Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO
Os edifícios Pombalinos na baixa de Lisboa, datados do século XVIII, têm um valor patrimonial
reconhecido a nível nacional e internacional. Estes edifícios têm no seu interior uma complexa
estrutura em madeira tridimensional, altamente hiperestática, conhe
Pombalina, ligada à estrutura principal em alvenaria de pedra.
composta por paredes de frontal e pisos em madeira (Figura 1), que se assume contribuírem
favoravelmente para o comportamento sísmico global dos edifícios Pombalinos, quer ao nível
da resistência no próprio plano das paredes quer ao nível do travamento entre os vários
elementos, evitando o colapso para fora do plano das paredes de fachada [1-3].
A avaliação sísmica adequada dos edifícios Pombalinos, com paredes resistentes de pedra
ordinária no exterior, paredes de frontal e tabiques no interior e pisos de madeira (com
comportamento flexível no plano) exige o recurso a análises não lineares [5]. Para tal, é
necessário modelar esses elementos em programas de cálculo auxiliares utilizados pelos
gabinetes de projeto. Um dos programas utilizados para a avaliação sísmica de edifícios
existentes em alvenaria é o programa 3Muri [6] (versão comercial do Tremuri [7]). O programa
foi desenvolvido especificamente para avaliar a resposta de um edifício através de métodos
de análise não linear, baseados no uso de macro-elementos [7], tendo como vantagem a
simulação não linear do comportamento de corte e flexão dos elementos estruturais. Contudo,
não existe, na versão comercial, um macro-elemento representativo do comportamento das
paredes de frontal (à exceção do macro-elemento desenvolvido na versão de investigação do
programa Tremuri [7] no trabalho de doutoramento de Meireles [8]). Assim, surgiu a
necessidade de propor uma solução para modelar paredes de frontal (nomeadamente como
uma parede de alvenaria equivalente), tendo em conta as ferramentas disponíveis no
programa 3Muri [6], e tirando partido dos resultados experimentais efetuados em paredes de
frontal em trabalhos anteriores.
O modelo histerético, que descreve o comportamento cíclico das paredes frontais, é baseado
numa abordagem fenomenológica que tem como objetivo reproduzir a resposta das paredes
sob cargas monotónicas ou cíclicas [8, 9]. O comportamento histerético das paredes de frontal
exibe grande não-linearidade e ductilidade. O modelo é constituído duma série de funções
lineares e exponenciais e calibrado com um total de 9 parâmetros, de modo a definir a
resposta não-linear histerética da parede (Figura 3, esquerda).
(1)
Figura 4. Modelo numérico para estimar a rigidez inicial das paredes de frontal [dimensões em
metros] [8]
Uma vez calibrada a rigidez inicial K0 para a configuração ensaiada C2x2, estimou-se a rigidez
inicial para as outras configurações, nomeadamente C2x3, C2x4, C3x2, C3x3 e C3x4 (número
de cruzes de Santo André em altura x comprimento), por se tratarem de configurações de
paredes de frontal representativas de edifícios existentes (Figura 5). As rigidezes iniciais
obtidas (K0,numérico) são as apresentadas no Quadro 1.
Quadro 1. Rigidez inicial das configurações estudadas de paredes de frontal estudadas [8]
K0,numérico
Configuração
[kN/mm]
C2x2 6,4
C2x3 15,8
C2x4 33,3
C3x2 2,9
C3x3 6,8
C3x4 13,6
Figura 6: Modelo analítico adotado para a estimativa da carga de colapso (esquerda), esforços
axiais para um total unitário de cargas verticais fator Fv (meio) esforços axiais para um total
unitário de cargas horizontais fator Fu (direita).
Para as restantes configurações não se sabe o valor de Fu, obtido em ensaios apenas para a
configuração C2x2. Contudo, assumindo que o colapso da parede é devido à encurvadura da
diagonal mais solicitada, o mesmo raciocínio é aplicável para as restantes configurações de
parede de frontal. O Quadro 3 mostra os valores obtidos.
O Quadro 4 apresenta os resultados obtidos para K0, Fu e Fult para as diferentes configurações
localizadas no piso 1 de um edifício de alvenaria.
K0 Fu Fult
Configuração
[kN/mm] [kN] [kN]
C2x2 6,4 50,8 40,64
Vu
K0 bilinear
Flex o Mu Corte Vu
Figura 8. Elemento tipo viga não-linear com plasticidade concentrada (esquerda) e modelos de
resistência dos painéis de alvenaria no plano [11] (direita)
(2)
(3)
(4)
(5)
(6)
Piso 2 Piso 3
Configuração K0 Fu Fult K0 Fu Fult
[kN/mm] [kN] [kN] [kN/mm] [kN] [kN]
C2x2 6,4 54,4 43,5 6,4 57,9 46,3
Figura 12. Curvas de capacidade para as várias configurações de parede frontal piso 2
(esquerda) e piso 3 (direita)
Quadro 7. Propriedades propostas para modelar paredes de frontal no programa 3Muri [6]
Figura 13. Modelo tridimensional do edifício Pombalino tipo definido no 3Muri (esquerda) e
modelação das paredes num piso elevado (direita)
Figura 14: Comparação das curvas de capacidade global do edifício Pombalino tipo.
O trabalho apresentado neste artigo surgiu da necessidade de propor uma solução para
modelar paredes de frontal, características dos edifícios Pombalinos, tendo em conta as
ferramentas disponíveis no programa 3Muri, e tirando partido dos resultados experimentais
efetuados em paredes de frontal em trabalhos anteriores.
O estudo desenvolvido permitiu concluir que a solução mais adequada consiste em modelar
as paredes de alvenaria equivalentes no programa 3Muri, reforçadas com armadura vertical.
O procedimento é proposto no fim da seção 3.2 e os valores a definir para diferentes
configurações de paredes de frontal, localizadas em diferentes pisos, estão definidos a negrito
no Quadro 7.
Para validar o procedimento proposto compararam-se as curvas de capacidade globais de um
edifício Pombalino tipo obtidas com a versão de investigação Tremuri, onde as paredes de
frontal foram modeladas através de um macro-elemento especificamente desenvolvido para
o efeito, com as curvas determinadas no 3Muri, onde as paredes de frontal foram modeladas
através de paredes de alvenaria equivalentes. Os resultados indicam, para este edifício
estudado, que o procedimento de modelação proposto conduz a resultados, em termos de
verificação de segurança, do lado da segurança.
REFERÊNCIAS
[1] Gonçalves, A. M.; Candeias, P.; Guerreiro, L.; Ferreira, J. G.; Campos Costa, A.
International Journal of Architectural Heritage, 2019,
Vol. 13(2), p. 298-313, doi: 10.1080/15583058.2018.1436727.
[2]
em Cruz, H.; Saporiti Machado, J.; Campos Costa, A.; Xavier Candeias, P.; Ruggieri, N.; Manuel
Catarino, J. (eds) Historical Earthquake-Resistant Timber Framing in the Mediterranean Area.
Lecture Notes in Civil Engineering, 2016, Vol 1. Springer, Cham. Doi: 10.1007/978-3-319-39492-
3_14.
[3] Teixeira, M.
Dissertação de Mestrado em Engenharia Civil, Instituto Superior Técnico, Universidade de Lisboa.
[5] NP EN 1998-3: Eurocódigo 8 - Projecto de Estruturas para resistência aos sismos. Parte 3:
Avaliação e reabilitação de edifícios, 2017, Instituto Português da Qualidade, European Committee
for Standardization (CEN).
[6] S.T.A. DATA. Srl. 3Muri Program: Seismic analyses of 3d masonry buildings. User Manual version
13.5.0.0. (disponível em www.stadata.com).
[7] Lagomarsino, S.; Penna, A.; Galasco, A.; Cattari, S. TREMURI program: An equivalent frame
model for the nonlinear seismic analysis of masonry buildingsem Engineering Structures, 2013,
Vol56, p. 1787-1799. Doi:10.1016/j.engstruct.2013.08.002.