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22 FotoVolt - Novembro-Dezembro - 2020

Fator de desempenho:
Geração distribuída
Um dos grandes desafios
para o projetista de geradores

valores de projeto
fotovoltaicos é garantir a geração
projetada. Diversas variáveis
influenciam nas perdas de geração,

versus valores reais e a imprevisibilidade do recurso


solar impacta a avaliação. Este
trabalho comparou valores de um
ano de operação de nove sistemas
distribuídos na região Sul do
Brasil com os valores considerados
Luiz Alberto Wagner Pinto Jr. e Aline Cristina Pan, da Pontifícia
em projeto, com vistas a nortear
Universidade Católica do Rio Grande do Sul, Faculdade de Física. futuros empreendimentos.

A
expansão da utiliza- instalada em geração
ção de fontes energé- distribuída no País
ticas renováveis na alcance 11 GW, sendo
matriz elétrica impõe uma 86% disso de fonte
série de desafios, como a solar (figura 1). Esse
alocação de novas fontes número mostra a ace-
geradoras no sistema elé- leração exponencial
trico, a implementação de desse modelo de gera-
sistemas de proteção mais ção e, além disso, con-
complexos, e a elaboração firma a energia solar
de regulamentações ade- fotovoltaica como a
quadas ao novo modelo de escolha do mercado
geração, que tende a assu- para essa modalidade.
mir um caráter distribuído, Considerando esse
destoando do modelo atual cenário, é imperativo
de produção é centralizada. que haja confiabilida-
Dentro do cenário de geração dis- da matriz energética e redução dos de nos projetos fotovoltaicos, sobretudo
tribuída, a energia solar fotovoltaica se investimentos na expansão elétrica da no sentido de que as previsões de gera-
consolida no Brasil como a principal distribuidora. ção se aproximem dos resultados reais.
fonte energética (tabela I). Atualmente, A EPE - Empresa de Pesquisa Ener- Atualmente, dimensionar um sistema
99,9% das usinas e 97% da potência gética prevê que em 2029 a potência de energia solar fotovoltaica envolve
de geração distribuída conectada à grande número de incertezas, as quais
Tab. I – Unidades consumidoras com geração distribuída
redes é de fonte solar. se caracterizam em três grupos: perdas
(Aneel – www.aneel.gov.br – novembro 2020)
A geração distribuída, com a Consumidores que Potência
adicionais em campo, recurso solar, e
instalação de pequenos produtores Tipo Quantidade características do sistema elétrico (mó-
recebem os créditos Instalada (MW)
de energia em locais diversos pró- Hidráulica 33 5 533 22,76 dulos e inversor) [2]. Nesse contexto
ximos aos centros de consumo, de Eólica 65 128 14,91 de incertezas, vários fatores devem ser
forma geral traz benefícios para o Solar 332 215 413 913 4 033,89 analisados para um correto dimensio-
sistema elétrico: melhoria na qua- Térmica 271 4 747 85,87 namento da geração, como condições
lidade de energia, diversificação Total 332 586 424 323 4 157,44 atmosféricas (nebulosidade, temperatu-
FotoVolt - Novembro-Dezembro - 2020 Geração distribuiída 23

11 GW O fator de desem- Cada módulo fotovoltaico possui um


12 000
Fotovoltaica penho (FD) é defi- parâmetro de perda associado ao ex-
10 000 Eólica nido com base em cesso de temperatura. Para calcular
Capacidade instalada (MW)

Termelétrica quatro grandezas: a perda de potência, utilizam-se os


8 000 CGH
energia elétrica dados de temperaturas máximas para
Total PDE 2027
6 000 total produzida no cada mês do ano na localidade onde
4 000
período, potência está instalado o sistema fotovoltaico.
instalada, irradia- Considerando 25 °C como a máxima
2 000 ção total no plano diferença entre as temperaturas da
0 do período, e irra- célula e do ambiente, acrescentando
2019 2020 2021 2022 2023 2024 2025 2026 2027 2028 2029
diação de referên- a variação de temperatura em função
Fig. 1 - Projeção da evolução da geração distribuída no Brasil – Fonte: EPE (PDE 2029) cia dos módulos do tipo de instalação, podemos obter a
fotovoltaicos. Es- influência da temperatura na perda de
ra ambiente), climáticas (chuva média sas grandezas são definidas de acordo potência de cada módulo.
anual) ambientais (deposição de poei- com a equação (1). • Influência do sombreamento: o som-
ra), além de questões técnicas, como a Yf breamento afeta significativamente o
Fator de desempenho (FD) = (1)
eficiência dos módulos e inversores. Yr desempenho de um sistema fotovoltai-
Dentre os parâmetros que possibi- onde 𝑌𝑓 é a relação entre a energia fi‑ co. Uma pequena sombra em determi-
Ef
litam a avaliação da operação de uni- nal
Y f =
fornecida pelo sistema em um pe- (2) nado ponto do painel pode trazer um
dades geradoras fotovoltaicas, o fator P
ríodo idado de tempo 𝐸𝑓 e a potência grande prejuízo ao desempenho do
de desempenho [“perfomance ratio” em instalada
It 𝑃𝑖 (equação (2)), e 𝑌𝑟 é a rela- sistema. Normalmente as perdas as-
inglês] é um dos mais representativos. Y =
ção entre a irradiação total Y
nof plano 𝐼(3) sociadas ao sombreamento podem ser
=Y 𝑡e
r
Fator de desempenho (FD) (1)
FatorIRde desempenho (FD) = Yr
f
(1)
Este parâmetro relaciona a energia a irradiação de referência dos Yr módulos simuladas em softwares que calculam
produzida pelo gerador com a máxima Geração ideal (kWh)
fotovoltaicos = Qtd.𝐼dias
instalados ×
𝑅 (equação (3)). as perdas em diferentes horas do dia e
Ef
capacidade disponível, considerando Yf = Ef HSP × potência sistema (2)(4) épocas do ano.
Yf = Pi (2)
de forma global todas as perdas conti- P i • Influência da queda de tensão nos
das no processo de conversão da radia- It condutores: o dimensionamento dos
Yr = It (3)
ção solar em energia elétrica disponibi- Yr = IR (3) condutores dos geradores fotovoltaicos
IR
lizada na saída do sistema [3]. A potência instalada e a irradiação deve ser realizado de forma a otimizar
Geração ideal (kWh) = Qtd. dias ×
Este trabalho tem como objetivo de referência
Geração dos módulos
ideal (kWh) = Qtd. diassão
× obtidas o custo e também minimizar as perdas
HSP × potência sistema (4)
avaliar o fator de desempenho de nove diretamente das HSPfolhas técnicas
× potência de da-
sistema (4) por queda de tensão, que em alguns
sistemas de geração distribuída foto- dos nos memoriais dos projetos ana‑ arranjos de potência elevada podem
voltaicos instalados no Estado do Rio lisados. A radiação total no plano é ser significativas.
Grande do Sul. Para tanto, realizou-se obtida com o software Radiasol 2 [4]. • Influência da obstrução da luz por
a comparação dos valores obtidos da A energia produzida foi obtida por sujeira, poeira, dejetos de animais: este
operação desses sistemas, no período meio de monitoramento remoto, via fator deve sempre ser considerado
entre janeiro a dezembro de 2017, com plataforma do fabricante dos inverso- pelo projetista em locais com maior
valores considerados em projeto. Essa res de cada unidade geradora. O FD tendência de obstrução. Em regiões
comparação tem o objetivo de nortear de projeto foi obtido a partir dos dados com maiores índices de chuva a influ-
futuros projetos na região sul do Brasil. de produção estimada nos projetos, ência é menor, por causa da limpeza
enquanto o FD real foi obtido pela me- natural dos módulos.
dição da energia produzida. • Influência do rendimento do inversor:
Metodologia devem sempre ser consideradas no
Para a realização do estudo, foi uti- projeto as perdas decorrentes da efici-
lizado o método de avaliação do fator
Determinação do fator ência do inversor, as quais variam de
de desempenho real (FDR) e o fator
de desempenho equipamento para equipamento e estão
de desempenho de projeto (FDP), com O desempenho de projetos fotovol- muito relacionadas com a tensão c.c..
periodicidade mensal, comparando os taicos pode ser avaliado sob várias mé- De forma a obter o fator de desem-
dados reais de geração entre janeiro tricas, de acordo com a IEC 61724. Os penho de cada um dos projetos aqui
e dezembro de 2017, sendo adotado fatores mais representativos são: analisados, foram realizados cálculos
para o cálculo do FDR o método aceito • Influência da temperatura: O aqueci- com base no software Isolergo [5].
globalmente proposto pela norma IEC mento das células solares fotovoltaicas Apresenta-se a seguir o procedimento
61724 - Photovoltaic System Performance. contribui para a perda na potência. realizado para um desses projetos,
24 Geração distribuiída FotoVolt - Novembro-Dezembro - 2020

ao norte e a inclina- Tab. II – Irradiação no gerador 1


ção são informações Mês
Global Direta Difusa Inclinada
(kWh/m²) (kWh/m²) (kWh/m²) (kWh/m²)
fundamentais para
1 6,3 3,42 2,88 6,3
a obtenção da irra-
2 5,56 2,97 2,69 5,66
diação no plano dos
3 4,82 2,84 2,24 5,08
módulos fotovol- 4 3,56 2 1,87 3,88
taicos. 5 2,9 1,79 1,5 3,28
A potência di- 6 2,29 1,12 1,5 2,62
mensionada para 7 2,51 1,33 1,53 2,86
o sistema é fun- 8 3,17 1,73 1,77 3,5
damental para a 9 3,97 1,98 2,26 4,23
avaliaçãoYf efetiva do 10 4,98 2,5 2,64 5,15
Fator de desempenho (FD) = (1) 11 6 2,94 3,13 6,06
Fig. 2 – Localização do sistema gerador 1 fator deYdesempe-
r 12 6,41 3,32 3,05 6,36
nho. Para o gerador
Eéf de 15,9 kW. A geração ideal sem Fonte: Radiasol2 [4]
aqui denominado “gerador 1”. A figu- 1, ela
Yf = (2)
ra 2 mostra a localização geográfica do perdasPi (kWh) é calculada em função da tabela III é possível verificar o impacto
gerador 1 e a figura 3, uma vista geral potência
It do sistema e do número médio da temperatura nessas grandezas e,
da instalação. A modelagem do local é der horas de sol pico (HSP) para cada (3)
Y = por consequência, no desempenho do
IR
entrada do software para a determina- mês, determinada pela equação (4). sistema gerador 1.
ção do sombreamento. Geração ideal (kWh) = Qtd. dias ×
A tabela II apresenta a irradiação na HSP × potência sistema (4) Tab. III – Influência da temperatura no projeto do gerador 1
Temperatura Temperatura Perda de Perda de Ganho
orientação e inclinação, no local do ge- As perdas por temperatura (%) Mês
máxima calculada potência tensão de ISC
rador 1. O posicionamento em relação são dadas em função da temperatura
Jan. 27 °C 31 °C -12,71% 9,61% 1,64%
máxima média de Fev. 28 °C 32 °C -13,12% 9,92% 1,70%
cada mês, percen- Mar. 26 °C 30 °C 12,30% 9,30% 1,59%
tual de perda de Abr. 24 °C 28 °C -11,48% 8,68% 1,48%
potência, tensão e Mai. 22 °C 26 °C -10,66% 8,06% 1,38%
corrente de curto- Jun. 18 °C 22 °C -9,02% 6,82% 1,17%
circuito (ISC) do Jul. 18 °C 22 °C -9,02% 6,82% 1,17%
módulo fotovoltai- Ago. 20 °C 24 °C -9,84% 7,44% 1,27%
co utilizado, e tipo Set. 22 °C 26 °C -10,66% 8,06% 1,38%
de telhado que Out. 24 °C 28 °C -11,48% 8,68% 1,48%
está recebendo Nov. 26 °C 30 °C -12,30% 9,30% 1,59%
Fig. 3 – Vista da instalação do gerador 1 a instalação. Na Dez. 26 °C 30 °C -12,30% 9,30% 1,59%
26 Geração distribuiída FotoVolt - Novembro-Dezembro - 2020

As perdas por som- 80 21 de junho


por leitura do inversor;
breamento são calcu- 20 de março energia estimada em pro-
21 de dezembro
ladas por simulação 70 Ângulo de visão jeto; energia máxima, dada
computacional com o 60 pela radiação multiplicada
software Isolergo [5], em pela potência instalada.

Zênite solar
50
que são avaliados todos Em seguida, são mostrados
os obstáculos e sua 40 os fatores de desempenho,
respectiva interferência o de projeto e o real, rela-
30
na geração. No caso do cionando a geração esti-
gerador 1, não há obs- 20 mada máxima e a energia
táculo relevante no ho- 10
efetivamente produzida.
rizonte norte que possa
0
trazer sombra para o -180 -165 -150 -135 -120 -105 -90 -75 -60 -45 -30 -15 0 15 30 45 60 75 90 105 120 135 150 165 180

arranjo fotovoltaico em Azimute em relação ao horizonte Resultados


qualquer época do ano, Fig. 4 – Impacto do sombreamento no gerador 1 (dados Isolergo [5]) A todas as nove unida-
e assim a perda por des geradoras foi aplicado
sombreamento é nula, como mostra a Para finalizar o projeto, é importan- o mesmo procedimento já detalhado
figura 4. O eixo X nessa figura repre- te considerar “‘outras perdas”. Neste aqui para o gerador 1, obtendo-se
senta o azimute, ângulo medido em re- caso, são consideradas perdas nos assim um comportamento típico dos
lação ao horizonte, enquanto o eixo Y condutores c.c. e c.a. e perdas de aco- geradores. A figura 5 representa o
representa o zênite solar do obstáculo. plamento (mismatch). As perdas somatório de todos os projetos em
A perda associada ao rendimento nos condutores se dá pelo efeito Joule relação às características avaliadas, e
do inversor, dado na folha de dados e as perdas de acoplamento são fun‑ seu objetivo é demonstrar o desempe-
do inversor especificado, é 2,5% para o ção das diferenças nas características nho médio dos nove sistemas gera‑
gerador 1. elétricas dos módulos (curvas IV). Em dores. Além disso, os resultados re-
As perdas por sujeira variam de acor‑ todos os projetos aqui analisados foi velam uma aproximação importante
do com o local de instalação dos módu‑ definido um valor de 2% para “outras dos fatores de desempenho de cada
los. As referências [6] e [7] recomendam perdas”. Assim, considerando todas as instalação. É possível observar que a
considerar 7% de perdas por sujeira. No variáveis de projeto, obtêm-se as ca‑ energia máxima que esses geradores
entanto, esse parâmetro depende muito racterísticas dos geradores (energia). poderiam gerar é de 160 MWh em um
do índice pluviométrico, assiduidade da A tabela IV mostra as características ano. No entanto, considerando o fator
limpeza e presença acentuada de fontes dos do gerador 1. de desempenho de projeto, a perspec-
de sujeira. Em [2], as perdas variam de 0 A tabela V apresenta os dados ob- tiva de geração é de aproximadamente
a 4%, em locais com chuvas periódicas, tidos para um gerador com 15,9 kW 124,52 MWh, enquanto o realizado foi
indo até 25% em locais áridos e secos. de potência instalada: radiação mensal de 122,01 MWh.
Nos projetos aqui analisados, foi consi- média para a região; energia
Tab. V – Comparação do fator de desempenho de projeto com o real
derado o valor de 7%. produzida mensalmente, obtida
calculado
Tab. IV – Dados de geração considerando as perdas de rendimento no gerador 1 Energia Energia Energia
Radiação FD FD
Mês produzida estimada máxima
Irradiação Geração Perdas por Perdas Perdas Fator de Energia (kWh) (projeto) (IEC 61724)
Perdas por Outras (MWh) (MWh) (MWh)
Mês Inclinada ideal mês sombrea‑ no por desempenho real
temperatura perdas Jan. 194,99 2,30 2,35 3,10 75,79% 74,19%
(kW/m²) (kWh) mento inversor sujeira desejado (kWh)
Jan. 6,30 3105,27 -12,71% 0,00% -2,50% -7,00% -2,00% 75,79% 2353 Fev. 158,48 2,24 1,90 2,52 75,38% 88,97%
Fev. 5,66 2519,83 -13,12% 0,00% -2,50% -7,00% -2,00% 75,38% 1899 Mar. 158,10 2,13 1,91 2,51 76,20% 84,77%
Mar. 5,08 2503,93 -12,30% 0,00% -2,50% -7,00% -2,00% 76,20% 1907 Abr. 117,30 1,53 1,43 1,87 77,02% 82,21%
Abr. 3,88 1850,76 -11,48% 0,00% -2,50% -7,00% -2,00% 77,02% 1425 Mai. 102,30 0,98 1,26 1,63 77,84% 59,95%
Mai. 3,28 1616,71 -10,66% 0,00% -2,50% -7,00% -2,00% 77,84% 1258 Jun. 78,90 1,07 0,99 1,25 79,48% 85,28%
Jun. 2,62 1249,74 -9,02% 0,00% -2,50% -7,00% -2,00% 79,48% 993 Jul. 89,59 1,40 1,12 1,42 79,48% 98,39%
Jul. 2,86 1409,69 -9,02% 0,00% -2,50% -7,00% -2,00% 79,48% 1120 Ago. 109,12 1,48 1,36 1,74 78,66% 85,25%
Ago. 3,50 1725,15 -9,84% 0,00% -2,50% -7,00% -2,00% 78,66% 1357 Set. 127,50 0,99 1,57 2,03 77,84% 48,86%
Set. 4,23 2017,71 -10,66% 0,00% -2,50% -7,00% -2,00% 77,84% 1570 Out. 159,34 2,01 1,96 2,53 77,02% 79,22%
Out. 5,15 2538,43 -11,48% 0,00% -2,50% -7,00% -2,00% 77,02% 1955 Nov. 181,2 2,38 2,20 2,881 76,20% 82,71%
Nov. 6,06 2890,62 -12,30% 0,00% -2,50% -7,00% -2,00% 76,20% 2202 Dez. 197,78 2,48 2,39 3,144 76,20% 78,93%
Dez. 6,36 3134,84 -12,30% 0,00% -2,50% -7,00% -2,00% 76,20% 2388 Média 139,55 1,75 1,70 2,22 77,26% 79,06%
28 Geração distribuiída FotoVolt - Nov-Dez - 2020

25 100
91,01%
90
80,92% 80,03% 79,92%
78,26% 77,01% 77,33% 78,23% 77,45% 80
20 75,72% 79,72%
78,36%
76,37%
76,93% 78,15%
77,75% 74,10% 75,80% 77,63% 75,53% 75,73%
75,62% 76,16% 75,48% 70

Fator de desempenho (%)


15 60,22% 61,95% 60

Energia (MWh)
50

10 40

30

5 20

10

0 0
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro Média
Energia máxima (MWh) Energia estim.(MWh) Energia produzida (MWh) Média FD projeto Média FD real FD (projeto) FD (IEC 617124) - real

Fig. 5 – Energia total produzida pelos nove geradores e a média de desempenho

A tabela VI apresenta os fatores de energia produzida e potência insta-


desempenho projetados e reais das lada. Constatou-se que a potência
nove unidades geradoras. O valor do instalada estava de acordo, a energia
fator de desempenho real se apresen- produzida também, e a irradiação nos
tou elevado no mês de julho, o que módulos era constante e também esta-
pode ser atribuído às baixas tempera- va correta. Atribuiu-se essa discrepân-
turas. Mas todos os geradores apresen- cia a possíveis erros na determinação
taram fator de desempenho elevados. da irradiação neste período.
Usualmente, os valores do fator de Para a definição dos fatores de de-
desempenho não ultrapassam 90% [8], sempenho real foram utilizados dados
mas aqui verificaram-se vários regis- dos recursos solares do software Radia-
tros acima desse número. Um deles foi sol [4]. A figura 6 mostra cinco meses
inclusive superior a 106%, associado à do ano com dados médios de fator de
ocorrência de uma irradiação real mui- desempenho de projeto muito próximos
to acima da irradiação média utilizada aos dados médios reais; outros cinco me-
para fins de cálculo. Foram verificados ses com valores médios superiores aos
então os valores utilizados na equação: reais; e dois meses com valores de pro‑
irradiação, irradiação dos módulos, jeto abaixo da média dos fatores reais.

Tab. VI – Fatores de desempenho reais e projetados das nove unidades geradoras (em %)
Gerador FD Jan. Fev. Mar. Abr. Mai. Jun. Jul. Ago. Set. Out. Nov. Dez.
Real 74,2 89,0 84,8 82,2 59,9 85,3 98,4 85,2 48,9 79,2 82,7 78,9
1
Proj. 75,8 75,4 76,2 77,0 77,8 79,5 79,5 78,7 77,8 77,0 76,2 76,2
Real 81,4 82,1 84,8 74,2 57,7 76,9 90,3 78,2 63,2 76,5 80,7 81,2
2
Proj. 71,9 74,2 79,8 81,7 78,2 71,0 67,8 81,7 82,3 72,3 78,3 81,8
Real 72,2 80,4 65,9 74,5 64,6 59,8 84,8 67,7 60,9 72,6 69,5 73,4
3
Proj. 76,5 75,1 75,4 75,0 75,6 77,5 79,1 78,5 77,6 77,7 77,0 77,0
Real 77,7 89,6 84,5 80,8 62,0 86,0 85,5 81,6 64,2 74,9 83,7 71,6
4
Proj. 72,6 82,6 79,5 75,8 62,0 79,0 79,5 76,6 64,2 71,9 75,9 71,6
Real 61,6 66,2 61,7 47,5 45,7 51,8 73,2 60,4 44,9 42,9 56,5 54,4
5
Proj. 72,5 71,1 72,4 71,0 71,6 72,5 73,1 72,5 72,6 72,7 73,0 73,0
Real 71,4 74,4 79,8 76,7 52,8 73,2 88,7 75,8 59,8 67,9 75,2 71,2
6
Proj. 76,3 76,4 77,7 79,0 80,1 82,0 81,7 79,7 78,0 76,0 75,0 75,2
Real 77,0 89,4 81,1 78,3 55,7 75,7 92,8 82,8 67,8 78,7 91,6 84,9
7
Proj. 70,3 71,0 75,1 78,9 76,5 73,5 71,3 80,0 81,5 74,7 75,6 79,0
Real 78,1 75,5 83,0 70,0 62,2 75,0 84,9 87,0 71,5 85,2 86,0 77,5
8
Proj. 76,7 76,5 76,6 77,2 77,4 79,3 79,7 79,1 77,1 77,9 77,6 77,4
Real 62,0 71,3 76,7 70,1 64,5 81,0 106,2 96,5 71,2 67,8 68,9 61,3
9
Proj. 76,5 74,7 74,2 70,7 70,4 71,0 71,1 77,6 72,5 77,5 79,5 79,3
30 Geração distribuiída FotoVolt - Novembro-Dezembro - 2020

110% primeiras horas da manhã, resul-


tando em considerável perda no
100%
período. Neste caso ocorreu uma
90% falha de projeto, com avaliação
de sombreamento inadequa-
80%
da para a situação. A figura 8
70% apresenta um dia de produção
ideal do autoprodutor 1, quando
60% foram produzidos 100,41 kWh.
50%
Considerando que a irradiação
para o local que é 159,34 kWh/m²
40%
Janeiro Fevereiro Março Abril Maio Junho Julho Agosto Setembro Outubro Novembro Dezembro
mensais, é possível calcular em
Média FD proj. Média FD real Incidência 01 Incidência 02 Incidência 03 Incidência 04 92% o fator de desempenho para
Incidência 05 Incidência 06 Incidência 07 Incidência 08 Incidência 09 condições ideais de irradiação
Fig. 6 – Fatores de desempenho durante o ano de 2017 das nove unidades geradoras Na figura 9 é apresentada a
energia produzida pelo mesmo
5
O autoprodutor 5 autoprodutor 1, porém num dia enco-
4 apresentou o menor berto, com total de 37,64 kWh. Consi-
Produção projetada FD médio. A figura 7 derando a irradiação para o local, que é
apresenta o padrão tí‑ 159,34 kWh/m² mensais, obtém-se fator
Potência (kW)

3
Perda por
sombreamento pico de produção deste de desempenho de 30,37% nesse dia.
2
gerador. Como pôde ser observado no pro-
1 Observa-se que, cesso, a incerteza do recurso solar é o
devido à característica principal ponto de discrepância sazo-
0
Set. 02 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 dessa instalação, existe nal no FD dos sistemas. Segundo [2], é
Período (h) uma grande área de possível atribuir uma incerteza de até
Fig. 7 – Produção projetada e produção real do gerador 5 (fonte: Solar.web Fronius) sombreamento nas 10% nos resultados obtido para este

14

12

10
Potência (kW)

0
Out. 31 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00 21:00

(a)
Período (h) ( b)
Fig. 8 – a) Dia de produção ideal (Solar.web Fronius); b) Imagem de satélite dia 31/10/2017 – 13:26 GOES 16 Canal _2 (copyright 2010-2012 EUMETSAT) [9]

9
8
7
6
Potência (kW)

5
4
3
2
1
0
Nov. 03 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00
(a) Período (h) ( b)
Fig. 9 – a) Produção de energia em 03/11/2017 (Solar.web Fronius); b) Imagem de satélite dia 03/11/2017 – 13:26 GOES 16 Canal _2 (copyright 2010-2012 EUMETSAT) [10]
32 Geração distribuiída FotoVolt - Novembro-Dezembro - 2020

recurso, o que de fato pode preju- 3,5


nária, fundamentalmente
dicar a avaliação. Uma das soluções 3,0 por sobretensão ou subten-
possíveis para uma análise mais 2,5
são. Esse parâmetro não é
exata é a instalação de um piranô- considerado no projeto, mas

Potência (kW)
metro e uma avaliação do fator de
2,0
possui um determinado
desempenho do sistema em tempo 1,5 peso no dimensionamento
real, considerando o recurso solar 1,0
da geração e pode ser leva-
instantâneo. Dado que o projeto do em consideração no item
0,5
leva em consideração as perdas “outras perdas”.
de desempenho por temperatura, 0 A incerteza associada à
Abr. 09 06:00 09:00 12:00 15:00 18:00
sombreamento, sujeira, eficiência Período (h) disponibilidade de recurso
de inversores e queda de tensão, é Fig. 10 – Perda de geração de energia por problemas de tensão na rede da solar com os dados his-
possível afirmar que os geradores concessionária (fonte: Solar.web Fronius) tóricos disponibilizados pelo
com desvio de mais de 10% do fator SWERA - Solar and Wind Energy
de desempenho possuem problemas de as incertezas do recurso solar, pode-se Resource Assessment contribui para um
dimensionamento de projeto, ou então afirmar que o valor ficou dentro do afastamento da situação projetada ver-
problemas inerentes à instalação. esperado. Concluiu-se que os projetos sus a realizada. Por esse motivo, seria
Também foram observados pro- com maior discrepância de desempe- importante realizar o mesmo estudo
blemas na rede da concessionária que nho estão associados as perdas por com dados instantâneos de irradiação
acarretaram desligamentos não progra- sombreamento. Este é um parâmetro no local da instalação. O fator de de-
mados do inversor, principalmente para difícil de ser projetado devido às condi- sempenho de geradores fotovoltaicos
o autoprodutor 9. A figura 10 mostra o ções sazonais do posicionamento do Sol no Brasil varia entre 70 e 80% para
perfil de produção de um dia desse ge- e da variação do impacto de obstáculos sistemas ventilados e não sombreados,
rador com disponibilidade abundante vizinhos em todas as épocas do ano. segundo [11]. Em [8], se relata fator de
do recurso solar, onde é possível ob- O gerador 5 apresentou uma perda desempenho na Europa em torno de
servar vários eventos de desligamento por sombreamento maior do que os 8% 85%. Lima et. al. [12] encontraram fa-
do inversor por sobretensão. considerados no projeto. Como solução, tor de desempenho de 82,9% no Ceará,
será refeito o arranjo de MPPT (segui- Brasil. Entretanto, o trabalho conside-
dor de ponto de máxima potência do rou um plano horizontal. Fazendo-se
Conclusões inversor), de forma a diminuir o impac- uma extrapolação para a irradiação no
Para os nove geradores analisados, o to do sombreamento na geração do sis- plano da instalação, o valor do fator de
fator de desempenho médio projetado tema. Alguns geradores tiveram perdas desempenho nesse local seria de 77%.
era de 77,45%, e o fator de desempenho de geração em função da indisponibili- Considerando os dados levantados
médio real foi de 75,73%. Considerando dade temporária da rede da concessio- de fator de desempenho no Brasil [11]
FotoVolt - Novembro-Dezembro - 2020 Geração distribuiída 33

entre 70 e 80%, os resultados obtidos de Energia 2029. Disponível em https://www. newable and Sustainable Energy Reviews”,
nessa amostra de nove prossumido- epe.gov.br/pt/publicacoes-dados-abertos/ 2017.
publicacoes/plano-decenal-de-expansao-de- [7] Fraga, Mariana Myriam; Campos, Bruno La-
res demonstram satisfatoriamente as
-energia-2029 cerda O.; Almeida, Tiago B.; Fonseca, Juliano
condições de perdas de eficiência de
[2] Oliveira, Luís Guilherme Monteiro; Corrade, Marcial F.; Cunha Lins, Vanessa de Freitas:
sistemas fotovoltaicos instalados no Thales José Rodrigues; Ceolin, Renato Diniz Analysis of the soiling effect on the performance of
Sul do País, e tornam evidente que Werneck; Piterman , Alexandre Schichman; photovoltaic modules on a soccer stadium in Mi-
esse parâmetro pode ser considerando Boaventura , Wallace do Couto; Mendes, nas Gerais, Brazil, “Solar Energy”, 2018.
para novos estudos e projetos. Na com- Victor Flores; Cardoso , Eduardo Nohme; [8] Reich, Nils H.; Mueller , Bjoern; Armbruster,
paração com sistemas europeus, fica Macêdo, Wilson Negrão; Buiatti, Gustavo Ma- Alfons ; van Sark, Wilfried G. J. H. M.; Kie-
lagoli; Menezes, Alex Vilarindo; Lopes, Bruno fer, Klaus; Reise, Christian: Performance ratio
claro que os nossos projetos são mais
Marciano: Propagação de incertezas na estimativa revisited: is PR>90% realistic? 26ª EU PVSEC,
afetados por condições de temperatura da geração de energia de sistemas fotovoltaicos Hamburgo, Alemanha, 2011.
e, com isso, apresentam um fator de (Metodologia de cálculo). “Revista Brasileira de [9] http://satelite.cptec.inpe.br/repositorio1/
desempenho menor. Energia Solar”, Ano 7, Volume VII, Número 1, goes16/goes16_web/ams_ret_ch2_bai-
Através desse estudo é possível julho de 2016, pp.58-65. xa/2017/10/S11635366_201710311230.jpg
fazer uma avaliação dos parâmetros [3] Khalid, A. M.; Mitra, I.; Warmuth W.; Schacht [10]http://satelite.cptec.inpe.br/repositorio1/
V.: Performance Ratio – Crucial parameters for goes16/goes16_web/ams_ret_ch2_baixa/
utilizados para a elaboração de um
grid connected PV plants. “Renewable and 2017/11/S11635366_201711031315.jpg
projeto e tentar aproximar essas métri- Sustainable Energy Reviews” 65 (2016), pp. [11]Pinho, João Tavares; Galdino, Marco Antonio:
cas das situações de campo, obtendo 1139-1158. Manual de Engenharia para Sistemas Fotovol-
projetos mais confiáveis, com menor [4] UFRGS: Software Radiasol 2, disponível em taicos. Cepel – Cresesb, março de 2014.
incerteza de geração. http://www.solar.ufrgs.br/ [12]Lima, Lutero Carmo; Ferreira, Leonardo
[5] Electro – Electro Graphics isolergo – software Araújo; Lima Morais, Francisco Edler Barreto:
para projetos fotovoltaicos, em: http://www. Performance analysis of a grid connected photovol-
electrographics.it/. taic system in Northeastearn Brazil. “Energy For
Referências [6] Fouad, M.M.; Shihata, Lamia A.; Morgan, El- Sustainable Development”, 2017.
[1] Ministério de Minas e Energia – Empresa de Sayed I.: An integrated review of factors influen-
Pesquisa Energética: Plano Decenal de Expansão cing the performance of photovoltaic panels. “Re-

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