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APTIDÃO DE SOLOS PARA FUNDAÇÕES


Elementos para Estudo Geotécnico

Julho de 2023

Aptidão de solos para fundações_PJ


Índice
1 Introdução...........................................................................................................................3
2 Solos.....................................................................................................................................3
2.1 Generalidades..............................................................................................................3
2.2 Propriedades dos solos.................................................................................................6
3 Reconhecimento do terreno...............................................................................................9
2
3.1 Trabalhos prévios.............................................................................................................9
3.2 Visita ao local...................................................................................................................9
4 Ensaios a realizar.................................................................................................................9
4.1 Observações prévias.........................................................................................................9
4.2 Poços de reconhecimento..............................................................................................10
4.3 Ensaios laboratoriais......................................................................................................11
4.3.1. Curva granulométrica 11
4.3.2. Ensaio de compactação Proctor modificado (ou Proctor pesado)....................12
4.3.3. Índice C.B.R. 13
4.3.4. Limites de consistência (ou de Atterberg) 13
4.4. Ensaios in situ.............................................................................................................16
4.4.1. Generalidades 16
4.4.2. Sondagens mecânicas com trado 16
4.4.3. Ensaios S.P.T. (Standard Penetration Test) 17
4.4.4. Ensaios D.P.S.H. 20
4.4.5. Ensaios de corte rotativo (ensaio de molinete ou vane test)............................23
4.4.6. Ensaios de placa 23
5 Aplicação a um armazém...................................................................................................24
5.1. Descrição do armazém...............................................................................................24
5.2. Sondagens e ensaios propostos..................................................................................24
5.2.1. Zona de armazenamento com estantes 24
5.2.2. Exterior – zona do cais de carga / descarga 25
5.2.3. Acesso e zona de estacionamento de veículos ligeiros.....................................25
5.2.4. Resumo 25

Aptidão de solos para fundações_PJ


APTIDÃO DE SOLOS PARA FUNDAÇÕES
Elementos para Estudo Geotécnico

1 Introdução

Com este documento pretende-se dar indicações básicas para a verificação da aptidão dos
solos para suportar pavimentos e fundações de edifícios e, fornecer elementos para a 3
encomenda, a empresa especializada, de um Relatório Geológico-Geotécnico. Será feita uma
pequena resenha sobre os diversos tipos de solos e as suas características principais. Serão
indicados os principais ensaios a realizar para a verificação dessas características. Alguns
desses ensaios serão também os mesmos utilizados para o controle de aterros e já foram
indicados no documento “Metodologia para o controlo da compactação”, de que se aconselha
a leitura.

2 Solos
2.1 Generalidades

O solo é definido como um corpo natural composto por substâncias inorgânicas e, por
vezes, orgânicas, presente na superfície terrestre e oriundo da desagregação das rochas.
Esta desagregação ocorre por meio de ações ligadas à temperatura e a processos
erosivos provenientes da ação dos ventos, chuva e seres vivos, tais como bactérias e
fungos.

Há diversas formas de classificação dos solos, sendo que a que se refere ao seu uso para
fins de engenharia civil se baseia, antes de mais, na sua análise granulométrica, isto é,
baseada nas dimensões das partículas que constituem o solo.

No quadro seguinte apresenta-se a classificação básica dos solos quanto às dimensões


das suas partículas:

Quadro 1 – Descrição do solo de acordo com a dimensão das partículas

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Notar que a classificação americana é ligeiramente diferente, pois está baseada em
unidades imperiais.

Para uma melhor visualização da granulometria de um determinado solo, é útil representá-


la em forma de gráfico, como o da figura seguinte. Na zona superior direita desta figura
estão identificadas as designações dadas aos peneiros americanos.

Figura 1 – Curvas granulométricas de duas amostras de solo

Os solos reais, são normalmente constituídos por partículas cujas dimensões podem estar
inseridas em mais do que uma das classificações base anteriores. Há assim necessidade
de classificar esses solos.

Uma das formas mais simples será a partir das percentagens de argila, silte e areia que o
solo contém e, de seguida, utilizar um gráfico tripartido, como o representado na figura
seguinte.

Figura 2 – Gráfico tripartido de classificação de solos, de acordo com a especificação LNEC E 219 (1968)

Assim, os solos representados na figura 1, apresentam as seguintes percentagens:

 Solo 1: Argila 3%; Silte: 29 – 3 = 27%; Areia: 71%, Classificação: Areia siltosa

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 Solo 2: Argila 1%; Silte: 31%; Areia: 68%, Classificação: Areia siltosa

A classificação mais utilizada é a Classificação Unificada de Solos (ASTM D 2487),


reproduzida no quadro seguinte, que utiliza letras (iniciais em inglês) de cada grupo.

Quadro 2 – Classificação Unificada de Solos (ASTM D2487)

Por exemplo, um solo classificado como SM (areia siltosa), deverá ter a quantidade de
elementos classificáveis como areia e como silte, dentro das proporções definidas pela
norma de Classificação Unificada de Solos (ASTM D 2487). Para além desta classificação,

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uma outra muito utilizada é a Classificação Para Fins Rodoviários, da AASHTO1, ou a
Especificação LNEC – E240 “Solos – Classificação para fins rodoviários”.

2.2 Propriedades dos solos

Entre as partículas do solo existem vazios que estão preenchidos por ar e/ou por água. Na
Mecânica dos Solos definem-se vários parâmetros relacionados com estes componentes,
característicos de cada amostra de solo, como por exemplo g (peso volúmico), gd (peso
volúmico seco), e (índice de vazios), n (porosidade), etc.

As propriedades de um solo dependem basicamente do tamanho das partículas, das


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ligações entre estas e da sua “arrumação”, isto é, se as partículas estão muito soltas
(maior volume e menor peso volúmico) ou muito comprimidas (menor volume e maior peso
volúmico).

Figura 3 – Diversas formas de ligação entre partículas de solo e sua “arrumação”.


Esquema superior: graduação uniforme; esquema intermédio: bem graduado (tem partículas mais finas preenchendo os vazios); esquema inferior: compacto

O tamanho das partículas é determinante para o tipo de ligação entre estas. Assim, em
solos grossos (por exemplo, areias) a resistência do solo é-lhe basicamente conferida pelo
contacto (atrito) entre partículas, não havendo qualquer coesão entre estas, pelo que estes
solos também são chamados solos “não coesivos” ou “incoerentes”. Por outro lado, como
as partículas têm uma dimensão significativa, os vazios entre partículas também são
grandes, podendo conter uma quantidade apreciável de água, sem que isso afete
drasticamente o contacto entre as partículas e, portanto, a sua resistência. Já nos solos
finos, a resistência é-lhes basicamente conferida pela ligação eletroquímica que se
estabelece entre as suas partículas microscópicas, conferindo-lhes coesão, pelo que
também são chamados solos “coesivos” ou solos “coerentes”. A presença crescente de
água neste tipo de solos afeta enormemente a sua coesão, sendo esta praticamente zero
quando saturados. Por isso, para este tipo de solos, foram definidas propriedades que lhes
são características, definindo os limites entre os estados do solo à medida que o seu teor
em água vai aumentando. Estes limites são conhecidos por Limites de consistência

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Ver esta classificação, por exemplo nas “Tabelas Técnicas”, 1998, de Brazão Farinha, nas tabelas 5.1.1 e
5.1.2.

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(também conhecidos por Limites de Atterberg), e encontram-se esquematizados na figura
seguinte.

1<IP<7 – baixa plasticidade; 7<IP<15 – média plasticidade; IP>15 – alta plasticidade

w = teor de humidade natural do solo (%); IC = (LL-w)/(LL-LP)

0<IC<0,5 – mole; 0,5<IC<0,75 – média; 0,75<IC<1 – rija; IC>1 – dura

Figura 4 – Esquematização dos limites de consistência (limites de Atterberg)

Para além da classificação, dos parâmetros e índices atrás referidos, na Mecânica dos
Solos foram criados numerosos outros indicadores para a completa caracterização dos
solos para cada fim particular que seja de interesse da engenharia civil. Apenas
referiremos mais alguns, de interesse para o cálculo de pavimentos sobre o solo e/ou para
fundações de edifícios. É o caso do índice C.B.R. (%) (California Bearing Ratio), para
avaliação da resistência mecânica do solo, do coeficiente de reação do solo, k,
determinado por ensaios de placa, ambos utilizados no dimensionamento de pavimentos,
e do ensaio de compactação Proctor (ensaio standard ou ensaio pesado), usado para
determinar a densidade e teor de humidade ótimo do solo em causa.

Na figura seguinte apresenta-se um gráfico, relacionando o tipo de solos e os limites


aproximados de algumas destas propriedades (C.B.R., k e pressão admissível sobre o
solo).

Este gráfico poderá ser utilizado para efeitos de pré-dimensionamento ou para aferição de
resultado de ensaios específicos para a obtenção de um determinado parâmetro.

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Figura 5 – Relação de alguns parâmetros geotécnicos com o tipo de solos

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3 Reconhecimento do terreno
3.1 Trabalhos prévios

Previamente ao cálculo das fundações e ensoleiramento do edifício, deverá ser recolhida a


máxima informação possível, nomeadamente:

 Folha correspondente ao local de implantação da obra, da Carta Geológica de


Portugal, à escala 1:50000. Esta carta pode obter-se em
https://geoportal.lneg.pt/download/maps/.
 Informação sobre fundações de edifícios vizinhos.
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 Levantamento topográfico e implantação preliminar do edifício.
 Cota topográfica base do edifício a implantar (correspondendo à cota 0 deste).

3.2 Visita ao local

Deverá ser organizada uma visita ao local da obra, com vista à recolha de informações
complementares úteis para o projeto. Entre estas, refere-se:

 Verificação do coberto vegetal (arvoredo, arbustos, ervas, etc.) e da densidade deste.


 Verificação da existência de alguma linha de água atravessando o terreno.
Normalmente a existência desta linha de água é denunciada por uma linha de
vegetação.
 Verificação da existência de linhas de alta tensão, de telefones ou outras, atravessando
o terreno, nomeadamente na zona da projetada implantação do edifício e vias de
circulação.
 Observação do solo natural, tentando concluir previamente sobre a sua natureza (solo
de finos ou granular).

4 Ensaios a realizar
4.1 Observações prévias

Com base na informação de reconhecimento prévio do terreno, será possível saber se


estamos em presença de um terreno com más, ou muito más, condições de fundação, em
que seja expectável a utilização de fundações profundas, ou, se pelo contrário, as
condições fazem esperar que, quer o ensoleiramento quer as fundações do edifício,
possam ser superficiais. Naturalmente, no primeiro caso, a preparação para o Estudo
Geotécnico será mais exigente e conducente à realização de uma maior quantidade e
diversidade de ensaios geotécnicos.

Os tipos de ensaio a realizar no terreno dependem da zona de implantação do edifício e,


na área deste, dos diferentes tipos de carregamentos, bem assim como da permanência
destes. Com efeito, cargas permanentes provocam no terreno deformações habitualmente
irreversíveis, ao passo que cargas de curta duração provocam deformações total ou
parcialmente reversíveis.

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Nos parágrafos seguintes descrevem-se alguns dos ensaios utilizados mais
frequentemente, bem assim como o seu objetivo.

4.2 Poços de reconhecimento

Ao longo da área de implantação do edifício e das vias de comunicação deverão ser


abertos alguns poços de reconhecimento do terreno. São um complemento importante na
identificação da natureza das camadas superficiais do solo e para a definição dos
pavimentos.
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Estes poços terão, à partida, uma dimensão em planta de aproximadamente 2,5mx2,5m e
deverão atingir a máxima profundidade possível permitida pelos meios de escavação
utilizados e pela natureza do terreno. Normalmente a profundidade máxima depende do
alcance do braço da retroescavadora utilizada e não vai habitualmente além dos 4m.

Para cada poço deverá ser elaborado um boletim, onde se registem:

Nº do poço, data, coordenadas topográficas X,Y,Z referenciadas à Rede Geodésica


Nacional, profundidade do nível da água no solo, natureza e profundidade dos estratos
encontrados. Deverá igualmente ser elaborado um perfil esquemático e registadas as
observações pertinentes, tal como se exemplifica na figura seguinte. Após a abertura do
poço, este deverá ser fotografado, sendo a foto inserida no boletim.

Figura 6 – Exemplo de boletim de poço de reconhecimento (Site Investigation Manual, CIRIA; A.J.Weltman & J.M. Head)

Habitualmente os poços são ainda utilizados para a extração de amostras de solo para
posteriores ensaios laboratoriais. Caso se esteja em presença de solos finos e se requeira

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avaliar o valor de cu (coesão não drenada do solo) são o local ideal para a realização de
ensaios de corte rotativo (vane test).

4.3 Ensaios laboratoriais

Os ensaios laboratoriais servem para determinar as características dos solos,


indispensáveis para o dimensionamento de aterros, pavimentos interiores ou exteriores e
de fundações do edifício. Notar ainda que, para não recorrer a alguns ensaios mais
dispendiosos, muitas das características dos solos são normalmente obtidas a partir de
correlações com outras propriedades do solo previamente determinadas. O uso dessas
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correlações, apesar de estas fornecerem apenas valores aproximados, é normalmente
compatível com a variabilidade das características do terreno de um ponto para outro.

Nos parágrafos seguintes apresentam-se resumidamente alguns desses ensaios mais


utilizados.

4.1.1. Curva granulométrica

A curva granulométrica, já referida no ponto 2.1, define as percentagens de partículas de


solo com uma determinada dimensão. Servem para identificar o solo real, classificando-o
num determinado grupo.

A curva granulométrica é obtida por peneiração (via seca, por peneiração) e, só consegue
medir dimensões acima de 0,06mm (isto é, areias e cascalhos). Se for necessário
conhecer a dimensão exata e a percentagem das partículas microscópicas, será
necessário recorrer a um método mais demorado e dispendioso (via húmida, por
sedimentação). Contudo, para efeitos práticos no domínio em análise (aterros, pavimentos
e fundações), por vezes, apenas se recorre à via seca, ficando-se apenas a conhecer qual
a percentagem de finos (silte e argila).

Na figura seguinte apresenta-se um exemplo de solo com uma granulometria extensa mas
com elevada percentagem de finos (40% com partículas < 0,06mm). Recorde-se que, para
uma boa compactação, se devem utilizar solos de granulometria extensa, mas com uma
percentagem de finos tão reduzida quanto possível, não devendo habitualmente
ultrapassar 12% (deverá ainda ter um IP < 6% e um CBR ≥ 10%)2.

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Poderão, todavia, utilizar-se limites mais elevados, desde que se realize um aterro experimental e o controle do aterro seja
rigoroso.

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Figura 7 – Exemplo de curva granulométrica.

4.1.2. Ensaio de compactação Proctor modificado (ou Proctor pesado)

O ensaio de compactação Proctor é um método de laboratório para determinar


experimentalmente a densidade máxima do maciço terroso e conhecer o teor de humidade
adequado para obter esse valor. É o ensaio de partida mais importante para o controle de
compactação, nomeadamente em aterros.

Figura 8 – Equipamento para a realização de ensaio Proctor e curvas de compactação e de saturação.

O ensaio consiste em compactar uma porção de solo num cilindro com volume conhecido,
fazendo-se variar a humidade de forma a obter o ponto de compactação máxima no qual
se obtém a humidade ótima de compactação. O ensaio pode ser realizado em três níveis
de energia de compactação, conforme as especificações da obra: normal, intermédia e
pesada. Habitualmente utiliza-se o nível de energia mais elevada (teste Proctor modificado
ou pesado). Este ensaio obedece a uma norma estabelecida nos EUA pela AASHTO.

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4.1.3. Índice C.B.R.

O índice C.B.R. é um teste para avaliação da resistência mecânica de solos naturais,


bases e sub-bases, e que consiste basicamente na medição da pressão necessária para a
penetração de um pistão cilíndrico padronizado, no material em estudo. A pressão medida
é depois dividida pela pressão necessária para obter igual penetração numa amostra
standard de material britado (em %). Estes ensaios são realizados em Portugal de acordo
com a Especificação LNEC E198:1967.

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Figura 9 – Equipamento para a realização de ensaio CBR

Com este ensaio fica-se ainda a conhecer a expansibilidade da amostra através da


diferença inicial e final de volume de solo ensaiado.

Faz-se notar que, para o mesmo tipo de solo, o valor do CBR aumenta com o grau de
compactação deste, ao passo que a expansão diminui.

A título de exemplo, será de esperar que uma areia húmida tenha um CBR da ordem dos
10% e material britado de rocha dura tenha um CBR da ordem dos 80%.

4.1.4. Limites de consistência (ou de Atterberg)

Os limites de consistência, já abordados no ponto 2.2, definem os diversos estados de


solos plásticos, isto é, de solos com elevada percentagem de partículas finas. Assim, os
ensaios para a sua determinação só devem ser realizados se estivermos na presença
de solos finos.

Figura 10 – Limites de consistência

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A determinação dos limites de consistência [LL (ou wL) e LP (ou wP)] deverá fazer-se
segundo a Norma Portuguesa NP-143. O manuseamento e proteção das amostras, deverá
obedecer à especificação LNEC E 218 “Prospeção geotécnica de terrenos. Colheita de
amostras”.
Na sua determinação em laboratório utilizam-se balanças, espátulas e o aparelho de
Casagrande, que é um prato metálico de dimensões normalizadas com uma ranhura
central.

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Figura 11 – Equipamento para determinação do Limite de Liquidez.

Limite de Liquidez (LL ou wL): Corresponde ao teor de humidade na fronteira entre o


estado semissólido e o estado plástico. Determina-se pela medição do teor de humidade
correspondente ao fechamento da ranhura padrão do aparelho de Casagrande, com 25
golpes.

Figura 12 – Determinação do Limite de Liquidez

Limite de Plasticidade (LP ou wP): Corresponde ao teor de humidade na fronteira entre o


estado plástico e o estado líquido. Determina-se fazendo rolar uma amostra de solo, com
um determinado teor de humidade, moldando um cilindro de 3mm de diâmetro com a

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palma da mão sobre uma placa de vidro esmerilado. O Limite de Plasticidade corresponde
ao teor de humidade em que o referido cilindro começa a fendilhar.

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Figura 13 – Determinação do Limite de Plasticidade

Limite de Contração (LC ou wC): Corresponde ao teor de humidade na fronteira entre o


estado sólido e semissólido. Abaixo deste teor de humidade o solo não variará mais de
volume num processo de secagem.

Figura 14 – Determinação do Limite de Contração

Índice de Plasticidade (IP ou IP): IP = LL - LP

Figura 15 – Índice de Plasticidade

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Índice de Liquidez (IL ou IL) :

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Figura 16 – Índice de Liquidez (w = teor de humidade real no solo)

4.2. Ensaios in situ


4.2.1. Generalidades

Com os ensaios in situ descritos nos próximos parágrafos, procura-se saber o grau de
adensamento do solo e a natureza deste e, como consequência as características de
resistência do solo para dimensionamento das fundações. Sempre que se suspeite estar
em presença de um solo mole, ou muito mole, será necessário conhecer essas
características em profundidade, para poder dimensionar as fundações indiretas.

4.2.2. Sondagens mecânicas com trado

Para conhecer a natureza e características do solo em profundidade será necessário


recorrer a sondagens mecânicas, complementadas pela realização de ensaios S.P.T.
Normalmente estas sondagens serão verticais e executadas à rotação com trado
motorizado de eixo oco (hollow stem auger). Serão implantadas, de acordo com os
seguintes critérios:
1. Deverão coincidir com a localização prevista para pilares, de acordo com
projeto de estruturas.
2. A distância entre 2 pontos sucessivos de sondagens deverá ser ≤ 30m.
Contudo, a área abrangida por cada sondagem deverá ser ≤ 500 m2.

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Figura 17 – Equipamento de sondagem à rotação

A profundidade máxima a atingir será ditada pelos seguintes critérios:


 Serão dadas por concluídas apenas quando se obtiverem duas negas
consecutivas no ensaio SPT.
 Profundidade mínima, obedecendo aos critérios anteriores (e apenas caso não
seja previsível a existência de um estrato inferior de características mais
fracas): 9 m.

Durante a execução de cada sondagem será registada a posição do nível de água, no


início e no final da furação.
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Cada ponto de sondagem, ensaio DPSH ou poço de reconhecimento, deverá ficar
assinalado no terreno com uma estaca referenciada com a designação e número de
sondagem e imediatamente georreferenciada (coordenadas e cotas) com recurso a
métodos clássicos de topografia, referenciadas à Rede Geodésica Nacional.

4.2.3. Ensaios S.P.T. (Standard Penetration Test)

É um ensaio expedito que se usa principalmente para determinar as propriedades


mecânicas de solos. Realiza-se no interior de sondagens com um diâmetro de perfuração
compreendido entre 56 mm e 162 mm, após limpeza dos detritos de perfuração do fundo
do furo.

Figura 18 – Ensaio SPT

O equipamento consiste num pilão com 63,5kg de massa, num amostrador cilíndrico
formado por 2 meias-canas destacáveis e por uma ponteira de penetração. O pilão far-se-
á cair 760mm, medindo-se o número de pancadas necessárias para fazer o equipamento
penetrar no solo 30cm.

Realiza-se em várias fases:

 Conta-se o nº de pancadas para fazer penetrar o amostrador 15cm no terreno


(devido às perturbações impostas pela própria furação no terreno, este primeiro valor é
normalmente desprezado)

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 Nas duas fases seguintes conta-se o nº de pancadas para fazer o amostrador
penetrar um total de 30cm (15cm+15cm), sendo este o valor de cálculo para o
NSPT.

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Figura 19 – Amostrador e ponteira

 Em cada umas das sondagens devem ser realizados ensaios de penetração SPT,
intervalados de 1,5m. Serão dados por concluídos quando se obtiverem duas
negas consecutivas.
 As amostras recolhidas pelo amostrador de Terzaghi deverão ser integralmente
guardadas (amostras correspondentes ao 45 cm de cravação, excetuando-se as
situações de nega), logo após extração, em recipientes estanques e depois
armazenadas em local fresco e húmido.
 Durante a execução do ensaio, o nível da água no interior do furo deverá ser
mantido igual ou superior ao nível freático ou nível de água no exterior.
 O manuseamento e proteção das amostras deverá obedecer à especificação
LNEC E 218 “Prospeção geotécnica de terrenos. Colheita de amostras”.
 Os ensaios de penetração dinâmica normalizada (SPT) serão executados na
travessia dos solos de cobertura e deverão seguir as recomendações da
International Society for Soil Mechanics and Foundation Engineering que constam
do documento “Report of the ISSMFE Technical Committee on Penetration Test
Procedures”.

Através do nº de pancadas obtidas no ensaio SPT é possível estabelecer correlações com


várias propriedades dos solos, nomeadamente:

 Compacidade do solo
 Ângulo de atrito interno (f)
 Consistência de argilas
 Resistência à compressão uniaxial (s)
 Módulo de elasticidade do solo (Es)
 Permeabilidade (k)
 Etc.

Os resultados obtidos nos ensaios SPT deverão ser registados em Boletins de sondagem
contendo a seguinte informação mínima:

 Identificação da sondagem,
 identificação do local,
 coordenadas topográficas X,Y,Z, referenciadas à Rede Geodésica Nacional
 equipamento utilizado,
 profundidade do nível da água no subsolo,
 descrição litológica das várias camadas atravessadas,

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 Percentagem de recuperação da amostra (RQD) (normalmente apenas para quando se
atravessa rocha alterada),
 resultados dos ensaios SPT,
 etc.,

tal como se mostra no exemplo da figura seguinte.

Deverá igualmente, para cada sondagem, apresentar fotos das amostras recolhidas.

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Figura 20 – Exemplo de Boletim de Sondagem com ensaios SPT

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Figura 21 – Exemplo de fotos das amostras de solo no Boletim de Sondagem

4.2.4. Ensaios D.P.S.H.

Existem diversos ensaios realizados com penetrómetros, para além do anteriormente


descrito. Entre outros, citam-se:

 PDL – Penetrómetro Dinâmico Ligeiro


 PDM – Penetrómetro Dinâmico Médio
 PDP – Penetrómetro Dinâmico Pesado
 DPSH – Penetrómetro Dinâmico Super Pesado
 Etc.

Estabelecendo a relação entre as energias produzidas para cada tipo de penetrómetro, é


possível relacionar o valor do nº de pancadas obtidas em cada um deles com as
equivalentes que se obteriam no ensaio SPT (NSPT).

Quadro 3 – Correlação SPT – outros penetrómetros

NSPT = N/a; NPen = NSPT . a

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Contudo, apesar de simples, estas relações não são exatamente lineares como sugere a
fórmula anterior e, normalmente precisam de ser corrigidas em função do tipo de terreno.
Por exemplo, para o DPSH, em vez de NSPT = 1,5.NDPSH, as relações propostas por
Muromachi e Kobayashi são as seguintes:

 Solos não coesivos: 𝑁𝑆𝑃𝑇 = 1,27. 𝑁DPSH


 Solos coesivos: 𝑁𝑆𝑃𝑇 = 13. log 𝑁𝐷𝑃𝑆𝐻 − 2
Ou seja, para um valor de N DPSH = 10, utilizando a relação deduzida por considerações de
energia, concluiríamos que NSPT = 15. Contudo, utilizando as relações de Muromachi
chegaríamos a 13, para solos não coesivos e a 11 para solos coesivos, valores estes mais
conservadores. 22
Os ensaios consistem, em todos eles, na queda de um pilão com uma determinada massa
m, caindo de uma altura constante h, sendo contadas o nº de pancadas necessárias para
penetrar no solo um valor determinado e.

Os ensaios com Penetrómetro Dinâmico Super Pesado (PDSP ou DPSH) deverão ser
realizados de acordo com a Norma EN ISO 22476-2:2002, consistindo na cravação de
uma ponteira normalizada no terreno, com o objetivo de aferir a resistência dinâmica de
ponta (qd) e a resistência de ponta (rd), através da aplicação de uma energia dinâmica,
com um pilão de massa 63,5 kg caindo de uma altura de 76 cm, anotando-se o número de
pancadas dadas pelo pilão, necessárias para penetrar 20 cm no solo.
A conclusão do ensaio, também denominada por “nega”, define-se quando após 60
pancadas não se conseguiu a cravação de 20 cm da ponteira, no solo.
Este ensaio, pode ser utilizado em complemento ao ensaio SPT, ou até, no caso de não se
prever a necessidade de conhecer detalhadamente a natureza das camadas de solo em
profundidade, como elemento único de ensaios.
Ao contrário do SPT este ensaio não dispõe de amostrador para a recolha de amostras,
pelo que não permite identificar a natureza dos vários estratos atravessados.

Figura 22 – Equipamento para ensaios DPSH

Tal como para as sondagens com ensaios SPT, também para cada local objeto de ensaios
DPSH deverá ser elaborado um Boletim. Neste boletim deverá registar-se a máxima
informação possível, nomeadamente:

 Identificação do ensaio DPSH,


 identificação do local,

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 coordenadas topográficas X,Y,Z, referenciadas à Rede Geodésica Nacional
 equipamento utilizado,
 resultados dos ensaios DPSH (N20, rd, qd)
 etc.,

tal como se mostra no exemplo da figura seguinte.

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Figura 23 – Exemplo de Boletim de ensaio DPSH

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4.2.5. Ensaios de corte rotativo (ensaio de molinete ou vane test)

O ensaio de corte rotativo é utilizado para a determinação da coesão não drenada (c u) de


solos finos moles (normalmente para valores de NSPT < 4). Permite determinar a
resistência não drenada de pico e residual do solo.

O ensaio realiza-se no interior de um poço de prospeção ou de um furo de sondagem.


Atingida a profundidade pretendida, as pás do equipamento (molinete) são cravadas no
terreno e é-lhes aplicado um momento de torção.

Mais informações sobre este teste poderão ser obtidas na Parte 2 do Eurocódigo 7.
24

Figura 24 – Equipamento para ensaio de corte rotativo.

4.2.6. Ensaios de placa

Consiste em aplicar uma carga vertical de forma gradual sobre uma placa lisa e rígida de
dimensões variáveis (30x30 a 100x100cm), com o objetivo de determinar as deformações
produzidas.

 Fazem-se vários ciclos de carga-descarga.


 O escalão máximo da carga a obter deverá ser da ordem de 3x a carga de trabalho
da estrutura projetada.
 Os parâmetros medidos são o tempo, a carga aplicada e os assentamentos
 E =1,5 (ss/s).r, sendo ss a tensão média abaixo da placa, s o assentamento da
placa e r o raio da placa.

O coeficiente de reação do solo, k, é o valor da deformabilidade do solo, obtido em ensaio


de placa de determinada dimensão. À referida placa aplica-se uma carga, que transmitirá
uma correspondente pressão ao solo; seguidamente divide-se o valor desta pressão pelo
da deformação no solo assim obtida, obtendo-se o valor de k [em MN/m3 = kPa/m =
MPa/mm].

Aptidão de solos para fundações_PJ


25

Figura 25 – Equipamento para ensaio de placa

Notar que, para utilização deste equipamento, será necessário utilizar um contrapeso que
equilibre o macaco que transmitirá a carga à placa em contacto com o solo. Normalmente
recorre-se a um veículo pesado.

5 Aplicação a um armazém
4.1. Descrição do armazém

Seja um armazém com 5000m2, destinado a alojar estantes para armazenamento de


paletes de 1000kg, dispostas em 5 níveis. O armazém dispõe de um cais de
carga/descarga de mercadorias, frente ao qual existirá um pátio para camiões pesados.
Haverá ainda uma pequena via para acesso de camiões e outros veículos e uma zona de
estacionamento de veículos ligeiros.

Nos trabalhos de reconhecimento prévio sobre o terreno de implantação da obra,


conduzido de acordo com o parágrafo 3, concluiu-se que este aparentava ser constituído
por solos com uma granulometria relativamente, extensa com uma presença de partículas
finas em percentagem indeterminada, sendo, no entanto, expectável que o solo com
aptidão para fundações não fique a grande profundidade. Não foi detetada a presença de
cursos de água.

4.2. Sondagens e ensaios propostos


1.1.1.Zona de armazenamento com estantes

Com base nas indicações do parágrafo 4.4.2, solicitar-se-á a empresa da especialidade os


seguintes ensaios para esta zona, após seleção de 10 locais de ensaio (≈ 5000/500 = 10),
nos quais se sugere que sejam realizadas:

 5 sondagens verticais com trado, com realização de ensaios SPT a cada


1,5m.
 5 ensaios DPSH

Estes locais, intercalando sondagens com SPT e ensaios DPSH, serão distribuídos por
toda a área do edifício, garantindo que entre 2 locais sucessivos não distará mais de 30m.

Aptidão de solos para fundações_PJ


Serão ainda recolhidas amostras no estrato superior (a menos de 1,5m de profundidade)
para posterior análise laboratorial, em pelo menos 3 dos 5 locais de sondagens com trado
(uma em cada extremidade e a outra sensivelmente a meio do edifício).

1.1.2.Exterior – zona do cais de carga / descarga

Nesta zona sugere-se:

 Abertura de 2 poços de reconhecimento,


 Recolha de amostras (nos poços) para posterior análise laboratorial
 Execução de 1 ensaio DPSH, entre os poços. 26

1.1.3.Acesso e zona de estacionamento de veículos ligeiros

Nesta zona sugere-se:

 Abertura de 2 poços de reconhecimento (um no acesso e outro no


estacionamento)
 Recolha de amostras (nos poços) para posterior análise laboratorial

1.1.4.Resumo

Foram, pois, propostos no total:

 5 sondagens com ensaios SPT a cada 1,5m


 5 ensaios DPSH
 4 poços de reconhecimento
 ensaios laboratoriais

Em face da contiguidade de algumas das áreas de utilização, só conhecida após


elaboração do layout da obra, poderá eventualmente prescindir-se de algum destes itens.

Os ensaios laboratoriais em causa são:

 Determinação da curva granulométrica


 Ensaio de compactação Proctor pesado
 Ensaio CBR
 Determinação dos limites de consistência LL e LP (estes ensaios só deverão
realizar-se se as indicações obtidas na descrição dos solos encontrados nos poços
de reconhecimento levarem a concluir que estes são plásticos).

Com base nestas quantidades, deverá ser feita uma estimativa prévia dos custos do
Estudo Geotécnico solicitado, baseado em orçamentos recebidos anteriormente e
arbitrando um valor para a profundidade possível das sondagens, coerente com o
reconhecimento prévio efetuado. No presente caso, estimou-se que esta profundidade
poderá ser da ordem de 10m. Assim, utilizando preços de 2023, obteríamos a estimativa
orçamental para a realização do Estudo Geotécnico representada no quadro seguinte. O
custo estimado obtido corresponde, no presente caso, a 2,25€/m 2 de área de edifício, valor
este irrisório face ao investimento em causa.

Aptidão de solos para fundações_PJ


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Quadro 4 – Estimativa orçamental para realização de Estudo Geotécnico

Aptidão de solos para fundações_PJ

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