme representado na Figura 2.11. A
letra “u” representa a variação de comprimento no eixo x, a letra “v” no eixo y e a letra “w” no eixo
z. A distorção representa a variação do ângulo reto do elemento diferencial e é a soma de dois
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Elastoplasticidade aplicada em ferrovias
ângulos formados, conforme a Figura 2.12, indicando a mudança de forma do elemento
diferencial. Para as pequenas deformações, os ângulos são pequenos, expressos em radianos,
e têm o valor considerado igual à sua própria tangente.
No caso de um modelo não linear, as relações das equações (2.27) a (2.32) devem
apresentar termos não lineares, que passam a ter as formas das equações (2.33) a (2.38), sendo
os termos não-lineares apresentados entre colchetes (ALVES FILHO, 2012). Observa-se um
aumento da complexidade do problema, de tal maneira que em algumas resoluções de
problemas não lineares, buscando uma simplificação, considera-se que cada acréscimo de
deformações é tão pequeno que ainda seriam válidas as relações lineares das equações (2.27)
a (2.32).

Figura 2.11 – Deformações axiais no elemento infinitesimal, (ALVES FILHO, 2012).

Figura 2.12 – Distorções no elemento infinitesimal, (ALVES FILHO, 2012)

∂u
εx,linear = (2.27)
∂x

∂v
εy,linear = (2.28)
∂y

∂w
εz,linear = (2.29)
∂z

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Elastoplasticidade aplicada em ferrovias
∂u ∂v
γxy,linear = + (2.30)
∂y ∂x

∂w ∂v
γyz,linear = + (2.31)
∂y ∂z

∂u ∂w
γxz,linear = + (2.32)
∂z ∂x

∂u 1 ∂u 2 ∂v 2 ∂w 2
εx,não⁡linear = + [( ) + ( ) + ( ) ] (2.33)
∂x 2 ∂x ∂x ∂x

∂v 1 ∂u 2 ∂v 2 ∂w 2
εy,não⁡linear = + [( ) + ( ) + ( ) ] (2.34)
∂y 2 ∂y ∂y ∂y

∂w 1 ∂u 2 ∂v 2 ∂w 2
εz,não⁡linear = + [( ) + ( ) + ( ) ] (2.35)
∂z 2 ∂z ∂z ∂z

∂u ∂v ∂u ∂u ∂v ∂v ∂w ∂w
γxy,não⁡linear = + +[ + + ] (2.36)
∂y ∂x ∂x ∂y ∂x ∂y ∂x ∂y

∂w ∂v ∂u ∂u ∂v ∂v ∂w ∂w
γyz,não⁡linear = + +[ + + ] (2.37)
∂y ∂z ∂y ∂z ∂y ∂z ∂y ∂z

∂u ∂w ∂u ∂u ∂v ∂v ∂w ∂w
γxz,não⁡linear = + +[ + + ] (2.38)
∂z ∂x ∂x ∂z ∂x ∂z ∂x ∂z
Onde:
εx , εy , εz = deformações normais em dada direção do elemento infinitesimal;
γxy = γyx , γyz = γzy , γxz = γzx = deformações cisalhantes do elemento infinitesimal, definida como
a variação no ângulo originalmente reto entre dois eixos;
u, v, w = componentes do deslocamento segundo as direções coordenadas x, y e z,
respectivamente, em um elemento infinitesimal [L].
Assim como o “tensor das tensões”, é possível então a representação do “tensor das
deformações”, conforme a equação (2.39). Os termos fora da diagonal da matriz são associados
∂u ∂v ∂w
à distorção. No movimento translacional da estrutura são geradas deformações axiais ( ∂x , ∂y , ∂z )
e no movimento rotacional são geradas deformações associadas ao cisalhamento
∂u ∂u ∂v ∂v ∂w ∂w
(∂y , ∂z , ∂x , ∂z , ∂x , ∂y ). De maneira semelhante, como o tensor das tensões foi dividido em duas
partes, uma hidrostática e outra desviadora, o tensor das deformações também pode ser dividido.
A primeira parte, o “tensor de deformação” (simétrico), caracteriza o estado de deformação ao
redor de um ponto. A segunda parte, o “tensor de rotação” (antissimétrico), com diagonal nula,
representa as rotações de corpo rígido.

∂u ∂u ∂u ∂u 1 ∂u ∂v 1 ∂u ∂w 1 ∂u ∂v 1 ∂u ∂w
( + ) ( + ) 0 ( − ) ( − )
∂x ∂y ∂z ∂x 2 ∂y ∂x 2 ∂z ∂x 2 ∂y ∂x 2 ∂z ∂x
∂v ∂v ∂v 1 ∂u ∂v ∂v 1 ∂v ∂w 1 ∂v ∂u 1 ∂v ∂w
= ( + ) ( + ) + ( − ) 0 ( − )
∂x ∂y ∂z 2 ∂y ∂x ∂y 2 ∂z ∂y 2 ∂x ∂y 2 ∂z ∂y
(2.39)
∂w ∂w ∂w 1 ∂u ∂w 1 ∂w ∂v ∂w 1 ∂w ∂u 1 ∂w ∂v
( + ) ( + ) ( − ) ( − ) 0
[ ∂x ∂y ∂z ] [2 ∂z ∂x 2 ∂y ∂z ∂z ] [2 ∂x ∂z 2 ∂y ∂z ]

[eij ] = [εij ] + [ωij ]

Não confundindo o “tensor das deformações” com o “tensor de deformação”, o tensor de


deformação (simétrico) é comumente escrito identificando os termos associados às deformações
e as distorções lineares, conforme apresentado na equação (2.40). Na diagonal principal estão

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as deformações principais, que somadas representam a deformação volumétrica (∆V = ε1 + ε2 +
ε3 = εx + εy + εz ). No estado hidrostático de tensões não existem distorções e ∆V/3 = ε1 = ε2 =
ε3 = εx = εy = εz .

∂u 1 ∂u ∂v 1 ∂u ∂w 1 1
( + ) ( + ) 𝜀𝑥 𝛾 𝛾
∂x 2 ∂y ∂x 2 ∂z ∂x 2 𝑥𝑦 2 𝑥𝑧
1 ∂u ∂v ∂v 1 ∂v ∂w 1 1
[εij ] = ( + ) ( + ) = 𝛾𝑥𝑦 𝜀𝑦 𝛾 (2.40)
2 ∂y ∂x ∂y 2 ∂z ∂y 2 2 𝑦𝑧
1 ∂u ∂w 1 ∂w ∂v ∂w 1 1
( + ) ( + ) [ 𝛾 𝛾 𝜀𝑧 ]
[2 ∂z ∂x 2 ∂y ∂z ∂z ] 2 𝑥𝑧 2 𝑦𝑧

Em algumas aplicações, o tensor das deformações, equação (2.39), é chamado de


tensor gradiente de deformação [F] e pode representar, no espaço tridimensional, alongamentos
associados a deformações, além de movimentos locais e globais do corpo rígido, como rotações
em um eixo ou translações no espaço. Para ilustrar, um exemplo bidimensional é apresentado,
onde um segmento infinitesimal de um corpo passa por duas transformações (ALVES FILHO,
2012):
a) na equação (2.41), representando a primeira transformação, o comprimento inicial ∂x =
2 se estica para ∂u = 4 e o comprimento inicial ∂y = 1 se mantém, ∂v = 1. Montando o
sistema, o tensor gradiente de deformação [F] é determinado. Os termos fora da diagonal
principal, nulos, representam translação e nesse caso [F] é chamado de tensor de
extensão [U] ou de translação [T];
b) na equação (2.42), representando a segunda transformação, o comprimento atual ∂x =
4 se encolhe para ∂u = −1 (referência é 0) e o comprimento atual ∂y = 1 aumenta para
∂v = 4. O tensor gradiente de deformação [F] é determinado. Os termos da diagonal,
nulos, representam rotação e nesse caso [F] é chamado de tensor de rotação [R];
c) a equação (2.43) representa a transformação direta, onde o comprimento inicial ∂x = 2
se encolhe para ∂u = −1 e o comprimento inicial ∂y = 1 aumenta para ∂v = 4. O tensor
gradiente de deformação [F] é determinado, nesse caso, contabilizando os tensores
gradientes anteriores,⁡[F] = [T][R].
∂u ∂u ∂u ∂u
∂x 2 ∂u 4 4 ∂x ∂y 2 ∂x ∂y 2 0
{ } = { };{ } = { } → { } = { } → [F] = [T] = =[ ] (2.41)
∂y 1 ∂v 1 1 ∂v ∂v 1 ∂v ∂v 0 1
[ ∂x ∂y] [ ∂x ∂y]

∂u ∂u ∂u ∂u
∂x 4 −1 −1 ∂x ∂y 4 ∂x ∂y 0 −1
{ } = { } ; {∂u} = { } → { } = { } → [F] = [R] = =[ ] (2.42)
∂y 1 ∂v 4 4 ∂v ∂v 1 ∂v ∂v 1 0
[ ∂x ∂y] [ ∂x ∂y]

∂u ∂u ∂u ∂u
∂x 2 ∂u −1 −1 ∂x ∂y 2 ∂x ∂y 0 −1
{ } = { };{ } = { } → { } = { } → [F] = =[ ] (2.43)
∂y 1 ∂v 4 4 ∂v ∂v 1 ∂v ∂v 2 0
[ ∂x ∂y] [ ∂x ∂y]

Portanto, utilizando o tensor gradiente de deformação [F], conhecida a posição inicial, é


possível determinar a posição final de um corpo e vice e versa. Utilizando o exemplo anterior,
com base no teorema da decomposição polar de Cauchy, “qualquer movimento de um corpo na
vizinhança de um ponto pode ser escrito como uma rotação pura nas três direções ortogonais
principais, adicionado a uma extensão pura ao longo das direções anteriores (mais alguma
translação de corpo rígido)” (ALVES FILHO, 2012). Isto é, como se provou:

[F] = [T][R] (2.44)


Onde:
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[F] = tensor gradiente de deformação;
[T] = tensor de translação, também conhecido como tensor de extensão [U];
[R] = tensor de rotação.
Os dois conjuntos de equações, (2.24) a (2.26) e (2.27) a (2.32), foram desenvolvidos de
forma independente, o primeiro somente com componentes de tensão e o segundo somente com
componentes de deformação e deslocamentos elásticos. Tais equações são válidas para
qualquer meio contínuo, tendo-se então 15 incógnitas (σx , σy , σz , τxy , τxz , τyz , εx , εy , εz , u, v, w,
γxy , γzy e γxz ) ao passo que até então foram definidas apenas 9 equações. Necessita-se então
de mais 6 equações para correlacionar tais incógnitas. Essa é a parte mais importante até aqui!
As novas equações que irão relacionar as tensões com as deformações são geralmente
chamadas de modelos constitutivos e dependem do tipo de material, estado de tensão, história
de tensões, variações volumétricas, anisotropia, estado físico etc. Os modelos constitutivos
devem então representar de forma matemática o comportamento do material, conforme
determinada solicitação, inclusive podendo variar com o tempo.
Considerando a simplicidade e a grande gama de aplicação, dadas as incertezas do
pavimento ferroviário, comumente em engenharia utiliza-se a Lei de Hooke Generalizada para
correlacionar de forma elástica linear as tensões com as deformações, considerando ainda os
materiais homogêneos e isotrópicos (mesma propriedade em todas as direções, em todos os
pontos da estrutura). Contudo, em aplicações específicas, com o objetivo de otimizar materiais
ou desenvolver um melhor entendimento do comportamento estrutural, considerando ainda o
atual avanço computacional, a utilização e pesquisa de modelos constitutivos mais complexos é
cada vez mais comum.
Conforme o material e a temperatura, na elasticidade, as tensões aplicadas são
aproximadamente proporcionais às deformações. A constante de proporcionalidade entre elas é
chamada módulo de elasticidade (E), e quanto maior o módulo, maior a tensão necessária para
produzir determinada deformação, portanto mais rígido é o material. Entretanto, a elasticidade
linear (considerando ainda o material isotrópico e homogêneo) é uma aproximação, equação
(2.45), visto que a maioria dos materiais reais exibem algum grau de comportamento não-linear.
Perceba ainda que os parâmetros da equação (2.45) são tensores e não escalares.

σ = E⁡εe (2.45)
Onde:
σ = tensão [F][L]-2;
E = módulo de elasticidade [F][L]-2;
εe = deformação elástica.
O módulo de elasticidade linear para casos reais de engenharia é comumente válido até
certos limites de tensão, usualmente considerados de 30 a 50 % da tensão de ruptura do
material. Na prática, esse limite é traduzido como um coeficiente de segurança, que reduz a
tensão solicitante a valores admissíveis em serviço, em relação a resistência do material. Assim,
pode-se estabelecer que a Lei de Hooke deve ser utilizada na prática para baixos níveis de
tensão e acima desses níveis não é seguro/correto sua aplicação, devendo-se aplicar outros
critérios que consideram a plasticidade.
O módulo de elasticidade pode ser obtido em diversos experimentos, mas geralmente é
obtido em ensaios de tração ou compressão, normalmente definido como o coeficiente angular
do gráfico tensão-deformação, tangencial ou secante. Em pavimentação, considerando ainda a
solicitação repetida milhões de vezes (eixos passando), para alguns materiais ele é expresso
como módulo de resiliência (MR), podendo ser obtido para solos e britas em ensaios triaxiais de
carregamento repetido (DNIT, 2018).
Considerando que um determinado material seja submetido a uma tensão de
compressão ou tração, esse sofrerá uma deformação axial seguindo o eixo de aplicação da
solicitação, estendendo-se ou contraindo-se nas direções ortogonais a esse eixo de referência.
A relação entre a deformação transversal e a axial é conhecida como coeficiente de Poisson (ν),
equação (2.46), comumente variando entre 0,1 e 0,5, podendo no caso de materiais
anisotrópicos ser diferente para cada um dos eixos ortogonais à solicitação, e igual em todas as
direções considerado a isotropia.

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Na compressão, existe a contração do comprimento axial e o alongamento do
comprimento transversal. Na tração ocorre o alongamento do comprimento axial e a contração
do comprimento transversal, tornando em ambos os casos o sinal da equação (2.46) negativo,
independente do padrão adotado.

εtransversal
ν=− , com⁡ν12 ≠ ν13 ≠ ν23 ⁡no⁡caso⁡de⁡anisotropia (2.46)
εaxial

Em geral, o coeficiente de Poisson é obtido na região elástica linear, aplicando-se a lei


de Hooke Generalizada, equação (2.47).

σ1 ⁡ε3 − σ3 ⁡ε1
ν= (2.47)
2⁡σ3 ⁡ε3 − (σ1 + σ3 )⁡ε1
Onde:
σ1 = tensão aplicada à seção transversal;
σ3 = tensão de confinamento;
ε1 = deformação longitudinal;
ε3 = deformação transversal.
Considerando um elemento qualquer em solicitação uniaxial, isotrópico e seguindo a lei
de Hooke, para cada eixo coordenado são válidas as relações apresentadas na equação (2.48).
Agora, se um elemento infinitesimal estiver sujeito a um estado triaxial de tensões, pode-se
considerar as mesmas relações para cada um dos 3 eixos coordenados e ainda a sobreposição
de efeitos, resultando nas equações (2.49), (2.50) e (2.51).

σ1
σ1 = E⁡ε1e → ε1e =
E
εe2 σ1
σ1 = −E → εe2 = −ν (2.48)
ν E
e
ε3 σ1
σ1 = −E → εe3 = −ν
ν E

σ1 σ2 σ3 1
ε1e = − ν − ν → ε1e = [σ1 − ν(σ2 + σ3 )] (2.49)
E E E E

σ2 σ1 σ3 1
εe2 ⁡ = − ν − ν → εe2 = [σ2 − ν(σ1 + σ3 )] (2.50)
E E E E

σ3 σ1 σ2 1
εe3 = − ν − ν → εe3 = [σ3 − ν(σ1 + σ2 )] (2.51)
E E E E

A partir de um estado plano de tensões para um material isotrópico, homogêneo e


seguindo a Lei de Hooke, as relações tensão-deformação cisalhantes (ou tensão de
cisalhamento e distorção) se relacionam conforme a equação (2.52) (AZEVEDO, 2007a).

2(1 + ν) 1
γij = τij → γij = τij (2.52)
E G
Onde:
E
G = 2(1+ν) = módulo de cisalhamento transversal [F][L]-2.

Então, para apenas 2 coeficientes elásticos independentes (E e ν), considerando a


isotropia, tem-se as 6 equações restantes para as 15 incógnitas definidas anteriormente, que
agrupadas na forma matricial podem ser representadas conforme a equação (2.53), sendo a
matriz [C] conhecida como matriz de flexibilidade. Caso seja necessário apresentar a relação
tensão-deformação, isolando o vetor das tensões, deve-se calcular a matriz inversa de [C], que
se denomina [D], equação (2.54), também conhecida como matriz de elasticidade, apresentada
na forma das constantes de Lamé (DUNNE e PETRINIC, 2005).

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Elastoplasticidade aplicada em ferrovias
[ε]e = [C][σ]
1 −ν −ν
0 0 0
E E E
−ν 1 −ν
ε11 e 0 0 0 σ
E E E 11
ε22 −ν −ν 1 σ22
ε33 0 0 0 σ (2.53)
= E E E 33
γ23 1 τ23
γ13 0 0 0 0 0 τ13
G
[γ12 ] 1 [ τ12 ]
0 0 0 0 0
G
1
[0 0 0 0 0
G]

[σ] = [C]−1 [ε]e → [σ] = [D][ε]e


σ11 2G + λ λ λ 0 0 0 ε11 e
σ22 λ 2G + λ λ 0 0 0 ε22
σ33 λ λ 2G + λ 0 0 0 ε33 (2.54)
τ23 = 0 0 0 G 0 0 γ23
τ13 0 0 0 0 G 0 γ13
[ τ12 ] [ 0 0 0 0 0 G] [γ12 ]
Onde:
E⁡ν
λ = (1+ν)(1−2ν) = constante de Lamé [F][L]-2.

Para fins práticos e dadas as incertezas geotécnicas em pavimentos, a relação


constitutiva, linear e isotrópica, pode ser considerada satisfatória para vários casos. Já a relação
constitutiva para um material linear e anisotrópico (quando as propriedades variam com a
direção) é aquela apresentada na equação (2.55), necessitando de 21 constantes
independentes. No caso de um material linear e ortotrópico, (quanto as propriedades apresentam
propriedades distintas para cada eixo coordenado) utiliza-se a equação (2.56), necessitando de
9 constantes independentes. Já no caso de um material transversalmente isotrópico (que
apresenta as mesmas propriedades em um plano ortogonal ao eixo principal), supondo que o
plano de isotropia seja o 2-3, se usa a equação (2.57), necessitando de 5 constantes
independentes (AZEVEDO, 2007b).

1 −ν21 −ν31 ε11 1 ε11 1 ε11 1


E1 E2 E3 γ23 G23 γ13 G13 γ12 G12
−ν12 1 −ν32 ε22 1 ε22 1 ε22 1
ε11 e E1 E2 E3 γ23 G23 γ13 G13 γ12 G12 σ11
ε22 −ν13 −ν23 1 ε33 1 ε33 1 ε33 1 σ22
ε33 E1 E2 E3 γ23 G23 γ13 G13 γ12 G12 σ33
γ23 = γ23 1 γ23 1 γ23 1 1 γ23 1 γ23 1 τ23
(2.55)
γ13 ε11 E1 ε22 E2 ε33 E3 G23 γ13 G13 γ12 G12 τ13
[γ12 ] γ13 1 γ13 1 γ13 1 γ13 1 1 γ13 1 [ τ12 ]
ε11 E1 ε22 E2 ε33 E3 γ23 G23 G13 γ12 G12
γ12 1 γ12 1 γ12 1 γ12 1 γ12 1 1
[ ε11 E1 ε22 E2 ε33 E3 γ23 G23 γ13 G13 G12 ]

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1 −ν21 −ν31
0 0 0
E1 E2 E3
−ν12 1 −ν32
0 0 0
ε11 e E1 E2 E3 σ11
ε22 −ν13 −ν23 1 σ22
0 0 0
ε33 E1 E2 E3 σ33
γ23 = 1 τ23 (2.56)
γ13 0 0 0 0 0 τ13
G23
[γ12 ] 1 [ τ12 ]
0 0 0 0 0
G13
1
0 0 0 0 0
[ G12 ]

1 −ν21 −ν21
0 0 0
E1 E2 E2
−ν12 1 −ν23
0 0 0
ε11 e E1 E2 E2 σ11
ε22 −ν12 −ν23 1 σ22
0 0 0
ε33 E1 E2 E2 σ33
γ23 = 1 τ23 (2.57)
γ13 0 0 0 0 0 τ13
G23
[γ12 ] 1 [ τ12 ]
0 0 0 0 0
G12
1
0 0 0 0 0
[ G12 ]

Pelo exposto até o momento, pode-se concluir o seguinte:


a) Os modelos constitutivos dos materiais dependem do tipo de material, do estado de
tensão, história de tensões, variações volumétricas, anisotropia, estado físico etc.;
b) Para cada tipo de material, deve-se pensar em ensaios específicos à reologia do
material, respeitando as características físicas da amostra (aços geralmente são
ensaiados à tração e britas à compressão);
c) A obtenção de parâmetros no estado de tensão uniaxial é mais simples, por isso ensaios
de compressão e tração geralmente são os mais utilizados;
d) A história de tensões é de interesse em materiais geralmente utilizados em
pavimentação, tais como solos e rochas, sendo uma complicação adicional;
e) A obtenção de parâmetros considerando a isotropia é mais simples, do contrário
precisaríamos aumentar significativamente o número de ensaios, o número de sensores
para a medição de deslocamentos etc., aumentando também a margem de erros e
claramente a dificuldade na realização de ensaios;
f) O modelo apresentado na equação (2.53) é o mais utilizado, por toda explicação das
alíneas anteriores, mas por necessitar de apenas 2 parâmetros elásticos, o módulo de
elasticidade e o coeficiente de Poisson.
Um ponto importante a se notar é que o módulo de elasticidade utilizado no modelo da
equação (2.53) é obtido para baixos níveis de tensão, ainda no regime elástico. Tal parâmetro
não muda apenas em relação aos eixos coordenados, mas também para diferentes níveis de
solicitação a que o material está submetido, principalmente ao adentrar no regime plástico
(Figura 2.13). Cada acréscimo de tensão resultará em acréscimos de deformação,
correlacionados por um módulo de elasticidade resultante daquele instante, 𝐸𝑡 , tangente à curva.
Ao mudar a inclinação da curva tensão-deformação, muda-se o módulo.

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Figura 2.13 – Decomposição da deformação e variação do módulo de elasticidade,
(FERNANDES, 2022).

2.3 Critérios de escoamento clássicos para carregamentos estáticos


Para generalizar a lei de comportamento de um material elastoplástico ao espaço
tridimensional é necessário definir os estados de tensão do início da plastificação (AZEVEDO,
1985) e (IBAÑES, 2003). Tais estados de tensão geralmente satisfazem equações genéricas do
tipo apresentado em (2.58), que dependem do tipo de material e do espaço das componentes
de tensões, geralmente correspondente a uma superfície convexa, denominada superfície de
escoamento (Figura 2.14). No caso uniaxial, o limite elástico é facilmente identificado,
determinado pela tensão de escoamento. Já no caso multiaxial, a identificação do limite elástico
é mais complexa e para facilitar a tarefa a função de escoamento é representada
geometricamente no espaço das tensões por uma superfície (FERNANDES, 2022).
Estados de tensão que apresentam F(σij , α) < k situam-se no interior da superfície de
escoamento e o comportamento pode ser considerado elástico, respeitando a Lei de Hooke
Generalizada. Estados de tensão que apresentam F(σij , α) ≥ k situam-se fora da superfície de
escoamento e o comportamento é suposto não-elástico ou elastoplástico. Portanto, o critério de
escoamento determina os limites de um material sob um determinado estado de tensões.

F(σij , α) = k⁡⁡⁡⁡⁡ou⁡⁡⁡⁡⁡F(σij , α) = 0 (2.58)


Onde:
F(σij , α) = função do critério de escoamento dependente do tensor de tensões (σij ) e de variáveis
associadas ao material (α), determinadas experimentalmente;
k = valor que define o escoamento.

Figura 2.14 – Gráfico tensão-deformação biaxial para material plástico perfeito com
carregamento e descarregamento, (FERNANDES, 2022).
Não existe uma maneira teórica totalmente precisa de calcular a relação entre os
componentes de tensão, capaz de correlacionar o escoamento em um estado triaxial de tensões
com o escoamento no estado uniaxial, relação comum em critérios de escoamento. Tais critérios
são relações essencialmente matemático-empíricas e devem ser consistentes com observações
experimentais (ALVES FILHO, 2012). Os critérios de escoamento (função F) devem ser
independentes do referencial cartesiano e por esse motivo geralmente são definidos em função
dos invariantes das tensões.

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Elastoplasticidade aplicada em ferrovias
Teoricamente não há escoamento em um sólido contínuo, quando submetido somente à
pressão hidrostática, mas o estado de tensão ao redor de um ponto é matematicamente afetado
pela parcela hidrostática mais a de desvio, como demonstrado na seção 2.1, logo o causador do
escoamento é a tensão desvio.
Dos critérios mais conhecidos, o de Tresca e Von Mises dependem somente das
componentes das tensões de desvio, não sendo influenciados pelas tensões hidrostáticas e por
esse motivo usualmente utilizados para os metais, como os trilhos. Já os critérios de Mohr-
Coulomb e Drucker-Prager, consideram as tensões hidrostáticas, sendo usualmente utilizados
para materiais geotécnicos, como o lastro, sublastro e subleito.

2.3.1 Critério de Tresca


No critério de Tresca a ruptura se inicia quando a tensão de cisalhamento é máxima,
podendo ser determinada no ensaio de tração uniaxial não confinado (σ3 = σ2 = 0 e τmax =
0,5⁡σ1) (IBAÑES, 2003) e (GERSCOVICH, 2012). Então, o critério de Tresca, também conhecido
como o critério da máxima tensão de cisalhamento, propõe o início da plastificação conforme a
equação (2.59). Verifica-se que, considerando σ3 como a menor tensão principal e σ3 ≠ σ2 < σ1 ,
o critério de Tresca é independente da tensão principal secundária σ2 .

σy σ1 − σ3
τmax = = → σ1 − σ3 = σy (2.59)
2 2
Onde:
σ1 = tensão máxima principal [F][L]-2;
σ3 = tensão mínima principal, podendo ser igual a σ2 [F][L]-2;
σy = tensão de escoamento em um ensaio de tração uniaxial [F][L]-2.
Segundo (AZEVEDO, 1985), para a representação geométrica da superfície de
escoamento no espaço tridimensional das tensões principais é necessário tornar a equação
(2.59) mais genérica. Assumindo as tensões de escoamento iguais para tração e compressão,
chega-se a seis planos que limitam um subespaço, cuja forma é a de um prisma hexagonal
regular de altura infinita e com eixo coincidente com a reta 𝜎1 = 𝜎2 = 𝜎3 , Figura 2.15. Para tornar
o critério de Tresca independente de referencial, este é escrito na forma dos invariantes das
tensões, equação (2.60) (AZEVEDO, 1985).

2√J2 ⁡cos(θ) = σy (2.60)


Onde:
J2 = segundo invariante dos componentes das tensões de desvio [F][L] -2;
θ = ângulo Lode dependente de J2 e J3 , equação (2.23);
σy = tensão de escoamento em um ensaio de tração uniaxial [F][L] -2.

Figura 2.15 – Superfícies de escoamento de Tresca e Von Mises. Disponível em:


<https://en.wikipedia.org/wiki/Von_Mises_yield_criterion>. Acesso em 05/10/2015.

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Elastoplasticidade aplicada em ferrovias
2.3.2 Critério de Von Mises
O critério de Von Mises é também conhecido como a teoria das tensões octaédricas de
cisalhamento, teoria da energia de distorção ou teoria de Hencky (ALVES FILHO, 2012). A
energia de distorção está associada à variação de forma e não à variação de volume. Quanto
mais intensa é a variação de forma, maior é a energia requerida para realizá-la, ao ponto de
chegar ao seu valor crítico e escoar o material.
O critério de Von Mises sugere que o escoamento do material se inicia quando o segundo
invariante das tensões de desvio, matematicamente expresso J2 = k², que está associado às
tensões de cisalhamento máximas, atinge seu valor crítico, associando o escoamento a valores
críticos de certa porção da energia de deformação. No caso de:
a) cisalhamento puro em um plano biaxial, considera-se τ12 = τ21 ≠ 0 e todas as outras
tensões iguais a zero, conforme a equação (2.61);
b) ensaio uniaxial, considera-se σ1 ≠ 0 e todas as outras tensões iguais a zero, conforme
σ
equação (2.62). Ou seja, τ12 = 31.
1 1
J2 = (I12 − 3⁡I2 ) = [(0 + 0 + 0)2 − 3⁡(0 + 0 + 0 − τ12
2 2
− τ12 − 0)]
3 3
(2.61)
1 2 )]
J2 = [−3⁡(−τ12 → J2 = k 2 = τ12 2
3

1 1
J2 = (I12 − 3⁡I2 ) = [(σ1 + 0 + 0)2 − 3⁡(0 + 0 + 0 − 0 − 0 − 0)]
3 3
(2.62)
2
σ1 ²
J2 = k =
3

Para escrever a formulação geral do critério no estado triaxial de tensões, pode-se utilizar
tanto a equação (2.61) como a equação (2.62). Utilizando o exemplo da equação (2.62),
considerando a tensão σ1 como a tensão de escoamento (σy ), correlacionando-a ao segundo
invariante das tensões de desvio (J2 = k²) pela relação da equação (2.18), a superfície de
escoamento é definida pela equação (2.63) e representa um cilindro envolvendo o prisma
hexagonal do critério de Tresca, conforme apresentado na Figura 2.15. Essa equação é também
conhecida como tensão efetiva ou significante e tem o propósito de avaliação do material,
analisado em relação à tensão de escoamento no estado uniaxial.
Para traçar a curva de escoamento do material, a deformação efetiva pode ser calculada
conforme a equação (2.64) (ALVES FILHO, 2012).

σy ² 1
J2 = τ12 2 = ⁡⁡⁡⁡⁡e⁡⁡⁡⁡⁡J2 = [(σ1 − σ2 )2 + (σ2 − σ3 )2 + (σ1 − σ3 )2 ]
3 6
(2.63)
1
σy = √(σ1 − σ2 )2 + (σ2 − σ3 )2 + (σ1 − σ3 )2 ⁡
√2

√2
εy = √(ε1 − ε2 )2 + (ε2 − ε3 )2 + (ε1 − ε3 )2 ⁡ (2.64)
3
Onde:
J2 = segundo invariante das tensões de desvio [F][L] -2;
σy = tensão de escoamento ou efetiva [F][L]-2;
εy = deformação de escoamento ou efetiva.
Tanto o critério de Tresca como o de Von Mises são independentes da pressão
hidrostática e por isso a superfície de escoamento em 3D se desenvolve inalterada ao longo da
reta σ1 = σ2 = σ3 . O critério de Von Mises é comumente aplicado para materiais metálicos e
dúcteis, sendo então recomendado para os trilhos. Para um mesmo valor de σy , os dois critérios
são semelhantes, porém, Von Mises se ajusta melhor aos resultados experimentais por causa
de sua superfície de escoamento elíptica (AZEVEDO, 1985).

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2.3.3 Critério de Mohr-Coulomb
Ao contrário dos critérios de Tresca e Von Mises, onde é necessário conhecer a tensão
de escoamento, no critério de Mohr-Coulomb deve-se conhecer a coesão (c) e o ângulo de atrito
interno do material (ϕ), o que torna o modelo bastante utilizado na Geotecnia, principalmente em
virtude da simplicidade matemática (AZEVEDO, 1985), (IBAÑES, 2003) e (GERSCOVICH,
2012). O critério de Mohr-Coulomb baseia-se na relação entre a tensão tangencial ou cisalhante
(τ) e a tensão normal (σ), conforme a equação (2.65). O escoamento ocorre quando no plano de
ruptura a combinação das tensões normais, a coesão e ângulo de atrito interno são tais que a
tensão de cisalhamento é máxima.

τ = c + σ⁡tg(ϕ) (2.65)
Onde:
τ = tensão tangencial ou cisalhante [F][L]-2;
c = coesão [F][L]-2;
σ = tensão normal [F][L]-2;
ϕ = ângulo de atrito interno em graus, cujo coeficiente de atrito interno é u = tan⁡(ϕ).
Na Figura 2.16 é apresentado um círculo de Mohr correspondente a um estado de tensão
onde σ2 = σ3 , uma vez que o critério não considera a tensão principal intermediária σ2 . O material
inicia a plastificação quando o círculo é tangente à reta definida pela equação (2.65), no ponto
P. Por trigonometria, obtêm-se as relações apresentadas na equação (2.66) e no ponto P são
válidas as relações apresentadas nas equações (2.67) e (2.68), que substituídas na equação
(2.65) resulta na equação (2.69), com forma espacial apresentada na Figura 2.17, sendo a
superfície de escoamento do critério (BORJA, SAMA e SANZ, 2002).

Figura 2.16 – Critério de escoamento de Mohr-Coulomb relativamente ao círculo de Mohr

σ3 + σ1 σ1 − σ3 σ1 − σ3
σm = ,⁡⁡⁡⁡⁡Raio = ,⁡⁡⁡⁡⁡sen(ϕ) = (2.66)
2 2 σ1 + σ3

σ1 + σ3 σ1 − σ3
σx = − sen(ϕ) (2.67)
2 2
σ1 − σ3
τy = cos(ϕ) (2.68)
2
σ1 − σ3 σ1 + σ3 σ1 − σ3
cos(ϕ) = c + [ − sen(ϕ)] ⁡tg(ϕ) (2.69)
2 2 2

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Figura 2.17 – Superfície do critério de Mohr-Coulomb no espaço de tensões e no plano para
diferentes angulos de atrito interno, (BORJA, SAMA e SANZ, 2002).
O critério de Mohr-Coulomb considera a tensão de escoamento sob compressão maior
do que sob tração, refletindo a influência do terceiro invariante das tensões de desvio (J3 ),
embutido no ângulo de Lode (θ), de maneira que o critério de Mohr-Coulomb seja escrito na
forma dos invariantes das tensões, equação (2.70) (AZEVEDO, 1985) e (IBAÑES, 2003).

I1 ⁡sen(ϕ) sen(θ)⁡sen(ϕ)
+ √J2 ⁡[cos(θ) − ] = c⁡cos(ϕ) (2.70)
3 √3
Onde:
I1 = primeiro invariante das tensões [F][L]-2;
J2 = segundo invariante das tensões de desvio [F][L] -2;
θ = ângulo Lode dependente de J2 e J3 , em graus, equação (2.23);
c = coesão [F][L]-2;
ϕ = ângulo de atrito interno em graus.
O ângulo de atrito interno aparece em alguns solos, areias e pedras britadas, com
exceção das argilas saturadas não drenadas, onde ϕ é considerado igual a zero. No caso de
σy
ϕ = 0°, c = τmax = 2 e o critério de Mohr-Coulomb se iguala ao critério de Tresca, ou seja, a
equação (2.70) se torna igual à equação (2.60).
O critério é dependente do primeiro invariante das tensões (I1 ) e influenciado pela tensão
hidrostática, sendo aplicável ao concreto, solos e rochas. Os resultados só são razoáveis se
predominarem as compressões ou quando a resistência à tração do material for muito baixa,
mas diferente de zero, uma vez que no caso do concreto não se deve admitir que um material
frágil se plastifica quando tracionado (AZEVEDO, 1985). Nesse contexto, o critério poderia ser
utilizado para dormentes de concreto ou subleitos e sublastros com alguma coesão, mas não
para o lastro, uma vez que sua coesão é considerada nula e considerar a coesão c nula na
equação (2.70) inviabiliza o critério matematicamente.
É possível adaptar o critério de Mohr-Coulomb de modo que unixialmente as tensões
máximas à tração e compressão sejam respectivamente σt e σc (ambas com sinal positivo)
(AZEVEDO, 1985). Calcula-se os valores de ϕ e c correspondentes, conforme as equações
(2.71) e (2.72). Segundo o autor, a superfície de escoamento obtida representa bons resultados
para uma análise elastoplástica e isotrópica. Para simular um material que não resiste à tração,
deve-se considerar σt próximo de zero, uma vez que o seu anulamento conduz a uma
indeterminação matemática nas expressões anteriores.

2⁡c⁡cos(ϕ)
= σt (2.71)
1 + sen(ϕ)

2⁡c⁡cos(ϕ)
= σc (2.72)
1 − sen(ϕ)
Onde:
σt = resistência à tração [F][L]-2;
σc = resistência à compressão [F][L]-2;
c = coesão [F][L]-2;

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Elastoplasticidade aplicada em ferrovias
ϕ = ângulo de atrito interno em graus.

2.3.4 Critério de Drucker-Prager


O critério foi definido na intenção de tornar Von Mises dependente da pressão
hidrostática, por intermédio do primeiro invariante de tensões I1 , influenciado por um termo
adicional α, conhecido como constante de proporcionalidade, equação (2.73) (DRUCKER e
PRAGER, 1952). Como é uma generalização do critério de Von Mises, a equação (2.73) se
torna igual a equação (2.63), quando se faz α = 0 e k = τ12 .

√J2 = k + α⁡I1

1 (2.73)
√ [(σ1 − σ2 )2 + (σ2 − σ3 )2 + (σ1 − σ3 )2 ] = k + α⁡(σ1 + σ2 + σ3 )
6

Onde:
α = constante de proporcionalidade;
I1 = primeiro invariante dos componentes das tensões [F][L] -2;
J2 = segundo invariante dos componentes das tensões de desvio [F][L] -2;
σ1 , σ2 , σ3 = tensões principais [F][L]-2;
k = parâmetro de escoamento [F][L]-2;
Para a obtenção dos parâmetros do critério de Drucker-Prager, pode-se efetuar 2
ensaios de ruptura do material, um de compressão uniaxial e outro de compressão triaxial. Os
parâmetros α e k também podem ser determinados procedendo ensaios uniaxiais de compressão
e tração, considerando valores negativos para a compressão e positivos para a tração (LITTLE,
ALLEN e BHASIN, 2015). Na compressão, definindo-se σ1 = −σc, a equação (2.73) se torna
igual a equação (2.74). Já na tração, definindo-se σ1 = σt, a equação (2.73) se torna igual a
equação (2.75). Conhecendo os valores de σc e σt, a resolução desse sistema permite a
determinação de α, conforme a equação (2.76), e de k, conforme a equação (2.77).

σc
+ α⁡σc = k (2.74)
√3
σt
− α⁡σt = k (2.75)
√3
σt − σc
α= (2.76)
√3⁡(⁡σc + σt )

2⁡σc ⁡σt
k= (2.77)
√3⁡(⁡σc + σt )

Os valores de α e k também podem ser expressos em função da coesão e do ângulo de


atrito interno, determinados em compressão axial respectivamente conforme as equações (2.78)
e (2.79) (IBAÑES, 2003). Percebe-se que Drucker-Prager também é uma generalização do
critério de Mohr-Coulomb. No plano octaédrico, sua função de escoamento apresenta forma
circular, circundando Mohr-Coulomb (Figura 2.18), e por esse motivo é preferida em simulações
numéricas.

2⁡sen(ϕ)
α= (2.78)
√3⁡(3 − sen(ϕ))

6⁡c⁡cos(ϕ)
k= (2.79)
√3⁡(3 − sen(ϕ))
Onde:
ϕ = ângulo de atrito interno, em graus;
c = coesão [F][L]-2.

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Elastoplasticidade aplicada em ferrovias
(a) (b)
Figura 2.18 – (a) Critérios de Drucker-Prager e von Mises no plano I1 × √J2 ; (b) Critérios de
Mohr-Coulomb e de Drucker-Prager em plano octaédrico, (IBAÑES, 2003).
O critério de Drucker-Prager se aplica a materiais granulares com atrito interno, sendo
extensamente utilizado para a análise de lastro ferroviário (PROFILLIDIS, 2006) e (FERREIRA e
TEIXEIRA, 2012). Tanto o critério de Mohr-Coulomb como o de Drucker-Prager são dependentes
da pressão hidrostática e por isso a superfície de escoamento em 3D se altera ao longo da reta
σ1 = σ2 = σ3 .

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Elastoplasticidade aplicada em ferrovias
3 O ângulo de atrito interno, de dilatância e a coesão
De acordo com (PINTO, 2006), a resistência por atrito entre as partículas de um
agregado pode ser representada analogamente a um problema de deslizamento de um corpo
sobre uma superfície plana, Figura 3.1. O equilíbrio entre a força tangencial (T) e a normal (N) é
calculada pela equação (3.1) e só ocorrerá movimento do corpo se T > N⁡tg(φ) = N⁡μest . Logo,
o ângulo φ é um importante parâmetro de estabilidade. Para φ = 0° a tangente é zero, não existe
inclinação, o coeficiente de atrito não é mobilizado e, portanto, não ocorre deslizamento. Já para
φ = 90° a tangente tende ao infinito, a inclinação é máxima e a força tangencial mobilizada é
máxima. Então, há de existir uma inclinação máxima de equilíbrio e um coeficiente de atrito
estático máximo, onde o corpo ainda permanece em repouso.

T = N⁡tg(ϕ) = N⁡μest (3.1)


Onde:
ϕ = ângulo de atrito interno;
μest = coeficiente de atrito estático;
T = força tangencial [F]; N = força normal [F].

Figura 3.1 – Corpo livre sobre uma superfície plana, representação do atrito entre as partículas
de um agregado, (PINTO, 2006).
O exemplo anterior chama a atenção para a importância da inclinação, correlacionando-
a com o coeficiente de atrito estático. No entanto, conforme (SELIG e WATERS, 1994) e (PINTO,
2006), o atrito dos solos é diferente do atrito entre corpos, esquematizado na Figura 3.1 e na
equação (3.1), visto que o deslocamento envolve grãos, que podem rolar ou se acomodar entre
os vazios e que ainda sofrem a influência físico-química do meio. O ângulo de atrito é maior em
materiais granulares, como as areias e britas, já as argilas são mais dependentes da coesão.
Para ambos os materiais, o fenômeno é dependente do estado de tensões e do grau de
saturação.
(PINTO, 2006) diz que a coesão é análoga a uma cola, oriunda da atração físico-química
das partículas e função do teor de umidade. A coesão pode ser real ou aparente. A real é aquela
encontrada em solos naturalmente cimentados, devido à tensão entre as partículas, sendo uma
parcela participante da resistência ao cisalhamento. Já a aparente é um fenômeno de atrito, onde
sua tensão normal é consequência da tensão capilar. A coesão real deve ser considerada
independente da força normal.
As explicações apresentadas são simples, mas suficientes para aspectos práticos. Os
parâmetros ϕ e c podem ser estimados em ensaios de compressão simples não confinados
(apenas para materiais coesivos, como argilas), compressão triaxial convencional ou de
cisalhamento direto.
Conforme (INDRARATNA, SALIM e RUJIKIATKAMJORN, 2011), para tensões
confinantes mantidas a valores menores que 300 kPa, o lastro apresenta ϕ levemente
decrescente com o aumento do tamanho dos fragmentos. Para tensões confinantes maiores que
400 kPa (critério de dimensionamento), a variação do ângulo de atrito interno com o aumento do
tamanho das partículas pode ser de negligenciado. Conforme o autor, para uma mesma
granulometria do lastro, o ângulo de atrito interno tende a diminuir com o aumento da tensão
confinante. Como na prática a tensão confinante do lastro raramente ultrapassa 300 kPa, conclui-
se que o aumento do tamanho dos fragmentos do lastro ocasiona maior instabilidade da via.
Prova disso é a compilação de diversos estudos realizados por (INDRARATNA, SALIM
e RUJIKIATKAMJORN, 2011). Para uma tensão confinante de 30 kPa, um lastro que tinha ϕ =

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O ângulo de atrito interno, de dilatância e a coesão
60° apresentou ϕ = 50° quando a tensão confinante foi 10 vezes maior. Segundo o autor, essa
característica está associada ao ângulo de dilatância do material granular, que é mais
pronunciado a baixos estados de tensões.
Estudos de ROBNETT et al. (1975)1 apud (QUEIROZ, 1990), utilizando o método dos
elementos finitos (MEF) para avaliar a variação do ângulo de atrito interno (entre 30º e 40º) de
lastros de pedra britada, apontaram que maiores valores de ϕ proporcionam uma melhor
distribuição de tensões com o aumento da espessura.
Conforme (KARSTUNEN, 2015), em alguns tipos de materiais como pedregulhos, areias
densas e argilas pré-adensadas, em função do embricamento dos grãos e fragmentos, quando
solicitados ao cisalhamento, poderá ocorrer sua dilatância. Isso acontece por causa do
deslocamento relativo entre as partículas, ilustrado na Figura 3.2, que, ao serem deslocadas em
sentidos opostos tendem a ficar alinhadas, aumentando o volume do conjunto. Tal
comportamento não é constante com a deformação cisalhante imposta e quanto maior o tamanho
das partículas, maior a dilatância.

Figura 3.2 – Analogia do embricamento entre as partículas solicitadas por um esforço


cisalhante e o ângulo de dilatância, (KARSTUNEN, 2015).
Na verdade, o resultado prático da relação entre o ângulo de atrito interno (ϕi ) e o ângulo
de dilatância (ψ) é o ângulo de atrito externo aparente (ϕp ). O ângulo de atrito externo aparente
(ϕp ) é maior que o ângulo de atrito interno (ϕi ), que efetivamente resiste ao deslizamento entre
as partículas, visto que recebe a colaboração do ângulo de dilatância (ψ). Logo, o ângulo de
atrito externo aparente é uma soma do ângulo de dilatância com o ângulo de atrito interno,
conforme a equação (3.2).

ϕp = ψ + ϕi → ψ = ϕp − ϕi (3.2)
Onde:
ϕp = ângulo de atrito externo aparente realmente mobilizado, em graus;
ψ = ângulo de dilatância, em graus;
ϕi = ângulo de atrito interno, em graus.
Em análises em lastros, (INDRARATNA, SALIM e RUJIKIATKAMJORN, 2011)
consideraram como válido o ângulo de dilatância de aproximadamente 13º e um ângulo de atrito
externo aparente de aproximadamente 58º, resultando em um ângulo de atrito interno de
aproximadamente 45º.
(LI, HYSLIP, et al., 2015) dizem que o lastro quando limpo apresenta ângulo de atrito
interno variando entre 40º e 55º. Para tensões normais menores que 400 kPa, aplicáveis a
ferrovias, (INDRARATNA, IONESCU e CHRISTIE, 1998) apresentam a relação entre a tensão
normal efetiva e o ângulo de atrito externo aparente efetivo mobilizado (ϕ′p ), conforme a equação
(3.3), com valores de ϕ′p quase sempre maiores que 40º. O segundo termo da expressão (3.3)
reflete o efeito combinado do rearranjo das partículas, dilatância e da degradação das partículas
para a tensão normal aplicada. Para basaltos com ϕ′i = 35°, os coeficientes c e d são
respectivamente 31,9 e -0,002, permitindo a plotagem do gráfico da Figura 3.3.

1
ROBNETT, Q.L., THOMPSON, M.R., KNUTSON, R.M., and TAYABJI, S.D.(1975).
“Development of a structural model and materials evaluation procedures”. Ballast and Foundation
Materials Reserach Program, University of Illinois, report to FRA of US/DOT, Report No. DOT-FR-30338,
May.
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O ângulo de atrito interno, de dilatância e a coesão
ϕ′p = ϕ′i + c⁡exp⁡(d⁡σ′n ) (3.3)
Onde:
ϕ′i = ângulo de atrito interno efetivo, em graus;
σ′n = tensão normal efetiva [F][L]-2;
c, d = parâmetros do modelo.
70
Ângulo de atrito exerno aparente

65
mobilizando (graus)

60

55

50

45
0 50 100 150 200 250 300 350 400
tensão normal efetiva (kPa)

Figura 3.3 – Relação entre a tensão normal efetiva e o ângulo de atrito externo aparente
mobilizado efetivo para lastro basáltico, conforme relação fornecida por (INDRARATNA,
IONESCU e CHRISTIE, 1998).

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O ângulo de atrito interno, de dilatância e a coesão
4 A produção dos agregados britados
Em pavimentação o processo de britagem é utilizado para a obtenção de material
rochoso na granulometria correta. Tal procedimento não é de um todo complexo, mas caso não
realizado corretamente poderá resultar em problemas nos agregados, como a lamelaridade ou a
utilização de material inservível.
Em uma pedreira nova, considerando que todos os ensaios padrões que caracterizam a
rocha como propícia para o uso em pavimentação foram realizados, a primeira etapa a ser
efetuada é a retirada do material estéril existente no topo da pedreira, também conhecido como
capa de pedreira. A capa da pedreira pode possuir material de baixa qualidade, que misturado
com agregados de boa qualidade, causará a contaminação de todo agregado britado (Figura
4.1). Parece obvio, mas esse problema ocorre e a fiscalização de obra deve garantir que o
material de capa de pedreira seja utilizado apenas em caminhos de serviço ou na proteção de
taludes.

Figura 4.1 – Basalto com estrutura vesicular de capa de pedreira (esquerda). Depósito de lastro
contaminado com agregado de capa de pedreira (direita)
A rocha é extraída com a utilização de explosivos. A tipo de carga explosiva e a
metodologia de implantação das cargas é denominado de plano de fogo. Conforme apresentado
na Figura 4.2, utilizando uma perfuratriz, abre-se um furo na rocha e aloca-se a carga explosiva,
que fica interligada por um cordel ao detonador ou a um retardador.

Figura 4.2 – Perfuração de rocha para inserção da carga explosiva


Uma vez detonada, a rocha é então recolhida em tamanho reduzido e levada ao britador
primário, geralmente por caminhão, que despeja o material em uma calha (Figura 4.3). Nos
britadores o material vai sendo quebrado e peneirado até se obter a granulometria necessária.
Ao final o agregado é recolhido por correias transportadoras, sendo conduzido até as pilhas de
estocagem, que devem estar separadas por granulometria, conforme a Figura 4.4.
O controle de qualidade na pedreira deve ser rigoroso, pois a qualidade da rocha pode
variar substancialmente de um ponto para o outro. Geralmente são realizados apenas ensaios
diários de granulometria, obtendo amostras direto da correia transportadora. No entanto ensaios
de abrasão Los Angeles, Treton e de forma são simples de serem feitos e proporcionam uma
análise mais completa do agregado produzido, devendo ser realizados pelo menos uma vez por
semana. Outras formas de obtenção de amostras podem ser utilizadas, como diretamente dos

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A produção dos agregados britados
depósitos. Nesses casos deve-se ter cuidados para não obter amostras segregadas. Geralmente
a amostra obtida é misturada e quarteada, utilizando o material de dois quartos opostos.

Figura 4.3 – Britador primário

Figura 4.4 – Pilhas de estocagem alimentadas por correias transportadoras (esquerda);


Britador secundário (direita)
O britador primário geralmente é o de mandíbula, que quebra os agregados por
compressão em tamanhos que possam ser britados por outros britadores (Figura 4.5). Demais
tipos de britadores, denominados secundários ou terciários utilizam impacto, desgaste por atrito,
cisalhamento e compressão (Figura 4.6).

Figura 4.5 – Britador de mandibula (esquerda); Britador de impacto (direita). Roberts et al.
(1996) apud. (BERNUCCI, MOTTA, et al., 2008).

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A produção dos agregados britados
Figura 4.6 – Britador de desgaste por atrito (esquerda); Britador de cisalhamento e compressão
(direita). Roberts et al. (1996) apud. (BERNUCCI, MOTTA, et al., 2008).
O britador de impacto arremessa o agregado contra a parede interna do britador por
intermédio de um centro giratório em alta rotação. O britador de desgaste, como os giratórios e
os de cone, trituram o agregado contra a parede. Já os britadores de cisalhamento e compressão
utilizam uma espécie de hélice acoplada em seu rotor, que em contato com a rocha, a quebra
por cisalhamento. A escolha do tipo de britador depende do tipo de rocha que será britada.
Também deve ser levado em consideração a capacidade de produção, modo de alimentação,
custos de manutenção ou aquisição, sensibilidade a humidade e materiais argilosos. A Figura
4.1 apresenta um comparativo entre tipos de britadores.
Tabela 4.1 – Comparação entre tipos de britadores

Característica Mandíbulas Impacto Giratório


Britadores de impacto Maior que os de mandíbulas
Capacidade média apresentam menores para mesma abertura de
capacidades saída
Dispensa o uso de
alimentadores podendo
Modo de Exigem
Exigem alimentadores operar afogado e com
alimentação alimentadores
basculamento direto de
caminhões
Razões de redução muito
maiores, o que reduz o
Maior que os de mandíbulas,
número de estágios de
para mesma abertura de
Grau de redução menor britagem, podendo,
saída e mesma capacidade.
algumas vezes, fazer o
Produto mais fino
trabalho de britagem
primária e secundária
Maior abertura de entrada,
para uma mesma abertura
Tamanho máximo de saída, comparativamente
média média
de alimentação com os de mandíbulas,
aceitando, portanto
alimentação mais grosseira.
Elevado custo de
Operação mais suave,
manutenção e grande
portanto o desgaste e os
Desgaste e custo desgaste, sendo
médio custos de manutenção são
de manutenção desaconselhável o seu uso
menores do que os de
para fragmentação de
mandíbulas
rochas muito abrasivas
Sensibilidade à Mais adequado Mais sensível a umidade e
Altamente efetivo
umidade e ao teor que o giratório e ao teor de argilas que

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A produção dos agregados britados
de argilas na menos adequado dificultam o movimento do
alimentação que o britador de material no interior da
impacto câmara
Disponível em <http://pt.trituradoras-de-roca.com/wiki/Tipos-de-britadores-e-
diferen%C3%A7a-entre-eles.html>. Acesso em 16 mai/2015.

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A produção dos agregados britados
5 Ensaios geotécnicos de laboratório
5.1 Granulometria
A distribuição granulométrica dos agregados é uma de suas principais características e
tem grande influência no comportamento do material, portanto, no pavimento, como a rigidez,
estabilidade, durabilidade, permeabilidade, trabalhabilidade, resistência à fadiga e a deformação
permanente.
Conforme a (ABNT NBR NM 248, 2003), existem duas séries de peneiras utilizadas em
ensaios correntes de caracterização dos agregados, a série normal e a série intermediária,
ambas apresentadas na Tabela 5.1. Existem também diversas outras aberturas de peneiras não
especificadas na Tabela 5.1 e que podem ser solicitadas em normativos específicos. A
quantidade mínima de amostra para a realização do ensaio de granulometria deve seguir o
exposto na Tabela 5.2.
Tabela 5.1 – Abertura de peneiras para ensaio de granulometria, adaptado de (ABNT NBR NM
248, 2003) e (ABNT NBR 7181, 1984)

Conforme
(ABNT NBR Conforme (ABNT NBR NM 248, 2003) para
7181, 1984) agregados gerais
Número da para solos
peneira ou nome
convencional Quantidade máxima
Série Série de material sobre a
Série única
normal intermediária tela da peneira com
203 mm de diâmetro
3" --- 75 mm --- ---
2.1/2" --- --- 63 mm ---
2" 50 mm --- 50 mm 3,6 kg
37,5
1.1/2" 38 mm --- 2,7 kg
mm
1.1/4" --- --- 31,5 mm ---
1" 25 mm --- 25 mm 1,8 kg
3/4" 19 mm 19 mm --- 1,4 kg
1/2" --- --- 12,5 mm 0,89 kg
3/8" 9,5 mm 9,5 mm --- 0,67 kg
1/4" --- --- 6,3 mm --
4,75
4 4,8 mm --- 0,33 kg
mm
2,36
8 --- ---
mm
10 2,0 mm --- ---
1,18
16 1,2 mm ---
mm
30 600 µm 600 µm --- 0,20 kg

40 420 µm --- ---


50 --- 300 µm ---
60 250 µm --- ---
100 150 µm 150 µm ---

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Ensaios geotécnicos de laboratório
200 75 µm --- ---

A número da abertura das peneiras equivale à quantidade de espaços vazios em uma


polegada linear (25,4 mm). A exemplo, na peneira número 10, existem 10 espaços vazios em
25,4 mm, ou seja, 2,54 mm. Porém, dos 2,54 mm, 0,54 mm é a dimensão ocupada pelo material
da peneira, restando 2,00 mm livres de espaço vazio. Na peneira número 200, existem 200
espaços vazios em 25,4 mm, então, 0,127 mm, sendo 0,052 mm a dimensão linear ocupada pelo
material da peneira para cada espaço vazio, restando 0,075 mm ou 75 µm.
Durante o ensaio de granulometria, deve-se tomar cuidado para não colocar excesso de
material nas peneiras, obstruindo a passagem de partículas menores. As nomenclaturas de
agregados podem ser definidas conforme sua granulometria, de acordo com a Tabela 5.3.

Tabela 5.2 – Massa mínima por amostra de ensaio. Adaptado de (ABNT NBR NM 248, 2003)a
e (DNER-ME 083, 1998)b

Dimensão máxima do agregado (mm) Massa mínima da amostra de ensaio (kg)


< 4,75 0,3a após secagem ou 1b
9,5 1a ou 5b
12,5 2
19 5 ou 7b
a

25 10
37,5 15
50 20
63 35
75 60
90 100
100 150
125 300

Tabela 5.3 – Definições de agregados conforme sua granulometria, adaptado de (PINTO,


2006)

Definição Limites
Matacão 25 cm a 1 m
Pedra 7,6 cm a 25 cm
Pedregulho 4,8 cm a 7,6 cm
Areia grossa 2 mm a 4,8 cm
Areia média 0,42 mm a 2 mm
Areia fina 0,05 mm a 0,42 mm
Silte 0,005 mm a 0,05 mm
Argila Inferior a 0,005

Tradicionalmente o material com dimensão maior que 2 mm é considerado como graúdo


e o material com dimensão inferior, até 75 µm, como miúdo. O material de enchimento, também
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Ensaios geotécnicos de laboratório
conhecido como fíler é aquele com dimensão inferior a 75 µm, como o cimento Portland ou a cal
hidratada. Todo material que passa na peneira de 2 mm de abertura pode ser considerado como
solo.
Em pavimentação, geralmente limita-se a porcentagem de fíler utilizada, pois aumentam
a deformabilidade e a expansão volumétrica na presença de água, além de reduzir a
permeabilidade e a rigidez das camadas granulares. No entanto, segundo (BERNUCCI, MOTTA,
et al., 2008), solos tropicais podem apresentar características diferentes dos solos de clima frio
e temperado. Portanto, deve-se ter cautela na verificação de especificações com referência a
outras, desenvolvidas em países não tropicais. Nesse sentido, foi criada no Brasil uma
classificação específica para solos lateríticos, denominada classificação Miniatura Compactada
Tropical (MCT), pouco utilizada na prática de obras.
Conforme a (ABNT NBR NM 248, 2003), a dimensão máxima característica do agregado
corresponde à abertura nominal da malha da peneira na qual o agregado apresenta uma
porcentagem retida acumulada igual ou imediatamente inferior a 5 %. Outras metodologias
podem considerar uma porcentagem diferente. Já o módulo de finura é a soma das porcentagens
retidas acumuladas em massa nas peneiras da série normal, dividida por 100. Quanto maior o
módulo de finura mais grosso é o agregado.
O diâmetro efetivo é a abertura da peneira para qual se tem 10 % em peso total de todas
as partículas menores que ela. Ou seja, 10 % das partículas serão mais finas que determinada
peneira. Esse parâmetro fornece informações sobre a permeabilidade das areias.
O coeficiente de uniformidade (Cu) é a razão entre os diâmetros correspondentes a 60
% e 10 % do material passante na curva granulométria acumulada. Quanto menor o valor, mais
uniforme é o material, se menor que 5, o material é muito uniforme, entre 5 e 15 o material tem
uniformidade média e maior que 15 o material é não uniforme.
O coeficiente de curvatura (Cc) é calculado conforme equação (5.1). Entre 1 e 3 o
material é bem graduado e sua massa unitária tende a ser maior. Se Cc for menor que 1 ou maior
que 3 a graduação é descontínua ou uniforme.

(d30 )²
Cc = (5.1)
d60 ⁡d10
Onde:
dx = diâmetro correspondente a x% do material que passa, tomado na curva granulométrica
acumulada.
Agregados de graduação uniforme apresentam a maioria de suas partículas com
dimensões parecidas e a curva granulométrica é íngreme. Já os agregados com graduação
aberta têm ausência de finos para preencher os vazios, resultando em maior volume de vazios.
Um exemplo com todas as graduações é apresentado na Figura 5.1.

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Ensaios geotécnicos de laboratório
Figura 5.1 – Representação de diferentes graduações de agregados, (BERNUCCI, MOTTA, et
al., 2008).

5.2 Forma das partículas


A forma das partículas, principalmente das pedras britadas, tem grande influência do tipo
e da quantidade dos britadores utilizados, sendo possível tornar um agregado mais cúbico
inserindo um britador terciário na sequência de produção dos agregados. Conforme (BERNUCCI,
MOTTA, et al., 2008), a forma das partículas influencia na resistência ao cisalhamento e na
energia de compactação necessária para se alcançar determinada massa específica. Para
(KLINCEVICIUS, 2011), partículas alongadas de lastro ferroviário tendem a quebrar mais
facilmente quando solicitadas a carregamentos repetitivos.
A forma das partículas influenciam no comportamento final da camada do pavimento e a
norma (ABNT NBR 7809, 2006) foi concebida para caracterizar o agregado quanto a esse
quesito. No ensaio, executa-se a análise granulométrica da amostra utilizando as peneiras da
série normal e intermediária, acima de 9,5 mm. Recolhe-se 200 fragmentos proporcionalmente
às porcentagens retidas em cada peneira. Com um paquímetro, em cada fragmento, mede-se o
comprimento (c) e a espessura (e), sendo o índice de forma de cada fragmento a relação c/e.
Conforme (BERNUCCI, MOTTA, et al., 2008), o índice de forma varia entre 1 para agregados
cúbicos e 0 para agregados lamelares. Geralmente o limite mínimo para aceitação do agregado
é índice de forma médio de no mínimo 0,5.
Especificamente para lastro, conforme (ABNT NBR 5564, 2011), a amostra é peneirada
nas peneiras de 63 mm, 50 mm, 38 mm, 25 mm e 19 mm, obtendo-se 100 fragmentos
proporcionais às porcentagens retidas em cada peneira. O comprimento (a) é a maior dimensão
do fragmento, o comprimento (c) é a menor comprimento e o comprimento (b) a largura média
do fragmento. Calcula-se então as relações b/a e c/b para cada fragmento, classificando-o
conforme a Tabela 5.4.
Tabela 5.4 – Classificação da forma dos fragmentos, (ABNT NBR 5564, 2011).

Relações b/a e c/b Classificação da forma


b/a ≥ 0,5 e c/b ≥ 0,5 Cúbica
b/a < 0,5 e c/b ≥ 0,5 Alongada
b/a ≥ 0,5 e c/b < 0,5 Lamelar Não cúbica
b/a < 0,5 e c/b < 0,5 Alongada-lamelar

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Ensaios geotécnicos de laboratório
5.3 Limites de Atterberg
Os limites e índices a seguir são determinados nos solos passantes na peneira de 0,42
mm, número 40.
Apesar da importância desses parâmetros em projetos correntes de pavimentação, é
importante mencionar que os ensaios que definem os Limites de Atterberg sofrem muita
influência da operação do laboratorista, como o limite de plasticidade, manual e visual.

5.3.1 Limite de liquidez (LL)


O limite de liquidez é definido como a umidade limite superior do qual o solo apresenta
plasticidade. O ensaio é normalizado pela norma (ABNT NBR 6459, 1984), da qual utiliza-se o
aparelho de Casa Grande, apresentado na Figura 5.2.

Figura 5.2 – Aparelho automático de Casa Grande, (CONTROLS, 2015).


No ensaio, prepara-se amostras com diferentes umidades. Cada amostra é colocada na
concha do aparelho de Casa Grande até que a espessura na parte central seja de 1 cm. Com o
auxílio de um cinzel padronizado, deve ser formado 2 taludes de solo, conforme a Figura 5.3. A
concha é então golpeada contra a base do aparelho, de uma altura padronizada, a uma
velocidade de 2 golpes por segundo até que as bordas dos taludes se fechem por um
comprimento mínimo de 13 mm. Cobrindo um intervalo de umidade em que o talude se feche
entre 15 a 35 golpes, com no mínimo 3 ensaios, ajusta-se uma reta pelos pontos obtidos, onde
as abcissas em escala logarítmica são os golpes e as ordenadas em escala aritmética é a
umidade. O LL é a umidade que corresponde a 25 golpes. Na impossibilidade de se conseguir a
abertura entre os taludes ou o seu fechamento com mais de 25 golpes, a amostra é considerada
como não apresentando limite de liquidez (NAL), comumente também denominada não plástica
(NP).

Figura 5.3 – Aspecto do talude de solo no ensaio de limite de liquidez, (ABNT NBR 6459,
1984).
Conforme (PINTO, 2006) os solos são tanto mais compressíveis quanto maior for seu
LL, ou seja, sujeitos a recalques, o que não é desejável em construção de pavimentos
ferroviários. O índice de compressão foi estabelecido, segundo Terzaghi, conforme a equação
(5.2).

Cc = 0,9(LL − 10) (5.2)

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Ensaios geotécnicos de laboratório
Onde:
Cc = índice de compressão (%);
LL = limite de liquidez (%).

5.3.2 Limite de plasticidade (LP)


O limite de plasticidade é definido como a umidade limite inferior, do qual o solo
apresenta plasticidade. O ensaio é normalizado pela norma (ABNT NBR 7180, 1988) da qual
utiliza-se um gabarito cilíndrico com 3 mm de diâmetro e 10 cm de comprimento e uma placa de
vidro quadrada com 30 cm de lado.

Figura 5.4 – Exemplo de ensaio de limite de plasticidade. Disponível em


<http://www.torresgeotecnia.com.br/portfolio-view/limite-de-plasticidade/>, acesso em
14/03/2018
Na execução do ensaio adiciona-se água gradativamente em uma porção de solo até
que o mesmo apresente uma consistência plástica. Molda-se com a mão uma pequena porção
do solo sobre a placa de vidro, tentando fazer com que ela apresente a mesma forma do gabarito
cilíndrico. O LP é obtido quando pelo menos 3 amostras de um mesmo solo não diferem nas
suas respectivas umidades em mais que 5 % da média.
Caso não seja possível obter a forma do gabarito com o solo, considera-se o material
como não apresentando limite de plasticidade (NAP).

5.3.3 Índice de plasticidade (LP)


O índice de plasticidade é calculado conforme a equação (5.3). Quando não for possível
determinar o LL ou o LP, logicamente também não será possível determinar IP, logo o material
é não plástico (NP). O IP é, portanto, o intervalo de umidade do qual o solo apresenta
plasticidade. A Tabela 5.5 apresenta alguns exemplos dos limites de Atterberg.

IP = LL − LP (5.3)
Onde:
LL = limite de liquidez (%);
LP = limite de plasticidade (%).
Tabela 5.5 – Resultados típicos de alguns solos brasileiros, adaptado de (PINTO, 2006)

Solo(s) LL (%) LP (%) IP (%) Cc (%)


Residuais de arenito (arenosos finos) 29 a 44 18 a 24 11 a 20 17,1 a 39,6
Residual de gnaisse 45 a 55 15 a 30 20 a 25 31,5 a 49,5
Residual de basalto 45 a 70 25 a 40 20 a 30 31,5 a 63
Residual de granito 45 a 55 31 a 37 14 a 18 31,5 a 49,5

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Ensaios geotécnicos de laboratório
Argilas orgânicas de várzeas quaternárias 70 40 30 54
Argilas orgânicas de baixadas litorâneas 120 30 80 99
Argila porosa vermelha de São Paulo 65 a 85 40 a 45 25 a 40 49,5 a 76,5
Argilas variegadas de São Paulo 40 a 80 25 a 35 15 a 45 27 a 72
Areias argilosas variegadas de São Paulo 20 a 40 15 a 25 5 a 15 9 a 36
Argilas duras, cinzas, de São Paulo 64 22 42 48,6
Conforme (PINTO, 2006) os limites de Atterberg sofrem influência do teor de argila e de
areia da amostra. Solos de mesma composição química, mas com teores maiores de argila
tendem a ter limites diferentes. A variação dos limites também sofre influência da atividade da
argila. Solos com pequenos teores de argila e altos índices de plasticidade indicam que a argila
é muito ativa, ou seja, é bastante influenciada pela água.
Quando se pretende ter uma noção sobre a atividade da argila, o IP deve ser comparado
com a fração de argila presente, conforme a equação (5.4). A argila é considerada normal quando
o índice se situa entre 0,75 e 1,25. Menor que 0,75 a argila é considerada inativa e maior que
1,25 ela é considerada ativa.

IP
IA = (5.4)
fa
Onde:
IA = índice de atividade;
IP = índice de plasticidade (%);
fa = fração de argila, menor que 0,002 mm (%).
No caso das argilas, a consistência é um importante parâmetro de resistência, que por
sua vez depende da umidade a que a argila está sujeita. Conforme (PINTO, 2006), pode-se
determinar a consistência da argila conforme a equação (5.5). Logo, pode-se estimar a
resistência à compressão simples conforme a Tabela 5.6.

LL − w
IC = (5.5)
IP
Onde:
IC = índice de consistência;
LL = limite de liquidez (%);
IP = índice de plasticidade (%);
w = umidade (%).
Tabela 5.6 – Resistência à compressão da argila conforme índice de consistência, adaptado de (PINTO,
2006)

Consistência Índice de consistência Resistência à compressão simples (kPa)


Muito mole < 25
Mole < 0,5
Mole 25 a 50
Média Média 0,5 a 0,75 50 a 100
Rija 100 a 200
Rija 0,75 a 1
Muito rija 200 a 400
Dura Dura >1 > 400

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Ensaios geotécnicos de laboratório
5.4 Massa específica, massa unitária, volume de vazios, absorção e
porosidade
A massa específica é a relação entre a massa seca do agregado e o seu volume,
conforme a equação (5.6). A massa pode ser obtida em balança de precisão e o volume em
balança hidrostática (Figura 5.5), independente da sua forma. O procedimento completo para
agregados graúdos é descrito na norma (ABNT NBR NM 53, 2009).

Msec
Gs = (5.6)
V
Onde:
Msec = massa seca do agregado [F];
V = volume do agregado [L]-3.

Figura 5.5 – Balança hidrostática, (CONTROLS, 2015).


Existem dois tipos de massas específicas, a real e a aparente, que comumente geram
dúvidas nos profissionais de campo. A massa específica real considera o volume real dos sólidos,
desconsiderando quaisquer poros em sua superfície. Já a massa especifica aparente considera
os vazios, considerando no volume do agregado os poros superficiais contendo água, sendo
medido quando o agregado está com a superfície úmida.
A diferença entre as duas massas específicas está então na maneira em que se mede o
volume, ambas em balança hidrostática: equação (5.7) para a massa específica real (Gsr); e
equação (5.8) para a massa específica aparente (Gsa). A massa saturada é obtida secando o
agregado com um tecido absorvente logo após de retirá-lo da submersão, que dependendo da
especificação, varia entre 24 e 48 h de imersão. A massa saturada é maior que a massa seca,
logo Gsr > Gsa. A decisão entre qual das duas massas específicas deve-se considerar depende
da aplicação. Em pavimentação ferroviária comumente utiliza-se a massa específica aparente,
pois os agregados constantemente ficam expostos à umidade.

Vreal = Msec − Msub (5.7)

Vaparente = Msat − Msub (5.8)


Onde:
Msec = massa seca do agregado [F];
Msub = massa do agregado obtido em balança hidrostática [F];
Msat = massa saturada do agregado [F].
Existem ainda a massa unitária, que é a relação da massa do agregado em um
determinado volume, incluindo os vazios entre os fragmentos, como a brita em um caminhão.
Sua determinação é realizada conforme a norma (ABNT NBR NM 45, 2006), em um recipiente
padrão, conforme a dimensão máxima do agregado. Pode-se verificar a massa unitária do

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agregado seco ou saturado com a superfície seca, que também pode ser considerada solta ou
compactada no recipiente padrão. Tem-se então a:
a) massa unitária seca solta;
b) massa unitária saturada solta;
c) massa unitária seca compactada;
d) massa unitária saturada compactada.

O volume de vazios é a diferença entre o volume do recipiente e o volume ocupado pelo


agregado seco, o que exclui a água e o ar. O índice de vazios é então calculado pela equação
(5.9), podendo ser em relação ao agregado solto ou compactado.

ρu volume⁡de⁡vazios
𝑒 =1− ⁡⁡⁡⁡⁡ou⁡⁡⁡⁡⁡𝑒 = (5.9)
Gsr volume⁡de⁡sólidos
Onde:
ρu = massa unitária seca [F][L]-3;
Gsr = massa específica real [F][L]-3.
O índice de vazios é parâmetro importante para a determinação da compacidade das
areias, pois areias com mesmo índice de vazios podem apresentar compacidades diferentes.
Quando a areia é despejada sem compactação em um recipiente, ela normalmente apresentará
seu índice de vazios máximo (emax). Realizando a compactação da areia, por vibração por
exemplo, tem-se o índice de vazios mínimo (emin). Conforme (PINTO, 2006), os índices máximos
e mínimos dependem das características do material, com exemplos apresentados na Tabela
5.7.
Tabela 5.7 – Exemplo de índices de vazios percentual de areias, (PINTO, 2006)

Descrição da areia emin (%) emax (%)


Areia uniforme de grãos angulares 70 110
Areia bem graduada de grãos angulares 45 75
Areia uniforme de grãos arredondados 45 75
Areia bem graduada de grãos arredondados 35 65
A compacidade da areia é expressa pelo índice de compacidade relativa (CR), conforme
a equação (5.10). A areia é considerada fofa para CR < 0,33, de compacidade média de 0,33 a
0,66, e compacta se CR > 0,66. Areias compactadas apresentam maior resistência e menor
deformabilidade, características desejáveis em obras ferroviárias.

𝑒máx − 𝑒nat
CR = (5.10)
𝑒máx − 𝑒min

Onde:
𝑒máx = índice de vazios máximo;
𝑒nat = índice de vazios in situ;
𝑒min = índice de vazios máximo.
Existe ainda a massa específica relativa, que é a massa especifica real ou aparente em
relação à massa especifica de outro material, geralmente a água. O termo densidade não deveria
ser utilizado em pavimentação, uma vez que se refere a apenas um elemento químico. Logo, é
correta a afirmação “a densidade de ouro” e incorreta “a densidade do solo”, uma vez que o solo
é um composto químico. Outras explicações para o termo densidade são encontradas em
diversas literaturas, no entanto essa última parece ser mais coerente.
A porosidade do agregado tem relação com a absorção, pois indica o quanto o agregado
absorve de água quando imerso. A absorção é a relação entre a massa de água absorvida pelo
agregado após determinado tempo de imersão e a massa inicial do material seco, conforme a

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equação (5.11). Já a porosidade pode ser aparente (ηa ) ou real (ηr ) e é a relação entre a massa
de água absorvida pelo agregado após determinado tempo de imersão e o volume aparente ou
real, conforme equação (5.12). Quando a porosidade é calculada pelo índice de vazios, equação
(5.13), está sendo considerado também o ar, pois por definição os vazios são ar e água.

Msat − Msec
αa = (5.11)
Msec

Msat − Msec
ηa =
Msat − Msub
(5.12)
Msat − Msec
ηr =
Msec − Msub

𝑒 volume⁡de⁡vazios
η= ⁡⁡⁡⁡⁡ou⁡⁡⁡⁡⁡η = (5.13)
1+𝑒 volume⁡total
Onde:
Msec = massa seca do agregado [F];
Msub = massa do agregado obtido em balança hidrostática [F];
Msat = massa saturada do agregado [F];
𝑒 = índice de vazios.
No caso de agregados miúdos, o procedimento a ser seguido para a obtenção da massa
específica é o descrito na norma (ABNT NBR NM 52, 2009). No ensaio, utiliza-se um frasco de
Le Chatelier com 500 cm³ de capacidade. Coloca-se 500 g da amostra, sendo a massa específica
obtida conforme a equação (5.14).

msec ⁡ou⁡msat
Gs = (5.14)
V − Va
Onde:
msec ⁡ou⁡msat = massa da amostra seca em estufa para obter a massa específica real ou a massa
da amostra saturada para obter a massa específica aparente [F];
V = volume do frasco [L]-3;
Va = volume de água adicionada [L]-3.

5.5 Compactação Proctor


No pavimento ferroviário as camadas de subleito, sublastro e lastro são sempre
compactadas, no entanto tal compactação não é verificada apenas na camada de lastro, onde
simplesmente aceita-se que a camada foi compactada. No lastro a compactação é realizada com
equipamentos de socaria específicos, já nas demais camadas a compactação é verificada pelo
método Proctor, inclusive nas camadas do corpo de aterro.
A energia de compactação, conforme (DNIT, 2006) é calculada conforme equação
(5.15).

n⁡P⁡H
Ec = (5.15)
V
Onde:
n = número de golpes;
P = peso do soquete [F];
H = altura de queda do soquete [L];
V = volume compactado [L]-3.
A norma brasileira para o ensaio de compactação é a (ABNT NBR 7182, 1986). O ensaio
pode ser realizado com um cilindro grande (sendo o mesmo utilizado no ensaio de CBR), com
aproximadamente 3243 cm³ (ou 2085 cm³ quando utilizado disco espaçador) ou um cilindro
pequeno, com aproximadamente 1000 cm³. Utiliza-se também um soquete pequeno com 2,5 kg
e controle de altura de 30,5 cm, ou um soquete grande com 4,54 kg e controle de altura de 45,7
cm (Figura 5.6).

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Figura 5.6 – Conjunto de soquetes e cilindros do ensaio Proctor, (CONTROLS, 2015)
No ensaio são definidas 3 energias de compactação, utilizando soquetes e cilindros
pequenos ou grandes, conforme a Tabela 5.8. O cilindro pequeno é utilizado somente quando a
amostra passa integralmente na peneira de 4,8 mm e não se deseja realizar o ensaio de CBR.
Tabela 5.8 – Energias de compactação Proctor, (ABNT NBR 7182, 1986)

Características inerentes a cada Energia


Cilindro
energia de compactação Normal Intermediária Modificada
Soquete Pequeno Grande
Pequeno Nº de camadas 3 3 5
Nº de golpes por camada 26 21 27
Soquete Grande
Nº de camadas 5 5 5
Grande
Nº de golpes por camada 12 26 55
Altura do disco espaçador 63,5 mm
No ensaio de compactação são preparadas pelo menos 5 amostras com 5 umidades
diferentes, duas no ramo seco e duas no ramo úmido a partir da umidade ótima presumível,
geralmente variando a umidade entre amostras em 2 %. A massa específica aparente seca é
determinada pela equação (5.16). Então plota-se um gráfico com a umidade no eixo das
abscissas e a massa específica aparente no eixo das ordenadas, conforme exemplo da Figura
5.7. Define-se então para a massa específica máxima, a umidade ótima, que deverá ser
controlada em campo.

mh 100
γs = (5.16)
V (100 + h)
Onde:
γs = massa específica aparente seca [F][L]-3;
mh = massa úmida do solo compactado [F];
V = volume útil do molde cilíndrico [L]-3;
h = teor de umidade do solo compactado (%).

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Figura 5.7 – Exemplo de curva de compactação

É interessante que seja plotado junto ao gráfico da curva de compactação, a curva de


saturação, conforme equação (5.17). Assim, pode-se verificar o quão próximo da saturação o
solo está da umidade ótima.

S
γs = (5.17)
h S
+
δa δ
Onde:
γs = massa específica aparente seca [F][L]-3;
S = grau de saturação (%);
δa = massa específica da água [F][L]-3;
δ = massa específica do solo [F][L]-3;
h = teor de umidade do solo compactado (%).
A determinação de qual energia de compactação utilizar depende da camada e da tensão
a que essa estará sujeita. Camadas superiores devem a ser compactadas com energias de
compactação maiores em relação àquelas aplicadas em camadas inferiores, pois as tensões nas
camadas superiores são maiores. As especificações de projeto geralmente determinam qual
energia deve ser aplicada e essas ficam atreladas ao CBR e a expansão do solo.
Uma vez determinada a massa específica aparente seca em laboratório, essa deverá
ser aplicada e conferida em campo. Dentre as diversas metodologias que podem ser utilizadas,
uma delas é o frasco de areia, conforme (ABNT NBR 7185, 1986). Com uma areia padronizada,
determina-se a massa de areia necessária para preencher uma cavidade no solo com
aproximadamente 15 cm de profundidade. Calcula-se então a massa específica aparente seca
do solo, conforme equação (5.18). A umidade do solo pode ser obtida por dois métodos expeditos
descritos na (ABNT NBR 16097, 2012), pelo umidímetro (Speedy) ou método da frigideira (Figura
5.8).

mh 100
γs = γar ⁡ (5.18)
mar 100 + h
Onde:
γs = massa específica aparente seca do solo [F][L]-3;
γar = massa específica aparente da areia [F][L]-3;
mh = massa do solo extraído da cavidade [F];
mar = massa da areia que preencheu a cavidade no solo [F];
h = teor de umidade do solo extraído da cavidade do terreno (%).

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Figura 5.8 – Equipamentos para determinação de massa específica e umidade em campo:
frasco de areia (esquerda); umidímetro Speedy (direita), (CONTROLS, 2015) e (SOLOTEST,
2015).
Por fim, relaciona-se percentualmente a massa específica aparente seca verificada no
campo com a determinada em laboratório, obtendo o grau de compactação (GC). Especificações
de construção de pavimentos geralmente determinam GC mínimos, como 100 % do Proctor
normal ou 95 % do Proctor modificado.
Camadas de compactação com GC acima de 100 % do Proctor normal conotam que a
massa específica aparente seca máxima obtida em laboratório não era realmente a máxima que
poderia ser obtida para determinado material, ou que os equipamentos de compactação ou a
metodologia utilizada foram eficientes.

5.5.1 Compactação em corpos de prova em miniatura, Mini-Proctor


A compactação em corpos-de-prova miniatura serve de subsídio para a realização do
ensaio de Mini-CBR, que por sua vez é utilizado na classificação MCT de solos tropicais. A norma
do ensaio é a (DNER-ME 228, 1994) e utiliza-se as energias de compactação normal ou
intermediária.
No ensaio são utilizadas 5 porções de solo passante na peneira número 10 (2 mm), em
teores de umidades variando entre 1,5 e 5 %, conforme tipo de solo. O corpo-de-prova padrão
tem diâmetro de 5 cm e uma altura de 13 cm, totalizando 255,3 cm³, que comparado com o
cilindro pequeno do ensaio Proctor convencional é quase 4 vezes menor, e com o cilindro grande
quase 8 vezes menor (utilizando o disco espaçador). O compactador pode ser leve, com 2,27 kg
ou pesado, com 4,54 kg, ambos com controle de queda de 30,5 cm.
Para a energia normal, aplica-se 4 golpes (argilas e solos siltosos) ou 5 golpes (siltes,
solos siltosos e arenosos) com o compactador leve. Já para a energia intermediária, aplica-se 6
golpes com o compactador pesado, qualquer que seja o solo. O corpo-de-prova é então invertido,
aplicando o mesmo número de golpes conforme a energia desejada. A condição de compactação
para dado teor de umidade é satisfeita quando a altura do corpo-de-prova, depois de
compactado, for de 5 cm ± 1 mm, devendo o procedimento ser refeito com uma correção
determinada na norma quantas vezes forem necessárias até se atingir a condição.
A massa específica aparente seca é obtida utilizando a mesma equação do ensaio
Proctor convencional, lembrando que o volume do corpo-de-prova não é o volume do cilindro de
compactação e sim 19,6 cm² (área estimada do cilindro) vezes a altura do corpo-de-prova,
aproximadamente 5 cm (aproximadamente 98 cm³). A porcentagem de umidade é obtida pela
relação entre a massa da água adicionada e a massa do solo seco em estufa.

5.6 Índice de Suporte Califórnia (ISC ou CBR)


O Índice de Suporte Califórnia (ISC), tradução do inglês Califórnia Bearing Ratio (CBR),
é um ensaio comparativo, portanto com resultado em porcentagem, realizado no material que
passa na peneira com 19 mm de abertura, conforme a norma (ABNT NBR 9895, 1987).
O resultado do ensaio é comumente utilizado como parâmetro de projeto, definindo-se
um valor mínimo de CBR e uma espessura de camada. Tal procedimento é uma tentativa de
limitar a atuação de tensões acima das admissíveis em camadas inferiores do pavimento, no

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entanto não racional e, portanto, pouco econômica. O ensaio não representa o estado de tensões
em que o solo é solicitado e também não avalia a ação de carregamentos dinâmicos, que como
é sabido influencia no comportamento dos materiais geotécnicos.
Para a realização do ensaio é necessário ter conhecimento do ensaio de compactação
Proctor, pois são utilizados pelo menos 5 corpos-de-prova moldados no cilindro (com espaçador)
grande, compactados com o soquete grande, conforme umidades e energia de compactação
utilizadas no ensaio Proctor, de acordo com a Tabela 5.8, apresentada anteriormente.
Terminado o ensaio Proctor, retira-se o disco espaçador do cilindro, inverte-se o corpo-
de-prova e o submerge em um tanque com água para medir a expansão durante 4 dias. No
espaço deixando pelo disco espaçador, antes de submergir o espécime na água, coloca-se um
prato perfurado e dois discos anelares, que solicitam o topo com uma massa total de 4,54 kg, no
intuito de simular uma sobrecarga de outros materiais ou camadas superiores do pavimento.
O deslocamento vertical (corpo-de-prova confinado lateralmente) é obtido utilizando um
relógio comparador com precisão de 0,01 mm, sendo realizadas medidas a cada 24 h, além da
inicial (Figura 5.9). A expansão pode ser calculada pela relação entre as diferenças de leituras
no relógio comparador e a altura inicial do corpo-de-prova.

Figura 5.9 – Cilindro de CBR em imersão, (SOUZA, 2007)


Ao término do período de imersão, o corpo-de-prova é retirado do tanque, deixando a
água escoar por 15 min. Com as mesmas sobrecargas, o corpo-de-prova é então solicitado em
uma prensa com capacidade de 50 kN por um pistão com 49,6 mm de diâmetro a uma velocidade
de 1,27 mm/min. Como o diâmetro interno dos anéis de sobrecarga possuem 54 mm, o pistão
passa por dentro dos anéis solicitando diretamente a amostra. A carga aplicada pode ser medida
por um anel dinamométrico ou por uma célula de carga ligada a um aquisitor de dados (Figura
5.10). O deslocamento vertical é medido por um relógio comparador ou também por dispositivos
eletrônicos.

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Figura 5.10 – Prensa CBR: manual (esquerda); Automática e microprocessada (direita),
(CONTROLS, 2015).
Até 10 minutos, a cada 30 segundos, existe uma penetração teórica na amostra, medida
juntamente com a carga aplicada, sendo a tensão obtida pela relação com a área do pistão.
Traça-se então uma curva tensão vs penetração, que geralmente é corrigida traçando-se uma
tangente do seu ponto de inflexão até interceptar o eixo das abscissas.
A distância da origem da curva até o ponto em que a reta tangente interceptou o eixo
das abscissas (distância C) é rebatida à frente, conforme Figura 5.11. O CBR é então calculado
utilizando as pressões correspondentes das penetrações de 2,54 mm e 5,08 mm (penetração de
10 % de uma e duas polegadas), corrigidas, conforme a equação (5.19). O CBR final,
considerado, é o maior valor entre os dois calculados. Em uma mesma página deve-se plotar a
curva de compactação (massa específica aparente seca vs umidade) e a curva do CBR com a
expansão (% de CBR de expansão vs umidade).

Figura 5.11 – Correção da curva tensão vs penetração do ensaio CBR, (ABNT NBR 9895,
1987).

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pressão⁡calculada⁡e⁡corrigida
CBR % = 100 (5.19)
pressão⁡padrão
Onde:
Pressão padrão para 2,54 mm = 6,90 MPa;
Pressão padrão para 5,08 mm = 10,35 MPa.
Segundo (SENÇO, 1997), existe uma correlação entre o CBR e os Limites de Atterberg:

4250
CBR % = (5.20)
LL⁡LP

5.6.1 O ensaio Mini-CBR


O ensaio de Mini-CBR é padronizado pela norma (DNER-ME 254, 1997) e possui
diversas vantagens em relação ao ensaio de CBR convencional, que segundo (SOUZA, 2007)
tem exigência de menor quantidade de amostras, maior rapidez na execução, menor esforço
físico e menor influência do operador.
O resultado do ensaio de Mini-CBR tem valor aproximado em relação ao ensaio
convencional e é realizado a partir de corpos-de-prova compactados em moldes com 5 cm de
diâmetro para solos de regiões tropicais, conforme a norma (DNER-ME 228, 1994). Existem
diferentes métodos de ensaios Mini-CBR:
a) com embebição (E), obtido após submeter o corpo-de-prova a no mínimo 20 h de
imersão total, com ou sem sobrecarga;
b) sem embebição (H), quando obtido com o corpo-de-prova não submetido a imersão em
água;
c) com sobrecarga (P), quando obtido após submeter o corpo-de-prova à imersão, com
sobrecarga de 490 g, e a penetração do pistão também com sobrecarga;
d) sem sobrecarga (S), quando obtido com corpo-de-prova, após imersão, sem a
sobrecarga, inclusive durante a penetração do pistão.
A utilização do método de ensaio depende da finalidade para qual o solo está sendo
estudado. O ensaio com imersão e com sobrecarga é utilizado para analisar o comportamento
de subleito e aterros. Materiais de sublastro também são submetidos a sobrecarga e umidade.
Quando da existência de sublastro asfáltico e boa drenagem do subleito, pode-se aceitar o
ensaio sem imersão.
O ensaio como um todo é parecido com o ensaio de CBR convencional. O pistão do
ensaio Mini-CBR tem diâmetro de 16 mm e é acoplado a uma prensa com capacidade de 4,9 kN.
As sobrecargas anelares têm massa de 0,5 kg e assim como no ensaio de CBR padrão possuem
um orifício interno, permitindo a passagem do pistão de carga. Quando embebido, a medida de
expansão é realiza com 1 h, 4 h, 6 h e antes de relevar a amostra à prensa.
Após as devidas correções na curva de força vs penetração, semelhante ao ensaio do
CBR padrão, o MiniCBR1 e o MiniCBR2 são calculados conforme equação (5.21). O valor final
do ensaio é o maior valor entre os dois encontrados.

log(MiniCBR1) = −0,254 + 0,896⁡log⁡(c1)


(5.21)
log(MiniCBR2) = −0,356 + 0,937⁡log⁡(c2)
Onde:
c1 = valor de carga para penetração de 2 mm (kgf);
c2 = valor de carga para penetração de 2,5 mm (kgf).

5.7 Resistência à abrasão Los Angeles


Durante a utilização e o manuseio dos agregados, esses estão sujeitos a desgastes e à
quebra, principalmente o lastro ferroviário, devendo ser ensaiados quanto à abrasão, garantindo
certa resistência à quebras e a degradação. Segundo (BERNUCCI, MOTTA, et al., 2008), os
agregados localizados próximos à superfície do pavimento devem apresentar maior resistência

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à abrasão do que aqueles situados em camadas inferiores, uma vez que as tensões na superfície
geralmente são maiores.
No Brasil a norma que regulamenta o ensaio é a (ABNT NBR NM 51, 2001), onde coloca-
se em um tambor giratório com 50 cm de comprimento e 70 cm de diâmetro (Figura 5.12) um
número pré-definido de esferas de aço, juntamente com o agregado a ser ensaiado, efetuando
um determinado número de rotações, entre 30 e 33 rpm.

Figura 5.12 – Tambor giratório para ensaio de abrasão Los Angeles, (CONTROLS, 2015)
Conforme a faixa de peso da amostra, é utilizado um número diferente de esferas, cada
uma com massa entre 390 e 445 g e 48 mm de diâmetro. A quantidade de agregado é de 5 ou
10 kg e o número de revoluções do tambor 500 ou 1000, dependendo da faixa granulométrica
predominante do agregado, conforme intervalos de peneiras apresentados na Tabela 5.9.
Tabela 5.9 – Quantidade de material e parâmetros para o ensaio de abrasão Los Angeles,
adaptado de (ABNT NBR NM 51, 2001)

Abertura de Faixas de peso da amostra conforme predominância da faixa


peneiras (mm) granulométrica (g)
Passa Retido A B C D E F G
2500 ±
75 63 --- --- --- --- --- ---
50
2500 ±
63 50 --- --- --- --- --- ---
50
5000 ± 5000 ±
50 37,5 --- --- --- --- ---
50 50
1250 ± 5000 ± 5000 ±
37,5 25 --- --- --- ---
25 25 25
1250 ± 5000 ±
25 19 --- --- --- --- ---
25 25
1250 ± 2500 ±
19 12,5 --- --- --- --- ---
10 10
1250 ± 2500 ±
12,5 9,5 --- --- --- --- ---
10 10
2500 ±
9,5 6,3 --- --- --- --- --- ---
10
2500 ±
6,3 4,75 --- --- --- --- --- ---
10
5000 ±
4,75 2,36 --- --- --- --- --- ---
10
5000 ± 5000 ± 5000 ± 5000 ± 10000 ± 10000 ± 10000 ±
Massa total
10 10 10 10 100 75 50
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N de rotações 500 500 500 500 1000 1000 1000
N de esferas 12 11 8 6 12 12 12

Antes da amostra ser colocada no tambor ela deve ser lavada e secada em estufa. Ao
término das rotações o material é peneirado na peneira com abertura de 1,7 mm e o retido
novamente lavado e secado em estufa. A perda por abrasão Los Angeles é calculada conforme
a equação (5.22).

mi − mf
LA = 100 (5.22)
mi
Onde:
mi = massa da amostra inicial [F];
mf = é a massa do material retido na peneira com abertura de malha de 1,7 mm [F].

5.8 Resistência ao choque Treton


A norma brasileira para o ensaio de perda ao choque é a (DNER-ME 399, 1999). Em
ferrovias o ensaio é realizado no lastro, sendo da grande importância, dado ao impacto constante
a que os agregados estão sujeitos. Existem diferenças dimensionais e de peso entre os
aparelhos da norma (DNER-ME 399, 1999) e da norma (ABNT NBR 5564, 2011), específica para
o lastro.
O aparelho Treton consiste de um cilindro de aço, oco, aberto em ambas as
extremidades, colocado sobre uma base de aço, sobre a qual se assenta um outro cilindro
maciço de aço que encaixa perfeitamente por dentro do cilindro oco (Figura 5.13), denominado
martelo. O martelo cai livremente pelo orifício do cilindro oco, 10 vezes sobre a amostra a ensaiar,
quebrando-a.

Figura 5.13 – Equipamento utilizado no ensaio Treton, (BERNUCCI, MOTTA, et al., 2008)
O material a ser ensaiado deve passar integralmente na peneira com abertura de 19 mm
e ficar retido na peneira de 16 mm, sendo lavado e secado em estufa. O material ensaiado é
então lavado e peneirado na peneira com abertura de 1,7 mm. A perda ao choque é então
calculada pela equação (5.23) da norma (ABNT NBR 5564, 2011). É importante salientar que a
perda ao choque calculada pela norma (DNER-ME 399, 1999) é um pouco menor, uma vez que
o denominador de equação é a massa inicial da amostra.

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mi − mf
T= 100 (5.23)
mf
Onde:
mi = massa da amostra inicial [F];
mf = é a massa do material retido na peneira com abertura de malha de 1,7 mm [F].

5.9 Resistência ao esmagamento


Em operações de compactação de material granular, como lastro e sublastro, a utilização
de rolos lisos é corrente. O rolo liso tende a esmagar os agregados, portanto o ensaio de
resistência ao esmagamento é necessário, porém raramente realizado em obras reais. Segundo
(BERNUCCI, MOTTA, et al., 2008), os rolos lisos ou o próprio tráfego impõem desgastes pelo
atrito interno entre as partículas e o ensaio de esmagamento simula essa situação.
A norma brasileira que padroniza o ensaio é a (ABNT NBR 9938, 2013), onde o agregado
seco em estufa, passante na peneira de 12,5 mm e retido na peneira de 9,5 mm é colocado em
um cilindro metálico com 154 mm de diâmetro e 140 mm de altura (Figura 5.14), compactado em
três camadas com 25 golpes cada. O corpo-de-prova é então solicitado a uma carga uniforme
de 400 kN à razão de 40 kN por minuto e o material ensaiado peneirado na peneira de 2,4 mm
de abertura. A resistência do agregado ao esmagamento é calculado pela equação (5.24). Em
pavimentação a resistência ao esmagamento deverá ser maior que 60 %.

mi − mf
R= 100 (5.24)
mi
Onde:
mi = massa inicial compactada da amostra [F];
mf = é a massa do material retido na peneira com abertura de malha de 2,4 mm [F].

Figura 5.14 – Conjunto de cilindro e êmbolo utilizado no ensaio de resistência ao


esmagamento, (BERNUCCI, MOTTA, et al., 2008)

5.10 Compressão unidimensional e adensamento


O ensaio de compressão unidimensional, também conhecido como compressão
confinada, compressão edométrica (ou oedométrica) ou adensamento é bastante utilizado para
a determinação de parâmetros de recalques, como o coeficiente de adensamento (cv), o índice
de compressão (Cc) e a deformação volumétrica (εv).
Podendo ser realizado em argilas ou areias, o ensaio consiste em aplicar uma
compressão vertical no solo em material passante na peneira de 4,8 mm, ocorrendo uma
deformação vertical, enquanto a deformação horizontal é considerada igual a zero, dado o
confinamento lateral. A deformação vertical é considerada então como a deformação volumétrica
e ocorre devido a expulsão da água e do ar contidos na amostra. No ensaio não há ruptura da
amostra, dado o confinamento, portanto não pode ser utilizado para estimar a resistência. No
Brasil a norma do ensaio é a (ABNT NBR 12007, 1990) e o equipamento padrão é apresentado
na Figura 5.15.

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Figura 5.15 – Equipamento para ensaio de adensamento uniaxial. Visão geral (esquerda);
Recipiente da amostra (centro); Desenho esquemático do recipiente da amostra (direita),
(SOLOTEST, 2015) e (ABNT NBR 12007, 1990)
As amostras utilizadas podem ser indeformadas ou deformadas, compactadas em
laboratório. Ao retirar a amostra indeformada do solo, são eliminadas as tensões de
confinamento oriundas das camadas adjacentes, permitindo à amostra uma ligeira expansão.
O resultado é altamente dependente da qualidade da amostra obtida, sua umidade,
armazenamento e transporte. Aplica-se uma tensão inicial de 5 kPa para solos resistentes e 2
kPa para solos moles, durante 5 min. Depois, aplica-se tensões em estágios de 10 KPa, 20 kPa,
40 kPa, 80 kPa, 160 kPa, 320 kPa, 640 kPa, 1280 kPa e 1920 kPa ou outra tensão que se fizer
necessário até a formação da reta de compressão. Em cada estágio o deslocamento do solo é
medido por um extensômetro ou relógio comparador nos intervalos de tempo de 7,5 s, 15 s, 30
s, 1 min, 2 min, 4 min, 8 min, 15 min, 30 min, 1 h, 2 h, 4 h, 8 h e 24, ou pelo tempo necessário, o
que atualmente é facilitado com a ajuda de um equipamento micro processado. O
descarregamento também é efetuado em um número mínimo de 3 estágios. Trata-se, portanto,
de um ensaio demorado e raramente utilizado com frequência em obras de pavimentação
ferroviária no Brasil, o que não deveria ocorrer, dada a importância de seus resultados.
A tensão de pré-adensamento caracteriza a máxima tensão a que a amostra já esteve
solicitada, se igual à tensão efetiva a que o solo estava sendo solicitado, esse é normalmente
adensado e qualquer tensão superior, como a execução de um aterro, provavelmente ocasionará
recalques. Se a tensão efetiva for menor que a tensão de pré-adensamento, o solo é
sobreadensado e os recalques até a tensão de pré-adensamento poderão estar consolidados. A
relação entre a tensão de pré-adensamento e a tensão efetiva é chamada de razão de
sobreadensamento ou do inglês overconsolidation ratio (OCR) e para construção de pavimentos
é preferível que seu valor seja maior que 1, logo, solo sobreadensado, pois se for menor que 1
provavelmente ocorrerão recalques.
Plota-se um gráfico semi-logarítmo, conforme Figura 5.16, onde no eixo das abcissas
tem-se as pressões em escala logarítmica e no eixo das ordenadas as variações volumétricas,
expressas pelo índice de vazios. O índice de compressão (Cc) é obtido na reta virgem, a uma
tensão superior à tensão de pre-adensamento. Nessa região o solo é considerado normalmente
adensado. Conforme explicações de (PINTO, 2006), o cálculo dos recalques dos solos
normalmente adensados e sobreadensados são diferentes.

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Figura 5.16 – Exemplo de curva do ensaio de adensamento unidimensional em argila saturada
e cálculo da tensão de pré-adensamento pelo método de Pacheco e Silva, (DýNAMIS, 2010).

5.11 Compressão simples em solos coesivos


Conforme a norma (DNER-IE 004, 1994), aplicável em solos coesivos e indeformados,
a resistência à compressão é aquela que rompe o material ou igual a tensão correspondente a
uma deformação vertical de 20 % em relação à altura inicial do corpo-de-prova com 5 cm de
diâmetro e 10 cm de altura (Figura 5.17).

Figura 5.17 – Ensaio de compressão simples em solos coesivos, (MARANGON, 2009)


A aplicação do carregamento vertical deve ser ajustada de forma que o ensaio demore
em torno de 10 min, sendo obtido a tensão e a deformação a cada 30 segundos, formando um
gráfico tensão vs deformação. A velocidade de aplicação de carga em solos mais duros é mais
demorada que em solos mais moles.
A coesão efetiva do solo (c’) ensaiado é a metade da resistência à compressão corrigida,
conforme a equação (5.25). Isso ocorre porque em solos puramente coesivos, no ensaio de
compressão simples, não existe tensão confinante e o ângulo de atrito interno é considerado
igual a zero. Portanto, a tensão cisalhante resistente máxima é igual a coesão, e como existe
apenas uma tensão principal, o círculo de Mohr parte da origem e a tensão normal solicitante
máxima é igual a duas vezes a tensão cisalhante máxima, Figura 5.18.

P
c=
A0 (5.25)
2( ∆H)
1− H
0

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Onde:
P = força aplicada para romper o corpo-de-prova ou causar uma deformação de 20 % [F];
A0 = área inicial do corpo-de-prova [L²];
∆H = deslocamento vertical do corpo-de-prova [L];
H0 = altura inicial do corpo-de-prova [L].

Figura 5.18 – Circulo de Mohr para o ensaio de compressão simples em solo coesivo,
(MARANGON, 2009)
Pode-se então reescrever a Tabela 5.6 na Tabela 5.10, estimando-se a coesão de solos
argilosos.
Tabela 5.10 – Valores de coesão de argilas conforme índice de consistência

Consistência Índice de consistência Coesão (kPa)


Muito mole < 12,5
Mole < 0,5
Mole 12,5 a 25
Média Média 0,5 a 0,75 25 a 50
Rija 50 a 100
Rija 0,75 a 1
Muito rija 100 a 200
Dura Dura >1 > 200

5.12 Ensaio de cisalhamento direto


No ensaio de cisalhamento direto é possível determinar o ângulo de atrito interno e a
coesão de um solo. É aplicada uma força vertical (F) e uma cisalhante (T), utilizando
equipamento o exemplificado na Figura 5.19. As forças F e T são divididas pela área da seção
transversal resultam nas tensões normal e cisalhante.

Figura 5.19 – Visão geral do equipamento para ensaio de cisalhamento direto (esquerda);
Esquema do ensaio (direita), (CONTROLS, 2015) e (HELWANY, 2007).

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Ensaios geotécnicos de laboratório
Conforme a (ABNT NBR ISO 12957-1, 2013), apesar de existir variações, a caixa de
cisalhamento padrão tem área quadrada de 30 cm de lado e profundidade de no mínimo 50 %
desse valor. As tensões normais aplicadas geralmente são de 50 kPa, 100 kPa e 150 kPa, mas
outros valores podem ser considerados. Devem ser realizados 4 corpos de prova para cada
tensão normal.
Ao final do ensaio é plotado um gráfico da tensão cisalhante vs deslocamento relativo,
determinando-se a tensão de cisalhamento máxima. Plota-se também um gráfico da tensão
normal vs tensão cisalhante máxima, conforme Figura 5.20. O ângulo de atrito é o ângulo de
inclinação da reta e a coesão o ponto de intercepção da reta com as ordenadas.

Figura 5.20 – Reta entre os melhores valores da tensão cisalhante vs normal no ensaio de
cisalhamento direto, (MARANGON, 2009).
Conforme (MARANGON, 2009) o ensaio não permite a determinação de parâmetros de
deformabilidade do solo, nem da pressão neutra. No caso das areias os resultados são
considerados em função da tensão efetiva. No caso de argilas o ensaio pode ser drenado e lento,
podendo também ser não drenados, mais rápidos, para impossibilitar a saída de água.
As curvas de tensão cisalhente vs deslocamento podem apresentar ruptura frágil para
argilas rijas, duras ou areias. Já as rupturas plásticas geralmente ocorrem em argilas moles,
médias ou em areias pouco compactas. O ensaio apresenta resultados confiáveis para o caso
de rupturas plásticas, pois no caso de ruptura frágil a curva estará defasada do real, portanto
deveria haver um processo de correção.
O deslocamento vertical no início do ensaio geralmente é para cima, dada a compressão
do corpo-de-prova, mas pode se inverter até que a tensão cisalhante se estabilize. Existem ainda
3 tipos de testes:
a) teste rápido – sem a drenagem de água e sem tempo para consolidação do solo. A força
de cisalhamento é aplicada rapidamente, logo após a aplicação da força normal. A
tensão efetiva é a mínima possível e o tempo de ensaio dura em torno de 5 min;
b) teste rápido com consolidação – há drenagem de água na aplicação da tensão normal e
não na aplicação da tensão de cisalhamento. O tempo de ensaio é em torno de 3 min;
c) teste lento com consolidação – há drenagem de água durante todo o ensaio, anulando
a pressão neutra. Dependendo da amostra o ensaio poderá durar entre 4 a 6 semanas.

5.13 Ensaios triaxiais, o módulo de resiliência e modelos para sua


estimativa
Os ensaios triaxiais em corpos de prova cilíndricos foram concebidos para tentar
representar a condição real a que os materiais estão sujeitos, conforme elucidado por (SELIG e
WATERS, 1994) na Figura 5.21. Na figura, uma porção de solo numa certa profundidade sofre
uma pressão vertical total igual àquela definida na equação (5.26) e uma efetiva, conforme a
equação (5.27). Já a pressão horizontal efetiva é calculada conforme a equação (5.28) e a total
conforme a equação (5.29).

σV0 = P0 + γm H1 + γs H2 (5.26)

σ′V0 = σV0 − us ,⁡⁡⁡sendo⁡us = γw H2 (5.27)

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σ′h0 = K 0 ⁡σ′V0 (5.28)

σh0 = σ′h0 + us (5.29)


Onde:
H1 = profundidade da camada de solo 1, não saturado [L];
H2 = profundidade da camada de solo 2, saturado [L];
σV0 = tensão vertical total [F][L]-2;
σ′V0 = tensão vertical efetiva [F][L]-2;
P0 = tensão atuante oriunda da superestrutura ferroviária [F][L]-2;
γm = massa específica aparente da primeira camada H 1 [F][L]-3;
γs = massa específica aparente da segunda camada H 2 saturada [F][L]-3;
us = tensão hidrostática, poro pressão ou pressão neutra, parcela da água e do ar [F][L] -2;
σh0 = tensão horizontal [F][L]-2;
σ′h0 = tensão horizontal efetiva [F][L]-2;
K 0 = coeficiente de empuxo no repouso.

Solo 1 com
peso específico
Linha
𝛄𝐦
d’água

Solo 2 saturado
com peso
específico 𝛄𝐬
Água com peso
específico 𝛄𝐰

Figura 5.21 – Pressões geostáticas em um pavimento ferroviário, (SELIG e WATERS, 1994).


Existem dois tipos básicos de ensaios triaxiais: os estáticos e os de carga repetida. Os
estáticos são utilizados para análises do solo em situações diversas da geotecnia onde os
carregamentos podem ser considerados imutáveis ou de longa duração, tais como aterros e
edificações. Já os ensaios de carga repetida são basicamente utilizados na pavimentação, onde
os carregamentos aplicados pelos veículos são repetitivos, devendo ser definido uma frequência
e o ciclo de carga.
No ensaio triaxial a tensão confinante é equivalente à tensão horizontal e apesar da
Figura 5.21 ilustrar apenas uma porção do solo no subleito, o mesmo também vale para
diferentes profundidades do subleito, sublastro e inclusive para o lastro. As amostras podem ser
obtidas indeformadas ou deformadas, caso deformadas devendo ser compactadas na mesma
massa específica aparente do campo ou em energia de compactação equivalente àquela
aplicada no segmento do pavimento.
Existem diversas variedades de dimensões de corpos de prova (CP) para o ensaio
triaxial de cargas repetidas. (SPADA, 2003) utilizou CPs cilíndricos com 100 mm de diâmetro e
200 mm de altura para a análise de diversos solos de subleito de pavimentos ferroviários. Com
base em um compilado de dimensões de equipamentos triaxiais para lastro realizado por
(KLINCEVICIUS, 2011), as dimensões dos CPs cilíndricos geralmente variam de 236 mm a 419
mm de diâmetro e de 450 mm a 864 mm de altura, dependendo da dimensão máxima
característica do agregado, sempre tentando manter uma relação altura:diâmetro de 2:1. No

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Ensaios geotécnicos de laboratório
Brasil menciona-se o trabalho de (MERHEB, MOTTA, et al., 2014), que apresentaram um
equipamento triaxial de grande escala com 400 mm de diâmetro e 800 mm de altura.
O ensaio triaxial padrão é realizado em uma câmara de pressão na qual um corpo de
prova cilíndrico é solicitado por uma tensão de confinamento em todas as direções (σ3 ), inclusive
na direção vertical superior, e uma tensão vertical axial (σ1 ou σa ). A diferença entre a tensão
vertical axial e a tensão confinante é chamada tensão desvio (σd = σ1 − σ3 ).
No triaxial estático a tensão confinante pode ser aplicada com o auxílio de um líquido
confinante, geralmente água, e para evitar o contato direto dessa com a amostra, o corpo de
prova é envolvido com uma membrana de borracha, que no caso de solos granulares também
exerce o papel de contenção dos fragmentos. Já no triaxial de cargas repetidas a tensão
confinante pode ser aplicada utilizando-se ar-comprimido, por intermédio de um sistema
pneumático.
O deslocamento vertical é medido com o auxílio de um transdutor de deslocamento e
dependendo dos equipamentos disponíveis o ensaio pode ser realizado por carga ou deformação
controlada. Qualquer que seja a análise, medem-se as tensões aplicadas e o deslocamento
vertical, que dividido pela altura inicial do corpo de prova resulta na deformação vertical (εa ).
Nos ensaios triaxiais estáticos para materiais saturados, em análises drenadas, colocam-
se pedras porosas na base e no topo do corpo de prova, permitindo-se também a expulsão da
água. Nesses casos, a variação do volume da amostra pode ser analisada pela expulsão da
água ou por medidores acoplados. Em ensaios não drenados o registro permanece fechado e a
pressão neutra pode ser medida por sensores conectados aos tubos de drenagem. Na falta de
uma câmara triaxial de carga repetida, tais ensaios podem ser realizados para camadas do
pavimento compactadas e parcialmente saturadas.
Conforme (PINTO, 2006), convencionalmente existem alguns tipos de ensaios triaxiais
estáticos, a saber:
a) ensaio adensado drenado, do inglês “Consolidated Drained” (CD) – há permanente
drenagem. Aplica-se a pressão confinante e aguarda-se o adensamento do corpo de
prova, ou seja, a dissipação da pressão neutra. Aumenta-se lentamente a tensão axial
para que a pressão da água se dissipe, o que pode demorar dias em argilas. A pressão
neutra é considerada nula e o resultado é em pressões efetivas;
b) ensaio adensado não drenado, do inglês “Consolidated Undrained” (CU) – aplica-se a
pressão confinante e aguarda-se o adensamento do corpo de prova, ou seja, a
dissipação da pressão neutra. Aumenta-se a tensão axial sem drenagem. Medindo a
pressão neutra é possível definir a pressão efetiva. O ensaio é considerado pré-
adensado e rápido, quando comparado com o CD. O ensaio também indica a resistência
não drenada em função da tensão de adensamento aplicada;
c) ensaio não adensado e não drenado, do inglês Unconsolidated Undrained (UU) – o corpo
de prova é submetido à tensão confinante e então à tensão axial, ambas sem drenagem.
Diferentemente dos outros ensaios, caso a amostra esteja saturada, não há variação de
volume, uma vez que não há expulsão de água. O resultado é interpretado em tensões
totais e é rápido, uma vez que não há drenagem e adensamento.
Em geotecnia, a partir de ensaios triaxiais (σ2 = σ3 ), várias análises podem ser
realizadas em função de 2 parâmetros:
a) da tensão efetiva média (p), equação (5.30), com formulação igual a da tensão
octaédrica (σoct);
b) e da tensão cisalhante (q), equação (5.31), com formulação oriunda da tensão cisalhante
octaédrica. Verifica-se que em ensaios triaxiais onde σ2 = σ3 a tensão cisalhante q
assume o valor da tensão desvio σd .
σ1 + σ2 + σ3 σ1 + 2σ3
p= →p= (5.30)
3 3

1
q= √(σ1 − σ2 )2 + (σ2 − σ3 )2 + (σ1 − σ3 )2 → q = σd = σ1 − σ3 (5.31)
√2
Onde:
σ1 = tensão principal maior [F][L]-2;

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σ2 = tensão principal média [F][L]-2;
σ3 = tensão principal média [F][L]-2.
O módulo de resiliência é obtido pela relação entre a tensão desviadora (σd ) e a
deformação axial elástica (εa ), conforme as equações (5.32) e (5.33). Tais parâmetros devem
ser obtidos em ensaios triaxiais de cargas repetidas (Figura 5.22), quase sempre com drenagem
livre e em material não saturado, nos quais são aplicadas diversas tensões confinantes (σ3 ) e
principais (σ1 ), pulsantes, afim de simular várias profundidades e ações externas no material pela
passagem dos veículos. Tal estado de tensões considera que as tensões cisalhantes são nulas.

σd h0 σd
MR = = (5.32)
1 ∆h εr

σd = σ1 − σ3 (5.33)
Onde:
σd = tensão desvio repetida [F][L]-2;
σ1 = tensão vertical [F][L]-2;
σ3 = tensão confinante, para simular a profundidade [F][L] -2;
h0 = altura inicial de referência do corpo de prova [L];
∆h = é o deslocamento vertical elástico máximo [L];
εr = εt − εp = deformação elástica ou resiliente (deformação total menos a permanente)
correspondente a um certo número de aplicações de σd .

𝝈𝟑 constante
Módulo de
Tensão desvio (𝝈𝒅 = 𝝈𝟏 − 𝝈𝟑 )

Carregament resiliência
o primário

Deformação
Deformaçã Deformação axial
Deformação
o inicial adicional
resiliente
plástica plástica

(a) (b)
Figura 5.22 – (a) Exemplo de equipamento de ensaio triaxial; (b) Representação da curva
tensão-deformação em um ensaio triaxial, (BERNUCCI, MOTTA, et al., 2008) e adaptado de
(SELIG e WATERS, 1994).
No Brasil o ensaio triaxial de cargas repetidas é normatizado para pavimentos rodoviários
pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (DNIT), em seu método de ensaio
nº 134. Até a data da revisão desse texto não se encontrou no país normativos específicos para
pavimentos ferroviários. No ensaio, antes da obtenção do MR é realizado o condicionamento da
amostra com 3 pares de tensões diferentes (σ3 = 68,9 kPa e σd = 68,9 kPa; σ3 = 68,9 kPa e σd
= 206,8 kPa; σ3 = 102,9 kPa e σd = 309 kPa), repetidas 500 vezes cada. Após o condicionamento,
são aplicados 18 pares de tensões, com 10 repetições de cada, conforme a Tabela 5.11. O
condicionamento da amostra é realizado para a estabilização do módulo de resiliência. No início
do ensaio a deformação plástica é reduzida a cada ciclo de carga e após um número de
carregamentos ela fica bem menor que a deformação elástica. Até o condicionamento da
amostra, tem-se o aumento da deformação axial, da deformação volumétrica em contração e do
módulo de resiliência. Após o condicionamento esses parâmetros são mais estáveis, propícios
ao cálculo do módulo de resiliência.
Para o subleito de ferrovias, exemplifica-se a tese de (SPADA, 2003), que também
utilizou os valores da Tabela 5.11, mas com os seguintes pares de tensões no condicionamento:
σ3 = 70 kPa e σd = 48 kPa; 70 kPa e 141 kPa; 105 kPa e 211 kPa.

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Tabela 5.11 – Pares de tensões utilizados para a determinação do módulo de resiliência,
adaptado de (DNIT)

σ3 (kPa) σd (kPa) σ1 /σ3 σd /σ3


20,7 2 1
20,7 41,4 3 2
62,1 4 3
34,5 2 1
34,5 68,9 3 2
102,9 4 3
50,4 2 1
50,4 102,9 3 2
155,2 4 3
68,9 2 1
68,9 137,9 3 2
206,8 4 3
102,9 2 1
102,9 206,8 3 2
309 4 3
137,9 2 1
137,9 274,7 3 2
412 4 3

Conforme (MOTTA, 1991) e (BERNUCCI, MOTTA, et al., 2008), as vantagens do módulo


de resiliência em relação ao CBR para dimensionamento de pavimentos são:
a) é uma propriedade básica dos materiais, que pode ser utilizada na análise mecanística
de sistemas de múltiplas camadas;
b) o MR é um método usado internacionalmente para caracterizar materiais para o projeto
de pavimentos e para a avaliação de desempenho;
c) existem técnicas para estimar o MR em campo com testes rápidos e não destrutivos,
fornecendo uma ferramenta poderosa para dimensionamento, reforço e análise de
pavimentos já existentes;
d) apresenta grande influência do estado de tensões, principalmente em pedras britadas,
areias e argilas, com diversos modelos definidos para diferentes tipos de materiais.
A maioria dos materiais de pavimentação têm comportamento não linear, existindo
diversos modelos para a previsão do MR, sendo os mais comuns:

MR = k1 ⁡σ3 k2 (5.34)

θ k2
MR = k1 ⁡θk2 ou MR = Pa ⁡k1 ⁡(P ) (5.35)
a

MR = k1 ⁡σd k2 (5.36)

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MR = k1 ⁡σ3 k2 ⁡σd k3 (5.37)
Onde:
σ3 = tensão confinante [F][L]-2;
Pa = pressão atmosférica [F][L]-2;
θ = primeiro invariante de tensões, também conhecido como I1 = σ1 + σ2 + σ3 [F][L]-2;
k1 , k 2 e k 3 = parâmetros do material obtidos no ensaio triaxial;
σd = tensão desvio [F][L]-2.
Segundo (KLINCEVICIUS, 2011), a equação (5.34) é utilizada para representar o módulo
de resiliência de materiais granulares, principalmente naqueles dependentes da tensão de
confinamento, como a pedra britada para lastro. Conforme (MEDINA e MOTTA, 2015), a mesma
equação também pode ser utilizada para materiais arenosos, com menos de 50 % passando na
peneira de 74 µm, de origem saprolítica (residual jovem) ou laterítica, além de sedimentar. Outros
materiais granulares como solos areno-argilosos ajustam-se melhor à equação (5.35), conhecida
como modelo k-θ. Alguns materiais de pavimentação o módulo de resiliência é considerado não
dependente do estado de tenções, como o caso do concreto betuminoso, mais dependente da
temperatura, ou o solo-cimento e o solo-cal, que podem apresentar MR constante. Materiais
argilosos com mais de 50 % passando na peneira de 74 µm apresentam modelo matemático
para a estimativa do MR conforme a equação (5.36). Para solos e britas em geral, pode-se utilizar
a equação (5.37).
Ensaios de cargas repetidas, sejam em materiais do subleito, sublastro ou lastro,
fornecem parâmetros de deformabilidade, necessários para o dimensionamento das camadas
do pavimento ferroviário. Os ensaios de compressão axial e de cisalhamento direto fornecem a
coesão e o ângulo de atrito interno para condições estáticas de ruptura, que na prática dos
pavimentos não se aplicam aos defeitos estruturais correntes de fadiga e afundamentos. O
mesmo ocorre para os ensaios triaxiais convencionais, que também não são adequados para a
obtenção de parâmetros de pavimentos, pois são realizados em materiais saturados ou aplicam
carregamentos estáticos, sendo que os pavimentos devem ser drenados e sofrem
carregamentos repetitivos.
Como é sabido, os materiais geotécnicos apresentam comportamentos diferentes entre
solicitações estáticas e dinâmicas, no entanto vários pesquisadores ainda utilizam em suas
análises ensaios estáticos. Conforme (MOTTA, 1991), os ensaios estáticos destinam-se a obter
parâmetros para a definição da condição limite de solicitação que garanta que não ocorra a
ruptura súbita do material por cisalhamento.
A frequência da carga aplicada para a obtenção do MR também depende da velocidade
do veículo e da profundidade do material em análise. Conforme (MEDINA e MOTTA, 2015), a
frequência de 1 Hz com duração do pulso de carga igual a 0,1 s é usualmente adotada para o
pavimento rodoviário (Figura 5.23).

Figura 5.23 – Modelo de registro dos deslocamentos verticais dos ensaios triaxiais de cargas
petetidas para pavimentos rodoviários, (MEDINA e MOTTA, 2015).
Conforme (SVENSON, 1980), a variação da frequência da carga aplicada tem grande
influência no módulo de resiliência (MR) até os primeiros 1.000 a 10.000 ciclos de carga,
dependendo do solo, onde o MR começa a se estabilizar. Alguns solos apresentam maior
resistência à deformação permanente com o aumento do intervalo entre aplicações do
carregamento (redução da frequência). Então, para reduzir o efeito da frequência são
recomendados ensaios com no mínimo 100.000 repetições de carga, ação mais relevante para

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Ensaios geotécnicos de laboratório
as deformações permanentes. Após um determinado número de ciclos de carga, maiores
frequências tendem a aumentar o MR e maiores durações do pulso (permanência da carga)
tendem a reduzir o MR. O MR também sofre redução com o aumento da umidade do solo, como
foi demonstrado por (SPADA, 2003).
Com o aumento do número de ciclos de carga, a deformação permanente relativa vai
ficando menor em relação à deformação elástica. No entanto, a deformação plástica total
acumulada ficará relativamente grande em relação a elástica. Quanto maior for a relação σd /σ3
maior será a deformação permanente esperada (Figura 5.24). Assim, variando-se os pares de
tensões apresentados na Tabela 5.11, simula-se na verdade diferentes condições de
profundidades e carregamentos aplicados, que tendem a resultar em diferentes deformações
elásticas e práticas e por consequência módulos de resiliência diferentes.
Deformação plástica acumulada (%)

Número de ciclos de carga (escala


logarítmica)
Figura 5.24 – Influência da razão entre tensões e a deformação permanente em agregado
granítico, adaptado de BARKSDALE, 19722 apud (WERKMEISTER, 2003).
Conforme demonstra (WERKMEISTER, 2003) na Figura 5.25, a deformação permanente
tende a se estabilizar para relações σ1 /σ3 iguais, mesmo com o aumento do número de ciclos
de carga, voltando a aumentar com o aumento da tensão σ1 , verificando para um mesmo tipo de
solo a possibilidade da existência de diferentes módulos de resiliência para: σ1 diferentes; σ3
diferentes; e número de ciclos de carga diferentes. A deformação permanente tende a aumentar
com o aumento do carregamento imposto e com a redução da tensão confinante.
Deformação permanente

𝛔𝐜 = constante

Número de ciclos de carga

Figura 5.25 – Exemplo de teste triaxial de carga repetida de múltiplos estágios com σ3 = σc
constante, adaptado de (WERKMEISTER, 2003).

2
BARKSDALE, R. D. (1972). “Laboratory Evaluation of Rutting in Base Course Materials”.
Proceeding of 3rd International Conference on the Structural Design of Asphalt Pavements, London, pp
161- 174.
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Ensaios geotécnicos de laboratório
Outra maneira de realizar ensaios triaxias, desenvolvido mais recentemente como
alternativa ao ensaio triaxial com corpos de prova cilíndricos é o ensaio triaxial em caixas. Este
modelo físico em verdadeira grandeza vem sendo extensamente utilizado na Universidade de
Wollongong na Austrália, como apresentado por (INDRARATNA, SALIM e RUJIKIATKAMJORN,
2011), (INDRARATNA, NGO e RUJIKIATKAMJORN, 2013) e (VIZCARRA, 2015). Trata-se de
uma caixa com dimensões de 80 cm de comprimento, 60 cm de largura e no mínimo 60 cm de
profundidade, conforme apresentado na Figura 5.26 e Figura 5.27. A principal vantagem é a
possibilidade de aplicação de tensões confinantes com magnitudes diferentes em cada direção
principal, importante para representar o que ocorre com o lastro no pavimento ferroviário. Outra
vantagem é a utilização de um modelo físico de verdadeira grandeza, permitindo incorporar
elementos da grade ferroviária, portanto melhor que o triaxial cilíndrico convencional.

Atuador dinâmico Trilho


Células de
pressão

Dormente

Settlement pegs Macaco


hidráulico

Lastro
Potenciômetr
Finos de carvão o
Geogrelha

Células de
pressão Sublastro
Rolamentos
Subleito

Parede móvel
Células de
pressão

Dormente

Settlement pegs

Figura 5.26 – Esquema do modelo físico da Universidade de Wollongong, adaptado de


(INDRARATNA, NGO e RUJIKIATKAMJORN, 2013).

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Ensaios geotécnicos de laboratório
Figura 5.27 – Fotos da caixa triaxial da Universidade da Universidade de Wollongong,
(INDRARATNA, NGO e RUJIKIATKAMJORN, 2013) e (VIZCARRA, 2015).

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Ensaios geotécnicos de laboratório
6 Classificação dos agregados e solos
A classificação completa dos agregados depende das propriedades geológicas,
composição mineralógica, química, granulometria etc. Conforme (BERNUCCI, MOTTA, et al.,
2008), os agregados para pavimentação podem ser classificados quanto a sua natureza
(naturais, artificiais ou reciclados), tamanho e distribuição granulométrica. Uma análise mais
detalhada pode ser obtida por ensaio petrográfico.
Os agregados naturais geralmente são obtidos por desmonte no caso de rochas,
escavação no caso de seixos ou dragagem no caso das areias, podendo ser empregados no
pavimento em sua forma natural. São provenientes de rochas naturais:
a) ígneas, resultado do resfriamento do magma, sem ou com cristalização no caso de
resfriamento lento. As rochas ígneas intrusivas, formadas pelo resfriamento mais lento
no interior da crosta, geralmente aparecem depois de removido o material sedimentar ou
metamórfico que a recobria. As rochas ígneas extrusivas, formadas pelo material
expelido pelos vulcões, tem seu resfriamento rápido na superfície da crosta ou próxima
a ela, como o basalto;
b) sedimentares, formadas pelas intemperismo e erosão de rochas pré-existentes, sendo
os sedimentos carregados pelos ventos ou água. Representa a maior parte da superfície
terrestre e contém a maior parte dos fósseis. As rochas sedimentares podem ser
classificadas como clásticas quando compostas por fragmentos de outras rochas,
biogênicas quando formadas por organismos vivos como corais, ou quimiogénicas
quando formadas por soluções minerais como o calcário;
c) metamórficas, resultante da alteração por aquecimento, pressão ou química de rochas
ígneas ou sedimentares. Exemplos de rochas metamórficas são o gnaisse, mármore,
xisto e o quartzito.
Já os agregados artificiais são resíduos de processos industriais, como escórias de alto-
forno. Os agregados reciclados são provenientes do reuso de outros materiais, como os resíduos
de construção e demolição.
Conforme (BERNUCCI, MOTTA, et al., 2008) uma forma de classificar as rochas é de
acordo com a quantidade de sílica presente, conforme Tabela 6.1. As classificações
apresentadas correspondem à carga elétrica superficial do agregado e quanto mais básicas
melhor sua adesividade ao ligante asfáltico.
Tabela 6.1 – Classificação de rochas quanto ao teor de sílica, Metso Minerals (2005) apud.
(BERNUCCI, MOTTA, et al., 2008).

Classificação % Silica Quartzo Exemplo


Ácida > 65 Presente Granito, riolito, quartzito
Neutra 52 a 65 Pouco ou inexistente Sienito, diorito
Básica 45 a 52 Raríssimo Basaltom gabro
Ultrabásica < 45 Inexistente, feldspato escasso Piroxenito

6.1 Classificação HRB


A classificação da Highway Research Board (HRB) foi desenvolvida pela American
Association of State Highway and Transportation Officials (AASHTO) e é descrita na (ASTM D
3282, 2004). É uma das classificações mais difundidas no meio rodoviário utilizando apenas a
granulometria, o limite de liquidez (LL), o índice de plasticidade (LP) e o índice de grupo (IG).
No ensaio classifica-se materiais conforme as seguintes definições:
a) pedregulhos – fragmentos de rocha retidos na peneira de 75 mm;
b) cascalho – partículas de rocha que passam na peneira de 75 mm e ficam retidas na
peneira de 2 mm;
c) areia grossa – partículas de rochas e solos que passam na peneira de 2 mm e ficam
retidas na peneira de 425 µm;

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Classificação dos agregados e solos
d) areia fina – partículas de rochas e solos que passam na peneira de 425 µm e ficam
retidas na peneira de 75 µm;
e) silto-argiloso – partículas que passam na peneira de 75 µm;
f) siltoso – partículas que passam na peneira de 75 µm e possuem IP menor ou igual a 10
%;
g) argiloso – partículas que passam na peneira de 75 µm e possuem IP maior ou igual a 11
%.
Para a execução do ensaio seca-se a amostra ao ar livre e efetua-se a pesagem de 2
amostras do mesmo solo. As porções de pedregulho e cascalho são então determinadas. A
amostra principal é aquela passante na peneira de 2 mm. Determina-se as porcentagens de
materiais passantes nas peneiras de 425 µm e 75 µm. Determina-se o IP e o LL do material
passante na peneira de 425 µm.
Seguindo na Tabela 6.2, classifica-se o material da esquerda para a direita, de cima para
baixo, em um processo de eliminação, sendo o grupo ou subgrupo do material aquele que
primeiro se enquadrar nessa ordem. Existe ainda um grupo não apresentado na tabela, chamado
A-8, onde se enquadram os solos orgânicos, sendo classificados com base em inspeção visual.
Se durante o processo de eliminação, ainda houver empate ou dúvidas entre subgrupos,
calcula-se o índice de grupo (IG) conforme equação (6.1). Se o IG for negativo, deve-se
considerá-lo como zero. Se o solo for não plástico (NP) ou o LL não puder ser determinado, o IG
também é zero. Se o IG estiver sendo calculado para os subgrupos A-2-6 e A-2-7, deve-se utilizar
apenas a parte da equação que possui o IP.

IG = (F − 35)[0,2 + 0,005(LL − 40)] + 0,01(F − 15)(IP − 10) (6.1)


Onde:
F = material passante na peneira de 75 µm (%);
LL = limite de liquidez (%);
IP = índice de plasticidade (%).
Conforme a (ASTM D 3282, 2004), materiais nos grupos A-1, A-3, A-2-4 e A-2-5 são
satisfatórios para utilização em subleitos quando devidamente drenados e compactados. Quanto
mais próximo do grupo A-7 pior é o material, que nesse caso deverá ser substituído ou
melhorado.
Segundo (VILLIBOR, NOGAMI, et al., 2007) a classificação HRB é inapropriada para
solos tropicais, pois alguns solos lateríticos que apresentam ótimo comportamento para subleito
são classificados em um grupo ruim, como o A-7-5. Outro exemplo são os solos lateríticos do
grupo A-4, que podem inclusive serem utilizados para bases rodoviárias. No mesmo grupo, solos
saprolíticos podem apresentar CBR da ordem de 3 % e solos lateríticos com CBR da ordem de
30 %.

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Classificação dos agregados e solos
Tabela 6.2 – Classificação HRB de solos e agregados, adaptado de (ASTM D 3282, 2004)

Solos silto-argilosos
Solos granulares
Classificação geral Passante na peneira de 75 µm
Passante na peneira de 75 µm < 35 %
> 35 %
A-1 A-2 A-7
Grupo e subgrupos de
A-3 A-4 A-5 A-6 A-7-5
classificação A-1-A A-1-B A-2-4 A-2-5 A-2-6 A-2-7
A-7-6
% passante na peneira
de:
50
2 mm --- --- --- --- --- --- --- --- --- ---
máx.
30 50 51
425 µm --- --- --- --- --- --- --- ---
máx. máx. min.
15 25 10 35 35 35 35 36 36 36 36
75 µm
máx. máx. máx. máx. máx. máx. máx. min. min. min. min.
Características da fração
passante na 425 µm
40 41 40 41 40 41 40 41
LL % --- --- ---
máx. min. máx. min. máx. min. máx. min.
10 10 11 11 10 10 11 11A
IP % 6 máx. 6 máx. N.P.
máx. máx. min. min. máx. máx. min. min.
Fragmentos de
Tipos usuais de Areia Solos Solos
pedra, cascalho e material siltoso ou argiloso e areias
materiais fina siltosos argilosos
areia
A = o IP do solo A-7-5 é menor ou igual a (LL-30). O IP do solo A-7-6 é maior que (LL-30), conforme Figura 6.1

Figura 6.1 – Abrangências de LL e IP para os materiais siltosos e argilosos conforme


classificação HRB, (ASTM D 3282, 2004)

6.2 Classificação USCS


A classificação Unified Soil Classification System (USCS), também conhecida como
Classificação Unificada é normalizada pela (ASTM D 2487, 2006), sendo embasada na
granulometria de um solo passante na peneira de 75 mm, no limite de liquidez e no limite de
plasticidade. Utiliza-se ainda os coeficientes de curvatura (Cc) e uniformidade (Cu).
Na classificação USCS, tem-se as seguintes definições:

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Classificação dos agregados e solos
a) cascalho – partículas de rocha passantes na peneira de 75 mm e retidas na peneira
de 4,75 mm, podendo ainda ser:
a. grosso – quando passante na peneira de 75 mm e retido na peneira de 19
mm;
b. fino - quando passante na peneira de 19 mm e retido na peneira de 4,75
mm.
b) areia – material contendo partículas de rocha que passam na peneira de 4,75 mm e
retido na peneira de 75 µm, podendo ser subdividida em:
a. grossa – quando passante na peneira de 4,75 mm e retida na peneira de 2
mm;
b. média – quando passante na peneira de 2 mm e retida na peneira de 0,425
mm;
c. fina – quando passante na peneira de 0,425 mm e retida na peneira de 75
µm.
c) argila – solo passante na peneira com 75 µm de abertura, possuindo plasticidade
dentro de um limite de umidade e com resistência considerável quando seca. Possui
IP maior ou igual a 4 % e no gráfico de IP vs LL fica situado em cima ou acima da
linha A (Figura 6.2);
d) argila orgânica – argila que possui material orgânico suficiente para influenciar suas
características como solo. Classificada como argila mas seu LL depois de seco é
menor que 75 % em relação a seu LL antes de ser seco;
e) silte – solo passante na peneira com abertura de 75 µm, sem plasticidade ou
minimamente plástico, que possui mínima ou nenhuma resistência quando seco.
Possui IP menor que 4 % e no gráfico de IP vs LL fica situado abaixo da linha A
(Figura 6.2);
f) silte orgânico – silte que possui material orgânico suficiente para influenciar suas
características como solo. Classificada como silte mas seu LL depois de seco é
menor que 75 % em relação a seu LL antes de ser seco;
g) turfa – material contendo vegetação em vários níveis de decomposição, geralmente
com odor, coloração preta, consistência esponjosa e textura fibrosa a amorfa.

Figura 6.2 – Gráfico de plasticidade, (ASTM D 2487, 2006)


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Classificação dos agregados e solos
As seguintes letras são utilizadas para caracterizar diferentes tipos de solos ou
propriedades:
a) G = cascalho (do inglês, gravel);
b) S = areia (do inglês, sand);
c) M = silte;
d) C = argila (do inglês, clay);
e) O = solo orgânico;
f) W = bem graduado (do inglês, well-graded), diversos tamanhos de partículas, da
menor até a maior;
g) P = mal graduado (do inglês, poorly-graded), tamanhos de partículas uniformes;
h) H = com alta plasticidade (do inglês, high);
i) L = com baixa plasticidade (do inglês, low);
j) PT = turfas (do inglês, peat).

Na Classificação Unificada todo solo passante na peneira de abertura de 75 µm é


considerado fino. Os solos são então divididos em grupos:
a) grossos - para aqueles cujo 50 % dos grãos ficam retidos na peneira com abertura
de 75 µm, compreendendo pedregulhos, cascalhos e areias;
b) finos - quando 50 % dos grãos passam na peneira com abertura de 75 µm,
compreendendo siltes e argilas;
c) turfas.

A Classificação Unificada é então organizada em 15 grupos, conforme a Tabela 6.3.


Grupos do tipo “cascalho siltoso” significa que o material possui maior predominância de
cascalho seguido de silte. No caso do grupo ML, como não se espera uma grande plasticidade
de um silte, a nomenclatura designa ML apenas como silte, pois seria incoerente o termo “silte
de baixa plasticidade”.
É possível reparar que em alguns casos é necessário a classificação dos finos, para
então continuar com a classificação. A Figura 6.3 apresenta o fluxograma da Tabela 6.3 para
solos finos e a Figura 6.4 o fluxograma para solos grossos.

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Classificação dos agregados e solos
Tabela 6.3 – Tabela de classificação Unificada de solos, adaptado de (ASTM D 2487,
2006)

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Classificação dos agregados e solos
Símbolo Nome do
Características de classificação
do grupo grupoB
Cascalho bem
Cascalhos limpos: Cu ≥ 4 e 1 ≤ Cc ≤ 3 GW
graduadoD
com menos que 5
% passando na 75 Cu < 4 e/ou Cascalho mal
Cascalhos: GP
µmE 1 ≤ Cc ≤ 3 graduadoD
mais que 50 % da
fração grossa retida na Cascalhos com Finos classificados Cascalho
GM
peneira de 4,75 mm finos: como ML ou MH siltosoD, F, G
com mais que 12
Finos classificados Cascalho
% passando na 75 GC
Solos grossos com como CL ou CH argilosoD, F, G
µmE
mais de 50 % retido
na peneira de 75 µm Areia bem
Areias limpas: Cu ≥ 6 e 1 ≤ Cc ≤ 3 SW
graduadaH
com menos que 5
% passando na 75 Cu < 6 e/ou Areia má
Areias: SP
µmI 1 ≤ Cc ≤ 3 graduadaH
mais que 50 % da
fração grossa passante Areias com finos: Finos classificados Areia siltosa
na peneira de 4,75 mm SM
como ML ou MH F, G, H
com mais que 12
% passando na 75 Finos classificados Areia
µmI SC
como CL ou CH argilosaF, G, H
IP > 7 e posição Argila magra
sobre a linha A ou CL
K, L, M
Inorgânico acimaA, J
IP < 4 e posição
ML SilteK, L, M
abaixo da linha AA, J
Siltes e argilas com LL
menor que 50 % Argila
orgânica
LL⁡seco K, L, M, N
Orgânico < 0,75 OL
LL⁡não⁡seco
Silte orgânico
Solos finos com mais K, L, M, O
de 50 % passante na
peneira de 75 µm IP sobre a linha A Argila gorda
CH
ou acimaA K, L, M

Inorgânico
IP abaixo da linha Silte elástico
MH
AA K, L, M
Siltes e argilas com LL
maior ou igual a 50 % Argila
orgânica
LL⁡seco K, L, M, P
Orgânico < 0,75 OH
LL⁡não⁡seco
Silte orgânico
K, L, M, Q

Solos muito orgânicos Matéria orgânica primária, cor escura e odor PT Turfas

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Classificação dos agregados e solos
A = Figura Figura 6.2 é a referência;
B = se a amostra contém pedras ou pedregulhos, adicionar “com pedras ou pedregulhos” ao nome do grupo;
D = se o solo contém mais que 15 % de areia, adicionar “com areia” ao nome do grupo;
E = Cascalhos com 5 a 12 % de finos requerem 2 simbologias:
• GW-GM = Cascalho bem graduado com silte;
• GW-GC = Cascalho bem graduado com argila;
• GP-GM = Cascalho mal graduado com silte;
• GP-GC = Cascalho mal graduado com argila.
F = Se os finos forem classificados como CL-ML, usar 2 simbologias GC-GM ou SC-SM, unindo os grupos;
G = Se se finos forem orgânicos, adicionar “com finos orgânicos” ao nome do grupo;
H = se o solo contém mais que 15 % de cascalho, adicionar “com cascalho” ao nome do grupo;
I = Areias com 5 a 12 % de finos requerem 2 simbologias:
• SW-SM = Areia bem graduada com silte;
• SW-SC = Areia bem graduada com argila;
• SP-SM = Areia mal graduada com silte;
• SP-SC = Areia mal graduada com argila.
J = Se os limites de Atterberg forem plotados na área hachurada da Figura 6.2, o solo é CL-ML silto argiloso;
K = Se o solo contém de 15 a 29 % na peneira 75 µm, adicionar “com areia” ou “com cascalho”, conforme predominância;
L = Se o solo contém mais de 30 % na peneira 75 µm, com predominância de areia adicionar “com areia”;
M = Se o solo contém mais de 30 % na peneira 75 µm, com predominância de cascalho adicionar “com cascalho”;
N = IP ≥ 4 e na Figura 6.2 aparece sobre a linha A ou acima;
O = IP < 4 ou na Figura 6.2 aparece abaixo da linha A;
P = Aparece na Figura 6.2 sobre ou acima da linha A;
Q = Aparece na Figura 6.2 abaixo da linha A.

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Classificação dos agregados e solos
Figura 6.3 – Fluxograma para Classificação Unificada nos solos finos e orgânicos, (ASTM D
2487, 2006)

Figura 6.4 - Fluxograma para Classificação Unificada nos solos grossos, (ASTM D 2487, 2006)

6.3 Classificação MCT


Solos tropicais, como os lateríticos e os saprolíticos, possuem características diferentes
daqueles de países tropicais e temperados e, portanto, necessitam de uma classificação
apropriada, conforme suas propriedades.
Uma excelente definição de tais solos é encontrada em (VILLIBOR, NOGAMI, et al.,
2007), onde

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Classificação dos agregados e solos
os solos lateríticos são solos superficiais, típicos das partes bem
drenadas das regiões tropicais úmidas, resultantes de uma
transformação da parte superior do subsolo pela atuação do
intemperismo, por processo denominado laterização.
Várias peculiaridades associam-se ao processo de laterização
sendo, as mais importantes do ponto de vista tecnológico, o
enriquecimento no solo de óxidos hidratados de ferro e/ou alumínio e
a permanência da caulinita como argilo-mineral predominante e quase
sempre exclusivo. Estes minerais conferem aos solos de
comportamento laterítico coloração típica: vermelho, amarelo, marrom
e alaranjado.
Os solos saprolíticos são aqueles que resultam da
decomposição e/ou desagregação in situ da rocha matriz pela ação das
intempéries (chuvas, insolação, geadas) e mantêm, de maneira nítida,
a estrutura da rocha que lhe deu origem. São genuinamente residuais,
isto é, derivam de uma rocha matriz, e as partículas que o constituem
permanecem no mesmo lugar em que se encontravam em estado
pétreo.
Os solos saprolíticos constituem, portanto, a parte subjacente
à camada de solo superficial laterítico (ou, eventualmente, de outro tipo
de solo) aparecendo, na superfície do terreno, somente por causa de
obras executadas pelo homem ou erosões. Estes solos são mais
heterogêneos e constituídos por uma mineralogia complexa contendo
minerais ainda em fase de decomposição. São designados também de
solos residuais jovens, em contraste com os solos superficiais
lateríticos, maduros.
Uma imagem de solo laterítico e saprolítico é apresentado na Figura 6.5.

Figura 6.5 – Corte rodoviário, com camada laterítica sobrejacente a uma camada saprolítica,
(VILLIBOR, NOGAMI, et al., 2007).
Em virtude dos problemas encontrados para enquadrar adequadamente solos tropicais
nas classificações HRB e USCS, desenvolvidas para solos de clima frio e temperado, os
professores Nogami e Villibor da Universidade de São Paulo, desenvolveram a metodologia
MCT, específica para solos compactados tropicais.
Segundo (VILLIBOR, NOGAMI, et al., 2007) as classificações com base apenas em
granulometria e limites físicos são incapazes e insuficientes de distinguir os solos tropicais, que
em outros países são designados residuais. A metodologia então baseia-se em ensaios que
procuram reproduzir as condições reais atuantes nas camadas dos solos tropicais, seja na
construção ou utilização.
A sigla MCT significa Miniatura Compactada Tropical. O ensaio foi concebido para solos
que passam em grande porcentagem na peneira com abertura de 2 mm e é proveniente de
ensaios em corpos-de-prova com dimensões de 5 cm de diâmetro. Para a classificação MCT é
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Classificação dos agregados e solos
necessário ensaiar o solo nas normas (DNER-ME 228, 1994), (DNER-ME 254, 1997), (DNER-
ME 258, 1994) e (DNER-ME 256, 1994), respectivamente Mini-Proctor, Mini-CBR, Mini-MCV e
perda de massa por imersão. O grupo de ensaios da metodologia é apresentado na Figura 6.6.

Figura 6.6 – Fluxograma do grupo de ensaios da metodologia MCT, (VILLIBOR, NOGAMI, et


al., 2007).
O ensaio Mini-MCV foi desenvolvido por Nogami e Villibor em 1980 e possui
procedimento semelhante à compactação em miniatura, mas com número de golpes específicos
para a obtenção do parâmetro c’. A massa do ensaio é fixada em 200 g de material, incluindo a
umidade. Consiste na aplicação de energias crescentes, até se conseguir um aumento sensível
da massa específica aparente seca para vários teores de umidade, obtendo-se uma família de
curvas de compactação. Essas curvas são denominadas de curvas de deformabilidade ou de
Mini-MCV e a partir delas pode-se determinar o valor dos Mini-MCV de cada uma das curvas.
Com a curva de deformabilidade correspondente ao Mini-MCV igual a 10, obtém-se o coeficiente
c’, utilizado na classificação geotécnica MCT.
Segundo (VILLIBOR, NOGAMI, et al., 2007) a metodologia MCT contempla também um
coeficiente empírico denominado RIS, que serve como indício de comportamento laterítico,
definido pela relação entre o Mini-CBR imerso e não imerso para corpos-de-prova moldados na
energia intermediária. A relação RIS indica o quanto o solo perde de suporte após um longo
período de exposição à água. Quanto maior for a RIS, melhor é o solo, havendo uma menor
variação de suporte em contato com a água. De acordo com (SOUZA, 2007) solos lateríticos
possuem um percentual RIS maior que 50 %.
Outro ensaio utilizado na classificação MCT é o de perda de massa por imersão em
água, que ajuda a distinguir os solos tropicais com comportamento laterítico daqueles com
comportamento não laterítico, e é empregado para o cálculo do índice e’, seguindo o
procedimento descrito na norma (DNER-ME 256, 1994). A perda de massa por imersão é
considerada em relação a massa seca, correspondente a uma parte do corpo-de-prova com 10
mm de comprimento imerso em posição horizontal durante 20 h (Figura 6.7). Ao final recolhe-se
a parte desprendida e determina-se sua massa seca. Caso a porcentagem seja maior que 100
%, isso significa que além da porção de 10 mm desprendida, uma quantidade de solo do interior
do corpo-de-prova também se desprendeu.

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Classificação dos agregados e solos
Figura 6.7 – Corpos-de-prova imersos em água em posição horizontal no ensaio de perda de
massa, (VILLIBOR, NOGAMI, et al., 2007).
A classificação MCT separa os solos em duas grandes classes:
a) lateríticos, designados letra L, subdividido em 3 grupos:
a. LA – areia laterítica quartzosa;
b. LA' – solos arenosos lateríticos;
c. LG' – solo argiloso laterítico
b) não lateríticos (saprolíticos), designados pela letra N, sendo subdivididos em 4
grupos:
a. NA – areias, siltes e misturas de areias e siltes com predominância de grão
de quartzo e/ou mica, não laterítico;
b. NA' – misturas de areias quartzosas com finos de comportamento não
laterítico (solo arenoso);
c. NS' – solo siltoso não laterítico;
d. NG' – solo argiloso não laterítico.

Utiliza-se então o gráfico da Figura 6.8, no qual a linha tracejada separa os solos
lateríticos dos não lateríticos. Como já mencionado, o coeficiente c’ é obtido no ensaio Mini-MCV
e indica a argilosidade do solo. Conforme (VILLIBOR, NOGAMI, et al., 2007)
um c’ elevado (acima de 1,5) caracteriza as argilas e solos argilosos,
enquanto valores baixos (abaixo de 1,0) caracterizam as areias e os
siltes não plásticos ou pouco coesivos. No intervalo entre 1,0 e 1,5
situam-se diversos tipos de solos, como areias siltosas, areias
argilosas, argilas arenosas e argilas siltosas.
O índice e’ é obtido utilizando a equação (6.2).

3 20 Pi
e′ = √ + (6.2)
d′ 100

Onde:
d′ = inclinação da parte retilínea do ramo seco da curva de compactação, correspondente a 12
golpes no ensaio Mini-MCV;
Pi = porcentagem da massa desagregada em relação à massa total no ensaio de perda de massa
por imersão em água.

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Classificação dos agregados e solos
Figura 6.8 – Classificação MCT, (VILLIBOR, NOGAMI, et al., 2007).
Para comparação e exemplo de diversos solos classificados na metodologia MCT, na
Tabela 6.4 são apresentados 7 tipos de solos lateríticos e 7 saprolíticos. Conforme (VILLIBOR,
NOGAMI, et al., 2007), solos saprolíticos (geralmente ruins para pavimentação) podem
apresentar valores de LL e IP dentro dos limites tradicionais de normas de construção de
estradas, mostrando a necessidade da aplicação da metodologia MCT em solos tropicais. A
metodologia ainda revela a inaplicabilidade dos limites estipulados nas classificações tradicionais
HRB e USCS para materiais de pavimentação, geralmente 25 % para LL e 6 % para IP. Segundo
o autor a classificação MCT possui uma abrangência mais ampla e mais realística quando
aplicada no Brasil.
Analisando a Tabela 6.4 é possível constatar também a grande sensibilidade de alguns
solos à água pela diferença de valores entre ensaios de CBR imersos e não imersos. Pares de
solo de mesmo grupo HRB possuem propriedades bem distintas. Alguns solos não possuem
grande expansão, mas grande contração, podendo causar recalques no topo do pavimento ou
trincas nas camadas de subleito ou sublastro. O ensaio de contração raramente é efetuando em
uma obra de construção ferroviária. Já a expansão é realizada juntamente com o ensaio de CBR
e geralmente a única alteração volumétrica limitada em especificações de projeto.

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Classificação dos agregados e solos
Tabela 6.4 – Principais características mecânicas e hídricas dos solos lateríticos e saprolíticos,
adaptado de (VILLIBOR, NOGAMI, et al., 2007).

Amostra Nº 01 02 03 04 05 06 07 08 09 10 11 12 13 14
Grupo MCT LA NA LA' NA' LA' NS' LG' NS' LG' NS' LG' NS' LG' NG'
0,5 0,3 0,8 1,0 1,3 0,8 1,8 1,8 1,7
c’ 0,6 1,1 1,7 1,3 1,7
0 5 0 0 6 0 4 2 6
Coeficientes
e índices d’ 66 10 66 13 80 8 65 6 67 11 25 7 30 1
para 1,3 2,6 1,0 1,2 0,6 1,8 0,9 1,8 0,7 1,6 0,9 0,9 1,6
classificação e’ 1,8
1 8 2 7 3 1 6 1 9 6 3 4 3
MCT
Pi
192 280 75 50 50 260 50 260 20 280 0 300 15 250
(%)
Massa esp. apar. máx. 2,0 1,7 2,0 1,9 1,5 1,5 1,5 1,5 1,4 1,4 1,4
2,0 1,7 1,8
(g/cm³) 2 7 5 2 5 8 2 9 1 9 2
10, 15, 12, 12, 23,
Umid. Ótima (%) 9,8 17 18 23 22 24 26 30 30
5 5 0 9 2
SI 20 17 43 26 26 15 20 10 15 17 22 12 13 11
Mini-CBR
CI 19 12 41 20 22 2 17 6 13 1 17 2 11 3
(%)
RIS 95 70 95 77 85 17 85 60 87 6 77 15 85 24
Expansão (%) 0,1 0,1 0,1 0,2 0,1 2,1 0,1 0,8 0,1 6,3 0,3 6,5 0,4 6,5
Contração (%) 0,2 0,2 0,2 0,3 0,2 1,1 1,0 0,8 1,8 0,5 1,5 0,5 5,1 2,0
Permeabilidade - Log
-0,7 -4,1 -6,4 -6,7 -6,4 -5,6 -5,2 -5,4 -6,7 -6,1 -7,5 -5,7 -6,5 -7,2
k (cm/s)
Infiltração
-2,7 -2,1 -2,5 -2,4 -2,1 -1,5 -2,0 -2,0 -2,0 -1,1 -2,2 -1,1 -2,5 -2,0
logs(cm/(min)1/2
2 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100 100
% que
passa. 0,42 98 55 73 96 99 92 95 100 99 99 99 100 99 100
Abert. (mm)
0,075 21 16 22 33 57 58 54 84 79 98 85 94 88 95
% de argila < 0,002
18 4 14 10 18 4 25 10 56 18 49 16 65 50
mm
LL (%) NP NP 26 25 30 32 38 38 45 46 54 56 83 88
IP (%) NP NP 11 11 9 10 14 14 17 19 24 26 46 50
IG 0 0 0 0 4 5 5 10 11 13 16 18 20 20
HRB A-2-4 A-2-6 A-4 A-6 A-7-6 A-7-5 A-7-5
Classificaçã
o USC
SM SM SC SC CL CL CL CL ML ML MH MH MH CH
S
CI = com imersão; SI = sem imersão; RIS = Relação entre o Mini-CBR imerso e não imerso

Segundo (SOUZA, 2007) solos saprolíticos podem variar de extremamente plásticos até
não plásticos (NP) e de altamente expansivos até muito contráteis, são bastante erodíveis e
comumente apresentam baixo valor de CBR e baixo módulo de resiliência.
As propriedades típicas dos solos enquadrados na classificação MCT são apresentadas
na Tabela 6.5.

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Classificação dos agregados e solos
Tabela 6.5 – Propriedades típicas dos solos dos grupos MCT, adaptado de (VILLIBOR,
NOGAMI, et al., 2007)

Grupos NA NA' NS' NG' LA LA' LG'


Areias Arenosos Siltosos Argilosos Areias Arenosos Argilosos
Granulometrias típicas (minerais) ar, ars, s (k, ag, aga,
ars, ara arpa ara, aga ag, aga
s m), saa ags
Muito
alto >
30
Mini- Alto Alto a
CBR 12 a 30 Alto a Médio
Alto Alto Alto muito Alto
sem médio a alto
Médio alto
imersão
4 a 12
Cap. de suporte1 (%) Baixo
<4
Alta >
Perda 70
de Média
Média
suporte a Baixa Alta Alta Baixa Baixa Baixa
40 a 70
por baixa
imersão Baixa
< 40
Alta a
Expansão1 Alta > 3 % Baixa Baixa Alta Baixa Baixa Baixa
média
Média 0,5 a 3 % Baixa
Baixa a Alta a Baixa a Média
Contração1 Baixa < 0,5 % a Média Baixa
média média média alta
média
Alta > -3
Permeabilidade Média
Média Média Baixa a
Média -3 a -5 Baixa a Baixa Baixa
Log k (cm/s) a alta a baixa média
baixa
Baixa < -6
LP (%) LL (%)
Alta > 30 > 70 Baixa
Média a Média NP a Baixa a Média a
Plasticidade a Alta
Média 7 a 30 30 a 70 NP a NP baixa média alta
média
Baixa <7 < 30
ar = areias; ars = areias siltosas; s = siltes; ara = areias argilosas; saa = siltes arenosos e argilosos; ag = argilas; aga = argilas
arenosas;
ags = argilas siltosas; arpa = areias com pouca argila;
k = caulinita; m = micas
1 = Corpos-de-prova compactados na umidade ótima, energia normal, com sobrecarga padrão quando pertinente.

Considerando a existência de solos transicionais, (VERTAMATTI, 1988) introduziu a


classificação MCT modificada, conhecida como MCT-M, que possui 11 grupos ao invés dos 7
originais. O ábaco de classificação é apresentado na Figura 6.9. O estudo foi realizado com base
na observação do comportamento de solos sedimentares da região amazônica. Os 11 grupos
são:
a) NA (areia não laterítica);
b) NG’ (solo argiloso não laterítico);
c) NS’ (solos siltoso não laterítico);
d) NS’G’ (solo silto-argiloso não laterítico);
e) TA’ (solo arenoso transicional);
f) TA’G’ (solo areno-argiloso transicional);
g) TG’ (solo argiloso transicional);
h) LA (areia laterítica);
i) LA’ (solo arenoso laterítico);
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Classificação dos agregados e solos
j) LA’G’ (solo areno-argiloso laterítico);
k) LG’ (solo argiloso laterítico).

Figura 6.9 – Classificação MCT-M, (VERTAMATTI, 1988)

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Classificação dos agregados e solos
7 Sondagens
O custo de um programa de investigação do solo é estimado em no máximo 2 % da obra
e a sua falta poderá ocasionar graves impactos na durabilidade, custo e cronograma do
empreendimento. O maior custo da sondagem geralmente é a mobilização da equipe e
equipamentos, logo, uma vez mobilizados, deve-se realizar o máximo de sondagens quanto
possível.
Em obras de construção do pavimento ferroviário a falta ou realização incorreta de
sondagens podem:
a) gerar inconsistências nos quantitativos de solos moles ou de outros materiais,
impactando na distribuição de massa e aumentando custos;
b) resultar em soluções incorretas de engenharia, como fundações de bueiros e obras
de arte especiais;
c) gerar dúvidas do tipo de solo, que culminarão em considerações incoerentes de
drenagem, estabilidade de taludes e camadas do pavimento, que resultarão na
redução da durabilidade e recalques na via permanente;
d) alterações não previstas em projeto, gerando atrasados e custos desnecessários.

Obras de construção de pavimentos, por sua característica horizontal e de grande


extensão, tradicionalmente têm sondagens realizadas a cada 200 m de distância, no eixo do
traçado. Caso seja encontrado alguma variação problemática, como rochas e bolsões de solos
moles, geralmente são realizadas sondagens a cada 100 m, transversalmente ou em
comprimento ou área necessária, conforme cada caso.
Mapas geológicos ou aéreos, quando disponíveis, constituem importantes ferramentas,
pois no caso de escassez de recursos financeiros ou curto prazo de projeto, deve-se priorizar
regiões críticas, geralmente identificáveis e confirmadas quando visitadas in loco.
Além dos tipos de sondagens que serão abordados a seguir, pode-se efetuar também
poços ou trincheiras, escavados manualmente ou com auxílio de equipamentos.

7.1 Sondagens à trato


A sondagem à trado é usualmente utilizada em investigações preliminares até uma
profundidade da ordem de 7 m e tem como principal vantagem a simplicidade, rapidez, economia
e a possibilidade do recolhimento de amostras deformadas.
As principais informações obtidas são o tipo de solo, espessura da camada e se possível
a posição do lençol freático. O procedimento de amostragem é padronizado pela (ABNT NBR
9603, 1986). Os principais tipos de trados são apresentados na Figura 7.1.

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Sondagens
Figura 7.1 – Tipos tradicionais de trados. Da esquerda para direita: tipo concha ou
cavadeira; espiral, helicoidal, holandês e caneco

Todos os trados podem ser estendidos com conexões tubulares e geralmente possuem
diâmetro mínimo de 63,5 mm. O trado tipo cavadeira é utilizado para abertura de fustes,
facilitando a retirada do material. O trado em espiral pode ser acoplado a um motor, facilitando a
perfuração. O trado helicoidal é utilizado para perfurações iniciais em solos compactos. O trado
holandês é ideal para solos argilosos ou fibrosos. O trado tipo caneco ou IPT é utilizado para
solos com pouca coesão, muito úmidos ou arenosos, facilitando a retirada da amostra.
Antes das sondagens serem iniciadas deve-se efetuar a limpeza de uma área de
aproximadamente 1 m de raio em relação a posição do furo central, com abertura de um sulco
ao redor do círculo formado com o intuito de evitar a entrada de água. A sondagem inicia-se com
o trado cavadeira partindo para os demais trados quando necessário.
O material retirado deve ser armazenado em local protegido da luz solar, da umidade e
da contaminação com outro tipo de solo. A cada metro perfurado recolhe-se uma amostra ou a
cada mudança do tipo de material. É permitido umedecer a solo perfurado para facilitar a
perfuração, devendo o uso de água ser registrado no boletim de sondagem. Qualquer aumento
da umidade pode ser indício do nível d’água.
O ensaio geralmente é paralisado quando:
a) se encontra cascalho, matacão ou rocha, impossibilitando o avanço do trado;
b) profundidade é suficiente ou tal qual impossibilite o avanço pelo comprimento das hastes
disponíveis;
c) quando ocorrem desmoronamentos sucessivos da parede do furo;
d) quando o avanço do trado é inferior a 5 cm em 10 minutos de operação contínua de
perfuração.
Ao final da operação de sondagem deve-se marcar o furo com uma estaca,
georreferenciando o local.

7.2 Sondagens à percussão (SPT)


Sondagens do tipo Standard Penetration Test (SPT) são as mais utilizadas em obras
correntes no Brasil, existindo também várias equações empíricas para obtenção de parâmetros
geotécnicos a partir dos resultados dessa sondagem.
A visão geral do ensaio é apresentada na Figura 7.2. A norma do ensaio é a (ABNT NBR
6484, 2001), onde pode-se encontrar os desenhos e detalhes de projeto de cada um dos
componentes. Com sondagens do tipo SPT é possível determinar:
a) o tipo e solo e suas profundidades, uma vez que são recolhidas amostras;
b) a posição no nível d’água (NA);
c) a resistência à penetração (N) a cada metro, a partir da cravação de 30 cm do amostrador
padrão, após a cravação inicial de 15 cm, pela queda de um martelo padronizado.

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Sondagens
Figura 7.2 – Sondagem SPT: visão real do ensaio (esquerda); Esquema do ensaio (direita)
disponível em <http://www.sjaperfuracoes.com.br/>. Acesso em 10 Jun. 2015

Um passo-a-passo no ensaio, com as características relevantes de cada elemento para


um melhor entendimento é apresentado a seguir:
a) a sondagem inicia com a perfuração do solo com o trado concha, com diâmetro de
10 cm, até 1 m de profundidade;
b) até essa profundidade e nas seguintes, a medida que o furo vai sendo executado,
são inseridos tubos de revestimento para a contenção, com diâmetro nominal interno
mínimo de 63,5 mm, emendados por luvas de 1 a 2 m. A parte inferior do tudo de
revestimento deve ficar suspenso do fundo do furo em um comprimento de 50 cm,
exceto em casos em que o solo tenda a entrar no tubo onde este poderá ficar rente
ao fundo do furo;
c) sobre o ponto de sondagem é montado um tripé metálico com uma roldana no topo
que servirá de apoio, utilizando uma corda, para o martelo patronizado, que cairá
livremente de uma altura de 75 cm sobre a cabeça de bater;
d) o martelo padronizado de ferro é utilizado para cravar os tubos de revestimento e a
composição do amostrador, sendo prismático ou cilíndrico. Na sua parte inferior é
fixado um coxim de madeira dura que serve para reduzir danos oriundos do choque
do martelo com a cabeça de bater. O conjunto de martelo mais coxim possui
aproximadamente 638 N (65 kg);
e) o martelo possui em sua parte inferior uma haste-guia com 1,2 m de comprimento,
que deverá estar centralizada com a cabeça de bater e o centro do furo de
sondagem. Na haste-guia existe uma marcação de 75 cm a partir da base do coxim,
sendo esta a garantia da altura de queda do martelo;
f) a cabeça de bater de aço que recebe o impacto direto do martelo possui 83 mm de
diâmetro e 90 mm de altura, com massa entre 3,5 a 4,5 kg. Esta também possui um
furo com diâmetro suficiente para introduzir a haste-guia;
g) a partir do primeiro metro e a cada metro de profundidade é realizada a cravação do
amostrador padrão com a queda do martelo de 638 N sobre a cabeça de bater a
uma altura de 75 cm. O amostrador padrão possui diâmetro nominal interno de 35

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Sondagens
mm, 51 mm externo, um comprimento de 61 cm e é bipartido para facilitar a remoção
da amostra;
h) até o próximo metro continua-se a perfuração com um trado helicoidal com diâmetro
de 56 mm, que deve trabalhar livremente dentro do revestimento de contenção. São
permitidos outros tipos de trados;
i) hastes de aço com comprimento de 1 a 2 m, possuindo 25 mm de diâmetro nominal
interno e peso teórico de 32 N/m são utilizadas para estender a composição de
perfuração e cravação;
j) quando o avanço da perfuração com trado for inferior a 5 cm após 10 min de
operação, passa-se para o método de perfuração por circulação de água (lavagem).
Esse método utiliza o trepano de lavagem com diâmetro nominal de 25 mm,
terminado em bisel (parte chanfrada) com duas saídas para água a uma distância
entre 20 e 30 cm da ponta. A parte chanfrada do trépano é utilizada como ferramenta
de escavação e o material escavado é removido pela água em circulação. O
processo é realizado até a próximo metro de percussão;
k) conta-se o número de golpes necessários para a cravação de 45 cm do amostrador
padrão, divididos em 3 segmentos de 15 cm. Em solos muito moles, poderá haver a
penetração do amostrador com o simples apoio do martelo sobre a cabeça de bater
conectada às hastes de prolongamento, nesse caso não é contabilizado nenhum
golpe para a penetração correspondente (exemplo: 0/50 cm). Caso a penetração
seja inferior a 45 cm, continua-se a cravação até que sejam completados os 45 cm;
l) como 45 cm exatos podem não ser alcançados, registra-se o número de golpes para
uma penetração superior a 15 cm (exemplo: 1/17 cm). Registra-se também o número
de golpes que ultrapassam os primeiros e últimos 30 cm (exemplo: 3/17 cm – 4/14
cm – 5/15 cm, 7 golpes nos primeiros 30 cm e 9 golpes nos últimos 30 cm). O índice
de resistência à penetração (N) é a soma do número de golpes para a segunda e
terceira etapas de penetração de 15 cm. Quando a cravação ultrapassar 45 cm com
um único golpe, o resultado é expresso em função desse único golpe (exemplo: 1/50
cm);
m) a cravação do amostrador padrão é interrompida antes dos 45 cm, mas com
continuação por lavagem quando:
a. em qualquer dos três segmentos de 15 cm, o número de golpes for maior
que 30. Nesse caso marca-se o número de golpes para a cravação
(exemplo: 12/16 cm – 31/11 cm);
b. 50 golpes forem aplicados no total;
c. não se observar avanço do amostrador em 5 golpes sucessivos.
n) a sondagem é paralisada quando:
a. em 3 m sucessivos efetua-se 30 golpes para penetração dos 15 cm iniciais;
b. em 4 m sucessivos efetua-se 50 golpes para penetração dos 30 cm iniciais;
c. em 5 m sucessivos efetua-se 50 golpes para a penetração dos 45 cm;

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Sondagens
d. não se observar avanço do amostrador em 5 golpes sucessivos após
lavagem;
e. quando no processo de lavagem o avanço for menor que 5 cm em 10
minutos de operação ou o processo de lavagem se repetir por 4 vezes
consecutivas;

A norma (ABNT NBR 6484, 2001) ainda fornece a Tabela 7.1, com base no NSPT
encontrado.
Tabela 7.1 – Estado de compacidade e de consistência em relação ao N SPT, adaptado de
(ABNT NBR 6484, 2001)

Índice de resistência à penetração


Solo Designação
(N)
≤4 Fofo(a)
5a8 Pouco compacto(a)
Areias e siltes Medianamente
9 a 18
arenosos compacto(a)
19 a 40 Compacto(a)
> 40 Muito compacto(a)
≤2 Muito mole
3a5 Mole
Argilas e siltes
6 a 10 Média(o)
argilosos
11 a 19 Rija(o)
> 19 Dura(o)
Em construção de pavimentos as sondagens SPT possuem critérios de parada diferente
dos apresentados, geralmente por profundidades previamente estabelecidas. Tal condição deve
ser utilizada com cautela, pois comumente se encontram camadas moles e compressíveis abaixo
de camadas mais resistentes, ocasionando recalques demorados e difíceis de serem
estabilizados.

7.3 Sondagens mistas


Sondagens mistas compreendem uma junção da sondagem SPT com a rotativa, utilizada
em regiões em rocha. Quando se encontra o impenetrável no SPT, parte-se para a sondagem
rotativa, utilizando um motor elétrico ou à combustão.
Nas amostras recolhidas exemplificadas na Figura 7.3 é possível observar a variação de
solo, passando por pedregulhos, rocha fraturada, até a chegar na rocha sã.

Figura 7.3 – Execução de sondagem mista e amostras recolhidas

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Sondagens
8 Solos moles e inservíveis
Segundo TERZAGHI (1943) apud. (ALMEIDA e MARQUES, 2010), solo mole é aquele
que possui NSPT < 2 e resistência não drenada menor que 25 kPa. O grande problema desse tipo
de terreno é sua baixa capacidade de suporte e grande capacidade de recalque, que deve ser
praticamente nulo para ferrovias, pois resultam em perigo para o trânsito dos trens, gerando
elevados custos de manutenção e interrupção do tráfego.
A solução comumente adotada para execução de aterros sobre solos moles com
depósitos de até 4 m de espessura é a substituição parcial ou total do solo mole (Figura 8.1) por
um material de maior capacidade de suporte e baixa expansão, geralmente seguido da execução
de drenagem, que deve ser compactado conforme especificações de projeto. Neste caso, os
equipamentos utilizados devem ser preferencialmente leves e possuir esteira, pois caso entrem
na região de solo mole podem afundar, danificando-os e atrasando o cronograma da obra.

Figura 8.1 – Remoção de solo mole com escavadeiras hidráulicas de esteira


Quando o avanço do maquinário de obra sobre o solo mole é dificultado dado a baixa
capacidade de suporte, faz-se necessário a execução de aterros de conquista. Conforme
(ALMEIDA e MARQUES, 2010), “em alguns casos, a resistência da camada é tão baixa que se
torna necessário o emprego de geotêxtil como reforço construtivo, possuindo resistência à tração
entre 30 kN/m a 80 kN/m” (Figura 8.2).

Figura 8.2 – Esquema de execução de um aterro de conquista e posterior cravação de drenos,


(ALMEIDA e MARQUES, 2010).
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Solos moles e inservíveis
Em regiões de grande extensão em solo mole, onde toda sua remoção representa um
custo significativo para o empreendimento, é comum a construção de drenos verticais. Tais
drenos podem ser de areia envoltos a uma manta geotêxtil ou geodrenos, conforme Figura 8.3.

Figura 8.3 – Esquema de um aterro sobre geodrenos. (A) Seção transversal esquemática com
bermas de equilíbrio; (B) detalhe do mandril e da sapata de ancoragem dos geodrenos; (C)
detalhe do mandril de cravação e do tubo de ancoragem dos geodrenos, (ALMEIDA e
MARQUES, 2010).
O dreno é posicionado no interior de uma haste metálica vazada vertical, mandril.
Conforme (ALMEIDA e MARQUES, 2010), o geodreno é ligado a uma âncora que tem a função
de evitar a penetração de solo no interior do mandril e garantir a fixação do geodreno no terreno,
impedindo que este se solte ou suba durante a retirada do mandril. As cravações dos drenos
devem ser hidráulicas e não por impacto, evitando o amolgamento do solo, o que prejudicaria a
funcionalidade da solução. Em casos gerais os drenos devem estar distantes em 1,5 m.
Após a construção do aterro sobre solo mole, caso este não seja estabilizado
corretamente durante a fase de obra, os recalques ocorrerão por muitos anos, causando
prejuízos e frequentes problemas para a manutenção. Em ferrovias, não se deve aceitar
recalques remanescentes.
A acentuação da velocidade de recalque do corpo de aterro sobre o solo mole é função
da altura do aterro. Para exemplificar (Figura 8.4), (ALMEIDA e MARQUES, 2010) apresentam
curvas recalque versus tempo para um terreno possuindo 3 m de espessura em argila e aterro
de projeto até a cota + 3 m, com a cota atual do terreno igual a + 0,5 m (necessário + 2,5 m), o
que resultou em recalque por adensamento primário igual a 0,95 m. Com uma espessura de
aterro de 5 m sobre a camada já existente de + 0,5 m, ou seja, sobrecarga temporária de 2,5 m,
o recalque primário foi atingido em 22 meses, sendo necessário então a retirada de apenas 1,55
m de solo para obter a cota de projeto (5 m – 2,5 m – 0,95 m = 1,55 m).

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Solos moles e inservíveis
Figura 8.4 – Variação de recalques com o tempo para diferentes espessuras de aterro,
(ALMEIDA e MARQUES, 2010)
Logo, com base no exemplo anterior, sabe-se que dificilmente o construtor esperará 22
meses em apenas um segmento de solo mole para concluir as etapas de terraplanagem. Neste
caso, deve-se acelerar ainda mais os recalques com o uso de geodrenos ou aplicando solução
técnica apropriada, pois, caso contrário, ocorrerão problemas futuros oriundos da má execução
do aterro. Quanto maior a espessura de argila, maior o tempo de estabilização dos recalques
(Figura 8.5).

Figura 8.5 – Tempo de estabilização de 95 % dos recalques versus espessura de argila,


(ALMEIDA e MARQUES, 2010)
Para exemplificar o uso combinado de sobrecarga e drenos verticais, (ALMEIDA e
MARQUES, 2010) apresentam uma análise com drenos espaçados de 1,5 m, onde uma camada
de argila de 5 m de espessura, com topo na cota + 0,5 m, necessita de um aterro para atingir a
cota + 3 m, ainda que cálculos preliminares indicaram um recalque primário final de 1,3 m (Figura
8.6). Logo, deve-se aplicar uma altura de aterro com sobrecarga permanente igual a diferença
entre as cotas original e final, incluindo o valor do recalque, ou seja 3,8 m = 2,5 m + 1,3 m. Para
acelerar o recalque, aplicando uma sobrecarga de 5 m, será removida ao final do recalque a
diferença entre as espessuras de aterro, ou seja 1,2 m = 5 m – 3,8 m.

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Solos moles e inservíveis
Figura 8.6 – Uso de sobrecarga com e sem drenos verticais, (ALMEIDA e MARQUES, 2010).
De acordo com (PINTO, 2006), quando se manuseia certos tipos de argilas a sua
resistência diminui, ainda que o índice de vazios seja mantido constante. Sua consistência então
amolgada pode ser menor que no estado natural e a esse fenômeno se dá o nome de
sensibilidade da argila (S), que é a relação entre a resistência no estado indeformado e a
resistência no estado deformado. A argila pode ser:
a) insensitiva, para S = 1;
b) de baixa sensibilidade, para S variando de 1 a 2;
c) de média sensibilidade, para S variando de 2 a 4;
d) sensitiva, para S variando de 4 a 8;
e) ultrassensitiva (quick clay), para S > 8.
A sensibilidade da argila é um parâmetro de extrema importância pois dependendo da
intervenção e do ensaio realizado para sua caracterização poderá ocorrer a ruptura do aterro,
mesmo para uma solicitação anteriormente suportada.

8.1 Resistência não drenada ao cisalhamento (su)


A resistência não drenada ao cisalhamento é determinada em solos argilosos e pode ser
determinada utilizando diversos aparelhos e/ou ensaios. O mais comum para solos moles a rijos
saturados é o ensaio de palheta in situ (vane test), descrito na norma (ABNT NBR 10905, 1989).
Com um equipamento semelhante ao apresentado na Figura 8.7, o ensaio consiste em inserir
uma palheta no solo e submetê-lo a um torque capaz de cisalhá-lo por rotação.

Figura 8.7 – Equipamento para ensaio de palheta (vane test)


disponível em < http://www.humboldtmfg.com/vane_inspection_set.html>. Acesso em 09 Jun.
2015

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Solos moles e inservíveis
O ensaio pode ser realizado com ou sem perfuração prévia. A palheta possui 4 pás com
65 mm de diâmetro e 130 mm de altura ou 50 mm de diâmetro e 100 mm de altura quando o
ensaio é executado em argila rija com resistência não drenada superior a 50 kPa, cravada a no
mínimo 50 cm de profundidade no solo. Um tubo com diâmetro de 20 mm é cravado, evitando o
contato direto da haste da palheta com o solo, o que geraria atrito e alteraria o resultado. A cada
2º de rotação efetua-se uma leitura e ao final traça-se um gráfico torque vs rotação.
No ensaio é medido a resistência máxima ao cisalhamento e a resistência amolgada, em
um tempo entre a cravação da palheta e o início da rotação não superior a 5 min. A resistência
não drenada é calculada conforme equação (8.1).

6 T
su = (8.1)
7 π⁡D³
Onde:
su = resistência não drenada ao cisalhamento (kPa);
T = torque máxima medido (kNm);
D = diâmetro da palheta (m).
A sensibilidade da argila (S) é determinada dividindo a resistência não drenada (su) pela
resistência almolgada. Conforme a (ABNT NBR 10905, 1989), os valores são válidos para solos
argilosos com condições não drenadas durante o ensaio, permeabilidade inferior a 10 -7 m/s e
coeficiente de adensamento menor que 100 m²/ano, não sendo válidos para areias, turfas e
pedregulhos.
Outros ensaios para a determinação da resistência não drenada podem ser realizados,
como o CPT (Cone Penetration Test) ou o CPTU (Piezocone), que é um CPT com a capacidade
de medir também a poro pressão. Esses ensaios não serão abordados, recomendando a leitura
do livro de (SCHNAID e ODEBRECHT, 2012) para mais detalhes.

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Solos moles e inservíveis
9 Referências bibliográficas

ABNT NBR 10905. Solo - Ensaios de palheta in situ - Método de ensaio. Associação
Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p. 9. 1989.
ABNT NBR 11709. Dormente de concreto - Projeto, materiais e componentes.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p. 137. 2015.
ABNT NBR 11709. Dormente de concreto - Projeto, materiais e componentes.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p. 137. 2015.
ABNT NBR 12007. Solo - Ensaio de adesamento unidimensional - Método de ensaio.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p. 15. 1990.
ABNT NBR 13292. Solo - Determinação do coeficiente de permeabilidade de solos
granulares à carga constante - Metodo de ensaio. Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Rio de Janeiro, p. 8. 1995.
ABNT NBR 14545. Solo - Determinação do coeficiente de permeabilidade de solos
argilosos a carga variável. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p. 12.
2000.
ABNT NBR 16097. Solo — Determinação do teor de umidade — Métodos expeditos
de ensaio. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p. 5. 2012.
ABNT NBR 5564. Via férrea - Lastro ferroviário - Requisitos e método de ensaio.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p. 26. 2011.
ABNT NBR 6459. Solo - Determinação de limite de liquidez. Associação Brasileira de
Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p. 6. 1984.
ABNT NBR 6484. Solo - Sondagens de simples reconhecimentos com SPT - Método
de ensaio. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p. 17. 2001.
ABNT NBR 7180. Solo - Determinação do limite de plasticidade. Associação
Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p. 3. 1988.
ABNT NBR 7181. Solo - Análise granulométrica. Associação Brasileira de Normas
Técnicas. Rio de Janeiro, p. 13. 1984.
ABNT NBR 7182. Solo - compactação. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio
de Janeiro, p. 10. 1986.
ABNT NBR 7185. Solo - Determinação da massa específica aparente "in situ", com
emprego do frasco de areia. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p. 7.
1986.
ABNT NBR 7809. Agregado graúdo - Determinação do índice de forma pelo método
do paquímetro - Método de ensaio. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro,
p. 3. 2006.
ABNT NBR 9603. Sondagem a trado - Procedimento. Associação Brasileira de Normas
Técnicas. Rio de Janeiro, p. 6. 1986.
ABNT NBR 9895. Solo - Índice de Suporte Califórnia. Associação Brasileira de Normas
Técnicas. Rio de Janeiro, p. 14. 1987.
ABNT NBR 9938. Agregados - Determinação da resistência ao esmagamento de
agregados graúdos - Método de ensaio. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de
Janeiro, p. 3. 2013.
ABNT NBR ISO 12957-1. Geossintéticos — Determinação das características de
atrito. Parte 1: Ensaio de cisalhamento direto. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio
de Janeiro, p. 8. 2013.
ABNT NBR NM 248. Agregados - Determinação da composição granulométrica.
Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p. 14. 2003.

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vazios. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p. 8. 2006.
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Brasileira de Normas Técnicas. Rio de Janeiro, p. 6. 2001.
ABNT NBR NM 52. Agregado miúdo - Determinação da massa específica e massa
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ABNT NBR NM 53. Agregado graúdo - Determinação da massa específica, massa
específica aparente e absorção de água. Associação Brasileira de Normas Técnicas. Rio de
Janeiro, p. 8. 2009.
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Referências bibliográficas

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