18 de janeiro de 2019
Universidade Federal da Bahia - Escola Politécnica
Departamento de Ciência e Tecnologia dos Materiais
Setor de Geotecnia
Sumário
2
Universidade Federal da Bahia - Escola Politécnica
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Setor de Geotecnia
Lista de Figuras
4
3.2 Esquema ilustrativo de resolução de um problema de fluxo estacionário
bidimensional. Modificado de Holtz e Kovacs (1981). . . . . . . . . . . . . 80
3.3 Percolação de água através da fundação de uma cortina de estacas prancha
– Fluxo confinado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
3.4 Rede de fluxo através de uma fundação permeável de uma cortina de es-
tacas prancha – Fluxo confinado. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
3.5 Canal de fluxo de uma rede com vazão constante e perda de carga ∆h,
constante entre suas equipotenciais. Considerar a largura de 1m normal
ao papel. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
3.6 Animação ilustrativa do que acontece em uma linha de fluxo desde quando
a água entra no solo até a sua penúltima linha equipotencial . . . . . . . . 85
3.7 Exemplos de rede de fluxo em fundações permeáveis – Fluxo confinado.
Modificado de Stancati (1984) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
3.8 Rede de fluxo pela fundação de uma barragem vertedouro de concreto e
diagrama de subpressões. Modificado de Bueno e Vilar (2004) . . . . . . . 88
3.9 Percolação através do maciço de barragem de terra – fluxo não confinado. 91
3.10 Solução teórica de Kozeny – Parábola básica. . . . . . . . . . . . . . . . . 92
3.11 Posições do foco em diferentes configurações de filtros em barragem de terra. 92
3.12 Animação ilustrativa dos procedimentos para construção da parábola bá-
sica de Kozeny. Modificado de Bueno e Vilar (2004) . . . . . . . . . . . . 93
3.13 Condições de entrada da linha freática no maciço. . . . . . . . . . . . . . . 93
3.14 Condições de saída da linha freática no maciço. . . . . . . . . . . . . . . . 94
3.15 Correções para posicionamento da linha freática no talude de jusante . . . 94
3.16 Correções para posicionar a linha freática para os casos de ω > 90o e ω = 90o 95
3.17 Exemplo de rede de fluxo em meio não confinado – Barragem de terra com
filtro de pé. Modificado de Stancati (1984) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
3.18 Exemplo de rede de fluxo em maciço e fundações permeáveis. Modificado
de Stancati (1984). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 96
3.19 Exemplo de rede de fluxo em meios anisotrópicos. Modificado de Stancati
(1984). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 98
3.20 Determinação da vazão para meios anisotrópicos. . . . . . . . . . . . . . . 98
3.21 Transferência das linhas de fluxo entre meios de diferentes permeabilidades
(k1 > k2 ). Modificado de Vargas (1977) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 100
3.22 Transferência das linhas de fluxo entre meios de diferentes permeabilidades
(k1 < k2 ). Modificado de Bueno e Vilar (2004) . . . . . . . . . . . . . . . 102
4.1 Envoltória de ruptura típica obtida para um solo e o seu ajuste à proposta
de Mohr – Coulomb. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
4.2 Elemento de solo sujeito a um estado plano de tensões. . . . . . . . . . . . 106
4.3 Construção de um círculo de Mohr para o caso de um estado plano de
tensões. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
4.4 Ilustração do conceito de Polo do círculo de Mohr. . . . . . . . . . . . . . 109
4.5 Ajuste da envoltória de ruptura do solo a círculos de Mohr obtidos para a
sua condição de ruptura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 109
4.6 Definição do plano de ruptura em um ponto do solo. . . . . . . . . . . . . 110
5
4.7 Esquema adotado para a realização do ensaio de cisalhamento direto. . . . 113
4.8 Figura ilustrativa do ensaio de cisalhamento direto. . . . . . . . . . . . . . 114
4.9 Foto ilustrativa de prensa de cisalhamento direto . . . . . . . . . . . . . . 114
4.10 Resultado típico de um ensaio de cisalhamento direto realizado em areias
fofa e compacta. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 115
4.11 Foto ilustrativa de talhagem de CP para a execução de ensaio de cisalha-
mento direto considerando a direção dos planos de acamamento . . . . . . 116
4.12 Câmara para a realização do ensaio de compressão triaxial. . . . . . . . . 117
4.13 Desenho interativo da câmara triaxial. Clique para realizar diferentes
visualizações 3D. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
4.14 Foto ilustrativa de prensa triaxial convencional. Controle de deformações. 119
4.15 Diferentes formas de se definir ruptura para o caso de um ensaio triaxial
do tipo CU. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
4.16 Envoltórias de resistência obtidas a partir de ensaios triaxiais CU, em
termos de tensões totais e tensões efetivas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
4.17 Variações volumétricas de corpos de prova com diferentes índice de va-
zios iniciais, quando ensaiados sob diferentes valores de tensão confinante.
Modificado de Holtz e Kovacs (1981) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123
4.18 Resultados típicos de um ensaio de cisalhamento direto realizado em areia
fofa e compacta. Definição do índice de vazios crítico. Modificado de Das
e Sobhan (2014) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 124
4.19 Variação do ângulo de atrito das areias em função da compacidade relativa,
textura e distribuição granulométrica. Modificado de Briaud (2013) . . . . 126
4.20 Envoltória de resistência drenada de um solo normalmente adensado. . . . 129
4.21 Ganho de coesão do solo devido ao seu pré-adensamento. . . . . . . . . . . 130
4.22 Resultados típicos obtidos a partir de ensaios triaxiais do tipo CU, reali-
zados em solos normalmente adensados e pré-adensados. . . . . . . . . . . 131
4.23 Envoltórias de ruptura total e efetiva obtidas em ensaios do tipo CU,
realizados em amostras normalmente adensadas. . . . . . . . . . . . . . . . 132
4.24 Envoltórias de ruptura total e efetiva obtidas em ensaios do tipo CU,
realizados em amostras pré-adensadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
4.25 Resultados de ensaios típicos de um ensaio UU. . . . . . . . . . . . . . . . 133
4.26 Definição dos parâmetros s e t. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 135
4.27 Trajetória de tensões seguida em um ensaio triaxial drenado e envoltórias
obtidas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 136
4.28 Trajetórias de tensões típicas obtidas em ensaios CU, em amostras nor-
malmente adensadas e pré-adensadas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 138
4.29 Variação das tensões de cisalhamento, da pressão neutra, da resistência ao
cisalhamento e do fator de segurança do solo, em decorrência da construção
de um aterro em solo mole. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 139
4.30 Variação das tensões de cisalhamento, da pressão neutra, da resistência
ao cisalhamento e do fator de segurança do solo, em decorrência de uma
escavação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 140
6
5.1 Esquema ilustrativo da mobilização da resistência ao cisalhamento do solo
em direção às situações de empuxos de terra ativo e passivo. . . . . . . . . 144
5.2 Tensões horizontais nos elementos A e B da Fig. 5.1 . . . . . . . . . . . . 144
5.3 Círculos de Mohr inicial (condição de repouso) e finais para os elementos
A (empuxo ativo) e B (empuxo passivo). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 145
5.4 Aplicação do método de Rankine para cálculo do empuxo ativo sobre es-
truturas de contenção. Solo não coesivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 148
5.5 Aplicação do método de Rankine para cálculo do empuxo ativo sobre es-
truturas de contenção. Solo coesivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
5.6 Efeito da água no empuxo do solo sobre estruturas de contenção. . . . . . 149
5.7 a) - Método de Coulomb para o caso de empuxo ativo. b) – Convenção de
sinais para δ para os casos ativo e passivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 151
5.8 Polígonos de força atuantes em uma cunha de solo para o caso de um solo
não coesivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 152
5.9 Ilustração de uso do método gráfico para o cálculo de Ea . . . . . . . . . . 153
5.10 Polígonos de força atuantes em uma cunha de solo para o caso de um solo
coesivo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 155
5.11 Diferentes formas de distribuição das tensões provenientes dos empuxos
de terra sobre as estruturas de fundação. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 157
5.12 Tipos mais usuais de estruturas de contenção por gravidade. . . . . . . . . 159
5.13 Esquema de execução de uma parede diafragma. Modificado de Gaioto
(1993). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 161
5.14 Esforços em um muro de arrimo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 162
5.15 Tensões desenvolvidas no solo da base do muro de arrimo. . . . . . . . . . 164
5.16 Verificação das tensões internas para o caso de muros de arrimo em gabiões.165
5.17 Sugestões de medidas para pre-dimensionamento de muros de arrimo. . . . 166
5.18 Ilustrações típicas de estruturas de drenagem em muros de arrimo. . . . . 167
5.19 Hipóteses para o dimensionamento de cortinas de estacas-pranchas sem
escoramento. Solo não coesivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 168
5.20 Hipóteses para o dimensionamento de cortinas de estacas-pranchas sem
ancoramento. Solo coesivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 169
5.21 Hipóteses para o dimensionamento de cortinas de estacas-pranchas com
ancoramento. Solo não coesivo. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170
5.22 Escoramento de escavações. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 170
5.23 Escoramento com estaca e pranchões de madeira. . . . . . . . . . . . . . . 171
5.24 Distribuição das pressões laterais resultantes das deformações de uma vala
escorada. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
5.25 Diagrama de esforços laterais para dimensionamento dos elementos de es-
cavações escoradas. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
5.26 Processo simplificado para determinação dos esforços nas estroncas. . . . . 174
5.27 Estabilidade do fundo da escavação. Modificado de Caputo (1988) . . . . 175
5.28 Fatores de capacidade de carga segundo skempton. Modificado de Caputo
(1988) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 176
6.1 Alguns tipos de superfícies de ruptura. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 179
7
6.2 Talude infinito com percolação de água. . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 182
6.3 Método do círculo de atrito. Modificado de Caputo (1988) . . . . . . . . . 184
6.4 Ábaco de para o cálculo da estabilidade de taludes . . . . . . . . . . . . . 187
6.5 Ábaco de para o cálculo da estabilidade de taludes para o caso de solos
puramente coesivos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 187
6.6 Ábaco para o cálculo da estabilidade de taludes homogêneos com e sem a
presença de água. Modificado de Michalowski (2002). . . . . . . . . . . . . 188
6.7 Método das fatias: superfície de ruptura e esforços envolvidos. . . . . . . . 190
6.8 Busca da superfície crítica (F Smin ). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 192
6.9 Representação das forças agindo numa superfície de ruptura composta.
Modificado de GEO-SLOPE International Ltd. (2010). . . . . . . . . . . . 194
6.10 Obtenção do FS fazendo-se variar o λ. Modificado de GEO-SLOPE In-
ternational Ltd. (2010). . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 196
6.11 Funções de inclinação de força interfatias típicas. . . . . . . . . . . . . . . 197
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Lista de Tabelas
1.1 Introdução
Antes de iniciarmos uma exposição mais ou menos detalhada das bases teóricas que se
dispõem para tratar dos problemas de fluxo de água no solo, é conveniente esclarecer as
razões pelas quais a resolução de tais problemas é de vital importância para o engenheiro
geotécnico. Ao se mover no interior de um maciço de solo, a água exerce em suas
partículas sólidas forças que influenciam no estado de tensões do maciço. Os valores de
pressão neutra e com isto os valores de tensão efetiva em cada ponto do solo são alterados
em decorrência de alterações no regime de fluxo. Na zona não saturada, mudanças nos
valores de umidade do solo irão alterar de forma significativa os seus valores de resistência
ao cisalhamento. De uma forma geral, são os seguintes os problemas onde mais se aplicam
os conceitos de fluxo de água nos solos:
• Estimativa da vazão de água (perda de água do reservatório da barragem, por
exemplo), através da zona de fluxo.
• Instalação de poços de bombeamento e rebaixamento do lençol freático
• Problemas de colapso e expansão em solos não saturados
• Dimensionamento de sistemas de drenagem
• Dimensionamento de liners em sistemas de contenção de rejeitos
• Previsão de recalques diferidos no tempo (adensamento)
• Análise da influência do fluxo de água sobre a estabilidade geral da massa de solo
(estabilidade de taludes, capacidade de carga).
• Análise da possibilidades da água de infiltração produzir erosão, araste de material
sólido no interior do maciço, piping, etc.
Como se pode observar, o conhecimento das leis que regem os fenômenos de fluxo de água
em solos é aplicado nas mais diversas situações da engenharia. Um caso de particular
importância na engenharia geotécnica, o qual aplica diretamente os conceitos de fluxo
de água em solos, é o fenômeno de adensamento, característico de solos moles, de baixa
permeabilidade. Por conta dos baixos valores de permeabilidade destes solos, os recalques
totais a serem apresentados por eles, em decorrência dos carregamentos impostos, não
ocorrem de imediato, se apresentando diferidos no tempo. A estimativa das taxas de
recalque do solo com tempo, bem como a previsão do tempo requerido para que o processo
de adensamento seja virtualmente esgotado, são questões frequentemente tratadas pelo
engenheiro geotécnico, o qual terá que utilizar de seus conhecimentos acerca do fenômeno
de fluxo de água em solos, para respondê-las. O capítulo 2 deste volume trata do tema
compressibilidade/adensamento.
A influência do fluxo de água na estabilidade das massas de solo se dá pelo fato de que
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quando há fluxo no solo, a pressão a qual água está sujeita é de natureza hidrodinâmica e
este fato produz várias repercussões importantes. A ocorrência de fluxo de água provoca
forças de arraste nas partículas sólidas que tendem a variar o valor da tensão efetiva em
relação ao que seria obtido no caso de uma situação estática. Por exemplo, se a água flui
em sentido ascendente, há uma força de arraste sobre as partículas sólidas que tende a
diminuir o valor da tensão efetiva do solo. No caso de fluxo descendente obtém-se o efeito
inverso. Como já vimos anteriormente, a tensão efetiva é a responsável pelas respostas
do solo, seja em termos de resistência ao cisalhamento, seja em termos de deformações,
o que vem a ilustrar ainda mais a importância dos fenômenos de fluxo de água nos solos.
Conforme apresentado no volume 1 deste trabalho, a água no solo pode se apresentar de
diferentes formas, dentre as quais podemos citar a água adsorvida, a água capilar e a água
livre. A água adsorvida está ligada às superfícies das partículas do solo por meio de forças
elétricas, não se movendo no interior da massa porosa e portanto não participando dos
problemas de fluxo. O fluxo de água capilar apresenta grande importância em algumas
questões da mecânica do solo, tais como o umedecimento de um pavimento por fluxo
ascendente. Contudo, na maioria dos problemas de fluxo em solos, os efeitos da parcela
de fluxo devido à capilaridade são de pequena importância e podem ser desprezados,
principalmente se considerarmos as complicações teóricas adicionais que surgiriam se
estes fossem levados em conta. De maior interesse para nós é a água livre ou gravitacional,
que é aquela que sob o efeito da gravidade terrestre ou de outros gradientes de energia
move-se no interior do maciço terroso sem outro obstáculo senão aqueles impostos por
sua viscosidade e pela estrutura do solo.
Em uma massa de solo a água gravitacional está separada da água capilar pelo nível do
lençol freático. Nem sempre é fácil se definir ou localizar o nível do lençol freático. Na
prática, ao se efetuar uma escavação, o espelho de água que se forma após decorrido tempo
suficiente para o equilíbrio do fluxo, define o lençol freático. Tal superfície de separação,
porém, provavelmente não existe no solo adjacente, já que devido a natureza do solo em
questão deve haver solo totalmente saturado acima do espelho de água formado (ascensão
capilar). O estudo dos fenômenos de fluxo de água em solos é realizado apoiando-se em
três conceitos básicos: conservação da energia (Bernoulli), permeabilidade dos solos (lei
de Darcy) e conservação da massa. Estes conceitos serão apresentados de forma resumida
nos próximos itens deste capítulo. Após a exposição dos mesmos será apresentada uma
formulação ampla, aplicável a todos os casos de fluxo de água em solos. Esta formulação
é então simplificada, de modo a considerar somente os casos de fluxo de água em solos
saturados, homogêneos e isotrópicos. Obedecendo-se estas restrições, são apresentadas as
equações utilizadas para os casos de fluxo bidirecional estacionário e fluxo unidirecional
transiente (teoria do adensamento de Terzaghi).
u v2
h(m) = z + + (1.1)
γw 2·g
Onde:
h é a energia total do fluido
z é a cota do ponto considerado com relação a um dado referencial padrão (DATUM)
u é o valor da pressão neutra
v é o módulo da velocidade de fluxo da partícula de água e g é o valor da aceleração da
gravidade terrestre
Como se pode observar desta equação, este modo de expressar o teorema de Bernoulli con-
duz à representação da energia específica do fluido em termos de cargas hidráulicas, pos-
suindo a unidade de distância (m, cm, mm, etc.). Notar que a relação Joule/Newton
possui unidade de comprimento. A representação da energia total de um fluido em
termos de cotas equivalentes é preferível quando do estudo de problemas envolvendo fluxo
de água em solos ou mesmo em problemas de hidráulica.
Para a grande maioria dos problemas envolvendo fluxo de água em solos, a parcela
da energia total da água no solo referente à energia cinética, termo v 2 /2g, pode ser
desprezada. Isto faz com que a Eq. 1.1 possa ser escrita de uma forma mais simplificada:
u
h(m) = z + (1.2)
γw
z
Nível do lençol freático
u = wzw, onde z w é a
Zw distância vertical do ponto
considerado até o nível do
lençol freático.
DATUM (z = 0)
h = u/w +z
h u
z
Figura 1.1: Variação das cargas hidráulicas de posição, pneumática e total ao longo
de um reservatório de água em condições estáticas.
Conforme relatado, o fluxo de água provoca forças de arraste nas partículas sólidas e
altera os valores de pressão neutra da água. No esquema apresentado na Fig. 1.2a, a
água se eleva até uma certa cota h1 = h2 nos dois lados do reservatório. Se no topo dos
dois lados do reservatório, a água se encontra em contato com o ar atmosférico, u=0,
o valor do potencial total é obtido pela diferença da cota do topo do reservatório em
relação à cota do plano de referência. Nesse caso, o potencial total é o mesmo nos dois
lados do reservatório, assim como as forças resultantes da pressão atuando em cada lado
do corpo de prova (CP), F~1 e F~2 , e, portanto, não há fluxo. Considerando-se agora o
caso Fig. 1.2b, tem-se no lado esquerdo (ponto de aplicação de F~1 ) maior potencial total
que no ponto de aplicação de F~2 , no lado direito. Dessa forma, a água está fluindo da
esquerda para direita, ou seja, de F~1 para F~2 . Ocorrendo movimento de água através de
um solo, ocorre uma transferência de energia da água para as partículas do solo, devido
ao atrito viscoso que se desenvolve. A energia transferida é medida pela perda de carga
e a força correspondente a essa energia é chamada de força de percolação, F~p . A força
de percolação atua nas partículas tendendo a carreá-las na direção do fluxo, ou seja, é
uma força efetiva de arraste hidráulico que atua na direção do fluxo de água. Notar que
é sempre assumido que toda a perda de carga ocorre no trajeto da água no interior do
solo e não nos reservatórios ou tubulações que aportam a água ao CP, hipótese bastante
razoável, dado ao diâmetro reduzido dos vazios do solo em comparação com o diâmetro
da tubulações utilizadas nos ensaios.
Na Fig. 1.2b, pode-se observar que a amostra de solo está submetida à força F~1 = γw ·h1 ·A,
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h=0 h
h1 h1
h2 h2
A z
Fp=0 A
F1 F2 F1 Fp F2
L L ĵ
î î x
a) b)
graças à carga h1 atuando do lado esquerdo do reservatório e que do lado direito, atua a
força F~2 = γw · h2 · A. Em um solo homogêneo, a força resultante, F~p , dada por F~1 + F~2 ,
se dissipará uniformemente em todo o volume de solo (A · L) e será dada por:
−∆h
i= (1.4)
∆L
o gradiente de energia médio de energia na direção de fluxo (não confundir com o versor
î), o valor (módulo) de F~p poderá também ser dado por:
|F~p | = Fp = γw · V · i (1.5)
onde V é o volume do corpo de prova. Isto permite o cálculo das forças de percolação
da forma mais usualmente empregada em geotecnia, como força por unidade de volume,
γf p . O uso das forças de percolação de forma similar ao peso específico do solo traz
vantagens na hora do cálculo das tensões geostáticas em regiões sujeitas ao fluxo de
água. Cabe observar contudo, que, enquanto os nossos pesos específicos usuais (γ e γw ,
dentre outros) apontam sempre na direção do centro de gravidade terrestre, compondo
o que é denominado normalmente de direção vertical, a direção e sentido de γf p vai
depender do fluxo de água no solo, sendo este vetor sempre paralelo ao vetor velocidade
de fluxo, ~v .
γf p = γw · i (1.6)
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A análise do equilíbrio de uma massa de solo sujeita à percolação da água admite dois
procedimentos distintos:
• Peso total (saturado) do solo + forças de superfície devido às pressões da água
intersticial;
• Peso efetivo (submerso) do solo + forças de percolação.
O primeiro procedimento envolve a consideração do equilíbrio da massa de solo como um
todo (sólido + água), ao passo que o segundo analisa as condições de equilíbrio apenas
do esqueleto sólido do solo. Ambos são igualmente válidos e a aplicação de um ou outro
depende do problema a ser analisado, em termos de conveniência.
É interessante ressaltar, no segundo procedimento, as condições particulares de fluxos as-
cendentes e descendentes de água. Uma vez que as forças de percolação atuam na direção
do fluxo, ocorre um acréscimo de tensões efetivas no caso de fluxo vertical descendente e
uma redução das pressões efetivas no caso de fluxo ascendente, os seja (γ 0 = γsub ± γf p ).
Para o caso de fluxo vertical descendente temos γ 0 = γsub + γf p enquanto que em caso
contrário: γ 0 = γsub − γf p .
u = γw · (∆zw + L) + γw · ∆h (1.8)
-Δzh
Δzzw
Solo sat.
L
indo-se contra o fluxo o potencial da água sempre aumenta, de forma que há um ganho
de energia da água, o qual é refletido em um aumento nos valores de u. Levando-se em
conta a Eq. 1.4, pode-se escrever ainda:
u = γw · (∆zw + L) + γw · i · L (1.9)
De modo que chega-se à seguinte equação para a tensão efetiva do solo em caso de fluxo
ascendente:
Denomina-se de gradiente de energia crítico, icr , o valor do gradiente capaz de fazer com
que a tensão efetiva do solo se anule. Analisando-se a Eq. 1.10, esta condição é atingida
quando:
γsub
icr = (1.11)
γw
No caso de solos arenosos (sem coesão), a resistência está vinculada somente às pressões
efetivas atuantes (τ = σ 0 · tanφ). Atingida a condição de fluxo para icr , resulta uma
perda total da resistência ao cisalhamento da areia, que passa a se comportar como um
líquido em ebulição. Este fenômeno é denominado areia movediça. Nota-se, portanto,
que a areia movediça não constitui um tipo especial de solo, mas simplesmente, uma
areia através da qual ocorre um fluxo ascendente de água sob um gradiente hidráulico
igual ou maior que icr .
A ocorrência de areia movediça na natureza é rara, mas o homem pode criar esta situação
nas suas obras, com maior frequência. A Fig. 1.4 apresenta duas situações em que este
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fenômeno pode ocorrer. No caso (a) tem-se uma barragem construída sobre uma camada
de areia fina sobreposta a uma camada de areia grossa. A água do reservatório de
montante percolará, preferencialmente, pela areia grossa e sairá a jusante através da
areia fina com fluxo ascendente. No caso (b) tem-se uma escavação em areia saturada e
rebaixamento do nível de água para permitir a execução dos trabalhos.
Um outro tipo de ruptura hidráulica é aquele que resulta do carreamento de partículas
do solo por forças de percolação elevadas, sendo o fenômeno designado, comumente, pelo
termo em inglês piping (entubamento). Este fenômeno pode ocorrer, por exemplo, na
saída livre da água no talude de jusante de uma barragem de terra, onde as tensões
axiais sendo pequenas, resultam em valores baixos das forças de atrito inter partículas
que, assim, tornam-se passíveis de serem arrastadas pelas forças de percolação. Iniciado
o processo, com o carreamento de partículas desta zona do maciço, desenvolve-se um
mecanismo de erosão tubular regressiva, que pode levar ao colapso completo da estrutura.
Devido aos graves problemas que podem resultar da ocorrência de forças de percolação
elevadas, torna-se imprescindível o controle destas forças em uma obra de terra. Este
controle pode ser feito, basicamente, por dois procedimentos distintos, sendo usual a ado-
ção conjunta de ambos em um mesmo projeto, que são: redução da vazão de percolação
e adoção de dispositivos de drenagem.
A Fig. 1.5 sintetiza as soluções clássicas para uma barragem de terra, que incorporam
os seguintes dispositivos para a redução da vazão de percolação: construção de tapetes
impermeabilizante a montante (1); construção de revestimentos de proteção do talude
de montante (2); zoneamento do maciço, com núcleo constituído de material de baixa
permeabilidade (3); construção de trincheira de vedação (cut off ) , escavada na fundação
e preenchida com material de baixa permeabilidade (4). Adicionalmente, em termos
de dispositivos de drenagem, podem ser adotadas as seguintes soluções: execução de
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Filtro
2
3 5 7
Enrocamento
1 9
6
8
4 9
filtros verticais e inclinados (5); construção de tapetes filtrantes (filtros horizontais), (6);
zoneamento do maciço com material mais permeável na zona de jusante (7); execução de
drenos verticais ou poços de alívio (8); construção de enrocamento de pé (9).
Devido à percolação de água de um solo relativamente fino para um solo mais granular
(areias e pedregulhos), existe a possibilidade de carreamento das partículas finas para o
solo granular, com crescente obstrução dos poros e consequente redução da drenagem.
Tal condição ocorre, por exemplo, entre o material do maciço de uma barragem de terra
e o enrocamento executado no pé do talude de jusante (ver Fig. 1.5). Há portanto,
necessidade de evitar estes danos mediante a colocação de filtros de proteção entre o solo
fino passível de erosão e o enrocamento de pé, os quais devem satisfazer duas condições
básicas:
• Os vazios (poros) do material usado como filtro devem ser suficientemente pequenos
para impedir o carreamento das partículas do solo adjacente a ser protegido
• Os vazios (poros) do material usado como filtro devem ser suficientemente gran-
des para garantir uma elevada permeabilidade e evitar o desenvolvimento de altas
pressões hidrostáticas
A escolha do material de filtro, baseada nestes requisitos básicos, é feita a partir da curva
granulométrica do solo a ser protegido. Terzaghi propôs as seguintes relações:
sendo, f, o índice relativo ao material de filtro e, s, o índice relativo ao solo a ser pro-
tegido e ainda, D(%), o diâmetro correspondente à porcentagem que passa, ou seja,
semelhante as definições de d10 e d60 da curva granulométrica. Na Fig. 1.6 tem-se um
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z
h (m)
h1
-h
h1
v L
h2 i=-∂h/∂z
h2
v·D
R− (1.14)
ν
Onde: v é a velocidade de fluxo do fluido, D é o diâmetro do tubo e ν é a viscosidade
cinemática do fluido (expressa nas unidades L2 /T ).
É difícil se estudar as condições de fluxo para cada poro, de maneira individual dentro
do solo. Somente as condições médias existentes em cada seção transversal de solo po-
dem ser estudadas. Pode-se dizer, contudo, que para os tamanhos de poros geralmente
encontrados nos solos, o fluxo através dos mesmos é invariavelmente laminar. Somente
para o caso de solos mais grossos, como no caso dos pedregulhos, escoamento turbulento
pode ocorrer, ainda assim requerendo para isto altos valores de gradientes hidráulicos.
O engenheiro Francês H. Darcy (DARCY, 1856) realizou um experimento, o qual era
constituído de um arranjo similar àquele apresentado na Fig. 1.7, para estudar as pro-
priedades de fluxo de água através de uma camada de filtro de areia. Este experimento,
realizado em 1856, se tornou clássico para as áreas de hidráulica e geotecnia e deu origem
a uma lei que correlaciona a taxa de perda de energia da água (gradiente hidráulico) no
solo com a sua velocidade de escoamento (lei de Darcy).
No experimento apresentado na Fig. 1.7, os níveis de água h1 e h2 são mantidos constantes
e o fluxo de água ocorre no sentido descendente através do corpo de prova. Medindo
o valor da taxa de fluxo que passa através da amostra (vazão de água), representada
pelo símbolo q, para vários valores de comprimento da amostra (∆L) e de diferença de
potencial total (∆h), Darcy descobriu que a vazão q era proporcional a razão ∆h/∆L (ou
gradiente hidráulico médio da água através da amostra, ī). Isto é ilustrado na Eq. 1.15
apresentada adiante.
∆h
q = −k · · A = k · ī · A (1.15)
∆L
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∆h
v = −k · = k · ī (1.16)
∆L
A velocidade de descarga é diferente da velocidade real da água nos vazios do solo. Isto
ocorre porque a área efetiva que a água tem para percolar na seção de solo não é dada
pela área transversal total da amostra A, mas sim pela sua área transversal de vazios.
Aplicando-se as noções desenvolvidas em índices físicos pode-se admitir que a relação
entre a área transversal de vazios e a área transversal total seja dada pela porosidade
do solo n. Deste modo, a velocidade de percolação "real"da água no solo é dada pela
Eq. 1.17. Como os valores possíveis para a porosidade do solo estão compreendidos entre
0 e 1, percebe-se que a velocidade de percolação real da água no solo é maior do que a
velocidade de descarga. Apesar disto, devido a sua aplicação prática mais imediata, a
velocidade de descarga é a velocidade empregada na resolução de problemas envolvendo
fluxo de água em solos, em conjunto com a área da seção, A.
v
vreal = (1.17)
n
A lei de Darcy para o escoamento da água no solo é válida somente para os casos de fluxo
laminar. Pesquisas efetuadas posteriormente a postulação da lei de Darcy demostraram
que o valor limite do número de Reynolds para o qual regime de fluxo muda de laminar
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para turbulento no solo se situa entre 1 e 2. Esta enorme diferença entre o número de
Reynolds crítico para escoamentos em condutos forçados e no solo deve-se ao fato de que
no solo os canalículos ligando os diversos poros em seu interior são irregulares, tortuosos
e mesmo eventualmente não contínuos.
Poucas propriedades em engenharia (senão nenhuma) podem variar em tão largas faixas
para um “mesmo material” quanto o coeficiente de permeabilidade dos solos. A Fig. 1.8
ilustra valores de permeabilidade típicos para diversos tipos de solo. Conforme se pode
observar da Fig. 1.8, a depender do tipo de solo podemos encontrar valores de coeficientes
de permeabilidade da ordem de 10 cm/s (Pedras de mão, enrocamentos) até valores tão
pequenos quanto 1×10−10 cm/s. É interessante notar que os solos finos, embora possuam
índices de vazios geralmente superiores àqueles alcançados pelos solos grossos, apresentam
valores de coeficiente de permeabilidade bastante inferiores a estes.
Valores típicos:
cm/s
k = C · d210 (1.18)
Para k expresso em cm/s e o diâmetro efetivo expresso em cm, temos 90 < C < 120
sendo o valor de C = 100 (cm−1 · s−1 ) muito usado.
A proporcionalidade entre k e d210 , adotada na fórmula de Hazen, tem respaldo em de-
duções de fluxo de água através de tubos capilares. Recomenda-se que o coeficiente de
uniformidade do solo, Cu seja menor que 5 (solos uniformes), para a utilização desta
equação. Deve se notar que na equação proposta por Hazen o diâmetro equivalente dos
vazios das areias, e, portanto, a sua permeabilidade, é comandada pela sua fração mais
fina, pouco interferindo a sua fração granulométrica mais grossa. Duas outras equa-
ções que se aplicam à avaliação da permeabilidade em meios porosos são as de Taylor
(TAYLOR, 1948), Eq. 1.19, e a de Kozeny (1927) (Eq. 1.20):
γw e3
k = C · D2 · (1.19)
µ 1+e
γw e3 1
k= · · (1.20)
µ 1 + e τ · S2
Onde:
e = índice de vazios do solo
γw = peso específico do fluido
µ = viscosidade do fluido
τ = fator que depende da forma dos poros e da tortuosidade da trajetória da linha de
fluxo
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S = superfície específica
D = diâmetro de uma esfera equivalente ao tamanho dos grãos do solo
C = fator de forma.
γ w · a v · Cv
k= (1.21)
1 + eo
São os ensaios de laboratório mais utilizados. A seguir são apresentados, de modo sucinto,
os métodos empregados na realização de cada tipo de ensaio.
Ensaio de permeabilidade à Carga Constante
O esquema montado para a realização deste ensaio se assemelha em muito com aquele
elaborado por Darcy para a realização de sua experiência histórica (Fig. 1.7). Este ensaio
consta de dois reservatórios onde os níveis d’água são mantidos constantes e com diferença
de altura (∆H), como demonstra a Fig. 1.7. Medindo-se a vazão q e conhecendo-se as
dimensões do corpo de prova (comprimento ∆L e a área da seção transversal A), calcula-
se o valor da permeabilidade, k, através da Eq. 1.22. Este ensaio é normatizado no Brasil
pela ABNT-NBR-13292 (1995).
∆vol · ∆L
k= (1.22)
∆h · A · ∆t
Onde:
∆vol: quantidade de água que passou pelo corpo de prova no intervalo de tempo ∆t
∆L: comprimento da amostra
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∂(∆h) ∂hi
q =a· = −a · =v·A (1.23)
∂t ∂t
Levando-se em conta que v é dado pela Eq. 1.16 e substituindo-se na Eq. 1.23 tem-se:
h2 t2
k·A
Z Z
dhi
−a = dt (1.24)
h1 hi ∆L t1
Donde se obtém:
h1 k·A
− a · ln = · ∆t (1.25)
h2 ∆L
a · ∆L h1
k= · ln (1.26)
A · ∆t h2
-Δh = hi – hf = f(t)
ΔL S
a · ∆L h1
k = 2, 3 · · log10 (1.27)
A · ∆t h2
Onde:
a: área interna do tubo de carga (bureta). Notar que para acelerar o ensaio a « A
A: seção transversal da amostra
∆L: altura do corpo de prova
h1 : distância inicial do nível d’água na bureta para o nível de saída de água do reservatório
inferior h2 : mesmo que h1 , para o tempo t2
∆t: intervalo de tempo para o nível d’água passar de h1 para h2
Y1 Y2
i=-dy/dx
Terreno impermeável
P1 P2
X2
X1
r1 ∆h
k= · (1.29)
4 · h ∆t
Os ensaios de campo para a determinação do coeficiente de permeabilidade do solo, se
realizados com perícia, tendem a fornecer valores de coeficiente de permeabilidade mais
realísticos, já que são realizados aproximadamente na mesma escala do problema de enge-
nharia e levam em conta os eventuais “defeitos” do maciço de solo (fraturas, anisotropia
do material, não homogeneidade, etc.). Os ensaios de laboratório, embora realizados
com maior controle das condições de contorno do problema, utilizam em geral amostras
de solo de pequenas dimensões, que deixam a desejar quanto a representatividade do
maciço. Maiores detalhes sobre a realização de ensaios de permeabilidade em campo são
obtidos em Lima (1983) e ABGE (2013).
Um ensaio de campo para a determinação da permeabilidade que permite um bom grau
de controle das condições de contorno é o realizado com o permeâmetro de Guelph (REY-
NOLDS; ELRICK, 1985). O permeâmetro de Guelph, Fig. 1.12 consiste de um disposi-
tivo, desenvolvido por Reynolds e Elrick (1985), para a execução de ensaios de infiltração
de campo, a carga constante, o qual utiliza o princípio do tubo de Mariotte para a aplica-
ção das cargas hidráulicas. A Eq. 1.30 é utilizada para derivar as expressões utilizadas no
cálculo da permeabilidade kf s pelo método simplificado (ELRICK; REYNOLDS; TAN,
1989). A figura 8 ilustra o princípio de funcionamento do equipamento. O tubo de Ma-
riotte é responsável por manter a pressão ao nível da ponteira sempre igual à pressão
atmosférica, regulando o valor de H. A taxa de infiltração de água no solo, Q, é obtida
a partir da taxa de variação do nível de água no reservatório interno (utilizado para o
caso de solos finos) ou no reservatório externo (solos grossos). O valor do diâmetro do
furo, assim como a regularidade da geometria, são condicionados pelas ferramentas de
escavação. A duração dos ensaios varia normalmente entre 1/2 e 2 horas.
C ·Q
kf s = (1.30)
2·π· H2 + π · a2 · C + 2 · π · H/α
Onde Q [L3 T −1 ] é a vazão de entrada no solo; H [L] é a carga hidráulica no furo à trado;
C é o fator de forma [ - ] apresentado na Fig. 1.13; a [L] é o raio do furo e kf s [LT −1 ] é
a permeabilidade do solo.
A Tabela 1.1 é utilizada para estimativa dos valores de α em função do tipo de solo.
Os valores de kf s obtidos com o Guelph tendem a ser um pouco superiores aos valores
de k obtidos em ensaios de laboratório pois no caso do permeâmetro Guelph o fluxo
ocorre tanto no sentido horizontal quanto vertical, enquanto que em laboratório o fluxo
é normalmente vertical e os solos sedimentares ou compactados apresentam anisotropia
de permeabilidade (maiores valores de k obtidos na direção do acamamento). Carvalho
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Nível do terreno
Raio, r
ho
V
q=v·a
a=4·r2
Figura 1.11: Figura ilustrativa de ensaio de perda de carga => Solos finos
Além de ser uma das propriedades do solo com maior faixa de variação de valores, o co-
eficiente de permeabilidade de um solo é uma função de diversos fatores, dentre os quais
podemos citar a estrutura, o grau de saturação, o índice de vazios, etc. Quanto mais
poroso é o solo maior será a sua permeabilidade. Essa correlação pode ser visualizada
através das equações Eq. 1.19 e Eq. 1.20. Deve-se salientar, contudo, que a permeabili-
dade depende não só da quantidade de vazios do solo mas também da disposição relativa
dos grãos.
Amostras de um mesmo solo, com mesmo índice de vazios, tenderão a apresentar per-
meabilidades diferentes em função da estrutura. A amostra no estado disperso terá uma
permeabilidade menor que a amostra de estrutura floculada. Este fator é marcante no
caso de solos compactados que, geralmente, quando compactados no ramo seco, apre-
sentam uma disposição de partículas (estrutura floculada) que permite maior passagem
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Figura 1.13: Curvas para o fator de forma C (ELRICK; REYNOLDS; TAN, 1989;
REYNOLDS; ELRICK, 1985)
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Tabela 1.1: Valores de α propostos por Elrick, Reynolds e Tan (1989) em função
do tipo do solo ensaiado.
α Tipo de solo
0,01 argilas compactadas (aterros, liners)
solos de textura fina (argila não
0,04
estruturada)
0,12 argilas estruturadas até areias finas
areias grossas e solos estruturados com
0,36
fissuras e macro poros
de água do que quando compactados mais úmido (estrutura dispersa), ainda que com
o mesmo índice de vazios. Solos sedimentares, os quais por sua gênese possuem uma
estrutura estratificada, geralmente apresentam fortes diferenças entre os valores de per-
meabilidade obtidos fazendo-se percolar água nas direções vertical e horizontal, em uma
mesma amostra (anisotropia surgida em decorrência da estrutura particular destes so-
los). Quanto maior o grau de saturação de um solo maior será sua permeabilidade, pois
a presença de ar nos vazios do solo constitui um obstáculo ao fluxo de água. Além disto,
quanto menor o Sr, menor a seção transversal de água disponível para a ocorrência do
fluxo.
Além dos fatores relacionados acima, a permeabilidade também sofre influência das ca-
racterísticas do fluido que percola pelos vazios do solo. A permeabilidade depende do
peso específico, da viscosidade e da polaridade ou constante dielétrica do fluido (geral-
mente água). Algumas dessas propriedades, como a viscosidade e a densidade variam
com a temperatura, entretanto, a variação da viscosidade é muito mais significativa do
que o peso específico (quanto maior a temperatura, menor a viscosidade e menor o peso
específico da água). A polaridade ou constante dielétrica também influenciam a perme-
abilidade do solo, principalmente no caso de solos finos. Fluidos com baixa constante
dielétrica possuem pouca adsorção às partículas de argila e por isso possuem permeabi-
lidades maiores (às vezes muito maiores) do que aquelas esperadas levando-se em conta
somente a sua permeabilidade e densidade (CARDOSO, 2011; OLIVEIRA, 2001; MA-
CHADO et al., 2016; Pimenta de Ávila Consulting Ltda, 2013). É prática comum se
determinar a permeabilidade a uma dada temperatura de ensaio e, em seguida, corrigir
o resultado para uma temperatura padrão de 20o C, através da fórmula:
µ(t)
k(20o C) = k(t) (1.31)
µ(20o C)
A lei de Darcy pode ser estendida para o caso de fluxo tridimensional através das Eq. 1.32
e Eq. 1.33 apresentadas adiante.
kx
~v = − ky ∇ ~ ·h (1.32)
kz
ou
∂h ∂h ∂h
~v = − kx · ky · kz · (1.33)
∂x ∂y ∂z
Para o caso de solo isotrópico (kx = ky = kz ), a Eq. 1.33 pode ser simplificada, resultando
na Eq. 1.34.
∂h ∂h ∂h
~v = −k (1.34)
∂x ∂y ∂z
n
X n
X
qtotal = qi ⇒ k̄ · i · ∆ztotal = ki · i · ∆zi (1.35)
1 1
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q1
q2
q3 Δz k1, i
Δz 1
k2, i
Δz
Δz 3
2
k3, i total
n
P
ki · ∆zi
1
k̄ = (1.36)
∆ztotal
Mas,
De forma que:
Resultando em:
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∆ztotal
k̄ = n (1.40)
X ∆zi
ki
1
Δz k1, i1
Δz 1
k2, i2
Δz
Δz3
2
k3, i3 total
vy(x,y+dy,z)
dx
⃗v =(v x ; v y ; v z )=f ( x ; y ; z ; t )
z
dy
dz
k^ ^j
^i y
x
vy(x,y,z)
Para a outra face do elemento de solo a qual sofre a influência do fluxo de água provocado
por vy , o centro da área de fluxo tem coordenadas (x,y+dy,z). A velocidade de fluxo na
direção y não é mais necessariamente vy , devendo ser melhor representada por vy + dvy .
dvy representa a variação da velocidade de fluxo na direção y, devido a variação espacial
da coordenada do centro da face de fluxo, dy. A Eq. 1.42 representa a quantidade de
fluxo passando pela outra face do elemento de solo.
Por outro lado, dvy pode ser calculado fazendo uso do conceito de diferencial total
(Eq. 1.44). Deve-se notar que os centros das faces consideradas possuem as mesmas
coordenadas z e x, e que as medidas de fluxo devem ser realizadas simultaneamente, de
modo que dz = dx = dt = 0. Deste modo, o termo dvy pode ser representado pela
Eq. 1.45. Substituindo-se a Eq. 1.45 Eq. 1.43 chega-se a Eq. 1.46, apresentada adiante.
∂vy
dvy = · dy (1.45)
∂y
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∂vy
dqy = − · dy · dx · dz (1.46)
∂y
A taxa de armazenamento total da água no solo será dada pelas contribuições do fluxo
nas três direções: x, y e z (Eq. 1.47). Seguindo-se o mesmo procedimento apresentado
para o caso da direção y, pode-se mostrar que a taxa de armazenamento total da água no
solo é dada pela Eq. 1.48, apresentada adiante (lei de conservação da massa). Percebe-se
que a taxa de armazenamento de água no elemento é numericamente igual ao divergente
do campo de velocidades multiplicado pelo volume do elemento (dvol = dx · dy · dz).
∂vx ∂vy ∂vz
dqtotal = − + + ~ · ~v · dy · dx · dz
· dy · dx · dz = ∇ (1.48)
∂x ∂y ∂z
Por sua vez, o termo dqtotal /dvol pode ser expresso como uma função dos índices físicos do
solo. A Fig. 1.17 apresenta um diagrama de fases para o elemento de solo considerado, em
termos de índice de vazios. Conforme se pode observar do diagrama de fases apresentado
nesta figura, a relação volume de água/volume total do elemento de solo é dada por
Sr · e/(1 + e), onde e é o índice de vazios inicial da amostra e Sr o seu grau de saturação.
O termo dqtotal /dvol corresponde a variação da relação Sr · e no tempo, dividida pelo
volume infinitesimal de solo, podendo ser representado pela Eq. 1.49. Igualando-se as
Eq. 1.48 e Eq. 1.49 chega-se a Eq. 1.50, a qual atende aos requerimentos impostos pelo
princípio da conservação da massa de água no solo.
dqtotal ∂(sr · e)
= (1.49)
dvol ∂t(1 + e)
∂(sr · e) ∂vx ∂vy ∂vz
=− + + (1.50)
∂t(1 + e) ∂x ∂y ∂z
Substituindo-se a Eq. 1.34 na Eq. 1.50 chega-se a Eq. 1.51, apresentada adiante, a qual
representa a equação geral para o caso de fluxo de água em solos.
∂h ∂h ∂h
∂(sr · e) ∂ −kx · ∂x ∂ −ky ·
∂y
∂ −kz ·
∂z
= − + + (1.51)
∂t(1 + e) ∂x ∂y ∂z
Para o caso de fluxo em solo não saturado, heterogêneo e anisotrópico, tanto os valores dos
coeficientes de permeabilidade em cada direção (kx , ky e kz ) quanto os valores do potencial
total da água no solo serão dependentes das coordenadas do ponto considerado e do grau
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Pesos Volumes
γw Sr e e
Sr e
1+e
γs
1
Figura 1.17: Relações entre volumes e entre pesos e volumes adotando-se um vo-
lume de sólidos unitário.
de saturação do solo, de modo que a resolução analítica da Eq. 1.51 se torna bastante
árdua, senão impossível. Deve-se ressaltar, contudo, que com o desenvolvimento das
técnicas computacionais de representação do contínuo (como os métodos dos elementos
finitos e das diferenças finitas, por exemplo), a resolução de tais problemas por intermédio
de métodos numéricos se tornou possível, em tempo viável, para uma enorme variedade
de condições de contorno. Para o caso de fluxo de água em solo saturado, homogêneo e
isotrópico, a Eq. 1.51 é reduzida a Eq. 1.52 apresentada a seguir.
∂2h ∂2h
0=k + 2 (1.53)
∂x2 ∂z
A resolução analítica da Eq. 1.53 nos fornece duas famílias de curvas ortogonais entre si
(linhas de fluxo e linhas equipotenciais). Além de ser resolvida analiticamente, a Eq. 1.53
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[ht]
pode ser resolvida utilizando-se uma grande variedade de métodos, como o método das
diferenças finitas, o métodos dos elementos finitos, através de modelos reduzidos ou
através de analogias com as equações que governam os problemas de campo elétrico ou
termodinâmicos. Um dos métodos mais utilizados para a resolução da Eq. 1.53 (método
gráfico) é apresentado no Capítulo 3 deste volume. A título ilustrativo, a Fig. 1.18
apresenta a resolução de um problema de fluxo de água através da fundação de uma
barragem de concreto contendo uma cortina de estacas pranchas em sua extremidade
esquerda. Notar a ortogonalidade entre as linhas de fluxo e as linhas equipotenciais
encontradas na resolução do problema.
Diz-se que o movimento de água no solo está em um regime transiente quando as con-
dições de contorno do problema mudam com o tempo. Neste caso, o valor do índice de
vazios e/ou do grau de saturação do solo irá mudar com o desenvolvimento do processo
de fluxo. Um dos casos mais importantes de fluxo transiente em solos saturados é o caso
da teoria do adensamento unidirecional de Terzaghi, estudada no Capítulo 2. Para o
caso de fluxo transiente unidirecional a Eq. 1.52 se transforma na Eq. 1.54 apresentada
a seguir.
∂e ∂2h
=k· 2 (1.54)
∂t(1 + e) ∂z
Neste item é feita uma revisão sumária de alguns conceitos envolvendo o fenômeno da
capilaridade em solos. Para o estudo da ascensão da franja capilar nos solos, os seus
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P1 Nível d'água Ar
5 x 10-6 cm Água
P2
Forças resultantes em P1 e P2
P2 P1
vazios são tomados como análogos a tubos capilares interconectados, ainda que muito
irregulares. Logo, a capilaridade se manifesta nos solos pela propriedade que possuem os
líquidos de poderem subir, a partir do nível do lençol freático, pelos canais tortuosos do
solo, formados pelos seus vazios.
No caso dos solos, o líquido o qual ascende além do nível freático é geralmente a água,
pura ou contendo alguma substância dissolvida. A explicação dos fenômenos capilares
é feita com base numa propriedade do solo associada com a superfície livre de qualquer
líquido, denominada tensão superficial. A tensão superficial resulta da existência de
forças de atração de curto alcance entre as moléculas, denominadas de forças de Van der
Waals, ou simplesmente forças de coesão. A distância limite de atuação destas forças,
isto é, a distância máxima que uma molécula consegue exercer atração sobre as outras,
é conhecida pelo nome raio da esfera de ação molecular, r, que na água, não excede
5 × 10−6 cm.
Deste modo, qualquer molécula cuja esfera de ação não esteja totalmente no interior do
líquido, não se equilibra, porque a calota inferior da sua esfera de ação está repleta de
moléculas que a atraem, o que não acontece com a calota superior, que cai fora do líquido,
e não está cheia de moléculas do mesmo fluido como a inferior (vide Fig. 1.19). Como
a atração entre moléculas ar/água é bem menor que a entre as partículas de água, tais
moléculas são atraídas para o interior do líquido pela resultante destas forças de coesão
não equilibradas. Evidentemente, esta resultante é nula quando a molécula se encontra
a uma distância ≥ r da superfície do líquido.
Além disto, pela ação destas forças, a superfície do líquido se contrai minimizando sua
área, e adquire uma energia potencial extra que se opõe a qualquer tentativa de distendê-
la, ou seja, ocorrendo uma distensão, a tendência da superfície é sempre voltar a sua
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F⃗1
Ar
Sólido P
Água
θ
Água/água
F⃗1 F⃗2
Sólido/água
Imergindo-se a ponta de um tubo fino de vidro num recipiente com água, essa subirá
no tubo capilar até uma determinada altura, a qual será maior quanto mais fino for o
tubo. Existirá sempre uma tensão superficial, Ts no contato entre a água e o vidro,
formando um ângulo θ (cujo valor depende da relação entre as forças apresentadas na
Fig. 1.20), o qual é também é conhecido como ângulo de contato. Ts e θ assumirão
valores que dependerão do tipo de fluido e da superfície de contato em questão. No caso
da água, considerada pura e o vidro quimicamente limpo, na temperatura ambiente, Ts
é aproximadamente igual a 0,074 N/m e θ é igual a zero. A Fig. 1.21 ilustra a ascensão
capilar em um tubo de vidro.
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r
Ts
Ts
θ
2 · Ts · cos θ
hcap = (1.56)
γw · r
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O fenômeno da capilaridade é responsável pela coesão das areias quando não saturadas.
Em areias puras, areias de praias por exemplo, não há aderência entre os seus grãos,
seja no estado seco ou completamente saturado. Nota-se entretanto, que quando nessas
areias existe um teor de umidade entre zero e a umidade de saturação, surgem meniscos
entre os contatos dos grãos, que tendem a aproximar as partículas de solo. Essas forças
de atração surgem em decorrência do fenômeno da capilaridade e são responsáveis pela
coesão das areias nestas circunstâncias particulares.
Nas argilas, quando secas, há uma diminuição considerável do raio de curvatura dos
meniscos, levando a um aumento das pressões de contato e a uma aproximação das
partículas, provocando o fenômeno da retração por secagem no solo. Durante o processo
de secagem das argilas, as tensões provocadas em decorrência da capilaridade podem se
elevar a ponto de provocar trincas de tração no solo.
A Fig. 1.22 ilustra o contato entre duas partículas esféricas em um solo não saturado.
Conforme se pode observar, a tensão superficial da água promove uma tensão normal
entre as partículas, que por atrito irá gerar uma certa resistência ao cisalhamento, deno-
minada frequentemente de coesão aparente (o termo aparente se refere ao fato de que o
solo em seu estado saturado ou totalmente seco irá perder esta parcela de resistência).
Ação da tensão
superficial no
menisco de água
Figura 1.22: Ação do menisco capilar no contato entre duas partículas esféricas em
um solo não saturado.
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2.1 Introdução
Quando as cargas de uma determinada estrutura são transmitidas ao solo, estas geram
uma redistribuição dos estados de tensão em cada ponto do maciço (acréscimos de ten-
são), a qual, por sua vez, irá provocar deformações em toda área nas proximidades do
carregamento, inevitavelmente resultando em recalques superficiais.
Os dois fatores mais importantes na análise de uma fundação qualquer são: 1) as de-
formações do solo, especialmente aquelas que irão resultar em deslocamentos verticais
(recalques na cota de assentamento da estrutura) e 2) a resistência ao cisalhamento do
solo, responsável pela estabilidade do conjunto solo/estrutura.
Para análise do primeiro requerimento imposto à fundação (recalques admissíveis da
fundação), deve-se considerar e estudar aspectos relativos à deformabilidade (ou com-
pressibilidade) dos solos. A natureza das deformações do solo sob os carregamentos a ele
impostos pode ser elástica, plástica, viscosa ou mesmo se apresentar (como na maioria
dos casos) como uma combinação destes três tipos de deformação. As deformações elásti-
cas geralmente causam pequenas mudanças no índice de vazios do solo, sendo totalmente
recuperadas quando em um processo de descarregamento. Não se deve nunca confundir
os termos elasticidade e linearidade, já que um material pode se comportar de maneira
elástica e não linear.
Diz-se que um material se comporta plasticamente quando, cessadas as solicitações a ele
impostas, não se observa nenhuma recuperação das deformações ocorridas no corpo. Em
todos os dois tipos de deformação relatados acima (plástica e elástica), a resposta do solo
a uma mudança no seu estado de tensões efetivo é imediata. Quando o solo, mesmo com
a constância do seu estado de tensões efetivo, continua a apresentar deformações com o
tempo, diz-se que ele está a apresentar um comportamento do tipo viscoso (processo de
fluência).
As deformações de compressão do solo, as quais são as principais responsáveis pelo apa-
recimento de recalques na superfície do terreno, são devidas ao deslocamento relativo
das partículas de solo (no sentido de torná-las mais próximas umas das outras), tendo as
deformações que ocorrem dentro das partículas uma influência mínima nas deformações
volumétricas totais observadas. Já que nos depósitos naturais o solo se encontra geral-
mente confinado lateralmente, os recalques apresentados pelas estruturas de fundação são
devidos, em sua maior parte, às deformações no sentido vertical. A figura Fig. 2.1 ilustra
como a ocorrência de recalques elevados podem afetar o desempenho das estruturas
Figura 2.1: Prédios localizados em Santos, litoral paulista, os quais estão fora do
prumo em decorrência de recalques elevados em suas fundações
de volume por ele apresentados podem ser atribuídos, de maneira genérica, a três causas
principais:
• Compressão das partículas sólidas
• Compressão dos espaços vazios do solo, com a consequente expulsão de água, no
caso de solo saturado
• Compressão da água (ou do fluido) existente nos vazios do solo
Para a magnitude das cargas aplicadas na engenharia geotécnica aos solos, as deformações
que ocorrem na água e nas partículas sólidas podem ser desprezadas, calculando-se as
deformações volumétricas do solo a partir das variações em seu índice de vazios.
A compressibilidade de um solo irá depender do arranjo estrutural das partículas que
o compõe e do grau em que as partículas do solo são mantidas uma em contato com a
outra. Uma estrutura mais porosa, como no caso de uma estrutura floculada, irá resultar
em um solo mais compressível do que um solo contendo uma estrutura mais densa. Um
solo composto basicamente de partículas lamelares será mais compressível do que um
solo possuindo partículas predominantemente esféricas.
Quando há acréscimos de tensão no solo, é natural que este se deforme, diminuindo o
seu índice de vazios. Se a pressão anteriormente aplicada ao solo é então retirada, al-
guma expansão (recuperação elástica) irá ocorrer, mas não na totalidade das deformações
sofridas anteriormente. Em outras palavras, o comportamento apresentado pelo solo é
preferencialmente de natureza elastoplástica. No caso de solos saturados e considerando-
se as hipótese efetuadas anteriormente (água e partícula sólidas incompressíveis), caso
haja diminuição de volume do solo (acréscimos de pressão), o solo deverá expulsar água
de seus vazios, o contrário ocorrendo no caso de alívio de pressões (expansão elástica do
solo). Para o caso dos solos finos, os quais tendem a possuir baixos valores de permea-
bilidade, estes processos de deformação podem requerer muito tempo para que ocorram
em sua totalidade.
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Carga axial
Cabeçote
Pedra porosa
Solo
O' rings
Drenos
a) b)
∆H
ef = eo + · (1 + eo ) (2.1)
Ho
Onde:
ef = índice de vazios ao final do estágio de carregamento atual
∆H = variação de altura do corpo de prova (acumulada) ao final do estágio
Ho = altura inicial do corpo de prova (antes do início do ensaio)
eo = índice de vazios inicial do corpo de prova (antes do início do ensaio)
As Fig. 2.5 e Fig. 2.6 apresentam os resultados obtidos em um ensaio de adensamento
típico. Na Fig. 2.5 são apresentadas variações de altura da amostra em função do loga-
ritmo do tempo e em função da raiz quadrada do tempo (estes gráficos apresentam os
resultados obtidos em um estágio de carregamento). Na Fig. 2.6 são apresentados resul-
tados típicos de um ensaio de adensamento executado em argilas normalmente adensadas
(gráfico com escalas convencionais). Nesta figura, a amostra foi comprimida, em primeiro
carregamento, a partir do ponto A até o ponto B. Em seguida esta sofreu um processo
de descarregamento até o ponto D, para, finalmente, ser recarregada até o ponto B, e,
novamente em primeiro carregamento, atingir o ponto C. Como podemos notar, a curva
σz0 versus e apresenta histerese, ou seja, deformações plásticas irreversíveis. Isto pode
ser claramente observado se se toma um determinado valor de σz0 , como indicado na
Fig. 2.6, por exemplo, em que cada um dos trechos de carga/descarga/recarga corta a
linha correspondente a esta tensão com valores diferentes de índice de vazios.
Log(t) √t
A inclinação em cada ponto da curva de compressão do solo é dada pelo seu coeficiente
de compressibilidade, av , representado pela Eq. 2.2. Da análise da Fig. 2.6 nota-se
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que durante o ensaio de adensamento o solo se torna cada vez mais rígido (ou menos
compressível), conduzindo a obtenção de valores de av cada vez menores (pode-se notar
que o coeficiente de compressão do solo varia de forma inversamente proporcional ao seu
módulo de elasticidade).
∆e
av = − (2.2)
∆σz0
O sinal negativo na Eq. 2.2 é necessário pois o índice de vazios e a tensão vertical do
solo variam em sentido contrário (acréscimos na tensão vertical irão causar decréscimos
no índice de vazios do solo).
Na análise da Fig. 2.6, a expressão primeiro carregamento significa que os carregamentos
que ora se impõem ao solo superam o maior valor por ele já sofrido em sua história de
carregamento prévia. Este conceito é bastante importante, pois o solo (assim como qual-
quer material que apresente um comportamento elastoplástico), guarda em sua estrutura
indícios dos carregamentos anteriores. Assim, na Fig. 2.6, dizemos que o trecho da curva
de compressão do solo entre os pontos A e B corresponde a um trecho de carregamento
virgem da amostra, no sentido de que a amostra ensaiada nunca antes experimentara
valores de tensão vertical daquela magnitude.
Quando isto ocorre, dizemos que a amostra de solo é normalmente adensada. É fácil per-
ceber que para o trecho da curva de compressão B-D-B (trecho de descarga/recarregamento),
a amostra não pode ser classificada como normalmente adensada, já que a tensão a qual
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lhe é imposta neste trecho é inferior a tensão máxima por ela já experimentada (ponto
B). Nota-se também que no trecho B-D-B o comportamento do solo é essencialmente
elástico, ou seja, as deformações que ocorrem no solo neste trecho, além de pequena
monta, são quase que totalmente recuperáveis. Quando o estado de tensões ao qual o
solo está submetido é inferior ao máximo valor de tensão por ele já sofrido, o solo é clas-
sificado como pré-adensado. A partir do ponto B da curva de compressão do solo, todo
acréscimo de tensão irá levar o solo a um estado de tensão superior ao maior estado de
tensão já experimentado anteriormente, de modo que no trecho B-C o solo é novamente
classificado como normalmente adensado.
Na Fig. 2.7 os mesmos resultados já apresentados na Fig. 2.6 estão plotados em es-
cala semi-log. Como se pode observar, em escala semi-log estes resultados podem ser
aproximados por dois trechos lineares. As inclinações dos trechos de descarregamento-
recarregamento e carregamento virgem da curva de compressão em escala semi-log são
dadas pelos índices de recompressão, Ce e de compressão, Cc, respectivamente. As
Eq. 2.3 e Eq. 2.4 ilustram as expressões utilizadas no cálculo dos índices de compressão
e recompressão do solo. Conforme se pode notar, as equações são idênticas, de forma
que o que difere é o trecho de aplicação das mesmas. Para o cálculo do Cc utiliza-se o
trecho de compressão virgem do solo, enquanto que para o Ce utilizam-se os trechos de
descompressão e recompressão.
2,00
1,80
1,60
Índice de vazios (e)
1,40
1,20
1,00
0,80
0,60
0,40
0,20
0,00
1 10 100 1000 10000
−∆e −∆e
Cc = = 0 (2.3)
∆ log(σz0 ) σzf
log( 0 )
σzo
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−∆e −∆e
Ce = = 0 (2.4)
∆ log(σz0 ) σzf
log( 0 )
σzo
A Fig. 2.8 ilustra o efeito do pré-adensamento sobre os solos. Nesta figura, em que a
curva de compressão do solo foi aproximada por trechos lineares, um solo normalmente
adensado é comprimido até um determinado valor de σz0 (representado pelo ponto B1),
a partir do qual sofre um processo de descompressão, atingindo o ponto D1. Se, neste
ponto o solo é recarregado, a trajetória de tensões seguida no plano σz0 × e, pode ser
representada pela reta D1-B1, a menos de uma pequena histerese, de valor normalmente
negligenciável. Atingindo novamente o valor de B1, o solo irá seguir a reta de compressão
virgem. Sendo novamente descarregado o solo para qualquer valor de σz0 > B1 (como
B2, por exemplo), teremos resultados semelhantes.
Conforme será visto neste capítulo, quando do cálculo de recalques em campo, a curva de
compressão do solo é geralmente representada por dois segmentos lineares, com inclina-
ções distintas, a saber, um trecho de recompressão do solo, o qual possui como inclinação
o valor de Ce e um trecho de carregamento virgem do solo, cuja inclinação é dada pelo
índice Cc. O valor da tensão a qual separa os trechos de recompressão e de compressão
virgem do solo é normalmente denominado de tensão de pré-adensamento, e representa,
conceitualmente, o maior valor de tensão já sofrido pelo solo em campo.
Deve-se ter em mente que quando um ensaio de adensamento é realizado em uma amostra
indeformada coletada em campo, durante o processo de amostragem há uma descompres-
são do solo a ser ensaiado, pois que as camadas a ele sobrejacentes são retiradas. Deste
modo, sempre que um ensaio de adensamento é realizado, a amostra sofre inicialmente
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um processo de recompressão, que continua até que o carregamento imposto pela prensa
de adensamento ao solo supere o maior valor de tensão vertical já sofrido por ela em
campo (valor da tensão de pré-adensamento da amostra). A depender da história ge-
ológica do solo, o valor da tensão de pré-adensamento calculada a partir do ensaio de
compressão confinada pode ser maior ou igual ao valor da tensão vertical efetiva do solo
em campo. Quando a tensão de pré-adensamento calculada para o solo supera o valor
da sua tensão efetiva de campo, diz-se que o solo é pré-adensado. Quando este valor é
aproximadamente igual ao valor da tensão vertical efetiva de campo, diz-se que o solo é
normalmente adensado.
A Fig. 2.9 ilustra a formação de um depósito de solo pré-adensado. Na hipótese de um
solo sedimentar, durante o seu processo de formação, o acúmulo de tensão ocasionado
pelo peso das camadas sobrepostas de solo leva-o continuamente a um estado de tensões
que supera o máximo valor já vivificado por ele em toda a sua história geológica. Se por
um evento geológico qualquer, o processo de deposição for interrompido e passar a existir
no local do maciço de solo um processo de erosão, a tensão vertical efetiva em campo
passa a ser menor do que a máxima tensão já vivificada pelo solo, isto é, o solo passa a
uma condição pré-adensada.
σzp
OCR = RP A = 0
(2.5)
σzcampo
1.00
0.90
índice de vazios
0.85
0.80
0.75
0.70
10 100 1000 10000
Tensão vertical (kPa)
Figura 2.10: Curva de compressão típica obtida em um ensaio de compressão
confinada.
1.00
0.95
Bissetriz
0.90
índice de vazios
Tangente
0.85 Tensão de
Pré- Adensamento
0.80
0.75
0.70
10 100 1000 10000
Tensão vertical (kPa)
Neste item se ilustrará o procedimento normalmente adotado para o cálculo dos recalques
totais do solo em campo. É importante frisar que os recalques totais irão ocorrer no
solo somente após virtualmente completado o seu processo de adensamento. Conforme
relatado anteriormente, no caso de solos finos, o tempo requerido para que isto ocorra
em campo pode ser extremamente longo. O cálculo dos recalques diferidos no tempo é
normalmente realizado utilizando a teoria do adensamento unidirecional de Terzaghi, a
qual será exposta, de modo sucinto, no item seguinte. O cálculo dos recalques no solo é
frequentemente realizado utilizando-se a Eq. 2.1, expressa em termos de ∆H (Eq. 2.6)
∆e
− ∆H = ρ = · Ho (2.6)
1 + eo
1.00
0.95
0.90
índice de vazios
Tensão de
pré- adensamento
0.85 de 330 kPa
0.80
0.75
0.70
10 100 1000 10000
Tensão vertical (kPa)
anteriormente. Substituindo-se as Eq. 2.3 e Eq. 2.4 na Eq. 2.6, encontram-se as equações
apresentadas na sequência para o cálculo do recalque do solo em campo, para situações
distintas de carregamento.
Vale ressaltar, contudo, que tanto o σzo
0 (tensão vertical inicial de campo) quanto o ∆σ
z
(acréscimo de tensão vertical) podem variar com a profundidade (ver Fig. 2.13), de forma
que as deformações verticais ponto a ponto serão diferentes e o recalque será a integral
das deformações verticais ao longo da camada.
0 =σ
Solos normalmente adensados, σzo zp
A Fig. 2.14 ilustra o cálculo da variação do índice de vazios para o caso de um solo
normalmente adensado.
A Eq. 2.7 é utilizado para o caso geral de carregamentos em solos normalmente adensados.
0 + ∆σ
σzoi zi
Z H n Cc · log 0
−∆e X σzoi
ρ= εz dz = dz ≈ · ∆zi (2.7)
0 1 + eo 1 + eoi
i=1
Onde Cc representa o índice de compressão do solo, eoi representa o índice de vazios ini-
cial, σzoi representa o valor da tensão vertical geostática efetiva inicial e ∆σzi representa
o créscimo de tensão vertical, relativos ao centro da subcamada (i). ∆zi representa a
espessura da subcamada (i).
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z
z
’zo = z
Figura 2.13: Estado inicial de tensões no solo (tensões geostáticas, para um solo
homogêneo) e acréscimos de tensão provocados pela estrutura.
Conforme se pode observar na Fig. 2.13, os acréscimos de tensão tendem a diminuir com a
profundidade (efeito do espraiamento de tensões no solo). No caso de um aterro extenso,
contudo, em que suas dimensões são bem superiores a espessura da camada compressível
(b >> z), pode-se assumir, sem incorrer em erros significativos, valores de ∆σz constante
em toda a espessura da camada compressível. Nestes casos, a Eq. 2.7 pode ser escrita
de uma forma mais simplificada, sem se prejudicar em demasia a precisão dos valores de
recalque previstos.
0 + ∆σ
σzo z
Cc · log 0
σzo
ρ= · Ho (2.8)
1 + eo
Para o cálculo dos recalques totais do solo utilizando-se a Eq. 2.8, deve-se considerar o
ponto médio da camada para o cálculo das tensões geostáticas do solo (valor de σzo 0 ) e
A Fig. 2.15 ilustra o cálculo do ∆e para o caso de um solo pré-adensado com σzo
0 + ∆σ <
z
σzp .
A Eq. 2.9 é utilizada para o caso geral de carregamentos em solos pré-adensados com
0 + ∆σ < σ .
σzo z zp
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e
’zo=zp
eo
e
z
’zf ’z
0 + ∆σ
σzoi zi
n Ce · log 0
X σzoi
ρ= · ∆zi (2.9)
1 + eoi
i=1
0 + ∆σ
σzo z
Ce · log 0
σzo
ρ= · Ho (2.10)
1 + eo
0 + ∆σ > σ
Solo pré-adensado com σzo z zp
A Fig. 2.16 ilustra o cálculo do ∆e para o caso de um solo pré-adensado com σzo
0 + ∆σ >
z
σzp .
A Eq. 2.11 é utilizada para o caso geral de carregamentos em solos pré-adensados com
0 + ∆σ > σ .
σzo z zp
0 + ∆σ
σzpi σzoi zi
n Ce · log 0 + Cc · log
X σzoi σzpi
ρ= · ∆zi (2.11)
1 + eoi
i=1
’zo<zp e ’zf<zp
e
eo
e zp
z
’zf ’z
0 + ∆σ
σzp σzo z
Ce · log 0
+ Cc · log
σzo σzp
ρ= · Ho (2.12)
1 + eo
’zo<zp e ’zf>zp
e
eo
e1 zp
e2
z
’zf ’z
de adensamento dos solos argilosos requer longo períodos para que seja virtualmente
completado.
O processo de adensamento e a teoria de Terzaghi, apresentados a seguir, podem ser bem
entendidos somente se uma importante hipótese simplificadora é explicada e apreciada.
A relação entre o índice de vazios e a tensão vertical é assumida como sendo linear.
Conforme apresentado na Fig. 2.6, contudo, o comportamento do solo sob compressão
confinada é de sorte tal que este se torna cada vez menos compressível, diminuindo o
valor de seu coeficiente de compressibilidade (Eq. 2.2). Complementarmente, é assumido
que esta relação é independente do tempo e da história de tensões do solo, o que só
seria válido caso o solo apresentasse um comportamento perfeitamente elástico. Con-
forme apresentado na Fig. 2.6, contudo, o solo apresenta deformações residuais ao ser
descarregado, isto é, o comportamento tensão/deformação do solo é preferencialmente
elastoplástico. O processo de adensamento pode então ser explicado, partindo-se desta
hipótese preliminar, conforme apresentado nos parágrafos seguintes.
Admitamos uma amostra de solo em equilíbrio com as tensões geostáticas de campo (σzo 0 ,
Deve-se ter em mente que ao final do processo de adensamento do solo em campo, não
há mais excesso de pressão neutra ao longo do extrato de solo considerado, contudo,
as pressões neutras geostáticas continuam a existir. Em campo, as pedras porosas em-
pregadas no topo e na base do corpo de prova durante um ensaio de adensamento são
representadas por camadas de solo possuindo valores de permeabilidade bem superiores
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aos valores de permeabilidade do estrato de solo mole estudado. Deste modo, a condição
de ensaio de laboratório pode ser representativa da situação formada por um extrato de
argila mole compreendido entre dois extratos de areia. O grau de adensamento em cada
ponto da amostra, u%(z,t), é normalmente calculado com o uso da Eq. 2.15.
ue (z, t) ue (z, t)
u%(z, t) = 1 − =1− (2.15)
ue (z, t = 0) ueo (z)
Logo após a aplicação do carregamento ao solo temos ue (z, t = 0) = ueo , de modo que
o valor do grau de adensamento em todos os pontos da amostra de argila é zero (vide
Eq. 2.15). Ao final do adensamento temos ue (z, ∞) = 0, o que faz com que o grau de
adensamento em cada ponto da amostra seja igual a 1.
Uma analogia mecânica do processo de adensamento foi desenvolvida por Terzaghi, por
intermédio da qual o processo de adensamento do solo pode ser melhor entendido. A
Fig. 2.18 ilustra a analogia proposta por Terzaghi para explicar o processo de adensa-
mento no solo, a qual é apresentada nos parágrafos seguintes: Uma mola de altura inicial
H é imersa em água em um cilindro. Nesta analogia, a mola tem uma função semelhante
à estrutura do solo e a água do cilindro tem uma função análoga à pressão neutra. Neste
cilindro é ajustado um pistão de área transversal A, através do qual uma carga axial
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pode ser transmitida ao sistema, que representa o solo saturado. O pistão, por sua vez,
é dotado de uma válvula a qual pode estar, fechada ou com diferentes graus de abertura.
A válvula do pistão controla a facilidade com que a água pode sair do sistema e seu
significado é semelhante ao do coeficiente de permeabilidade do solo.
Força
Fz
Fz
Válvula
A Força aplicada pela
mola ao pistão
Água
Força aplicada pela
mola água ao pistão
Tempo
Aplica-se uma carga p ao pistão. Se a válvula do pistão está fechada, toda a pressão de-
corrente da carga aplicada Fz /A será suportada pela água, visto que a compressibilidade
da água é bem inferior à compressibilidade da mola. Se agora abrimos a válvula do pistão,
a água começa a ser expulsa do sistema, em uma velocidade que é função da diferença
entre a pressão na água e a pressão atmosférica e do grau de abertura da válvula. Com
a saída da água do sistema, o pistão se movimenta e a mola passa a ser solicitada em
função deste deslocamento. Em qualquer instante, a soma das forças exercidas pela mola
e pela água no pistão deve ser igual a força Fz aplicada externamente. Este processo
continua até que Fz seja completamente suportada pela mola, sendo a pressão na água
existente dentro do sistema devida somente ao seu peso próprio (os excessos de pressão
na água do sistema ao final do processo são nulos). Neste ponto não há mais fluxo de
água para fora do sistema. A Fig. 2.18 no seu lado direito, ilustra a variação das parcelas
da carga aplicada suportadas pela água e pela mola com o tempo
Embora análogo ao que ocorre nos solos, no esquema mecânico ilustrado pela Fig. 2.18,
os excessos de pressão em cada instante se distribuem de maneira uniforme ao longo de
todo o sistema. Conforme já relatado anteriormente, contudo, em uma massa de solo, em
cada instante, o valor do excesso de pressão neutra em relação à pressão neutra inicial
será diferente em cada ponto do maciço. Quanto mais próximo o ponto considerado
estiver de uma camada permeável, maior será a sua dissipação de pressão neutra (ou
maior será o seu grau de adensamento), para o mesmo instante, em relação aos outros
pontos do maciço. O fenômeno de adensamento dos solos é então melhor modelado
fazendo-se uso da Fig. 2.19. Nesta figura, não mais um, mas vários pistões existem no
sistema, cada pistão possuindo uma abertura através da qual a água se comunica com os
reservatórios superior e inferior. Na Fig. 2.19 é destacada a ascensão da água nos tubos
para t = t1 . Uma outra forma de visualizar como o processo de adensamento se dá de
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Camada drenante u
H aΔza
Argila
Camada drenante
Incompressível
zw
uo = wzw ueo
de vazios).
4. O adensamento é unidirecional
5. A lei de Darcy é válida (conforme relatado no Capítulo 1, isto implica que a natureza
do fluxo ocorrendo no solo deve ser laminar)
6. Certas propriedades do solo, como a permeabilidade e o coeficiente de compressi-
bilidade (av) são constantes (adota-se uma relação linear entre o índice de vazios e
a tensão vertical efetiva)
Pode-se dizer que as três primeiras hipóteses listadas acima não se distanciam muito
da realidade para a maioria dos casos encontrados em campo. A quarta hipótese é
valida para os casos de aterro extenso, do ensaio de adensamento, e para o caso de
extratos de solo mole situados a grandes profundidades. Para os casos onde a distribuição
de acréscimos de tensões no solo não é constante com a profundidade, ela conduz a
resultados apenas aproximados. A quinta hipótese geralmente leva a resultados bastantes
satisfatórios, sendo a validade da lei de Darcy raramente questionada. A sexta hipótese,
pelo que já foi discutido neste capítulo, é a que mais se distancia da realidade: sabe-se
que com o aumento das pressões atuando no solo (e a consequente diminuição no valor do
seu índice de vazios), os valores do seu coeficiente de permeabilidade e de seu coeficiente
de compressibilidade se tornam cada vez menores.
Para a resolução analítica do problema de adensamento, temos que modificar a Eq. 1.54
de modo que nos dois lados da igualdade apareçam as mesmas variáveis. Isto é feito
exprimindo-se o índice de vazios do solo e o potencial total da água, h, em função do
excesso de pressão neutra gerado pelo carregamento externo.
Na Fig. 2.20 percebe-se que durante o adensamento somente os valores de ue (e os corres-
pondentes acréscimos de tensão efetiva, Eq. 2.14) variam ao longo da camada, de forma
que a variação da energia da água no tempo pode ser escrita como segue:
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∂h ∂ue ∂σz
= =− (2.17)
∂t γw · ∂t γw · ∂t
∂h ∂σz ∂e
=− = (2.18)
∂t γw · ∂t av · γw · ∂t
∂h · av · γw ∂2h
=k· 2 (2.19)
∂t · (1 + eo ) ∂z
ou
∂2h ∂h
Cv · 2
= (2.20)
∂z ∂t
Onde Cv é denominado de coeficiente de adensamento do solo, sendo dado pela Eq. 2.21.
Da análise dimensional da Eq. 2.21 chega-se a conclusão que o coeficiente de adensamento
do solo possui dimensões de L2 /T , sendo geralmente expresso em termos de cm2 /s ou
m2 /s.
k · (1 + eo )
Cv = (2.21)
av · γw
2H
Rd
ue (z.t)
0
U (t) = 1 − 2H
(2.22)
Rd
ueo (z)
0
Cv · t
Γ= (2.23)
Hd2
A solução da Eq. 2.20, a qual é apresentada nas Eq. 2.24 e Eq. 2.25, nos fornece curvas
de distribuição de excessos de pressão neutra, ue (z, t) tais como aquelas apresentadas de
forma qualitativa na Fig. 2.20, para o caso de uma camada com dupla drenagem. As
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ue
A +A
Área de excessos de
pressão neutra dissipados
ueo
∞ −(2N + 1)2 · π 2
4 · ∆σz X 1 (2N + 1) · π · z ·Γ
ue (z, t) = · · sen · exp 4 (2.24)
π 2N + 1 2 · Hd
N =0
∞ −(2N + 1)2 · π 2
8 X 1 ·Γ
U (t) = 1 − 2 · · exp 4 (2.25)
π (2N + 1)2
N =0
ρ(t)
U (t) = (2.26)
ρ
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0,0
0,2
0,4 Γ=0,1
0,6
0,8
Γ=1,0
Γ=0,6
Γ=0,3
Γ=0,5
z/Hd
1,0
1,2
1,4
1,6
1,8
2,0
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Fator tempo Γ
U CASO 1 CASO 2
CASO 1 CASO 2 CASO 3 CASO 4 permeável permeável
0,10 0,008 0,048 0,050 0,003
ou
0,20 0,031 0,090 0,102 0,009
0,30 0,071 0,115 0,158 0,024
permeável permeável
0,40 0,126 0,207 0,221 0,049
CASO 3 CASO 4
0,50 0,197 0,281 0,294 0,092 permeável permeável
0,60 0,287 0,371 0,383 0,166
0,70 0,403 0,488 0,500 0,272
0,80 0,567 0,652 0,685 0,440
impermeável impermeável
0,90 0,848 0,933 0,940 0,720
que 60% (Eq. 2.28). Pode-se mostrar que para o caso de uma distribuição de ueo linear
com a profundidade, chega-se à mesma Eq. 2.25. Para diferentes formas de distribuição
de ueo , relações diferentes da Eq. 2.25 são obtidas.
4
Γ= · U2 (2.27)
π
para que ocorra uma determinada percentagem de adensamento no solo, para qualquer
forma de distribuição de tensões no solo, é apenas uma aproximação. Acontece que, os
valores de Cv normalmente determinados em laboratório podem trazer consigo variações
facilmente superiores a 30%, que foi o erro estimado ao se trocar as soluções da Eq. 2.20
obtidas para os casos 3 e 4. Isso sem se falar de outros problemas como representatividade
da amostra, etc. Por conta disto, a resolução da Eq. 2.20 para a distribuição de acréscimos
de tensão realmente ocorrendo em campo é feita somente em alguns casos especiais.
Deve-se salientar contudo, que a resolução numérica da Eq. 2.20 pode ser feita de maneira
rápida e simples, possibilitando ao engenheiro mais exigente a obtenção de resultados com
menos possibilidades de discrepâncias com o comportamento apresentado em campo. A
Fig. 2.23 apresenta a resolução numérica da Eq. 2.20 para o caso de uma distribuição
de acréscimos de tensão linear com a profundidade. São apresentadas nesta figura a
distribuição dos excessos de pressão neutra iniciais e isócronas para 20, 40, 60 e 80% de
percentagem de adensamento média.
160
Δσz=50+25·z
120
ueo (kPa)
80
40
0
0 100 200 300 400
Cota com relação ao topo (cm)
Figura 2.23: Resolução numérica da Eq. 2.24 para uma distribuição de excessos de
pressão neutra inicial linear pelo método das diferenças finitas.
é obtido fazendo-se uso das Eq. 2.27 e Eq. 2.28 (ou com o uso dos valores apresentados
na Tabela 2.1). Com o uso da Eq. 2.23, o tempo necessário para que ocorra o valor do
recalque especificado é determinado. Para que isto seja possível, contudo, o valor do
coeficiente de adensamento do solo, Cv , deve ser determinado.
O valor do coeficiente de adensamento do solo é determinado a partir de dois métodos
gráficos, notadamente os métodos de Casagrande e de Taylor. Deve-se notar que o valor
do coeficiente de adensamento do solo é determinado para cada estágio de carregamento,
ou para o estágio de carregamento cujo valor de tensão vertical se aproxime do valor
da tensão vertical que será imposto ao solo pela construção. No método de Casagrande,
marcam-se os valores dos deslocamentos verticais do topo da amostra no eixo das ordena-
das, em escala aritmética, e os valores dos tempos correspondentes no eixo das abcissas,
em escala logarítmica, para cada estágio de carga. O processo gráfico utilizado na obten-
ção do Cv pelo método de Casagrande é ilustrado na Fig. 2.24. O adensamento total (U
= 100%) ocorrerá no ponto de interseção das tangentes ao ponto de inflexão da curva de
adensamento e ao trecho aproximadamente retilíneo obtido após o adensamento primário
da amostra (parte representante do processo de fluência do solo). O valor do recalque
inicial (U = 0%) será determinado escolhendo-se dois instantes 1/4t e t para valores de
tempo correspondentes ao início do processo de adensamento. Obtém-se a diferença entre
suas ordenadas e este valor é rebatido verticalmente acima da ordenada correspondente
a 1/4t. A leitura no eixo dos deslocamentos será o valor procurado.
O adensamento de 50% será lido exatamente a meio caminho dos valores de deslocamento
estimados para U=100% e U=0%. O valor do tempo necessário para que ocorresse 50%
de adensamento (t50 ) do solo servirá para que o seu coeficiente de adensamento (Cv ) seja
calculado através da Eq. 2.29 (na Tabela 2.1 ou na Eq. 2.27, para um valor de U = 0,5
tem-se Γ = 0,197):
0, 197 · Hd2
Cv = (2.29)
t50
-,5
U=0%
1 10
Leitura de deslocamento
t/4 t
U=50%
,5
U=100%
1
1,5
0, 848 · Hd2
Cv = (2.30)
t90
Conforme ilustrado na Fig. 2.24, após cessado o processo de adensamento, o solo continua
a se deformar com o tempo, de modo que a curva recalque x log(t) passa a apresentar um
trecho com inclinação aproximadamente constante. Este trecho da curva é denominado
de trecho de compressão secundária do solo ou trecho de fluência, sendo que no processo
de compressão secundária o solo apresenta um comportamento viscoso. O trecho da curva
situado entre as ordenadas U = 0 e U = 100 % é também denominado de compressão
primária do solo.
Há uma enorme diferença conceitual entre os processos de adensamento e de fluência. No
processo de adensamento, a resposta do solo a uma mudança em seu estado de tensões
efetivo é admitida como instantânea, ainda que possam ocorrer concomitantemente de-
formações por fluência. As deformações no solo são diferidas no tempo porque o estado
de tensões efetivo em cada ponto do solo varia com o tempo, em função da dissipação
dos excessos de pressão neutra. No processo de fluência, todos os excessos de pressão
neutra gerados pelo carregamento já foram dissipados, de modo que o estado de tensões
efetivo em cada ponto passa a ser constante com o tempo. O cálculo dos recalques por
fluência do solo é feito através do índice de compressão secundária, calculado a partir
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-,5
Leitura de deslocamento
1 1 2 2 3
0,15·d
,5
d
1,5
√ t 90
∆e
Cα = (2.31)
∆log(t)
Não raras as vezes, o tempo necessário para que ocorra uma determinada percentagem de
adensamento do solo em campo é demasiadamente longo. Acontece que, em alguns casos,
a obra só pode ser finalizada após completado virtualmente o processo de adensamento
do solo, sob pena desta vir a apresentar um mau funcionamento ou mesmo ter o seu uso
impedido. Nestes casos, a aceleração dos recalques por adensamento do solo em campo
pode ser a solução mais viável.
Os métodos de aceleração de recalques em campo mais utilizados são o sobre adensamento
e o método dos drenos verticais de areia. No caso do método do sobre adensamento, a
aceleração de recalques é feita calculando-se o recalque total a ser apresentado pelo solo
quando da instalação da estrutura e submetendo-o previamente a uma tensão vertical
de valor maior do que aquela prevista após a execução do projeto. Deste modo, o valor
do recalque total previsto para ser atingido pelo solo em decorrência da obra pode ser
atingido para menores valores de tempo.
Deve-se notar que devido ao sobre adensamento, o recalque total a ser atingido pelo
solo agora é maior (e função da sobrecarga aplicada ao terreno). Como explicitado
na Eq. 2.26, quanto maior for o valor de ρ, menor será o valor da percentagem de
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3.1 Introdução
De uma forma geral, abordou-se no Capítulo 1 que a água livre ou gravitacional pode se
movimentar de um ponto a outro dentro do solo, desde que haja diferença de potencial
entre esses dois pontos. Durante esse movimento, ocorre uma transferência de energia da
água para as partículas do solo devido ao atrito viscoso, sendo essa energia medida pela
perda de carga. Quando o fluxo de água ocorre sempre na mesma direção, como no caso
dos permeâmetros estudados no Capítulo 1, diz-se que o fluxo é unidimensional. Em
campo, contudo, os fenômenos de fluxo são preferencialmente tri-dimensionais, apesar
de que, para boa parte dos problemas geotécnicos, adotam-se estudos bi-dimensionais,
considerando planos ou seções representativos do problema. Em virtude da ocorrên-
cia frequente do fluxo bidimensional em obras de engenharia e de sua importância na
estabilidade das barragens, este merece especial atenção.
O estudo do fluxo bidimensional é feito, usualmente, através de um procedimento gráfico
conhecido como Rede de fluxo. O processo consiste, basicamente, em traçar na região
em que ocorre o fluxo, dois conjuntos de curvas conhecidas como linhas de fluxo e linhas
equipotenciais. A fundamentação teórica para resolução de problemas de fluxo de água
foi desenvolvida por Forchheimer e difundida por Casagrande (1937). O fluxo de água
através do meio poroso é descrito por uma equação diferencial (equação de Laplace),
bastante conhecida e estudada, pois se aplica a outros fenômenos físicos, como exemplo,
fluxo elétrico.
É importante frisar que o estudo do fluxo de água em obras de engenharia é de grande
importância, pois visa quantificar a vazão que percola no maciço, controlar o movimento
da água através do solo e evidentemente proporcionar uma proteção contra os efeitos
nocivos deste movimento (liquefação em fundos de valas, erosão, piping, etc).
Conforme relatado no Item 1.10, a Eq. 1.53 (equação de Laplace) é utilizada para a reso-
lução do problema de fluxo bidimensional estacionário em solos saturados, homogêneos
e isotrópicos. Caso o solo possua anisotropia, a Eq. 3.2 deve ser utilizada em substitui-
ção à Eq. 1.53. Para melhor aproveitamento do assunto, a Eq. 1.53 é reapresentada na
sequência.
∂2h ∂2h
0=k + 2 (3.1)
∂x2 ∂z
∂2h ∂2h
0 = kx · + kz · (3.2)
∂x2 ∂z 2
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φ(x, z) = −k · h + c (3.3)
∂φ ∂h
= vz = −k · (3.4)
∂z ∂z
∂φ ∂h
= vx = −k · (3.5)
∂x ∂x
∂ψ ∂h
= −vz = k · (3.7)
∂x ∂z
Para φ(x, z) = cte, o valor de h(x,z) também é uma constante. Essa situação representa
na zona de fluxo o lugar geométrico dos pontos de mesma carga hidráulica total, denomi-
nado de linha equipotencial. Por sua vez, a função ψ(x, z) = cte, representa fisicamente
a trajetória da água ao longo da região onde se processa o fluxo. Dá-se o nome de linhas
de fluxo às curvas determinadas pela função φ(x, z) = cte.
Na Fig. 3.1 considere a linha AB, representativa da trajetória da água passando pelo
ponto P, com velocidade tangencial ~v . Dessa figura temos:
vz dz
tanθ = = (3.8)
vx dx
ou
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z
z
B 1
Vz 1
A
P Vx
Vx
2
x x
Figura 3.1: Trajetória de uma partícula de fluído e delimitação dos canais de fluxo.
vz · dx − vx · dz = 0 (3.9)
substituindo as Eq. 3.6 e Eq. 3.7 em Eq. 3.9, temos a Eq. 3.10, o que implica que ψ = cte
ao longo da trajetória de fluxo da água. ssim, as curvas dadas por ψ = cte, definem as
trajetórias das partículas de fluxo (linhas de fluxo), pois em cada ponto elas são tangentes
aos vetores de velocidade.
∂ψ ∂ψ
· dx + · dz = 0 (3.10)
∂x ∂z
No gráfico mais à direita da Fig. 3.1, pode-se observar que a vazão unitária, q, que passa
pela seção 1-2, compreendida entre as duas linhas de fluxo ψ1 = cte e ψ2 = cte é dado
por:.
Zψ1 Zψ2
q= vx · dz = dψ = ψ2 − ψ1 (3.11)
ψ2 ψ1
Logo, se a rede de fluxo é desenhada de modo que ψ2 − ψ1 = cte, pode-se dizer que o
fluxo entre duas linhas de fluxo é constante. O trecho compreendido entre duas linhas de
fluxo consecutivas quaisquer é denominado de canal de fluxo. Portanto, a vazão em cada
canal de fluxo é constante e igual para todos os canais. Outra importante particularidade
referente as linhas de fluxo e linhas equipotenciais diz respeito a sua ortogonalidade, a
qual pode ser verificada pelas equações abaixo (as linhas de fluxo e equipotenciais somente
serão ortogonais para o caso de solos isotrópicos):
Para ψ = cte tem-se:
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dz vz −∂ψ ∂ψ
= = / (3.12)
dx ψ=cte vx ∂x ∂z
∂φ ∂φ
· dx + · dz = 0 (3.13)
∂x ∂z
dz vz ∂φ ∂φ
= = / (3.14)
dx φ=cte vx ∂z ∂x
De forma que:
dz −1
= (3.15)
dx ψ=cte dz
dx φ=cte
De acordo com a Eq. 3.15, as familias de curvas ψ = cte é ortogonal a φ = cte. Assim
as curvas da função φ interceptam as curvas da função ψ segundo ângulos retos, ou, em
outras palavras, as linhas de fluxo cruzam as linhas equipotenciais segundo ângulos retos.
A equação de Laplace, Eq. 3.1, pode ser resolvida por uma grande variedade de métodos,
como por exemplo métodos numéricos, analíticos e gráficos, bem como através de modelos
reduzidos ou através de analogias com as equações que governam os problemas de campo
elétrico ou termodinâmicos.
Os métodos analíticos consistem na solução matemática (integração) da equação de La-
place, obedecendo condições de contorno específicas e envolvendo a determinação das
funções ψ = cte e φ = cte. A complexidade do processo de solução analítica, contudo,
somente justifica a sua aplicação a problemas de fluxo de geometria relativamente simples.
Os métodos numéricos, como por exemplo método das diferenças finitas e métodos dos
elementos finitos, permitem subdividir a zona de fluxo em uma série de pequenos elemen-
tos geométricos, sendo o comportamento do fluxo estudado em cada um deles, mediante
funções simples. A aplicação destas técnicas pressupõe familiaridade com algebra ma-
tricial, cálculo variacional, mecânica dos sólidos e técnicas computacionais. A principal
vantagem dos métodos numéricos é permitir a simulação de casos complexos, como geo-
metrias mais complicadas, materiais com várias camadas com diferentes permeabilidades,
solos não saturados e regime não estacionário, ou seja, utilizando a Eq. 3.1.
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[ht]
Qualquer que seja o método adotado para determinação da rede de fluxo é necessário
definir previamente as condições limites ou de contorno do escoamento, as quais podem
se representar numa situação de fluxo confiando ou de fluxo não confinado. Procura-se
definir quatro condições limites, a saber:
• superfície de entrada (equipotencial de carga máxima)
• superfície de saída (equipotencial de carga mínima)
• linha de fluxo superior
• linha de fluxo inferior
Diz-que o fluxo é confinado quando as quatro condições limites são possíveis de determina-
ção, sendo o fluxo não confinado quando uma das condições limites não está determinada
a priori. As condições de fluxo não confinado serão estudada em detalhe nos próximos
itens. Um problema clássico para o traçado de rede de percolação é ilustrado na Fig. 3.3,
onde uma parede de estacas pranchas é engastada num solo permeável.
NA
NA
H
A B C D
Na Fig. 3.3 pode-se observar que a água percola da esquerda para direita em função da
diferença de carga total existente. A linha AB é uma equipotencial de carga máxima,
pois qualquer ponto sobre esta linha tem a Fig. 3.3, (h = z + u/γw ). A linha CD é a
equipotencial de saída ou de carga mínima. A linha BRC representa a linha de fluxo
superior e linha MN é uma linha de fluxo que representa o caminho percorrido por uma
partícula d’água que vem de uma longa distância (linha de fluxo inferior). Nem a estaca
prancha, nem a rocha são meios permeáveis, logo o fluxo é limitado por esses dois meios.
A Fig. 3.4 apresenta a solução gráfica para o problema clássico da cortina de estacas
pranchas em fundações permeáveis mostrado na Fig. 3.3. Na Fig. 3.4, pode-se observar
que as 9 linhas equipotenciais são perpendiculares às 5 linhas fe fluxo, formando ele-
mentos, aproximadamente, quadrados. Conforme indicado na figura, a rede é formada
por 4 canais de fluxo (nf = 4), sendo número de canais de fluxo igual ao número de
linhas de fluxo menos um (nf = L.F. − 1) e por neq = 8 número de quedas de potencial
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(neq = Leq − 1). Os canais de fluxo tem espessuras variáveis ao longo de seu desenvol-
vimento, pois a seção disponível para passagem de água por baixo da estaca prancha é
menor do que a seção pela qual água penetra no terreno. Em função disso, ao longo do
canal de fluxo, a velocidade da água é variável. Quando o canal se estreita, devendo ser
constante a vazão, a velocidade tem que ser maior, logo o gradiente hidráulico é maior
(lei de Darcy). Em consequência, sendo constante a perda de potencial de uma linha
equipotencial para outra, o espaçamento entre as equipotenciais deve diminuir, de modo
que a relação entre linhas de fluxo e equipotenciais se mantém constante.
NA
NA
H
A B C D
Linha de
fluxo, ψ
⃗v ⃗v
Canal
de fluxo
R
⃗v
M Equipotencial, Φ
N
impermeável
Figura 3.4: Rede de fluxo através de uma fundação permeável de uma cortina de
estacas prancha – Fluxo confinado.
Consideremos agora, um elemento isolado de uma rede de fluxo, como aquele representado
na Fig. 3.5, o qual é formado por linhas linhas de fluxo distanciadas entre si de b no plano
do desenho e de uma unidade de comprimento no sentido normal ao papel.
Segundo a lei de Darcy, a vazão q no canal de fluxo é dada por:
∆h ∆h
q = −k · ·A=k· ·b·1 (3.16)
∆L a
LFn
q=v·b q
LFn+1 ⃗v
equipotenciais
Figura 3.5: Canal de fluxo de uma rede com vazão constante e perda de carga ∆h,
constante entre suas equipotenciais. Considerar a largura de 1m normal ao papel.
q = k · ∆h (3.17)
A carga total disponível H é dissipada através das neq (número de quedas equipotenciais),
de forma que:
H
∆h = (3.18)
neq
Substituindo a Eq. 3.18 em Eq. 3.17 tem-se a Eq. 3.19, a qual expressa a vazão em cada
canal de fluxo (trecho entre duas linhas de fluxo consecutivas quaisquer). Observar que
a vazão é constante e igual para todos os canais.
H
q=k· (3.19)
neq
H
Q = q · nf = k · · nf (3.20)
neq
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ΔH=1,25m
H=10m
⃗v
Figura 3.6: Animação ilustrativa do que acontece em uma linha de fluxo desde
quando a água entra no solo até a sua penúltima linha equipotencial
• Frequentemente, há partes das redes de fluxo em que as linhas de fluxo devem ser
aproximadamente retas e paralelas. Nestes casos, os canais são mais ou menos do
mesmo tamanho e os quadrados vão resultar muito parecidos. O traçado da rede
pode ser facilitado se iniciarmos por essa zona.
• Há uma tendência de se errar em traçar transições muito abruptas entre trechos
aproximadamente retilíneos e trechos curvos das linhas equipotenciais ou de fluxo.
Lembre-se sempre que as transições são suaves, com formatos semelhantes aos de
elipses ou de parábolas. O tamanho dos diferentes quadrados deve ir mudando
gradualmente.
• Em geral, a primeira tentativa de traçado pode não conduzir a uma rede de qua-
drados em toda a região de fluxo. Pode ocorrer, ao final da rede, que entre duas
equipotencias sucessivas a perda de carga seja uma fração da perda entre as equi-
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O traçado da rede de fluxo nos problemas que envolvem o escoamento de água nos solos
tem como objetivo a obtenção da vazão que percola através da seção estudada e do
gradiente hidráulico, da velocidade, das pressões neutras, e da força de percolação em
qualquer ponto do maciço em que se faça necessário.
Vazão
A vazão total que percola pelo maciço pode ser determinada pela Eq. 3.20, apresentada
anteriormente.
Gradientes hidráulicos
A diferença de carga total, H, responsável pela percolação de água, dividida pelo número
de quedas equipotenciais, neq , indica a perda de carga de uma equipotencial para a
seguinte. Esta perda de carga, dividida pela distância entre as equipotenciais (distância
a, na Fig. 3.5), corresponde ao gradiente médio do trecho. Como a distância entre
equipotenciais é variável ao longo de uma linha de fluxo, o gradiente também varia ao
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−∆h
i= (3.21)
a
Velocidade
Uma vez que se tem o gradiente hidráulico em um ponto bastará multiplicá-lo pelo
coeficiente de permeabilidade do solo, para ter a magnitude da velocidade da água |~v |.
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A velocidade ~v de escoamento é sempre tangente à linha de fluxo que passa pelo ponto
e tem a direção do escoamento.
−∆h H
|~v | = −k · =− (3.22)
a a · neq
Pressões neutras
Em determinadas situações, como por exemplo no caso de estruturas de concreto (verte-
douro da barragem), construídas sobre fundações onde ocorre o fluxo de água, as pressões
neutras atuarão na base da estrutura exercendo uma força contrária ao seu peso, o que
pode conduzi-la a uma situação instável. Particularmente, nestes casos, essas pressões
neutras são denominadas de subpressões. Considere a barragem vertedouro esquemati-
zada na Fig. 3.8, a qual está sujeita a percolação de água pela sua fundação.
Figura 3.8: Rede de fluxo pela fundação de uma barragem vertedouro de concreto
e diagrama de subpressões. Modificado de Bueno e Vilar (2004)
.
Para determinar as subpressões atuantes em sua base basta considerar a rede de fluxo e
determinar as cargas em diversas posições (ver novamente animação da Fig. 3.6 e a linha
¯ da Fig. 3.8, a qual representa a variação da carga (energia total da água), à medida
AB
em que a água passa pelas equipotenciais 0 a 6.
Se a base da fundação é adotada como referência de nível, a energia da água na interseção
de cada equipotencial com a base do vertedouro será dada pela soma das cargas altimé-
trica (zf und ) e piezométrica (u/γw ) ao longo de sua extensão. Em cada equipotencial,
o valor da carga total é constante, mas os valores das parcelas de carga altimétrica e
potencial variam.
No ponto 0, a carga total disponível é zf und + H. No final do percurso da água, isto é,
na última equipotencial, a carga disponível é somente zf und . Entre duas equipotenciais
consecutivas dissipa-se ∆h = H/neq .
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Para calcular as subpressões de água em qualquer ponto da rede (por exemplo os pontos
1 e P), deve-se considerar as perdas de cargas que ocorrem até cada um desses pontos.
Sendo assim, considere-se o ponto 1 na base do vertedouro. A carga inicial é zf und + H
e o ponto 1 localiza-se na segunda equipotencial da rede. Logo, da equipotencial que
passa pelo ponto (0) à equipotencial que passa por (1) houve uma perda de carga ∆h,
de forma que:
u(1)
h(1) = zf und + H − 1 · ∆h = zf und + (3.23)
γw
De forma que:
Mesmo raciocínio pode ser estendido aos outros pontos de forma a se obter o diagrama de
subpressões ao longo da base da barragem (Fig. 3.8). Importante notar que, mesmo que
o ponto onde se deseja determinar a pressão neutra não se situe sobre uma equipotencial
da rede traçada, o procedimento descrito acima também se aplica.
A rigor a rede traçada representa apenas algumas equipotenciais e algumas linhas de
fluxo, porém sobre qualquer ponto sempre passará uma equipotencial. Seja o ponto
P situado entre a 4a e a 5a equipotenciais. Estimando que a perda de carga até ele
seja 4, 5 · ∆h (admite-se o uso de interpolação linear), pode-se determinar a subpressão
atuando em P :
u(P )
h(P ) = zf und + H − 4, 5 · ∆h = zf und + (3.25)
γw
De forma que:
O problema pode ser resolvido também graficamente. Para tanto basta dividir a perda
de carga em parcelas iguais, correspondentes ao número de quedas de equipotenciais, e
transformá-las em cotas tal qual se apresenta na Fig. 3.8. A diferença entre a cota dada
pela linha piezométrica e a cota do ponto P, multiplicada pelo peso específico da água,
γw , resultará no valor de u(P).
Forças de percolação
Como já visto no Capítulo 1, quando a água escoa através de uma massa de solo seu efeito
não se limita à pressão hidrostática, que ocorre quando a água está em equilíbrio, mas
esta exerce também uma pressão hidrodinâmica sobre as partículas do solo, na direção
do fluxo, efeito que pode representar-se por empuxos hidrodinâmicos tangentes às linhas
de percolação.
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Na Fig. 3.8 o elemento destacado tem lado a, e gradiente hidráulico i = −∆h/a, sendo a
perda de carga entre duas equipotenciais consecutivas igual a ∆h = H/neq (ver Eq. 3.22).
Levando-se em consideração a Eq. 1.6 utilizada para o cálculo das forças de percolação
por unidade de volume, γf p , e o gradiente hidráulico do elemento destacado na Fig. 3.8,
tem-se:
H
|γ~f p | = γf p = −γw · (3.27)
a · neq
O fluxo de água através de maciços de terra constitui um dos casos de maior importância
na aplicação da teoria de fluxo para resolução de problemas práticos. A percolação
através do maciço compactado enquadra-se no caso de fluxo não confinado, uma vez que
uma das fronteiras da zona de fluxo (a linha de fluxo superior) não está previamente
determinada.
Considere-se a Fig. 3.9. Admitindo uma referência de nível ao longo da superfície im-
permeável, temos como condição limite, a equipotencial de carga máxima (linha AB), a
equipotencial de carga mínima (linha CD), a linha de fluxo inferior (linha AC), a linha
que limita o fluxo na região superior do maciço é denominada de linha freática e não
está definida a priori. A linha freática, formada pelos pontos do maciço que possuem
valores de pressão neutra iguais ao valor da pressão atmosférica (ou u=0, já que a pres-
são atmosférica é normalmente tomada como referência), sendo uma linha de fluxo com
características próprias, sua determinação constitui o primeiro passo para o traçado da
rede de fluxo em meio não confinado.
Dupuit em 1963 estabeleceu as primeiras bases para a solução de fluxo não confinado e
mais tarde Kozeny propôs uma solução teórica para uma barragem homogênea com filtro
horizontal a jusante e fundação impermeável, como se mostra na Fig. 3.10. A solução
Kozeny admite que a rede de fluxo é constituída por dois conjuntos de parábolas confocais
conjugadas, um deles representando as linhas de fluxo e o outro representando as linhas
equipotenciais. A parábola básica de Kozeny foi obtida através da teoria das variáveis
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Linha
freática
Linhau=0
freática
Reservatório
Solo
Linha freática
Saturado
Figura 3.9: Percolação através do maciço de barragem de terra – fluxo não confi-
nado.
A Fig. 3.11 apresenta algumas posições rotineiras do foco (F) na parábola básica, neces-
sárias para o seu traçado. Após traçada a parábola básica são feitas correções de entrada
e saída desta linha no maciço, a fim de que esta respeite as condições de contorno da linha
freática, que são esquematizadas na sequência. Na Fig. 3.12 apresenta-se uma animação
que ilustra o passo a passo a ser adotado para construção da parábola básica.
Filtro
de pé
F F F F
porque para satisfazer essa condição, a freática precisaria aumentar a sua energia com o
transcorrer do fluxo, o que é contrário aos conceitos básicos apresentados até aqui (como
a lei de Darcy, por exemplo).
Condições de saída da linha freática no maciço de terra
Na Fig. 3.14, apresentam-se condições de saída da freática, devendo ressaltar que, roti-
neiramente, a freática é tangente ao talude de jusante para os casos em que ω ≤ 90o .
Para ω > 90o (filtro de pé), a linha freática tangencia a vertical no ponto de saída do
talude de jusante.
Outra condição a ser observada é o ponto de saída da freática no talude de jusante
(Fig. 3.15). Para condições diferente daquela proposta por Kozeny, filtro horizontal
(ω = 180o ), o ponto da saída da freática não coincide com o ponto de saída da parábola
básica, sendo necessário fazer a correção da saída da freática no talude de jusante.
Casagrande, após observações em modelos, recomenda a seguinte correção na parábola
básica:
• determinar o ponto de encontro da parábola básica com o talude de jusante
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s
l l2 h2
a= · + (3.28)
cos ω cos2 ω sin2 ω
Figura 3.16: Correções para posicionar a linha freática para os casos de ω > 90o e
ω = 90o
Permeáveis
No caso de fluxo de água em maciços e fundações permeáveis, a dificuldade está em
definir as condições limites do problema. Definidas as condições limites, a rede é traçada
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Figura 3.17: Exemplo de rede de fluxo em meio não confinado – Barragem de terra
com filtro de pé. Modificado de Stancati (1984)
A percolação, na maioria dos casos práticos, ocorre em solos anisotrópicos com relação
à permeabilidade. Isto significa dizer que a permeabilidade é diferente nas duas direções
ortogonais tomadas (kx 6= kz ). Essa situação ocorre com frequência em solos sedimentares
bem como nos maciços compactados, onde geralmente, o coeficiente de permeabilidade
na direção horizontal tende a ser maior que o da direção vertical (kx ' 10 · kz ). Para o
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kx ∂ 2 h ∂ 2 h
· + 2 =0 (3.29)
kz ∂x2 ∂z
∂2h ∂2h
+ 2 =0 (3.30)
kx ∂z
· ∂x2
kz
Desta forma, as distâncias em x são modificadas por um fator de escala que é dado pela
relação de permeabilidades conforme a Eq. 3.31.
r
kz
xt = x · (3.31)
kx
De forma que se obtém a Eq. 3.32, que é uma adaptação da equação de Laplace para
meios anisotrópicos.
∂2h ∂2h
+ 2 =0 (3.32)
∂x2t ∂z
Da
p Eq. 3.32, pode-se verificar que procedendo uma mudança de variável para xt =
kz /kx , uma região homogênea e anisotrópica pode ser transformada numa região arti-
ficialmente isotrópica, onde a equação de Laplace é válida, e consequentemente a teoria
até aqui desenvolvida é aplicável. Esta seção é normalmente denominada de seção trans-
formada.
Na prática, a partir da seção real (kx 6= kz ), desenha-se uma seção transformada em escala
tal que satisfaça a Eq. 3.32. A seguir, traça-se a rede de fluxo na seção transformada
com elementos quadrados e em seguida retorna-se ao problema original desdobrando as
dimensões da direção que foi reduzida.
Na seção real, as linhas equipotenciais não são mais necessariamente ortogonais às linhas
de fluxo e os elementos da rede podem assumir a aparência de retângulos ou losangos,
dependendo da relação de permeabilidades. Na Fig. 3.19 são apresentados exemplos de
redes traçadas em coordenadas transformadas e depois retornadas à sua condição real.
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z z
x xt
vx z vx z
kz , k x keq
x xt
Seção real (anisotrópica) Seção transformada (isotrópica)
Para o cálculo de gradientes hidráulicos o que vale é a seção real, pois o gradiente é igual
a perda de carga dividida pela distância entre as equipotenciais na escala real e não a
distância entre as equipotenciais na escala transformada.
O cálculo da vazão nos casos de meios anisotrópicos deve ser feita considerando-se uma
permeabilidade equivalente (keq ) determinada em função das permeabilidades reais.
Consideremos um elemento da rede de fluxo em que o escoamento se dá paralelo ao eixo
das abcissas, conforme indica a Fig. 3.20. Na direção x, a velocidade de fluxo na seção
real é igual a:
∂h
vx = −kx · (3.33)
∂x
Enquanto que na seção transformada esta será dada por:
∂h
vxt = −keq · (3.34)
∂xt
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Por outro lado, a vazão calculada seja com o uso da seção original ou com o uso da seção
transformada deve ser a mesma, de forma que temos:
∂h ∂h ∂h
keq · · ∆z · 1 = keq · r · ∆z · 1 = kx · · ∆z · 1 (3.35)
∂xt kz ∂x
∂x ·
kx
p
keq = kz · kx (3.36)
Figura 3.21: Transferência das linhas de fluxo entre meios de diferentes permeabi-
lidades (k1 > k2 ). Modificado de Vargas (1977)
∆h ∆h k1 c
q1 = q2 ⇒ k1 · · a · 1 = k2 · ·c⇒ = (3.37)
a b k2 b
a
senα = (3.38)
AB
E que:
c
senβ = (3.39)
AB
De modo que:
a c
AB = = (3.40)
senα senβ
a
cosα = (3.41)
AC
E que:
b
cosβ = (3.42)
AC
De modo que:
a b
AC = = (3.43)
cosα cosβ
c b
a= · senα = · cosα (3.44)
senβ cosβ
c tanβ k1
= = (3.45)
b tanα k2
Como pode ser observado pela Eq. 3.45, a deflexão das linhas de fluxo são tais que as
tangentes dos ângulos de intersecção com a fronteira são inversamente proporcionais aos
coeficientes de permeabilidade. Caso a permeabilidade k1 for menor que k2 (Fig. 3.22),
pode-se notar que os canais de fluxo devem estreitar no meio 2 para dar passagem à
mesma vazão que percolava nos canais do meio 1.
O traçado de rede de fluxo em seções heterogêneas é mais complexo que o traçado para
seções homogêneas, em virtude da transferência das linhas de um meio para outro. Este
traçado requer uma boa dose de experiência bem como conhecimento dos princípios
básicos da teoria. O fluxo em um meio heterogêneo pode admitir mais de uma solução
para o mesmo problema, dependendo as hipóteses adotadas.
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Figura 3.22: Transferência das linhas de fluxo entre meios de diferentes permeabi-
lidades (k1 < k2 ). Modificado de Bueno e Vilar (2004)
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4 RESISTÊNCIA AO CISALHAMENTO
4.1 Introdução
adensadas, a curva tensão/deformação obtida não permite uma definição precisa do ponto
de ruptura. Nestes casos, é usual se convencionar como ponto de ruptura do material o
valor de tensão para o qual se obtém uma deformação axial em torno de 20%.
O estudo do comportamento de resistência de um determinado material é normalmente
realizado por intermédio de um critério de ruptura. Um critério de ruptura expressa
matematicamente a envoltória de ruptura de um material, a qual separa a zona de estados
de tensão possíveis da zona de estados de tensão impossíveis de se obter para o mesmo.
Em outras palavras, todos os estados de tensão de um material devem se situar no interior
da sua envoltória de ruptura. Conforme relatado anteriormente, cada material, em função
de suas características, deve possuir um critério de ruptura que melhor se adapte ao seu
comportamento. Para o caso dos solos, o critério de ruptura mais utilizado é o critério
de ruptura de Mohr-Coulomb.
Segundo este critério, inicialmente postulado por Mohr, em 1900, a ruptura de um ma-
terial se dá quando a tensão cisalhante no plano de ruptura alcança o valor da tensão
cisalhante de ruptura do material, o qual é uma função única da tensão normal neste
plano. Em outras palavras:
τf f = f (σf f ) (4.1)
50
Faixa de valores
Tensão cisalhante (kPa) 40 de interesse
30
20
10
c (coesão)
0
0 20 40 60 80 100
Tensão normal (kPa)
Pontos experimentais
Figura 4.1: Envoltória de ruptura típica obtida para um solo e o seu ajuste à
proposta de Mohr – Coulomb.
solo. Conforme será visto no decorrer deste trabalho, para um mesmo solo, a depender
das condições de ensaio especificadas, pode-se obter valores de c e φ diferentes. Deste
modo, deve-se evitar considerar estes parâmetros como propriedades intrínsecas do solo.
τf f = c + σf f · tanφ (4.2)
Onde c é a coesão (ou intercepto de coesão) do solo e φ é o seu ângulo de atrito interno.
Na prática, é impossível quantificar as interferências causadas pelas características do
solo na resistência, porém, constata-se que a utilização da envoltória de Mohr-Coulomb
é uma maneira eficiente e confiável de representação da resistência do solo, residindo
justamente em sua simplicidade um grande atrativo para sua aplicação na prática.
z
z zx
x
xz
σ1 + σ3 σ1 − σ3
σα = + · cos(2α)
2
σ1 − σ3
2 (4.3)
τα = · sen(2α)
2
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Círculo de Mohr
Convenção
de sinais
2
(+)
3 c 1
r=(1-3)/2
(1+3)/2
O estado de tensão em todos os planos passando por um ponto pode ser representado
graficamente, num sistema de coordenadas em que as abcissas são as tensões normais
e as ordenadas são as tensões de cisalhamento. O círculo de Mohr tem seu centro no
eixo das abcissas e pode ser construído quando se conhece as duas tensões principais em
um ponto, com as respectivas inclinações dos planos onde estas atuam, ou as tensões
normais e de cisalhamento em dois planos quaisquer. A Fig. 4.3 ilustra a construção de
um círculo de Mohr para o caso de um estado plano de tensões. As tensões atuando em
um plano com uma inclinação α em relação ao plano principal podem ser obtidas com
o uso da Eq. 4.3, mostrada anteriormente. A Eq. 4.3 pode escrita de uma forma mais
geral, conforme apresentado na Eq. 4.3. Pode-se ainda demonstrar que o raio do círculo
de Mohr é dado pela Eq. 4.5 e que o ângulo que o plano vertical faz com o plano principal
é dado pela Eq. 4.6.
σz + σx σz − σx
σα = + · cos(2α) + τxz · sen(2α)
2
σz − σx
2 (4.4)
τα = · sen(2α) − τxz · cos(2α)
2
s
σz − σx 2
r= 2
+ τxz (4.5)
2
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2τxz
atan
σz − σx
α= (4.6)
2
As tensões principais maior e menor podem ser obtidas somando-se ou diminuindo-se o
valor do raio do círculo de Mohr à coordenada de seu centro. Este procedimento resulta
na Eq. 4.7, apresentada adiante.
s 2
σz + σx σz − σx 2
σ1 = + + τxz
2 2
s 2 (4.7)
σz + σx σz − σx 2
σ3 = − + τxz
2 2
Um ponto notável destaca-se do círculo de Mohr: é o polo, ou origem dos planos, re-
presentado na Fig. 4.4. Desejando-se conhecer as tensões em um plano com inclinação
conhecida, basta traçar uma paralela ao citado plano, pelo polo. A interseção desta pa-
ralela com o círculo de Mohr, fornecerá as tensões no plano. Fig. 4.4 ilustra a obtenção
das tensões em um plano inclinado de α com a horizontal.
Da análise do círculo de Mohr, diversas conclusões podem ser obtidas, como as seguintes:
1. A máxima tensão de cisalhamento ocorre em planos que formam ângulos de 45o
com os planos principais (estes planos são ortogonais entre si)
σz − σx
2. A máxima tensão de cisalhamento é igual a τmax =
2
3. As tensões de cisalhamento em planos perpendiculares são numericamente iguais,
mas de sinal contrário
4. Em dois planos formando o mesmo ângulo com o plano principal maior, com sentido
contrário, ocorrem tensões normais iguais e tensões de cisalhamento numericamente
iguais e de sinais opostos
Pela definição de envoltória de ruptura dada anteriormente, pode-se dizer que para que
um estado de tensão seja possível em um determinado ponto do solo, o círculo de Mohr
representativo deste estado de tensões deve estar totalmente contido na envoltória de
resistência do solo. Particularmente, nos casos de ruptura iminente, o círculo de Mohr
tangenciará a envoltória de ruptura. A Fig. 4.5 apresenta uma envoltória de resistência
obtida a partir de diversos círculos de Mohr construídos para uma condição de ruptura
iminente. Conforme se pode notar, os círculos de Mohr para uma condição de ruptura
tendem a tangenciar a envoltória de ruptura do solo. Na prática, por ser o solo um
material heterogêneo, a sua envoltória de resistência é obtida a partir de um ajuste desta
aos círculos de Mohr de ruptura obtidos experimentalmente, geralmente utilizando-se o
método dos mínimos quadrados.
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Círculo de Mohr
Estado de tensões
(,) (x,xz) z
zx
x
xz
3 c 1
(z,zx) polo
(x+z)/2
c
3 1
1
Plano de
ruptura 3
45+ϕ/2
Φ
c 45+ϕ/2
polo
3 1
A Fig. 4.6 ilustra um círculo de Mohr na ruptura sendo tangenciado pela envoltória de
resistência do solo. Conforme se pode observar nesta figura, o plano de ruptura do solo
faz um ângulo de 45 + φ/2 com o plano principal maior. Como apenas a parte superior
do círculo de Mohr foi apresentada, devido a simetria do problema, pode-se mostrar que
existe um outro plano de ruptura, situado também a 45 + φ/2 do plano principal maior,
só que em sentido oposto ao plano apresentado na Fig. 4.6. Pode-se dizer então, que os
planos de ruptura em um solo, admitindo-se como correto o uso de critério de ruptura
de Mohr Coulomb, perfazem entre si um ângulo de 490 + φ. Para a condição de ruptura,
pode-se também demonstrar que os valores das tensões principais estão relacionados entre
si pela Eq. 4.8, apresentada adiante.
(4.8)
p
σ1 = Nφ · σ3 + 2 · c · Nφ
Onde
φ
Nφ = tan 2
45 + (4.9)
2
Conforme relatado anteriormente, de uma maneira geral, a resistência dos solos é de-
corrente da ação integrada de dois fatores, denominados de atrito e coesão. Conforme
será visto adiante, o ângulo de atrito do solo está associado ao efeito de entrosamento
entre as suas partículas. Por outro lado, a possibilidade ou não de drenagem, ou seja, do
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desenvolvimento de pressões neutras, merece uma atenção especial no estudo dos solos.
Como princípio geral, deve ser fixado que o fenômeno de cisalhamento é basicamente
um fenômeno de atrito e que portanto a resistência de cisalhamento dos solos depende
predominantemente da tensão efetiva normal ao plano de cisalhamento.
4.4.1 Atrito
4.4.2 Coesão
Carga axial, Fz
Medidas ΔH
Plano de cisalhamento
Cabeçote Apoio fixo, medida de
força Fx
Pedra porosa
Medidas deslocamento
Taxa de deslocamento Δx
constante, função do Cv
do solo
Drenos
Figura 4.7: Esquema adotado para a realização do ensaio de cisalhamento direto.
O gráficos da Fig. 4.10 mostram resultados típicos de ensaios de cisalhamento direto e que
de uma maneira geral representam o que ocorre num solo ao ser cisalhado, independente
do tipo de ensaio. A curva cheia é característica das areias compactas: nota-se um valor
bem definido da tensão cisalhante de ruptura, normalmente para pequenas deformações,
e um aumento de volume à medida em que o solo é cisalhado. Já a curva pontilhada é
comum nas areias fofas: após atingida uma determinada deformação axial, as deforma-
ções crescem continuamente sem acréscimos apreciáveis de tensão cisalhante. Contrário
as areias compactas, ocorre agora uma redução de volume.
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Cisalhamento
Areia compacta
Areia fofa
Δx/L
a
v de compressão
v positiva
Topo
Cabeçote
Membrana
Câmara
acrílico
Pedras
porosas
CP Drenagem ou
medida das
pressões neutras
O' rings
Pressão
câmara
Base
Na Fig. 4.14 é apresentada foto ilustrativa de prensa triaxial convencional, com controle
de taxa de deslocamento e para a realização de ensaios com σconf = const.
Para a execução do ensaio, preenche-se a câmara com água e aplica-se uma pressão na
água que atuará em todo o corpo de prova. O ensaio é realizado acrescendo a tensão
vertical, o que induz tensões de cisalhamento no solo, até que ocorra a ruptura ou de-
formações excessivas. Deve-se notar a versatilidade do ensaio. As diversas conexões da
câmara com o exterior permitem medir ou dissipar pressões neutras e medir variações de
volume do corpo de prova. O ensaio triaxial não é normalizado no Brasil. Para consulta
a procedimentos experimentais verificar as normas ASTM-D7181 (2011), ASTM_D4767
(2011), ASTM-D2850 (2007).
Existem várias maneiras de se conduzir o ensaio:
• Ensaio Não Adensado e Não Drenado - Neste ensaio a amostra é submetida a uma
pressão confinante e a um carregamento axial até ruptura sem ser permitida qual-
quer drenagem. O teor de umidade do corpo de prova permanece constante e as
tensões medida são tensões totais. Este ensaio é também chamado de ensaio do
tipo Q, (do inglês quick ), sem drenagem ou ensaio UU (unconsolidated undrained ).
Neste tipo de ensaio, em se tratando de solos saturados, a pressão confinante apli-
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Figura 4.13: Desenho interativo da câmara triaxial. Clique para realizar diferentes
visualizações 3D.
cada será toda absorvida pela água intersticial, de modo que a tensão efetiva de
confinamento do solo permanece inalterada. Símbolo: UU .
• Ensaio Adensado e Não Drenado - Neste ensaio permite-se drenagem do corpo de
prova somente sob a ação da pressão confinante. Aplica-se a pressão confinante e
espera-se que o corpo de prova adense. A seguir, fecham-se os registros de drena-
gem, e a tensão axial é aumentada até a ruptura, sem que se altere a umidade do
corpo de prova. As tensões medidas neste ensaio durante a fase de cisalhamento
são tensões totais. Este ensaio é também chamado de ensaio do tipo R (do inglês
rapid ), adensado rápido, adensado sem drenagem, ou ensaio CU (consolidated un-
drained ). É importante salientar que neste tipo de ensaio, permite-se a dissipação
das pressões neutras originadas pelo confinamento do corpo de prova. Durante a
fase de cisalhamento, os valores de pressão neutra desenvolvidos podem ser medi-
dos. Neste caso o comportamento obtido para o solo pode ser descrito tanto em
termos de tensão total quanto em termos de tensão efetiva. Símbolo: CU.
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σ10 /σ30 . Obviamente, para o caso dos ensaios CD, estes dois critérios irão fornecer os
mesmos resultados (pede-se ao aluno que reflita sobre esta afirmação).
1 – 3 ’1/’3
a a
a2
a1
Após ensaiados vários corpos de prova com diferentes tensões de confinamento, define-se
a envoltória de resistência do solo com os círculos de Mohr obtidos para a condição de
ruptura, conforme se exemplifica na Fig. 4.16. Evidentemente, dependendo do ensaio
podem-se traçar os círculos de Mohr em termos de tensões totais ou efetivas, podendo-
se obter assim uma envoltória referida a tensões totais (c, φ) e outra referida a tensões
efetivas (c0 , φ0 ).
Envoltória efetiva
c’ e '
Envoltória total
ce
‘
4.5.3 Retroanálises
Nos solos de granulação grossa, dada a forma mais ou menos regular das partículas,
reduzem-se os pontos de contato dentro da massa de solo. As tensões transmitidas nesses
pontos são altas fazendo com que os contatos sejam diretos, partícula a partícula. A ação
da película adsorvida é desprezível e a resistência das areias resulta exclusivamente do
atrito entre partículas.
Os altos valores de permeabilidade dos solos grossos, a exceção da ocorrência de eventos
sísmicos, fazem com que a situação drenada melhor represente a resistência das areias.
A equação representativa da resistência desses solos é, por analogia com o atrito entre
corpos sólidos, da forma:
τ = σ 0 · tan(φ0 ) (4.10)
A rigor, a resistência das areias é atribuída a duas fontes. Uma delas, deve-se ao atrito
propriamente dito, que por sua vez se compõe de duas parcelas: a primeira, devida ao
deslizamento nos contatos entre as partículas e a outra devida ao rolamento das partícu-
las, umas por sobre as outras. A Segunda fonte de contribuição refere-se a uma parcela
de resistência relacionada com o arranjo das partículas sólidas, principalmente o grau de
compacidade do solo ou a sua porosidade, a qual por sua vez está intimamente relacio-
nada com a curva granulométrica do solo. Pode-se dizer que as principais características
que interferem na resistência das areias são:
• A compacidade ou densidade relativa
• O índice de vazios ou porosidade
• O tamanho, a forma e a rugosidade dos grãos
• A distribuição granulométrica
Índice de Vazios Crítico
Uma situação particular de carregamento pode ocorrer com areias saturadas em condições
não drenadas, sobretudo com as areias finas fofas. Frente a solicitações extremamente
rápidas e na impossibilidade das pressões neutras serem dissipadas, pode ocorrer a lique-
fação do solo. Um fenômeno desse tipo foi uma das causas da espetacular ruptura da
barragem de Fort Peck (EUA), construída em aterro hidráulico. Tal fenômeno pode ser
explicado pelas variações de volume a que estão sujeitos os solos. No caso das areias fofas,
de compacidade relativamente baixa, o cisalhamento provoca redução de volume do solo.
Estando o solo saturado, e sendo as solicitações no solo suficientemente rápidas (como no
caso dos sismos), essa redução virá acompanhada de um aumento das pressões na água
intersticial, que se não forem dissipadas a tempo, poderão reduzir a tensão efetiva a zero
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Resistência de pico
Areia densa
Tensão cisalhante
Resistência última
t ult
tf
tf
Aeia fofa
Deslocamento horizontal
Aeia fofa
ecr
Índice de vazios
Areia densa
Variação de volume
Ponto de pico
Areia densa
Aeia fofa
Compressão
Deslocamento horizontal
A Fig. 4.18 ilustra resultados de ensaios triaxiais obtidos a partir de corpos de prova
de areia com índice de vazios inicial de 0,605 e 0,834. Conforme se pode observar desta
figura, o corpo de prova com um índice de vazios inicial de 0,605 se comportou de maneira
análoga a uma areia compacta, enquanto que o comportamento apresentado pela amostra
com índice de vazios inicial de 0,834 é típico de uma areia no seu índice de vazios crítico (as
variações volumétricas para altos valores de deformação axial são praticamente nulas).
É interessante notar destas figuras que tanto a resistência final obtida pelas amostras
quanto o seu índice de vazios para altos valores de deformação axial são praticamente
idênticos e iguais ao valor do índice de vazios crítico, para a tensão de confinamento
utilizada no ensaio.
Coesão nas Areias
Areias não saturadas podem exibir uma parcela de resistência independente da tensão
normal. Tal resistência deve-se à capilaridade, que como se sabe origina pressões neutras
negativas. Ora, como a resistência das areias é função da tensão normal efetiva (atrito),
o fato desta aumentar origina a parcela de resistência citada, conhecida como coesão
aparente. O termo aparente refere-se ao fato de que esta é circunstancial e desaparece
quando o solo é totalmente saturado, visto que isso elimina os meniscos. Os principais
fatores que interferem nessa atração inter-partículas são o grau de saturação e o tamanho
das partículas.
Existem ainda outras areias que apresentam em seus pontos de contato algum agente
cimentante como os óxidos de ferro ou cimentos calcários, por exemplo, o que também
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enseja o aparecimento da coesão em areias. Neste caso, desde que o agente cimentante
não seja passível de desaparecer, a areia apresenta uma coesão verdadeira ou perene.
Ângulo de Atrito em Repouso
Quando se despeja uma areia sobre uma superfície horizontal, a inclinação natural que
o talude toma é denominado de ângulo de repouso. Com certa frequência, costuma-se
assumir que o ângulo em repouso é igual ao ângulo de atrito da areia.
Na realidade, o ângulo em repouso corresponde ao atrito que se desenvolve numa camada
superficial inclinada de areia tal qual se observa quando um corpo sólido desliza ao
longo de um plano inclinado, e não engloba em si as características de compacidade da
massa de areia. Como já se falou, a resistência das areias é composta de uma parcela
devida ao atrito por deslizamento, outra devida ao atrito por rolamento e uma terceira
parcela proporcionado pelo arranjo estrutural das partículas. A simples observação da
Tabela 4.1, permite constatar as diferenças que a compacidade introduz no ângulo de
atrito das areias: passa-se de um ângulo da ordem de 30o em uma areia muito fofa para
um ângulo de 38o em uma areia muito compacta de grãos arrendondados e graduação
uniforme.
Resistência em Função das Características da Areia
Compacidade: O ângulo de atrito interno das areias depende fundamentalmente do seu
índice de vazios, o qual, governa o entrosamento entre partículas. Como as areias têm
intervalos de índices de vazios bem variáveis, a comparação entre elas é geralmente feita
pela compacidade relativa. Nota-se que, em média, o ângulo de atrito interno no estado
mais compacto é cerca de 7o a 10o maior do que o ângulo de atrito interno da mesma
areia no estado mais fofo. A Fig. 4.19 apresenta a variação do ângulo de atrito interno
de uma areia em função de densidade relativa, que por sua vez reflete as mudanças em
sua porosidade.
Tamanho dos Grãos: Conforme se pode observar, preservadas a compacidade e a forma
da curva granulométrica, solos que apresentem maior textura (partículas maiores), apre-
sentam valores de resistência ao cisalhamento um pouco superiores.
Distribuição Granulométrica: Quanto mais bem distribuídas granulometricamente as areias,
melhor o entrosamento existente e, consequentemente, maior o ângulo de atrito da areia.
No que se refere ao entrosamento, é interessante notar que o papel dos grãos grossos
é diferente do desempenhado pelos finos. Consideremos, por exemplo, que uma areia
tenha 20% de grãos grossos e 80% de grãos finos. O comportamento desta areia é deter-
minado principalmente pelas partículas finas, pois as partículas grossas ficam envolvidas
pela massa de partículas finas, pouco colaborando no entrosamento. Consideremos, de
outra parte, uma areia com 80% de grãos grossos e 20% de grãos finos. Neste caso, os
grãos finos tenderão a ocupar os vazios entre os grossos, aumentando o entrosamento e
consequentemente o ângulo de atrito interno.
Formato dos Grãos: Embora o formato dos grãos de areia seja de difícil descrição, nele
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Ângulo de atrito
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204060801000
(%) DensidadeRelativa, Dr
estando envolvida sua esfericidade (formato médio), seu arredondamento (formato dos
cantos) e sua rugosidade, tem-se verificado que as areias constituídas de partículas es-
féricas e arredondadas têm ângulos de atrito sensivelmente menores do que as areias
constituídas de grãos angulares.
A maior resistência das areias de grãos angulares é devida ao maior entrosamento entre
grãos. Mesmo no estado fofo, ou para grandes deformações, quando a resistência residual
está sendo solicitada, as areias com grãos angulares apresentam maior ângulo de atrito
interno.
Da análise feita acima sobre a influência das características da areia na sua resistência ao
cisalhamento, se verifica que os fatores de maior influência são, em ordem hierárquica, a
compacidade, a distribuição granulométrica e o formato dos grãos
Muitos fatores fazem com que o estudo da resistência dos solos argilosos seja mais com-
plexo que o dos solos arenosos. No caso dos solos argilosos, o seu histórico de tensões
desempenha um papel fundamental em seu comportamento. Isto ocorre porque, conforme
apresentado no capítulo de compressibilidade, os solos finos exibem um comportamento
essencialmente elastoplástico, de modo que as suas deformações não são totalmente re-
cuperadas quando de um processo de descarregamento. O pré-adensamento do solo,
portanto, o conduz a um estado mais denso do que o mesmo solo normalmente aden-
sado, fazendo com que o mesmo apresente maiores valores de resistência, principalmente
no que se refere a sua coesão. Em outras palavras, com o aumento da máxima tensão
já vivificada pelo solo, mais contatos entre partículas podem resultar plastificados, as-
sim permanecendo mesmo com o descarregamento do solo, o que gera uma parcela de
resistência adicional nos solos pré adensados.
As baixas permeabilidades dos solos argilosos respondem por uma dissipação lenta das
pressões neutras despertadas por um acréscimo de cargas. Torna-se necessário representar
essas condições de dissipação de pressões neutras em cada caso para conhecer com mais
propriedade o comportamento dos solos. Para retratar esses comportamentos existem três
formas clássicas de conduzir os ensaios de resistência, como já foi visto anteriormente:
ensaios não drenados (rápidos), adensados rápidos e drenados (lentos).
Deve-se lembrar também que o mesmo comportamento que caracteriza as areias no to-
cante as curvas tensão/deformação também ocorre nas argilas. Uma argila pré-adensada
experimenta expansões volumétricas quando cisalhada e o seu comportamento tensão/deformação
é muito semelhante ao das areias compactas. As argilas normalmente adensadas ou leve-
mente pré-adensadas (OCR < 4) assemelham-se às areias fofas e experimentam, portanto,
reduções de volume quando cisalhadas (ver Fig. 4.10).
A razão de pré-adensamento do solo possui um papel semelhante, para o caso das argilas,
ao papel desempenhado pela compacidade, para o caso das areias. Também o fenômeno
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da dilatação para o caso das argilas possui causas diferenciadas daquelas para o caso das
areias.
Cabe destacar ainda as interferências do fator estrutura. Conforme já relatado neste
trabalho, o amolgamento das amostras, quer provocado pela amostragem quer pelo cisa-
lhamento, interfere decisivamente nos valores de resistência dos solos argilosos, seu efeito
sendo maior para o caso dos solos exibindo alta sensibilidade.
Pode-se dizer então que a resistência das argilas é basicamente influenciada pelas condi-
ções de dissipação das pressões neutras, razão de pré-adensamento e amolgamento. Nos
itens seguintes far-se-á uma discussão acerca do comportamento apresentado pelos solos
argilosos para cada tipo de ensaio triaxial.
Comportamento das Argilas em Ensaios Drenados ou Lentos (CD)
Em um ensaio triaxial do tipo consolidado drenado, os corpos de prova apresentam
resistências ao cisalhamento crescentes com as tensões normais aplicadas (tensões de
confinamento). Neste caso, todas as tensões medidas são tensões efetivas. A definição da
envoltória é possível a partir do ensaio de vários corpos de prova submetidos a diferentes
condições de confinamento. Uma vez determinada as curvas tensão/deformação, toma-se
o maior valor de tensão desviadora, (σ1 − σ3 )max , e, como já se conhece σ30 (mantido
constante durante o ensaio), é possível desenhar os círculos de Mohr correspondentes à
ruptura de cada corpo de prova.
Deve-se notar que no caso do ensaio triaxial, a tensão desviadora corresponde ao diâmetro
do círculo de Mohr. A estes círculos de Mohr deve-se adequar a envoltória de resistência
do solo, dentro da faixa de tensões de interesse. Para o caso dos solos normalmente
adensados, a envoltória de resistência passa pela origem do sistema de coordenadas, ou
intercepta o eixo Y num valor muito próximo de zero, de forma que c0 = 0, o que
em termos práticos permite definir a envoltória para um solo saturado normalmente
adensado, em termos de tensões efetivas, utilizando-se também a Eq. 4.10.
A Fig. 4.20 ilustra a obtenção de uma envoltória de ruptura para o caso de um solo
normalmente adensado, utilizando-se ensaios do tipo CD. Se o mesmo solo estiver em
uma condição pré-adensada, modificam-se as suas características de resistência. Um solo
deixado adensar desde o instante de sua sedimentação, inicialmente na forma de lama, irá
apresentar curva de compressão tal qual ilustrada na Fig. 4.21. O processo de compressão
confinada da amostra se dá a partir do ponto 0, partindo de uma umidade acima do limite
de liquidez. Uma vez atingido o ponto A, mede-se a sua resistência. Uma outra amostra
do mesmo solo segue o mesmo processo de carregamento, atingindo-se agora o ponto B. As
resistências medidas são representadas por A’ e B’. Deve-se notar que, como as amostras
nunca foram descarregadas estas resistências correspondem ao intervalo normalmente
adensado do solo, definindo como uma envoltória cujo prolongamento passa pela origem
(envoltória de resistência para solos normalmente adensados, Fig. 4.20).
Novas amostras do mesmo solo são carregadas agora até o ponto 1, de onde são descar-
regadas até 2. Posteriormente o recarregamento se inicia, e, atingindo-se os pontos C e
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Φ’
’
τ = c0 + σ 0 · tan(φ0 ) (4.11)
Nestes ensaios a primeira etapa é realizada com total dissipação das pressões neutras
geradas pela tensão confinante. Durante a fase de cisalhamento da amostra, as pressões
neutras desenvolvidas são impedidas de se dissipar, ou seja, não ocorrem variações volu-
métricas por cisalhamento. A Fig. 4.22 apresenta os resultados típicos obtidos a partir
de um ensaio triaxial do tipo CU, em argilas normalmente adensadas e pré-adensadas.
Conforme ilustrado nesta figura, as argilas normalmente adensadas tendem a desenvol-
ver pressões neutras positivas durante o cisalhamento, o contrário ocorrendo para o caso
dos solos pré-adensados. Isto ocorre pelas diferentes tendências de variação volumétrica
destes solos. No caso dos solos normalmente adensados, estes tendem a apresentar de-
formações volumétricas de compressão (há uma tendência de diminuição de volume do
corpo de prova), de modo que para se contrapor a esta tendência, excessos de pressão
neutra positivos são gerados. O contrário ocorre no caso das argilas pré-adensadas.
Durante a realização dos ensaios são conhecidas, de imediato, as tensões totais atuantes.
É possível também efetuar leituras de pressão neutra e conhecer as tensões efetivas em
cada fase do ensaio. Nota-se, como no caso drenado, que as resistências são crescentes
com as tensões normais aplicadas. Os círculos de Mohr em termos de tensões efetivas
definem uma envoltória praticamente igual à obtida em ensaios drenados, donde é muito
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Figura 4.22: Resultados típicos obtidos a partir de ensaios triaxiais do tipo CU,
realizados em solos normalmente adensados e pré-adensados.
Solos normalmente
adensados, ensaios CU.
u
Figura 4.23: Envoltórias de ruptura total e efetiva obtidas em ensaios do tipo CU,
realizados em amostras normalmente adensadas.
Trecho pré- adensado Solos pré - adensados, ensaios
CU.
-u
Figura 4.24: Envoltórias de ruptura total e efetiva obtidas em ensaios do tipo CU,
realizados em amostras pré-adensadas.
seja possível fazer leituras de pressão neutra. Mais uma vez é fundamental conhecer o
papel desempenhado pelas pressões neutras, o que será descrito a seguir, considerando o
solo saturado.
Suponhamos que a amostra estava inicialmente adensada, em campo, sob uma tensão
0 . Imediatamente após a amostragem, o desconfinamento do solo tenderá a provocar
σzo
um aumento de volume, quando então se contrapõe uma pressão neutra negativa igual à
tensão σzo0 ( u = −σ 0 ). A aplicação da tensão confinante gerará acréscimos de pressão
o zo
neutra no corpo de prova. Estando a drenagem impedida e como o solo se encontra
saturado, toda a tensão confinante será suportada pela água intersticial. Tal situação
significa que não houve ganho de resistência pelo confinamento do solo, já que não houve
acréscimo de tensão efetiva.
Finalmente, durante a fase de cisalhamento, novas pressões neutras são geradas. Ao
ensaiar vários corpos de prova, nota-se, de imediato, que todos os círculos de Mohr têm
o mesmo raio e fornecem uma envoltória de resistência horizontal, como a representada
na Fig. 4.25. Na Fig. 4.25, está também representado o círculo de Mohr correspondente
ao estado de tensões efetivas de ruptura, que para o caso de um ensaio UU é sempre
o mesmo, independente do valor da tensão confinante total. A envoltória de resistência
obtida nos ensaios UU é representada pela Eq. 4.12, apresentada a seguir. Note que
para esta situação o ângulo de atrito em termos de tensões totais é igual a zero, e que,
qualquer que seja o círculo considerado:
σ1 − σ2
τmax = cu = (4.12)
2
Envoltória
efetiva
Envoltória total
τ=cu e =0
T E T T
Duas amostras do mesmo solo, com diferentes características iniciais, quando submetidas
às mesmas solicitações atingem estados finais praticamente constantes, desde que haja
prazo suficiente para que se processem as variações volumétricas geradas pelas solicitações
aplicadas. No caso de uma argila saturada, a umidade final será a mesma para as duas
amostras e no caso das areias, as duas amostras tenderão para um mesmo índice de
vazios.
A resistência medida nessas condições finais, isto é, após consideráveis deformações, é
conhecida por resistência residual ou última (τres ou τult ). Pelo exposto, nota-se que a
resistência residual nas argilas independe das condições iniciais (histórico de tensões),
havendo uma relação única entre a tensão efetiva, a umidade e a resistência residual.
Tem-se constatado ocorrer uma redução de φres (ângulo de atrito residual) com o au-
mento de IP e também que φres é dependente do nível de tensões aplicado. Por essa
razão, quando se determina φres é necessário reproduzir as condições de solicitação re-
ais, inclusive quanto aos deslocamentos a esperar. Estas observações são a base para a
formulação dos conceitos fundamentais da mecânica dos solos dos estados críticos, que
tem como característica mais marcante tratar de forma conjunta resistência e deformabi-
lidade, sendo o alicerce de um dos modelos constitutivos mais utilizados para representar
o comportamento dos solos: o Cam-Clay.
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σ1 − σ3
t= (4.13)
2
σ1 + σ3
s= (4.14)
2
Conforme apresentado na Fig. 4.26, o ponto P do círculo de Mohr possui coordenada s e
t e corresponde ao plano de máxima tensão cisalhante. Em outras palavras, o parâmetro
s irá sempre corresponder à coordenada no eixo σ do centro do círculo de Mohr e t
corresponderá à tensão de cisalhamento máxima (logicamente t ocorre em um plano o
qual faz um ângulo de 45o com o plano principal maior). Os parâmetros s e t são algumas
vezes representados pelos símbolos p e q, respectivamente. Neste trabalho se utilizarão
os símbolos s e t, pois que os símbolos p e q já são utilizados na mecânica dos solos dos
estados críticos, com definições diferentes das aqui apresentadas para os parâmetros s e
t.
P (s,t)
t
s
A Fig. 4.27 apresenta uma trajetória de tensões típica seguida por um corpo de prova em
um ensaio triaxial drenado. Conforme se pode notar desta figura, a trajetória de tensões
seguida em termos de s e t possui uma inclinação de 45o com o eixo s. Isto é explicado
pelo fato de que em um ensaio triaxial convencional drenado, o valor da tensão principal
menor permanece inalterado, ou ∆σ3 = 0. Os parâmetros s e t podem ser representados
de forma incremental pelas Eq. 4.15 e Eq. 4.16, apresentadas adiante. Como ∆σ3 = 0
temos ∆t/∆s = 1.
∆σ1 − ∆σ3
∆t = (4.15)
2
∆σ1 + ∆σ3
∆s = (4.16)
2
Conforme apresentado na Fig. 4.27, na ruptura, o círculo de Mohr tangencia a envoltória
de ruptura definida em termos de τf e σf . Além disto, uma nova envoltória de ruptura
pode ser definida, em termos dos parâmetros s e t. Esta nova envoltória, que passa pelo
ponto P(s;t) de cada círculo de Mohr para uma condição de ruptura, é definida em termos
dos parâmetros de resistência c0∗ e α0 , os quais se correlacionam com os parâmetros c’ e
φ0 pelas Eq. 4.17 e Eq. 4.18, apresentadas adiante.
Estado de tensão na
ruptura
1
1
s
Figura 4.27: Trajetória de tensões seguida em um ensaio triaxial drenado e envol-
tórias obtidas.
c0∗
c0 = (4.18)
cos(φ)
parâmetros de resistência do solo, c’ e φ0 , podem então ser obtidos com o uso dasEq. 4.17
e Eq. 4.18. As Eq. 4.17 e Eq. 4.18 podem ser utilizadas tanto para tensões totais como
para tensões efetivas.
No caso dos ensaios triaxiais consolidados não drenados, há geração de pressões neutras
durante o cisalhamento do corpo de prova. Deste modo, em um ensaio triaxial do tipo
CU, caso haja medidas de pressão neutra, pode-se traçar duas trajetórias de tensões
distintas para o solo, uma em termos de tensão efetiva e outra em termos de tensão
total. A definição dos parâmetros s e t em termos de tensão efetiva é feita como segue:
do princípio das tensões efetivas de Terzaghi sabe-se que σ10 = σ1 − u e σ30 = σ3 − u
Substituindo-se os valores de σ10 e σ30 nas Eq. 4.13 e Eq. 4.14 temos:
σ10 + σ30 σ1 − u + σ3 − u
s0 = = =s−u (4.20)
2 2
Como se pode notar das Eq. 4.19 e Eq. 4.20, o parâmetro t tem seu valor independente
da pressão neutra no solo: t = t’. De certa forma, isto já deveria ser esperado, pois
que este parâmetro reflete o valor da máxima tensão cisalhante atuando em um ponto,
e a água, por não poder suportar tensões cisalhantes, não pode interferir em seu valor.
O parâmetro s’, o qual corresponde à média das tensões efetivas principais atuando no
ponto é dado pela Eq. 4.20. Isto faz com que a trajetória de tensões em termos de tensões
efetivas (TTE), obtida em um ensaio CU, se desloque para a esquerda da trajetória de
tensões em termos de tensões totais (TTT), do valor de u.
A Fig. 4.28 apresenta trajetórias de tensões típicas obtidas para o caso de ensaios triaxiais
do tipo CU, realizados em uma amostra de argila em seu trecho normalmente adensado e
pré-adensado. Conforme se pode observar desta figura, no trecho normalmente adensado,
o solo apresenta sempre pressões neutras positivas, de modo que a trajetória de tensões
efetiva, TTE, se encontra sempre à esquerda da trajetória de tensões totais. Para o
caso do trecho pré-adensado, há inicialmente geração de pressões neutras positivas no
corpo de prova (Fig. 4.24), sendo que com o cisalhamento da amostras estas passam a
se apresentar negativas. Deste modo a trajetória de tensões TTE obtida para o caso de
solos pré-adensados inicialmente se situa a esquerda da trajetória TTT, passando à sua
direita com o progresso do cisalhamento do solo.
A trajetória de tensões efetivas, indica portanto, a pressão neutra existente em qualquer
fase do carregamento. Ela indica, também, a tendência do desenvolvimento das pressões
neutras durante o carregamento. Quando a trajetória se desenvolve paralelamente à
trajetória TTT, não está havendo variação na pressão neutra; quando a trajetória se
desenvolve perpendicularmente à trajetória TTT, a variação de pressão neutra é igual à
própria variação da tensão principal maior.
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Tensão de
t Pré-adensamento
’
Trecho pré-adensado Trecho normalmente
adensado
TTE
u TTT
TTE
TTT
s
Figura 4.28: Trajetórias de tensões típicas obtidas em ensaios CU, em amostras
normalmente adensadas e pré-adensadas.
Nos itens anteriores foi apresentado o comportamento do solo sob uma variedade de
condições de ensaio, principalmente no tocante às condições de drenagem, durante as
fases de adensamento e cisalhamento do corpo de prova. É óbvio que qualquer ensaio
deve procurar se aproximar o mais possível das condições de campo. Em particular, o
processo de carregamento em campo deve ser interpretado de modo que se estabeleçam
condições críticas para o problema, as quais poderão ocorrer a curto prazo ou a longo
prazo, relativamente à construção da obra. Por exemplo, a construção de um aterro
sobre argila mole de baixa permeabilidade induzirá pressões neutras na argila, as quais,
ao término da construção, mal terão começado a se dissipar.
A Fig. 4.29 ilustra o desenvolvimento de tensões de cisalhamento e neutras durante a
construção de um aterro em solo mole. Conforme ilustrado nesta figura, durante a fase
de construção do aterro, crescem as tensões cisalhantes no ponto P e as pressões neutras,
de modo que a resistência ao cisalhamento do solo permanece praticamente inalterada.
Após a construção do aterro, o solo passa a sofrer o processo de adensamento, durante
o qual ocorrem a dissipação do excesso de pressão neutra gerado no solo e a diminuição
do seu índice de vazios. Durante este período, as tensões cisalhantes induzidas ao solo
permanecem inalteradas, já que o aterro não tem a sua altura modificada. A resistência
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Altura do aterro
Tensão cisalhante em P
P Tempo
Pressão neutra
Fator de segurança
Tempo
Resistência
Tempo
Período de
construção do aterro Tempo
Período de
construção do aterro
do solo, no entanto, cresce com a dissipação das pressões neutra pelo processo de aden-
samento e com a diminuição do índice de vazios do solo, de modo que a situação mais
crítica neste caso ocorre ao final da construção. Também na Fig. 4.29 está representada a
variação do fator de segurança do solo de fundação com o tempo. Logicamente, menores
valores de F.S. indicam uma condição mais crítica. Neste caso, deve-se utilizar o ensaio
UU na análise da estabilidade do solo de fundação do aterro, pois com o decorrer da
dissipação das pressões neutras há um aumento da estabilidade global do problema.
No caso de taludes de escavação, o que ocorre é o contrário. Neste caso, há um alívio
de tensões, de modo que o solo tende a se expandir e a curto prazo gera excessos de
pressão neutra negativos. Ora, do princípio das tensões efetivas sabe-se que quanto
“mais negativo” for o valor da pressão neutra, maior vai ser o valor da resistência ao
cisalhamento do solo. Também sabe-se que um aumento no índice de vazios do solo
irá faze-lo menos resistente. Deste modo, a condição mais crítica para o solo ocorre
a longo prazo, e os ensaios a serem realizados devem ser do tipo CD. Nestes casos,
recomenda-se também que a faixa de tensões escolhida para os ensaios de laboratório
sejam representativas daquelas em campo, pois o solo irá se encontrar em uma situação
pré-adensada e os parâmetros de resistência do solo irão variar com a sua razão de pré-
adensamento. A Fig. 4.30 ilustra o desenvolvimento de tensões de cisalhamento e neutras
durante a realização de escavações no solo.
De um modo geral, os ensaios drenados, ou do tipo CD, são utilizados para a análise
de problemas em que a situação mais crítica ocorre a longo prazo e em casos onde a
velocidade de construção da obra é inferior à capacidade do solo de dissipar as pressões
neutras geradas. Em outras palavras, não há sentido em se realizar ensaios do tipo UU
para areia ou solo possuindo altos valores de permeabilidade (ou mesmo para o caso dos
solos não saturados), pois, para estes solos, as tensões neutras provocadas pela construção
são dissipadas quase que instantaneamente.
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Tempo
Fator de segurança Resistência
Tempo Tempo
Período da
Período da
escavação
escavação
5 EMPUXOS DE TERRA
5.1 Introdução
Algumas vezes, na engenharia civil, não dispomos de espaço suficiente para fazer uma
transição gradual das elevações do terreno onde queremos implantar uma determinada
obra. Nestes casos, os taludes necessários podem ser demasiadamente altos ou inclinados,
de modo que a estabilidade dos mesmos não é assegurada a longo prazo. As estruturas de
contenção são projetadas para prover suporte para estas massas de solo não estáveis. Os
empuxos de terra são as solicitações do solo sobre estas estruturas, e estes são dependentes
da interação solo/estrutura. O cálculo dos empuxos de terra constitui uma das mais
antigas preocupações da engenharia civil, tratando-se de um problema de elevado valor
prático, de ocorrência frequente e de determinação complexa.
Os muros de arrimo, os escoramentos de escavações, os encontros de pontes, os problemas
de capacidade de carga de fundações, entre outras, são as obras que exigem, em seus
dimensionamentos e análises de estabilidade, o conhecimento dos valores dos empuxos.
Tais estruturas frequentemente requerem verificações adicionais no seu dimensionamento,
não só a análise da sua estabilidade global, como a segurança de seus elementos de
construção. Para o estudo dos empuxos de terra, em síntese, existem duas linhas de
conduta:
• A primeira, de cunho teórico, apoia-se em tratamentos matemáticos elaborados a
partir de modelos reológicos que tentam traduzir, tanto quanto possível, o compor-
tamento preciso da relação tensão x deformação dos solos
• A segunda forma de abordagem é de caráter empírico/experimental, sendo as reco-
mendações colhidas de observações em modelos de laboratório e em obras instru-
mentadas
Vale ressaltar que a disseminação dos métodos numéricos, como o método das diferen-
ças finitas, o método dos elementos finitos ou o método dos elementos de contorno e a
evolução das técnicas de amostragem e ensaios, têm propiciado, nos últimos anos, um
desenvolvimento significativo dos processos de cunho teórico. As análises pelo método
dos elementos finitos (MEF) são, dentre os processos teóricos, as mais difundidas. O
uso do MEF propicia o cálculo tanto dos empuxos quanto das deformações do solo e da
estrutura. Todos os aspectos do problema, como a interação solo/estrutura, sequência
construtiva, comportamento tensão/deformação do solo, podem ser abordados. As mai-
ores dificuldades de aplicação do MEF dizem respeito à definição de uma curva σ × ε que
defina o comportamento generalizado do solo. Neste aspecto, vale dizer que a aplicação
da teoria da plasticidade aos solos vem fornecendo resultados satisfatórios.
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Os empuxos laterais de solo sobre uma estrutura de contenção são normalmente calcula-
dos por intermédio de um coeficiente, o qual é multiplicado pelo valor da tensão vertical
efetiva nos pontos de interesse. O valor deste coeficiente irá depender do processo de in-
teração solo/estrutura, ou seja, dos movimentos relativos entre a estrutura de contenção
e o solo. Deste modo, pode-se dizer que, a depender do tipo de estrutura, obter-se-ão
diferentes valores de coeficientes. Estes coeficientes são denominados de coeficientes de
empuxo do solo e a depender da direção do movimento lateral imposto pela estrutura de
contenção, estes são denominados de coeficiente de empuxo ativo (ka ) ou passivo (kp ).
No caso do solo não apresentar deslocamentos laterais, o coeficiente de empuxo é de-
nominado de coeficiente de empuxo em repouso do solo (ko ), cujo cálculo e aplicação
já foram mencionados no capítulo de tensões geostáticas do volume 1 deste trabalho.
As tensões horizontais efetivas do solo neste caso são calculadas utilizando-se a Eq. 5.1.
Conforme também relatado naquele capítulo, a expressão mais utilizada para o cálculo
do coeficiente de empuxo em repouso do solo é a equação de Jacky (1944), Eq. 5.2.
ko = 1 − sen(φ0 ) (5.2)
ν
ko = (5.3)
1−ν
artifício qualquer este muro seja movimentado para a direita, com deslocamentos unifor-
mes em toda a sua extensão. A Fig. 5.2 ilustra o que acontece, em termos de tensões
horizontais, em dois elementos de solo situados à esquerda e à direita do muro (elemento
A e elemento B, respectivamente).
Conforme ilustrado na Fig. 5.2, os elementos A e B partem de um mesmo valor de tensão
horizontal, σxo
0 = k · σ 0 = k · γ · z , que corresponde ao valor da tensão horizontal em
o zo o w
repouso do solo. Com o deslocamento do muro, o valor da tensão horizontal no elemento
B aumenta, enquanto que o valor da tensão horizontal no elemento A diminui. Deve-
se notar contudo, que este crescimento não se dá indefinidamente, de modo que valores
máximo e mínimo são obtidos para as tensões horizontais atuando nestes elementos. Estes
valores limites correspondem às tensões horizontais para um estado ativo (elemento A)
ou passivo (elemento B) do solo.
Da Fig. 5.2 pode-se notar também que os deslocamentos relativos necessários para se
atingir uma condição de empuxo ativo são menores do que aquelas requeridos para se
atingir uma condição de empuxo passivo. A Fig. 5.3 ilustra o que acontece nos elementos
de solo A e B em termos de círculos de Mohr. Conforme ilustrado nesta figura, ambos
os elementos partem de um círculo de Mohr, possuindo como tensões principais σx0 e σz0 .
No estado em repouso o solo se encontra afastado da ruptura. Com o deslocamento do
muro, as tensões horizontais no elemento B se tornam maiores que o valor da tensão
vertical, sendo seu valor limite alcançado quando o círculo de Mohr passa a tangenciar
a envoltória de resistência do solo. Neste instante, diz-se que o solo está em um estado
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Superfície do terreno
Δx
zw(A)=zw(B)
A B
Muro delgado
Δx
zw
ko, ka e kp
kp
ko
ka
Δx
No estado passivo, a tensão horizontal corresponde a tensão principal maior (σx0 = σ10 ).
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Envoltória efetiva
c’ e ’
σ’x=ko·σ’z σ’z
σ’x(A)=ka·σ’z σ’x(B)=kp·σ’z
Empuxo ativo Empuxo passivo
Figura 5.3: Círculos de Mohr inicial (condição de repouso) e finais para os elementos
A (empuxo ativo) e B (empuxo passivo).
Assumindo-se o solo como granular, ou sem coesão, pode-se demostrar que o coeficiente
de empuxo passivo do solo é dado pela Eq. 5.4, apresentada adiante. Da Eq. 5.4 nota-se
que o coeficiente de empuxo passivo do solo é sempre superior à unidade.
σx0 σ10
φ
kp = = = Nφ = tan 2
45 + (5.4)
σz0 σ30 2
No estado ativo, a tensão horizontal corresponde a tensão principal menor (σx0 = σ30 ). Se
assume-se o solo como granular, ou sem coesão, pode-se demostrar que o coeficiente de
empuxo ativo do solo é dado pela Eq. 5.5, apresentada adiante. Da Eq. 5.5 nota-se que
o coeficiente de empuxo ativo do solo é sempre inferior à unidade.
σx0 σ30
1 φ
ka = 0 = 0 = 2
= tan 45 − (5.5)
σz σ1 Nφ 2
Os processos clássicos utilizados para a determinação dos empuxos de terra são métodos
de equilíbrio limite. Admite-se, nestes métodos, que a cunha de solo situada em contato
com a estrutura de suporte esteja num dos possíveis estados de plastificação, ativo ou
passivo. Esta cunha tenta deslocar-se da parte fixa do maciço e sobre ela são aplicadas
as análises de equilíbrio dos corpos rígidos. A análise de Rankine (RANKINE, 1857)
apoia-se nas equações de equilíbrio interno do maciço. Estas equações são definidas para
um elemento infinitesimal do meio e estendida a toda a massa plastificada através de
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enquanto que a Fig. 5.5 exemplifica o uso da teoria para o caso de solos coesivos. Con-
forme se pode observar, para o caso dos solos coesivos, os valores de empuxo obtidos até
uma profundidade de z = zcr são negativos.
Isto pode ser percebido pelo uso da Eq. 4.8. Note que para o caso de empuxo ativo
σ10 = σz0 e que σ30 = σx0 . Por outro lado, a tensão vertical pode ser dada por σz0 = γ · z + q,
onde q é uma carga eventualmente distribuída na superfície do terreno, de forma que se
pode concluir que as tensões horizontais serão dadas por:
(5.6)
p
γ · z + q = Nφ · σx + 2 · c · Nφ
ou
γ·z+q 2·c
σx = −p (5.7)
Nφ Nφ
Pela Eq. 5.7, no caso de q=0, sem sobrecarga na superfície, teremos σx0 < 0. Para o caso
de existirem sobrecargas na superfície, a Eq. 5.7 deverá ser utilizada para verificar se o
terreno já inicia comprimindo o muro. Caso os valores de σx0 ainda sejam negativos, a
Eq. 5.8 deve ser utilizado para o cálculo do zcr , ou seja, da profundidade a partir da qual
as tensões horizontais passam a ser positivas (de compressão).
p
2·c· Nφ − q
zcr = (5.8)
γ
ka · γ · H 2
Ea = (5.9)
2
A presença da coesão possibilita manter um corte vertical, sem necessidade de escora-
mento, até uma determinada altura no solo (altura crítica), na qual o empuxo resultante
é nulo. Da Fig. 5.5 é fácil perceber que isto ocorre quando z = 2 · zcr . Esta é a altura
na qual podem ser feitas escavações sem escoramento no solo (depois da aplicação dos
Fatores de Segurança devidos, os quais devem variar conforme a obra for de natureza
permanente ou provisória).
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2
k a⋅γ⋅H
E=
2 H/3
He
k a⋅γ⋅H
Figura 5.4: Aplicação do método de Rankine para cálculo do empuxo ativo sobre
estruturas de contenção. Solo não coesivo.
Vale ressaltar também que o solo situado à esquerda do embutimento do muro estará
sujeito a ocorrência de empuxo passivo, podendo contribuir, em conjunto com o peso
próprio do muro, para a estabilidade do conjunto. Neste caso, considerando-se a Eq. 4.8,
pode-se concluir que as tensões horizontais serão dadas por:
(5.10)
p p
σx = Nφ · σz + 2 · c · Nφ = Nφ · γ · z + 2 · c · Nφ
kp · γ · He2
(5.11)
p
Ep = + 2 · c · kp · He
2
Para a consideração do He em projeto, levando-se em conta os efeitos positivos do empuxo
passivo, contudo, é necessário se assegurar de que este vá permanecer durante toda a vida
útil da obra e de que não será removido, por exemplo, por uma obra de terraplenagem
que venha a modificar o nível do terreno à frente do muro de arrimo.
O efeito da água é ilustrado na Fig. 5.6. No caso de o nível do lençol freático interceptar
a estrutura de contenção, existirão dois empuxos sobre a estrutura, um originado pela
água e outro pelo solo. O empuxo da água será aplicado a uma altura Hw /3 da base
da contenção e o empuxo de solo a uma altura que vai diferir de H/3 em função do
fato de dois pesos específicos serem utilizados, acima e abaixo do nível de água (NA).
Abaixo do NA há uma mudança no peso específico do solo, que passa a γsat , e as tensões
neutras devem ser subtraídas das tensões horizontais do solo sobre a estrutura, pois
os coeficientes de empuxo devem sempre ser utilizados em termos de tensão efetiva.
Caso o nível d’água se eleve até a superfície do terreno, o que consiste na situação mais
desfavorável, o empuxo ativo sobre a estrutura de contenção será dado pela Eq. 5.12.
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zcr
H
*2
k ⋅γ⋅H
E= a
2 H*
He H*/3
*
k a⋅γ⋅H
Figura 5.5: Aplicação do método de Rankine para cálculo do empuxo ativo sobre
estruturas de contenção. Solo coesivo.
Nível de água
H
E Hw
Ew
1⋅γ w⋅H w
ka · γsub · H 2 1 · γw · H 2
Ea = + (5.12)
2 2
No caso de taludes com uma inclinação β com a horizontal, pode-se mostrar que os coe-
ficientes de empuxo ativo e passivo são dados pelas Eq. 5.13 e Eq. 5.14, respectivamente.
Os valores dos empuxos sobre as estruturas de contenção são dados conforme descrito
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anteriormente. Deve-se ressaltar que neste caso as resultantes dos empuxos passivo e
ativo serão paralelos à superfície do terreno.
" p #
cos2 (β) − cos2 (φ0 )
cos(β) −
ka = cos(β) · p (5.13)
cos(β) + cos2 (β) − cos2 (φ0 )
" p #
cos2 (β) − cos2 (φ0 )
cos(β) +
kp = cos(β) · p (5.14)
cos(β) − cos2 (β) − cos2 (φ0 )
O método de Coulomb para cálculo dos empuxos de terra foi enunciado por Coulomb
(1776). O método de Coulomb admite as seguintes hipóteses básicas:
• É atendida a condição de deformação plana ao longo do eixo do muro, logo o
problema é bidimensional
• Ao longo da superfície de deslizamento, o material está em estado de equilíbrio
limite (uso do critério de Mohr-Coulomb)
• Ocorre deslizamento relativo entre o solo e o muro. Tensões cisalhantes se de-
senvolvem nesta interface. A direção das tensões cisalhantes é determinada pelo
movimento relativo solo/muro
• A superfície de ruptura pode ser assumida como planar
A Fig. 5.7 ilustra o esquema idealizado por Coulomb para cálculo dos empuxos sobre
estruturas de contenção.
O cálculo do empuxo é efetuado estabelecendo-se as equações de equilíbrio das forças
atuantes sobre uma cunha de deslizamento hipotética. Uma das forças atuantes é o
empuxo, que no estado ativo corresponde à reação da estrutura de suporte sobre a cunha
e, no passivo, à força que a estrutura de arrimo exerce sobre ela. O empuxo ativo será
o máximo valor dos empuxos determinados sobre as cunhas analisadas; o passivo, o
mínimo.
Na mobilização do empuxo ativo, o muro se movimenta de modo que o solo é forçado
a mobilizar a sua resistência ao cisalhamento, até a ruptura iminente. A ativação da
resistência ao cisalhamento do solo pode ser entendida como o fim de um processo de
expansão que se desencadeia no solo a partir de uma posição em repouso. Isto significa
que o valor do empuxo sobre a estrutura de contenção vai diminuindo, com a expansão,
até que se atinge um valor crítico, situado no limiar da ruptura, ou da plastificação.
Quando as análises de equilíbrio são efetuadas para as diversas cunhas hipotéticas, supõe-
se que este limiar da ruptura tenha sido alcançado em todas elas. Portanto, o maior
valor de empuxo estabelecido na análise destas cunhas será o crítico, pois no processo
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B Muro
Caso ativo
Muro
Solo
Normal
(+)
C
⃗
Ea Muro
H W Caso passivo
Ep
Solo
(+)
Muro
Normal
A (
a) b) b)
de ativação ele será atingido em primeiro lugar, sendo por conseguinte o empuxo ativo.
Isto corresponde dizer que o empuxo ativo é um ponto de máximo dentre os valores
determináveis de empuxo para cada cunha possível de ser analisada. Um fato inverso ao
descrito nos últimos parágrafos ocorrerá para o caso passivo.
Em uma cunha qualquer com inclinação i, com um muro de altura H, supondo o caso de
um solo homogêneo de peso específico γ, o peso da cunha será sempre conhecido e dado
pela Eq. 5.15
γ · H2
sen(α + β)
W = · sen(α + i) · (5.15)
2 · sen2 (α) sen(i − β)
Q2
Q1
B
Fϕ
W
H W 90-i+ϕ
A
Ea
90-α+δ
a) b)
Figura 5.8: Polígonos de força atuantes em uma cunha de solo para o caso de um
solo não coesivo
à reação necessária de ser aplicada pelo muro para assegurar a estabilidade do sistema.
Diminuindo-se o valor de i, duas coisas acontecem, as quais agem em sentido contrário
com relação ao valor de Ea :
• O valor de W aumenta, pois diminuindo-se a inclinação i da cunha o volume de
solo envolvido pela cunha é maior. Isto tende a aumentar o valor de Ea
• A direção de atuação de F~φ se torna mais vertical, já que o ângulo que F~φ faz com
a horizontal é 90 − i + φ, conforme Fig. 5.8. Isto tende a diminuir o valor de Ea
Para a determinação de Ea pelo método gráfico, o valor de i é feito diminuir, construindo-
se diversos polígonos de força, um para cada cunha, conforme indicado na Fig. 5.9, para
o caso de um solo sem coesão. Neste caso, temos como parâmetros geométricos β = 10o ,
α = 84, 3o , δ = φ0 = 30o , H = 10m e γ = 20kN/m3 ,enquanto i foi feito variar de 5 em
5 graus, partindo da cunha 1, com i = 70o , até um valor de i = 50o , para a cunha 5.
Pode-se observar que quando o valor de i passa de 55o para 50o , há um decréscimo no
valor de Ea de 399 kN/m para 398 kN/m. Isto indica que a cunha crítica, ou seja aquela
que conduz ao maior valor de Ea , se encontra entre estes dois valores de i.
Como o valor de W é conhecido (ver Eq. 5.15), fazendo-se o somatório de forças nas
direções vertical e horizontal é possível se determinar também analiticamente o valor
de Ea em função dos parâmetros geométricos do problema, de resistência do solo e de
interação solo/estrutura (α, H, β, δ, γ, c0 , φ0 ), além do i. O valor de i o qual conduz
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∂Ea
i p/Eamax = i p/ =0 (5.16)
∂i
O que nos dá o valor de Ea de projeto pelo método de CoO cálculo da estabilidade dos
taludes de terra pode consistir, por exemplo, na determinação do ângulo de inclinação sob
o qual o talude mantém-se em equilíbrio plástico, logicamente considerando as condições
peculiares de cada talude e a influência das pressões neutras provenientes da submersão,
percolação, adensamento ou deformações de cisalhamento. Isto se dará, se em todos
os pontos do maciço taludado, as tensões de cisalhamento igualarem as resistências ao
cisalhamento. O talude existente será considerado estável se o seu ângulo de inclinação
for menor, dentro de certa segurança, que o talude de equilíbrio calculado; e instável no
caso contrário. ulomb:
γ · H2 sen2 (α + φ0 )
Eamax = Ea =
2
· " s #2 (5.17)
0 0
sen(φ + δ) · sen(φ − β)
sen2 (α) · sen(α − δ) · 1 +
sen(α − δ) · sen(α + β)
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Ou simplesmente:
sen2 (α + φ0 )
ka = " s #2 (5.18)
sen(φ 0 + δ) · sen(φ0 − β)
sen2 (α) · sen(α − δ) · 1 +
sen(α − δ) · sen(α + β)
Pode-se então utilizar a Eq. 5.9 para o cálculo do empuxo do solo sobre a estrutura de
contenção pelo método de Coulomb. Para o caso do problema resolvido graficamente na
Fig. 5.9, o uso da Eq. 5.17 conduz a um valor de Ea =401 kN/m, muito próximo do valor
de 399 kN/m indicado na Fig. 5.9.
Para o caso de mais de uma camada de solo, solos coesivos, existência de sobrecargas
variadas na superfície do terreno, embora possa se proceder de forma análoga ao apresen-
tado para uma camada, o método gráfico fornece uma forma mais interativa de cálculo,
ajudando na sedimentação do conhecimento adquirido.
No que tange às cargas aplicadas na superfície do terreno, o método de Coulomb consi-
dera, para cada cunha, somente as sobrecargas atuantes na sua extensão. Por exemplo,
para o caso da cunha ilustrada na Fig. 5.8, a sobrecarga Q1 seria considerada no valor
de W, enquanto que Q2 não. Em outras palavras, não se leva em conta o espraiamento
de tensões, conforme discutido no volume 1 desta apostila.
Para o caso de uma carga distribuída extensa (envolvendo toda a extensão da cunha
crítica), o peso específico do solo pode ser majorado conforme a Eq. 5.19 de forma a levar
em conta as sobrecargas em superfície.
2·q
γq = γ + (5.19)
H · sen(α) · sen(α + β)
~ = c0 · AB 0
|C| (5.20)
C
⃗
i
Q2
Q1
B
zcr
B’ Fϕ
C
⃗
W
H W
90-i+ϕ
A
Ea
90-α+δ
a) b)
Figura 5.10: Polígonos de força atuantes em uma cunha de solo para o caso de um
solo coesivo
1 · γw · Hw2
Eaw = (5.21)
2
Procedimento similar pode ser utilizado para se achar o valor de i que conduz ao Ep
mínimo, resultando em:
sen2 (α − φ0 )
kp = " s #2 (5.22)
sen(φ 0 + δ) · sen(φ0 + β)
sen2 (α) · sen(α + δ) · 1 −
sen(α + δ) · sen(α + β)
A seguir são realizados alguns comentários sobre alguns fatores que influem no valor do
empuxo em uma estrutura de contenção. Aspectos referentes a vários destes fatores já
foram relatados anteriormente.
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1. Influência da Pressão Neutra. O empuxo devido à água deve ser considerado se-
paradamente. Não é possível incluir esforços devidos à percolação de água nas
teorias de Rankine e Coulomb. Ao assumir o nível de água estático, lembrar que
os coeficientes de empuxo referem-se a tensões efetivas, e que a água exerce igual
pressão em todas as direções, sendo o empuxo da água sempre perpendicular à face
da contenção.
2. Influência de Sobrecargas Aplicadas à Superfície do Terreno. Esforços laterais de-
vidos a sobrecargas aplicadas na superfície do terreno nem sempre são de fácil
avaliação. Alguns tipos de sobrecargas (uniformemente distribuídas, lineares, etc)
podem ser consideradas, bastando incluí-las nos polígonos de forças das construções
gráficas. No caso da cargas uniformemente distribuídas, pode-se também utilizar o
artifício representado na Eq. 5.19. No cálculo dos acréscimos dos empuxos devidos
à carregamentos em superfície, alguns resultados de instrumentação comprovam a
aplicabilidade das fórmulas da Teoria de Elasticidade. Entretanto, são necessárias
algumas correções empíricas para adequá-las aos valores reais medidos. Um dos
aspectos a considerar e que requer correção refere-se à rigidez da estrutura. Vários
autores sugerem aplicar, para carregamentos futuros, um fator multiplicativo de 2
nas expressões da Teoria da Elasticidade, para levar em conta a possível restrição
a deformações imposta pela estrutura.
3. Influência do Atrito entre o Solo e o Muro. A influência do atrito entre o solo e o
muro pode ser evidenciada observando-se que quando o muro se move, o solo que
ele suporta expande-se ou é comprimido conforme seja o estado ativo ou passivo.
No primeiro caso, o solo apresenta uma tendência de descer ao longo da parede
que, se impedida, origina tensões tangenciais ascendentes que suportam em parte
a massa de solo deslizante. Alivia-se, assim, o valor do empuxo sobre o muro. No
caso passivo ocorre simplesmente o contrário. O método de Coulomb considera o
atrito e fornece soluções mais realistas em comparação com o método de Rankine.
O emprego de uma ou de outra teoria está associado, inclusive, como já foi referido,
à geometria do problema. A presença do atrito na interface solo/muro, além de
reduzir o valor do empuxo, provoca a sua inclinação. Isto aumenta a estabilidade
calculada do muro, já que a componente horizontal do empuxo, que é diminuída,
está diretamente relacionada com a estabilidade do muro quanto ao escorregamento
e ao tombamento. Além disso, a componente vertical do empuxo age no sentido de
estabilizar o muro, em conjunto com o seu peso próprio.
4. O ângulo de atrito entre o solo e o muro depende fundamentalmente do ângulo de
atrito do solo e da rugosidade da superfície do muro. Na falta de um valor específico,
recomenda-se adotar para δ um valor situado entre o intervalo de φ0 /3 < δ < 2/3φ0 .
A Tabela 5.2 apresenta valores de δ/φ0 para diferentes tipos de muros.
5. Ponto de Aplicação do Empuxo. A teoria de Rankine, admitindo uma distribuição
linear de tensões, fixa o ponto de aplicação do empuxo a 1/3 da altura, medida a
partir da base. A teoria de Coulomb nada estabelece a este respeito. Neste ponto,
vale ressaltar que não só o valor do empuxo é importante no dimensionamento
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Figura 5.11: Diferentes formas de distribuição das tensões provenientes dos empu-
xos de terra sobre as estruturas de fundação.
Por serem construídos utilizando-se de fragmentos de rocha, sem preenchimento, este tipo
de contenção é altamente permeável, o que facilita a drenagem do solo. Para que com o
fluxo o solo não penetre nos vazios do gabião, é necessário que se crie uma camada de
transição, o que pode ser obtido com a utilização de geotêxteis, respeitando o gradiente
hidráulico e permitindo uma boa percolação da água na faixa de contato gabião/solo.
Nos locais onde têm sido empregados os muros de arrimo em gabiões, algumas vezes, tem
sido verificado um processo de depredação, que consiste na retirada da malha metálica
que mantém unidos os fragmentos de rocha, de modo que quando do seu uso exposto ao
público, recomenda-se uma proteção adicional. Para serem estáveis, os muros de arrimo
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geralmente requerem bases que variam de 30% a 60% da altura do muro, de modo que
os mesmos não costumam ser utilizados em locais onde o espaço disponível é pequeno ou
onde o terreno é muito valorizado. De um modo geral, a utilização de muros de arrimo se
restringe até uma altura de aproximadamente 10m. Nos casos dos muros tipo cantoneira
ou contraforte, também trabalha-se por gravidade, mas, neste caso, conta-se com o peso
próprio do solo para garantir a estabilidade da estrutura.
Os muros de flexão ou cantoneira são estruturas mais esbeltas, com seção transversal em
forma de “L” que resistem aos empuxos por flexão, utilizando parte do peso próprio do
maciço arrimado, que se apóia sobre a base do “L”, para manter-se em equilíbrio. Em
geral é utilizado para alturas em torno de 6m. Muros contrafortes são os que possuem
elementos verticais de maior porte, chamados contrafortes ou gigantes, espaçados, em
planta, de alguns metros, e destinados a suportar os esforços de flexão pelo engastamento
na fundação.
Com o progresso dos métodos construtivos, tem se empregado cada vez mais a construção
de estruturas de contenção utilizando-se geotêxteis ou outros elementos estruturais. Este
é o caso dos muros de arrimo construídos utilizando-se as técnicas de terra armada ou solo
envelopado. Embora esteja fora do propósito deste trabalho a apresentação detalhada
dos princípios de funcionamento destas estruturas, pode-se dizer que, nestes casos, há
a incorporação de elementos estruturais ao solo no sentido de conferir a este resistência
à tração. Em ambos os casos, trabalha-se com o atrito entre o solo e os elementos
estruturais, de modo que o uso de solos granulares é sempre preferível. No caso destas
estruturas e mesmo no caso dos muros de arrimo em gabiões, além das verificações
de estabilidade normalmente realizadas, deve-se também realizar análises no sentido de
verificar a estabilidade interna da estrutura de contenção.
As cortinas atirantadas são exemplos de estruturas de contenção utilizadas em locais
onde não há espaço para a execução de muros de arrimo ou onde o terreno é bastante
valorizado, justificando o seu uso. Em seu procedimento executivo, o solo é escavado
paulatinamente (até uma profundidade que não requeira o uso de escoramentos) e placas
de concreto são fixadas no talude por intermédio de tirantes. O coeficiente de empuxo
empregado nesta caso é o coeficiente de empuxo em repouso, ko .
As estacas prancha são peças de madeira, concreto armado ou aço (ou até mesmo PVC),
que se cravam formando por justaposição as cortinas e se prestam para estruturas de re-
tenção de água ou solo, podendo ser utilizadas tanto para obras temporárias quanto para
permanentes. Quanto ao método construtivo pode-se ter estacas prancha em balanço,
em que a profundidade de cravação é suficiente para suportar os esforços laterais. Este
tipo é normalmente aplicado para pequenos desníveis. Quando os desníveis se tornam
maiores, passa-se a utilizar cortinas de estacas prancha ancoradas.
As parede diafragma (ver Fig. 5.13) são paredes de concreto armado, concretadas em
painéis com espessura de 30 até 120cm, antes do inicio da escavação. A largura dos painéis
pode variar entre 2 a 4 metros, podendo ser executados em sequência ou alternados. A
escavação é feita com caçamba tipo “ clan shell” e a concretagem é submersa afastando-se
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A determinação dos esforços laterais sobre muros de arrimo, pode ser feita por qualquer
dos métodos tradicionais, desenvolvidos anteriormente. De qualquer forma, relembra-
se que os esforços são decisivamente determinados pelas deformações em jogo e muita
vezes, dada a rigidez da estrutura, não ocorrem deformações suficientes para mobilizar
os estados de equilíbrio plástico.
Experimentos com areias densas realizados por Terzaghi mostraram que a distribuição
linear de esforços, tal qual preconizado nas teorias tradicionais, tem chance de ocorrer
quando o muro sofre um giro em torno do seu pé. Para areias compactas basta que o
topo do muro se desloque cerca de 0,001 da sua altura, para que o estado de tensões passe
do repouso para o ativo. Como o deslocamento é muito pequeno, parece lícito supor que
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na base do muro. Por estas razões, estas estruturas são denominadas de estruturas de
gravidade.
Por equilíbrio de forças temos:
b
e = xn − (5.27)
2
Isto significa que a resultante de W, Ea e Ep é justamente igual e oposta a resultante
de T e N e deve ter a mesma linha de ação para o equilíbrio do muro. O problema de
dimensionamento do muro se transforma então em um procedimento de tentativa e erro.
A largura necessária para a base geralmente se situa entre 30% e 60% da altura do muro.
Os critérios para um projeto satisfatório de uma seção de um muro de arrimo podem ser
enunciados como segue:
1. A base do muro deve ser tal que a máxima tensão exercida no solo de fundação não
exceda a sua tensão admissível (ou a tensão de ruptura dividida por 3, conforme a
ABNT-NBR-11682 (2009)).
A pressão exercida pela força N na base do muro é uma função de seu módulo e de
sua excentricidade, e. Assumindo uma variação linear da pressão na base do muro,
o equilíbrio de forças é atendido quando as tensões máximas e mínimas na base são
dadas pela Eq. 5.28, mostrada adiante (vide Fig. 5.15). Deve-se também limitar o
valor da excentricidade, de modo que não ocorram tensões de tração no solo. Pode
ser mostrado que para que esta condição seja atendida temos que e ≤ b/6.
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N 6·e
σ1 = · 1+
b b
(5.28)
N 6·e
σ3 = · 1−
b b
N · tan(δ)
F SD = ≥ 1, 5 (5.29)
T
3. Para que o muro seja seguro quanto ao tombamento, a reação R deve cruzar a
base do muro. Se o requerimento de que não surjam tensões de tração no solo da
base do muro é atendido, então o muro é seguro quanto ao tombamento. Mesmo
assim, deve-se considerar um fator de segurança adequado, neste caso, superior a
2,0 (ABNT-NBR-11682, 2009). A Eq. 5.30 nos fornece o valor do fator se segurança
quanto ao tombamento do muro.
Figura 5.16: Verificação das tensões internas para o caso de muros de arrimo em
gabiões.
Ad
≥ 0, 01 (5.31)
Am
1:4 H
H
D H/8 a H/6
As cortinas de estacas prancha, conforme já exposto, são constituídas por peças de ma-
deira, concreto ou aço, cravadas no terreno, que se destinam a contenção da superfície de
solo a ser escavada pela cravação de um seguimento (denominado ficha) abaixo do nível
da escavação. Tem larga aplicação em obras portuárias, proteção de taludes, abertura
de valas, etc.
O emprego de estacas prancha de madeira possui limitações em virtude do seu compri-
mento relativamente pequeno (em torno de 5m), ocorrência de danos durante a cravação,
principalmente em terrenos mais resistentes, bem como, duração reduzida em ambientes
sujeitos a variação do lençol freático. As estacas de concreto apresentam maior resistên-
cia que as de madeira, no entanto, os problemas de cravação também tornam o seu uso
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restrito. As estacas prancha metálicas têm sido usadas com maior frequência devido à
maior facilidade de cravação e de recuperação, melhor estanqueidade e possibilidade de
reutilização. No entanto, estas estacas podem apresentar problemas de corrosão.
As cortinas diferem estruturalmente dos muros de arrimo, por serem flexíveis e terem
peso próprio desprezível em face das demais forças atuantes. Baseando-se em seu tipo
estrutural e esquema de carregamento, as cortinas podem ser classificadas como cortinas
sem ancoragem (cantilever ) e cortinas ancoradas. Por sua vez, as cortinas ancoradas
podem ser subdividas em cortinas de extremidade livre ou de extremidade fixa, de acordo
com a comprimento da ficha, resultando esta diversidade, em diferentes métodos de
cálculo, como veremos adiante.
Para o cálculo das cortinas admite-se geralmente as seguintes hipóteses simplificadoras:
• distribuição linear das tensões ativas e passivas, de modo análogo às teorias clássicas
de distribuição de empuxo do solo sobre estruturas de contenção.
• ângulo de atrito solo/cortina é considerado nulo (similar a teoria de Rankine).
Perceba que a importância desta hipótese é reduzida no caso das estacas-pranchas,
pois ambas as resultantes de empuxo, Ea e EP teriam a mesma inclinação, δ, em
relação a horizontal.
Cortinas sem ancoragem
São usadas para estabilizar pequenas alturas de solo. Em geral, são usadas como estrutu-
ras temporárias de suporte, podendo, no caso de solos arenosos e com pedregulhos, serem
usadas como estruturas permanentes. Uma cortina sem ancoragem resiste ao empuxo
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O
2
2
2 2
a) b) c)
kp · γ · f 2 /2 · f /3 kp · f 3
F SM = = ≥ 1, 5 (5.32)
ka · γ · (H + f )2 /2 · (H + f )/3 ka · (H + f )3
Caso o solo a ser contido apresente coesão e ângulo de atrito não nulos, um diagrama de
tensões horizontais tal qual o apresentado na Fig. 5.20 é obtido.
Cabe ressaltar que aqui são válidas todas as considerações já mencionadas no cálculo de
tensões horizontais conforme a teoria de Rankine, inclusive a Eq. 5.8, utilizada para o
cálculo do zcr . Outro ponto digno de nota, é referente à presença de nível d’água. Caso o
nível de água esteja na mesma posição nos dois lados da cortina, a distribuição de pressão
neutra será hidrostática e balanceada, consequentemente, poderá ser desconsiderada para
fins de cálculo. Caso contrário, isto é, a água esteja apenas um lado da cortina. o efeito
do empuxo hidrostático deve ser considerado tal qual apresentado anteriormente.
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zcr
H*
2⋅c ' √ k p
* 2
Ep1 k a⋅γ⋅( H + f )
E a=
Ep2 2 f
*
k p⋅γ⋅f +2⋅c ' √ k p k a⋅γ⋅(H + f )
kp · γ · f 3 /6 + c0 · kp · f 2
p
F SM = ≥ 1, 5 (5.33)
ka · γ · (H ∗ + f )3 /6
Cortinas Ancoradas
A utilização de ancoragens, permite uma redução das deformações laterais, dos momentos
solicitantes e da profundidade de cravação da estaca. Pode ser utilizado uma ou mais
linhas de tirantes. De uma maneira geral, as estacas prancha são cravadas no solo até a
profundidade fixada em projeto e em seguida procede-se a escavação em estágios, quando
vão sendo colocados os elementos de suporte adicionais (estroncas, tirantes, etc).
A estabilidade das cortinas ancoradas é devido à resistência passiva desenvolvida na frente
da estaca e devido a força de ancoragem do tirante. Existem dois métodos clássicos de
cálculo de cortinas ancoradas, que são: cortinas de extremidade livre (Fig. 5.21) ou de
extremidade fixa (engastada). O método de cálculo da extremidade livre é apresentado
na sequência.
Este é o mais antigo e conservativo método de projeto. Leva a um dimensionamento
econômico, com menores valores de f, mas maiores momentos fletores do que o método de
base engastada. O comprimento da ficha é calculado fazendo-se o equilíbrio de momentos
no nível da ancoragem. A força na ancoragem é então calculada com a base no equilíbrio
de forças horizontais, para um valor de F SM = 1.
Para o cálculo das cortinas de extremidade livre, admite-se que as estacas correspondem
a vigas verticais sobre dois apoios, sendo um a ancoragem e o outro a reação do solo na
frente da ficha. Nesse método de analise é assumido que a profundidade de embutimento
da estaca, abaixo do nível da escavação, é insuficiente para produzir a fixação da mesma.
Dessa forma, a estaca é livre para girar na parte inferior e o diagrama de momento obtido
tem a forma apresentada na Fig. 5.21. O modo de ruptura é por rotação em torno do
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zt
kp · γ · f 2 /2 · (2/3f + H − zt )
F SM = ≥ 1, 5 (5.34)
ka · γ · (H + f )2 /2 · [2/3(H + f ) − zt ]
Ancoragem
Viga de
solidarização
Figura 5.22: Escoramento de escavações.
A
1 Parte superior: equilíbrio
elástico
2
3 Espiral
logarítmica Parte inferior: equilíbrio
plástico
B` B
a) b) c)
Figura 5.24: Distribuição das pressões laterais resultantes das deformações de uma
vala escorada.
0,25 H 0,25 H
H H 0,50 H H 0,75 H
0,25 H
4c
k` 1 m.
0,65 ka. . H 0,2 a 0,4. . H K` . H H
a) b) c)
1o. apoio Pb
li
Pa
apoio (i) . li/2 Pb, Pa, P, Q, Qu...
. ln/2
P resultantes das forças
ln
devido às tensões nas
áreas indicadas
lj
. lj/2 Q
apoio (u)
lu . lu/2 Qu
Figura 5.26: Processo simplificado para determinação dos esforços nas estroncas.
Ep = 7 · f 2 (5.35)
Ep = 3, 5 · f 2 (5.36)
Para outros tipos de solos, outras larguras de aba e espaçamento entre estacas inferiores
a 1,50m, deve-se utilizar fatores de correções nas fórmulas acima (f1 , f2 e f3 ):
f1 (correção devido ao solo):
• 2,0 - Margas em blocos (c > 10kN/m2 )
• 1,5 - Areia (Dr > 70%)
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b
f2 = (5.37)
30
L
f2 = (5.38)
1, 5
b) Ruptura do fundo
Este mecanismo de ruptura normalmente tem maior importância quando o fundo da esca-
vação se encontra em argila mole, não se revelando condicionante de projeto para outros
tipos de solo. O mecanismo de ruptura associado a este fenômeno pode ser assemelhado
a ruptura de fundação direta, que está esquematizado na Fig. 5.27.
Nestes casos, o coeficiente de segurança da vala com relação ao mecanismo de ruptura
de fundo pode ser obtido através da comparação do carregamento do lado externo da
vala com a capacidade de carga do solo calculada, por exemplo, através da teoria geral
de capacidade de carga de Terzaghi. Para as condições da Fig. 5.27, o coeficiente de
segurança é dado por:
c · Nc
FS = (5.39)
γ·H +q
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onde Nc pode ser obtido conforme sugerido por Skempton e que está apresentado na
Fig. 5.28.
É importante ressaltar que a ficha da parede de contenção tem atuação favorável no
sentido de aumentar o coeficiente de segurança contra a ruptura de fundo, uma vez que
esta aumenta a estabilidade pelo acréscimo de sobrecarga.
Em solos arenosos, em presença de água, o fluxo para dentro da escavação, pela base,
tenderá a promover o aparecimento de areia movediça. Há necessidade, portanto, de
impedir que as pressões neutras geradas superem o peso total de solo no fundo da esca-
vação. O controle da percolação de água, o aumento da ficha e a colocação de filtros são
medidas que auxiliam a garantir a estabilidade do fundo da escavação.
c) Estabilidade geral
A estabilidade de todo o sistema pode ser calculada por qualquer método de cálculo de
equilíbrio limite, normalmente empregado para avaliação da estabilidade de taludes. Nos
casos normais os valores mais aceitos para o coeficiente de segurança são 1,3 para obras
provisorias, e 1,5, para obras permanentes.
Escavações com taludes
Nas escavações a céu aberto, é sempre mais econômico prever a execução de taludes sem
ou com bermas do que paredes verticais escoradas ou ancoradas, levando-se sempre em
consideração a resistência ao cisalhamento do solo.
A Tabela 5.3 apresenta algumas indicações sobre as inclinações admissíveis do talude,
em função da profundidade da escavação e das características do solo (peso específico,
ângulo de atrito e coesão).
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Profundidade
Inclinação do
Solo γ (kN/m3 ) φ0 (graus) Coesão (kPa) da escavação
talude
(m)
6 ESTABILIDADE DE TALUDES
6.1 Introdução
Superfície Superfície
circular plana
Superfície
composta
instabilizantes externas são aquelas que alteram o estado de tensão atuante sobre o ma-
ciço, como por exemplo o aumento da inclinação do talude, disposição de material ao
longo da sua crista e os efeitos sísmicos. Estas alterações podem resultar num acréscimo
de tensões cisalhantes que igualando ou superando a resistência intrínseca do solo levam
o maciço à condição de ruptura.
As ações internas são aquelas que atuam reduzindo a resistência ao cisalhamento do solo
constituinte do talude sem mudar o seu aspecto geométrico. Estas causas podem ser,
por exemplo, o aumento da pressão na água intersticial ou o decréscimo da coesão do
solo, causado pela continuação do processo de intemperismo ou pelo aumento do seu
grau de saturação (redução da coesão aparente do solo promovida pela sucção matricial).
O fenômeno de liquefação das areias e a erosão interna do maciço são chamados de
causas intermediárias, pois não se enquadram em nenhuma das duas categorias descritas
anteriormente.
A ação da água tem sido uma das maiores responsáveis na ocorrência de muitos escor-
regamentos de taludes. Ao infiltrar em um maciço de terra, a água, pode produzir os
seguintes efeitos potencializadores da ocorrência de deslizamentos de terra:
• introdução de uma força de percolação, no sentido do escorregamento
• aumento do peso específico do solo e, portanto, da componente da força da gravi-
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Rl
c0 + σ · tan(φ0 )
0
FS = (6.1)
Rl
τ
0
Um maciço com fator de segurança igual à unidade está em uma condição de equilí-
brio limite, ou seja, os esforços atuantes são iguais à resistência disponível. Em outras
palavras, este maciço está na iminência de ruptura. Por outro lado, do ponto de vista
conceitual, taludes com fator de segurança acima da unidade são seguros e abaixo da
unidade “deveriam” ter rompido. É importante ressaltar, contudo, que tanto a quan-
tificação da resistência do maciço como o cálculo dos esforços atuantes trazem consigo
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NT
NA
bo
H*w=Hw·cos2(θ)
⃗v
θ
H
Hw
Φ
N’, U
FΦ
W = b · γ · [H − Hw ] · 1 + b · γsat · Hw · 1 (6.2)
Ou
Ou:
2 · c0 [γ · [H − Hw ] + γsub · Hw ] · tan(φ0 )
FS = + (6.10)
[γ · [H − Hw ] + γsat · Hw ] · sen(2θ) [γ · [H − Hw ] + γsat · Hw ] · tan(θ)
A Eq. 6.10 é uma expressão geral que fornece o valor do FS para a situação mais completa.
As soluções particulares podem ser obtidas a partir dela fazendo nulos os termos não
participantes, ou substituindo adequadamente os termos. No caso de talude constituído
de solo não saturado e com coesão, o γsub e γsat devem ser substituídos por γ. Após
simplificações dos termos, obteremos a Eq. 6.11.
2 · c0 tan(φ0 )
FS = + (6.11)
γ · H · sen(2θ) tan(θ)
No caso de solo não saturado e não coesivo (c0 = 0), então teremos o coeficiente de
segurança dado pela Eq. 6.12.
tan(φ0 )
FS = (6.12)
tan(θ)
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No caso de solo saturado (nível de água coincidente com a superfície do terreno) e não
coesivo (c0 = 0), o fator de segurança do talude será determinado pela Eq. 6.13.
γsub · tan(φ0 )
FS = (6.13)
γsat · tan(θ)
É importante observar que, nos casos de solo não coesivo (c0 = 0), o fator de segurança
não depende da profundidade H. Na Eq. 6.12, nota-se, também, que para ocorrer escor-
regamento é necessário que o ângulo de atrito do solo seja inferior ao do talude (φ0 < θ).
• força peso (W) da massa que tende a deslizar, com direção, sentido, módulo e ponto
de aplicação conhecidos
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~ = c0 · AB
|C| (6.14)
_
AB
a=r· (6.15)
AB
_
onde AB é o comprimento da corda AB e AB comprimento do arco AB.
O método adota uma simplificação para o equilíbrio de momentos, de que a linha de
atuação destas três forças se encontram em um mesmo ponto, M, interseção de W ~ com C.
~
Torna-se, assim, possível, pelo traçado do polígono de forças ( W , F e Cm ), determinar-se
~ ~ ~
a força C~m (coesão mobilizada para o equilíbrio do talude). Comparando-se cm com a
coesão do solo c’, tem-se fator de segurança em termos de coesão para o círculo estudado:
c0
F Sc = (6.16)
cm
Do diagrama de forças apresentado na Fig. 6.3 é possível perceber que, para cada valor
de φ0m adotado, um valor de cm será obtido para atender as condições de equilíbrio, pois
o valor de φ0 afeta a direção de F~ . Por outro lado, da mesma forma que efetuado para a
coesão, é possível definir um Fator de Segurança para o atrito do solo, F Sφ :
tan(φ0 )
F Sφ = (6.17)
tan(φ0m )
c0m
N= (6.18)
γ·H
Figura 6.5: Ábaco de para o cálculo da estabilidade de taludes para o caso de solos
puramente coesivos
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Apesar disso, alguns autores como Michalowski (2002), têm proposto o uso de gráficos
para a análise de estabilidade em situações que extrapolam as situações iniciais previstas
por Taylor. Os ábacos da Fig. 6.6 podem ser utilizados para o cálculo do fator de
segurança de taludes homogêneos com e sem a presença de água. A influência da pressão
neutra é calculada estimando-se um valor de ru = u/γ · z médio ou a favor da segurança.
Outra vantagem dos ábacos da Fig. 6.6 é de que não são necessárias diversas interações
para o cálculo do FS do talude.
Figura 6.6: Ábaco para o cálculo da estabilidade de taludes homogêneos com e sem
a presença de água. Modificado de Michalowski (2002).
Os métodos das fatias são os mais aplicados a problemas práticos, principalmente por
sua flexibilidade em analisar problemas com diversas camadas de solos com propriedades
diferentes, variação da resistência em uma mesma camada, diferentes configurações de
pressão neutra, diversas formas de superfície de ruptura, etc. Estes métodos são assim
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c0i + σi · tan(φ0i )
F SF = (6.19)
τi
Note-se que a definição do fator de segurança envolve apenas os esforços na base da fatia,
como pode ser observado na Fig. 6.7. A maioria dos métodos das fatias admite o fator de
segurança como constante ao longo da superfície de ruptura. Isto implica em considerar
um valor de fator de segurança representativo da segurança de toda a superfície, ou seja,
o valor do fator de segurança deve funcionar como uma espécie média. A divisão do
maciço em fatias é apenas para facilitar o processo de integração numérica.
Para determinar o valor do fator de segurança utilizam-se os fundamentos da estática, ou
seja, o equilíbrio de forças nas duas direções e o equilíbrio de momentos, além do critério
de ruptura de Mohr-coulomb.
Para uma superfície potencial de ruptura qualquer, dividida em n fatias, o problema é
indeterminado, pois tem-se 3n equações de equilíbrio e 6n-3 incógnitas (ver Tabela 6.1,
como apresentado a seguir:
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Xi
Centro Wi
r
Ei Ei+1
r
NA Xi+1
H
Ti
N’i
Ui
bo
Equações Incógnitas
n Eqs. de equilíbrio de forças
n forças normais, N, na base da fatia
horizontais
n Eqs. de equilíbrio de forças n forças cisalhantes mobilizadas , Tm , na base
verticais da fatia
n Eqs. de equilíbrio de momentos n pontos de aplicação da normal N
n-1 forças horizontais interfatias, Ei
n-1 forças vertical interfatias, Xi
n-1 pontos de aplicação de Ei
3n equações 6n-3 incógnitas
equações.
• Existe uma relação entre os esforços normais e tangenciais nas laterais das fatias a
qual pode ser definida por uma função f(x) ou função de inclinação, multiplicada
por uma constante, λ, que funciona como um fator de escala da função f(x), onde
x indica a posição ao longo da superfície de ruptura:
Ei
= λ · F (x) (6.21)
Xi
Esta hipótese proporciona n-1 equações e uma incógnita, λ, o que resulta em 5n-1
equações e incógnitas, fazendo portanto o sistema estaticamente determinado.
Vários autores propuseram soluções para este problema adotando hipóteses simplifica-
doras diferentes, o que acabou resultando em diferentes métodos de análise, conforme
veremos a seguir. Algumas destas soluções não atendem a todas equações de equilíbrio.
Método de Fellenius
Uma das primeiras soluções do tipo método das fatias foi proposta por Fellenius (FEL-
LENIUS, 1936), o qual admitiu que as forças entre fatias são iguais e opostas, ou seja
os esforços interfatias são desprezados. O fator de segurança é determinado diretamente
pelo equilíbrio de momentos em torno do centro geométrico do círculo estudado. O equi-
líbrio de forças não é garantido. Notar que como Fellenius adota uma superfície circular,
o braço de alavanca de Tres e de T será sempre o raio do círculo, r, que por ser constante
pode sair dos somatórios.
n
c0i · boi + Ni0 · tan(φ0i )
P
P P
MR Tres · r i=1
F SM = P = P = n (6.22)
M T ·r P
Wi · sen(θi )
i=1
ou
n
c0i · boi + [Wi · cos(θi ) − ui · boi ] · tan(φ0i )
P
i=1
F SM = n (6.23)
P
Wi · sen(θi )
i=1
Havendo qualquer esforço externo ao talude, como por exemplo uma sobrecarga ou uma
berma em uma região que englobe a superfície de ruptura analisada, considera-se a
sua interferência incluindo-o no somatório dos momentos, instabilizantes. No caso de
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O valor de Tmi contudo neste caso é dado pela Eq. 6.20, de forma que, substituindo-se
Tmi na Eq. 6.24 e isolando-se N 0 tem-se:
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n
c0i · bi + [Wi − ui · bi ] · tan(φ0i )
P
i=1
F SM = n (6.26)
P
Wi · sen(θi ) · Mαi
i=1
Onde
sen(θi ) · tan(φ0i )
Mα = cos(θi ) + (6.27)
F SF
Como o fator de segurança aparece em ambos os lados da Eq. 6.26 (Mα depende do
fator de segurança), deve-se adotar um processo de aproximação sucessiva para se obter
valores de F SF = F SM . As análises são feitas atribuindo-se inicialmente um valor
arbitrário a F SF para o cálculo de Mα , o que vai resultar em um valor calculado de F SM ,
geralmente diferente do arbitrado. Com este novo valor calcula-se Mα e assim procede-se
sucessivamente até a convergência dos valores de FS. O método converge rapidamente
para uma solução única, de modo que, em geral, 3 ou 4 tentativas são suficientes para se
obter um valor aproximadamente constante para FS. Como uma primeira estimativa do
valor de I, é comum adotar-se o valor obtido pelo método de Fellenius. No método de
Bishop simplificado o somatório dos valores de (Xi+1 − Xi ) é considerado como nulo.
Como procedimento prático recomenda-se dividir o talude em cerca de 15 fatias, pois a
partir deste valor há pouco ganho na precisão e um considerável aumento dos cálculos.
Cada par de valores, centro e raio de círculo hipotético, conduz a um valor de fator de
segurança. O valor critico de FS será obtido por tentativas, considerando-se o menor
valor obtido para cada centro, no traçado das isolinhas de Fator de Segurança.
A busca pela superfície crítica é feita de forma análoga ao descrito anteriormente (Fig. 6.8).
Devido a natureza repetitiva dos cálculos e necessidade de trabalhar com várias superfí-
cies de ruptura, os métodos das fatias tornam-se particularmente adequados para solução
por computador.
Método de Spencer
É um método que atende às condições de equilíbrio de forças e de momentos. O método
de Spencer (SPENCER, 1967) assume que a inclinação das forças resistentes nas laterais
das fatias é constante, f (x) = 1 · λ. O método de Spencer pode ser compreendido como
um caso particular do método de Morgenstern e Price (1965) no qual a função f(x) pode
assumir formas variadas, conforme veremos a seguir.
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Figura 6.9: Representação das forças agindo numa superfície de ruptura composta.
Modificado de GEO-SLOPE International Ltd. (2010).
n
[c0i · boi + (N − ui · boi ) · tan(φ0i )] · R
P
i=1
F SM = n n n n n (6.30)
P P P P P
Wi · xi − Ni · fi + kwi · ei ± Di · di ± Ai · ai
i=1 i=1 i=1 i=1 i=1
n
[c0i · boi + (N − ui · boi ) · tan(φ0i )] · cos(θi )
P
i=1
F SF 2 = n n n n (6.31)
P P P P
Ni · sen(θi ) + kwi − Di · cos(ωi ) ± Ai
i=1 i=1 i=1 i=1
A Fig. 6.11 ilustra algumas das funções típicas de inclinação de forças interfatias. Pode-se
calcular, para cada valor de λ, um valor de F SM e e um valor de F SF 2 . Para o caso de
λ = 0, os valores de F SM e F SF 2 correspondem aos valores de FS do método de Bishop
simplificado e Janbu simplificado, respectivamente.
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É importante ressaltar que análises de estabilidade feitas empregando métodos que sa-
tisfazem todas as condições de equilíbrio apresentam diferenças nos resultados inferiores
a 5%; o método de Bishop simplificado, apesar de não satisfazer todas as condições de
equilíbrio, obtém resultados com precisão semelhante. O método de Fellenius apresenta
erros em relação aos métodos rigorosos de até 50% para condições de pressão neutra
elevadas, não sendo recomendada a sua utilização na prática da engenharia.
Pode-se também notar na Fig. 6.10, que a inclinação da curva F SM × λ é menor do
que aquela obtida para a F SF 2 × λ Isto ocorre para a maioria dos casos estudados e
explica os melhores resultados obtidos pelo método de Bishop simplificado (equilíbrio de
momentos), em comparação com o método de Jambu simplificado (equilíbrio de forças).
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