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UNIVERSIDADE FEDERAL DO OESTE DA BAHIA

CENTRO DAS CIÊNCIAS EXATAS E DAS TECNOLOGIAS


CURSO DE GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL

ROTEIRO DE CÁLCULO E DETALHAMENTO DE UMA VIGA DE


MADEIRA

RAMON DE JESUS MIRANDA - 2017009918

BARREIRAS-BA
JULHO-2022
ROTEIRO DE CÁLCULO E DETALHAMENTO DE UMA VIGA DE
MADEIRA

Roteiro de cálculo e detalhamento de uma viga de


madeira apresentado como requisito para o componente
CET0094 – Estruturas de Madeira.

Professor: Felipe Ferreira Sousa Junior

BARREIRAS-BA
JULHO - 2022
RESUMO

O presente roteiro de cálculo e detalhamento trata-se de um trabalho acadêmico cujo


objetivo é descrever os critérios de cálculos de um elemento de madeira (viga), situada em
uma construção na cidade de Barreiras – BA em uma chácara à beira rio, e verificar o seu
dimensionamento e detalhamento levando em conta todos os critérios que foram pré-
estabelecidos.

Palavras-chave: Cálculo estrutural; Viga; Madeira.


SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 9
2. OBJETIVO E ESCOPO DO TRABALHO .............................................................. 9
3. DESCRIÇÃO DO PROJETO ................................................................................... 9
4. RESOLUÇÃO DA QUESTÃO PROPOSTA ......................................................... 10
5. REFERÊNCIAS ...................................................................................................... 17

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1. INTRODUÇÃO

A madeira vem sendo empregada na construção há bastante tempo, mesmo nos


dias atuais com a grande disseminação de estruturas de concreto e aço. Isso se dá
principalmente devido a sua durabilidade, segurança, manutenção e claro a sua
contribuição para uma indústria da construção civil mais limpa e sustentável.
Para termos um uso adequado desse material na construção civil se faz necessário
o desenvolvimento de um projeto estrutural adequado, sendo este uma das fases mais
importantes de um empreendimento, pois qualquer que seja o tamanho dessa edificação
é extremamente necessário atentar-se para a sua sustentação, afinal isso está diretamente
relacionado a fatores relevantes, como a segurança dos usuários e a redução dos custos
dessa obra.
Portanto, por meio desse roteiro de cálculo será feito o dimensionamento e
detalhamento de uma viga de madeira, estrutura essa necessária para a sustentação da
construção mencionada anteriormente, por meio de critérios e cálculos específicos, tendo
como referência todas as normas vigentes, além de aferir quais são as propostas para
tratamento da madeira, se necessário, e estabelecer qual será a tipologia de manutenção
aplicada a esse elemento levando e conta o tipo de construção adotado.

2. OBJETIVO E ESCOPO DO TRABALHO

Esse trabalho tem por objetivo realizar a aplicação prática de todo o conhecimento
teórico referente aos conceitos de projetos estruturais de madeira, serviços de
manutenção, dimensionamento de vigas de madeira, aplicando-os em um projeto de
edificação real, para assim termos conhecimento tanto da parte teórica quanto da
prática.

3. DESCRIÇÃO DO PROJETO

O presente projeto trata-se do dimensionamento e detalhamento de uma viga de


madeira em uma construção locada em uma chácara à beira rio na cidade de Barreiras -
BA. Para essa finalidade foi disponibilizado dois tipos de madeira, jatobá e pinho-do-
paraná, ambos de 2º categoria, e foi especificado que não há empresa na cidade para
realizar o tratamento nas mesmas.

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4. RESOLUÇÃO DA QUESTÃO PROPOSTA

Questão: Considere se tratar de uma viga retangular simples, de madeira maciça, já


aplainada, com vão livre teórico 𝑙0 = 3,50𝑚, e carga p característica uniformemente
distribuída de 1,5 kN/m. Considere também não haver patologia significativa em
nenhum dos trechos da viga, e que as fibras da madeira estão paralelas a maior direção
da peça. Considere para todos os casos que a viga se apoie diretamente sobre elemento
de concreto armado estrutural não impermeabilizado. Observe o modelo abaixo:

o Há dois tipos de madeira disponíveis para escolha: jatobá e pinho-do-


paraná;
o Nenhuma das madeiras está tratada e não há empresa que realiza
tratamento na cidade;
o A construção está sendo realizada na cidade de Barreiras;
o O local específico da construção é uma chácara à beira do rio;
o Toda opção de madeira é de 2º categoria;
o Metade da carga p indicada é permanente e o restante é acidental.

Conclui-se, portanto, que da carga p característica uniformemente distribuída de 1,5


kN/m teremos metade dela, 0,75 kN/m, como sendo uma carga permanente e a outra
metade, 0,75 kKN/m, como sendo uma carga variável.

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TABELA 1: VALORES MÉDIOS USUAIS DE RESISTÊNCIA E RIGIDEZ
Nome Nome Ρap fc0 ft0 ft90 fv Ec0 n
comum científico (Kg/m³) (Mpa) (Mpa) (Mpa) (Mpa) (Mpa)
Jatobá Hymenaea 1 074 93,3 157,5 3,2 15,7 23 607 20
spp
Pinho do Araucaria 580 40,9 93,1 1,6 8,8 15 225 15
Paraná angustifolia
Fonte: NBR7190

Inicialmente para critérios de cálculos vamos admitir uma seção comercial de 15x30cm
de madeira serrada.

𝑘𝑔 𝑚
Jatobá  1074 𝑚³ x 9.81𝑠² x (0,15 x 0,30) m² = 474,1173 N/m
𝑘𝑔 𝑚
Pinho do Paraná  580 𝑚³ x 9.81 𝑠² x (0,15 x 0,30) m² = 256,041 N/m

Com o peso próprio da madeira, foi demostrado acima que, dentre as opções disponíveis,
a que vai ser mais leve é a proveniente do Pinho do Paraná e por meio das tabeles de
preços ela também será a mais barata em relação ao jatobá. Logo será essa a madeira
utilizada.

Considerações de carga

Devido aos critérios de projeto e a localização da construção será admitido, em relação a


carga permanente, uma condição desfavorável de pequena variabilidade com uma
combinação normal. Dessa forma, por meio da NBR 7190 se fez possível obter o yg =
1,3.

P  0,75 kN/m = 750 N/m


Gk  (750+256,041) = 1006,041 N/m
YgGk = 1,3 x 1006,041 = 1307,85 N/m
Gk: valor característico da ação permanente

Para carga variável também vamos considerar combinação normal para obtermos o yq:

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P  0,75 kN/m = 750 N/m
Yq  1,4
YqQk = 1,4 x 750 = 1050 N/m
Qk: Ação acidental (variável)

Combinação:
Q = 1307,85 + 1050 = 2357,85 N/m = 2,35 kN/m

Contraflechas

Sempre que possível, em construções, as vigas de madeira devem ser feitas com uma
contraflecha, de modo a evitar os efeitos pouco estéticos de configurações deformadas
visíveis a olho nu. Porém, em vigas de madeira maciça, serradas ou lavradas, em geral,
não é possível preparar as peças com contraflechas.

Verificação de tensões em flexão simples

bh³ 15 𝑥 30³
I= = = 33,75 𝑐𝑚4
12 12

𝑏ℎ² 15 ∗ 30²
𝑊𝑒 = = = 2250 𝑐𝑚³
6 6

𝑄𝑙² 2,35 𝑥 3,5²


𝑀𝑑 = = = 3,6 𝑘𝑁𝑚
8 8

𝑀𝑑 360 𝑘𝑁
𝜎𝑐𝑑 = 𝜎𝑡𝑑 = = = 0,16 = 1,6𝑀𝑝𝑎
𝑊𝑒 2250 𝑐𝑚2
Onde:
I é o momento de inércia.
We é o módulo de resistência.
Md é o momento fletor solicitante de projeto.
𝜎𝑐𝑑 e 𝜎𝑡𝑑 são as tensões normais de flexão.

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Por meio da tabela 1 é possível obter os valores médios de resistência à compressão
paralela às fibras (fc0) e de resistência à tração paralela às fibras (ft0) da madeira
escolhida.
fc0 = 40,9 Mpa
ft0 = 93,1 Mpa

Em seguida é necessário transformar os valores acima, obtidos diretamente da NBR 7190,


para os valores de projeto:
fc0,k = 0,7 x 40,9 = 28,63 Mpa
ft0,k = 0,7 x 93,1 = 65,17 Mpa

Agora é necessário estabelecer o coeficiente de modificação (kmod) dado pela equação


abaixo:

𝚱𝒎𝒐𝒅 = Κ𝑚𝑜𝑑, 1 𝑥 Κ𝑚𝑜𝑑, 2 𝑥 Κ𝑚𝑜𝑑, 3

Levando em consideração a classe de carregamento e o tipo de material empregado


podemos determinar o Kmod, 1 por meio da NBR 7190:
o Carregamento de longa duração sendo o material a madeira serrada temos Kmod,
1 = 0,7.

Para o Kmod, 2 temos que levar em consideração a classe de umidade e o tipo de madeira:
o Na cidade de Barreiras – BA, segundo o site climate-data.org, a maior umidade
relativa do ar é em média 72,3% no mês de março, e levando em consideração que
a nossa construção será feita em um local próximo rio a evaporação da água tende
a ser maior e consequentemente nesse ambiente a umidade do ar é mais elevada
do que em locais afastados das correntes de água, devido a isso a umidade relativa
do ar foi majorada para 75%. Logo a classe de umidade será 3, 75% < Uamb ≤
85%, e com isso o Kmod,2 = 0,8.

O coeficiente parcial de modificação kmod,3 leva em consideração se a madeira é de


primeira ou segunda categoria, admite-se kmod,3 = 0,8 para madeira de segunda categoria
e 1,0 para a de primeira categoria. Além de que para coníferas na forma de peças
estruturais maciças de madeira serrada sempre deve ser tomado com o valor kmod,3 =

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0,8, a fim de se levar em conta o risco da presença de nós de madeira não detectáveis pela
inspeção visual:
o Madeira conífera de segunda categoria Kmod,3 = 0,8.

Logo:
Kmod = 0,7 x 0,8 x 0,8 = 0,448

Ainda, por meio da NBR 7190, podemos estabelecer os coeficientes de ponderação:


γwc = 1,4
γwt = 1,8

De posse desses valores podemos estabelecer as seguintes equações:


fc0, K 28,63
𝐟𝐜𝟎, 𝐝 = Kmod = 0,448 x = 9,16 Mpa
γwc 1,4

ft0, K 65,17
𝐟𝐭𝟎, 𝐝 = Kmod = 0,448 x = 16,22 Mpa
γwt 1,8

Para garantia de segurança, as tensões solicitantes de projeto devem ser menores que as
tensões resistentes. Portanto está OK.

Tensão de compressão normal à fibra, no ponto de atuação da reação de apoio ou


de cargas concentradas

𝑄𝑙 2,35 𝑥 3,5
𝑅𝑑 = = = 4,11 𝑘𝑁
2 2

𝑅𝑑
≤ 0,25𝑓𝑐𝑑
𝑏𝑐

Por meio dos valores da reação no vínculo (Rd) e do fcd podemos encontrar o valor
mínimo da área da seção transversal dos apoios:
4,11 𝑘𝑁
𝑏𝑐 ≥ = 17,95𝑐𝑚²
𝑘𝑁
0,25 𝑥 0,916
𝑐𝑚2

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Em que b e c são as dimensões da superfície de apoio. Além disso, vale ressaltar que os
acréscimos de tensões não se aplicam a áreas de apoio situadas nas extremidades da viga.

Tensão de cisalhamento paralelo às fibras

𝜏𝑑 ≤ 𝑓𝑣𝑑

Onde τd é a máxima tensão cisalhante de projeto e fvd é a tensão resistente de


cisalhamento paralelo às fibras, e são representados pelas seguintes equações:

0,7 𝑥 𝑓𝑣, 𝑚 0,7 𝑥 8,8


𝑓𝑣𝑑 = 𝑘𝑚𝑜𝑑 = 0,448 𝑥 = 1,53 𝑀𝑝𝑎
𝑦𝑤𝑣 1,8

3 𝑥 𝑅𝑑 3 𝑥 4110𝑁
𝜏𝑑 = = = 0,14𝑀𝑝𝑎
2 𝑥 𝑏ℎ 2 𝑥 150 𝑥 300 (𝑚𝑚2 )

fv,m é a é a resistência ao cisalhamento média.


Ywv é o coeficiente de ponderação.

Como a tensão resistente supera a tensão cisalhante de projeto para a seção retangular em
viga biapoiada então está OK. E com isso também podemos concluir que a viga 15x30
proposta inicialmente está de acordo com as solicitações.

Manutenção

A madeira, sendo um material de origem natural, pode apresentar grande


heterogeneidade em um mesmo elemento, além de que, a depender do seu uso, vai estar
em constante exposição a agentes que causam sua deterioração assim como a redução da
sua vida útil. Para contornar esses problemas podemos usar alguns mecanismos como
tratamentos preventivos ou até mesmo corretivos.
Antes de listar quais seriam esses tratamentos, vale ressaltar algumas
características importantes da madeira pinho-do-paraná:

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o É uma madeira que apresenta uma boa trabalhabilidade, seja com o uso de
ferramentas ou até mesmo manual, é fácil de colar e aceita bem acabamentos
superficiais, além de possuir uma boa facilidade de desdobrar aplainar e colar
permitindo, assim, um bom acabamento.
o A secagem ao ar livre é difícil, com tendências a distorções ou rachaduras. Já a
secagem na estufa precisa ser controlada cuidadosamente para garantir a obtenção
de uma madeira de qualidade. Além de que a mesma possui uma baixa resistência
ao apodrecimento e ao ataque de cupins e fungos.
Devido a isso, antes de tudo, é essencial fazer um projeto bem detalhado onde
estará previsto um determinado local para que essa peça de madeira esteja protegida das
incidências de raios solares e da própria chuva. Além disso recomenda-se, antes, durante
e depois da instalação do elemento de madeira realizar limpezas para remover toda a
sujeira presente na mesma para evitar acúmulos de umidade ou até de alguns insetos que
poderiam vir a danifica-la.
E para prolongar o máximo possível da vida útil desse material é recomendado
realizar a manutenção preventiva da madeira a cada 12 meses, a partir da instalação do
material:
o Lixamento de toda a peça para uniformiza-la e fazer a remoção de
partículas soltas.
o Aplicação de calafetação para termos uma uniformidade de toda a peça de
madeira e evitar poros (massa de calafetar);
o Realizar outo lixamento para nivelamento da massa de calafetação;
o Aplicar de duas a três demãos de stain (produto para proteção da madeira).

Stain trata-se de uma resina impregnante que também garante maior durabilidade
e longevidade à madeira. Além da função estética de ressaltar a tonalidade natural da
madeira, este produto é hidro-repelente, ou seja, repele a água, e combate a formação de
fungos (fungicida).
Sendo de fácil aplicação e manutenção, o stain não requer diluição, não deixa
bolhas e não trinca, uma vez que forma uma película muito mais fina do que o verniz, a
qual é rapidamente absorvida pela madeira. Portanto, este material, diferentemente do
anterior, não age formando uma camada de “filme” de proteção.
Acetinados, os stains agem realçando as fibras e os veios da madeira, o que mantém o
aspecto natural e rústico das peças, assim como a sua tonalidade original.

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REFERÊNCIAS

• PFEIL, W. Estruturas de Madeira. 6. ed. Rio de Janeiro: LTC (Grupo GEN),


2003.

• ABNT – ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, NBR


7190/1997 – Projeto de estruturas de madeira, Rio de Janeiro. 1997.

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