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DIMENSIONAMENTO DE LAJES NERVURADAS DE CONCRETO EM

SITUAÇÃO DE INCÊNDIO POR MÉTODO GRÁFICO


Ribbed Slabs Fire Design By Graphic Method

Valdir Pignatta Silva (1); Samir Cesar Bette (2)

(1) Professor Doutor, Escola Politécnica da Universidade de São Paulo


(2) Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Escola Politécnica da Universidade
de São Paulo
Av. Prof. Almeida Prado, trav2, n271 – 05508900 – São Paulo, valpigss@usp.br

Resumo
Para o dimensionamento de uma laje em situação de incêndio, usualmente, deve-se considerar que ela
cumpra, simultaneamente, a função corta fogo e de estabilidade estrutural. A ABNT NBR 15200:2012
fornece dimensões mínimas, por meio do método tabular, para assegurar as duas funções. A função corta
fogo é garantida pela espessura da capa, com ou sem revestimento. A função estrutural é garantida pela
largura mínima da nervura e distância mínima entre CG da armadura e face exposta ao fogo. No último
caso, quando as lajes apresentam dimensões diferentes, a resistência ao fogo deve ser avaliada por meio
de métodos mais precisos, quer por análises experimentais ou numéricas. Esta pesquisa teve como objetivo
avaliar a capacidade resistente das seções transversais de 10 perfis usuais de lajes nervuradas de concreto
armado, em função do TRRF, com base no aquecimento padronizado ISO 834 e nas novas prescrições da
ABNT NBR 15200:2012. Uma análise computacional termestrutural foi realizada para esses perfis de lajes
nervuradas produzidas com as fôrmas, popularmente conhecidas como "cubetas". Para a análise térmica
foram empregadas as leis fundamentais da Transferência de Calor. A análise estrutural foi obtida por meio
da formulação clássica do cálculo da capacidade resistente de uma seção de concreto armado sujeita à
flexão simples para a temperatura ambiente, porém, variando as propriedades mecânicas dos materiais em
função do campo de temperaturas obtido por meio da análise térmica e sem imposição de deformações-
limite. Ambas as análises foram realizadas com auxílio do Super Tempcalc, programa computacional para
análise térmica bidimensional de transferência de calor, por meio do método dos elementos finitos. Como
resultados são apresentados gráficos que poderão ser empregados como alternativa ao método tabular da
ABNT NBR 15200. Este trabalho foi inspirado em COSTA; SILVA (2007) atualizando-o à nova norma
brasileira.
Palavra-Chave: laje nervurada, incêndio, cubeta, dimensionamento

Abstract
For fire design, the slab is usually one of the constructive elements that meet, simultaneously, the insulation
and integrity and the load bearing functions. The Brazilian standard ABNT NBR 15200:2012 provides the
minimum dimensions, through the tabular method, to ensure the two functions. The insulation and integrity
are guaranteed by the thickness of the flange, with or without finishes. The structural function is ensured by
the minimum width of the rib and the minimum distance between the centroid of the reinforcement bar and
the face exposed to fire. In the latter case, when the slabs have different dimensions, the fire resistance must
be evaluated by means of more accurate methods, either numerical or experimental analysis. This study
aimed to evaluate the resistance of the cross sections of 10 usual ribbed slabs profiles of reinforced
concrete, according to TRRF, based on the ISO-fire. The classical formulation for calculation of the bending
resistance of a section of concrete at room temperature was used, but varying the mechanical properties of
the materials with the temperature obtained by thermal analysis and without imposing strain limits. The
analyses were performed using the Super Tempcalc, thermal analysis software for two-dimensional heat
transfer using the finite element method. The results are presented in form of graphs that can be used as an
alternative to tabular method of ABNT NBR 15200.
Keywords: ribbed slab, waffle slab, fire design
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1 Introdução

1.1 Lajes nervuradas à temperatura ambiente


Segundo a NBR 6118, lajes nervuradas são as lajes moldadas no local ou com nervuras
pré-moldadas, cuja zona de tração é constituída por nervuras entre as quais pode ser
colocado material inerte. Na figura 1, apresenta-se um exemplo de laje nervurada
bidirecional
As seguintes condições devem ser seguidas no projeto de lajes nervuradas à temperatura
ambiente:
- a espessura da mesa, quando não houver tubulações horizontais embutidas, deve ser
maior ou igual a 1/15 da distância entre nervuras e não menor que 3 cm;
- o valor mínimo absoluto deve ser 4 cm, quando existirem tubulações embutidas de
diâmetro máximo 12,5 mm;
- a espessura das nervuras não deve ser inferior a 5 cm;
- nervuras com espessura menor que 8 cm não devem conter armadura de compressão;
- para lajes com espaçamento entre eixos de nervuras menor ou igual a 65 cm, pode ser
dispensada a verificação da flexão da mesa, e para a verificação do cisalhamento da
região das nervuras, permite-se a consideração dos critérios de laje;
- para lajes com espaçamento entre eixos de nervuras entre 65 cm e 110 cm, exige-se a
verificação da flexão da mesa e as nervuras devem ser verificadas ao cisalhamento como
vigas; permite-se essa verificação como lajes se o espaçamento entre eixos de nervuras
for de até 90 cm e a largura média das nervuras for maior que 12 cm;
- para lajes nervuradas com espaçamento entre eixos de nervuras maior que 110 cm, a
mesa deve ser projetada como laje maciça, apoiada na grelha de vigas, respeitando-se os
seus limites mínimos de espessura.

Figura 1 – Laje nervurada.

1.2 Lajes nervuradas em situação de incêndio


Para o projeto em situação de incêndio, a laje é usualmente um dos elementos
construtivos que cumpre, simultaneamente, a função corta fogo e de estabilidade
estrutural. A ABNT NBR 15200:2012 fornece dimensões mínimas, por meio do método

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tabular, para assegurar as duas funções. A função corta fogo é garantida pela espessura
da capa, com ou sem revestimento. A espessura mínima para a capa somente necessita
de um valor mínimo para incêndio, se for exigida compartimentação do ambiente. Não
havendo exigência de compartimentação, a espessura mínima pode seguir o
dimensionamento à temperatura ambiente conforme ABNT NBR 6118:2007. Não é
possível garantir-se a compartimentação vertical em garagens em subsolos, andares
duplexes e átrios de shoppings. Apesar de não ser explícito nas instruções dos Corpos de
Bombeiros, os autores julgam desnecessário respeitar uma espessura mínima para a
capa das lajes pré-moldadas nessas situações. A função estrutural é garantida pela
largura mínima da nervura e distância mínima entre CG da armadura e face exposta ao
fogo. Nesse caso, quando as lajes apresentam dimensões diferentes, a norma brasileira
autoriza o emprego de métodos mais precisos, experimentais ou numéricos, para
determinar a resistência ao fogo.
O objetivo desta pesquisa é avaliar a capacidade resistente das seções transversais de
10 perfis usuais de lajes nervuradas de concreto armado, em função do TRRF – tempo
requerido de resistência ao fogo, com base no aquecimento padronizado ISO 834.
Uma análise computacional termestrutural foi realizada para esses perfis de lajes
nervuradas produzidas com as fôrmas, popularmente conhecidas como “cubetas”. Para a
análise térmica é empregada a formulação fornecida na ABNT NBR 15200:2012 relativas
à transferência de calor por convecção, radiação e condução. A análise estrutural foi
obtida por meio da formulação clássica do cálculo do momento resistente de uma seção
de concreto armado sujeita à flexão simples à temperatura ambiente, porém, variando as
propriedades mecânicas dos materiais em função do campo de temperaturas obtido por
meio da análise térmica e sem imposição de deformações-limite. Ambas as análises
foram realizadas com auxílio do Super Tempcalc, programa computacional para análise
térmica bidimensional de transferência de calor, por meio do método dos elementos
finitos. Como resultados são apresentados gráficos que poderão ser empregados como
alternativa ao método tabular da ABNT NBR 15200.

3 Descrição dos perfis analisados

A seção transversal dos 10 perfis das lajes nervuradas de concreto armado utilizadas
nesta pesquisa apresenta o padrão geométrico indicada na Figura 2.

Figura 2 - Seção transversal das lajes nervuradas de concreto armado.


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As medidas definidas pelas letras “A” a “G” estão apresentadas na Tabela 1, conforme o
modelo de cada perfil.

Tabela 1 - Dimensões das seções transversais dos modelos.


Diâmetro ds
Dimensões (cm)
Perfil Fabricante barras (mm)
a b c d e f g 2ø
1 Astra 15,09 7 5 15 53 2,5 3,2 10
2 Astra 15,09 7 7 15 53 2,5 3,2 10
3 Atex 12,5 8 5 18 52 2,5 2,8 10
4 Atex 12,5 8 8 18 52 2,62 2,9 12,5
5 Ulma 17,5 12 5 20 68 2,62 3,0 12,5
6 Ulma 17,5 12 8 20 68 2,8 3,2 16
7 Ulma 23,14 12 5 30 68 2,8 3,3 16
8 Ulma 23,14 12 8 30 68 3,0 3,6 20
9 Atex 25,8 12,5 5 40 67,5 2,8 3,3 16
10 Astra 25,8 12,5 8 40 67,5 3,0 3,5 20
Astra – Astra S/A Indústria e Comércio.
Atex – Atex do Brasil Ltda.
Ulma – Ulma Andaimes, Fôrmas e Escoramentos, Ltda.

3 Análise térmica

O modelo de incêndio empregado na análise foi o do incêndio-padrão (Equação 1)


conforme ABNT NBR 5628:2001 e ISO 834 (1990), o coeficiente de transferência de calor
por convecção, c, foi tomado igual a 25 W/m² °C nas faces diretamente aquecidas pelo
incêndio e a emissividade resultante, res, igual a 0,7. Na face não exposta diretamente ao
calor, foi tomada uma combinação de convecção e radiação, simulada por c = 9 W/m² °C

θ g  θ 0  345 log(8t  1) Equação 1


Na Equação 1, g é a temperatura dos gases, expresso em graus Celsius (ºC), o é a
temperatura ambiente tomada igual a 20 ºC e t é o tempo em min. A variação do valor da
temperatura dos gases quentes conforme incêndio-padrão pode ser vista na Figura 3.
Para determinar o campo de temperaturas nos perfis estudados foi empregada a
formulação, conforme ABNT NBR 15200:2012, para calor específico (Equação 2),
condutividade térmica (Equação 3) e massa específica (Equação 4).

cp() = 900 J/kg ºC para 20 °C ≤  ≤ 100 °C


cp() = 1 470 J/kg ºC para 100 °C <  ≤ 115 °C
cp() = 1 470 – 5,53 ( - 115) para 115 ºC <  ≤ 200 ºC
Equação 2
cp() = 900 + /2 para 200 ºC <  ≤ 400 ºC
cp() = 1 100 J/kg ºC para 400 °C <  ≤ 1200 °C

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1200

1000
temperatura (oC)

800

600

400

200

0
0 30 60 90 120 150 180
tempo (min)

Figura 3 – Modelo do incêndio-padrão ISO 834.

2
c  
  1,36  0,136  0,0057  c  Equação 3
100  100 

ρ(θ) = ρ(20 °C) for 20 °C ≤ θ ≤ 115 °C


ρ(θ) = ρ(20 °C) x (1 - 0,02 (θ - 115)/85) para 115 °C < θ ≤ 200 °C ρ(θ) = Equação 4
ρ(20 °C) x (0,98 - 0,03 (θ - 200)/200) para 200 °C < θ ≤ 400 °C
ρ(θ) = ρ(20 °C) x (0,95 - 0,07 (θ - 400)/800) para 400 °C < θ ≤ 1.200 °C

A variação do valor do calor específico com a temperatura pode ser vista na Figura 4.

1500

1400
calor específico (J/kg oC)

1300

1200

1100

1000

900

800
0 200 400 600 800 1000 1200
o
temperatura ( C)

Figura 4 – Variação do calor específico com a temperatura

A variação do valor da condutividade térmica pode ser vista na Figura 5.

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1,4
condutividade térmica (W/m oC)

1,2
1
0,8
0,6
0,4
0,2
0
0 200 400 600 800 1000 1200
temperatura (oC)

Figura 5 – Variação da condutividade térmica com a temperatura

A variação do valor da condutividade térmica pode ser vista na Figura 6.

Figura 6 – Variação da massa específica com a temperatura

A modelagem computacional foi executada com auxílio do Super Tempcalc –


Temperature Calculation and Design v.5, desenvolvido pela FSD (Fire Safety Design,
2000), para análise térmica de seções de elementos estruturais expostas ao calor, por
meio do método dos elementos finitos. O Super Tempcalc foi desenvolvido em ambiente
Matlab, com geração automática de elementos finitos e interface gráfica compatível com a
plataforma Windows.
Devido à geometria irregular das seções com nervuras trapezoidais, todos os modelos
foram discretizados em elementos triangulares, cuja medida do maior lado ℓ ≤ 0,01 m.
Foram analisadas outras malhas com ℓ diferentes e a escolhida se mostrou apropriada
para este estudo.

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Figura 7 - Malha de elementos triangulares dos perfis.

Aplicou-se o aquecimento padronizado na face inferior e lateral do perfil e a face superior


não foi considerada adiabática, impondo-se a troca de calor com o ambiente.
O campo de temperatura no concreto varia conforme o aumento de temperatura, na
Figura 8 mostra essa variação do campo para o modelo nº 1.

t = 30min. t = 60min. t = 90min.

t = 120min. t = 180min.

Figura 8. Campo de temperaturas para tempos de 30, 60, 90, 120 e 180 min para o perfil nº 1.

4 Análise estrutural

4.1 Determinação do momento fletor resistente


Para o cálculo do momento resistente tanto à temperatura ambiente quanto para a
situação de incêndio, as características, os fatores de ponderação dos materiais e a
posição das armaduras são introduzidos no módulo CBEAM do programa Super
Tempcalc. Esse módulo, a partir do equilíbrio entre forças de tração nas armaduras e
compressão no bloco de concreto, determina a linha neutra e consequente momento fletor
resistente, sem considerar as deformações-limites que determinam os estádios.
O concreto foi o de Classe C20 (fck = 20 MPa) e o aço das armaduras foi o CA-50 (fyk =
500 MPa). Os fatores de ponderação das resistências à temperatura ambiente são os
fornecidos pela NBR 6118:2007 e para situação de incêndio são os fornecidos pela ABNT
NBR 15200:2012, ambos indicados pela Tabela 2. O redutor de resistência de cálculo cc
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foi adotado 0,85 para a temperatura ambiente e 1,00 para a situação de incêndio,
conforme as respectivas normas brasileiras.

Tabela 2 - Fatores de minoração da resistência dos materiais.


Materiais
Situação
Concreto Aço
Temp. ambiente (NBR 6118) 1,4 1,15
Incêndio (NBR 15200) 1,0 1,0

Para a temperatura ambiente, os momentos fletores resistentes das seções modeladas


foram calculados conforme critérios da norma ABNT NBR 6118:2007. Em situação de
incêndio, os limites de deformação linear específica do aço e do concreto são
desconsiderados e o momento fletor resistente é calculado, admitindo que ambos os
materiais, concreto e aço estão solicitados às respectivas tensões resistentes máximas, o
equilíbrio de esforços atuantes da seção de concreto armado aquecida é estabelecido
para cada elemento finito, considerando-se os efeitos da ação térmica sobre os materiais.
A resistência à compressão do concreto, fc,, decresce com o aumento da temperatura,
conforme mostrado na Figura 9, podendo ser obtida pela Equação 5.

fc,θ = kc,θ . fck Equação 5

Na Equação 5, fck é a resistência característica à compressão do concreto à temperatura


ambiente e kc,θ é o fator de redução da resistência do concreto na temperatura θ,
conforme Tabela 3.
A resistência ao escoamento do aço da armadura passiva, fy,, também decresce com o
aumento da temperatura, conforme mostrado na Figura 9, podendo ser obtida pela
Equação 6.
fy,θ = ks,θ . fyk Equação 6

Na Equação 6, fyk é a resistência característica do aço de armadura passiva à


temperatura ambiente e ks,θ é o fator de redução da resistência do aço na temperatura θ,
conforme Tabela 3.

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Tabela 3 - Fatores de redução da resistência kc,θ
(concreto) e ks,θ (aço). 1,10
1,00
Materiais 0,90
Temperatura θ (°C) Concreto Aço CA-50 0,80
(agregado silicoso) (tração) 0,70

kc,θ e ks,θ
0,60
20 1,00 1,00 0,50
100 1,00 1,00 0,40
200 0,95 1,00 0,30
0,20
300 0,85 1,00
0,10
400 0,75 1,00 0,00
500 0,60 0,78 0 100 200 300 400 500 600 700 800 900 1000 1100 1200
600 0,45 0,47 Temperatura θ (°C)

700 0,30 0,23


Concreto Aço CA‐50
800 0,15 0,11
Figura 9 - Fatores de redução da resistência kc,θ
900 0,08 0,06
1000 0,04 0,04
(concreto) e ks,θ (aço).
1100 0,01 0,02
1200 0,00 0,00

Na Figura 10 observa-se a redução do momento fletor resistente de cálculo em situação


de incêndio de um dos modelos aqui estudados

Figura 10 - Momento resistente de cálculo em situação de incêndio (MRd,fi)


em função tempo para o perfil nº 1.

4.2 Determinação do momento fletor solicitante

Em condições usuais, as estruturas são projetadas à temperatura ambiente e,


dependendo das suas características e uso, devem ser verificadas em situação de
incêndio. Essa verificação deve ser feita apenas no ELU para a combinação excepcional
correspondente, pela Equação 7.

Fd,fi  γ g Fgk  γ q ψ 2 Fqk Equação 7

Na Equação 7, Fd,fi é o valor de cálculo da ação total para a situação excepcional, γg é o


fator de ponderações para ações permanentes na situação excepcional, γq é o fator de
ponderações das ações variáveis na situação excepcional e ψ2 é o fator de redução
referente à ação variável para a combinação excepcional.
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Os fatores de ponderação γg e γq são indicados na ABNT NBR 6118:2007 conforme
Tabela 4.

Tabela 4 - Fatores de ponderações das ações permanentes e variáveis dadas pela NBR 6118:2007
Combinação de ações Permanentes (g) Variáveis (q)
Normais 1,4 1,4
Excepcionais 1,2 1,0

Quando a ação excepcional for o fogo, o fator de redução ψ2 indicado na ABNT NBR
6118:2007, pode ser reduzido, multiplicando-o por 0,7, conforme recomendado na ABNT
NBR 8681:2003. O fator ψ2 está indicado na Tabela 5.

Tabela 5 - Fatores de redução para combinação excepcional das ações variáveis em situação de incêndio
dados pela ABNT NBR 8681:2003.
Condições do local 0,7  2
Locais em que não há predominância de pesos e de equipamentos que
permanecem fixos por longos períodos de tempo, nem de elevadas 0,21
concentrações de pessoas (Edificações residenciais, de acesso restrito.)

Locais em que há predominância de pesos e de equipamentos que


permanecem fixos por longos períodos de tempo, ou de elevadas 0,28
concentrações de pessoas (Edificações comerciais, de escritórios e de
acesso público)

Bibliotecas, arquivos, depósitos, oficinas e garagens 0,42


Pressão dinâmica do vento nas estruturas em geral 0

A Equação 8 fornece um fator de redução das ações em situação de incêndio em relação


às da temperatura ambiente.

Fd,fi  g ,fi   q ,fi . 2 . Equação 8


 fi  
Fd  g   q .

Na Equação 8, ηfi é um fator de redução do valor de cálculo da ação total em situação de


incêndio (adimensional) e ξ é a relação entre os valores característicos da ação variável e
permanente (adimensional), dado pela Equação 9.
F qk
 Equação 9
F gk

Como alternativa, na ausência de qualquer solicitação gerada pelas deformações


impostas em situação de incêndio, as ações de cálculo em situação de incêndio podem
ser calculadas admitindo-as iguais a 70% das ações de cálculo à temperatura ambiente,
ou seja, ηfi = 0,70, tomando-se apenas as combinações de ações que não incluem o
vento, ou seja, pode-se empregar a Equação 10.
Fd,fi  0,70 Fd Equação 10

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Adotando os coeficientes indicados na Tabela 5, o fator de redução pode ser estimado
graficamente (Figura 3), para qualquer elemento estrutural, com base apenas nos dados
de projeto da situação normal.

0,9
 = 0,42 (depósitos, garagens)
 = 0,28 (edifício de escritórios, lojas)
 = 0,21 (edifícios residenciais)
0,8

0,7
 fi

0,6

0,5

0,4

0,3
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3

F /F fi em função da relação


Figura 10 - Variação do fator de redução
qk gk
.

4.3 Determinação do tempo de resistência ao fogo

A resistência ao fogo de um elemento construtivo é a propriedade de resistir à ação


térmica provocada pelo incêndio-padrão por um determinado período de tempo,
mantendo a sua segurança estrutural, isolamento e estanqueidade, onde aplicável. Para a
situação de incêndio, a resistência ao fogo das estruturas de concreto deve atender aos
critérios definidos pela ABNT NBR 15200:2012.
Neste trabalho, é analisada a resistência ao fogo dos elementos estruturais de concreto
apenas sujeitos à flexão simples para qual devem atender aos critérios de estabilidade,
estabelecidos pela Equação 11.

M Rd,fi  M Sd, fi Equação 11

Na Equação 11, MRd,fi é o momento fletor de cálculo resistente em situação de incêndio e


MSd,fi é o momento fletor de cálculo solicitante em situação de incêndio.
A Equação 11 pode ser reescrita no domínio do tempo, ou seja, a estrutura projetada para
a temperatura ambiente pode ser verificada para a situação de incêndio, obtendo-se o seu
tempo de resistência ao fogo (TRF). A segurança contra incêndio da estrutura é
considerada satisfatória quando é verificada pela Equação 12.

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TRF  TRRF Equação 12

Na Equação 12, TRF é tempo de resistente ao fogo e TRRF é o tempo requerido de


resistência ao fogo.
O valor de cálculo do momento fletor resistente em situação de incêndio é função do
campo de temperaturas das seções transversais das lajes, esse campo de temperaturas
depende do tempo de aquecimento. O tempo de resistência ao fogo (TRF) da seção
transversal da laje será o tempo em que ambos os momentos, solicitante e resistente, se
igualarem, conforme a Equação 13.

M Rd,fi  M Sd, fi Equação 13

Dividindo-se os termos da Equação 13 por MRd, encontra-se a Equação 14 e um


coeficiente redutor fi. Portanto, μfi é a razão entre o momento fletor de cálculo solicitante
em situação de incêndio e o momento fletor de cálculo resistente em situação normal.

M Rd,fi (t  TRF) M Sd,fi


μ fi   Equação 14
M Rd M Rd

O valor de MSd,fi pode ser facilmente determinado a partir da Equação 7 ou da Figura 10


apresentadas anteriormente. O valor de MRd é conhecido do projeto à temperatura
ambiente.
Os resultados da análise estrutural são os valores do momento fletor resistente em
situação de incêndio em função do tempo de aquecimento. Para cada campo de
temperaturas gerado pelo aquecimento da curva padronizada pela ISO 834, o momento
fletor resistente em situação de incêndio (MRd,fi) foi calculado para cada instante t.
Substituindo-se o símbolo MRd,fi pelo MSd,fi visto que ambos são iguais no TRF e dividindo
pelo momento resistente de cálculo à temperatura ambiente MRd, constroem-se as curvas
apresentadas na Figura 11.

1,0 1,0
Perfil n° 1 Perfil n° 2
0,9 0,9
0,8 0,8
0,7 0,7
μ,fi (MSd,fi / MRd)

μ,fi (MSd,fi / MRd)

0,6 0,6
0,5 0,5
0,4 0,4
0,3 0,3
0,2 0,2
0,1 0,1
0,0 0,0
30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180 30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180
TRF (min) TRF (min)

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1,0 1,0
Perfil n° 3 Perfil n° 4
0,9 0,9
0,8 0,8
0,7 0,7
μ,fi (MSd,fi / MRd)

μ,fi (MSd,fi / MRd)


0,6 0,6
0,5 0,5
0,4 0,4
0,3 0,3
0,2 0,2
0,1 0,1
0,0 0,0
30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180 30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180
TRF (min) TRF (min)

1,0 1,0
Perfil n° 5 Perfil n° 6
0,9 0,9
0,8 0,8
0,7 0,7
μ,fi (MSd,fi / MRd)

μ,fi (MSd,fi / MRd)

0,6 0,6
0,5 0,5
0,4 0,4
0,3 0,3
0,2 0,2
0,1 0,1
0,0 0,0
30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180 30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180
TRF (min) TRF (min)

1,0 1,0
Perfil n° 7 Perfil n° 8
0,9 0,9
0,8 0,8
0,7 0,7
μ,fi (MSd,fi / MRd)

μ,fi (MSd,fi / MRd)

0,6 0,6
0,5 0,5
0,4 0,4
0,3 0,3
0,2 0,2
0,1 0,1
0,0 0,0
30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180 30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180
TRF (min) TRF (min)

1,0 1,0
Perfil n° 9 Perfil n° 10
0,9 0,9
0,8 0,8
0,7 0,7
μ,fi (MSd,fi / MRd)

μ,fi (MSd,fi / MRd)

0,6 0,6
0,5 0,5
0,4 0,4
0,3 0,3
0,2 0,2
0,1 0,1
0,0 0,0
30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180 30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180
TRF (min) TRF (min)

Figura 11 - Coeficiente redutor  fi  M Sd , fi em função do tempo de resistência ao fogo para cada perfil.
M Rd

Várias das curvas apresentadas na Figura 11 são próximas, assim é possível construir um
gráfico único, como o apresentado na Figura 12.

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0,7
Perfil n° 1  = Perfil n° 2

0,6 Perfil n° 3 = Perfil n° 4

Perfil n° 5
0,5
Perfil n° 6
μ,fi = (Msd,fi / MRd)

Perfil n° 7 = Perfil n° 9
0,4
Perfil n° 8 = Perfil n° 10

0,3

0,2

0,1

0,0
30 45 60 75 90 105 120
TRF (min)

Figura 12 - Relação entre  fi  M Sd , fi e o tempo de resistência ao fogo.


M Rd

4.4 Aplicação
Analisar o tempo de resistência ao fogo de uma laje nervurada usada para garagem,
adotando-se: q = 3 kN/cm2, 2 = 0,42, sem revestimento e fatores de ponderação das
ações permanentes e variáveis à temperatura ambiente iguais a 1,4 e em situação de
incêndio iguais a 1,2 e 1,0, respectivamente.
Fqk
Para o perfil 1, tem-se o peso próprio igual a 1,93 kN/m2, portanto, = 1,55. Pela Figura
Fgk
M Sd
10 (ou Equação 8), tem-se fi = 0,52. Na prática, MSd < MRd. Admitindo-se 0,8 ≤ ≤
M Rd
MSd MSd,fi
0,95, resulta 0,42 ≤ μ fi  
fi ≤ 0,49. Por intermédio da Figura 12, encontra-se
M Rd M Rd
50 min ≤ TRF ≤ 55 min. Empregando-se o método tabular da ABNT NBR 15200:2012 a
laje com o perfil 1 não poderia ser usada para TRRF ≥ 30 min. Utilizando-se a mesma
sequência de cálculo para os demais perfis é possível construir a Tabela 6.

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Tabela 6 – TRF dos perfis
Fqk M Sd,fi MSd, fi
M
 fi  μ fi   Sd fi
Perfil Fgk M Sd M Rd M Rd TRF TRRF
(método gráfico) (NBR 15200)
(equação 8 ou figura 10)
0,8 ≤ M Sd ≤ 0,95
M Rd
1 1,55 0,52 0,42 – 0,49 50-55 <30
2 1,23 0,52 0,44 – 0,52 50-55 <30
3 1,49 0,52 0,42 – 0,50 48-52 30
4 1,08 0,57 0,45 – 0,54 46-50 30
5 1,38 0,53 0,43 – 0,51 57-62 60
6 1,03 0,57 0,46 – 0,55 59-65 60
7 1,04 0,57 0,49 – 0,55 62-68 60
8 0,82 0,61 0,48 – 0,58 64-70 60
9 0,82 0,61 0,48 – 0,58 60-65 60
10 0,68 0,63 0,50 – 0,60 63-70 60

Da Tabela 6, conclui-se que se empregado o método gráfico desenvolvido neste artigo, na


situação conforme enunciado do problema, pode-se, com raras exceções, encontrar-se
resultados mais econômicos do que os indicados no método tabular da ABNT NBR
15200:2012. Para MSd < 0,8 MRd ou sobrecargas maiores do que a aqui assumida, os
resultados serão mais econômicos ainda.

6 Conclusões
A ABNT NBR 15200:2012 fornece dimensões mínimas, por meio do método tabular, para
assegurar as duas funções, corta fogo e estrutural. A função corta fogo é garantida pela
espessura da capa, com ou sem revestimento. A função corta fogo não precisa ser
respeitada caso não haja exigência de compartimentação. A função estrutural é garantida
pela largura mínima da nervura e distância mínima entre CG da armadura e face exposta
ao fogo. Trata-se de um método bastante simples, mas ele não permite ao engenheiro
buscar alternativas de solução aos valores tabelados.
A partir de análise térmica e estrutural, empregando o método dos elementos finitos,
desenvolveram-se ferramentas gráficas, também simples, já adequadas à ABNT NBR
15200:2012 que permitem encontrar soluções estruturais alternativas para 10 perfis de
lajes nervuradas. O valor do tempo de resistência ao fogo (TRF) desses perfis é
facilmente determinado pelo método gráfico aqui proposto. Para que a função estrutural
em incêndio seja respeitada o valor encontrado do TRF deve ser maior ou igual ao tempo
requerido de resistência ao fogo (TRRF) fornecido na ABNT NBR 14432:2001 ou nas
Instruções Técnicas dos Corpos de Bombeiros do Brasil.

7 Agradecimentos
Agradece-se à FAPESP – Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, ao
CNPq – Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico e às indústrias

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de fôrmas para lajes nervuradas Astra S/A Indústria e Comércio, Atex do Brasil Ltda. e
Ulma Andaimes, Fôrmas e Escoramentos, Ltda.

8 Referências
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Ações e segurança nas
estruturas. NBR 8681. Rio de Janeiro: ABNT, 2003.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Componentes


construtivos estruturais: determinação da resistência ao fogo. NBR 5628. Rio de
Janeiro: ABNT, 2001.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Exigências de


resistência ao fogo de elementos construtivos das edificações. NBR 14432. Rio de
Janeiro: ABNT, 2001.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Projeto de estruturas de


concreto. NBR 6118. Rio de Janeiro: ABNT, 2007.

ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS (ABNT). Projeto de estruturas de


concreto em situação de incêndio. NBR 15200. Rio de Janeiro: ABNT, 2012.
COSTA, C. N.; Silva, V. Pignatta. Dimensionamento de lajes nervuradas de concreto
armado em situação de incêndio. Uma alternativa às tabelas da NBR 15200:2004. In:
anais do 49º Congresso Brasileiro do Concreto. Bento Gonçalves. IBRACON. 2007.
Fire Safety Design (FSD). TCD with Super Tempcalc. Lund: Fire Safety Design Ltd., 2000.

INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION. ISO 834: Fire resistance


tests: elements of building construction: part 1.1: general requirements for fire
resistance testing. Geneva, 1990. 25 p. Revisão da 1a. ed. ISO 834:1975.

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