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INTRODUÇÃO À

GEOTECNIA

Júlia Hein Mazutti


Ensaios de peneiramento,
sedimentação e determinação
dos índices físicos
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

 Reconhecer a importância de ensaios de laboratório para definir as


características do solo.
 Desenvolver ensaios de peneiramento e sedimentação.
 Indicar os principais ensaios para determinação dos índices físicos
do solo.

Introdução
Estudar as características dos solos é muito importante na engenharia civil,
uma vez que é o solo que serve de apoio para todas as obras, absorvendo
os esforços transmitidos pelas estruturas. Mas o que são as características
do solo? Quais são as características mais importantes e como podem ser
avaliadas? Entre as diversas propriedades dos solos, o tamanho dos grãos
e os chamados índices físicos exercem um papel fundamental na análise
do seu comportamento quando submetido a sobrecargas de construção.
Neste capítulo, você aprenderá sobre alguns dos primeiros e mais
importantes ensaios feitos junto a amostras de solo em laboratórios
geotécnicos. Os ensaios de granulometria, sedimentação e para determi-
nação de índices físicos representam o início da caracterização dos solos
para obter parâmetros essenciais utilizados em projetos geotécnicos.
2 Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos

1 Definição de características do solo a partir


de ensaios de laboratório
Os ensaios de laboratórios são muito utilizados em projetos geotécnicos para
identificar propriedades fundamentais do solo para a elaboração de projetos.
Entre as propriedades analisadas, a granulometria do solo e seus índices
físicos são de fundamental importância. Sua determinação compõe a base
inicial de características dos solos que podem ser determinadas em laboratório,
geralmente utilizando amostras que foram coletadas no próprio campo onde
a obra será realizada.
A granulometria dos grãos é conduzida mediante ensaios de peneiramento
e sedimentação. O peneiramento é voltado para solos arenosos, com grãos
mais grosseiros quando comparados com argilas e siltes, que, por sua vez, são
classificados por ensaios de sedimentação. A partir deles, elabora-se a curva
granulométrica, que apresenta a porcentagem de cada tamanho de grão no
solo estudado. O tamanho dos grãos é analisado a partir do tamanho médio
de suas partículas, chamado de diâmetro das partículas. A Figura 1 apresenta
a classificação dos solos conforme o tamanho do grão, segundo ABNT NBR
6502 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 1995).

Figura 1. Classificação do tamanho dos grãos conforme ABNT NBR 6502 (1995).
Fonte: Adaptada de Associação Brasileira de Normas Técnicas (1995).

Os índices físicos do solo, por sua vez, são grandezas que expressam a
proporção entre os pesos e volumes das três fases do solo, sólida, líquida e
gasosa, conforme mostrado na Figura 2. As fases líquida e gasosa conjunta-
mente representam os vazios presentes no solo (Figura 2a). Pode-se idealizar
a composição trifásica do solo como exposto na Figura 2b.
Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos 3

Figura 2. As diferentes fases do solo: (a) em uma amostra; (b) em uma idealização da separação
entre as fases, onde V é volume total, Var é o volume de ar, Vw é o volume de água, Vs é o volume
de sólidos, P é o peso total, Par é o peso de ar, Pw é o peso de água e Ps é o peso dos sólidos.
Fonte: Adaptada de Budhu (2015).

As relações entre as quantidades apresentadas na Figura 2b definem impor-


tantes propriedades fundamentais dos solos (CAPUTO, 1996). Tais proprie-
dades são constantemente utilizadas em projetos de engenharia geotécnica.
Veja no Quadro 1 os principais índices físicos que se relacionam diretamente
com as fases do solo.

Quadro 1. Índices físicos dos solos

Grandeza Formulação Sendo

Índice de vazios (e) 𝑒 = Índice de vazios


𝑉𝑣 = Volume de vazios (m3)
𝑉𝑠 = Volume de sólidos (m3)

Porosidade (n) 𝑛 = Porosidade (%)


𝑉𝑡 = Volume total (m3)

Grau de saturação (S) 𝑆 = Grau de saturação (%)


𝑉𝑤 = Volume de água (m3)

Teor de umidade (w) w = Teor de umidade (%)


𝑃𝑤 = Peso de água (kN)
𝑃𝑠 = Peso de sólidos (kN)

(Continuação)
4 Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos

(Continua)

Quadro 1. Índices físicos dos solos

Grandeza Formulação Sendo

Peso específico natural 𝛾𝑛 = Peso específico natural (kN/ m3)


(γn) 𝑃𝑡 = Peso total (kN)

Peso específico das 𝛾𝑠 = Peso específico das partículas


partículas sólidas (γs) sólidas (kN/ m3)

Peso específico apa- 𝛾𝑑 = Peso específico aparente seco (kN/


rente seco (γd) m3)

Peso específico satu- 𝛾𝑠𝑎𝑡 = Peso específico saturado (kN/ m3)


rado (γsat) 𝑃𝑠𝑎𝑡 = Peso do solo saturado (kN)

Peso específico sub- 𝛾𝑠𝑢𝑏 = Peso específico submerso (kN/ m3)


merso (γsub) 𝛾 𝑤 = Peso específico da água (kN/ m3)

Densidade relativa das 𝐺 = Densidade relativa das partículas


partículas sólidas (G) sólidas (adimensional)

Dentre esses índices físicos, três podem ser determinados de maneira


relativamente simples em laboratório: o teor de umidade, o peso específico
natural e peso específico das partículas sólidas. A partir deles, pode-se deter-
minar os outros índices indiretamente com as formulações apresentadas. Nas
próximas seções, veremos como são realizados os ensaios para determinar a
granulometria dos solos e dos seus índices físicos.

2 Ensaios de peneiramento e sedimentação


O reconhecimento do tamanho dos grãos de um solo é realizado por meio da
análise granulométrica. As especificações da análise granulométrica de solos
são estabelecidas pela ABNT NBR 7181 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE
NORMAS TÉCNICAS, 2017). O tamanho das partículas definirá o procedi-
mento a ser adotado para realizar a análise, segundo os seguintes critérios:
Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos 5

 peneiramento — para partículas maiores que 0,075 mm;


 sedimentação — para partículas menores que 0,075 mm.

Pode-se pensar, de modo geral, que peneiramento é o método utilizado para


a fração arenosa do solo e a sedimentação para a fração argilosa. A seguir,
examinaremos como cada um desses ensaios é realizado.

Ensaio de peneiramento
No ensaio de peneiramento, utiliza-se diversas peneiras de diferentes aberturas
de malha. Conforme a abertura da peneira, certo diâmetro de grão ficará
retido na malha. As diferentes peneiras são encaixadas uma em cima da outra
(Figura 3a) e agitadas até que o solo, inicialmente colocado na peneira superior,
escoe para as peneiras inferiores. O tamanho da abertura de cada peneira é
especificado por norma, conforme exibido na Figura 3b.

Figura 3. Ensaio de peneiramento: (a) sequenciamento de peneiras para o ensaio;


(b) aberturas das malhas das peneiras.
Fonte: (a) ZettaByte/Shutterstock.com; (b) Adaptada de Associação Brasileira de Normas Técnicas (2017).
6 Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos

O peso do material que passa em cada peneira é representado grafica-


mente em escala logarítmica em função da abertura das peneiras. No eixo
das abcissas (x), é representado o diâmetro das partículas, enquanto no eixo
das ordenadas (y) é representada a porcentagem de peso das partículas que
passaram ou que foram retidas em cada peneira. Assim, obtemos a famosa
curva granulométrica do solo, a partir da qual pode-se classificar o solo
quanto ao tamanho dos grãos. Vejamos a seguir um exemplo de construção
de curva granulométrica a partir do ensaio de laboratório.

Exemplo de curva granulométrica

Imaginemos que foram realizados dois ensaios para determinar a curva gra-
nulométrica de um solo, utilizando a média dos resultados para o traçado
final. Esse procedimento reduz a ocorrência de erros, uma vez não se pode
garantir que o tamanho dos grãos do solo esteja perfeitamente distribuído em
seu volume. O Quadro 2, a seguir, lista os pesos retidos e as porcentagens
retidas e acumuladas para cada peneira.

Quadro 2. Dados do exemplo de ensaio de peneiramento

Composição granulométrica — NBR 7217 — Areia


Peneiras 1ª determinação 2ª determinação
Peso Peso %
retido % retido % Retida % Retida
Nº mm (g) Retida (g) Retida média acumulada
3/8’’ 9,5
1/4’’ 6,3
4 4,8 1,30 0,13 0,90 0,08 0,11 0,11
8 2,4 5,00 0,49 4,40 0,41 0,45 0,55
16 1,2 20,50 2,00 21,10 1,95 1,98 2,53
30 0,60 130,30 12,74 134,30 12,44 12,59 15,12
50 0,30 415,90 40,65 477,30 44,19 42,42 57,54

(Continua)
Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos 7

(Continuação)

Quadro 2. Dados do exemplo de ensaio de peneiramento

Composição granulométrica — NBR 7217 — Areia


Peneiras 1ª determinação 2ª determinação
Peso Peso %
retido % retido % Retida % Retida
Nº mm (g) Retida (g) Retida média acumulada
100 0,15 340,90 33,32 321,00 29,72 31,52 89,06
Fundo 0,01 109,20 10,67 121,00 11,20 10,94 100,00
Total 1.023,10 100,00 1.080,00 100,00 100,00

Fonte: Adaptado de Notas... ([201-?]).

A partir desses dados, a curva granulométrica pode ser traçada. Utiliza-se


a abertura das peneiras no eixo das abcissas e a porcentagem retida acumulada
no eixo das ordenadas. Para o caso da peneira de 0,60 mm, por exemplo,
foram obtidos 15,12% do material retido acumulado, sendo estes os pontos
de referência para plotar o gráfico. Realizando esse procedimento para cada
peneira, pode-se traçar a curva granulométrica mostrada na Figura 4.

Figura 4. Exemplo de curva granulométrica.


Fonte: Notas... ([201-?], documento on-line).
8 Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos

A partir da curva granulométrica pode-se determinar o coeficiente de


uniformidade (CU) e o coeficiente de curvatura (CC) dos solos, conforme as
seguintes expressões:

(quando CU) < 2, temos areias uniformes)

(quando 1 < CC < 3, temos areias bem graduadas), onde:

D60 = diâmetro abaixo do qual se situam 60% das partículas em peso;


D30 = diâmetro abaixo do qual se situam 30% das partículas em peso;
D10 = diâmetro abaixo do qual se situam 10% das partículas em peso.
Tais coeficientes permitem classificar os solos conforme sua uniformidade
e graduação em (CAPUTO, 1996):

 Bem graduados — termo usado quando existem grãos com diversos


tamanhos, o que melhora o comportamento sob o ponto de vista de
engenharia. As partículas menores ocupam os vazios correspondentes
às maiores, reduzindo os vazios do solo, o que resulta numa menor
compressibilidade e numa maior resistência do material.
 Mal graduados — termo usado para material em que há predominância
ou escassez de um determinado diâmetro de partículas.
 Graduação uniforme — termo usado quando há predominância de
uma faixa de diâmetro de grãos.
 Graduação aberta — termo usado quando uma determinada faixa de
granulometria de grãos encontra-se ausente.

Veja na Figura 5a uma ilustração dessa classificação e na Figura 5b alguns


exemplos de curvas granulométricas e seus coeficientes de uniformidade e
curvatura.
Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos 9

Figura 5. Tipos de solo: (a) diferentes distribuições granulométricas; (b) curvas granulo-
métricas com avaliação dos coeficientes de uniformidade e curvatura
Fonte: (a) Caputo (1996, p. 26).

Ensaio de sedimentação
O ensaio de sedimentação (Figura 6) é utilizado para classificar os solos finos
ou solos que contêm uma considerável porção de finos. O método se baseia
na aplicação da lei de Strokes, que relaciona o diâmetro das partículas com
sua velocidade de sedimentação em um meio líquido.

Figura 6. Ensaio de sedimentação.


Fonte: Adaptada de SPLABOR (2018).
10 Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos

O ensaio, normatizado pela ABNT NBR 7181 (ASSOCIAÇÃO BRASI-


LEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2017), pode ser descrito conforme as
seguintes etapas:

1. No caso de solos arenosos, do material passado na peneira de 2,0 mm,


utilizar em torno de 120 gramas; no caso de solos argilosos ou siltosos,
70 gramas.
2. Colocar o solo em um béquer, adicionar defloculante e deixar a solução
em repouso por no mínimo 12 horas.
3. Colocar a mistura no copo de dispersão, removendo com água destilada
o material aderido ao béquer; adicionar água destilada até que o nível
fique 5 cm abaixo das bordas. Em seguida, submeter à ação do aparelho
dispersor durante 15 minutos.
4. Transferir a mistura para uma proveta de 1.000 ml e adicionar água
destilada até 1.000 cm3;
5. Tampar a boca da proveta e executar movimentos enérgicos para agitar
a solução, de modo que a boca da proveta passe de cima para baixo.
6. Após agitação, posicionar a proveta sobre a mesa e anotar o horário exato.
7. Mergulhar cuidadosamente o densímetro na proveta e realizar leituras no
tempo de 0,5 min, 1 min e 2 min. Retirar cuidadosamente o densímetro.
8. Realizar leituras nos tempos de 4 min, 8 min, 15 min, 30 min, 1 h, 2 h, 4 h,
8 h e 24 h, a partir do início da sedimentação. Mergulhar lentamente o
densímetro cerca de 15 segundos antes de cada leitura.

Após a aquisição dos dados do ensaio de sedimentação, deve-se calcular


a porcentagem de material em suspensão e o diâmetro das partículas do solo
em suspensão. Desse modo, pode-se elaborar a curva granulométrica, como
mostrado para os dados de ensaio por peneiramento. As equações apresen-
tadas na ABNT NBR 7181 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS
TÉCNICAS, 2017) são as seguintes:

onde:
Qs = porcentagem de solo em suspensão no instante de leitura do densímetro;
N = porcentagem de material que passa na peneira de 2,0 mm;
ρs = massa específica dos grãos do solo (g/cm3);
Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos 11

ρmd = massa específica do meio dispersor na temperatura de calibração do


densímetro (20°C) (g/cm3);
V = volume da proveta (1.000 cm3);
ρwc = massa específica da água na temperatura de calibração do densímetro
(20 °C), utilizando o valor de 1,000 g/cm3;
L = leitura do densímetro na suspensão;
Ld = leitura do densímetro no meio dispersor;
Mw = massa do material úmido submetido à sedimentação (em gramas);
w = umidade higroscópica do material passado na peneira de 2,0 mm.

onde:
d = diâmetro máximo das partículas (em milímetros);
µ = coeficiente de viscosidade do meio dispersor (g.s/cm 2);
z = altura de queda das partículas correspondente à leitura do densímetro
(em centímetros);
t = tempo de sedimentação (em segundos).
Embora o ensaio de sedimentação seja útil para caracterizar o solo, o
comportamento de solos finos não pode ser identificado pela análise da curva
granulométrica. Isso quer dizer que podem existir, por exemplo, dois solos
finos que apresentem curvas granulométricas muito similares, mas com com-
portamentos bastante distintos. Nesse caso, os argilo-minerais condicionam
fortemente o comportamento do solo. Para o caso de solos finos, utiliza-se
tipicamente os limites de Atterberg na identificação do comportamento do solo.

3 Ensaios para determinar índices físicos


Para obtermos os índices físicos do solo, podemos realizar em laboratório, de
maneira relativamente simples, três ensaios. Esses ensaios resultarão em três
índices físicos que darão a base para calcular os outros índices, por meio das
formulações apresentadas no Quadro 1. Os ensaios para determinar o teor de
umidade, o peso específico natural e o peso específico das partículas sólidas
são apresentados a seguir.
12 Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos

Teor de umidade
A determinação do teor de umidade de uma amostra em laboratório é realizada
mediante a secagem de cápsulas com amostra do solo analisado. Podemos
cumprir os seguintes passos para obtermos o teor de umidade do solo:

1. pesar a cápsula sem solo para obter Pcap;


2. pesar a cápsula com solo úmido para obter Pcap + Púmido;
3. pesar a mostra em estufa até a constância de peso (105°C por aproxi-
madamente 24 h);
4. pesar a cápsula com solo seco para obter Pcap + Ps.

Para obter o teor de umidade w da amostra, basta aplicar a relação:

Uma cápsula com amostra úmida pesa 35,72 gramas. Depois de secar na estufa por
24 horas, o conjunto cápsula + solo pesa 32,88 gramas. Determine o teor de umidade
desse solo. A cápsula pesa 13,58 gramas.
Resolução: utilizando a fórmula indicada obtém-se:

Peso específico natural (γn)


O ensaio para determinação do peso específico natural em laboratório é bastante
simples. Pode-se dividi-lo nas seguintes etapas:
Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos 13

1. moldar o corpo de prova cilíndrico indeformado;


2. calcular o volume do corpo de prova para obter Vcp;
3. pesar o corpo de prova em uma balança para obter Pcp.

Assim, para obter o peso específico natural do solo, também chamado de


peso específico aparente úmido, basta aplicar:

Exemplo de determinação de peso específico natural

Uma amostra cúbica indeformada de solo foi coletada e levada ao laboratório. O


laboratorista moldou um corpo de prova cilíndrico com as seguintes medidas:
D = 5,03 cm e H = 10,05 cm. Posteriormente, a amostra foi pesada, fornecendo
o valor de 394,56 gramas. O teor de umidade do material também foi medido
em laboratório, sendo de 16,5%. Calcule o peso específico aparente seco (γd).
Resolução: sabe-se que a partir de uma amostra úmida e indeformada, pode-
-se calcular o peso específico natural do solo (γn). A estratégia para determinar
o peso específico aparente seco (γd) será relacionar o peso específico natural
do solo (γn) com o teor de umidade (w) por meio da equação:

Determinamos primeiramente o volume do corpo de prova e γn:

Por fim, determinamos γd:


14 Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos

Peso específico das partículas sólidas


Para determinar o peso específico das partículas sólidas (γs), deve-se realizar o ensaio
de picnômetro. O picnômetro (Figura 7) é um aparelho que permite seu aquecimento
ou utilização de uma bomba de vácuo para retirada do ar existente no solo.

Figura 7. Picnômetro utilizado para determinar o peso específico


das partículas sólidas (γs).
Fonte: SUKJAI PHOTO/Shutterstock.com.

O ensaio é normatizado pela ABNT NBR 6458 (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA


DE NORMAS TÉCNICAS, 2017) e pode ser dividido nos seguintes passos:

1. pesa-se o picnômetro com água até a marcação de calibração;


2. pesa-se a amostra de solo seco a ser ensaiada;
3. coloca-se a amostra de solo no picnômetro e adiciona-se água destilada
até cerca de metade do seu volume, realizando a retirada do ar da amostra
com auxílio de bomba de vácuo e/ou banho-maria;
4. adiciona-se água até cerca de 1 cm abaixo do gargalo e realiza-se a
retira de ar novamente;
5. adiciona-se água até a marca de referência e pesa-se o conjunto.
Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos 15

O peso do picnômetro somente com água mais o peso dos sólidos menos
o peso do picnômetro com solo e água é o peso da água que foi substituída
pelos sólidos. Como o peso específico da água é conhecido, pode-se calcular o
volume de água que foi substituído por sólidos (ou seja, o volume de sólidos).
Com o peso e o volume, têm-se o peso específico dos sólidos. A equação para
o cálculo do peso específico das partículas sólidas é a seguinte:

onde:
m1 = massa da amostra seca utilizada no ensaio;
m2 = massa do conjunto picnômetro + solo + água;
m3 = massa do picnômetro com água até a marcação de calibração;
w = teor de umidade da amostra;
γw = massa específica da água na temperatura de ensaio.

Determine o peso específico das partículas sólidas para um ensaio de picnômetro


que resulta nos seguintes dados:
 peso do picnômetro + água = 708,07 gramas;
 peso do picnômetro + solo + água = 749,43 gramas;
 peso do solo seco = 75,54 gramas;
 massa específica da água = 0,995 g/cm3.
Resolução: utilizando a fórmula indicada, obtém-se:

Além das formulações básicas envolvendo as fases do solo, os índices físicos


também se relacionam entre si. Algumas dessas relações são apresentadas no
Quadro 3, a seguir.
16 Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos

Quadro 3. Relações entre índices físicos dos solos

Símbolo Significado Relações entre índices físicos

e Índice de vazios

n Porosidade

S Grau de
saturação

w Teor de
umidade

γn Peso especí-
fico natural

γs Peso específico
das partícu-
las sólidas

γd Peso específico
aparente seco

γsat Peso específico


saturado

γsub Peso específico


submerso

Fonte: Adaptado de Zorzan et al. (2019).

Neste capítulo, você aprendeu sobre a base de caracterização dos solos


e sua divisão trifásica, com suas milimétricas distribuições de tamanhos de
grãos. A determinação da granulometria e dos índices físicos auxiliam na
compreensão do comportamento dos solos, fator decisivo na elaboração de
projetos geotécnicos.
Ensaios de peneiramento, sedimentação e determinação dos índices físicos 17

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6458:2016: versão corrigida


2:2017: grãos de pedregulho retidos na peneira de abertura 4,8 mm: determinação
da massa específica, da massa específica aparente e da absorção de água. Rio de
Janeiro: ABNT, 2017.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 6502:1995: rochas e solos:
terminologia. Rio de Janeiro: ABNT, 1995.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR 7181:2016: versão corrigida
2:2018: solo: análise granulométrica. Rio de Janeiro: ABNT, 2018.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. ABNT NBR NM 248:2003: agregados:
determinação da composição granulométrica. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.
BUDHU, M. Soil mechanics fundamentals. Hoboken: John Wiley & Sons, 2015.
CAPUTO, H, P. Mecânica dos solos e suas aplicações. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1996.
NOTAS de aula: mecânica dos solos. Unidade 3: granulometria dos solos. [S. l.: s. n., 201-?].
Disponível em: https://www.yumpu.com/pt/document/read/36039273/granulometria-
-dos-solos-drb-assessoriacombr. Acesso em: 9 out. 2020.
SPLABOR. Densímetro para laboratório: conheça as funções. Presidente Prudente: SPLA-
BOR, 2018. Disponível em: http://www.splabor.com.br/blog/densimetros-2/densimetro-
-digital-portatil-dma-35-ex-funcoes/. Acesso em: 9 out. 2020.
ZORZAN, L. G. et al. Propriedades e índices físicos dos solos. [S. l.: s. n.], 2019. Disponível em:
http://www.dcc.ufpr.br/NoVoS1T3/wp-content/uploads/2020/01/APOSTILA-PROPRIE-
DADES-E-%C3%8DNDICES-F%C3%8DSICOS-DE-SOLOS.pdf. Acesso em: 1 set. 2020.

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