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Julho de 2023
1 Introdução
Com este documento pretende-se dar indicações básicas para a verificação da aptidão dos
solos para suportar pavimentos e fundações de edifícios e, fornecer elementos para a 3
encomenda, a empresa especializada, de um Relatório Geológico-Geotécnico. Será feita uma
pequena resenha sobre os diversos tipos de solos e as suas características principais. Serão
indicados os principais ensaios a realizar para a verificação dessas características. Alguns
desses ensaios serão também os mesmos utilizados para o controle de aterros e já foram
indicados no documento “Metodologia para o controlo da compactação”, de que se aconselha
a leitura.
2 Solos
2.1 Generalidades
O solo é definido como um corpo natural composto por substâncias inorgânicas e, por
vezes, orgânicas, presente na superfície terrestre e oriundo da desagregação das rochas.
Esta desagregação ocorre por meio de ações ligadas à temperatura e a processos
erosivos provenientes da ação dos ventos, chuva e seres vivos, tais como bactérias e
fungos.
Há diversas formas de classificação dos solos, sendo que a que se refere ao seu uso para
fins de engenharia civil se baseia, antes de mais, na sua análise granulométrica, isto é,
baseada nas dimensões das partículas que constituem o solo.
Os solos reais, são normalmente constituídos por partículas cujas dimensões podem estar
inseridas em mais do que uma das classificações base anteriores. Há assim necessidade
de classificar esses solos.
Uma das formas mais simples será a partir das percentagens de argila, silte e areia que o
solo contém e, de seguida, utilizar um gráfico tripartido, como o representado na figura
seguinte.
Figura 2 – Gráfico tripartido de classificação de solos, de acordo com a especificação LNEC E 219 (1968)
Solo 1: Argila 3%; Silte: 29 – 3 = 27%; Areia: 71%, Classificação: Areia siltosa
Por exemplo, um solo classificado como SM (areia siltosa), deverá ter a quantidade de
elementos classificáveis como areia e como silte, dentro das proporções definidas pela
norma de Classificação Unificada de Solos (ASTM D 2487). Para além desta classificação,
Entre as partículas do solo existem vazios que estão preenchidos por ar e/ou por água. Na
Mecânica dos Solos definem-se vários parâmetros relacionados com estes componentes,
característicos de cada amostra de solo, como por exemplo g (peso volúmico), gd (peso
volúmico seco), e (índice de vazios), n (porosidade), etc.
O tamanho das partículas é determinante para o tipo de ligação entre estas. Assim, em
solos grossos (por exemplo, areias) a resistência do solo é-lhe basicamente conferida pelo
contacto (atrito) entre partículas, não havendo qualquer coesão entre estas, pelo que estes
solos também são chamados solos “não coesivos” ou “incoerentes”. Por outro lado, como
as partículas têm uma dimensão significativa, os vazios entre partículas também são
grandes, podendo conter uma quantidade apreciável de água, sem que isso afete
drasticamente o contacto entre as partículas e, portanto, a sua resistência. Já nos solos
finos, a resistência é-lhes basicamente conferida pela ligação eletroquímica que se
estabelece entre as suas partículas microscópicas, conferindo-lhes coesão, pelo que
também são chamados solos “coesivos” ou solos “coerentes”. A presença crescente de
água neste tipo de solos afeta enormemente a sua coesão, sendo esta praticamente zero
quando saturados. Por isso, para este tipo de solos, foram definidas propriedades que lhes
são características, definindo os limites entre os estados do solo à medida que o seu teor
em água vai aumentando. Estes limites são conhecidos por Limites de consistência
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Ver esta classificação, por exemplo nas “Tabelas Técnicas”, 1998, de Brazão Farinha, nas tabelas 5.1.1 e
5.1.2.
Para além da classificação, dos parâmetros e índices atrás referidos, na Mecânica dos
Solos foram criados numerosos outros indicadores para a completa caracterização dos
solos para cada fim particular que seja de interesse da engenharia civil. Apenas
referiremos mais alguns, de interesse para o cálculo de pavimentos sobre o solo e/ou para
fundações de edifícios. É o caso do índice C.B.R. (%) (California Bearing Ratio), para
avaliação da resistência mecânica do solo, do coeficiente de reação do solo, k,
determinado por ensaios de placa, ambos utilizados no dimensionamento de pavimentos,
e do ensaio de compactação Proctor (ensaio standard ou ensaio pesado), usado para
determinar a densidade e teor de humidade ótimo do solo em causa.
Este gráfico poderá ser utilizado para efeitos de pré-dimensionamento ou para aferição de
resultado de ensaios específicos para a obtenção de um determinado parâmetro.
Deverá ser organizada uma visita ao local da obra, com vista à recolha de informações
complementares úteis para o projeto. Entre estas, refere-se:
4 Ensaios a realizar
4.1 Observações prévias
Figura 6 – Exemplo de boletim de poço de reconhecimento (Site Investigation Manual, CIRIA; A.J.Weltman & J.M. Head)
Habitualmente os poços são ainda utilizados para a extração de amostras de solo para
posteriores ensaios laboratoriais. Caso se esteja em presença de solos finos e se requeira
A curva granulométrica é obtida por peneiração (via seca, por peneiração) e, só consegue
medir dimensões acima de 0,06mm (isto é, areias e cascalhos). Se for necessário
conhecer a dimensão exata e a percentagem das partículas microscópicas, será
necessário recorrer a um método mais demorado e dispendioso (via húmida, por
sedimentação). Contudo, para efeitos práticos no domínio em análise (aterros, pavimentos
e fundações), por vezes, apenas se recorre à via seca, ficando-se apenas a conhecer qual
a percentagem de finos (silte e argila).
Na figura seguinte apresenta-se um exemplo de solo com uma granulometria extensa mas
com elevada percentagem de finos (40% com partículas < 0,06mm). Recorde-se que, para
uma boa compactação, se devem utilizar solos de granulometria extensa, mas com uma
percentagem de finos tão reduzida quanto possível, não devendo habitualmente
ultrapassar 12% (deverá ainda ter um IP < 6% e um CBR ≥ 10%)2.
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Poderão, todavia, utilizar-se limites mais elevados, desde que se realize um aterro experimental e o controle do aterro seja
rigoroso.
O ensaio consiste em compactar uma porção de solo num cilindro com volume conhecido,
fazendo-se variar a humidade de forma a obter o ponto de compactação máxima no qual
se obtém a humidade ótima de compactação. O ensaio pode ser realizado em três níveis
de energia de compactação, conforme as especificações da obra: normal, intermédia e
pesada. Habitualmente utiliza-se o nível de energia mais elevada (teste Proctor modificado
ou pesado). Este ensaio obedece a uma norma estabelecida nos EUA pela AASHTO.
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Faz-se notar que, para o mesmo tipo de solo, o valor do CBR aumenta com o grau de
compactação deste, ao passo que a expansão diminui.
A título de exemplo, será de esperar que uma areia húmida tenha um CBR da ordem dos
10% e material britado de rocha dura tenha um CBR da ordem dos 80%.
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Figura 16 – Índice de Liquidez (w = teor de humidade real no solo)
Com os ensaios in situ descritos nos próximos parágrafos, procura-se saber o grau de
adensamento do solo e a natureza deste e, como consequência as características de
resistência do solo para dimensionamento das fundações. Sempre que se suspeite estar
em presença de um solo mole, ou muito mole, será necessário conhecer essas
características em profundidade, para poder dimensionar as fundações indiretas.
O equipamento consiste num pilão com 63,5kg de massa, num amostrador cilíndrico
formado por 2 meias-canas destacáveis e por uma ponteira de penetração. O pilão far-se-
á cair 760mm, medindo-se o número de pancadas necessárias para fazer o equipamento
penetrar no solo 30cm.
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Em cada umas das sondagens devem ser realizados ensaios de penetração SPT,
intervalados de 1,5m. Serão dados por concluídos quando se obtiverem duas
negas consecutivas.
As amostras recolhidas pelo amostrador de Terzaghi deverão ser integralmente
guardadas (amostras correspondentes ao 45 cm de cravação, excetuando-se as
situações de nega), logo após extração, em recipientes estanques e depois
armazenadas em local fresco e húmido.
Durante a execução do ensaio, o nível da água no interior do furo deverá ser
mantido igual ou superior ao nível freático ou nível de água no exterior.
O manuseamento e proteção das amostras deverá obedecer à especificação
LNEC E 218 “Prospeção geotécnica de terrenos. Colheita de amostras”.
Os ensaios de penetração dinâmica normalizada (SPT) serão executados na
travessia dos solos de cobertura e deverão seguir as recomendações da
International Society for Soil Mechanics and Foundation Engineering que constam
do documento “Report of the ISSMFE Technical Committee on Penetration Test
Procedures”.
Compacidade do solo
Ângulo de atrito interno (f)
Consistência de argilas
Resistência à compressão uniaxial (s)
Módulo de elasticidade do solo (Es)
Permeabilidade (k)
Etc.
Os resultados obtidos nos ensaios SPT deverão ser registados em Boletins de sondagem
contendo a seguinte informação mínima:
Identificação da sondagem,
identificação do local,
coordenadas topográficas X,Y,Z, referenciadas à Rede Geodésica Nacional
equipamento utilizado,
profundidade do nível da água no subsolo,
descrição litológica das várias camadas atravessadas,
Deverá igualmente, para cada sondagem, apresentar fotos das amostras recolhidas.
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Os ensaios com Penetrómetro Dinâmico Super Pesado (PDSP ou DPSH) deverão ser
realizados de acordo com a Norma EN ISO 22476-2:2002, consistindo na cravação de
uma ponteira normalizada no terreno, com o objetivo de aferir a resistência dinâmica de
ponta (qd) e a resistência de ponta (rd), através da aplicação de uma energia dinâmica,
com um pilão de massa 63,5 kg caindo de uma altura de 76 cm, anotando-se o número de
pancadas dadas pelo pilão, necessárias para penetrar 20 cm no solo.
A conclusão do ensaio, também denominada por “nega”, define-se quando após 60
pancadas não se conseguiu a cravação de 20 cm da ponteira, no solo.
Este ensaio, pode ser utilizado em complemento ao ensaio SPT, ou até, no caso de não se
prever a necessidade de conhecer detalhadamente a natureza das camadas de solo em
profundidade, como elemento único de ensaios.
Ao contrário do SPT este ensaio não dispõe de amostrador para a recolha de amostras,
pelo que não permite identificar a natureza dos vários estratos atravessados.
Tal como para as sondagens com ensaios SPT, também para cada local objeto de ensaios
DPSH deverá ser elaborado um Boletim. Neste boletim deverá registar-se a máxima
informação possível, nomeadamente:
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Mais informações sobre este teste poderão ser obtidas na Parte 2 do Eurocódigo 7.
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Consiste em aplicar uma carga vertical de forma gradual sobre uma placa lisa e rígida de
dimensões variáveis (30x30 a 100x100cm), com o objetivo de determinar as deformações
produzidas.
Notar que, para utilização deste equipamento, será necessário utilizar um contrapeso que
equilibre o macaco que transmitirá a carga à placa em contacto com o solo. Normalmente
recorre-se a um veículo pesado.
5 Aplicação a um armazém
4.1. Descrição do armazém
Estes locais, intercalando sondagens com SPT e ensaios DPSH, serão distribuídos por
toda a área do edifício, garantindo que entre 2 locais sucessivos não distará mais de 30m.
1.1.4.Resumo
Com base nestas quantidades, deverá ser feita uma estimativa prévia dos custos do
Estudo Geotécnico solicitado, baseado em orçamentos recebidos anteriormente e
arbitrando um valor para a profundidade possível das sondagens, coerente com o
reconhecimento prévio efetuado. No presente caso, estimou-se que esta profundidade
poderá ser da ordem de 10m. Assim, utilizando preços de 2023, obteríamos a estimativa
orçamental para a realização do Estudo Geotécnico representada no quadro seguinte. O
custo estimado obtido corresponde, no presente caso, a 2,25€/m 2 de área de edifício, valor
este irrisório face ao investimento em causa.