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Capítulo 14

TORÇÃO

14.1 – Considerações gerais


Torção pura: é caracterizada pela existência apenas de momentos de torção atuando no
elemento.

Torção com flexão: ocorre sempre que as cargas e reações de apoio não passarem no eixo de
cisalhamento (Fig. 14.1); eixo de cisalhamento é a linha que passa nos centros de cisalhamento
das seções do elemento.

O centro de cisalhamento só coincide com o centro geométrico quando a seção


apresenta dupla simetria. O momento de torção deve se referir ao centro de cisalhamento do
elemento estrutural
F F
a

Centros de cisalhamento
e geométrico coincidentes

Centro de
cisalhamento

Momento de torção T=0


T=Fa
Seção assimétrica Seção simétrica
Figura 14.1

Torção de compatibilidade e torção de equilíbrio


A armadura de torção não é necessária em elementos sujeitos a torção de
compatibilidade.

a b c
M
Xbe = Tdf

Figura 14.2 – Torção de compatibilidade


d e f

a b c
Xbd = Tac

Figura 14.3 – Torção de equilíbrio


d
Capítulo 14 – Torção 2

14.2 – Tensão de cisalhamento em estruturas homogêneas na torção pura


T
a) Seção circular cheia

Tr τ
τ=
IT
τ
onde
π d4
IT = é o momento polar de inércia. d = 2r
32
T Figura 14.4

b) Seção circular vazada τ

Tr di
τ=
IT
π 4
IT = (d − d i4 ) é o momento polar de inércia. d
32
Figura 14.5

τ máx
c) Seção retangular cheia

T b
τ máx =
α b c2
c
Figura 14.6
T
Ângulo de torção unitário: θ =
β b c 3G

onde G é o módulo de elasticidade transversal dado por

E
G=
2(1 + ν )

O coeficiente de Poisson do concreto é ν = 0,2. Para o cálculo no estado fissurado, o valor de


G dado pela expressão acima é multiplicado por 0,4.

Tabela 14.1 – Valores de a e b para seção retangular cheia


b/c = 1,00 1,50 1,75 2,0 2,5 3,0 4,0 6,0 8,0 10,0 ∞
α = 0,208 0,231 0,239 0,246 0,258 0,267 0,282 0,299 0,307 0,313 0,333
β = 0,141 0,196 0,214 0,229 0,249 0,263 0,281 0,299 0,307 0,313 0,333

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Capítulo 14 – Torção 3

d) Seção vazada de parede fina τ

A tensão de cisalhamento num ponto da parede


com espessura t é dada pela Fórmula de Bredt t mín

T
τ= Eq. (14.1)
2 Ae t
Figura 14.7
onde
T é o momento de torção aplicado na seção
Ae é a área limitada pela linha média da parede, incluindo a parte vazada
t é a espessura da parede no ponto considerado

Fluxo de cisalhamento = τ t = constante

14.3 – Torção em estruturas de concreto armado

14.3.1 – Modelo de cálculo

Resultados experimentais mostram que, no estado limite último (ELU) onde o grau de
fissuração é elevado, somente uma casca delgada de concreto junto à face externa da peça
colabora na resistência. O modelo de cálculo empregado para a verificação do ELU é uma
treliça espacial obtida a partir de um elemento estrutural de seção vazada cujas paredes têm
espessura he (Fig. 14.8) definida no item 14.3.2.
As paredes da seção vazada são constituídas de treliças com diagonais comprimidas de
concreto e elementos tracionados representados pelas barras da armadura longitudinal
distribuídas ao longo do perímetro da seção e por estribos perpendiculares ao eixo da peça. As
diagonais comprimidas têm inclinação θ que pode ser arbitrada no intervalo 30° ≤ θ ≤ 45°.

τ he z b he /2 τ td he z b

τ he z h zb he

h zh
zh τ td he z h
he /2
θ
s s zb
b
Elemento vazado Seção transversal

Figura 14.8 – Modelo de cálculo

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14.3.2 – Tensão de cálculo no concreto

a) Seção vazada

Tensão de cisalhamento de cálculo no concreto:


T
τ td = d (14.2)
2 Ae he

onde:
Td é o momento de torção de cálculo;
Ae é a área limitada pela linha média da parede;
he é a espessura fictícia da parede definida no item seguinte, não se tomando para he valor maior
do que a espessura real.

b) Seção poligonal convexa cheia


É calculada como seção vazada com parede fictícia de espessura he dada por

he ≤ A/u

he ≥ 2c1

onde:
A é a área da seção cheia;
u é o perímetro da seção cheia;
c1 é a distância entre o eixo da armadura longitudinal do canto e a face lateral do elemento
estrutural.

A tensão de cálculo no concreto é dada pela Eq. 14.2.

c) Seção composta de retângulos


O momento de torção total deve ser distribuído entre os retângulos conforme sua rigidez
elástica linear. Cada retângulo deve ser verificado isoladamente com a seção equivalente
definida no item anterior. Assim, o momento de torção que cabe ao retângulo i (TSdi) é dado
por:

ai3bi
TSdi = TSd (14.3)
Σai3bi

onde a é o menor lado do retângulo e b o maior.

14.3.3 – Verificação da diagonal comprimida

A tensão na diagonal comprimida é obtida a partir do equilíbrio das forças verticais


atuando na seção da Figura 14.9b. A componente vertical da força resultante das tensões σc
deve ser igual à força τtdhezh. Assim,

σ c z h cos θ he senθ = τ td he z h

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de onde
τ td 2τ td
σc = = (14.4)
cos θ senθ sen2θ

Substituindo a Eq. (14.2) na equação acima obtém-se

Td
σc = (14.5)
Ae he sen 2θ

De acordo com a NBR6118:2003, item 17.5.1.5, a condição abaixo deve ser satisfeita:

σ c ≤ 0,5(1 − f ck / 250) f cd (fck em MPa) (14.6)

τtd he z b

τtd he z h zb

a) Treliça
zh

θ
s s

z h cos θ

τtd he z h σc zh b) Cálculo da tensão na


diagonal comprimida
θ

c) Cálculo da armadura
τtd he z h zh transversal

z h cotg θ

Figura 14.9 – Seções para o cálculo dos esforços na treliça

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Essa condição pode ainda ser expressa em função da tensão de cisalhamento de cálculo τtd dada
pela Eq. 14.2:

τ td
≤ τ tu (14.7)
sen 2θ

onde
Td
τ td =
2 Ae he

τ tu = 0,25(1 − f ck / 250) f cd (14.8)

14.3.4 – Cálculo da armadura de torção

a) Estribos
Seja As90 a área da seção de um estribo (Figura 14.9c) e s o espaçamento entre os
estribos. O número de estribos existentes ao longo do comprimento zhcotgθ é zhcotgθ /s.
Então, a força resistida por esses estribos é As90 fyd zhcotgθ /s que deve ser igual a τtdhezh . Logo,

z h cot gθ
As 90 f yd = τ td he z h
s

Substituindo a Eq. (14.2) na equação acima obtém-se

As 90 Td
= (14.9)
s 2 Ae f yd cot gθ

b) Armadura longitudinal
Seja Asl a área da seção transversal de todas as barras longitudinais. A força resistida
pelas barras existentes numa parede (Figura 14.9b) é então Aslfyd zh/ue que deve ser igual à
componente horizontal da força resultante das tensões σc. Então,

zh
Asl f yd = σ c z h cos θ he cosθ
ue

onde ue é o perímetro de Ae. Substituindo tensão σc dada pela Eq. 14.5 na equação acima
obtém-se

Asl Td
= (14.10)
ue 2 Ae f yd tgθ

14.3.4 – Solicitações combinadas – Torção, flexão e força cortante

Nos elementos sujeitos a torção e flexão (simples ou composta) com força cortante, as
verificações podem ser feitas como indicado a seguir.

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a) Verificação da diagonal comprimida


Na combinação de torção com força cortante, o ângulo de inclinação das bielas deve ser
o mesmo para os dois esforços. A resistência da diagonal comprimida de concreto deve ser
satisfeita atendendo à expressão

1 τ wd τ td 
 +  ≤1 (14.11)
sen 2θ τ wu τ tu 

onde:
Vd
τ wd = é a tensão convencional de cisalhamento causada pela força cortante de cálculo Vd
bw d
 f ck 
τ wu = 0,271 −  f cd (fck em MPa) é o valor último de τwd (14.12)
 250 
Td
τ td = é a tensão de cisalhamento causada pelo momento de torção de cálculo Td
2 Ae he
 f ck 
τ tu = 0,251 −  f cd (fck em MPa) é o valor último de τtd (14.13)
 250 

b) Estribos
A armadura transversal, constituída de estribos perpendiculares ao eixo do elemento,
pode ser calculada separadamente para Vd e Td e somadas.

c) Armadura longitudinal
Na borda tracionada pela flexão, a armadura de torção deve ser somada à armadura de
flexão.

14.3.5 – Armadura mínima

Asw Asl f ck2 / 3


= = 0,06 bw (fck em MPa)
s ue f ywk

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EXEMPLO 14.1
Calcular a armadura de torção da seção representada na figura.

fck = 30 MPa
Aço CA-50 h hs Td
Td = 42 kN.m
b = 35 cm
bs = 27 cm
h = 50 cm bs
hs = 42 cm
b

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