Impactos na geração de energia utilizando módulos bifaciais

com alterações de albedo e temperatura ambiente

Bruno Souza Rocha Lindomar Santana de Melo Júlio Cesar Bento

FEEC – UNICAMP FEEC – UNICAMP FEEC – UNICAMP
São Paulo, Brasil Paulo Afonso, Brasil São Paulo, Brasil
brunorocha_6@hotmail.com lsmelo@chesf.gov.br juliobento9131@gmail.com

Victor Soares Lucas Valosio Rebelo

FEEC – UNICAMP FEEC – UNICAMP
São Paulo, Brasil São Paulo, Brasil
victorklg@gmail.com lucasrebelo@hotmail.com

Abstract— The significant increase in installations of
Photovoltaic Systems Connected to the Electricity Grid
(SFVCR) occurred after the publication of Normative
Resolution No. 482/2012 of the Agência Nacional de
Energia Elétrica (ANEEL), which defined the guidelines
for the connection and use of photovoltaic sources
connected to the conventional grids. Across the entire
Brazilian territory, solar radiation is higher than in
European countries. However, Brazil is not yet in a state
of technological excellence, research and energy
generation. Some factors can contribute to increasing the
efficiency of an SFVCR. Among them are the inclination
of the modules facing North and the use of bifacial module
technology that produce energy by collecting radiation
and solar radiation through the rear and front faces. The
arrival of the technology of bifacial modules contributes
incisively in reducing the area used in the installation, as
it takes advantage of the Albedo effect to also generate
energy. The need to perform computational simulations
with reliability, using consolidated and validated
mathematical models, can be performed by PVSYST. In
this study, simulations were carried out in the PVSYST
software in order to investigate the change in energy
generated by the photovoltaic system with the change in
albedo and variation in ambient temperature. It was
found that the impact of albedo in the simulations carried
out provided Albedo gains in the order of 15% to 30%,
for gains in generated energy in the order of 1.77%, and
when simulated with temperature variation, they
generate gains in the order of 1.73%. In order to
consolidate the real simulations, it is useful to add the
seasonal climate factor in long periods of observation and
data collection. Testing Albedo gains from surfaces in
real-world cases may have different results, therefore,
does not provide a true indication of how Albedo gains
vary and possibly deteriorate over time.
Keywords—photovoltaic generation, simulation with
PVSYST.
Resumo— O expressivo aumento de instalações de Sistemas
Fotovoltaicos Conectados à Rede Elétrica (SFVCR) ocorreu
após a publicação da Resolução Normativa nº 482/2012 da
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) que definiu
as diretrizes para a conexão e uso das fontes fotovoltaicas
conectadas às redes convencionais. Em todo o território
brasileiro, as radiações solares são superiores a países
europeus. Porém, o Brasil ainda não se encontra em estado de
excelência tecnológica, pesquisa e de geração de energia.
Alguns fatores podem contribuir para o aumento da eficiência
de um SFVCR. Dentre eles estão a inclinação dos módulos
voltados ao Norte, a utilização da tecnologia de módulos
bifaciais que produzem energia recolhendo a radiação e a
irradiação solar através das faces traseiras e frontais. A
chegada da tecnologia dos módulos bifaciais contribui de
forma incisiva na redução da área utilizada na instalação já
que aproveita o efeito Albedo para, também, gerar energia.
A necessidade de realizar simulações computacionais com
confiabilidade, utilizando os modelos matemáticos
consolidados e validados, pode ser executado pelo PVSYST.
Neste estudo foram realizadas simulações no software
PVSYST visando investigar a alteração na energia gerada
pelo sistema fotovoltaico com a mudança do albedo e
variação na temperatura ambiente. Verificou-se que o
impacto do albedo nas simulações realizadas, proporcionou
ganhos de Albedo na ordem de 15% a 30%, para ganhos em
energia gerada da ordem de 1,77%, e quando simuladas com
variação de temperatura geram ganhos na ordem de 1,73%.
Para consolidar as simulações reais, convém adicionar o fator
climático sazonal, em longos períodos de observação e coleta
de dados. Testar um ganho de Albedo de uma superfície em
caso real poderão ter resultados diferentes, portanto, não
fornece uma indicação verdadeira de como os ganhos de
Albedo variam e possivelmente se deterioram com o tempo.
I. INTRODUÇÃO
A publicação da Resolução Normativa nº 482/2012 da
Agência Nacional de Energia Elétrica (ANEEL) definiu as
diretrizes para a conexão e uso das fontes fotovoltaicas
conectadas às redes convencionais. Desde então segundo
(VALPECOVSKI URBANETZ et al., 2018) , os Sistemas
Fotovoltaicos Conectados à Rede Elétrica (SFVCR) puderam
figurar como uma opção importante de produção de energia
elétrica de forma sustentável. No caso dos sistemas SFVCR,
quando trabalham no modo “ongrid” aproveitam toda a
energia gerada, pois quando o consumo local não absorve a
geração a energia é injetada na rede e em momento posterior
(com escassez de energia gerada) aquela é consumida e
abatida em forma de compensação similarmente ao
“netmetering”. Assim a rede da concessionária funciona como
uma armazenadora nos picos de produtividade e fornecedora
nos períodos do dia sem geração. Ainda de acordo com
(VALPECOVSKI URBANETZ et al., 2018) o crescimento da
utilização dos SFVCR se deu de forma tímida nos primeiros
anos, mas nos períodos seguintes houve um aumento
significativo. Esse aumento das instalações de energia solar
não se deu espontaneamente e foi impulsionado pelo advento
da Resolução 482, conforme fig. 1.
Fig. 1. Potência instalada de SFVCR micro e mini geração no Brasil
(Fonte: VALPECOVSKI URBANETZ et al., 2018).
Fig. 2 Irradiação solar no Brasil e Europa (Fonte: CASSA et al., 2021)
De acordo com (CASSA et al., 2021) o sol é abundante em
todo o território brasileiro. A diferença de irradiação solar do
Brasil e a Europa fica evidente com dados das cartas
solarimétricas de projetos como o “The Solar and Wind
Energy Resource” (SWERA) ou o Atlas Solar Brasileiro. Uma
comparação em especial com a Alemanha, segundo
(MOREIRA JÚNIOR; SOUZA, 2020), mostra que o país
europeu recebe cerca de 40% menos radiações solares que o
lugar menos ensolarado do Brasil, conforme fig. 2.
instalação já que aproveita o efeito Albedo para também gerar
energia.
II. MÓDULOS BIFACIAIS
Os módulos fotovoltaicos bifaciais têm a característica de
produzir energia solar de ambos os lados, pois é capaz de
absorver luz solar adicional pela superfície traseira, o que é
uma vantagem significativa em comparação com o módulo
fotovoltaico tradicional. A energia gerada na parte traseira do
módulo é chamada de “back side power gain”, conforme fig.
3.
O ganho real obtido no módulo bifacial depende de vários
parâmetros, com o tipo de instalação e o coeficiente de
reflexão do solo ou telhado, o albedo. Com a radiação solar
acumulada pela superfície traseira, haverá mais geração de
energia elétrica, conforme fig. 4.
Os módulos bifaciais podem produzir até 30 % mais energia
comparativamente aos módulos convencionais (Yusufoglu et
al, 2015), com o mesmo pico de Watt (Wp). Em locais de
baixa luminosidade, são capazes de produzir 15 % mais
energia do que os módulos convencionais (Yusufoglu et al,
2014).
O efeito da incidência de radiação solar na face traseira na
produção de energia elétrica é definido pelo fabricante do
módulo por meio de um fator denominado de “ganho bifacial
em energia”, que depende do posicionamento dos módulos na
instalação (Grafulha, 2016).
A utilização de módulos fotovoltaicos bifaciais melhora o
conceito de geração de energia em relação à área ocupada
pelos módulos, pois utiliza o efeito albedo para gerar energia,
onde a radiação e a irradiação solar são aproveitadas, Aguiar
Coelho (2020).
Os ganhos obtidos nos módulos pela radiação na área traseira
podem alterar devido à forma de instalação, como altura entre
o solo e os módulos e a distância entre fileiras, conforme fig.
5 e 6.

Ainda segundo (CASSA et al., 2021) a matriz energética

brasileira é predominantemente de fontes renováveis
composta de forma majoritária por usinas hidrelétricas e
eólicas. Mesmo possuindo um grande potencial em todo o
Brasil a participação da energia solar no montante total da
matriz energética ainda é pouco significativa. De acordo com
(MOREIRA JÚNIOR; SOUZA, 2020), a Alemanha mesmo
possuindo menores potenciais solares que o Brasil, se
encontra em um estágio bem avançado tanto de pesquisa
quanto de instalações. Fig. 3 Composição do módulo bifacial (Fonte: Villalva, 2021)
Segundo (AGUIAR COELHO; MIOTTO, 2020) alguns
fatores podem contribuir para o aumento da eficiência de um
SFVCR. Dentre eles estão a inclinação dos módulos voltados
ao Norte para aproveitar a posição do sol durante todas as
estações do ano (hemisfério Sul) e a utilização da tecnologia
de módulos bifaciais que produzem energia recolhendo a
radiação e a irradiação solar através das faces traseiras e
frontais. A chegada da tecnologia dos módulos bifaciais
contribui de forma incisiva na redução da área utilizada na
 material que compõe a superfície ou do tipo de paisagem, há
um valor de albedo pré-definido.
O Software PVSYST possui valores de Albedo de
referência, conforme tabela I.

VELOSO e ROSA (2013) encontrou valores na caatinga de

20 a 30%, sendo que os maiores valores correspondem a solos
expostos. Segundo o referido autor estes valores
correspondem aos observados por OKE (1987), que
Fig. 4 Irradiância incidente no módulo bifacial (Fonte: Wittmer e encontrou albedo de superfície de 40% em regiões desérticas.
Mermound, 2018) Para uma melhor exatidão nos valores de albedo, é necessário
realizar medições anuais nos locais de implantações de cada
empreendimento solar.
Tabela I. Valores de referência do software PVSYST. (Fonte: PVSYST,
2021)

Fig. 5 Módulo bifacial mostrando a altura em relação ao solo e a

distância entre fileiras (Fonte: PVSYST, 2021)

O acréscimo da temperatura provocada pela cobertura de solo

pode afetar as perdas de geração. É necessário escolher uma
cobertura de solo que favoreça o decréscimo das perdas. As
fig. 8 e 9, mostram imagens coletadas através de foto e
câmera infravermelha um aumento de aproximadamente
10ºC.

Fig. 6 Variação de altura versus energia gerada (Fonte: Autoria Própria)

III. ALBEDO

Em sua definição, o albedo é a razão entre os fluxos de

radiação solar refletido e incidente, e constitui um parâmetro
importante no estudo de mudanças climáticas, desertificação,
queimadas e impactos ambientais (Silva et al., 2005)
O albedo varia principalmente em função das características
físico-químicas da superfície, da cor, do ângulo zenital solar,
dentre outras. Por isso, para cada tipo de cobertura terrestre
há uma resposta espectral diferenciada, ou seja, o albedo de
um solo descoberto, por exemplo, é diferente de um mesmo
solo com cobertura vegetal.
Módulos bifaciais usam essas células bifaciais encapsuladas Fig. 7 Comparação entre a célula solar típica, na parte superior, e a célula
solar bifacial, na parte inferior (Fonte: Waaree Energies Ltd., 2017)
com materiais transparentes em ambos os lados para máxima
absorção de luz. Isso permite o uso eficaz da luz refletida da
superfície do solo. Além disso, também auxilia na redução da
temperatura interna do módulo melhorando seu desempenho
(Waaree Energies Ltd., 2017), conforme fig. 7.
Quanto mais escura for a superfície, menor será a
refletividade dos raios solares incidentes, resultando numa
maior absorção. Ou seja, refere-se à refletividade das
superfícies do entorno e dentro da UFV. Dependendo do
 Na segunda simulação consideramos a mesma potência pico
do sistema, localização, estrutura, instalações e equipamentos.
O diferencial foi no coeficiente de reflexão (albedo), que para

Tabela II. Resultados da primeira simulação (Fonte: PVSYST,

2021)

Fig. 8 Diferença de temperatura entre solo e vegetação (Fonte: Autoria

Própria)

essa simulação, consideramos 30%. Obtendo os seguintes

resultados da tabela III.

Tabela III. Resultados da segunda simulação (Fonte: PVSYST,

2021)

Fig. 9 Diferença de temperatura entre solo e vegetação em imagem

infravermelha (Fonte: Autoria Própria)

IV. SIMULAÇÃO COM PVSYST Na terceira simulação consideramos a mesma potência pico
do sistema, localização, estrutura, instalações e equipamentos,
Segundo (RAMPINELLI; KRENZINGER, 2009), em e o mesmo albedo da primeira simulação. O diferencial foi o
contrapartida às dificuldades dos monitoramentos aumento da temperatura ambiente em 10º C. Obtendo os
experimentais que dependem de equipamentos e medidas, a seguintes resultados da tabela IV e fig. 10.
análise de um sistema fotovoltaico pode ser feita com o uso Na quarta simulação consideramos a mesma potência pico do
de softwares. Os softwares permitem a simulação de sistemas sistema, localização, estrutura, instalações e equipamentos, e
ainda não existentes e possibilitam a alteração de parâmetros o mesmo albedo da segunda simulação. O diferencial foi o
e topologias de forma simplificada. Para que uma simulação aumento da temperatura ambiente em 10º C. Obtendo os
computacional tenha resultados confiáveis é essencial que os seguintes resultados da tabela V.
modelos matemáticos estejam consolidados validados,
portanto nas simulações que seguem o software escolhido foi
o PVSYST.
Neste estudo foram consideradas duas simulações no
PVSYST.
As simulações realizadas no PVSYST objetivam mostrar
possíveis ganhos de geração de energia elétrica oriundos das
variações no albedo e temperatura ambiente.
Na primeira simulação utilizamos um sistema de 236kWp, na
localização: Latitude: -22,82º S e Longitude -47,07º W, com
altitude de 582m, a instalação foi feita em estrutura fixa,
voltadas para o Norte Geográfico (Azimuth 0º), com os
módulos fotovoltaicos inclinados em 20º, o sistema foi
dimensionado com 468 módulos fotovoltaicos de 505Wp, Fig. 10. Resultados da quarta simulação (Fonte: PVSYST, 2021)
modelo: TSM-DEG18MC-20-(II)-505-Bifacial, do
fabricante: TrinaSolar, contendo 5 fileiras idênticas e um
espaçamento entre fileiras (pitch) de 7 metros, utilizamos 01
inversor de 175kWac do modelo: SUN2000-175KTL-H0, do
fabricante: Huawei, também consideramos o coeficiente de
reflexão (albedo) dessa simulação com 15%. Obtendo os
seguintes resultados da tabela II.
Tabela IV. Resultados da terceira simulação (Fonte: PVSYST,
2021)
Tabela V. Resultados da quarta simulação (Fonte: PVSYST,
2021)
V. CONCLUSÕES
O impacto do albedo da superfície terrestre foi testado apenas
em simulações realizadas no software PVSYST. Para validar
as simulações, o ideal seria complementar o estudo com
medições em ambientes reais, que contemplem um ganho de
Albedo e variações na temperatura ambiente que fornecerão
uma indicação verdadeira de como os ganhos de Albedo
variam e possivelmente se deterioram com o tempo. Ver fig.
11.
Fig. 11. Resultados das simulações (Fonte: PVSYST, 2021)
Nas simulações realizadas com ganhos de Albedo de 15% e
30%, os ganhos em energia elétrica gerada por ano, foi de
ordem de aproximadamente 1,77%.
Nas simulações realizadas com ganhos de Albedo de 15% e
30%, porém com aumento de 10ºC na temperatura ambiente,
o ganho na geração energia elétrica gerada por ano, foi de
ordem de aproximadamente 1,73%. Ver tabela VI.
As perdas de energia elétrica gerada devido ao aumento na
temperatura ambiente têm um impacto significativo
independente do albedo, como pode ser visto a tabela VII.
Portanto, conforme resultados apresentados, é muito
importante estabelecer critérios na escolha dos materiais
utilizados para o aumento do albedo, pois existem casos que
a escolha desses materiais, geram aumento na temperatura
ambiente, proporcionando impactos negativos na geração de
energia na usina fotovoltaica, conforme tabela VIII.
Tabela VI. Ganhos devido albedo (Fonte: Autoria Própria)
Tabela VII. Perdas por temperatura (Fonte: Autoria Própria)
Tabela VIII. Ganho total de energia devido a alteração de albedo e
temperatura (Fonte: Autoria Própria)
Portanto, é recomendado que novos estudos com casos reais
em longos períodos levem em conta todas as mudanças
climáticas sazonais. Trabalho adicional também é necessário
para entender o processo de envelhecimento de diferentes
materiais e o nível de manutenção que isso acarreta, por
exemplo, quantas vezes a superfície deverá ser limpa, ou
controlar a altura da grama ou mato, desta forma analisando
seu impacto em seu albedo.
Aumentar o albedo com superfície que apresente baixo
coeficiente de temperatura, para que não ocorra ganhos de
temperatura ambiente.
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