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MODELOS QUALITATIVOS DE TRELIÇAS PLANAS:

CONSTRUÇÃO E APLICAÇÃO NO ENSINO DA ANÁLISE E


COMPORTAMENTO ESTRUTURAL

Zacarias Martin Chamberlain Pravia1, Diego Orlando2

Universidade de Passo Fundo1 Universidade de Passo Fundo2


Campus Bairro São José, Cep99001-970, Passo Fundo, RS Campus Bairro São José, Cep99001-970, Passo
zacarias@upf.tche.br Fundo, RS
lese@upf.tche.br

Resumo. O ensino dos conteúdos das disciplinas na área de estruturas, seja nos cursos de
Engenharia Civil ou Arquitetura, apresenta-se como um grande desafio para o educador devido ao
nível de abstração envolvido nos conceitos dessa área. Uma solução, já validada e amplamente
usada em várias escolas de engenharia, é o uso de modelos qualitativos, que representam o
comportamento de elementos e conexões de sistemas estruturais. Tais modelos podem ser
considerados como ferramentas pedagógicas efetivas que produzem excelentes resultados na
aprendizagem e fixação dos conceitos teóricos. O objeto deste trabalho é apresentar dois modelos
qualitativos de treliças planas, que permitem visualizar o comportamento das mesmas de quando
sujeitas a um carregamento, por outro lado mostrar as alternativas que podem ser aplicadas no
uso destes modelos, os quais são apresentados graficamente, com seus detalhes. Além disso
apresenta-se um exemplo de suas aplicações como complemento aos cálculos teóricos. Na
construção dos modelos, usou-se material de baixo custo, permitindo que qualquer escola de
engenharia com disciplinas na área de estruturas possa reproduzi-los e aproveitar as vantagens
que trazem para o desempenho da aprendizagem.

Palavras-chave: Modelos qualitativos, ensino de estruturas, treliças planas

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1. INTRODUÇÃO

A utilização adequada de modelos qualitativos facilita a compreensão das aulas expositivas nas disciplinas da área de
estruturas, seja nos cursos de engenharia civil ou arquitetura. Mostrar a representação física dos conceitos teóricos
proporciona maior velocidade de aprendizagem por parte dos alunos.
O presente trabalho continua na linha de trabalho de Pravia [1], onde foram apresentados diferentes modelos
qualitativos sobre estabilidade das estruturas, e tem por objetivo apresentar dois modelos qualitativos de treliças planas,
que permitem visualizar o comportamento quando sujeitas a um carregamento.
Uma das metas definidas para o projeto e construção de modelos qualitativos é o uso de materiais de baixo custo e de
fácil fabricação.

2. MODELOS PROPOSTOS

O estudo da análise de treliças planas é introduzido por vários métodos (por equilíbrio dos nós, ou por equilíbrio
das seções), que permitem obter os esforços de treliças isostáticas. Já treliças hiperestáticas devem ser tratadas através
de programas de computador. Observa-se que os esforços atuando nas barras de uma treliça são axiais (compressão ou
tração), desde que as premissas desse modelo estrutural sejam respeitadas:
(a) as uniões são rotuladas, não permitindo a transmissão de esforços de flexão;
(b) as cargas são aplicadas apenas nos nós (uniões) da estruturas.
Por outro lado, lembra-se que um equipamento para medir deformações, muito empregado nos laboratórios de
estruturas, são os anéis de carga. Tais implementos medem deformações e permitem determinar os esforços aplicados
através dos mesmos. A idéia de usar pseudo anéis de carga em cada um dos elementos de uma treliça plana, é permitir
determinar o tipo de esforço (tração ou compressão) de cada barra, junto com as premissas do modelo estrutural treliça
plana, levou a projetar dois modelos que podem ser usados de maneira eficiente e convincente no ensino da análise
estrutural das mesmas.

2.1 Modelo de treliça plana de três nós

O primeiro modelo construído foi um modelo de três nós (veja-se Fig. 1), desenvolvido com barras em madeira de
seção reduzida (1cmx1cm), sendo que as uniões foram compostas com duplos membros de madeira, e o efeito de rótula
obtido através da furação e colocação de pinos nos nós (veja-se Fig. 2).
Para poder observar o tipo de esforço em cada barra, foram criados pseudo anéis de carga no meio do vão das barras,
construídos a partir de tubo de PVC de 100mm de diâmetro, e fixados com se apresenta na Fig. 2.
Para testar o funcionamento do sistema criado foi aplicada uma carga no nó extremo da treliça, e os resultados do
modelo são apresentados na Fig. 3. Observa-se que o modelo matemático fornece resultados qualitativos de esforços
equivalentes. Pode-se observar, muito claramente, na Fig. 3 que a barra inclinada está sujeita à tração e a barra
horizontal à compressão.
Nesse modelo foram realizadas várias experiências para tentar calibrar os pseudo anéis de carga e medir o valor da
carga nas barras através da variação do diâmetro dos anéis. Os resultados obtidos foram satisfatórios, porém o tipo de
material usado nos anéis plastifica muito facilmente (i.e., aparecem deformações permanentes neles) ,impedindo de
serem adequados para medidas quantitativas dos esforços nas barras.

Figura 1 – Modelo de treliça plana de três nós

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Figura 2 – Detalhes do modelo de três nos

Figura 3 – Modelo de três nós sujeito a carregamento

Uma outra experiência realizada com o modelo de três nós foi a aplicação de uma carga fora do nó, nesse caso, os
resultados mostraram que a treliça sai de seu plano com pouca carga produzindo esforços de flexão e torção nas suas
barras.

2.2 Modelo de treliça plana de 10 nós

Com o intuito de avaliar e validar os resultados obtidos com o modelo de três nós foi construída uma treliça com maior
número de nós (seis), o modelo pode ser observado na Fig. 4. Neste segundo modelo, os pseudo anéis de carga
empregados foram de menor diâmetro, porém ainda obtido de tubos de PVC (diâmetro de 50mm).

Nas uniões foram usados nós construídos com chapas de PVC, dispostas de maneira que no seu baricentro coincidem os
eixos das barras concorrentes no nó (veja-se Fig.5). Esta última disposição permite assegurar uniões rotuladas, como se

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observou nas experiências com o modelo, e ainda permite introduzir o conceito de chapas Gusset, muito usadas em
estruturas metálicas.

O modelo sujeito a carregamento é exposto na Fig. 6, os resultados obtidos do modelo numérico foram equivalentes
qualitativamente, seja na configuração deformada da estrutura ou nos esforços de tração ou compressão nas barras.

Na Figura 6, observa-se claramente, que ainda usando anéis menores, a observação do tipo de esforço nas barras da
treliça é evidente. Observe-se que a carga aplicada foi disposta no nó, já que com a carga colocada com excentricidade
os resultados não condizem com o comportamento de uma treliça plana.

Figura 4 – Modelo de treliça de 6 nós

Figura 5 – Detalhes do modelo de treliça de 6 nós

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Figura 6 - Modelo de treliça de 6 nós carregada

2.3 Aplicações dos modelos no ensino

Os modelos apresentados anteriormente podem ser empregados com exemplos no ensino de análise de treliças planas,
permitindo que os alunos observem os esforços de compressão e tração e conceitos sobre a construção desses sistemas
estruturais. Numa primeira fase, devem ser explicados em sala de aula os conceitos e métodos de análise, resolvendo os
dois modelos aqui propostos numericamente, e depois, observando o comportamento dos mesmos na prática.

Uma outra alternativa de aplicação poderia ser que os acadêmicos possam montar diversas configurações e testar seus
resultados contra modelos numéricos, este tipo de experiência apresenta resultados altamente benéficos para a
aprendizagem. Pode-se constituir numa tarefa extraclasse de fixação de conceitos, construindo um modelo físico
qualitativo e comparando seus resultados com modelos matemáticos.

Estes modelos não se limitam a serem usados em disciplinas de análise de estruturas, e podem ser usados em disciplinas
de dimensionamento de estruturas de madeira e aço.

3. COMENTÁRIOS FINAIS

Foram apresentados dois modelos qualitativos de treliças planas para expor o comportamento deste sistema estrutural
quando sujeito a cargas nodais. Modelos estes que foram construídos com materiais de baixo custo, e que são parte de
uma linha de trabalho desenvolvida pelo primeiro autor no Laboratório de Estruturas e Sistemas Estruturais –LESE da
Faculdade de Engenharia e Arquitetura da Universidade de Passo Fundo.

O uso de modelos qualitativos apresenta-se como uma ferramenta pedagógica para aprendizagem de alto desempenho,
que vigoriza o entusiasmo dos alunos para aprender sobre modelos estruturais, compreendendo seu funcionamento.

4. REFERÊNCIAS

[1] Z.M. Chamberlain Pravia, R. Bordignon, “Modelos Intuitivos para Ensino de Estabilidade das Estruturas,” In
Anais do XXVIII Congresso Brasileiro de Ensino de Engenharia – CD-ROM, Ouro Preto - MG, 2000.

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PLANE TRUSS QUALITATIVE MODELS : CONSTRUCTION AND APPLICATION IN THE TEACHING
OF THE ANALYSIS AND STRUCTURAL BEHAVIOR

Abstract. The lectures of disciplines in the area of structures, be in courses of Civil Engineering or Architecture, comes
as a great challenge for the educator due to the abstraction level involved in the concepts of that area. A solution,
already validated and thoroughly used at several engineering schools, it is the use of qualitative models, that represent
the behavior of elements and connections of structural systems. Such models can be considered as effective pedagogic
tools that produce excellent results in the learning and fixation of the theoretical concepts. The object of this work is to
present two qualitative models of plane truss, that allow to visualize the behavior when loaded, on the other hand to
show the alternatives that can be applied in the use of these models. The models are presented graphically, with their
details. Besides comes a complete example of application of the models as complement to the theoretical calculations.
In the construction of the models material of low cost was used, allowing that any engineering school with disciplines in
the area of structures can reproduce them and to take advantage of the benefits that bring for the improvement of
learning.

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