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UNIVERSIDADE FEDERAL DO ACRE

CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS E TECNOLÓGICAS


CURSO DE BACHARELADO EM ENGENHARIA CIVIL

LUANNA PEGORETTI XAVIER

AÇÕES NAS PONTES - DEFINIÇÃO

RIO BRANCO - AC
2019
LUANNA PEGORETTI XAVIER

AÇÕES NAS PONTES - DEFINIÇÃO

Trabalho elaborado como requisito parcial para


aprovação na disciplina de Pontes, da Universidade
Federal do Acre – UFAC, no Curso de Bacharelado
em Engenharia Civil.
Orientador: Prof. Dr. Adcleides Araújo da Silva

RIO BRANCO - AC
2019
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SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO................................................................................................ 3

2. DESENVOLVIMENTO.................................................................................... 4

2.1. Fundamentos básicos sobre fluência e retração................................4

2.1.1 Deformações do concreto................................................................5

2.2. FUNDAMENTOS BÁSICOS SOBRE FLUÊNCIA...............................6

2.2.1 Componentes da fluência...................................................................7

2.2.2 Fatores que influenciam a fluência.....................................................8

2.3. FUNDAMENTOS BÁSICOS SOBRE RETRAÇÃO...........................10

2.3.1 Componentes da retração................................................................10

2.3.2 Fatores que influenciam a retração...................................................11

2.4. FUNDAMENTOS BÁSICOS SOBRE RELAXAÇÃO.........................12

2.5. FUNDAMENTOS BÁSICOS SOBRE CARBONATAÇÃO.................15

2.6. FUNDAMENTOS BÁSICOS SOBRE PROTENSÃO........................19

2.6.1 Classificação dos sistemas de protensão.........................................21

2.6.2 Perdas de protensão.........................................................................23

2.6.3 TIPOS DE PROTENSÃO..................................................................26

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................29

REFERÊNCIAS.................................................................................................30
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1. INTRODUÇÃO

As estruturas de concreto são predominantes no Brasil, devido à facilidade de


execução, produção simples e por ter custo baixo, se comparado com outras tecnologias,
como as estruturas de aço, por exemplo.

Com a crescente demanda por estruturas mais esbeltas e de arquitetura mais


arrojada, é crucial a avaliação das propriedades e potencialidades do concreto,
principalmente por se tratar de um material cuja construção pode ter grande vida útil.

O estudo de propriedades como a fluência, retração, relaxação, ductilidade e


carbonatação surgem como um questionamento sobre o comportamento em serviço de
uma estrutura de concreto e aço, que fica em operação durante dezenas de anos exposta
a cargas diversas e intempéries.

O uso de aço na construção civil no Brasil tem crescido muito em diversas


aplicações. Pontes em aço são cada vez mais visadas devido à sua facilidade em vencer
grandes vãos de geometria qualquer sem a necessidade de escoramentos. Sendo assim,
devem ser feitos estudos de desenvolvimento de tecnologias que sejam vantajosas para
essas estruturas.
O aço faz com que as estruturas sejam mais leves, reduzindo a carga nas
fundações. Em geral, estruturas em aço são mais esbeltas e com maior liberdade
arquitetônica. O processo de fabricação da estrutura em aço é industrializado, e assim
gera racionalização de materiais e mão de obra. O processo construtivo é muito mais
rápido, pois assim como nas estruturas em concreto pré-moldado, o processo de
montagem de estruturas de aço muitas vezes elimina a necessidade de escoramentos e
necessita apenas de guindastes após a fabricação das vigas.
Em pontes é comum o uso das vigas de aço associadas ao concreto, com os dois
materiais trabalhando junto; isso aumenta muito a capacidade de carga da viga de aço
isolada. O concreto tem grande capacidade de absorver esforços de compressão e o aço
se comporta muito bem à tração. Para que os dois atuem juntos, deve haver
compatibilidade de deslocamentos na sua interface.
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2. DESENVOLVIMENTO

1.1. FUNDAMENTOS BÁSICOS SOBRE FLUÊNCIA E RETRAÇÃO

A resposta de um elemento de concreto submetido a um carregamento qualquer


possui duas parcelas, uma imediata e outra em função do tempo. Ambas devem estar de
acordo com as prescrições de deformações, tensões, flechas, fissuração, etc. presentes
nas normas técnicas aplicáveis, tanto no ELS (Estado Limite de Serviço) quanto no
ELU (Estado Limite Último).

Em relação aos fenômenos reológicos, uma vez que este elemento esteja
submetido a um carregamento prolongado, a resposta em função do tempo se dará com
uma deformação gradual causada pela fluência e pela retração do concreto.

A deformação por fluência está associada ao estado de tensões do concreto,


enquanto a deformação por retração é um fenômeno independente ao carregamento
aplicado. Essas deformações ocasionam aumento das flechas e curvaturas, perdas de
protensão e redistribuição de tensões.

Para realizar a previsão dos efeitos provocados pelos fenômenos reológicos no


elemento, é necessário:

 Conhecimento das propriedades de fluência e retração para o concreto


utilizado;
 Procedimentos numéricos ou analíticos que incluam esses efeitos na
solução da análise da estrutura.

Para a definição das propriedades reológicas do concreto existem fontes na


literatura nas quais é possível obter informações com base em comparações de
dosagem, composição e tipo de concreto; bem como podem ser realizadas análises
laboratoriais, apesar de não ser uma opção prática. Porém, devido à heterogeneidade e à
variabilidade do concreto, as duas opções não são utilizadas como determinísticas, e sim
como base, onde, por meio de tratamentos probabilísticos, os resultados finais são
obtidos.

A solução da análise de uma estrutura submetida à fluência e à retração deve


satisfazer os mesmos três requisitos básicos da análise de qualquer estrutura, que são o
equilíbrio de forças, a compatibilidade de deslocamentos e as equações constitutivas.
5

Foram desenvolvidos inúmeros métodos numéricos e analíticos para avaliação e


dimensionamento de estruturas em concreto armado e protendido. Porém, como todo
método, possui níveis de refinamento e aproximações inerentes à modelagem
matemática.

2.1.1 Deformações do concreto

Em um instante de tempo t, a deformação total de um ponto da estrutura


submetido a um carregamento é composta por quatro parcelas, como detalhado abaixo.
Na notação, os subscritos utilizados vêm do nome do fenômeno em inglês.

 Deformação instantânea – “elastic strain”, ε e ( t );


 Deformação por fluência – “creep strain”, ε cr ( t );
 Deformação por retração – “shrinkage strain”, ε sh (t);
 Deformação por temperatura – “temperature strain”, ε T (t).

Por questões de simplificação, apesar de não retratar a realidade física do


fenômeno, essas quatro parcelas são consideradas independentes entre si, e, portanto,
calculadas separadamente.

A deformação total no instante de tempo t de um ponto, em um elemento de


concreto submetido à temperatura constante e a uma tensão σ c0 aplicada no instante de
tempo τ 0, é igual à soma das parcelas de deformação instantânea, de fluência e de
retração.

ε (t) = ε e ( t )+ ε cr ( t ) +ε sh(t)

Para facilitar a visualização, na Figura 2.1, são apresentados gráficos de


deformação versus tempo (ε x t) e tensão versus tempo (σ x t).

É possível verificar que a deformação por retração ε sh (t) se inicia imediatamente


após a cura do concreto (t = T d), antes da aplicação do carregamento (t < T O), o que
evidencia que esta propriedade é independente do estado de tensões imposto pelo
carregamento externo aplicado ao elemento analisado.

No momento de aplicação do carregamento, instante T O, há um salto no gráfico


que representa a parcela instantânea da deformação ε e ( t ). A última componente, a
deformação por fluência ε cr ( t ), se inicia no instante seguinte ao da aplicação do
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carregamento (t > T O), o que ratifica que esta propriedade é função do estado de tensões
do elemento.

Figura 2.1 – Componentes de deformação produzida por um carregamento prolongado.


Fonte: GILBERT e RANZI (2011).

Vale ressaltar que a curva de cada componente de deformação tende a uma


assíntota horizontal quando o tempo de análise tende à infinito. Portanto, a deformação
em elementos de concreto, proveniente das propriedades reológicas, possui um valor
limite quando o horizonte de projeto é de longo prazo.

1.2. FUNDAMENTOS BÁSICOS SOBRE FLUÊNCIA

De acordo com METHA e MONTEIRO (2008) a fluência é o nome do


fenômeno onde ocorre o aumento gradual da deformação de um elemento de concreto
quando este é submetido a um estado de tensões constante ao longo do tempo. A taxa de
crescimento da deformação por fluência é alta nos períodos imediatamente superiores à
aplicação do carregamento, diminuindo com o passar do tempo até estabilizar em um
valor máximo limite. Ver Figura 2.2.
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Figura 2.2 – Estado de tensões constante, (a); deformação por fluência produzida, (b).
Fonte: GILBERT e RANZI (2011).

Quando um elemento carregado está em equilíbrio hídrico com o ambiente,


situação onde não há perda de água do concreto para o ambiente externo, a deformação
gradual proveniente do carregamento recebe o nome de fluência básica. A deformação
adicional que ocorre com o elemento, quando este ainda perde água para o ambiente
externo, recebe o nome de fluência por secagem. Essa distinção é feita somente no
campo teórico.

2.2.1 Componentes da fluência

Para um melhor entendimento do fenômeno físico, de acordo com GILBERT e


RANZI (2011), a fluência pode ser subdividida em vários componentes que retratam o
mecanismo completo. O gráfico da Figura 2.3 ilustra essa divisão. Vale ressaltar que
essa divisão não é usual quando da análise estrutural de elementos sujeitos à fluência.

Figura 2.3 – Estado de tensões constante, (a); deformação por fluência produzida, (b).
Fonte: GILBERT e RANZI (2011).

A primeira componente desse fenômeno recebe o nome de deformação rápida


inicial, ε cr , fi ( t ), e ocorre durante as 24 horas após a aplicação do carregamento, no
instante τ 0. Essa parcela é irreversível e inversamente proporcional à idade do concreto
no instante de aplicação da carga (a idade do concreto é representada pelo tempo em
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dias desde sua cura). Portanto, quanto mais jovem o concreto maior a deformação
rápida inicial.

A segunda parcela, também irreversível, é a deformação adicional que ocorre até


o descarregamento do elemento, no instante τ 1 , ou a tempo tendendo ao infinito, quando
não há variação no estado de tensões do elemento. Essa componente pode ser
considerada como: deformação básica, ε cr , f b ( t ), que ocorre quando a umidade ambiental
é superior ou igual à de saturação da pasta de cimento, e deformação por secagem,
ε cr , f d ( t ), que ocorre quando a umidade ambiente é inferior à da pasta de cimento e há
perda de água do concreto para o ambiente externo.

A deformação básica é influenciada pela composição da mistura de concreto


(tipo de agregado, tamanho e quantidade, resistência característica e etc.) e pela idade
do concreto no momento da aplicação da carga.

A deformação por secagem é influenciada pelas propriedades da mistura, como


por exemplo, o fator água-cimento, e pela geometria da peça de concreto (tamanho e
formato do elemento).

A terceira e última parcela desse fenômeno recebe o nome de deformação


elástica retardada, ε cr , f ( t ), e ocorre após o descarregamento do elemento, no instante τ 1 .
Essa componente é reversível e ocorre em função da restituição da deformação elástica
do agregado presente no concreto.

O conceito de reversível e irreversível não pode ser consolidado sem que seja
conhecido o histórico do estado de tensões ao qual está submetido o concreto. Esse
histórico é evidenciado pelo gráfico de tensão versus tempo (σ x t), Figura 2.3, onde é
possível visualizar a variação de tensões ao longo do tempo.

2.2.2 Fatores que influenciam a fluência

A fluência é um mecanismo extremamente complexo que ainda não é entendido


completamente. Entre as inúmeras possíveis causas desse fenômeno, é válido destacar:

 A perda de água adsorvida pela pasta de cimento. Devido à tensão de


confinamento provocada pela carga aplicada, parte da água presente na
mistura é expulsa por meio dos inúmeros poros capilares presentes no
concreto;
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 A deformação do agregado. A carga imposta à peça de concreto é


transferida gradualmente da pasta de cimento para o agregado. À medida
que o agregado é carregado, este se deforma elasticamente.

Muitos fatores influenciam tanto na magnitude, quanto na taxa de


desenvolvimento do fenômeno, seja amplificando ou atenuando seus mecanismos.
Fatores como as propriedades da mistura do concreto, condições ambientais, como
temperatura e umidade, e condições de carregamento do elemento.

A magnitude dos efeitos das deformações por fluência diminui com:

 O aumento da resistência característica do concreto;


 O aumento do tamanho e resistência do agregado;
 O aumento da umidade relativa do ambiente externo.

Atenção especial deve ser dada ao fato de que, quanto maior for a idade do
concreto quando submetido ao carregamento, menor será a magnitude da deformação
por fluência do elemento, como ilustra a Figura 2.4.

ε cr ( t i ) >ε cr ( t j ) →t i< t j

Figura 2.4 – Deformação por fluência produzida em concretos com diferentes idades.
Fonte: GILBERT e RANZI (2011).

Por outro lado, a magnitude dos efeitos das deformações por fluência aumenta com:

 O aumento da temperatura ambiente;

 O aumento da razão (superfície ou área) / (volume) do elemento, como por


exemplo, para as lajes;
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 O aumento do fator água-cimento;

 O aumento do abatimento do concreto, de acordo com a NBR 6118:2003.

1.3. FUNDAMENTOS BÁSICOS SOBRE RETRAÇÃO

A retração é o nome do fenômeno no qual ocorre o aumento gradual da


deformação de um elemento devido à sua exposição a um ambiente externo com
umidade relativa inferior à saturação da pasta de cimento, bem como às reações
químicas relativas às próprias características do material, como grau de hidratação,
microestrutura do concreto e componentes da mistura.

É importante ressaltar que a deformação por retração é independente do estado


de tensões submetido ao concreto, como é mostrado na Figura 2.1, sendo a pasta de
cimento hidratada, de acordo com METHA e MONTEIRO (2008), a principal causa de
deformações relativas à umidade no concreto.

2.3.1 Componentes da retração

De acordo com GILBERT e RANZI (2011), é possível segmentar a deformação


por retração em quatro componentes: plástica, química, térmica e por secagem. A
retração plástica ocorre quando a mistura do concreto ainda está viscosa e,
posteriormente, ocorrem as retrações química, térmica e por secagem.

A retração química ocorre nos primeiros dias, ou semanas, após o lançamento do


concreto, devido às reações químicas na pasta de cimento influenciada pelo grau de
hidratação da mistura. É verificada em um elemento que não esteja sujeito às mudanças
na umidade e, com isso, não perde água adsorvida ao ambiente externo.

A retração térmica ocorre nas primeiras horas, ou dias, após a hidratação do


concreto, durante a dissipação do calor provocado pela reação exotérmica na pasta de
cimento.

É válido ressaltar que, tanto a retração química quanto a térmica não, estão
associadas ao processo de perda de água da pasta de cimento. A soma de seus efeitos é
denominada como deformação por retração endógena, ε sh ,e ( t ).

A retração por secagem, ε s h ,d ( t ) representa a diminuição de volume do elemento


devida à perda de água da pasta de cimento e ocorre durante o processo de
envelhecimento do concreto.
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Semelhante à fluência, a separação do fenômeno da retração é feita somente no


campo teórico, sendo negligenciada quando da análise estrutural.

Assim como na fluência, de acordo com METHA e MONTEIRO (2008), a


deformação por retração também possui parcela reversível e irreversível. A Figura 2.5
ilustra as duas parcelas da deformação por retração, onde o eixo horizontal representa o
tempo em dias e o eixo vertical representa o encurtamento.

Figura 2.5 – Componente reversível e irreversível da deformação por retração.


Fonte: METHA e MONTEIRO (2008).

Por meio de ciclos de molhagem-secagem as deformações por retração são


parcialmente revertidas, como mostra a Figura 2.5. Após a molhagem do concreto,
houve uma restituição gradual de parte das deformações impostas ao elemento, o que
permite concluir que a retração por secagem é a parcela reversível da deformação por
retração, sendo as demais parcelas (plástica, química e térmica) irreversíveis.

2.3.2 Fatores que influenciam a retração

A retração é considerada uma deformação reológica medida em um elemento


exposto à temperatura constante e sem restrições de deslocamentos. A deformação por
retração, ε sh ( t ), é usualmente considerada como a soma da retração por secagem ε sh ,d ( t )
e a retração endógena ε sh ,e ( t ).

A deformação por secagem ε sh ,d ( t ) ocorre em função da perda de parte da água


adsorvida pela pasta de cimento que é transferida para o ambiente externo como
consequência da umidade diferencial relativa.
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Muitos fatores influenciam, tanto na magnitude, quanto na taxa de


desenvolvimento do fenômeno, seja amplificando ou atenuando seus mecanismos.
Fatores como: umidade relativa do ambiente externo, características da pasta de cimento
como, por exemplo, o grau de hidratação, o fator água-cimento, o tipo e tamanho dos
agregados e a geometria da peça de concreto.

A magnitude dos efeitos da deformação por retração diminui com:

 O aumento da resistência característica do concreto;

 O aumento do módulo de elasticidade do agregado;

 O aumento do tamanho do agregado.

Apesar de a retração por secagem diminuir com o aumento da resistência do


concreto, a magnitude das deformações provenientes da retração química e térmica
(endógena) são sensivelmente aumentadas. Isso se deve ao fato de a quantidade de água
livre para a hidratação do concreto de alta resistência ser menor do que a de concretos
de menor resistência.

Por outro lado, a magnitude dos efeitos da deformação por retração aumenta
com:

 O aumento do fator água cimento;

 O aumento da temperatura ambiente;

 O aumento da superfície de contato entre a peça de concreto e o ambiente


externo.

1.4. FUNDAMENTOS BÁSICOS SOBRE RELAXAÇÃO

A relaxação corresponde a um alívio de tensão nos cabos, mesmo mantidos com


deformação ou comprimento constante, perdendo, assim, a força de tração ao longo do
tempo. A NBR6118 determina que a perda pode ser determinada pelo coeficiente:

∆p
ψ (t ,t 0)=
F p0

Sendo:

F p 0 - Força de protensão após as perdas imediatas;


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∆ p - Perda de protensão devida à relaxação dos cabos.

A Figura 2.6 apresenta o gráfico 𝜎 × 𝑡 (variação de tensão ao longo do tempo)


para um elemento de aço com comprimento constante. Conforme ilustrado, a tensão
diminui até estabilizar em um patamar.

Figura 2.6 – Fenomeno de relaxação no aço.


Fonte: HANAI, (2005).

A norma permite considerar a tempo infinito ψ ( t , t 0 ) =2 ,5 ψ 1000. Onde ψ 1000 é a


relaxação de fios e cordoalhas após 1000h a 20º C. Os valores para ψ 1000, dependem da
tensão no cabo e o tipo (relaxação normal e relaxação baixa), de acordo com a Tabela 1:
Tabela 1 – Valores de ψ 1000
CORDOALHAS FIOS
σ p0 BARRAS
RN RB RN RB
0,5. f ptk 0 0 0 0 0
0,6. f ptk 3,5 1,3 2,5 1,0 1,5
0,7. f ptk 7,0 2,5 5,0 2,0 4,0
0,8. f ptk 12,0 3,5 8,5 3,0 7,0
Nota: RN - relaxação normal; RB - relaxação baixa.
Fonte: NBR6118:2014.

Atualmente, as cordoalhas de 7 fios são fabricadas apenas na condição de


relaxação baixa.

A perda da força de protensão devida à relaxação do aço é dada por:


∆ p=2 , 5ψ 1000 . F p
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Sendo assim, a perda imediata de protensão é dada pelas perdas por atrito e
encunhamento. Para o cálculo das perdas totais, são somadas as perdas por relaxação do
aço.

É a capacidade que tem o metal de se deixar deformar sem sofrer fratura na fase
inelástica, isto é além do seu limite elástico (limite de elasticidade). Os aços dúcteis,
quando sujeitos a tensões locais elevadas sofrem deformações plásticas capazes de
redistribuir as tensões; este comportamento plástico permite, por exemplo, que se
considere numa ligação rebitada distribuição uniforme da carga entre os rebites. Além
desse efeito local, a ductilidade tem importância porque conduz a mecanismos de
ruptura acompanhados de grandes deformações, fornecendo avisos da atuação de cargas
elevadas. A ductilidade pode ser medida pela deformação unitária residual após ruptura
do material. As especificações de ensaios de materiais metálicos estabelecem valores
mínimos de alongamento unitário na ruptura, para as diversas categorias de aços.
Submetido a uma carga de tração, em estado de tensão simples, ocorre, no aço, um
exato limite de escoamento sob uma tensão som ente levemente superior ao limite
elástico. Os valores mínimos das especificações do limite de escoamento, índice de
ductilidade e química, acham-se estabelecidos pelas normas correspondentes.

As propriedades mecânicas do aço estrutural, que descrevem sua resistência,


ductilidade, e assim por diante, são dadas em termos do seu comportamento a um teste
de tração simples.
Uma metodologia muito aceita no meio científico é a proposta por Laurent. O
autor define como índice de ductibilidade do trecho ascendente I d p ré , a relação entre a
deformação correspondente à máxima tensão e a deformação elástica equivalente, sendo
esta última dada pela razão entre a resistência do concreto e o módulo de elasticidade
tangente na origem. Define, ainda, como ductibilidade do trecho descendente, a relação
entre a deformação do trecho descendente correspondente a 50% da tensão máxima e a
deformação correspondente a tensão máxima. Na figura 2.7, é apresentada
esquematicamente a metodologia de Laurent.
15

Figura 2.7 – Metodologia de avaliação da ductibilidade proposta por Laurent.


Fonte: LAURENT, (1989).

1.5. FUNDAMENTOS BÁSICOS SOBRE CARBONATAÇÃO

A carbonatação é definida como a neutralização da fase líquida intersticial


saturada de hidróxido de cálcio e de outros compostos alcalinos hidratados, contidos na
pasta de cimento do concreto, pelo dióxido de carbono (CO2) que para uma faixa de
umidade precipitam como carbonato de cálcio, RILEM (1988).

A carbonatação acontece naturalmente em estruturas de concreto expostas à ação


do dióxido de carbono, este difunde na superfície do concreto e, em presença da
umidade dos poros, forma a frente de carbonatação.

A intensidade da umidade é fundamental para a ocorrência da carbonatação,


porque não ocorrerá carbonatação em altas ou baixas intensidades de umidade. Segundo
Verbeck apud ACI 201.2R (1992) e Roy et al. (1999) a melhor taxa de umidade para
ocorrer a carbonatação é entre 50% e 75%. Para umidade relativa abaixo de 25% a
carbonatação é considerada insignificante e quando superior a 75%, a umidade presente
nos poros restringe a penetração do dióxido de carbono.

A incidência da chuva dificulta o avanço da frente de carbonatação porque o


dióxido de carbono é impedido de se difundir devido à saturação dos poros, enquanto no
período de estiagem, o processo de carbonatação é normal.

Okochi et al. (2000) observaram que a carbonatação é mais intensa nas amostras
protegidas da chuva do que nas expostas. Isso se explica porque as faces expostas estão
sujeitas à carbonatação apenas no período de estiagem e as faces protegidas estão
sujeitas durante todo o período do ano.
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A carbonatação está diretamente relacionada à penetração do dióxido de


carbono, por meio dos poros, para o interior do concreto. O qual na presença da
umidade transforma-se em ácido carbônico (HCO3), que é reativo.

O ingresso do dióxido de carbono nos poros do concreto, em concentrações


normais atmosféricas – com variação de 0,03% a 1,0% em volume – é causado pela
difusão. Essa difusão realiza-se por meio de poros capilares interconectados (rede
capilar), microfissuras ou bolhas de ar. Determinados agregados são porosos e podem
fazer parte do sistema de transporte, Richardson (1988).

Inicialmente, o dióxido de carbono não se difunde ao interior do concreto porque


a tendência é de se combinar, ainda na superfície, com os álcalis e o hidróxido de cálcio.
Posteriormente, a tendência é de o CO2 penetrar mais profundamente no concreto,
dando continuidade ao processo de carbonatação. Vale ressaltar que o avanço da frente
de carbonatação está diretamente relacionado à facilidade que o CO2 encontra para
difundir-se.

Na tabela 2 são apresentadas algumas propriedades químicas dos materiais


cimentícios quando carbonatados.

Tabela 2 – Propriedades e efeitos relacionados com a carbonatação.

PROPRIEDADES EFEITO

A carbonatação ocorre em materiais com Ca++ disponível.


Conteúdo de Ca++ Quanto maior a concentração de cálcio, menor a frente de
carbonatação
Relação Ca/Si Quanto maior a relação Ca/Si, maior o grau de carbonatação
Quanto maior a permeabilidade dos materiais cimentícios
Permeabilidade
maior a penetração do CO2, o que facilita a carbonatação
Fonte: Dados referidos por Bertos et al. (2004).

A relação água/cimento é responsável pelo tamanho e continuidade dos poros


presentes no concreto. Ao reduzir-se essa relação há uma diminuição na profundidade
de carbonatação, uma vez que a continuidade capilar dos poros é minorada devido à
alteração da microestrutura da pasta de cimento e os poros podem, até mesmo, serem
desconectados.
Para Al-Khaiat e Fattuhi (2002) a redução da relação água/cimento e o aumento
do período de cura resulta em concretos com menor profundidade de carbonatação.
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Ho e Lewis (1987), Dhir et al. (1989), Monteiro e Nepomuceno (1997), Veiga et


al. (1998), Seidler e Dal Molin (2002) e Silva (2002) verificaram que a relação
água/cimento é um dos fatores que influenciam na qualidade final do concreto quanto à
resistência mecânica e a resistência à carbonatação. Quanto maior a relação
água/cimento maior será a porosidade, a permeabilidade e a profundidade de
carbonatação do concreto.

Atis (2004), estudando a relação entre carbonatação, resistência à compressão e


porosidade, verificou haver a tendência de quanto maior for a resistência à compressão,
menor a porosidade e, consequentemente, menor a profundidade de carbonatação. Mas
o aumento da porosidade resulta no aumento da profundidade de carbonatação para uma
resistência à compressão constante, ou seja, a resistência mecânica não é parâmetro
único para o controle da carbonatação. Portanto a permeabilidade e a interconexão de
poros devem ser consideradas ao avaliar a carbonatação em diferentes concretos, figura
2.8.

Figura 2.8 – Gráfico tridimensional da relação entre profundidade de carbonatação, resistência mecânica
e porosidade.
Fonte: ATIS, (2004).

Sarott et al. (1992) e Hobbs (1999) verificaram que o fator água/cimento


interfere significativamente na porosidade e permeabilidade e, conseqüentemente, no
coeficiente de difusão.

Helene (1993) afirma que a penetração do dióxido de carbono no concreto dá-se


preponderantemente pela difusão e que os mecanismos de absorção capilar e migração
de íons não se aplicam ao caso.
18

Segundo o CEB 152 (1983), a difusão é o processo pelo qual um líquido ou um


gás percola em um substrato devido à diferença de concentração, resultando na
migração de uma zona de maior para uma de menor concentração. As diferenças de
umidade e de temperatura contribuem no processo de difusão.

Uma representação esquemática da difusão do dióxido de carbono, na


porosidade, da pasta de cimento, está representada na figura 2.9. A linha que separa as
duas zonas de diferentes pH é chamada frente de carbonatação. A difusão da frente de
carbonatação avança lentamente do exterior para o interior do concreto, provocando
alterações nas propriedades físico-químicas do material. Quando a frente de
carbonatação atinge a armadura tem-se o rompimento da camada de óxido sub
microscópica passivante, o que é denominado despassivação da armadura. Segundo
Taylor (1997) o filme passivante é instável para baixos valores de pH, o qual é
resultante da carbonatação, lixiviação ou ação de cloretos.

Figura 2.9 – Representação esquemática da frente de carbonatação.


Fonte: RICHARDSON, (1988).

O dióxido de carbono, quando em contato com o concreto e na presença da


umidade presente nos poros, desencadeia a frente de carbonatação. O que facilita a
reação do ácido carbônico é a grande disponibilidade de álcalis na pasta do cimento,
Mehta e Monteiro (1994). A pasta de cimento hidratada é composta por um volume de
aproximadamente 20 a 25% de hidróxido de cálcio (Ca(OH)2) e 50 a 60% de silicato de
cálcio hidratado (C-S-H). O hidróxido de cálcio é mais susceptível à carbonatação que o
silicato de cálcio hidratado porque tal composto é altamente solúvel em meios ácidos.

Afridi et al. (2001) estudando o comportamento do Ca(OH)2 em argamassas


sem adições e submetidas à carbonatação, constatou que esses cristais são fracos e
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incapazes de resistir a tensões e consequentemente tem-se o surgimento de fissuras


devido às reações de carbonatação. Segundo Taylor (1997) a carbonatação contribui
significativamente na retração do concreto e causa fissuras superficiais, sendo esse
efeito mais evidente em corpos-de-prova de menores dimensões.

Nas Equações (2.1) a (2.3) estão descritas as reações responsáveis pela


carbonatação através do hidróxido de cálcio. Inicialmente, é necessário que o CO2 se
difunda através dos poros do concreto em direção à região de menor concentração e na
presença da umidade dos poros se transforme em ácido carbônico.
−−¿ ¿
CO 2+ ¿ H 2 O → H +¿¿ + HCO−¿
3
→¿ +¿¿
2 H + CO 3

Os cristais de Ca(OH ¿ ¿ 2 se dissolvem na fase aquosa dos poros do concreto.


++¿ ¿ −¿¿
Ca(OH ¿ ¿ 2 → CA + 2 OH

Portanto, ocorre o desencadeamento da reação do Ca( OH ¿ ¿ 2 com o CO 2, ambos


dissolvidos, originando o carbonato de cálcio e reduzindo o valor do pH e o volume dos
poros.
−−¿ →CaC O +2H O ¿
3 2
+¿ +CO ¿
−¿+2 H 3
¿
++¿+2 0 H ¿
CA

Papadakis et al. (1992) verificaram que a taxa de carbonatação não depende


apenas da concentração do hidróxido de cálcio, mas também, do silicato de cálcio
hidratado que contém CaO. Segundo Taylor (1997) o hidróxido de cálcio e o silicato de
cálcio hidratado carbonatam simultaneamente.

1.6. FUNDAMENTOS BÁSICOS SOBRE PROTENSÃO

O conceito da protensão é de produzir esforços opostos aos gerados por cargas


usuais atuantes na estrutura.

A aplicação de uma compressão prévia para melhorar o comportamento de certa


estrutura é antiga. Por exemplo, em barris de madeira, onde o líquido exerce pressão na
parede, gerando esforços radiais, são colocados anéis metálicos para combater esse
efeito, ficando, assim, tensionados, aplicando compressão radial no barril (HANAI,
2005). A Figura 2.10 ilustra tal efeito.
20

Figura 2.10 – Exemplo de estrutura pré-tensionada.


Fonte: HANAI, 2005.

A pré-tensão aplicada em peças de concreto foi proposta pela primeira vez por P.
H. Jackson em São Francisco, EUA (LEONHARDT, 1983). O autor cita que no ano de
1888 W. Dourung apresentou uma patente de protensão e em 1906 M. Knoenen realizou
o primeiro ensaio com aço tracionado, ambos em Berlim. Nos anos seguintes outras
patentes e ensaios foram realizados, porém foram ineficientes por não considerarem
problemas como retração e fluência do concreto e a relaxação do aço. O emprego de aço
de alta resistência com altas tensões foi reconhecido pelo americano R.H. Dill em
Nebraska, EUA. (LEONHARDT, 1983).

Em elementos fletidos de concreto armado ou aço, usualmente são solicitadas


apenas quando a peça começa a se deformar. Em elementos escorados, por exemplo,
apenas após a retirada do escoramento que as fibras dessas peças passam a resistir aos
esforços solicitantes, pois o escoramento não permite sua deformação. O mesmo não se
aplica a peças protendidas. Quando tracionadas por macacos hidráulicos, a armadura
longitudinal, constituída por aços de protensão, comprime a peça e a própria armadura
provoca deformação estrutural, fazendo com que a peça seja solicitada apenas por
esforços internos. Devido a esse fato, a protensão é comumente chamada de armadura
“ativa”.

Em estruturas de concreto, a protensão busca melhorar a deficiência de baixa


resistência à tração do material, visto que a protensão provoca compressão em regiões
onde o concreto seria tracionado, fazendo com que essas tensões sejam reduzidas ou até
21

anuladas. Isso faz com que o material apresente um melhor desempenho, tenha
economia no uso do material e possa receber maiores solicitações.

2.6.1 Classificação dos sistemas de protensão

A protensão pode ser classificada de acordo com o seu sistema construtivo,


posição dos cabos, do modo de trabalho como sistema estrutural.

O cálculo das estruturas pode variar dependendo do sistema de protensão


adotado.

a) Classificação quanto à aderência:

a) Sistema de prontensão aderente

No sistema de protensão aderente, não há o deslocamento relativo entre a


cordoalha e a estrutura. Usualmente, em estruturas de concreto com protensão interna, é
injetada calda de cimento nas bainhas corrugadas, após a protensão, garantindo a
aderência entre os materiais. As bainhas são posicionadas no interior do elemento
estrutural previamente, antes da concretagem das peças.

Segundo Leonhardt (1983), a protensão aderente provoca uma melhor


distribuição das tensões e melhora a segurança à ruptura (pois a falha de um dos
elementos não resultaria em falha total da protensão naquele elemento), segurança a
incêndios e principalmente melhora a proteção quanto à corrosão.

b) Sistema de protensão não aderente

Em um sistema de protensão não aderente, a armadura é livre para deslocar ao


longo de seu comprimento, estando conectadas na estrutura através das ancoragens.
Esse tipo é aplicável tanto ao concreto quanto em peças metálicas, pois pode ser feita
tanto interna quanto externamente a peça protendida. O tipo mais comum desse sistema
é o de monocordoalha engraxada com bainha plástica.

A protensão não aderente tem vantagens construtivas, pois é de mais fácil


instalação e não necessita da injeção de calda de cimento ao final da protensão. A
própria cordoalha, envolvida pelo tubo de polietileno ou polipropileno e uma proteção
de graxa, atende a necessidade de proteção anticorrosão.
22

A não aderência dos cabos no elemento estrutural faz com que o seu cálculo seja
mais complexo do em peças com cordoalhas aderentes. No caso da cordoalha engraxada
não há compatibilidade de deformações, ou seja, a deformação da peça protendida não é
necessariamente igual à deformação dos cabos. A compatibilidade de deformações é
hipótese fundamental para a teoria do concreto armado e protendido, logo os métodos
de cálculos convencionais não se aplicam nesse caso (BARBIERI; GASTAL, 2002).

b) Classificação quanto à posição dos cabos:

a) Protensão interna

A protensão interna é o caso mais comum em vigas de concreto armado,


podendo ser com aderência inicial (pré-tração), aderência posterior (pós-tração) ou sem
aderência (pós-tração).

Em vigas com aderência inicial, as armaduras ativas com o uso de cordoalhas


normalmente retas, por facilidade de execução, são tensionadas antes das concretagens
das peças, utilizando apoios independentes. A transferência da protensão só é realizada
após o endurecimento do concreto e as armaduras são liberadas dos apoios,
comprimindo a peça. Nesse caso, a ancoragem é feita apenas pela aderência da
armadura na peça.

Em peças de concreto com armadura pós-tracionadas, com cabos internos, a


tração nos cabos só é realizada após o endurecimento do concreto.

Em ambos os casos, os cabos com protensão interna apresentam uma


excentricidade em relação ao centroide da seção que não varia conforme a deformação.
Os cabos são mais protegidos das ações externas como fogo, corrosão e ações de
vandalismo. Porém, a inspeção e a manutenção dessas estruturas são mais sofisticadas.

b) Protensão externa

A protensão externa pode ser realizada tanto em peças de concreto quanto em


aço. São importantes e muito usadas em reforços estruturais, podendo melhorar a
capacidade de carga da estrutura, sem a necessidade de grandes intervenções.

A técnica pode ser caracterizada por cabos fora da área física ocupada pela seção
transversal da estrutura. As forças são transmitidas para a estrutura apenas nos pontos de
23

ancoragem e nos desviadores, não existindo aderência entre os elementos de protensão e


a estrutura. (REIS, 2003).

A protensão externa pode apresentar variação na excentricidade das cordoalhas,


em relação ao centroide da estrutura, com o aumento das deformações. Em cabos retos e
sem desviadores, a variação da excentricidade é equivalente a deformação vertical da
viga na seção.

Como pode ser observada na Figura 18, a variação da excentricidade pode


diminuir o esforço de momento fletor causado pela protensão, causando efeitos de
segunda ordem. Isso implica na redução da carga última das peças.

Figura 2.11 – Variação da excentricidade de uma cordoalha externa com e sem carga.
Fonte: http://bibing.us.es (acesso em: 17 de setembro de 2019).

2.6.2 Perdas de protensão

As forças aplicadas nos cabos de protensão estão suscetíveis a perdas


instantâneas e progressivas, motivadas por diversos fatores, sendo esses:

a) Perdas por atrito entre os cabos e a bainha (instantânea);


b) Perdas por encunhamento (instantânea);
c) Perdas por deformação instantânea;
d) Perdas de protensão devido a retração e fluência do concreto (progressivas)
e) Perdas pela relaxação dos cabos (progressivas).

a) Perdas por atrito

As perdas por atrito podem ser muito significativas em cabos longos ou com
grande variação angular dos mesmos.
24

A perda por atrito faz com que a força do cabo não seja uniforme ao longo do
comprimento da peça. A NBR6118:2014 considera a perda em função da posição de
acordo com a expressão:

Δ𝑃 = PO(1−e (μ Σ α + kαx))

Onde:

PO - Força aplicada no cabo pelo macaco;

ΔP(x) – Perda da força na posição x devida ao atrito;

x - Distância entre a seção avaliada e a ancoragem;

Σα – Soma do módulo dos ângulos de desvios do cabo em radiano entre a seção


de aplicação da protensão e onde a perda é calculada;

μ – Coeficiente de atrito entre cabo e bainha;

k – Coeficiente de perda por metro devido à curvatura do cabo (usualmente 0,01


μ).

b) Perdas por encunhamento

A perda por encunhamento ocorre devido à acomodação do cabo de protensão


na cunha de ancoragem. Pois, após ser solto pelo macaco, o cabo sofre um
encurtamento até ser presa pela cunha. Esse encurtamento provoca uma perda na força
de protensão na região próxima aos apoios.

Figura 2.12 – Tensão ao logo do cabo antes e após a ancoragem.


Fonte: CARVALHO, 2012.
25

A Figura 2.12 mostra que o retorno do cabo devido ao recuo das ancoragens,
encontra resistência de atrito equivalente ao que atua na puxada do cabo, mas no sentido
contrário. A influência da perda de encunhamento é restrito a uma região da viga. A
perda é grande próximo à ancoragem e reduzida ao longo do comprimento.

c) Perdas por deformação instantânea

Ao se protender um cabo, a estrutura comprimida sofre um encurtamento. Em


peças com vários cabos, esse encurtamento faz que os cabos, previamente puxados, se
afrouxem. Assim, uma protensão feita em várias etapas faz com que os cabos percam
parte da sua tensão, sendo o primeiro o que sofre maior perda e o último tenha perda
nula.

d) Perdas diferidas

As perdas diferidas, ou perdas progressivas, dependem de fenômenos como


relaxação do aço, retração e deformação lenta do concreto. As deformações dadas por
esses fenômenos podem ser calculadas separadamente. Porém, deve ser levada em conta
a interação dessas causas onde ocorre variação das deformações com o tempo
(CARVALHO, 2012). A norma NBR6118:2014 prevê um procedimento de cálculo
dessas perdas, desde que haja compatibilidade de deformações entre armadura e a peça
protendida e que o concreto esteja no Estádio 1.

No caso de protensão não aderente, as perdas diferidas seriam calculadas para a


seção das ancoragens e, a favor da segurança, seria suposta constante em toda peça
estrutural (CARVALHO, 2012).

 Retração

A retração ocorre no concreto por diminuição do volume causada pela perda de


água no concreto. A deformação sofrida depende da umidade relativa, temperatura
ambiente, dimensões da peça (área exposta) e da relação água/cimento.

 b) Deformação Lenta

A deformação lenta é caracterizada pelo aumento da deformação ao longo do


tempo quando o concreto é submetido a um carregamento constante. Logo, as ações
acidentais não causam fluência.

 c) Relaxação do aço
26

É uma propriedade do material na qual a tensão com o tempo é reduzida pelo


efeito do alongamento. Se o alongamento for mantido constante, tem-se a relaxação
pura. Porém, como é combinada com outros efeitos, como a retração e a fluência, a
perda real é menor que a calculada de maneira independente. A relaxação depende das
propriedades do material e da tensão que a armadura está submetida.

2.6.3 TIPOS DE PROTENSÃO

Os tipos de protensão estão relacionados aos estados limites de utilização


referentes à fissuração. A protensão pode ser completa, limitada ou parcial, de acordo
com as definições a seguir.

 Protensão completa

De acordo com a NBR 7197, item 4.1.1, existe protensão completa quando se
verificam as duas condições seguintes:

a) para as combinações freqüentes de ações, previstas no projeto, é respeitado o


estado limite de descompressão, ou seja, para as situações em que atuarem a
carga permanente e as sobrecargas frequentes, não se admite tensão de tração
no concreto;
b) para as combinações raras de ações, quando previstas no projeto, é
respeitado o estado limite de formação de fissuras.
A protensão completa, também comumente chamada de protensão total,
proporciona as melhores condições de proteção das armaduras contra a
corrosão e limita as flutuações de tensões no aço a valores moderados. Esses
fatores tornam essa modalidade de protensão muito interessante nos casos de
obras situadas em meios muito agressivos. Entre as várias situações em que a
protensão completa é aplicável, pode-se citar:
• tirantes em concreto protendido, nos quais se deseja impedir a fissuração
do concreto; sob cargas de serviço, o concreto do tirante permanece
comprimido;
• reservatórios protendidos, nos quais se deseja garantir a estanqueidade do
concreto; com o reservatório cheio, o concreto permanece comprimido, o
que diminui o risco de fissuração;
• vigas formadas pela justaposição de peças pré-moldadas, sem armadura
suplementar nas seções das juntas; as juntas construtivas não armadas devem
27

estar sempre comprimidas nas condições mais desfavoráveis de trabalho da


estrutura em serviço.
Em princípio, não existe nenhuma limitação de ordem técnica que restrinja o
emprego da protensão completa. Normalmente a opção pela protensão limitada se deve
a motivos de natureza econômica.
 Protensão limitada (NBR 7197 - 4.1.2)
De acordo com a NBR 7197, item 4.1.2, existe protensão limitada
quando se verificam as duas condições seguintes:
a) para as combinações quase permanentes de ações, previstas no projeto,
é respeitado o estado limite de descompressão (ver item 6.2.1);
b) para as combinações frequentes de ações, previstas no projeto, é
respeitado o estado limite de formação de fissuras (ver item 6.2.2).

As vigas com protensão limitada são dimensionadas para tensões moderadas de


tração em serviço, considerando-se uma probabilidade muito pequena de fissuração do
concreto. As fissuras eventualmente abertas, devido à atuação de uma sobrecarga
transitória, se fecham após a passagem da carga, pois as seções permanecem
comprimidas sob o efeito das cargas quase permanentes.

A protensão limitada é comumente utilizada em elementos estruturais tais como


pontes, passarelas, etc. Nessa situação, as peças de concreto ficam sujeitas a tensões de
protensão menores do que aquelas que seriam produzidas por uma protensão total, o que
pode trazer as seguintes vantagens:

 menores tensões de tração e compressão na época da protensão;


 melhor comportamento no que diz respeito às deformações (flechas) sob
o efeito da fluência do concreto;
 maior participação da armadura suplementar na ruptura. Tensões de
protensão menores implicam em armadura ativa menor, o que exige mais
armadura passiva. Como o aço CP é mais caro que o aço CA esse
balanço entre as armaduras ativa e passiva pode conduzir a soluções mais
econômicas.
28

Figura 2.13 – Resumo das possibilidades de combinação dos processos e tipos de protensão no estado de
Utilização.
Fonte: Ramalho Martins, 2016.

 Protensão parcial (NBR 7197 - 4.1.3)

De acordo com a NBR 7197, item 4.1.3, existe protensão parcial quando se
verificam as duas condições seguintes:

a) para as combinações quase permanentes de ações, previstas no projeto, é


respeitado o estado limite de descompressão (ver item 6.2.1);
b) para as combinações freqüentes de ações, previstas no projeto, é
respeitado o estado limite de abertura de fissuras (ver item 6.2.3), com wk ≤ 0,2
mm.

O critério estabelecido neste caso é semelhante àquele para protensão limitada,


porém, permite-se que as tensões de tração no concreto atinjam valores mais elevados
ocasionando a formação de fissuras de maior abertura.
29

3. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na engenharia estrutural brasileira, o uso do concreto é predominante. Por outro


lado, por suas diversas vantagens, o uso do aço vem crescendo, principalmente em obras
de infraestrutura.
Historicamente, a utilização da protensão em pontes de concreto se provou
eficiente e economicamente competitiva, pois supre uma deficiência do concreto, a
baixa resistência à tração. Por outro lado, o uso da protensão em estruturas de aço e em
estruturas mistas não é muito estudada e tem sido pouco empregada em superestruturas
de pontes.
30

REFERÊNCIAS

BASSO, Fabiano. Estudo de pontes com vigas I segmentadas pré-fabricadas de


concreto protendido, utilizando o sistema de pré-tração e pós-tração. Disponível
em: https://repositorio.ufscar.br/bitstream/handle/ufscar/10658/Fabiano_Basso-Versão
%20final.pdf?sequence=1&isAllowed=y. Acesso em: 16 set 2019

FILHO, Marcelo Leite de Melo. Protensão em pontes de vigas mistas em aço e


concreto. Disponível em: http://monografias.poli.ufrj.br/monografias/monopoli
10016944.pdf. Acesso em: 16 set 2019.

Jr., Kléo M. Lenz César. Veríssimo, Gustavo de Souza. Concreto protendido –


Fundamentos básicos. Disponível em: http://wwwp.feb.unesp.br/lutt/Concreto%20
Protendido/CP-vol1.pdf. Acesso em: 17 set 2019.

MACHADO, Agnagildo C. Estruturas em aço. Disponível em: https://www.


passeidireto.com/arquivo/53919576/estruturas-de-aco-agnagildo. Acesso em: 16 set
2019.

SILVA, Valdirene Maria. Ação da carbonatação em vigas de concreto armado em


serviço, construídas em escala natural e reduzida. Disponível em: www.set.eesc.
usp.br › static › media › producao. Acesso em: 16 set 2019.

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