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Resumo—O processo de danificação do concreto depende, dentre constitutivo de dano baseado no modelo de Mazars, adaptado de tal
diversos fatores, de sua interação com outros materiais. A aplicabilidade forma que é possível considerar a inversão de esforços mecânicos devido
do concreto armado é possibilitada pela proximidade entre os coefici- à vibração.
entes de dilatação térmica do concreto e do aço, garantindo assim a
aderência e evitando o escorregamento entre os materiais. O início da fis- Palavras-chave—dinâmica não linear; estruturas de concreto ar-
suração, contudo, causa a perda desta aderência. O processo de evolução mado; mecânica do dano; interação dinâmica; método dos elementos
do dano depende não apenas do estado de tensão, mas principalmente do finitos não linear
estado de deformação acumulada. Portanto, a distribuição de armadura
ao longo de uma viga de ponte tem uma grande influência sobre o
processo de danificação do concreto. Considerando o caso de pontes
rodoviárias e ferroviárias, os carregamentos dinâmicos originários da I. I NTRODUÇÃO
passagem de veículos podem amplificar a perda de integridade do
concreto e o processo de plastificação do aço. Contudo, as normas Com as recentes mudanças no conceito de utilização dos materiais,
relativas ao projeto de pontes desconsideram os efeitos dinâmicos da
estrutura, convertendo-os em uma carga estática majorada. Além disso,
em vista de uma maior economia, iniciou-se a busca de um completo
as normas sugerem a consideração de um comportamento elástico linear aproveitamento das características de resistência destes materiais.
dos materiais na análise estrutural. A consideração da mecânica do dano Em consequência, surgiram estruturas mais esbeltas e com maiores
e da plasticidade nas armaduras de aço aumenta a complexidade do possibilidades de apresentarem um comportamento não linear, seja em
modelo, transformando-o em um problema dinâmico não linear e, assim, termos de equação constitutiva (não linearidade física) ou em termos
modificando as respostas da estrutura. Adicionalmente, a consideração
de uma distribuição variável de armadura ao longo do comprimento
de grandes deslocamentos e mudanças acentuadas na geometria (não
da viga contribui para a análise de modelos mais realistas. Portanto, linearidade geométrica) [1] .
este trabalho procura avaliar as respostas dinâmicas não lineares de
uma ponte de concreto armado, através de sua interação dinâmica com Apesar de diversos problemas na engenharia civil serem resolvidos
um modelo veicular, em que a distribuição não uniforme de armadura através de modelos estáticos, a maioria das estruturas está submetida
afeta a evolução da danificação. As pontes são modeladas através do a carregamentos dinâmicos e quando essas são de baixa intensidade
método dos elementos finitos, usando o programa principal e rotinas
adicionais desenvolvidas através da linguagem computacional C++, de quando comparadas às estáticas, os efeitos dinâmicos podem ser
modo a aplicar a distribuição de armaduras. É adotado um modelo desprezados [2].
camada 2
B. Teoria da Plasticidade .
. y0 = - h/2
.
Como modelo constitutivo dos vergalhões de aço das vigas,
é adotado um modelo bilinear elastoplástico, que considera o camada n/2
s max camada n
b
Esy
sy
Figura 3: Seção transversal da viga dividida em n camadas [2]
Es 1 X
EIeqv = b Ei (yi3 − yi−1
3
) (6)
3
sy p sy max
onde n é o número de camadas, b a largura constante da viga, Ei o
Figura 2: Modelo constitutivo do aço
módulo de elasticidade da i-ésima camada, considerando diferentes
materiais. yi e yi−1 são as coordenadas das divisões no eixo y [2].
em que σsy representa a tensão de escoamento do aço, Es seu modulo
de elasticidade inicial, εsy o limite da deformação elástica e Esy o O refinamento pode ser aplicado considerando a necessidade de
módulo de elasticidade após a ocorrência de escoamento das barras detecção de dano em cada seção de cada elemento. Aquelas que
de aço [7]. forem mais suscetíveis aos efeitos do dano (mais distantes da linha
neutra, por exemplo), podem necessitar um melhor refino local. A matriz de rigidez, também torna-se dependente do tempo e do vetor
Fig. 4 exemplifica como um mesmo sólido pode ter diferentes graus de posição.
de refinamento.
A equação dinâmica não linear, para uma viga danificada, é
mostrada em (9).
(i−1) (i−1)
!
[MB ]t+∆t γ[CB ]t+∆t (i) (i−1)
2
+ {uB }t+∆t + [KB ]t+∆t {∆u}(i)
β∆t β∆t
(i−1)
[MB ]t+∆t
= {FBext }t+∆t + ({uB }t + {u̇B }t ∆t+
β∆t2 (9)
(i−1) γ
(0, 5 − β) {üB }t ∆t2 )(i) + [CB ]t+∆t ( +
β∆t
Figura 4: Diferentes graus de refinamento de uma viga
γ
γ
(i−1)
− 1 {u̇B }t + − 1 {üB }t ∆t)(i) − {FBint }t+∆t
β 2β
D. Dinâmica Não Linear
onde β e γ são os parâmetros do método de Newmark, i é a iteração
em questão, {FBext }t+∆t o vetor de forças externas, {FBint }t+∆t o ve-
A solução para obtenção das respostas dinâmicas em um sistema tor de forças internas e {∆u} o vetor de deslocamentos incrementais.
não linear, utilizando o Método dos Elementos Finitos, é obtida [MB ], [CB ], [KB ] são as matrizes de massa, amortecimento e rigidez,
utilizando as formulações incrementais, os procedimentos de solução {uB }, {u̇B } e {üB } são os vetores de deslocamento, velocidade e
iterativa e os algoritmos de integração no tempo [9]. aceleração globais, respectivamente.
Devido às não linearidades físicas do sistema interativo entre viga É usado o programa ABXDNL 2.7 [2] para o cálculo de (9),
e ponte, considerando a mecânica do dano e a plastificação, a equação considerando a mecânica do dano e a teoria da plasticidade.
global de movimento deve ser resolvida iterativa e incrementalmente,
utilizando assim os métodos de Newton-Raphson e de Newmark,
respectivamente. Diversos pesquisadores desenvolveram variados
III. A NÁLISE N UMÉRICA
métodos para solucionar problemas não lineares, entre estes pode-se
apontar [1] e [2] por aplica-los aos problemas dinâmicos.
O objetivo deste artigo é comparar as respostas dinâmicas lineares
No caso de deterioração do material, as forças não são mais e não lineares, considerando a mecânica do dano e a teoria da
linearmente dependentes do deslocamento. Este modelo considera que plasticidade, de uma ponte de concreto armado, sobre a qual atravessa
o dano afeta diretamente a rigidez do sistema e, consequentemente, o um veículo com um grau de liberdade.
amortecimento estrutural [10]. A matriz de rigidez pode ser descrita
como Para a análise numérica, adota-se o caso de um projeto estrutural
de ponte, apresentado por [11].
m1
A seção transversal discretizada em camadas de materiais é
apresentada na Fig. 6.
1 2 3 4 5 5 5
BT = 30.000 νs = 0, 3
0.05
AC = 1, 2 εsy = 10 h
velocidade (m/s)
0
BC = 1.050
εd0 = 5 · 10−5 -0.05
-0.1
-3
x 10 -0.25
4 dinâmica linear
dinâmica não linear .
0 0.8
deslocamento (m)
0.5
altura (m)
0.6
-1 1
0.4
-2 1.5 0.2
0
-3 0 5 10 15 20 25 30
comprimento (m)
-4
Figura 10: Configuração final de dano na viga
-5
dinâmica linear
dinâmica não linear .
-6
0 0.5 1 1.5 2 2.5 3 3.5 4 4.32
As variações das 10 primeiras frequências naturais de vibração,
tempo (s) quando comparadas as dinâmicas linear e não linear, são apresentadas
na Tabela V.
Figura 8: Resposta dinâmica de deslocamento no centro do vão
Tabela V: FREQUÊNCIAS NATURAIS DE VIBRAÇÃO
É possível notar que a resposta dinâmica não linear apresenta
diferenças na amplitude e na frequência das oscilações, quando Frequências Naturais
comparadas às obtidas através da dinâmica linear. Frequência Análise Linear Análise não Linear Variação
Natural (rad/s) (rad/s) (%)
As respostas dinâmicas de velocidade no nó central são apresen- 1a 43,07973 34,91265 -18,96%
tadas na Fig. 9. 2a 137,43212 118,63736 -13,68%
3a 211,83561 181,04129 -14,54%
Observa-se a ocorrência de picos de velocidade nos momentos de 4a 304,69787 255,26927 -16,22%
entrada e saída do veículo da ponte. As amplitudes e frequências de
5a 508,50130 428,56316 -15,72%
oscilação também são diferentes, quando comparam-se as respostas
linear e não linear. 6a 821,10405 687,86553 -16,23%
7a 1210,71524 1018,37434 -15,89%
A configuração final danificada da viga é mostrada na Fig. 10. 8a 1590,61608 1362,14268 -14,36%
9a 1810,05515 1578,41333 -12,80%
De modo a melhorar a visualização do dano em cada camada, é
apresentada uma imagem distorcida da configuração final danificada 10a 2043,87320 1769,60522 -13,42%
da viga na Fig. 11.
Devido à perda na rigidez da estrutura, decorrente do dano no
Como pode ser observado, o dano não é aplicado às camadas de concreto, as frequências naturais apresentam uma redução de quase
aço. 19%, considerando o caso da primeira frequência natural.
0 1 R EFERÊNCIAS
0.5
rando as irregularidades da via e a mecânica do dano contínuo”.
1 Diss. de mestrado. Pontifícia Universidade Católica do Paraná,
0.4
2015.
1.2 [3] José Julio de Cerqueira Pituba. “Estudo e aplicação de modelos
0.3 constitutivos para o concreto fundamentados na mecânica do
1.4 dano contínuo”. Tese de doutorado. São Carlos: Escola de
0.2 Engenharia de São Carlos, Universidade de São Paulo, 1998.
1.6 [4] Jacky Mazars. “Application de la mécanique de
0.1 l’endommagement au comportement non linéaire et á
1.8 la rupture du béton de structure”. Tese de doutorado. Paris:
0 Université Paris 6, 1984.
0 5 10 15 20 25 30
comprimento (m) [5] M Perego. “Danneggiamento dei materiali lapidei: leggi
constitutive, analisis per elementi finiti ed applicazioni”. Diss.
Figura 11: Configuração ampliada do dano na viga de mestrado. Politecnico di Milano, 1989.
[6] M. S. Álvares. “Contribuição ao estudo e emprego de modelos
simplificados de dano e plasticidade para a análise de estruturas
IV. C ONCLUSÕES de barras em concreto armado”. Tese de doutorado. Escola de
Engenharia de São Carlos - USP, 1999.
Pode-se notar que, devido à perda de rigidez da estrutura em [7] Thiago de Oliveira Abeche et al. “Análise Dinâmica Não
decorrência do dano no concreto, as respostas de deslocamento Linear através da Mecânica do Dano e da Plasticidade de
vertical apresentam uma maior amplitude no caso da dinâmica não Vigas de Ponte com Irregularidades Periódicas e Aperiódicas
linear. Aleatórias da Via e Veículo com Variações de Aceleração”.
Em: I Simpósio de Métodos Numéricos em Engenharia. 2016.
Outra observação importante é a redução nas frequências naturais [8] F. P. Beer e E. R. Johnston. Mechanics of Materials. Pearson
da viga, devido à degradação do concreto. Em geral, a análise de Makron Books, 1995.
estruturas sujeitas a carregamentos dinâmicos envolve a investigação [9] Klaus-Jürgen Bathe. Finite Element Procedures. Prentice-Hall,
dessa propriedade, de modo a evitar-se que essa se aproxime das 1996.
frequências solicitantes, fato que pode ocasionar o fenômeno de [10] Thiago de Oliveira Abeche et al. “Damage Effects from Dyna-
ressonância. Quando as frequências de ressonância são atingidas, as mic Interaction between Vehicles, Irregularities and Railway
estruturas apresentam uma amplificação de suas respostas dinâmicas. Bridges in the Nonlinear Dynamic Response of Structures”.
Portanto, a consideração do dano no concreto, que desencadeia a Em: Third International Conference on Railway Technology:
alteração das frequências naturais de vibração da ponte, é de grande Research, Development and Maintenance (Railways 2016).
importância na análise estrutural. Ed. por J. Pombo. Vol. 1. 1. Stirlingshire, Scotland: Civil-
Comp Press. Cagliari, Sardinia, Italy, 2016, pp. 1–23.
É possível notar que, apesar de a viga apresentar simetria ao [11] Wilson Gorges. Notas de Aula de Engenharia de Pontes.
longo de seu comprimento, a configuração final de dano é assimétrica. Engenharia Civil, Pontifícia Universidade Católica do Paraná.
Analisando o 2o e o 13o elementos, por exemplo, suas configurações 2012.
finais apresentam diferenças significativas nas camadas inferiores.
Esse fato pode decorrer da falta de refino nas camadas em questão,
uma vez que não existe armadura nessa região. Para uma configuração
de dano e respostas dinâmicas mais precisas, é aconselhável aumentar
o refinamento dessas áreas específicas e realizar uma nova simulação
computacional.
AGRADECIMENTOS