Aplicada a Saneamento
Jose Goes Vasconcelos, Ph.D.
Primeira Versão
Brası́lia, DF
2
°
c José Goes Vasconcelos Neto
Sumário
2 Conceitos Introdutórios 9
2.1 Classificações de escoamentos hidráulicos . . . . . . . . . . . . . 10
2.2 Derivação algébrica das equações de transientes em condutos fe-
chados . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 11
2.3 Determinação da velocidade da onda acústica em condutos . . . . 13
2.4 Problema exemplo: Fechamento instantâneo de uma válvula em
um conduto horizontal e sem atrito . . . . . . . . . . . . . . . . . 17
2.4.1 Representação do problema no grid x-t . . . . . . . . . . 19
2.5 Efeito do ar em solução nos transientes hidráulicos . . . . . . . . 20
2.6 Pressões baixas e fenômeno da separação de coluna . . . . . . . . 22
2.7 Exercı́cios Propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 24
3
SUMÁRIO 4
6 Separação de coluna 66
6.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
6.2 Misturas de ar e água em condutos elásticos . . . . . . . . . . . . 67
6.2.1 Liberação de gases de solução . . . . . . . . . . . . . . . 67
6.2.2 Calculando efeitos do ar livre na velocidade da onda acústica 69
SUMÁRIO 5
7 Transientes Em Bombas 77
7.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 77
7.2 Descrição do problema proposto . . . . . . . . . . . . . . . . . . 78
7.2.1 Descrição do evento de parada súbita de bombas . . . . . 79
7.2.2 Caracterı́sticas gerais do funcionamento de bombas . . . . 81
7.3 Cálculo transiente da parada de bombas . . . . . . . . . . . . . . 84
7.3.1 Variação da carga piezométrica . . . . . . . . . . . . . . . 84
7.3.2 Variação do torque da bomba . . . . . . . . . . . . . . . . 86
7.3.3 Solução pelo método de Newton-Raphson . . . . . . . . . 87
7.4 Start-up de sistemas de bombeamento . . . . . . . . . . . . . . . 90
7
CAPÍTULO 1. SOBRE ESTE MATERIAL 8
Conceitos Introdutórios
• Cálculo das pressões transientes com a derivação algébrica proposta por Jou-
kowski
9
CAPÍTULO 2. CONCEITOS INTRODUTÓRIOS 10
Problemas fı́sicos são solucionados num domı́nio de quadro dimensões: três di-
mensões fı́sicas e uma temporal. Em vários problemas de hidráulica, as três di-
mensões fı́sicas podem ser reduzidas a duas, e mesmo a apenas uma dimensão, o
que é o caso em condutos fechados e canais. Mesmo com essas simplificações, há
diversos tipos de classificações de escoamentos:
Muitas dessas definições já são conhecidas dos engenheiros civis e portanto não
serão aqui repetidas. Outras conceituações podem ser novas, tal como escoamen-
tos transientes e oscilatórios. Escoamentos são aqueles em que os parâmetros de
escoamento, como pressão, vazão, velocidade, etc. variam ao longo do tempo. Es-
coamentos Oscilatórios são um tipo de escoamento transiente onde os parâmetros
de escoamento repetem-se periodicamente no sistema. Esses tipos de escoamento
têm grande importância nos casos onde a freqüência de ocorrência do escoamento
oscilatório é coincidente com a freqüência natural de elementos do sistema. Esco-
amentos oscilatórios não fazem parte do escopo tratado nesse material.
No que tange aos Escoamentos Unifásicos, inclui-se nessa categoria escoamen-
tos com pequenas bolhas. Essas bolhas poderiam ser observadas na massa de água
nos casos onde ar sai de solução na massa lı́quida pela redução da pressão do es-
coamento, ou pelo desenvolvimento de condições de cavitação. Nessas condições
considera-se que o fluido tem um comportamento ”médio”em termos de módulo
de elasticidade. O tratamento desses fluidos pode-se dar com os mesmos tipos de
equações utilizados para água pura, diferentemente para os tipos de escoamentos
onde maiores quantidades de ar (por exemplo, no formato de bolsões) estão pre-
sentes. Escoamentos desse tipo, embora muito relevantes, não são abordados nesse
material. Para esse tipo de escoamentos, ao leitor recomenda-se os texto clássico
de [Wal69].
Em aplicações de saneamento, particularmente ligadas à Hidráulica Transiente,
consideram-se escoamentos do Turbulentos, Unifásico e Pressurizados, muito em-
bora escoamentos em canais (Regime Livre) também possam ser considerados.
Em algumas exemplos, os efeitos de bolsões de ar são considerados, mas várias
simplificações são feitas de forma a permitir que as ferramentas de escoamentos
unifásicos possam também ser utilizadas.
CAPÍTULO 2. CONCEITOS INTRODUTÓRIOS 11
−∆pA (2.1)
ρAVo2 (2.3)
(ρ + ∆ρ)A(Vo − ∆V )2 (2.4)
ρAVo (2.6)
Enquanto que o fluxo de massa que sai do volume de controle é dado por:
(ρ + ∆ρ)A(Vo − ∆V ) (2.7)
CAPÍTULO 2. CONCEITOS INTRODUTÓRIOS 13
Equações 2.9 até 2.12 são referidas como Equações Básicas dos Transientes,
e são válidas na coordenada da válvula desde que não haja reflexões da onda de
pressão na extremidade oposta do sistema, portanto durante o intervalo inicial de
2L/a segundos. Essa equação é comumente referida como equação de Joukowski.
Em casos onde as paredes dos condutos são praticamente inelásticas (como por
exemplo um túnel cavado em rocha), o valor de ∆A torna-se desprezı́vel, e com
isso:
K
a2 = (2.18)
ρ
que corresponde a velocidade da onda acústica de uma pequena perturbação em
um fluido de extensão infinita. Por outro lado, em condutos com paredes muito
elásticas (por exemplo, borracha), o 1 no denominador da equação 2.17 é pequeno
e portanto desprezı́vel, o que permite a simplificação para a expressão:
A ∆p
a2 = (2.19)
ρ ∆A
Procura-se aqui exemplificar parte da discussão que foi apresentada até o momento.
Entre os problemas transientes mais simples inclui-se exemplos com condutos ho-
rizontais e sem atrito. Tomemos como exemplo o fechamento total e instantâneo de
uma válvula a jusante de um conduto com essas caracterı́sticas, que tem na extre-
midade de montante um reservatório de carga constante Ho . A figura 2.4 apresenta
um diagrama representativo para esse problema.
CAPÍTULO 2. CONCEITOS INTRODUTÓRIOS 18
O fato de não haver dissipação de energia nesse problema (uma vez que o atrito
foi desprezado) faz com que o problema tenha um caráter cı́clico, com quatro fases
especı́ficas. Vamos analisar cada uma dessas fases.
Na primeira fase, que existe no intervalo de tempo 0 < T < L/a, o fechamento
instantâneo zera a vazão na válvula e gera uma onda na válvula que causa um
aumento na pressão piezométrica de H = a/gVo , sendo Vo a velocidade inicial no
conduto. Essa onda viaja de jusante para montante, com velocidade a. Adiante da
onda, os valores de pressão piezométrica e velocidade são (Ho , Vo ) e atrás da onda
(Ho + H, 0), respectivamente. Essa fase termina no momento em que a onda de
pressão chega ao reservatório.
A segunda fase existe no intervalo L/a < T < 2L/a. No reservatório, o
fato de haver condições de carga constante impõe que na extremidade ligada ao
reservatório a pressão permaneça no valor Ho . Assim, como a pressão no conduto é
maior (Ho +H), inicia-se um processo de reversão da direção da vazão no conduto,
CAPÍTULO 2. CONCEITOS INTRODUTÓRIOS 19
O módulo de elasticidade geral é calculado pela equação 2.16, e para cada uma
das fases pode separadamente obtido como:
∆p
Kliq = − (2.25)
∆Vliq /Vliq
∆p
Kg = − (2.26)
∆Vg /Vg
no conduto.
O aparecimento de cavidades de ar/água gasosa pode ocorrer em longas ex-
tensões do conduto, como decorrência da queda de pressão generalizada no sis-
tema. Tal é muitas vezes referido como cavitação distribuı́da. Em outras ocasiões,
o mesmo ponto onde a pressão baixa foi gerada é o local onde esses bolsões apa-
recem. Tal seria o caso do problema exemplo sobre o fechamento instantâneo de
válvula, na terceira fase, imediatamente na região da válvula. Finalmente, em ca-
sos onde há a saı́da de ar em solução, esses bolhas de ar tendem a se acumular nas
partes elevadas do conduto.
Em termos do escoamento, a velocidade de escoamento tende a acelerar quando
a água passa na região da cavidade, e desacelerar imediatamente depois. Dessa
forma, a tendência é que, uma vez que a pressão torne a subir, a coluna de mon-
tante alcance a coluna de jusante. Se a diferença entre a velocidade de montante
para jusante no bolsão é de ∆V no momento em que o bolsão desaparece, a pressão
piezométrica subirá subitamente de a∆V /2g, o que pode resultar na ruptura da li-
nha.
É de certa maneira óbvio mencionar, mas outra preocupação de projetistas em
eventos transientes onde a pressão é menor que a atmosférica é que não haja co-
lapso das paredes do conduto. Assim, especialmente para materiais elásticos como
o aço, recomenda-se uma espessura relativa e/D mı́nima para que não ocorra o
colapso durante eventos onde ocorra cavitação distribuı́da na linha.
CAPÍTULO 2. CONCEITOS INTRODUTÓRIOS 24
3.1 Introdução
Esse capı́tulo tem por objetivo apresentar a derivação das equações transientes para
a Hidráulica de Forma Geral. Toda a discussão começa com a construção de um
25
CAPÍTULO 3. DERIVAÇÃO DAS EQUAÇÕES TRANSIENTES 26
∂
(ρ~u) + ∇ · (ρ~u ⊗ ~u + p I − Π) = ρ~g (3.5)
∂t
2
u uv uw
~u ⊗ ~u = vu v 2 vw (3.6)
wu wv w2
1 0 0
I = 0 1 0 (3.7)
0 0 1
Tem-se agora um volume de controle fixo com relação a um tubo onde um esco-
amento unidimensional ocorre. O volume de controle move-se na direção trans-
versal do escoamento com velocidade u na coordenada x. As paredes do condutos
aumentam ou diminuem de dimensão de acordo com a pressão interna ao con-
duto.A Figura 3.1 apresenta um esquema dessa configuração. Com isso, a equação
da continuidade para esse elemento do escoamento é
∂ D0
− (ρA(V − u))δx = (ρAδx) (3.8)
∂x Dt
Onde: ρ é a densidade da água, A é a área da seção transversal do conduto, δx é o
comprimento do volume de controle e a diferencial D0 /Dt é dada por
D0 ∂ ∂
= +u (3.9)
Dt ∂t ∂x
Sendo a taxa de crescimento do comprimento do volume de controle δx igual a:
D0 ∂u
(δx) = δx (3.10)
Dt ∂x
D0 D0 ∂
δx (ρA) + ρA (δx) + (ρA(V − u))δx = 0
Dt Dt ∂x
D0 ∂u ∂ ∂
(ρA) + ρA + (ρAV ) − + (ρAu) = 0
Dt ∂x ∂x ∂x
∂ ∂ ∂u ∂ ∂
(ρA) + u (ρA) + ρA + (ρAV ) − (ρAu) = 0 (3.11)
∂t ∂x ∂x ∂x ∂x
∂ ∂
(ρA) + (ρAV ) = 0
∂t ∂x
∂ ∂ ∂
(ρA) + V (ρA) + ρA (V ) = 0
∂t ∂x ∂x
ρ̇ Ȧ ∂V
+ + =0 (3.13)
ρ A ∂x
∂V
ṗ + ρa2 =0
∂x
(3.18)
a2 ∂V
Ḣ + =0
g ∂x
∂p ∂V
+ ρa2 =0
∂t ∂x
∂H a2 ∂V
+ =0 (3.19)
∂t g ∂x
a2
Ht + Vx = 0
g
Sendo a última equação utilizou-se uma forma mais compacta de representação de
diferenciação, onde um subscrito x ou t é a representação da derivada parcial nas
dimensões correspondentes.
Figura 3.2: Diagrama para a derivação da equação do momento linear para condu-
tos fechados. Adaptado de [WS93].
Para um volume de controle fixo e que não há aumento de volume, pode-se
escrever a segunda lei de Newton da seguinte forma:
³ δx ´
pA − [pA + (pA)x δx] + p + px Ax δx − τo πDδx − ρgAδx sin α = ρAδxV̇
2
(3.20)
Em que τo é a tensão de atrito cisalhante. Assumindo que o comprimento δx é
pequeno, pode-se eliminar os termos em que aparecem δx2 , o que permite, após
simplificação, escrever a equação acima na forma:
ρf L V 2
∆p = (3.22)
D 2
Num escoamento permanente, forças de pressão são compensadas por atrito:
πD2
∆p = τo πDL (3.23)
4
CAPÍTULO 3. DERIVAÇÃO DAS EQUAÇÕES TRANSIENTES 33
ρf V |V |
τo = (3.24)
8
V̇ = Vt + V Vx (3.25)
px V |V |
Vt + V Vx + + g sin α + f =0 (3.26)
ρ 2D
px V |V |
Vt + + g sin α + f =0 (3.27)
ρ 2D
a2
Ht + Vx = 0
g (3.31)
V |V |
Vt + gHx + f =0
2D
• Uma tensão de atrito média e que não se altera pelo caráter transiente do
escoamento é aplicável
CAPÍTULO 3. DERIVAÇÃO DAS EQUAÇÕES TRANSIENTES 35
∂Q ∂A
∆x∆t − qL ∆x∆t = −∆x ∆t (3.32)
∂x ∂t
Onde qL é a contribuição lateral de vazão por unidade de comprimento longitudinal
do rio. Simplificando e levando ∆x, ∆t → 0, chega-se a forma conhecida da
equação de Saint-Venant:
At + Qx = qL (3.33)
Como no caso dos condutos fechados, essa equação representa em essência a se-
gunda lei de Newton. Também como no caso de condutos fechados, são três forças
que predominantemente atuam no controle de volume: força causada pela pressão,
peso e força de atrito. Representando a conservação do momento linear na direção
do escoamento, obtém-se:
Z Z
∂h i ∂ h i
Fpx + Fgx − Fsx = ρvx dA ∆x + ρvx2 dA ∆x − ρql ∆xVL cos φ
∂t A ∂x A
(3.34)
Onde: Fpx é a componente longitudinal da força de pressão, Fgx força de peso
na direção do escoamento, Fsx é a força de atrito, vx é a velocidade (pontual)
CAPÍTULO 3. DERIVAÇÃO DAS EQUAÇÕES TRANSIENTES 36
∂ ∂h
Fpx = − (γhc A)∆x = −γA ∆x (3.35)
∂x ∂x
Onde: hc é a profundidade do centróide da seção, γ é o peso especı́fico da água e
h é a profundidade do escoamento.
Com relação a componente do peso Fgx , assumindo que a declividade do canal
é pequena, pode-se escrever:
∂Q ∂ ³ Q2 ´ ∂
+ β + (ghc A) = gA(So − Sf ) + qL VL cos(φ) (3.41)
∂t ∂x A ∂x
E, no caso de canais prismáticos (onde β ≈ 1) e sem contribuições laterais (usando
a notação compacta):
³ Q2 ´
Qt + + ghc A = gA(So − Sf ) (3.42)
A x
O sistema caracterizado pelas equações 3.33 e 3.42 (ou 3.41) pode ser representado
em formato vetorial:
~ t + F~x (U
U ~ ) = S(
~ U~) (3.43a)
· ¸ " # · ¸
~ A ~ ~ Q ~ ~ 0
U= , F (U ) = Q2 , S(U ) = (3.43b)
Q A + gAhc
gA(So − Sf )
Há algumas perguntas pertinente que o leitor deve estar se fazendo nesse ponto.
São essas formas das equações completamente equivalentes? Como saber qual
forma de equação escolher para a solução do problema?
As equações de Saint-Venant têm essa diversidade pela forma parte pelas di-
ferentes naturezas dos problemas aos quais elas são aplicadas. Esses problemas
incluem a simulação de ondas de cheias em rios (com e sem inundação de planı́cies
de alagamento), o enchimento de canais de irrigação, enchimento de condutos fe-
chados, comportamento da drenagem pluvial durante eventos extremos, entre ou-
tros. Conforme coloca [CJV80], algumas das formas das equações são preferidas a
outras a depender da variação da largura dos canais e da magnitude da declividade
do leito So .
Apesar de serem derivadas matematicamente uma da outra, as formas conser-
vativa e primitiva são matematicamente equivalentes se e apenas se as primeiras
derivadas das grandezas h, u, A, Q são contı́nuas em todo o domı́nio de solução.
Tal exclui automaticamente escoamentos descontı́nuos com superfı́cie livre, tais
como ressaltos hidráulicos. Nessas condições onde descontinuidades aparecem,
relações diferenciais não são definidas no espaço para todo e qualquer ponto do
domı́nio de solução, ou seja, não são definidos termos do tipo ∂/∂x.
Nesses casos, apenas as relações integrais é que podem ser aplicadas, relações
essas que são obtidas diretamente das leis de conservação (equações 3.1 e 3.3).
Soluções para essas condições de escoamento descontı́nuo devem ser baseadas na
integração das equações 3.1 e 3.3, requerimento esse que tem impacto direto na
escolha da solução numérica a ser aplicada.
O que ocorre se essa precaução é desconsiderada? Nesse caso se espera que
haja um erro na previsão dos escoamentos descontı́nuos, particularmente na velo-
cidade da propagação das ondas de choque (outro nome para ressaltos hidráulicos)
em canais. Conforme demonstrado por [VW05], quando um problema onde uma
descontinuidade aparece é resolvido com o uso da forma primitiva das equações
de Saint-Venant, a propagação de uma onda de choque dá-se em uma velocidade
inferior àquela que seria obtida caso a forma conservativa tivesse sido aplicada nos
cálculos. A Figura 3.5 demonstra esse resultado.
muda de 1.5 m/s para 1.0 m/s devido a um alargamento do rio. Os termos de
aceleração local e aceleração convectiva da equação de momento primitiva (∂u/∂t
e u∂u/∂x, respectivamente) são da ordem de:
1m/s 0.5m/s
≈ 0.92 · 10−4 m/s2 e 1.5m/s ≈ 0.75 · 10−4 m/s2
3.3600s 10000m
4.1 Introdução
42
CAPÍTULO 4. O MÉTODO DA COLUNA RÍGIDA 43
Nesse capı́tulo opta-se por uma abordagem da solução numérica mais simples
é apresentada: o Método da Coluna Rı́gida para escoamentos pressurizados. Ao
iniciar-se essa discussão, alguns conceitos precisam ser introduzidos, conceitos que
continuam a ser introduzidos na abordagem dos dois métodos acima referidos.
CAPÍTULO 4. O MÉTODO DA COLUNA RÍGIDA 44
Tomando como referência a Figura 4.1 e a equação 3.27 que descreve a variação
do momento linear no conduto como ponto de partida:
px V |V |
Vt + + g sin α + f =0
ρ 2D
analı́tica apresentada acima não se aplica e uma solução numérica precisa ser im-
plementada. Os detalhes dessa implementação são discutidos a seguir.
Numericamente, a solução da equação 4.3 é simplesmente uma aplicação dos
métodos anteriormente discutidos para a solução de Equações Diferenciais Or-
dinárias. Dois métodos são comumente usados, sendo o primeiro o método de
Euler e o segundo a famı́lia de métodos de Runge-Kutta, especificamente o de 4a
ordem. Opta-se aqui por apresentar em linhas gerais o Método de Euler, pela sua
simplicidade maior facilidade de implementação.
dV gh L V |V | i
= Hm − Hj + (f + Keq ) (4.8)
dt L D 2g
gh L V |V | i
∆V = ∆t Hm − Hj + (f + Keq ) (4.9)
L D 2g
CAPÍTULO 4. O MÉTODO DA COLUNA RÍGIDA 47
2. T=0
3. Enquanto T<Tsim
3.1. Calcular o valor de fricção f
3.2. Calcular (se aplicável) novo valor de K_eq
3.3. Calcular dV/dT - Método de Euler
3.4. Atualizar valores de Hm e Hj
3.5. Escrever resultados (T, V, Hm, Hj)
3.6. T=T+dT
48
CAPÍTULO 5. O MÉTODO DAS CARACTERÍSTICAS 49
como L1 e L2 respectivamente:
V |V |
L1 = Vt + gHx + f =0
2D
(5.1)
a2
L2 = Ht + Vx = 0
g
L1 + λL2 = 0 (5.2)
V |V | a2
(Vt + gHx + f ) + λ(Ht + Vx ) = 0 (5.3)
2D g
a2 λ g V |V |
(Vt + Vx ) + λ(Ht + Hx ) + f =0 (5.4)
g λ 2D
dH ∂H ∂H dx dx
= + = Ht + Hx
dt ∂t ∂x dt dt (5.5)
dV ∂V ∂V dx dx
= + = Vt + Vx
dt ∂t ∂x dt dt
dx a2 λ g
= = (5.6)
dt g λ
então a equação 5.4 pode ser escrita como a seguinte EDO:
dV dH V |V |
+λ +f =0 (5.7)
dt dt 2D
dx
= ±a (5.9)
dt
Sendo que esse domı́nio é denominado Linhas Caracterı́sticas, que no caso do
problema de escoamentos em condutos fechados correspondem a velocidade em
que pulsos de pressão são transmitidos nesses escoamentos.
Sumarizando a estratégia delineada acima, tem-se:
Uma combinação linear das equações de escoamento em condutos pressuriza-
dos permite inferir que desde que a soma da equação de momento com o produto
de ±g/a vezes a equação da continuidade resulta em um par de equações diferen-
ciais ordinárias, que são válidas apenas nas linhas caracterı́sticas dx/dt = ±a.
Matematicamente, pode-se assim escrever as equações denominadas C+ e C−
na forma:
Equação C+:
dV g dH V |V |
+ +f =0 (5.10)
dt a dt 2D
dx
= +a (5.11)
dt
Equação C–:
dV g dH V |V |
− +f =0 (5.12)
dt a dt 2D
dx
= −a (5.13)
dt
A partir dessas equações é necessário promover-se a solução numérica das mes-
mas. A estratégia dessa solução é apresentada a seguir.
Figura 5.1: Grid de solução para problemas de escoamento com apenas um con-
duto utilizando o MOC para escoamentos pressurizados.
O cálculo dos nós internos, que é feito pelo Método das Caracterı́sticas, é uma
das duas partes fundamentais que precisam ser tratadas em modelos numéricos. A
discussão a seguir detalha como é feito esse tipo de cálculo, sendo que a sub-seção
seguinte trata de condições de contornos básicas para problemas de escoamentos
em condutos.
Para a solução numérica das equações 5.10 a 5.13 é necessário utilizar uma
discretização do problema nos moldes utilizados no capı́tulo anterior para o Método
da Onda Cinemática. É feita uma divisão do domı́nio de solução (por exemplo,
uma adutora) em N divisões, o que resulta em N + 1 nós onde o problema deve
ser resolvido. Desses nós, os de extremidade devem ser calculados como parte das
condições de contorno do problema. Para a solução das duas incógnitas H e V nos
nós interiores, é necessário resolver as equações 5.10 e 5.12.
Utiliza-se na solução por modelos numéricos um grid (ou plano) de solução
numérica x − t. Como no caso anterior, o tamanho do passo de tempo é dado
em função da discretização espacial e das condições do problema. Nesse caso,
as informações necessárias para determinar o passo de tempo são o número de
pontos a ser utilizado na discretização (e assim o valor de ∆x), e a velocidade de
propagação da onda acústica no conduto fechado. De acordo com as equações 5.11
e 5.13, o passo de tempo deve ser ∆t = ∆x/a. Em muitas vezes, considera-se o
valor de a constante na análise do escoamento, o que permite concluir que as li-
nhas caracterı́sticas formam trajetórias retilı́neas no domı́nio de solução, conforme
ilustrado na Figura 5.1.
CAPÍTULO 5. O MÉTODO DAS CARACTERÍSTICAS 53
Usando integração numérica (regra dos trapézios de Simpson) para avaliar-se nu-
mericamente a expressão acima, tem-se
¯x Z xP hx Q + x Q i
2 ¯ P P P A A
Q x¯ − 2 xQ dQ ≈ Q2P xP − Q2A xA − 2 (QP − QA )
xA xA 2
¯xP Z xP
¯
Q2 x¯ − 2 xQ dQ ≈ QP |QA |(xP − xA ) = QP |QA |∆x
xA xA
(5.19)
CAPÍTULO 5. O MÉTODO DAS CARACTERÍSTICAS 54
Dois termos comuns aparecem nas equações 5.20 e 5.21 que são constantes
para os diferentes pontos do problema . O primeiro termo é denominado de im-
pedância do conduto fechado B:
a
B= (5.22)
gA
C+ : Hi = CP − BP Qi (5.29)
C− : Hi = CM + BM Qi (5.30)
de solução, ou seja dx/a. Assim, dado que não há nenhuma vantagem em utilizar-
se um esquema implı́cito de solução, a maior parte dos modelos para solução do
escoamento é construı́do com esquemas explı́citos.
Contudo, o desenvolvimento apresentado ainda é insuficiente para a solução de
problemas práticos de escoamentos. É necessário incluir os efeitos das condições
de contorno nos cálculos. Essas condições de contorno podem ser de diversos tipos
tais como reservatórios de nı́vel fixo ou variado, válvulas, pontos de encontro entre
diferentes condutos, bombas centrı́fugas, além dos dispositivos de proteção contra
transientes hidráulicos. Algumas das condições dessas contorno são apresentadas
a seguir.
Figura 5.2: Grid de solução do MOC para escoamentos pressurizados nas frontei-
ras do problema de montante e jusante.
CAPÍTULO 5. O MÉTODO DAS CARACTERÍSTICAS 57
Reservatório de montante
H1old BM Ares + CM ∆t
H1 = (5.35)
BM Ares + ∆t
Bombas centrı́fugas são um exemplo de condição onde existe uma relação prede-
terminada entre as variáveis de carga e a vazão, no caso definida pela curva da
bomba. Seguindo o exemplo apresentado por [WS93], sendo uma determinada
uma curva de bomba descrita pela relação:
H1 = HS + Q1 (A1 + A2 Q1 ) (5.36)
Válvulas e Orifı́cios
Para o cálculo desses dois tipos de condição de contorno, é necessário obter informações
acerca do escoamento nas condições de escoamento prévias ao escoamento transi-
ente, ou seja, quando em regime permanente e uniforme.
De forma genérica, pode-se escrever que a perda de energia através de uma
válvula é dada por:
V2 K Q2N S
∆H = K = (5.39)
2g A 2g
Fundamental aqui é a relação entre a perda de carga piezométrica e a vazão. Ou-
tra forma de expressar essa relação pode ser usada, por meio de uma equação de
orifı́cio: p
QN S = Cd AG 2g∆H (5.40)
Onde o produto Cd AG refere-se ao produto do coeficiente de descarga da válvula
e a área de abertura da mesma. Em condições permanentes de escoamento, como
por exemplo quando a válvula está completamente aberta e descarregando para a
atmosfera, ambas expressões podem ser escritas como:
Vo2 Ko Q2
Ho = Ko = 2 o (5.41)
2g A 2g
CAPÍTULO 5. O MÉTODO DAS CARACTERÍSTICAS 59
p
Qo = (Cd AG )o 2gHo (5.42)
Onde o ı́ndice o refere-se as condições de escoamento permanentes. Agora introduz-
se um coeficiente adimensional τ que expressa o grau de relação entre uma abertura
qualquer da válvula e a abertura especificada nas condições permanentes:
r r
Cd AG Ho Ko
τ= = = (5.43)
(Cd AG )o H K
e no caso contrário:
q
Qv = Cv BP1 + (Cv BP1 )2 − 2Cv (CP1 − Hb ) (5.51)
Figura 5.4: Junção de quatro condutos. Repare que os condutos 1 e 2 estão ligados
a junção pelas extremidade de jusante, e os condutos 3 e 4 pela extremidade de
montante. Tal se reflete nas equações caracterı́sticas que chegam à junção.
CM4 H
−Q4,1 = − (5.58)
BM4 BM4
onde H é o valorP
da carga piezométrica na junção. A soma das expressões acima
resulta no termo Qinst da equação 5.54, ou seja:
X X X ³X X ´
Qinst = CPi /BPi + CMi /BMi −H 1/BPi + 1/BMi (5.59)
i i i i
H = Cn + Bn Qn (5.60)
onde P P
CPi /BPi
iP + i CMi /BMi
Cn = P (5.61)
i 1/BPi + i 1/BMi
e
1
Bn = P P (5.62)
i 1/BPi + i 1/BMi
5. Adutora horizontal
segundos
t 0.5
2. Fechamento gradual da válvula: τ (s) = 1 − ( 10 ) com o tempo t dado em
segundos
//#########################################################
// BLOCO DE DEFINIÇÃO DE VARIÁVEIS E CALC. REG. PERMANENTE
//#########################################################
g:=9.806;
a:=1000;
Long:=1000; //comprimento da adutora
Diam:=1; //diametro da adutora
f:=0.012; //fixo, mas poderia depender do Reynolds
Tmax:=10; //calculo por 10 segundos
N:=50; //considerar 50 nos de calculo
Hres:=100; //carga reservatorio de montante
CDAO:=0.62 *(Pi/4)*sqr(Diam); //coef. descarga valvula inicial
TauInit:=1.0 //coeficiente de abertura inicial valvula;
TauFinal:=0 //coeficiente de abertura final valvula;
TimeValve:=0.1 //tempo de abertura da valvula;
eValve:=1; //expoente abertura valvula;
Nsec:=N+1;
if N>4 then Np:=round(N/4) else Np:=1;
R:=f*Long/(2*g*exp(5*ln(Diam))*sqr(Pi/4)*N);
B:=a/(g*sqr(Diam)*Pi/4);
dT:=Long/(a*N);
Kmax:=round(0.5*Tmax/dT)+1;
Qo:=sqrt(2*g*sqr(CDAO)*Hres/(R*N*2*g*sqr(CDAO)+1))
for i:=1 to Nsec do Q[i]:=Qo;
for i:=1 to Nsec do H[i]:=Hres - (i-1)*R*sqr(Qo);
CAPÍTULO 5. O MÉTODO DAS CARACTERÍSTICAS 65
//############################################################
// BLOCO DE LEITURA DE DADOS DO PROBLEMA
//############################################################
Nsec:=N+1; //N e’ o numero de trechos da adutora
T:=0;
R:=f*Long/(2*g*exp(5*ln(Diam))*sqr(Pi/4)*N);
B:=a/(g*sqr(Diam)*Pi/4);
dT:=Long/(a*N);
while T<Tsimulacao do
begin
for i2:=2 to 3 do
begin
i:=i2;
while i<=N do
begin
CP:=H[i-1]+Q[i-1]*B;
CM:=H[i+1]-Q[i+1]*B;
BP:=B + R*Abs(Q[i-1]);
BM:=B + R*Abs(Q[i+1]);
H[i]:=(CP*BM+CM*BP)/(BP+BM);
Q[i]:=(H[i]-CM)/BM;
i:=i+2;
end;
end;
//#######################################################
//BLOCO DE CALCULO DAS CONDIÇÕES DE CONTORNO
//#######################################################
//Reservatorio de Montante
H[1]:=Hres;
Q[1]:=(H[1] - H[2] + B*Q[2])/(B + R*abs(Q[2]));
//Valvula de Jusante
begin
if T<TimeValve then Tau:=TauInit - (TauInit - TauFinal)*exp(eValve*ln(T/TimeValve))
else Tau:=TauFinal;
CV:=sqr(Tau)*CVP;
CP:=Hpoint[N] + Q[N]*B;
BP:=B + R*abs(Q[N]);
Q[Nsec]:=-CV*BP + sqrt(sqr(CV)*sqr(BP)+CV*CP*2);
H[Nsec]:=CP - BP*Q[Nsec];
end;
//######################################################
//BLOCO DE IMPRESSÃO DOS RESULTADOS NO PASSO DE TEMPO
//#######################################################
//depende da forma desejada: tela/arquivo/banco de dados
T:=T+ 2* dT
end
Capı́tulo 6
Separação de coluna
6.1 Introdução
66
CAPÍTULO 6. SEPARAÇÃO DE COLUNA 67
A água, como a maioria dos lı́quidos, tem uma certa quantidade de gases dissolvi-
dos em solução. Embora em frações muito baixas, a água escoando em condutos
fechados também pode apresentar uma quantidade de ar livre (não em solução).
A massa de um determinado gás no volume de um lı́quido é calculada pela lei de
Henry, presente nos livros de Quı́mica. Por essa lei, a concentração de um gás
dissolvido em um solvente é diretamente proporcional a pressão parcial do gás
quando a temperatura permanece constante. A constante de proporcionalidade é
denominada coeficiente de solubilidade ou coeficiente de absorção de Bunsen. Em
formato algébrico, essa relação pode ser expressa como:
Vg0 p∗
= S ∗s (6.1)
V po
• Ar: 0.0184
• Nitrogênio: 0.0143
• Oxigênio: 0.0283
sólidos na massa de água, grau de agitação do lı́quido, área de contato entre bo-
lhas de gás e a água, entre outros parâmetros de menor importância. Levando
em consideração todas essas incertezas na análise, pode-se propor uma abordagem
mais simplificada para refletir os efeitos da mudança de pressão na massa de ar
livre:
ṁ = CK (p∗s − p∗ ) (6.2)
onde ṁ é a taxa de variação da massa de ar liberada de solução com o tempo e CK
um coeficiente que depende de S e dos demais parâmetros acima relacionados.
Em que pese a validade teórica dessa discussão, em termos práticos a variação
da quantidade de gás em solução decorrente de um processo de queda de pressão
pode não ser tão significativa na análise quanto pode ser antecipado. [WS93] apre-
senta uma série de resultados experimentais conduzidos por Zielke e colaborado-
res onde estudou-se processos de queda de pressão em escoamentos turbulentos de
água. Promovendo-se em escoamentos uma queda de pressão de 200 kP a para 10
kP a (de 20.4 para 1.02 m.c.a.) apenas 10% da quantidade esperada de gás que
deveria sair de solução de fato saiu. A formação de novas bolhas de ar mostrou-se
controlada pela disponibilidade de núcleos de coalescência.
A isso tudo soma-se a incerteza na quantidade de ar livre que existe em con-
dutos. Com isso, uma hipótese normalmente adotada em termos pragmáticos é
considerar que qualquer que seja a massa de ar livre no inı́cio de um evento transi-
ente essa massa será mantida no decorrer do evento transiente. Mesmo que a massa
seja constante, o volume ocupado pelo ar altera-se durante o evento transiente uma
vez que as pressões variam ao longo do tempo.
A presença de ar livre não afeta outro fenômeno esperado durante eventos tran-
sientes de baixa pressão, que é a vaporização da água. Mesmo as bolhas de ar livre
podem conter determinada quantidade de vapor de água. A pressão do gás p∗ é
nesses casos calculados pela lei de Dalton, onde a soma das pressões parciais dos
gases é igual a soma da mistura dos gases. Assim, se p∗g é a pressão absoluta do ar
livre e p∗v é a pressão absoluta do vapor de água na temperatura do lı́quido, então:
Finalmente, α pode ser eliminado da expressão acima uma vez que existe uma
relação inversa entre essa variável e a pressão p∗g (equação 6.6):
a2
a2m = (6.11)
1 + mρl Rg T a2 /p∗2
g
CAPÍTULO 6. SEPARAÇÃO DE COLUNA 70
mente no domı́nio x − t, tem-se linhas curvas nesse espaço uma vez que tanto V
quanto am variam ao longo do espaço devido as variações de pressão. Isso impos-
sibilita o uso de passos de tempo pre-estabelecidos, dificultando o procedimento
de solução.
A segunda alternativa, que é apresentada nesse material, aplica uma hipótese
muito mais simples onde bolsões de gás são acumulados nos pontos computacio-
nais, e faz-se o aumento ou redução do volume desses bolsões de ar a depender
da variação das pressões nesse local. Tal modelo é denominado Discrete Free-Gas
Cavity Model por [WS93], e as linhas gerais desse modelo são apresentadas a se-
guir. Esse modelo apresenta bons resultados desde que a quantidade de ar livre seja
pequena, hipótese razoável para as aplicações em saneamento
Considera-se nesse modelo que entre dois nós de cálculo existe água pura (sem
presença de gás). Cada um dos nós computacionais tem uma determinada quan-
tidade de gás, e tal configuração resulta numa propagação da onda acústica que
aproxima-se dos valores que seriam obtidos com uma mistura homogênea de ar
livre e água. Um esquema do modelo pode ser observado na Figura 6.3.
Conforme pode ser observado na Figura 6.4, existem duas equações carac-
terı́sticas para serem resolvidas no nó computacional:
C+ : H = CP − BP QPu (6.16)
C− : H = CM − BM QP (6.17)
(H − z − Hv )2 + 2B1 (H − z − Hv ) − C4 = 0 (6.22)
onde
C3 BM BP B2
C4 = (6.23)
∆tψ
A variável B1 é calculada como sendo:
z + Hv
B1 = −B2 (BP CM + CP BM ) + B2 BP BM Bv + (6.24)
2
CAPÍTULO 6. SEPARAÇÃO DE COLUNA 75
Contudo, essa solução pode ser instável para cálculo computacional se o valor
de |BB | ¿ 1, por exemplo |BB | < 0.001. Nesse caso, o valor dentro da raiz
quadrada é muito próximo a unidade, o que leva ao comportamento errático da
solução. Nesse caso, aplica-se uma linearização das equações, resultando em:
C4
H − z − Hv = −2B1 − se B1 < 0 (6.29)
2B1
C4
H − z − Hv = se B1 > 0 (6.30)
2B1
Esse extenso procedimento de cálculo pode ser resumido nos seguintes passos:
Uma versão do módulo de cálculo dos nós internos do modelo GCAV apresentado
por [WS93] e traduzido à linguagem Object PASCAL pelo autor é apresentada
abaixo como um apoio àquele leitor que deseje implementar esse programa com-
putacional:
CAPÍTULO 6. SEPARAÇÃO DE COLUNA 76
{*****************************************************************************}
{Calculo dos nos internos - refazer para cada passo de tempo}
{*****************************************************************************}
T:= T+2*dT;
for i2:=2 to 3 do
begin
i:=i2;
while i<=N do
begin
Quo:=Qu[i];
Qo:=Q[i];
Ho:=H[i];
CP:=H[i-1]+Q[i-1]*B;
CM:=H[i+1]-Qu[i+1]*B;
BP:=B + R*abs(Q[i-1]);
BM:=B + R*abs(Qu[i+1]);
B2:=0.5/(BP+BM);
C4:=RTM[i]*0.5/(dT*PSI)*BM*BP/(BM+BP);
BV:=((1-PSI)*(Qo-Quo)+Vcav[i]*0.5/dT)/PSI;
B1:=-B2*(BP*CM + CP*BM)+B2*BP*BM*BV + (EL[i]+Hv)/2;
if BV<0 then BV:=0;
Hvapp:=(BP*CM+CP*BM)/(BP+BM);
if Vcav[i]>0 then
begin
if B1<>0 then
begin
BB:=C4/sqr(B1);
//Checar se a linearizacao eh necessaria
if BB<0.001 then
if B1<0 then H[i]:=EL[i]+Hv-B1*2-C4/(2*B1)
else H[i]:=EL[i]+Hv+C4/(2*B1)
else
if B1<0 then H[i]:=EL[i]+Hv-B1*(1+sqrt(1+BB))
else H[i]:=EL[i]+Hv-B1*(1-sqrt(1+BB))
end
else H[i]:=EL[i]+Hv+sqrt(C4);
end;
Qu[i]:=(CP-H[i])/BP;
Q[i]:=(H[i]-CM)/BM;
if (Hvapp<Hv+EL[i]) and (Hvap[i]>Hv+EL[i]) then
begin
dtt:=(HV+EL[i]-Hvapp)/(Ho-Hvapp)*dT*2;
Vcav[i]:=Vcav[i]+dtt*PSI*(Qpoint[i]-Qu[i]);
end
else
Vcav[i]:=Vcav[i]+2*dT*(PSI*(Qpoint[i] - Qu[i])+(1-PSI)*(Qo-Quo));
// Use lei dos gases para calcular o volume dos gases se a cavidade desaparece
// quando a presao aumenta
if Vcav[i]<=0 then Vcav[i]:=RTM[i]/(Hpoint[i]-EL[i]-HV);
Hvap[i]:=Hvapp;
i:=i+2;
end;
end; // Fim dos calculos dos nos pares ou impares
Capı́tulo 7
Transientes Em Bombas
7.1 Introdução
77
CAPÍTULO 7. TRANSIENTES EM BOMBAS 78
forma dinâmica em uma parada súbita do sistema. Três pontos significativos po-
dem ser selecionados entre esses quatro elementos: ponto a, entre a linha de sucção
e a bomba; ponto b entre a bomba e a válvula; ponto c entre a válvula e a tubulação
de recalque.
As equações básicas por trás desse problema são:
Ha = H + Hb (7.1)
Qa = Qb = Qc (7.2)
3. Relações homólogas das bombas: Assume-se que seja válido que a variação
da vazão e pressão piezométrica da bomba dê-se em termos da rotação das
bombas de acordo com as expressões:
H1 H2 Q1 Q2 T1 T2
2 = 2 = 2 = 2 (7.3)
N1 N2 N1 N2 N1 N2
4. Caso não haja válvula de retenção, a vazão revertida passará pela bomba no
sentido à linha de sucção;
São definidas quatro Zonas de Operação da bomba a partir dos valores de vazão
e rotação da bomba durante o evento transiente:
• Zona Normal: Tanto a vazão do sistema quanto a rotação do rotor têm valores
positivos;
h
WH (x) = (7.6)
α2 + v2
β
WB (x) = (7.7)
α2 + v 2
onde:
v
x = π + tan−1 (7.8)
α
A variável x permite representar todas as condições de vazão e rotação nas
quatro Zonas de Operação possı́veis durante eventos transientes. Para cada um
desses valores de x atribui-se um determinado valor de pressão piezométrica e
torque (representados em termos de h e β).
Os valores das funções WH (x) e WB (x) podem ser obtidas direta ou indire-
tamente por meio das curvas caracterı́sticas supridas pelos fabricantes e pelo uso
das relações homólogas. Esses valores, contudo, são supridos normalmente apenas
para as condições da Zona Normal de operação (valores de x entre π e 3π/2).
Para completar os valores das funções WH (x) e WB (x) em outros valores de
x aplica-se um procedimento que deve ser visto com uma certa cautela. As curvas
dessas funções tendem a apresentar o mesmo formato para bombas com valores
CAPÍTULO 7. TRANSIENTES EM BOMBAS 82
√
similares de rotação especı́fica, definida como Ns = N Q/H 0.75 . Experimentos
foram feitos por Hollander com três bombas tipos de bombas, cada uma com valor
de rotação especı́fica caracterı́stica de outros modelos comerciais de bombas (Ns =
25, Ns = 147 e Ns = 261, usando unidades SI). Esses valores tabulados são
apresentados na Figura 7.3. Um exemplo desses dados de WH e WB , para o caso
de Ns = 25, é plotado na figura 7.2.
Figura 7.2: Gráfico das funções WH (x) e WB (x) para o caso onde Ns = 25 .
Adaptado de [WS93].
CAPÍTULO 7. TRANSIENTES EM BOMBAS 83
Figura 7.3: Valores tabulados de WH (x) e WB (x) para x entre 0 e 2π, em interva-
los de π/44, para três valores de rotação especı́fica. Adaptado de [WS93].
Em que pese que não haja qualquer garantia que tal procedimento resulte em
valores precisos para WH (x) e WB (x) para qualquer que seja a bomba operando
fora do regime normal, são esses os valores usados por base na construção de pro-
CAPÍTULO 7. TRANSIENTES EM BOMBAS 84
I = Ip + Im (7.9)
Tomando como referência a Figura 7.1, podemos definir uma equação caracterı́stica
C+ entre a linha de sucção e o flange de entrada da bomba, na forma:
Fa = Ha − CP + BP Q = 0 (7.12)
Fc = Hc − CM + BM Q = 0 (7.13)
forma:
Q|Q|
F 3 = Hb − Hc − =0 (7.14)
2Cv
onde Cv = QR τ 2 /(2∆Ho ), sendo ∆Ho a perda de carga na válvula quando a
vazão é Qo e τ = 1.
Da equação 7.1, e utilizando as relação adimensionais para a carga piezométrica,
pode-se escrever a relação entre a pressão entre o flange de entrada e saı́da da
bomba:
H = Hb − Ha = HR h = HR (α2 + v 2 )WH (7.15)
A expressão acima tem duas incógnitas (α e v), sendo as demais variáveis co-
nhecidas de passo de tempo anterior. A avaliação de WH contudo é complicada
pelo fato de não haver uma expressão para essa função. Por exemplo, são apresen-
tados na Figura 7.3 os valores de WH para apenas 89 pontos, igualmente espaçados
em intervalor de π/44, entre 0 e 2π. Se se conhece o valor x onde a função WH
deve ser calculada, a aproximação por uma linha reta de dois pontos subseqüentes
(jπ/44 e (j + 1)π/44) fornece resultados com precisão suficiente. Se os dados da
Figura 7.3 são utilizados, os detalhes desse procedimento são os seguintes:
Como no caso da equação 7.16, há apenas duas incógnitas na expressão, que são
os valores de α e v. Uma outra equação precisa ser derivada para a solução desse
problema, e tal é feito a partir da expressão da variação do torque da bomba com a
variação da rotação.
T = γQH/(ηω) (7.21)
dω W Rg2 dω
T = −I =− (7.22)
dt g dt
onde I é o momento de inércia rotacional do conjunto, W é o peso do conjunto
rodante e Rg o raio de giração do conjunto, e dω/dt a aceleração angular.
Por outro lado, pode-se escrever:
2π T0 T0
ω = NR α βo = β= (7.23)
60 TR TR
WB (x) = B0 + B1 x (7.28)
Onde:
WB (j + 1) − WB (j)
B1 = B0 = WB (j + 1) − B1 .jπ/44 (7.29)
π/44
f (xk )
xk+1 = xk −
f 0 (xk )
h2 1 ³ Q2 ´0.5
− 1+8 2 3 + 0.5 = 0
h1 2 L h1 g
CAPÍTULO 7. TRANSIENTES EM BOMBAS 89
∂FH ∂FH
FH + ∆v + ∆α = 0
∂v ∂α (7.31)
∂FT ∂FT
FT + ∆v + ∆α = 0
∂v ∂α
∂FH 2|v|∆Ho h ³ ´i
−1 v
= −QR (BP + BM ) − + H R 2v A0 + A1 π + tan + HR A1 α
∂v τ2 α
∂FH h ³ v ´i
= HR 2α A0 + A1 π + tan−1 − HR A1 v
∂α α
∂FT h ³ v ´i
= 2v B0 + B1 π + tan−1 + B1 α
∂v α
∂FT h ³ v ´i
= 2α B0 + B1 π + tan−1 + B1 v + CT
∂α α
(7.32)
92
CAPÍTULO 8. PROTEÇÃO CONTRA TRANSIENTES 93
nuidade e equação da energia entre a junção e o trecho com a válvula de alı́vio até
o reservatório de sucção. Em seu livro, [Tul89] apresenta o seguinte procedimento
para esse cálculo:
São tanques que apresentam diâmetros iguais ou maiores do que o conduto princi-
pal, diretamente conectados a estes e abertos à atmosfera. A inércia da massa de
água contida nesses tanques ajuda a minimizar o pulsos de sobre-pressão na linha
transiente. Em casos onde ocorram sub-pressões, o volume de água contido nesses
tanques é utilizado na linha adutora de forma a evitar ou minimizar a ocorrência de
sub-pressões e conseqüentemente a separação de coluna.
As dimensões transversais dessas chaminés podem ser variáveis, sendo comum
a adoção de chaminés com maior área na base e menores na parte superior. Essas
chaminés devem ser projetadas de forma a não admitirem que haja extravasamento
da vazão na parte superior da mesma. Deve-se garantir também um volume mı́nimo
de água nesses dispositivos de forma a evitar que o nı́vel da água na chaminé em
eventos de sub-pressão caia demais. A preocupação é garantir que o nı́vel de água
esteja sempre acima da geratriz superior do conduto, impedindo assim que ocorra
CAPÍTULO 8. PROTEÇÃO CONTRA TRANSIENTES 98
a entrada de ar no conduto.
Em termos de aplicação, essas chaminés são instaladas em pontos altos inter-
mediários nos condutos ou em pontos onde há quebra de uma declividade positiva
acentuada para uma mais suave. Em ambas situações é necessário que a linha pi-
ezométrica não esteja muito elevada. Caso contrário é necessário que a dimensão
vertical das chaminés seja muito elevada, o que poderia inviabilizar a aplicação
dessa alternativa.
No caso de condutos curtos ou de velocidade de escoamento baixa, onde as
perdas por fricção podem ser desprezadas, é possı́vel fazer o cálculo das oscilações
de carga piezométrica nessas chaminés de forma expedita. Por exemplo, consi-
dere uma situação como a apresentada na Figura 8.3. Nesse problema, um conduto
com extensão, diâmetro e área transversal de L, D e A respectivamente, trans-
porta uma vazão Qo = π/4D2 V . A linha está ligada a montante a um reser-
vatório com carga igual a Ho, e na extremidade de jusante existe uma chaminé
de equilı́brio de área transversal F , após a qual há uma válvula de controle de
vazão. A linha piezométrica, referida como HGL, está horizontal em decorrência
da desconsideração das perdas por fricção.
Como demonstrado por [Tul89], essas equações resultam numa expressão para
QPN T na forma:
C1 + C3
QPN T = onde:
2 + C2
2At
C1 = (CP − Z(N T ) − XLT ) − QT
∆t (8.15)
2At B
C2 =
∆t
CP − CM
C3 =
B
onde XLT é o nı́vel de água na chaminé no passo de tempo anterior. Com o valor
de QPN V conhecido, determina-se as demais variáveis de cálculo.
No caso onde a chaminé de equilı́brio apresenta uma restrição no diâmetro de
entrada, o valor da linha piezométrica na adutora no local onde a chaminé está
ligada não é coincidente com o nı́vel de água na chaminé. Com isso, pode-se
derivar uma equação de energia entre o nó de montante e a chaminé na forma:
Kl
HPN T = XP LT + Z(N T ) ± QP T 2 (8.16)
2gA2
onde Kl é o coeficiente de perda localizada baseado na área do conduto A. Tal
poderia também ser baseada na área da chaminé ou do orifı́cio de conexão. O
valor positivo para o termo com Kl deve ser usado quando a vazão é admitida na
chaminé, e negativa no caso contrário. Os valores de Kl também podem diferir
para escoamentos entrando ou saindo da chaminé, o que seria o caso se a entrada
na chaminé tivesse borda reentrante.
De acordo com [Tul89], o valor da pressão no nó de montante pode ser calcu-
lada pela expressão:
¡ p ¢
HPN T = 0.5 −C4 ± C42 − 4C5 onde: (8.17)
B2
C4 = −CP − CM ± (8.18)
4C3
B 2 (XLT + Z(N T ))
C5 = 0.25(CP + CM )2 ± (8.19)
4C3
Kl
C3 = ± (8.20)
2gA2
Para vazão entrando na chaminé, equações 8.17 e 8.18 devem usar sinal nega-
tivo, enquanto as equações 8.19 e 8.20 devem ter sinal positivo. Esses sinais são
opostos quando a vazão sai da chaminé. Com o valor de HPN T conhecido, os va-
lores das demais variáveis de cálculo da chaminé de equilı́brio podem ser obtidos
nas equações 8.25, 8.26, 8.27 e 8.16.
• Reservatório com contato direto ar-água: O fato de haver contato direto en-
tre as diferentes fases requer que tais reservatórios tenham compressores de
ar acoplados para garantir que a massa de ar é mantida, uma vez que há a
tendência do ar ser absorvido em solução pela água;
• Reservatório com membrana elastomérica: A membrana garante a separação
entre as fases, prescindindo portanto de um compressor de ar. Contudo há o
risco de acúmulo de bolhas de ar na parte inferior da membrana, onde deveria
haver apenas água. Caso esse condição persista, o reservatório pneumático
deixa de trabalhar como um e começa a se assemelhar a uma válvula de
alı́vio. Portanto, na instalação desse tipo de reservatório deve-se colocar
uma ventosa ou procurar fazer uma ligação com a adutora que procure evitar
que haja captura de bolhas de ar;
• Reservatório com bolas pressurizadas: Semelhante a configuração anterior,
exceto que a massa de ar é presa em bolas dentro do reservatório, e o mesmo
é preenchido totalmente com água. A colocação de uma ventosa no topo
desse reservatório impede que o ar que porventura entre no reservatório se
acumule.
parâmetro adimensional ρ∗ :
aVo
ρ∗ = (8.23)
gHo∗
O outro parâmetro necessário para a aplicação do método é a determinação
de um coeficiente K, sendo que KHo∗ corresponde a perda de carga total desde a
adutora até o reservatório de ar comprimido. Para o dimensionamento do valor de
K, pode-se considerar a recomendação prática de [Mon] pelo qual deve-se evitar
que a velocidade na linha de ligação ou no orifı́cio excedam valores de 7 m/s.
Com o valor de K pre-selecionado , determina-se qual dos gráficos apresen-
tados nas Figuras 8.9, 8.10, 8.11 e 8.12 deverá ser usados no dimensionamento.
Esses gráficos apresentam os valores máximos e mı́nimos de pressão piezométrica
normalizada por Ho∗ para um ponto adjacente a bomba (linhas sólidas) e para um
ponto a 50% do comprimento da adutora (linhas tracejadas).
Com isso, procura-se ao longo das curvas que correspondam ao valor calcu-
lado/interpolado de ρ∗ qual o ponto no eixo 2Co a/(Qo L) que satisfaz aos valores
de desejados para as pressões máximas e mı́nimas nas proximidades da bomba e
a 50% do comprimento da adutora. A variável Co é a única incógnita, e corres-
ponde ao volume de ar que é necessário na câmara de ar. Esse volume, contudo,
corresponde apenas ao volume de ar, sendo portanto menor que o volume total
do reservatório. Um volume suficientemente grande de água precisa ser incluı́do
para evitar que ar seja admitido na adutora quando as pressões atingirem os valores
mı́nimos. Usando a relação politrópica, o volume do reservatório Vres.ar pode ser
calculado como: ³ H ∗ ´1/1,2
o
Vres.ar = Co ∗ (8.24)
Hmin
∗
onde Hmin é a pressão piezométrica mı́nima absoluta adjacente à bomba, calculada
no passo anterior.
O procedimento finaliza-se aqui no caso de reservatórios com bolsa elastomérica
ou com bolas de ar comprimido. No caso onde esteja seja haja o contato direto entre
ar e água, conforme explicado anteriormente, há a perda de ar e portanto é possı́vel
que haja uma variação no volume de ar no reservatório mesmo em situações de
escoamento permanente. Nesses casos, em termos operacionais, a prática é ad-
mitir que o volume de ar possa variar em uma faixa operacional de tolerância,
conforme ilustrado na Figura 8.13. Fora dessa faixa, sob pena de não haver a ne-
cessária proteção contra eventuais transientes, é necessário um procedimento de
parada emergencial da elevatória.
Para considerar essa faixa operacional no dimensionamento do reservatório,
soma-se ao volume calculado Co o volume de ar de uma faixa de tolerância ∆h.
Assim o novo volume de ar será Co0 = Co + ∆hAres , sendo que Ares é (no caso
da Figura 8.13) dada por π/4Dres com Dres o diâmetro do reservatório de ar com-
primido. Com o novo volume de ar, a último etapa é calcular o novo volume total
do reservatório de ar comprimido usando a equação 8.24.
CAPÍTULO 8. PROTEÇÃO CONTRA TRANSIENTES 109
A relação politrópica pode ser escrita para esse problema como sendo
onde o sinal é negativo uma vez que, em havendo admissão de vazão de água no
reservatório, o volume de ar diminui.
.
Capı́tulo 9
115
CAPÍTULO 9. MOC PARA ESCOAMENTO EM CANAIS 116
L1 + λL2 ⇒
s s
A A A
ht + u hx + ux ± (ut + u ux + ghx ) = ± g(So − Sf )
B Bg Bg
r s r s
³ Ag ´ A³ Ag ´ A
ht + u hx ± hx ± ut + u ux + ux = ± g(So − Sf )
B Bg B Bg
(9.4)
du ∂u ∂u dx
= + (9.8)
dt ∂t ∂x dt
Por inspeção nas equações 9.5 e 9.6, e utilizando a relação acima, é possı́vel
transformar as derivadas parciais em derivadas totais se:
dh dx
= ht + (u + c) hx ⇐⇒ =u+c
dt dt (9.9)
du dx
= ut + (u + c) ux ⇐⇒ =u+c
dt dt
dh dx
= ht + (u − c) hx ⇐⇒ =u−c
dt dt (9.10)
du dx
= ut + (u − c) ux ⇐⇒ =u−c
dt dt
E, optando-se por resolver o problema apenas nas trajetórias (ou linhas) ca-
racterı́sticas dx/dt = u ± c, chega-se no forma caracterı́stica das equações de
Saint-Venant:
Equação C1:
du g dh
+ = g(So − Sf )
dt c dt (9.11)
dx
=u+c
dt
Equação C2:
du g dh
− = g(So − Sf )
dt c dt (9.12)
dx
=u−c
dt
d(u + 2c) dx
= g(So − Sf ) para =u+c (9.13)
dt dt
Equação C2:
d(u − 2c) dx
= g(So − Sf ) para =u−c (9.14)
dt dt
d(u + 2c) dx
= 0 ∴ (u + 2c) = constante para =u+c (9.15)
dt dt
Equação C2:
d(u − 2c) dx
= 0 ∴ (u − 2c) = constante para =u−c (9.16)
dt dt
Esses valores constantes para (u+2c) e (u−2c) são também conhecidos como
Invariantes de Riemann.
Nesse exemplo mais simplificado, pode-se perceber claramente o mecanismo
como se dá a transmissão de informações acerca das condições de escoamento de
um ponto para outro no plano x − t. Essa transmissão de informações é o que,
em última análise, determina o escoamento em um ponto do canal no futuro. Por
exemplo, vamos supor que o escoamento na Figura 9.1(a) pudesse ser calculado
com as equações 9.15 e 9.16. Para então determinar-se as condições de escoamento
no ponto P , duas equações deveriam ser consideradas:
Baseado nessa discussão é que dois conceitos importantes precisam ser introduzi-
dos, que são os conceitos de Região de Influência e Domı́nio de Dependência.
Esses conceitos são fundamentais para a compreensão acerca das efeitos das condições
iniciais e de contorno, e em que condições as mesmas são importantes na análise.
Tomando a Figura 9.2 como referência, define-se Região de Influência como
a região no plano x − t afetada pelas condições de escoamento em um determinado
ponto P . Essa influência dá-se devido a propagação das trajetórias caracterı́sticas
C1 e C2, que transmitem informações acerca das condições de escoamento no
ponto P para o resto do domı́nio de solução do problema. Na Figura 9.2 pode
ser percebido que à medida que o tempo avança a região de influência do ponto P
aumenta.
Domı́nio de Dependência de ponto P é a região no plano x − t que consegue
influir no comportamento do escoamento no ponto P . Conforme ilustrado na Fi-
gura 9.3, qualquer ponto fora dessa região não tem influência sobre as condições
CAPÍTULO 9. MOC PARA ESCOAMENTO EM CANAIS 120
vidades de sinais opostos dx/dt = ±a. Como uma caracterı́stica sempre chega
a cada um das fronteiras do problema (condições de contorno montante/jusante),
apenas uma equação adicional é requerida para o escoamento ser resolvido naquela
fronteira.
No caso de um escoamento subcrı́tico em canais, os diferentes tipos de linhas
caracterı́sticas C1 e C2 têm inclinações com sinais opostos como no caso do es-
coamento pressurizado. E como no caso do escoamento pressurizado, apenas uma
outra equação precisa ser especificada na fronteira para a solução do problema.
Em um escoamento supercrı́tico com velocidade positiva (fluxo de montante
para jusante) duas caracterı́sticas se originam na fronteira de montante do escoa-
mento, ao mesmo tempo que duas caracterı́sticas chegam à fronteira de jusante,
como ilustrado na Figura 9.4.
Figura 9.4: Configuração das trajetórias caracterı́sticas nas proximidades das fron-
teiras de um canal em regime supercrı́tico.
No que tange as técnicas de solução numérica, como no caso dos condutos fecha-
dos, há opções de esquemas explı́citos e implı́citos. Como no caso dos condutos
fechados, faz-se aqui a opção pode esquemas explı́citos. Tal é motivado pela maior
simplicidade de implementação, e pelo fato de que o uso do MOC para o cálculo
do escoamento em canais não é uma técnica tão difundida que justifique a adoção
de alternativas mais sofisticadas de solução.
O fato de as trajetórias caracterı́sticas serem curvilı́neas impacta de forma sig-
nificativa a forma de solução dos problemas. Vamos assumir que é desejado fixar-
se um espaçamento contı́nuo entre nós onde é desejado determinar-se as condições
de escoamento, uma estratégia similar àquela adotada para o Método da Onda Ci-
nemática. Em função das condições locais do escoamento, a inclinação das li-
nhas caracterı́sticas varia ao longo do tempo e do espaço. Isso faz com que as
intersecções entre linhas C1 e C2, que definem os locais onde o escoamento poder
ser calculado por meio de aplicação de ambas equações, não apresentem regula-
ridade tanto no espaço quanto no tempo. A partir desses pontos irregularmente
distribuı́dos é que novas caracterı́sticas devem ser traçadas para a resolver-se o es-
coamento à medida que o tempo avança. Essa falta de regularidade dificulta o uso
desse tipo de estratégia para solução numérica do problema de escoamento.
Outra estratégia, que é a que se adota aqui, é o Método Hartree para o cálculo
das equações do MOC para escoamento em canais. O método baseia-se em fixar-se
pontos regulares no espaço, e definir um passo de tempo comum para o cálculo do
CAPÍTULO 9. MOC PARA ESCOAMENTO EM CANAIS 123
escoamento que não viole a estabilidade dos cálculos (Condição de Courant). Uma
breve discussão acerca da condição de Courant é feita a seguir.
A partir do ponto onde os valores devem ser calculados, duas caracterı́sticas são
projetadas na direção negativa do tempo, no sentido onde os dados do escoamento
são conhecidos. As coordenadas dos pontos R e S no eixo x de onde partem as
caracterı́sticas que chegam ao ponto P são inicialmente incógnitas do problema a
serem resolvidas, juntamente com os parâmetros de escoamento no ponto P . Se
conhecermos as coordenadas dos pontos R e S, os dados do escoamento nesse local
(para o traçado das caracterı́sticas) são obtidos por meio de interpolação usando os
dados conhecidos nos pontos A, B e C.
As quatro equações algébricas requeridas para a solução desse problema sur-
gem da integração das equações do caracterı́sticas do escoamento. Promovendo-se
a integração ao longo do tempo das equações 9.11 e 9.12 chega-se a:
g
uP − uR + (hP − hR ) = g(So − Sf,R )∆t (9.18)
cR
cC − cR xP − xR ∆t
= = (uR + cR ) = r(uR + cR ) (9.23)
cC − cA ∆x ∆x
uC + r (−uC cA + cC uA )
uR = (9.24)
1 + r(uC − uA + cC − cA )
cC + r uR (cA − cC )
cR = (9.25)
1 + r(cC − cA )
uC + r (uB cc − uC cB )
uS = (9.27)
1 + r(uB − uC + cC − cB )
cC + r uS (cC − cB )
cS = (9.28)
1 + r(cC − cB )
n2 uS |uS |
Sf,S := 4/3
(9.29)
RS
Unindo essa equação com a equação C2 resulta numa expressão direta para a
velocidade no ponto a montante:
" r #
2 ³ gHo ´
u1 = cS −1 + 1 + + KS (9.34)
cS cS
[Tul89] J. P. Tullis. Hydraulics of Pipelines. John Wiley and Sons, New York,
1989.
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