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ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO I - ENG 1218

Prof.
Giuseppe Barbosa Guimarães

Notas de Aula

2014

Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro


Departamento de Engenharia Civil
Rua Marquês de São Vicente, 225
22453 - Rio de Janeiro
ESTRUTURAS DE CONCRETO ARMADO I - ENG 1218
Ementa 2014.1
Prof. Giuseppe B. Guimarães
1 - Introdução
2 - Propriedades do concreto
3 - Propriedades do aço
4 - Princípios da verificação da segurança
5 - Dimensionamento no estado limite último: solicitações normais
6 - Flexão pura
7 - Cisalhamento em vigas
8 - Aderência entre o concreto e o aço
9 - Estados limites de utilização
10 – Projeto e detalhamento de vigas
11 - Flexão composta reta
12 - Flexão composta oblíqua
13 – Projeto e detalhamento de Pilares
14 – Torção em vigas

Bibliografia
1. José Milton de Araújo, “CURSO DE CONCRETO ARMADO”, Vol. 1 a 4 - 3ª edição –
Novembro, 2010 - Editora Dunas, Rio Grande - RS
2. Péricles B. Fusco, "Estruturas de Concreto - Solicitações Normais", Editora Guanabara
Dois.
3. Roberto Chust Carvalho, Jasson Rodrigues de Figueiredo Filho. “CÁLCULO E
DETALHAMENTO DE ESTRUTURAS USUAIS DE CONCRETO ARMADO”, Vol. 1 -
3ª Edição – 2009 - Editora EduFSCar – São Carlos – SP.
4. NBR 6118 (2003) - Projeto de Estruturas de Concreto - Procedimento, ABNT - Associação
Brasileira de Normas Técnicas (ABNT)
5. N.A. Dumont, M.S.L. Velasco, I.R. Ortiz, S.D. Kruger, "Ábacos para o dimensiona-
mento de seções de concreto armado sob flexão composta reta e oblíqua", RI 02/87,
Departamento de Engenharia Civil, PUC/Rio.
6. Flávio Mendes Neto, “CONCRETO ESTRUTURAL AVANÇADO”, 1ª Edição – 2010 -
editora PINI
7. P. Kumar Mehta, Paulo J. M. Monteiro "Concreto – Estrutura, propriedades e materiais”,
Editora PINI.
8. F. Leonhardt, E. Monning, "Construções de Concreto", Vol. 1 a 4, Editora Interciência

Datas das provas e entrega do Trabalho Prático


G1 25/03 Entrega do TP 13/06
G2 06/05 Defesa do TP 17/06
G3 10/06

Critério de aprovação
Categoria 9 do Art. 92, Seção IV, Capítulo II do Regimento da PUC-Rio, Resolução-01/2005

NF = (G1 + G2 + G3 + TP) / 4 ≥ 5

PUC-Rio / DEC – ENG 1218 Estruturas de concreto armado I – Notas de aula Prof. Giuseppe Guimarães
Capítulo 1
INTRODUÇÃO
1.1 - Considerações gerais

O concreto armado tem sido usado em larga escala em estruturas tais como edifícios,
pontes, túneis, barragens, usinas nucleares, portos, tanques e paredes de contenção, entre
outras. O uso do material concreto armado se intensificou a partir do início do século XX
impulsionado pelo desenvolvimento de novas teorias sobre o seu comportamento e de novas
técnicas construtivas. O concreto armado é o material mais empregado na construção civil em
muitos países atualmente.
Por se tratar de um material composto, constituído de concreto e barras de aço nele
imersas, os princípios que governam o projeto de estruturas de concreto armado diferem em
muitos aspectos daqueles aplicáveis nos casos de um único material. Como o concreto é um
material que apresenta boa resistência à compressão porém pequena resistência à tração
(aproximadamente um décimo da resistência à compressão), as barras de aço são utilizadas nas
regiões tracionadas do elemento estrutural com o propósito de absorver as tensões de tração
causadas por esforços de flexão, tração ou torção.
A função das barras de aço pode ser melhor ilustrada através do exemplo de uma viga
simplesmente apoiada sujeita a flexão (Fig. 1.1). Para valores muito baixos da carga aplicada,
as tensões de tração ao longo do bordo inferior da viga normalmente não superam a resistência
à tração do concreto. Quando as tensões de tração atingem a resistência do concreto há o
surgimento de fissuras. Se não houvesse armadura, a ruptura da viga ocorreria neste instante.
Havendo armadura, as tensões antes resistidas pelo concreto são transferidas para a armadura,
que além de permitir maior resistência à viga mantém as fissuras com pequena abertura.
O aço também apresenta alta resistência à compressão, aproximadamente igual à
resistência à tração. O emprego de armadura em peças comprimidas aumenta a capacidade de
carga destas.

1.2 - Histórico

Com o desenvolvimento do cimento Portland em 1824 por Joseph Aspdin, um


construtor na cidade de Leeds, Inglaterra, as tentativas de se reforçar os elementos de concreto
com barras de aço foram intensificadas. Em 1848 J.L. Lambot, na Franca, construiu um
pequeno barco de argamassa reforçada com fios de aço que foi patenteado em 1855. W.B.
Wilkinson, na Inglaterra, obteve a patente de um sistema de piso em concreto armado em
1854. Em 1861, o francês François Coignet publicou um livro ilustrando várias aplicações do
concreto armado. Outro francês, J. Monier, obteve sucessivas patentes para tubos (1867),
tanques (1868), lajes (1869), pontes (1873) e escadas (1875) em concreto armado. Durante os
anos 1850, o advogado americano Thaddeus Hyatt realizou vários ensaios de vigas de concreto
armado, com a armadura nas zonas tracionadas, dobradas próximo aos apoios, e com estribos
verticais para combater o cisalhamento. Só em 1877 porém, ele publicou os resultados dos
seus ensaios.
A primeira construção em concreto armado nos Estados Unidos foi uma casa em Long
Island, construída em 1875 pelo engenheiro mecânico W.E. Ward. As primeiras teorias sobre
o concreto armado foram publicadas em 1886 por Matthias Koenen e G.A. Wayss. A partir de
1900, o Professor Emil Morsch, trabalhando então para a firma Wayss & Freytag, desenvolveu
a teoria iniciada por Koenen. Os conceitos desenvolvidos por Morsch constituíram os
Capítulo 1 – Introdução 4

Zona tracionada

Seção A-A
Compressão

Tração Barra de aço Barra de aço

Antes da fissuração Após a fissuração


Figura 1.1 – Distribuição das tensões normais numa seção de concreto armado

fundamentos da teoria do concreto armado e seus elementos essenciais são ainda válidos. Os
resultados dos seus trabalhos começaram a ser publicados em 1904.
A partir de 1900 as pesquisas se intensificaram resultando num aumento expressivo de
trabalhos publicados. Os primeiros regulamentos e normas sobre construções de concreto
armado foram publicados em 1904 baseados no trabalho de E. Morsch, na Alemanha. Entre
1907 e 1910 foram publicadas as primeiras normas técnicas na Inglaterra, Franca, Áustria,
Suécia e Estados Unidos.
O primeiro passo em direção à normalização do concreto armado no Brasil foi dado em
1929 com a publicação do Código de Obras Arthur Saboya, o qual estava incluído num código
mais amplo da prefeitura da cidade de São Paulo. Em 1940 foi fundada a ABNT – Associação
Brasileira de Normas Técnicas, que é o órgão responsável pela normalização técnica no país.
A primeira norma publicada pela ABNT foi a NB 1, que tratava do cálculo e execução de obras
concreto armado. Atualmente esta norma tem o título NBR6118 – Projeto de Estruturas de
Concreto - Procedimento. Após sua última revisão, publicada em março de 2003, passou a
tratar também das estruturas de concreto protendido.

1.3 - Vantagens e desvantagens do concreto armado

Vantagens
• Adapta-se a qualquer tipo de forma o que representa grande liberdade na concepção
arquitetônica e estrutural.
• É econômico, dispensando geralmente manutenção ou conservação.
• Tem alta resistência às intempéries, ao fogo e ao desgaste mecânico.
• É adequado para estruturas monolíticas que, devido ao alto grau de hiperestaticidade,
apresentam maior segurança.
Desvantagens
• Peso próprio elevado.
• Dificuldades em reformas.

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Capítulo 2
PROPRIEDADES DO CONCRETO

2.1 - Peso específico

O peso específico γ do concreto endurecido depende do agregado graúdo em pregado, já


que este representa aproximadamente 70% da massa total do concreto. De acordo com seu
peso específico, o concreto se classifica como:

Concreto pesado
γ = 28 kN/m3 a 50 kN/m3 . O agregado empregado pode ser barita, minério de ferro ou sucata.

Concreto normal
γ = 24 kN/m3 para o concreto simples e γ = 25 kN/m3 para o concreto armado. O agregado
normalmente empregado é o granito e o gnaiss.

Concreto leve
γ = 12 kN/m3 a 20 kN/m3 para o concreto leve estrutural; γ = 7 kN/m3 a 16 kN/m3 para o
concreto usado em isolamento térmico. O agregado pode ser constituído, em geral, de argila
expandida ou pedra pome.

2.2 – Resistência à compressão

A resistência do concreto é função do tipo de solicitação, forma do corpo de prova,


duração do carregamento e da natureza da carga, se estática ou dinâmica. A comparação direta
entre concretos diferentes só é válida, portanto, quando os corpos-de-prova e os métodos de
ensaio forem iguais.
Devido à diversidade de condições de solicitação do concreto numa estrutura, a
reprodução destas em laboratório torna-se impraticável. Assim, as resistências são
determinadas em corpos de prova padronizados (normalizados), obtendo-se um valor
denominado resistência característica. Esse valor é transcrito para as condições da obra por
meio de coeficientes de conversão que são determinados estatisticamente.
A resistência à compressão é obtida por meio de solicitação monoaxial em ensaios de
curta duração*. O corpo de prova utilizado no Brasil é de forma cilíndrica, com 15 cm de
diâmetro e 30 cm de altura. Em alguns países são adotados corpos de prova em forma de cubo
com 10 cm ou 20 cm de aresta.
A resistência cilíndrica é aproximadamente 83% da resistência cúbica. Essa diferença é
causada pelo atrito entre os pratos da prensa e o corpo de prova (Fig.2.1), que impede a
deformação transversal deste nas regiões próximas ao prato, resultando num aumento da
resistência. Quanto maior a relação altura/largura do corpo de prova, menor será esse efeito.
Como a relação altura/largura do corpo de prova é maior para o cilíndrico, sua resistência será
menor do que a do cubo.

____________________________________________________________________________
* De acordo com o MB-3, a velocidade de aplicação da carga no corpo de prova deve ser de 0,3 a 0,8
MPa/segundo. A duração de ensaio de um corpo de prova de concreto com resistência de 25 MPa, por
exemplo, seria de 30 a 80 segundos.
Capítulo 2 – Propriedades do concreto 6

P Prato da prensa

Corpo de
prova Deformação
lateral

Figura 2.1 – Impedimento da deformação transversal num corpo de prova de concreto


devido ao atrito nos pratos da prensa

2.3 - Resistência à tração

Os resultados dos ensaios apresentam dispersão maior do que no caso da resistência à


compressão. Isto porque certos fatores, tais como tamanho e forma dos grãos dos agregados,
têm influência diferente nos dois casos.
Dependendo do tipo de ensaio empregado, os valores obtidos são denominados de
Resistência à tração axial (Fig. 2.2), Resistência à tração por fendilhamento (Fig. 2.3) ou
Resistência à tração na flexão (Fig. 2.4).

Placa de aço
colada ao concreto

P P

15 cm 30 cm 15 cm

Figura 2.2 – Corpo de prova para determinação da resistência à tração direta (axial)

Tração Compressão
P

σ1 σ2
d σ2
h

2P
ft = P σ1
πdh

Figura 2.3 – Corpo de prova para determinação da resistência à tração indireta

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Capítulo 2 – Propriedades do concreto 7

P/2 P/2

Medidas em
h = 15 centímetros

b = 15
5 20 20 20 5

Figura 2.4 – Corpo de prova para determinação da resistência à tração na flexão

2.4 - Relação entre a resistência à compressão e as resistências à tração

Esta relação pode ser representada pela equação

f ct = k 3
f c2 (fc e ft em MPa) Eq. 2.1

onde fc é a resistência cilíndrica à compressão e k é um coeficiente cujos valores estão


indicados na tabela abaixo (Ref.: Hubert Rusch, “Concreto Armado e Protendido – Propriedade dos
Materiais e Dimensionamento”, Editora Campus, Rio de Janeiro, 1981).

Tabela 2.1 – Valores do coeficiente k da Eq. 2.1


Limite inferior Média Limite superior
Tração axial (fct,sp) 0,19 0,27 0,36
Tração indireta (fct,sp) 0,25 0,31 0,37
Tração na flexão (fct,f) 0,40 0,50 0,61

2.5 -Resistência sob solicitação biaxial


Tração
0.2
σ1 f p Compressão
Tração

-1.4 -1.2 -1.0 -0.8 -0.6 -0.4 -0.2 0.2

-0.2

-0.4 σ2
σ 2 σ1
= -0.6
σ 1

-0.8

-1.0

-1.2 σ2 f p
Compressão
-1.4
fp = resistência prismática à compressão axial

Figura 2.5 - Envoltória de resistência biaxial do concreto

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Capítulo 2 – Propriedades do concreto 8

2.6 - Resistência sob carga de longa duração

A resistência à compressão do concreto depende da taxa de aplicação de carga,


diminuindo com o decréscimo desta, como mostra a Figura 2.6. Quando a aplicação da carga é
feita muito lentamente, como no caso de pilares de edifícios por exemplo, essa redução na
resistência do concreto deve ser levada em conta no projeto.

1.0 t = 20 min
σ Limite de ruptura
t = 100 min
fc 0.8

0.6
t = 7 dias

0.4 t = infinito

0.2

0 0.002 0.004 0.006 0.008 0.010


Deformação, εc

Figura 2.6 – Efeito da velocidade de aplicação da tensão sobre a resistência do concreto (H.
Rüsch, “Research Toward a General Flexural Theory for Structural Concrete”, ACI Journal,
Proceedings, Vol. 57, No. 1, July, 1960, pp.1-28)

2.7 -Aumento da resistência à compressão com a idade do concreto

A resistência à compressão do concreto numa idade t depende do tipo de cimento,


temperatura e das condições de cura. Para uma temperatura média de 20 oC a resistência à
compressão pode ser estimada, de acordo com o CEB Model Code 1990, por

f cm (t ) = βcc (t ) f cm Eq. 2.2

com
  28  
βcc (t ) = exp s 1 −  Eq. 2.3
  t / t 1  

onde
fcm(t) é a resistência média à compressão na idade t
fcm é a resistência média à compressão depois de 28 dias
t é a idade do concreto (dias) ajustada de acordo com a Eq. 2.4
t1 = 1 dia
s = 0,38 para concreto de cimento CP III e IV (Cimento Portland de alto-forno e pozolânico)
s = 0,25 para concreto de cimento CP I e II (Cimento Portland comum e composto)
s = 0,20 para concreto de cimento CP V -ARI(Cimento Portland de alta resistência inicial)

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Capítulo 2 – Propriedades do concreto 9

 
n  4000 
t T = ∑ ∆t i exp 13,65 −  Eq. 2.4
i =1  T ( ∆t i ) 
 273 +
 To 

tT é a idade (dias) ajustada para a temperatura T, que substitui t nas equações acima
∆ti é o número de dias com temperatura T
T(∆ti) é a temperatura (oC) durante o período de tempo ∆ti
To = 1 dia

A Tabela 2.2 e a Figura 2.7 fornecem valores da relação fcj/ fc28 para concretos feitos
com diferentes tipos de cimento.

Tabela 2.2 - Valores da relação fcj/ fc28


Idade do concreto CP III e IV CP I e II CP V ARI
3 0,46 0,60 0,66
7 0,68 0,78 0,82
28 1,00 1,00 1,00
90 1,18 1,12 1,09
360 1,31 1,20 1,16
fcj = resistência aos j dias de idade
fc28 = resistência aos 28 dias de idade

1,4

1,2

1,0
f cj / f c28

0,8
CP III e IV
0,6
CP I e II
0,4 CP V - ARI

0,2

0,0
0 60 120 180 240 300 360
Idade (dias)
Figura 2.7 – Aumento da resistência do concreto com a idade

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Capítulo 2 – Propriedades do concreto 10

2.8 - Resistência característica à compressão

É um valor obtido a partir de resultados de ensaios e depende da dispersão destes. As


principais causas dessa dispersão são:
1) Variações aleatórias na composição do concreto
2) Variações nas condições de fabricação
3) Variações nas condições de cura
4) Variações nas condições atmosféricas
5) Mudança de origem das matérias primas
A distribuição de freqüência dos resultados aproxima-se da distribuição normal. No
exemplo mostrado na Figura 2.8 a probabilidade de que a resistência seja menor ou igual a 21
MPa é de 2%; a probabilidade de que ela seja menor ou igual a 26 MPa é de 95%.
Resistência característica à compressão fck é aquela que tem uma probabilidade de
95% de ser ultrapassada no sentido favorável (Fig. 2.9). No caso da distribuição normal de
freqüência, a resistência característica pode ser obtida em função do valor da resistência média
fcj pela expressão

fck = fcj - 1,65 s

1 n
onde fcj = ∑ fc
n 1
fc = resultado de cada exemplar
n = número de exemplares

s=
∑( f c − f cj ) 2
(desvio padrão)
n −1

Quando o valor de s não for conhecido, deve-se adotar um dos valores indicados na Tabela 1 da
NBR 12655 / 1996 – Concreto – Preparo, controle e recebimento. Dependendo do controle de
qualidade do concreto a ser adotado na obra, o valor de s pode variar de 4 a 7 MPa.

30
Distribuição Normal
Frequência relativa (%)

20

30

25

10
18

10 10

5
0 2

20 22 24 26
fc (MPa)

Figura 2.8 – Distribuição de freqüência das resistências obtidas em corpos-de-prova

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Capítulo 2 – Propriedades do concreto 11

Distribuição Norm al

Frequência relativa

5%

f ck f cj
1,65 s

Figura 2.9 – Definição da resistência característica fck

2.9 - Resistência característica à tração axial

De acordo com a NBR 6118, sessão 8.2.5, o valor médio da resistência à tração direta
(fct,m) pode ser obtida em função da resistência característica à compressão (fck) pelas
expressões

f ct ,m = 0 ,3 f ck2 / 3
fctk,inf = 0,7 fct,m
fctk,sup = 1,3 fct,m

2.10 - Diagrama tensão-deformação

A Figura 2.10 mostra os diagramas tensão-deformação, real e o adotado no cálculo


segundo a NBR 6118.

2.11 - Módulo de elasticidade

(Ver Fig. 2.11)


Módulo tangente na origem: Eo = tg ϕo = 5600 f ck (MPa)
Módulo secante: Es = 0,85 Eo

2.12 - Coeficiente de Poisson

A NBR 6118 adota ν = 0,20

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Capítulo 2 – Propriedades do concreto 12

Diagrama real

80

Tensão (MPa)
60

40

20

0 0 ,002 0 ,0 04 0 ,006 0 ,0 08

Deformação

σ Diagrama de cálculo da NBR 6118

0,85 f c d

σ = 0,85 f c d ( ε - 0,25 ε 2)

1,0 2,0 3,5

ε (% o )

Figura 2.10 – Relação tensão-deformação para o concreto

ϕs
ϕo

ε
Figura 2.11 – Definição dos módulos de deformação tangente e secante para o concreto

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Capítulo 2 – Propriedades do concreto 13

2.13 - Módulo de elasticidade transversal

E
G=
2(1 + ν )

A expressão acima só é válida para o concreto no estado não-fissurado.

2.14 - Coeficiente de dilatação térmica


α = 10-5 / oC

2.15 - Retração do concreto

A quantidade de água empregada na fabricação do concreto é sempre maior do que a


quantidade necessária para as reações químicas com o cimento. A água em excesso é
necessária para dar trabalhabilidade ao concreto fresco. No concreto endurecido, esse excesso
de água fica retido nos poros e capilares do concreto. Em contato com o ar, o concreto perde
parte da água não fixada quimicamente durante sua secagem ocorrendo assim uma diminuição
do seu volume. Se o concreto for imerso em água, ocorre o fenômeno inverso denominado
expansão (Fig.2.12). A retração é, portanto, a deformação independente de carregamento
provocada pela perda da água livre quando o concreto se encontra em contato com o ar. Parte
da retração é irreversível.

- Fatores que influenciam a retração


1. Idade do concreto: a retração aumenta com a idade.
2. Umidade do meio ambiente: a retração aumenta com a diminuição da umidade.
3. Espessura da peça: a retração aumenta com a diminuição da espessura da peça.
4. Composição do concreto: a retração aumenta com o consumo de cimento e com o aumento
do fator água/cimento.
5. Temperatura do meio ambiente: a retração aumenta com a temperatura,
Expansão

4 8 12 16 20 (meses)
0.2
Na água
0

ε (%o) -0.2
Retração

-0.4

-0.6
No ar Na água No ar
(umidade relativa 70%, 18 o C)
-0.8

Figura 2.12 - Retração e expansão de um concreto com teor de cimento de 300 kg/m3

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Capítulo 2 – Propriedades do concreto 14

2.16 - Fluência

A fluência é definida como o aumento de deformação ao longo do tempo quando o


material se encontra sujeito a uma tensão constante. No concreto ela ocorre porque as camadas
de água adsorvida se tornam mais finas entre as partículas de gel as quais transmitem as
tensões. Além da tensão aplicada, a fluência depende também dos mesmos fatores que
influenciam a retração.
A Figura 2.13 mostra a evolução das deformações ao longo do tempo quando o concreto
se encontra sujeito a uma tensão constante σ1 aplicada no instante t1. As deformações εci1 e
εci2 são deformações instantâneas provocadas pela aplicação e retirada da tensão σ1
respectivamente. A deformação εcc representa a fluência do concreto e é composta de três
parcelas, como será visto no item 2.10. A deformação εcr representa a fluência recuperável e a
deformação εcf corresponde à parcela irrecuperável da fluência.

ε cc ε ci 2

ε cr
ε ci1
εcf
t1 t2
Tempo

σ1

t1 t2
Tempo

Figura 2.13 – Deformações no concreto ao longo do tempo

2.17 - Cálculo da fluência e retração do concreto

O cálculo da fluência e retração do concreto pode ser feito de acordo com o método da NBR
6118:2007, Anexo A.

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Capítulo 3
PROPRIEDADES DO AÇO
3.1 - Classificação

As barras e fios de aço empregadas como armadura para o concreto armado apresentam,
normalmente, um teor de carbono entre 0,08% e 0,50%. As barras são produtos obtidos por
laminação a quente de tarugos de lingotamento contínuo, com diâmetro nominal maior ou igual
a 5 mm, são redondas e têm sua superfície lisa ou nervurada. Os fios são produtos de diâmetro
inferior a 10 mm, obtidos por trefilação ou laminação a frio. As barras e fios de aço são
produzidos em conformidade com a norma NBR 7480 - Barras e fios de aço destinados a
armaduras de concreto armado.
De acordo com o valor da Resistência Característica ao Escoamento fyk, expresso em
0,1 MPa, os aços para concreto armado classificam-se nas seguintes categorias:

Categoria CA-25 CA-50 CA-60


fyk (MPa) 250 500 600

Os vergalhões CA-25 são barras de aço com superfície lisa e os vergalhões CA-50 são
barras de aço com superfície nervurada. São comercializados em barras retas e barras dobradas
com comprimento de 12m. Podem, também, ser fornecidos em rolos nas bitolas até 12,5mm.
Os Vergalhões CA-60 são fios de aço caracterizados pela alta resistência e pelos entalhes que
aumentam a aderência do aço no concreto. São normalmente empregados para fabricação de
lajes, tubos de concreto, lajes treliçadas, estruturas pré-moldadas de pequena espessura, etc.

3.2 - Propriedades

Massa específica
A massa específica do aço de armadura passiva pode ser considerada igual a 7 850
kg/m3.

Coeficiente de dilatação térmica


Para temperaturas entre -20ºC e 150ºC, o coeficiente de dilatação térmica do aço pode
ser considerado igual a 10-5/ºC.

Módulo de elasticidade
Na falta de ensaios ou valores fornecidos pelo fabricante, o módulo de elasticidade do
aço pode ser admitido igual a 210 GPa.

Resistências e Diagrama tensão-deformação


O diagrama tensão-deformação do aço, os valores característicos da resistência de
escoamento fyk, da resistência à tração fstk e da deformação na ruptura εuk (Figura 3.1) devem ser
obtidos de ensaios de tração realizados segundo a NBR 6152 – Materiais Metálicos –
Determinação das propriedades mecânicas à tração. O valor de fyk para os aços sem patamar
de escoamento é o valor da tensão correspondente à deformação permanente de 0,2%.
Para cálculo nos estados-limite de serviço e último pode-se utilizar o diagrama
simplificado mostrado na Figura 3.1b, para os aços com ou sem patamar de escoamento. Este
Capítulo 3 – Propriedades do Aço 16

diagrama é válido para intervalos de temperatura entre -20ºC e 150ºC e pode ser aplicado para
tração e compressão.
Os parâmetros que aparecem na Figura 3.1 são definidos como:
fyd = fyk /γs
fycd = fyck /γs
fyk = resistência característica à tração
fyck = resistência característica à compressão
fyd = resistência de cálculo à tração
fycd = resistência de cálculo à compressão
γs = coeficiente de minoração = 1,15
Es = módulo de elasticidade = 210 000 MPa

Diagrama real Diagrama de cálculo


σs σs

f yk
f yd

Tração
Tração

εs 3,5‰ εs
εyk 10 a 15‰ εyd 10‰
Compressão
Compressão

f ycd
f yck

(a) (b)
Figura 3.1 - Diagrama tensão-deformação para aços de armaduras passivas

Características de ductilidade
Os aços CA-25 e CA-50, que atendam aos valores mínimos de fyk/fstk e εuk indicados na
NBR 7480, podem ser considerados como de alta ductilidade. Os aços CA-60 que obedeçam
também às especificações dessa Norma podem ser considerados como de ductilidade normal.
Em ensaios de dobramento a 180°, realizados de acordo com a NBR 6153 e utilizando os
diâmetros de pinos indicados na NBR 7480, não deve ocorrer ruptura ou fissuração.

Soldabilidade
Para que um aço seja considerado soldável, sua composição deve obedecer aos limites
estabelecidos na NBR 8965.
A emenda de aço soldada deve ser ensaiada à tração segundo a NBR 8548. A carga de
ruptura e o alongamento na ruptura devem satisfazer as condições estabelecidas na NBR 7480.

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Capítulo 3 – Propriedades do Aço 17

Tabela 3.1 – Características mecânicas dos fios e barras


Categoria fyk fyk / fstk Alongamento
(MPa) em 10φ (%)
CA-25 250 1,2 fyk 18
CA-50 500 1,10 fyk 8
CA-60 600 1,05 fyk 5

3.3 - Bitolas comerciais

Tabela 3.2 – Características dos fios e barras (NBR7480-1996) – Valores nominais


Diâmetro φ (mm) Massa Área da seção Perímetro
2
Fios Barras (kg/m) (cm ) (mm)
3,4 0,071 0,091 10,7
4,2 0,109 0,139 13,2
5 5 0,16 0,196 15,7
6 0,22 0,283 18,8
6,3 0,25 0,312 19,8
7 0,30 0,385 22,0
8 8 0,40 0,503 25,0
9,5 0,56 0,709 29,8
10 10 0,63 0,785 31,4
12,5 1,00 1,227 39,3
16 1,60 2,011 50,3
20 2,50 3,142 62,8
22 3,00 3,801 69,1
25 4,00 4,909 78,5
32 6,30 8,042 100,5
40 10,00 12,5 125,0

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Capítulo 4
PRINCÍPIOS DA VERIFIÇÃO DA SEGURANÇA
As estruturas, no seu conjunto ou em parte, devem resistir com uma conveniente
margem de segurança a todas as solicitações oriundas de carregamentos aplicados, além de não
apresentarem deformações excessivas ou fissuração indesejável que possam comprometer sua
utilização e durabilidade.

4.1 - Objetivos da verificação da segurança

A verificação da segurança visa garantir:


a) capacidade de carga da estrutura;
b) a estabilidade da estrutura;
c) capacidade de utilização e durabilidade durante a vida útil prevista.

4.2 - Estados limites

As estruturas devem apresentar condições adequadas de segurança, funcionabilidade e


durabilidade. Sendo assim, devem ser definidas situações limites correspondentes a essas
condições que são denominadas Estados Limites. Existem dois grupos: Estados Limites
Últimos e Estados Limites de Serviço.

Estado limite último (ELU)


Estado correspondente à ruína por ruptura, por deformações plásticas excessivas, por
instabilidade (flambagem) ou por perda de equilíbrio do equilíbrio da estrutura considerada
como corpo rígido.

Estados limites de serviço (ELS)


Estados relacionados à aparência e durabilidade da estrutura, ao conforto do usuário e
ao bom funcionamento dos elementos não estruturais e equipamentos utilizados. Neste curso
serão abordados os ELS definidos abaixo:
Estado de formação de fissuras: estado em que há uma grande possibilidade de iniciar-
se a formação de fissuras de flexão.
Estado de fissuração inaceitável: estado em que as fissuras se apresentam com abertura
prejudicial ao uso ou à durabilidade da peça.
Estado de deformação excessiva: estado em que as deformações ultrapassam os limites
aceitáveis para a utilização da estrutura.

4.3 - Ações e solicitações

Ações (F): qualquer causa capaz de produzir um estado de tensões na estrutura ou modificar
os existentes.
Ações diretas (constituídas por forças)
Fg : carga permanente (peso próprio e sobrecargas fixas)
Fq : carga acidental (sobrecargas acidentais)
Ações indiretas
Fε : oriundas de deformações impostas por variação de temperatura, retração,
recalques de apoio, etc.
Capítulo 4 – Princípios da Verificação da Segurança 19

Solicitações (S) (momentos fletores, forças cortantes, forças normais, momentos torsores).
Sg : provocada por Fg
Sq : provocada por Fq
Sε : provocada por Fε

4.4 - Valores característicos e de cálculo

a) Valores característicos das resistências dos materiais (Rk), das ações (Fk) e das solicitações
(Sk) são valores que apresentam uma probabilidade prefixada de não serem ultrapassados no
sentido desfavorável.
Rk é um valor que tem uma probabilidade de 95% de ser ultrapassado no sentido
favorável (i.e., existe uma probabilidade de 95% dos resultados individuais obtidos nos ensaios
de corpos de prova serem superiores a Rk ).
Fk é um valor que apresenta uma probabilidade de 5% de ser ultrapassado durante a
vida útil da estrutura. Os valores nominais fixados para as ações a serem considerados no
cálculo estão indicados nas normas:
NBR 6120:1980 – Cargas para o cálculo de estruturas de edificações - Procedimento
NBR 8681:2003 – Ações e segurança nas estruturas - Procedimento
NBR 6123:1988 – Forças devidas ao vento em edificações - Procedimento
Sk = efeito de Fk

b) Valores de cálculo das ações, solicitações e da resistência dos materiais são os valores a
serem adotados no cálculo nos Estados Limites.

- Valores de cálculo das ações e solicitações


Fd = γf Fk
Sd = γf Sk
γf = coeficiente de segurança. Leva em conta: a) variações desfavoráveis das ações e
solicitações; b) aproximações inevitáveis das hipóteses de cálculo; c) imprecisões geométricas
da construção.

Valores de γf (NBR 6118, 11.7.1)


Carga permanente: γf = 1,4 em geral
γf = 1,0 quando a influencia da carga permanente for
favorável.
Carga acidental: γf = 1,4 acrescido de impacto quando houver
Deformações impostas: γf = 1,2

Cálculo no estado limite último: é feito então com a mais desfavorável das solicitações,

Sd = 1,4 Sgk + 1,4 Sqk + 1,2 Sεk (4.1)


Sd = 1,0 Sgk + 1,4 Sqk + 1,2 Sεk (4.2)

Em edifícios pode ser considerada apenas a primeira destas expressões.

OBS: No caso de ações acidentais de diferentes origens com pouca probabilidade de ocorrência
simultânea que causam as solicitações Sqk1 > Sqk2 > Sqk3 ....., pode-se considerar:

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Capítulo 4 – Princípios da Verificação da Segurança 20

Sqk = Sqk1 + 0,8 (Sqk2 + Sqk3 + ... ) (4.3)

Cálculo nos estados limites de utilização: A solicitação de cálculo a ser considerada é

Sd = Sgk + χ Sqk + Sεk (4.4)

Onde Sqk também neste caso é calculada pela Eq. (4.3) e χ (khi minúsculo) é um coeficiente
que leva em conta a probabilidade de ocorrência dos valores máximos de Sqk.
χ = 0,7 para estruturas de edifícios
χ = 0,5 para as demais.

-Valores de cálculo das resistências dos materiais


Concreto: fcd = fck /γc (compressão)
ftd = ftk /γc (tração)
Aço fyd = fyk /γs (tração)
fycd = fyck /γs (compressão)

γc e γs são coeficientes de minoração dos materiais. Levam em conta: a) variação dos


materiais, b) defeitos de ensaios c) correlação entre os corpos de prova e a realidade
γs = 1,15 desde que sejam obedecidas as exigências da EB-3.
γs = 1,25 em obras de pequena importância quando as exigências da EB-3 não
são obedecidas.
γc = 1,4 em geral.
γc = 1,3 no caso de peças pré-moldadas em usinas.
γc = 1,5 no caso de peças em condições desfavoráveis de execução.

4.5 - Dimensionamento das estruturas

Condições de segurança no estado limite último

R (Rc /γc , Rs /γs ) ≥ γf Sk

A resistência interna R de uma seção, que é função das resistências Rc e Rs oferecidas


pelo concreto e o aço, deve ser maior ou igual à solicitação de cálculo γf Sk nela atuante.

Processo de dimensionamento

1 - Definição do esquema estrutural (lançamento da estrutura), fixando a disposição geral,


condições de apoio, dimensões, etc.
2 - Estabelecimento das hipóteses de carga: combinação das ações que atuam na estrutura de
modo a obterem-se as situações mais desfavoráveis.
3 - Determinação dos esforços solicitantes.
4 - Cálculo das seções (via de regra, apenas as seções críticas) de acordo com o item a.
5 - Verificação dos estados limites de utilização.

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Capítulo 5
DIMENSIONAMENTO NO ESTADO LIMITE ÚLTIMO
Solicitações Normais

5.1 - Introdução

Solicitações normais são solicitações que causam tensões normais nas seções
transversais dos elementos estruturais. Essas solicitações são momento fletor e força normal e
ocorrem em peças sujeitas a flexão simples (vigas e lajes em geral) ou composta (pilares).
As relações tensão-deformação do concreto e do aço, apresentadas nos capítulos 2 e 3,
são aqui consideradas para o desenvolvimento da teoria geral sobre a qual se baseiam os
métodos de análise e dimensionamento no estado limite último de peças sujeitas a solicitações
normais. Essa teoria será aplicada a vigas e pilares nos próximos capítulos.

5.2 – Hipóteses de cálculo

As hipóteses para o cálculo no estado limite último nos casos de flexão simples e
composta, normal ou oblíqua, e de tração e compressão uniforme são:

1) As seções transversais permanecem planas; os vários casos possíveis de domínios de


deformação correspondentes ao estado limite último são os mostrados na Figura 5.1.
2) Aderência perfeita entre o aço e o concreto; ou seja, as deformações num determinado ponto
de uma barra da armadura é igual à do concreto neste ponto.
3) Encurtamento de ruptura do concreto
• εc = 3,5‰ em seções não inteiramente comprimidas (domínios 3 a 4a)
• 2‰ < εc < 3,5‰ na borda mais comprimida em seções inteiramente comprimidas
(domínio 5)
• εc = 2‰ na compressão axial
4) Alongamento máximo da armadura
εs = 10‰ (domínios 1 e 2)
5) Distribuição das tensões no concreto
A distribuição das tensões na seção se faz de acordo com as relações tensão-deformação do
concreto apresentadas no capítulo 2 (Fig. 5.2). A resistência à tração do concreto é
desprezada.
6) Distribuição das tensões na armadura
A tensão na armadura é obtida em função das relações tensão-deformação dos aços
apresentadas no capítulo 3.

Os domínios de deformação indicados na Figura 5.1 ocorrem nos seguintes casos de


solicitações:
• Domínio 1 - Tração pura e flexo-tração com pequena excentricidade
• Domínio 2, 3 e 4 – Flexão pura e flexão composta (força normal de tração ou compressão)
com grande excentricidade
• Domínio 5 – Flexo-compressão com pequena excentricidade
Capítulo 5 – Dimensionamento no Estado Limite Último – Solicitações Normais 22

d' ε cu

3h / 7
2
a
1 3 4
b
5

10 ooo 0 2 ooo
Figura 5.1 – Domínios de deformação correspondentes ao estado limite último

0,85 f cd
3, 5‰ 0,85 f cd ou 0,80 fcd

2‰ x 0,8 x

σs σs
Figura 5.2 – Distribuição das tensões numa seção

5.3 – Equações de equilíbrio e de compatibilidade

O cálculo de uma seção de concreto armado sujeita a solicitações normais é feito por
meio de equações de equilíbrio e de equações de compatibilidade, com base nas hipóteses de
cálculo apresentadas anteriormente. O caso mais geral está mostrado na Figura 5.3, que
representa uma seção sujeita a uma força de compressão aplicada fora dos eixos principais da
seção (flexão composta oblíqua). A partir das informações dadas na figura, as equações de
equilíbrio podem ser escritas na forma

N d = ∫∫A σ c dAcc + ∑ Asiσ si (5.1)


cc

M xd = N d e x = ∫∫A σ c xdAcc + ∑ Asiσ si xi (5.2)


cc

M yd = N d e y = ∫∫A σ c ydAcc + ∑ Asiσ si yi (5.3)


cc

As equações de compatibilidade são equações que relacionam as deformações nas barras da


armadura com as deformações no concreto, escritas a partir da hipótese das seções planas, i.e.,

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Capítulo 5 – Dimensionamento no Estado Limite Último – Solicitações Normais 23

a variação das deformações ao longo da altura da seção é linear. Nos exemplos que se seguem,
essas equações serão desenvolvidas para alguns casos específicos.

y
ex Nd
ey
A cc
x

y dA cc
εc
x
σc
A si

εsi

σsi

Figura 5.3 - Tensões e deformações numa seção sujeita a flexão composta oblíqua

Exemplo 5.1
Seja o pilar representado abaixo, sujeito a uma força de compressão Nk centrada.
Calcular a armadura As (Desprezar qualquer efeito de flambagem).

Nk = 1000 kN (Compressão) Nd
fck = 25 MPa
Aço CA-50

30 cm

20 cm
A A
σc
σs Seção A-A
Elevação

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Capítulo 5 – Dimensionamento no Estado Limite Último – Solicitações Normais 24

Exemplo 5.2 12
Dada a seção indicada na figura, sujeita a um
Momento fletor de cálculo Md, calcular a armadura As
Adotar o diagrama retangular de tensão no concreto.
Md
Md = 74,5 kN.m 40
fck = 30 MPa
Aço CA-50
As
4

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Capítulo 5 – Dimensionamento no Estado Limite Último – Solicitações Normais 25

Exemplo 5.3 20 cm
Calcular o momento Md correspondente ao estado
limite último da seção indicada na figura. Adotar o
diagrama retangular de tensão no concreto.
Md
46
fck = 35 MPa
As = 4 × 3,14 = 12,56 cm2
Aço CA-50
4
4 φ 16

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Capítulo 5 – Dimensionamento no Estado Limite Último – Solicitações Normais 26

Exemplo 5.4
Calcular o momento Md da seção do exemplo anterior adotando As = 25,12 cm2.

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Capítulo 5 – Dimensionamento no Estado Limite Último – Solicitações Normais 27

Exemplo 5.5
Determinar a altura h (d = h – 4 cm) e a armadura As da seção representada na figura
abaixo de modo que, na ruptura, εc = 3,5‰ e εs = εyd (limite entre os domínios 3 e 4).
15 cm
fck = 30 MPa Parede
Aço CA-50 12
Md = 70 kN.m
3m

h
Laje

As
Viga 4

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Capítulo 5 – Dimensionamento no Estado Limite Último – Solicitações Normais 28

Exemplo 5.6
Determinar as armaduras As e A′s da seção indicada, de modo que o estado limite último
seja atingido nos domínios de deformação:
a) limite entre os domínios 3 e 4
b) limite entre os domínios 2 e 3 20 cm
5
fck = 25 MPa A's
Aço CA-50
Md = 462 kN.m
Nd = 770 kN 50 Mk
Nk

As
5

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