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Aplicativo para o dimensionamento de armaduras de estruturas

laminares de concreto
Application for the reinforcement design of laminar concrete structures

Ítalo Samuel da Silva Araújo (1); Petrus Gorgônio B. da Nóbrega (2);


Selma H. Shimura da Nóbrega (3)

(1) Graduação em Eng. Civil, Universidade Federal do Rio Grande do Norte – UFRN
(2) Professor Associado, Departamento de Arquitetura e Urbanismo DARQ/UFRN
(3) Professora Titular, Departamento de Engenharia Civil e Ambiental – DECAM/UFRN
Email: selma.nobrega@ufrn.br

Resumo
Dentre as estruturas laminares de concreto armado, as cascas apresentam um comportamento complexo
gerado por alterações em sua condição de contorno, geometria especial e tipos de carregamento. As soluções
analíticas clássicas disponíveis para a determinação dos esforços necessários ao seu dimensionamento nem
sempre são facilmente obtidas e, nas publicações sobre o tema, são encontrados equacionamentos apenas
para estruturas específicas. Assim, para a análise das cascas gerais, recorre-se aos códigos computacionais
baseados no Método dos Elementos Finitos (MEF). A norma NBR 6118:2014, na seção 14.2.3, destaca que
o dimensionamento das armaduras não pode ser realizado apenas a partir das tensões ou dos esforços
resultantes desta análise, mas que os campos de tensões devem ser integrados ao longo da espessura da
casca para este fim. Este trabalho apresenta um aplicativo desenvolvido para o dimensionamento das
armaduras de estruturas laminares, fundamentado na metodologia das Três Camadas apresentada no Model
Code 1990. Exemplos de análise pelo MEF de uma laje e uma cúpula são explorados para, de forma didática,
explanar o procedimento de dimensionamento das armaduras.
Palavra-Chave: casca de concreto, armadura, estrutura de superfície

Abstract
Among surface structures, shells exhibit a complex behavior generated by changes in boundary condition,
special geometry and types of loads. Classical analytical solutions available to determine the internal forces
required for the reinforcement design are not always easily obtained and, related to the technical bibliography,
equations are established only for specific structures. Thus, for the analysis of general shells, softwares based
on the Finite Element Method (FEM) are used. The section 14.2.3 of the NBR 6118:2014 code highlights that
the reinforcement design cannot be performed only based on the stresses or internal forces, but the stress
fields must be integrated along the shell thickness to this purpose. This work presents an application program
developed in order to determine the reinforcement area for concrete laminar structures based on the Three
Layers methodology presented in the Model Code 1990. Examples of FEM structural analysis of a slab and a
dome are didactically explored in order to explain the reinforcement design procedure.
Keywords: concrete shell, reinforcement, surface structure

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1 Introdução
As estruturas de casca em concreto armado têm vasta aplicabilidade principalmente por
seu apelo estético e funcionalidade. Contudo, devido ao comportamento e geometria
complexa em algumas situações especiais, as soluções analíticas que fornecem os
esforços necessários ao seu dimensionamento não estão facilmente disponíveis como
ocorre com as estruturas lineares, para as quais as equações de equilíbrio são obtidas
apenas por equilíbrio estático. Nestes casos referenciados como “especiais”, análises
computacionais baseadas no Método dos Elementos Finitos (MEF) possibilitam avaliar seu
comportamento, assim como as tensões e deformações desenvolvidas. Cabe ressaltar que,
segundo LOURENÇO; FIGUEIRAS (1995), o ACI 318R-89 atesta que as cascas podem
suportar sobrecargas de razoável magnitude sem apresentar falha frágil sendo, assim,
aceitável admitir o comportamento elástico. Esta é, portanto, a justificativa para a
consideração do concreto como material linearmente elástico, homogêneo, isotrópico e, a
princípio, como não fissurado, na determinação das forças internas, deslocamentos,
tensões e deformações. Em projetos nos quais são consideradas cascas delgadas, com
geometria complexa e dimensões não-usuais, os projetistas realizam uma análise não-
linear com a finalidade de melhor compreender o comportamento estrutural. Contudo, este
tipo de estudo requer a determinação preliminar da armadura, ou seja, a hipótese do
comportamento elástico para a obtenção dos esforços será sempre necessária e o primeiro
procedimento a ser realizado. Posteriormente, a análise não-linear poderá ser realizada
para a verificação da segurança estrutural, e não como procedimento para o
dimensionamento.
Esta temática sobre o dimensionamento de estruturas laminares não é recente e é possível
destacar alguns destes estudos. Dentre eles, cita-se GUPTA (1986) que desenvolve um
procedimento iterativo para o dimensionamento das armaduras superior e inferior, em
direções ortogonais, para placas e cascas submetidas a esforços de membrana e de flexão;
LOURENÇO; FIGUEIRAS (1993) ampliam a proposta de Gupta e estudam situações em
que as armaduras não são necessárias em uma das faces da estrutura, ou em ambas. No
artigo de 1995, os mesmos autores propõem uma rotina de cálculo a ser implementada
como um módulo de pós-processamento em programas de Elementos Finitos e que tem
por base o Modelo de Três Camadas do Model Code 1990 (MC90), apresentado em item
específico desse artigo. Pesquisadores brasileiros, igualmente, dedicaram-se ao estudo do
tema. Dentre eles, cita-se DELLA BELLA; CHEN (2006) que implementam a metodologia
de LOURENÇO; FIGUEIRAS (1993) e utilizam o programa na determinação das armaduras
em cada ponto de integração dos elementos finitos decorrentes da discretização das
estruturas laminares estudadas; COLOMBO et al. (2014) que propõem um modelo
constitutivo a fim de melhorar a estabilidade numérica do método proposto por
LOURENÇO; FIGUEIRAS (1993). Mais recentemente, CRAVEIRO et al. (2021)
descreveram dois procedimentos: o proposto por COLOMBO et al. (2014) e o método
multicamadas de Kollegger et al. publicado em 1998 que é, a princípio, um método de
verificação.

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Neste contexto, este trabalho objetiva o desenvolvimento de um aplicativo na linguagem C#
(C-Sharp) com destaque para a consideração dos efeitos do cisalhamento segundo a
abordagem do FIB (2008) na determinação das armaduras de estruturas placas e cascas
em concreto, a partir da inserção das propriedades dos materiais e dos esforços solicitantes
obtidos de análises efetuadas em programa baseado no MEF. São apresentados dois
exemplos completos de análise e dimensionamento.

Estruturas de superfície
As estruturas que apresentam uma de suas dimensões (denominada “espessura”)
relativamente menor que as outras duas são conhecidas como “estruturas de superfície”.
Estas podem ser planas ou não-planas e são definidas pela sua superfície média.
A NBR6118:2014, na seção 14.4.2, as classifica em função das ações e geometria, da
seguinte forma:
- Chapas: elementos de superfície plana, sujeitos a ações contidas no seu plano;
- Placas: elementos de superfície plana, sujeitos a ações normais a seu plano; e
- Cascas: elementos de superfície não-plana.
Cada uma destas estruturas resiste às ações externas por meio de esforços específicos
como, por exemplo, para as chapas tem-se os esforços de membrana (Nx e Ny) e de
cisalhamento no seu plano (Nxy). Para as placas, os esforços de flexão (M x e My) e de torção
(Mxy), assim como de cisalhamento (Vx e Vy); e para as cascas, a associação dos esforços
de membrana, de flexão e de cisalhamento. Na verdade, ter-se-ia Nxy e Nyx, as quais são
iguais, o mesmo ocorrendo com M xy e Myx. Desta forma, por simplificação, foi adotado
apenas como Nxy e Mxy. A figura 1 ilustra os esforços na convenção positiva e sua atuação
na superfície média dos elementos. Perceba-se que o momento Mi atua na direção do eixo
i, e não em torno deste (i corresponde a x ou y, indistintamente).

(a) (b)
Figura 1: (a) Esforços de membrana nas chapas; (b) Esforços de flexão e cisalhamento nas placas

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2 Formulação para o cálculo das armaduras
Algumas considerações foram estabelecidas para o direcionamento deste trabalho e serão
explanadas à medida que as expressões forem expostas.
A primeira delas refere-se à obtenção dos esforços atuantes na superfície média dos
elementos por meio de programas baseados no MEF. Para as estruturas laminares, no
caso geral, faz-se a integração das tensões ao longo de sua espessura obtendo-se oito
esforços: três esforços de membrana e três de flexão, todos atuantes no plano médio; e
dois esforços de cisalhamento atuando fora do plano. Adota-se o Método das Três
Camadas do MC90, admitindo-se que os esforços de membrana e de flexão são resistidos
pelas camadas externas e a camada interna fica responsável pelos esforços de
cisalhamento. A figura 2(a) ilustra os esforços individuais das camadas externas em duas
faces; e a transferência dos esforços de cisalhamento quando a camada central está
íntegra, figura 2(b); e quando ocorre a fissuração, figura 2(c). Observa-se na figura 2(a) a
indicação do parâmetro d que representa a distância entre as superfícies médias das
camadas externas, além de ht e hb que podem ser visualizadas na figura 3(a).

(b) (c)
(a)
Figura 2: (a) Esforços atuantes nas camadas externas; (b) Esforços cisalhamento na camada central
íntegra; e (c) Esforços de cisalhamento nas camadas externas, na fissuração

Com relação à direção das armaduras é importante destacar que, durante as pesquisas
realizadas, verificou-se que alguns estudos propunham a disposição das armaduras
alinhadas com as direções das tensões principais. Contudo, em projetos nos quais são
consideradas diversas condições de carregamento, as tensões principais variam de
direção, tornando este alinhamento das armaduras impossível de ser realizado. Portanto,
no desenvolvimento das formulações, admite-se que as armaduras sejam ortogonais entre
si e posicionadas paralelas aos eixos X e Y.
As armaduras ortogonais são dispostas obedecendo ao cobrimento estabelecido por norma
e são consideradas as diferentes alturas (hsi, com i correspondendo a x ou a y) destas para
o plano médio, representando sua posição real. Os índices t e b são empregados para a
indicação de sua posição, ou seja, “t” quando se refere à região do eixo z negativo e “b”,
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para z positivo. Na figura 3 são indicadas as nomenclaturas para as dimensões utilizadas
na formulação em (a), e as associadas às armaduras ortogonais (Asx e Asy) em (b).

(a) (b)
Figura 3: (a) Dimensões na espessura do elemento; (b) Indicação das armaduras e dimensões associadas

Com base na figura 3, com d = ht + hb , as equações de equilíbrio (1) a (6) que resultam
nos esforços de membrana atuantes nas camadas externas incluem as parcelas de
cisalhamento, FIB (2008):
N x .hb −M x V2
x hb
Nxt = +V (Equação 1)
d 0 .tgθ d

N y .hb−M y V2
y hb
Nyt = +V (Equação 2)
d 0 .tgθ d

N xy .hb−Mxy V .V hb
Nxyt = + Vx .tgθy (Equação 3)
d 0 d

N x .ht +M x V2
x ht
Nxb = d
+V (Equação 4)
0 .tgθ d

N y .ht +M y V2
y ht
Nyb = +V (Equação 5)
d 0 .tgθ d
N xy .ht +Mxy V x .V y ht
Nxyb = + (Equação 6)
d V 0 .tgθ d

Onde  é o ângulo de fissuração da camada central e V0 = √Vx2 + Vy2 é a força de


cisalhamento principal por unidade de comprimento. Esta força é mostrada na figura 2 (b)
V
para a situação em que não ocorre a fissura, ou seja, 0⁄d ≤ fctd ; e em (c), quando a
camada interna sofre fissuração, ou, V0⁄d > fctd . A resistência de cálculo do concreto ao
cisalhamento, 𝑓𝑐𝑡𝑑 , dado pela NBR 6118:2014 na seção 8.2.5 é obtida de:
1
fctd = 0,7 (0,3 fck2/3 ) (Equação 7)
γc

Onde γc é o coeficiente de ponderação da resistência do concreto e fck é a resistência


característica à compressão do concreto, inferior a 50MPa.
Essas expressões gerais consideram a parcela representativa da ocorrência de fissuração
na camada interna do concreto. Nas externas, por sua vez, deve ocorrer o equilíbrio entre
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os esforços de membrana (Nx, Ny e Nxy), as forças de tração nas armaduras (Nsx e Nsy) e
as forças compressivas desenvolvidas no concreto (Nc), todas obtidas por unidade de
comprimento. A direção de Nc é paralela às linhas de fratura e  corresponde ao ângulo
entre o eixo x e a direção perpendicular às fissuras. A figura 4(a) mostra elementos de
membrana e os esforços a fim de se estabelecer as equações de equilíbrio nas condições
em que Nc atua na direção da fissura (b) e ortogonal a ela (c).

(a) (b) (c)


Figura 4: (a) Forças de membrana, da armadura e do concreto; (b) Seção paralela à fissura; e (c) Seção
perpendicular à fissura (CRAVEIRO et al. (2021))

Do equilíbrio das forças resultam três equações (8) a (10), sendo quatro as incógnitas
envolvidas. Neste caso, se for arbitrado um valor para uma das variáveis, as demais
poderão ser determinadas.
∑ Fx = 0 => Nsx = Nx + Nxy tgθ (Equação 8)
∑ Fy = 0 => Nsy = Ny + Nxy cotgθ (Equação 9)
xy N
∑ Fx = 0 => Nc = − (Equação 10)
senθ .cosθ

Para a solução mais econômica, o MC90 recomenda usar  igual a 45º e as equações (11)
a (13) obtidas são expressas a seguir:

Nsx = Nx + |Nxy | (Equação 11)


Nsy = Ny + |Nxy | (Equação 12)
Nc = −2 |Nxy | (Equação 13)

Salienta-se que, em função dos valores determinados para os esforços nas armaduras (Nsx
e Nsy ), o MC90 estabelece quatro situações possíveis:

Situação 1: Se Nsx e Nsy resultarem positivos haverá necessidade de armaduras nas duas
direções.

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Situação 2: Se apenas Nsx resultar negativo, admite-se Nsx nulo obtendo-se as equações
(14) a (16):
Nx
tgθ = − (Equação 14)
N xy
N2
xy
Nsy = Ny − (Equação 15)
Nx
N2
xy
Nc = Nx + (Equação 16)
Nx

Situação 3: Se apenas Nsy resultar negativo, tem-se Nsy nulo considerando-se as equações
(17) a (19):
N xy
tgθ = − (Equação 17)
Ny
N2
xy
Nsx = Nx − (Equação 18)
Ny
N2
xy
Nc = Ny + (Equação 19)
Ny

Situação 4: Se ambos, Nsx e Nsy , resultarem negativos, o concreto é comprimido e, portanto,


não é necessária a armação na compressão biaxial. Para esse caso, é importante iniciar
com a avaliação das forças principais no concreto, dadas por (20) e (21). Se a força principal
máxima, Nc1 resultar negativa, a força no concreto Nc será igual à força principal mínima,
Nc2 .

Nx +N y N −N 2
Nc1 = + √( x 2 y) + Nxy
2 (Equação 20)
2

Nx +N y N −N 2
Nc2 = − √( x 2 y) + Nxy
2 (Equação 21)
2

O equilíbrio dos esforços de membrana, que resultou nas equações (8) a (10), foi
estabelecido na superfície média das camadas externas, supondo-se que a armadura das
direções x e y estejam contidas no mesmo plano. Na realidade, os planos de armação
ocupam posições distintas ao longo da espessura da casca e, consequentemente, torna-
se necessário realizar uma correção nas forças das armaduras a fim de se considerar sua
posição real. Este procedimento requer o cálculo de um fator  que corrige os esforços de
membrana (Nx ou Ny), dependendo do plano de análise.
As ocorrências e equações (22) a (27) apresentadas na figura (5) usam a indicação do
subscrito “pa” para referenciar o “plano da armadura”, e “sm” para a “superfície média”:

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N st (ht +hsb )+ N sb (hsb −hb)
∑ Mb,pa = 0 => Nst,pa =
(hst + hsb )
(Equação 22)
∑ Fx = 0 => Nsb,pa = Nst + Nsb − Nst,pa
(Equação 23)

N st (ht +hb )
∑ Mb,sm = 0 => Nst,pa = (hst + hb )
(Equação 24)

∑ Fx = 0 => Nb = Nst − Nst,pa (Equação 25)

N sb (ht +hb)
∑ Mt,sm = 0 => Nsb,pa =
(hsb + ht )
(Equação 26)

∑ Fx = 0 => Nt = Nsb − Nsb,pa (Equação 27)

Figura 5: Situações para correção dos esforços das armaduras na posição real (CRAVEIRO et al. (2021))

Com os valores das forças de membrana corrigidos, obtém-se Nc e calculam-se as novas


espessuras (a) das camadas externas segundo a equação (28), recaindo-se num processo
iterativo:
Nc
a= (Equação 28)
fc

Onde fc é a tensão resistente máxima do concreto.


Destaca-se, com relação a fc , que foi considerada a recomendação do MC90 e seu
equivalente na NBR6118:2014, seção 22.3.2. “Parâmetros de resistência de cálculo das
bielas e regiões nodais”. As resistências são apresentadas para as situações de nós CCC
(totalmente comprimidas), ou seja, associada à compressão biaxial do MC90; e nós CTT
ou TTT (com partes ou totalmente tracionadas) equivalentes à expressão do MC90 para as
situações de armação em apenas uma das direções ou armaduras biaxiais.
f
ck
Para a compressão biaxial: fc = 0,85 (1 − 250 ) fcd , com fck em MPa (Equação 29)
f
ck
Para as demais situações: fc = 0,60 (1 − 250 ) fcd (Equação 30)

Ao final do processo iterativo, as áreas de armadura podem ser, finalmente, obtidas:


N sx
Asx = fyd
(Equação 31)
N sy
Asy = (Equação 32)
fyd

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V 0 tgθ .100
Asw = (Equação 33)
d .fyd

Onde fyd é a resistência de cálculo ao escoamento do aço.

3 Aplicativo desenvolvido
O aplicativo (figura 6) foi desenvolvido na plataforma Microsoft Visual Studio utilizando a
linguagem C# (C-Sharp) e conta com uma tela única dividida em quatro abas: “Dados de
entrada”, “Critérios de dimensionamento”, “Propriedades dos materiais” e “Resultados”.
O aplicativo permite a inserção da posição real das armaduras nas duas direções, assim
como concretos e aços gerais. Os esforços são os de cálculo e que atuam na superfície
média da estrutura laminar, antes da consideração de seus equivalentes nas camadas
externas do Modelo de Três Camadas. Há, ainda, em “Critérios de dimensionamento”, as
opções “MC 2010” e “MC 2010 modificado”, referindo-se às equações apresentadas pelo
Model Code 2010, e sua adaptação com a inclusão de critérios da NBR 6118:2014,
respectivamente.
Em “Resultados” tem-se as armaduras nas camadas superior (Asx,t e Asy,t) e inferior (Asx,b
e Asy,b), e a armadura de cisalhamento (Asw).

Figura 6 – Imagem do aplicativo e interface com o usuário

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4 Exemplos de utilização e resultados
4.1 Validação dos resultados do aplicativo
Para a validação do aplicativo foram realizados testes comparativos com exemplos de
publicações diversas, dentre eles, CRAVEIRO et al. (2021) e o FIB (2008), sempre
apresentando o resultado da opção “MC 2010 modificado” por este considerar aspectos da
norma brasileira. Da primeira publicação, são avaliadas 4 situações apresentadas na tabela
1.
Tabela 1: Esforços na superfície média da casca segundo CRAVEIRO et al. (2021)
Nx Ny Nxy Mx My Mxy
Situação
(kN/m) (kN/m) (kN/m) (kN.m/m) (kN.m/m) (kN.m/m)
1 2024,6 -93,1 272,6 -287,9 -362,8 -166,6
2 -47,2 1248,2 -105,9 -3,8 232,4 48,2
3 -1759,5 -5448,6 -936,9 504,0 3039,3 196,2
4 -1615,2 7336,0 -652,8 2012,0 9680,0 944,0

As diferenças percentuais entre os resultados do aplicativo e os de referência são:

Tabela 2: Comparação entre resultados do aplicativo x referência CRAVEIRO et al. – Situações 1 e 2.


Situação 1 Situação 2
Armaduras
Referência Aplicativo Dif (%) Referência Aplicativo Dif (%)
Asxt
38,55 38,5481 -4,9x10-3 1,80 1,8011 0,061
(cm2 /m)
Asyt
12,59 12,6183 0,225 12,60 12,5977 -0,018
(cm2 /m)
Asxb
13,85 13,8551 0,037 0,0 0,0 ---
(cm2 /m)
Asyb
0,0 0,0 --- 18,32 18,3175 -0,014
(cm2 /m)

Tabela 3: Comparação entre resultados do aplicativo x referência CRAVEIRO et al. – Situações 3 e 4.


Situação 3 Situação 4
Armaduras
Referência Aplicativo Dif (%) Referência Aplicativo Dif (%)
Asxt
0,0 0,0 --- 0,0 0,0 ---
(cm2 /m)
Asyt
0,0 0,0 --- 0,0 0,0 ---
(cm2 /m)
Asxb
0,0 0,0 --- 41,56 41,5195 -0,097
(cm2 /m)
Asyb
13,46 13,3962 -0,476 308,64 308,5728 -0,022
(cm2 /m)

O exemplo do FIB foi inserido por considerar esforços de cisalhamento.

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Tabela 4: Comparação entre resultados do aplicativo x referência FIB (2008)– Situação com cisalhamento.
Esforços Armaduras Referência Aplicativo Dif (%)
Nx Mx Asxt
-127,0 96,0 1,30 1,2091 -6,992
(kN/m) (kN.m/m) (cm2 /m)
Ny My Asyt
119,0 -117,0 23,60 23,5231 -0,326
(kN/m) (kN.m/m) (cm2 /m)
Nxy Mxy Asxb
-138,0 133,0 19,00 18,3721 -3,305
(kN/m) (kN.m/m) (cm2 /m)
Vx Vy Asyb
358,0 624,0 10,70 10,0673 -5,913
(kN/m) (kN/m) (cm2 /m)
Asw
51,70 49,3329 -4,578
(cm2 /m)

Os resultados do aplicativo mostram-se adequados para o prosseguimento do


dimensionamento de estruturas, pois a maior diferença percentual de -6,992% ocorre na
tabela 4, correspondendo à situação para a qual se adota, segundo a referência, a
armadura mínima. Destaca-se que os valores de referência foram obtidos a partir da
metodologia do MC 2010, sem o desenvolvimento de iterações, e mesmo assim, as
respostas do aplicativo são satisfatórias. Uma outra observação pertinente refere-se ao fck
utilizado, compatível ao da publicação, mas que não corresponde ao padrão brasileiro.

4.2 Aplicação em estruturas de placa e cascas


Do ponto de vista de aplicação prática, foram analisadas duas estruturas laminares: uma
laje com bordos apoiados e dimensões 5,0 x 6,0 m e espessura de 15 cm, de concreto C30
e aço CA 50, com ação vertical de cálculo de 15 kN/m2, baseado no estudo de LOURENÇO;
FIGUEIRAS (1993); e uma cúpula hemisférica com bordos engastados, raio da base igual
a 13,48 m, espessura de 0,10 m, raio principal de rotação igual a 28,80 m, e carregamento
vertical de 4,31 kN/m 2, estudado por BILLINGTON (1990). Efetuou-se a análise elástica de
ambas as estruturas no programa ADINA 9.7, versão 900 nós, considerando elementos de
casca (shell) com 9 nós.

Exemplo de laje
O modelo matemático e as tensões principais, máxima tração e mínima compressão, são
apresentados nas figuras 7 e 8, respectivamente. Admitiu-se o concreto com f ck igual a
30 MPa, aço com f yk de 500 MPa e o cobrimento igual a 2,5 cm.
Os esforços para o dimensionamento foram obtidos no ponto de integração de Gauss
situado no centro da superfície média dos elementos.

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(b)
(a)
Figura 7 – (a) Modelo discretizado da laje; (b) Configuração deformada

(a) (b)
Figura 8 – Tensões principais: (a) na face inferior; (b) na face superior da laje

Como esperado, a laje apresenta, na região central da face inferior, as máximas tensões
de tração; na área central da face superior, verifica-se a ocorrência de tensões de
compressão e ainda, próximo aos vértices, as máximas tensões de tração, indicando a
existência dos momentos volventes. A figura 9 (a) e (b) a seguir, indica as armaduras
positivas e negativas resultantes do aplicativo considerando-se, pela simetria, ¼ da laje.
Ressalta-se que foram observadas as armaduras mínimas normativas para a laje com
15 cm de espessura:

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- Armadura negativa = 0,150 x 15 cm = 2,25 cm2/m (não existente neste exemplo)
- Armadura positiva = 0,67 x 0,150 x 15 cm = 1,5 cm2/m (Adota-se  6,3 c/20)
- Armadura negativa com bordo sem continuidade = 0,67 x 0,150 x 15 cm =
1,5 cm2/m

(a) (b)
Figura 9 – Distribuição das armaduras: (a) positivas; (b) negativas

Cabe destacar que os espaçamentos entre as armaduras mostradas na figura 9 (a) são
didáticos e definidos de forma a exibir o resultado do aplicativo. Contudo, na prática
projetual, os espaçamentos são definidos por faixas mais largas estabelecidas, sempre, a
favor da segurança. Na figura 9 (b) visualiza-se a área hachurada na qual armaduras de
flexão são necessárias. Novamente, a indicação dos espaçamentos leva em conta os
resultados do aplicativo e a armadura mínima de 1,5 cm2/m.
Importa ressaltar, ainda, que as diferentes metodologias de análise para a obtenção dos
esforços de dimensionamento, seja por meio do cálculo tradicional baseado em tabelas,
pelo Método da Grelha Equivalente, ou pelo Método dos Elementos Finitos como
apresentado neste trabalho conduzem a diferentes resultados, porém próximos. Com
relação à armação calculada pelo aplicativo, observa-se que as máximas diferenças entre
os valores da opção “MC 2010 modificado” e a armação determinada pelo cálculo usual de
lajes sob flexão simples é de aproximadamente 9,0%, e em relação ao “MC 2010”, da ordem
de 2,0%, ou seja, os resultados do aplicativo mostram-se, portanto, adequados para a
aplicação em projetos.

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Exemplo de cúpula hemisférica
O modelo matemático, devido à simetria da estrutura representou ¼ da cúpula conforme
ilustrado na figura 10. A figura 11 ilustra as tensões principais no concreto por efeito da
ação vertical resultante da composição do peso-próprio e de uma ação variável: em (a),
observa-se que a casca apresenta efeitos de compressão, do seu ápice até próximo à
região do apoio; e em (b), as tensões principais de tração de pequena magnitude em quase
toda estrutura, sendo que sua intensidade aumenta nas proximidades do engaste, como é
de se esperar.

(a) (b)
Figura 10 – (a) Geometria da cúpula; (b) Modelo matemático de ¼ da estrutura

(a) (b)
Figura 11 – Tensões principais: (a) mínimas; (b) máximas

Apesar da análise realizada via MEF, a ideia abordada neste trabalho consistiu em calcular
as armaduras por meio do aplicativo com os esforços apresentados por BILLINGTON
(1990) que, por descrever um projeto real, efetuou outras considerações adicionais de
ações como, por exemplo, variação de temperatura e vento. Para tanto, admitiu-se o
concreto com f ck igual a 30 MPa e aço com f yk igual a 500 MPa. Evidentemente, não foi
possível comparar diretamente os valores de armadura posto que o aço e o concreto da
publicação apresentam valores de resistência diferentes dos padrões usados no Brasil.
ANAIS DO JUBILEU DE OURO IBRACON - 2022 14
O cobrimento considerado é de 2,5 cm e os valores característicos de membrana e de
flexão para o dimensionamento são:
- Na faixa 0º a 1º, próxima à base da estrutura:
Nx = -65,38 kN/m, Ny = 63,16 kN/m e Mx = 7,53 kNm/m, resultando em Asx = 1,5613 cm2/m,
externa à estrutura e na direção do meridiano; e Asy = 0,7263 cm2/m, externa e internamente
à casca e na direção do paralelo. Adota-se, respectivamente,  6,3 c/20cm e  6,3 c/30cm,
esse último respeitando a armadura mínima para lajes segundo a NBR6118:2014 e igual a
1,05 cm2/m.
- Na faixa de 1º a 2º:
Nx = -65,38 kN/m e Mx = 2,25 kNm/m, resultando em Asx = 0,0125 cm2/m. Neste caso,
adotando-se armadura mínima para lajes igual a  6,3 c/30cm, externa à estrutura e na
direção do meridiano.
Observa-se que a norma brasileira não trata especificamente sobre as armaduras mínimas
para estruturas de casca, mas sabendo-se que o requisito normativo foi estabelecido para
lajes tracionadas, a sua indicação de uso das expressões para as cascas pode ser
conveniente, pois nessas os esforços de compressão são predominantes e, portanto, age-
se a favor da segurança.

5 Conclusão
Este trabalho apresenta a formulação para o dimensionamento de estruturas laminares
considerando o Método das Três Camadas do MC90 e acrescenta às equações de
equilíbrio dos esforços de membrana, as parcelas provenientes do cisalhamento da camada
central, conforme prescreve o MC2010.
A partir deste estudo, foi desenvolvido um aplicativo na linguagem C#, na plataforma
Microsoft Visual Studio. Nele, foram implementadas duas opções, o MC 2010 e o MC 2010
modificado, sendo que esse último apresenta, além dos critérios da NBR6118:2014 para as
resistências do aço e concreto, todo o processo iterativo com redefinição das espessuras
das camadas externas do modelo a cada iteração. A opção MC 2010, por sua vez, não
realiza a correção na posição das armaduras.
Os resultados foram satisfatórios quando comparados aos de diversas publicações,
motivando os autores ao prosseguimento dos estudos em estruturas laminares reais. Dois
exemplos são apresentados: uma laje retangular de bordos apoiados e uma cúpula
hemisférica com bordos engatados, ambos com carregamentos verticais distribuídos. Foi
utilizado o programa comercial ADINA 9.7 para a avaliação do comportamento estrutural.
As armaduras obtidas para a laje são apresentadas, assim como a indicação do seu
detalhamento preliminar. Para este caso, os esforços para dimensionamento foram obtidos
do ponto de Gauss central ao elemento. No caso da cúpula, optou-se por usar os valores
de esforços apresentados na referência, mostrando resultados promissores.

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A pesquisa deverá prosseguir com uma avaliação detalhada sobre a obtenção dos esforços
para dimensionamento em modelos de Elementos Finitos a fim de se automatizar o
processo, e o estudo de outras metodologias que consideram múltiplas camadas.

6 Referências
ADINA – Automatic Dynamics Incremental Non-Linear Analysis, na versão 9.7, 900 nodes.
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. NBR 6118: Projeto de estruturas
de concreto - Procedimento. Rio de Janeiro, 2014.
BILLINGTON, D. P. Thin shell concrete structures. McGraw-Hill Book Company, Inc.
1990.
COLOMBO, A. B.; DELLA BELLA, J. C.; BITTENCOURT, T. N. An algorithm for the
automatic design of concrete shell reinforcement. IBRACON Structures and materials
Journal, v. 7, n. 1, p. 53-67, 2014.
COMITÉ EURO-INTERNATIONAL DU BÉTON. CEB-FIP Model Code 1990. London,
Thomas Telford, 1993.
COMITÉ EURO-INTERNATIONAL DU BÉTON. CEB-FIP Model Code 2010. London,
Thomas Telford, 2013.
CRAVEIRO, M. V.; BITTENCOURT, T. N.; DELLA BELLA, J. C. Design and verification of
reinforced concrete shell elements. IBRACON Structures and materials Journal, v. 14, n.
3, e14305, 2021.
DELLA BELLA, J. C.; CHEN, R. Dimensionamento de elementos laminares de concreto
armado. Anais do VI Simpósio EPUSP sobre Estruturas de Concreto, p. 1081-1097, 2006.
FÉDÉRATION INTERNATIONALE DU BÉTON (FIB). Practitioners’ guide to finite
element modelling of reinforced concrete structures. State-of-art report, 2008.
GUPTA, A. K. Combined membrane and flexural reinforcement in plates and shells.
Journal of Structural Engineering, v. 112, n. 3, 1986.
LOURENÇO, P. B.; FIGUEIRAS, J. A. Automatic design of reinforcement in concrete
plates and shells. Engineering Computations, v. 10, p. 519-541, 1993.
LOURENÇO, P. B.; FIGUEIRAS, J. A. Solution for the design of reinforced concrete
plates and shells. Journal of Structural Engineering, 1995.

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