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laminares de concreto
Application for the reinforcement design of laminar concrete structures
(1) Graduação em Eng. Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
(2) Professor Associado, Departamento de Arquitetura e Urbanismo DARQ/UFRN
(3) Professora Titular, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental – DECAM/UFRN
Email: selma.nobrega@ufrn.br
Resumo
Dentre as estruturas laminares de concreto armado, as cascas apresentam um comportamento complexo
gerado por alterações em sua condição de contorno, geometria especial e tipos de carregamento. As soluções
analíticas clássicas disponíveis para a determinação dos esforços necessários ao seu dimensionamento nem
sempre são facilmente obtidas e, nas publicações sobre o tema, são encontrados equacionamentos apenas
para estruturas específicas. Assim, para a análise das cascas gerais, recorre-se aos códigos computacionais
baseados no Método dos Elementos Finitos (MEF). A norma NBR 6118:2014, na seção 14.2.3, destaca que
o dimensionamento das armaduras não pode ser realizado apenas a partir das tensões ou dos esforços
resultantes desta análise, mas que os campos de tensões devem ser integrados ao longo da espessura da
casca para este fim. Este trabalho apresenta um aplicativo desenvolvido para o dimensionamento das
armaduras de estruturas laminares, fundamentado na metodologia das Três Camadas apresentada no Model
Code 1990. Exemplos de análise pelo MEF de uma laje e uma cúpula são explorados para, de forma didática,
explanar o procedimento de dimensionamento das armaduras.
Palavra-Chave: casca de concreto, armadura, estrutura de superfície
Abstract
Among surface structures, shells exhibit a complex behavior generated by changes in boundary condition,
special geometry and types of loads. Classical analytical solutions available to determine the internal forces
required for the reinforcement design are not always easily obtained and, related to the technical bibliography,
equations are established only for specific structures. Thus, for the analysis of general shells, softwares based
on the Finite Element Method (FEM) are used. The section 14.2.3 of the NBR 6118:2014 code highlights that
the reinforcement design cannot be performed only based on the stresses or internal forces, but the stress
fields must be integrated along the shell thickness to this purpose. This work presents an application program
developed in order to determine the reinforcement area for concrete laminar structures based on the Three
Layers methodology presented in the Model Code 1990. Examples of FEM structural analysis of a slab and a
dome are didactically explored in order to explain the reinforcement design procedure.
Keywords: concrete shell, reinforcement, surface structure
Estruturas de superfície
As estruturas que apresentam uma de suas dimensões (denominada “espessura”)
relativamente menor que as outras duas são conhecidas como “estruturas de superfície”.
Estas podem ser planas ou não-planas e são definidas pela sua superfície média.
A NBR6118:2014, na seção 14.4.2, as classifica em função das ações e geometria, da
seguinte forma:
- Chapas: elementos de superfície plana, sujeitos a ações contidas no seu plano;
- Placas: elementos de superfície plana, sujeitos a ações normais a seu plano; e
- Cascas: elementos de superfície não-plana.
Cada uma destas estruturas resiste às ações externas por meio de esforços específicos
como, por exemplo, para as chapas tem-se os esforços de membrana (Nx e Ny) e de
cisalhamento no seu plano (Nxy). Para as placas, os esforços de flexão (M x e My) e de torção
(Mxy), assim como de cisalhamento (Vx e Vy); e para as cascas, a associação dos esforços
de membrana, de flexão e de cisalhamento. Na verdade, ter-se-ia Nxy e Nyx, as quais são
iguais, o mesmo ocorrendo com M xy e Myx. Desta forma, por simplificação, foi adotado
apenas como Nxy e Mxy. A figura 1 ilustra os esforços na convenção positiva e sua atuação
na superfície média dos elementos. Perceba-se que o momento Mi atua na direção do eixo
i, e não em torno deste (i corresponde a x ou y, indistintamente).
(a) (b)
Figura 1: (a) Esforços de membrana nas chapas; (b) Esforços de flexão e cisalhamento nas placas
(b) (c)
(a)
Figura 2: (a) Esforços atuantes nas camadas externas; (b) Esforços cisalhamento na camada central
íntegra; e (c) Esforços de cisalhamento nas camadas externas, na fissuração
Com relação à direção das armaduras é importante destacar que, durante as pesquisas
realizadas, verificou-se que alguns estudos propunham a disposição das armaduras
alinhadas com as direções das tensões principais. Contudo, em projetos nos quais são
consideradas diversas condições de carregamento, as tensões principais variam de
direção, tornando este alinhamento das armaduras impossível de ser realizado. Portanto,
no desenvolvimento das formulações, admite-se que as armaduras sejam ortogonais entre
si e posicionadas paralelas aos eixos X e Y.
As armaduras ortogonais são dispostas obedecendo ao cobrimento estabelecido por norma
e são consideradas as diferentes alturas (hsi, com i correspondendo a x ou a y) destas para
o plano médio, representando sua posição real. Os índices t e b são empregados para a
indicação de sua posição, ou seja, “t” quando se refere à região do eixo z negativo e “b”,
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para z positivo. Na figura 3 são indicadas as nomenclaturas para as dimensões utilizadas
na formulação em (a), e as associadas às armaduras ortogonais (Asx e Asy) em (b).
(a) (b)
Figura 3: (a) Dimensões na espessura do elemento; (b) Indicação das armaduras e dimensões associadas
Com base na figura 3, com d = ht + hb , as equações de equilíbrio (1) a (6) que resultam
nos esforços de membrana atuantes nas camadas externas incluem as parcelas de
cisalhamento, FIB (2008):
N x .hb −M x V2
x hb
Nxt = +V (Equação 1)
d 0 .tgθ d
N y .hb−M y V2
y hb
Nyt = +V (Equação 2)
d 0 .tgθ d
N xy .hb−Mxy V .V hb
Nxyt = + Vx .tgθy (Equação 3)
d 0 d
N x .ht +M x V2
x ht
Nxb = d
+V (Equação 4)
0 .tgθ d
N y .ht +M y V2
y ht
Nyb = +V (Equação 5)
d 0 .tgθ d
N xy .ht +Mxy V x .V y ht
Nxyb = + (Equação 6)
d V 0 .tgθ d
Do equilíbrio das forças resultam três equações (8) a (10), sendo quatro as incógnitas
envolvidas. Neste caso, se for arbitrado um valor para uma das variáveis, as demais
poderão ser determinadas.
∑ Fx = 0 => Nsx = Nx + Nxy tgθ (Equação 8)
∑ Fy = 0 => Nsy = Ny + Nxy cotgθ (Equação 9)
xy N
∑ Fx = 0 => Nc = − (Equação 10)
senθ .cosθ
Para a solução mais econômica, o MC90 recomenda usar igual a 45º e as equações (11)
a (13) obtidas são expressas a seguir:
Salienta-se que, em função dos valores determinados para os esforços nas armaduras (Nsx
e Nsy ), o MC90 estabelece quatro situações possíveis:
Situação 1: Se Nsx e Nsy resultarem positivos haverá necessidade de armaduras nas duas
direções.
Situação 3: Se apenas Nsy resultar negativo, tem-se Nsy nulo considerando-se as equações
(17) a (19):
N xy
tgθ = − (Equação 17)
Ny
N2
xy
Nsx = Nx − (Equação 18)
Ny
N2
xy
Nc = Ny + (Equação 19)
Ny
Nx +N y N −N 2
Nc1 = + √( x 2 y) + Nxy
2 (Equação 20)
2
Nx +N y N −N 2
Nc2 = − √( x 2 y) + Nxy
2 (Equação 21)
2
O equilíbrio dos esforços de membrana, que resultou nas equações (8) a (10), foi
estabelecido na superfície média das camadas externas, supondo-se que a armadura das
direções x e y estejam contidas no mesmo plano. Na realidade, os planos de armação
ocupam posições distintas ao longo da espessura da casca e, consequentemente, torna-
se necessário realizar uma correção nas forças das armaduras a fim de se considerar sua
posição real. Este procedimento requer o cálculo de um fator que corrige os esforços de
membrana (Nx ou Ny), dependendo do plano de análise.
As ocorrências e equações (22) a (27) apresentadas na figura (5) usam a indicação do
subscrito “pa” para referenciar o “plano da armadura”, e “sm” para a “superfície média”:
N st (ht +hb )
∑ Mb,sm = 0 => Nst,pa = (hst + hb )
(Equação 24)
N sb (ht +hb)
∑ Mt,sm = 0 => Nsb,pa =
(hsb + ht )
(Equação 26)
Figura 5: Situações para correção dos esforços das armaduras na posição real (CRAVEIRO et al. (2021))
3 Aplicativo desenvolvido
O aplicativo (figura 6) foi desenvolvido na plataforma Microsoft Visual Studio utilizando a
linguagem C# (C-Sharp) e conta com uma tela única dividida em quatro abas: “Dados de
entrada”, “Critérios de dimensionamento”, “Propriedades dos materiais” e “Resultados”.
O aplicativo permite a inserção da posição real das armaduras nas duas direções, assim
como concretos e aços gerais. Os esforços são os de cálculo e que atuam na superfície
média da estrutura laminar, antes da consideração de seus equivalentes nas camadas
externas do Modelo de Três Camadas. Há, ainda, em “Critérios de dimensionamento”, as
opções “MC 2010” e “MC 2010 modificado”, referindo-se às equações apresentadas pelo
Model Code 2010, e sua adaptação com a inclusão de critérios da NBR 6118:2014,
respectivamente.
Em “Resultados” tem-se as armaduras nas camadas superior (Asx,t e Asy,t) e inferior (Asx,b
e Asy,b), e a armadura de cisalhamento (Asw).
Exemplo de laje
O modelo matemático e as tensões principais, máxima tração e mínima compressão, são
apresentados nas figuras 7 e 8, respectivamente. Admitiu-se o concreto com f ck igual a
30 MPa, aço com f yk de 500 MPa e o cobrimento igual a 2,5 cm.
Os esforços para o dimensionamento foram obtidos no ponto de integração de Gauss
situado no centro da superfície média dos elementos.
(a) (b)
Figura 8 – Tensões principais: (a) na face inferior; (b) na face superior da laje
Como esperado, a laje apresenta, na região central da face inferior, as máximas tensões
de tração; na área central da face superior, verifica-se a ocorrência de tensões de
compressão e ainda, próximo aos vértices, as máximas tensões de tração, indicando a
existência dos momentos volventes. A figura 9 (a) e (b) a seguir, indica as armaduras
positivas e negativas resultantes do aplicativo considerando-se, pela simetria, ¼ da laje.
Ressalta-se que foram observadas as armaduras mínimas normativas para a laje com
15 cm de espessura:
(a) (b)
Figura 9 – Distribuição das armaduras: (a) positivas; (b) negativas
Cabe destacar que os espaçamentos entre as armaduras mostradas na figura 9 (a) são
didáticos e definidos de forma a exibir o resultado do aplicativo. Contudo, na prática
projetual, os espaçamentos são definidos por faixas mais largas estabelecidas, sempre, a
favor da segurança. Na figura 9 (b) visualiza-se a área hachurada na qual armaduras de
flexão são necessárias. Novamente, a indicação dos espaçamentos leva em conta os
resultados do aplicativo e a armadura mínima de 1,5 cm2/m.
Importa ressaltar, ainda, que as diferentes metodologias de análise para a obtenção dos
esforços de dimensionamento, seja por meio do cálculo tradicional baseado em tabelas,
pelo Método da Grelha Equivalente, ou pelo Método dos Elementos Finitos como
apresentado neste trabalho conduzem a diferentes resultados, porém próximos. Com
relação à armação calculada pelo aplicativo, observa-se que as máximas diferenças entre
os valores da opção “MC 2010 modificado” e a armação determinada pelo cálculo usual de
lajes sob flexão simples é de aproximadamente 9,0%, e em relação ao “MC 2010”, da ordem
de 2,0%, ou seja, os resultados do aplicativo mostram-se, portanto, adequados para a
aplicação em projetos.
(a) (b)
Figura 10 – (a) Geometria da cúpula; (b) Modelo matemático de ¼ da estrutura
(a) (b)
Figura 11 – Tensões principais: (a) mínimas; (b) máximas
Apesar da análise realizada via MEF, a ideia abordada neste trabalho consistiu em calcular
as armaduras por meio do aplicativo com os esforços apresentados por BILLINGTON
(1990) que, por descrever um projeto real, efetuou outras considerações adicionais de
ações como, por exemplo, variação de temperatura e vento. Para tanto, admitiu-se o
concreto com f ck igual a 30 MPa e aço com f yk igual a 500 MPa. Evidentemente, não foi
possível comparar diretamente os valores de armadura posto que o aço e o concreto da
publicação apresentam valores de resistência diferentes dos padrões usados no Brasil.
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O cobrimento considerado é de 2,5 cm e os valores característicos de membrana e de
flexão para o dimensionamento são:
- Na faixa 0º a 1º, próxima à base da estrutura:
Nx = -65,38 kN/m, Ny = 63,16 kN/m e Mx = 7,53 kNm/m, resultando em Asx = 1,5613 cm2/m,
externa à estrutura e na direção do meridiano; e Asy = 0,7263 cm2/m, externa e internamente
à casca e na direção do paralelo. Adota-se, respectivamente, 6,3 c/20cm e 6,3 c/30cm,
esse último respeitando a armadura mínima para lajes segundo a NBR6118:2014 e igual a
1,05 cm2/m.
- Na faixa de 1º a 2º:
Nx = -65,38 kN/m e Mx = 2,25 kNm/m, resultando em Asx = 0,0125 cm2/m. Neste caso,
adotando-se armadura mínima para lajes igual a 6,3 c/30cm, externa à estrutura e na
direção do meridiano.
Observa-se que a norma brasileira não trata especificamente sobre as armaduras mínimas
para estruturas de casca, mas sabendo-se que o requisito normativo foi estabelecido para
lajes tracionadas, a sua indicação de uso das expressões para as cascas pode ser
conveniente, pois nessas os esforços de compressão são predominantes e, portanto, age-
se a favor da segurança.
5 Conclusão
Este trabalho apresenta a formulação para o dimensionamento de estruturas laminares
considerando o Método das Três Camadas do MC90 e acrescenta às equações de
equilíbrio dos esforços de membrana, as parcelas provenientes do cisalhamento da camada
central, conforme prescreve o MC2010.
A partir deste estudo, foi desenvolvido um aplicativo na linguagem C#, na plataforma
Microsoft Visual Studio. Nele, foram implementadas duas opções, o MC 2010 e o MC 2010
modificado, sendo que esse último apresenta, além dos critérios da NBR6118:2014 para as
resistências do aço e concreto, todo o processo iterativo com redefinição das espessuras
das camadas externas do modelo a cada iteração. A opção MC 2010, por sua vez, não
realiza a correção na posição das armaduras.
Os resultados foram satisfatórios quando comparados aos de diversas publicações,
motivando os autores ao prosseguimento dos estudos em estruturas laminares reais. Dois
exemplos são apresentados: uma laje retangular de bordos apoiados e uma cúpula
hemisférica com bordos engatados, ambos com carregamentos verticais distribuídos. Foi
utilizado o programa comercial ADINA 9.7 para a avaliação do comportamento estrutural.
As armaduras obtidas para a laje são apresentadas, assim como a indicação do seu
detalhamento preliminar. Para este caso, os esforços para dimensionamento foram obtidos
do ponto de Gauss central ao elemento. No caso da cúpula, optou-se por usar os valores
de esforços apresentados na referência, mostrando resultados promissores.
6 Referências
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