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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE

CENTRO DE TECNOLOGIA
DEPARTAMENTO DE ENGENHARIA DE PETRÓLEO
DISCIPLINA: PTR0610 - Introdução às energias renováveis
PROFESSOR: Lindemberg de Jesus Nogueira Duarte

ENERGIA SOLAR FOTOVOLTAICA

Exemplo básico de dimensionamento de um sistema fotovoltaico de microgeração

Inicialmente, o projetista deve levar em consideração a quantidade de energia a


ser gerada pelo sistema fotovoltaico tomando como base o consumo médio mensal de
eletricidade, podendo ser obtido através da conta de eletricidade do consumidor. O espaço
disponível para instalação dos módulos fotovoltaicos também atua como um critério que
deve ser levado em conta, uma vez que permite calcular a expectativa de produção do
sistema fotovoltaico. O fator econômico também deve ser considerado, tendo em vista o
limite de investimento imposto pelo consumidor.

1. Orientação dos módulos fotovoltaicos

Buscando maximizar a produção média diária de energia, a orientação do


módulo deve apresentar sua face voltada para o norte geográfico, sempre que possível.
Além disso, deve-se ajustar corretamente o ângulo de inclinação do módulo com relação
ao solo para otimizar a produção de energia ao longo do ano.

A direção do norte geográfico, ou norte real, pode ser determinado através do


mapa com ângulos de correção (Figura 1), de modo que para cada região do Brasil é
preciso subtrair um ângulo de correção do ângulo encontrado na leitura da bússola.
Figura 1: Mapa de ângulos de correção para encontrar o norte geográfico.

2. Escolha do ângulo de inclinação do módulo solar

Normalmente, os sistemas fotovoltaicos são instalados com um ângulo fixo de


inclinação de modo a proporcionar uma boa produção média de energia ao longo do ano
(Figura 2). A inclinação incorreta reduz a captação dos raios solares, comprometendo a
produção de energia elétrica pelo módulo fotovoltaico (Figura 3). Obviamente, um ângulo
de inclinação fixo não garante a máxima captação dos raios solares ao longo do ano, mas
pode proporcionar o melhor aproveitamento possível (Figura 4)

Figura 2: Trajetória do movimento do sol ao longo do ano.


Figura 3: Efeito da inclinação do módulo fotovoltaico na captação de energia.

Figura 4: Energia solar captada ao longo do ano com diferentes inclinações.

Não existe um consenso claro sobre a seleção do melhor ângulo de inclinação


para instalação de um módulo solar, porém é possível determinar para uma latitude
geográfica um ângulo de inclinação capaz de garantir uma boa produção média de energia
ao longo do ano. Muitos fabricantes adotam uma regra simples baseada na Tabela 1. Não
é recomendável a instalação de módulos fotovoltaicos com inclinação inferior a 10 º para
evitar o acumulo de poeira sobre as placas. A Tabela 2 apresenta as latitudes geográficas
das capitais brasileiras.
Tabela 1: Escolha do ângulo de inclinação do módulo. Fonte: “Installation and Safety
Manual of the Bosch Solar Modules”.

Tabela 2: Latitudes geográficas das capitais brasileiras.


3. Espaçamento de módulos em usinas solares

Os módulos fotovoltaicos em usinas solares são dispostos em fileiras colocadas


umas atrás das outras, cuja distância deve ser calculada corretamente para que os módulos
não façam sombras uns aos outros, porém deve-se aproveitar ao máximo o fator de
utilização da área do terreno. O fator de utilização expressa a razão entre a área do módulo
e a área na superfície plana necessária para sua instalação:

𝐿
𝑓=𝐷 (1)

Onde: L é a largura do módulo solar e D é a largura da área de instalação (ou a distância


entre as bordas de vizinhas de módulos).

Figura 5: Área do módulo de área necessária para sua instalação e fileiras de módulos
em usinas fotovoltaicos.

As usinas fotovoltaicas são construídas com um fator de utilização de área entre


35 e 45 %, obedecendo uma estratégia de reduzir as perdas pela presença de sombras
(maximizando a eficiência). Nesta estratégia, sendo z a altura da haste de fixação, pode-
se empregar o espaçamento entre fileiras por:

𝑑 = 3,5 ∗ 𝑧 (2)
Outro cenário visa maximizar o fator de aproveitamento da área, em caso de restrições de
espaço utiliza-se:

𝐷 = 2,5 ∗ 𝐿 (3)

4. Cálculo da energia produzida pelos módulos fotovoltaicos

A quantidade de energia produzida diariamente por um módulo fotovoltaico será


determinada através de dois métodos simples, em função das condições de insolação do
local e as características do módulo utilizado.

4.1 Método de insolação

O método de insolação é considerado quando se utiliza controladores de carga


com o recurso MPPT (maximum power point tracking). Os controladores MPPT
permitem que o módulo fotovoltaico opere sempre em seu ponto de máxima potência,
independente da radiação solar e da temperatura. Baseia-se quando se dispõe de
informações sobre a energia do sol disponível no local de instalação, sob a forma de
insolação, expressa em Wh/m2/dia (Watt-hora por metro quadrado), podendo ser
facilmente encontrada em mapas solarimétricos ou em ferramentas computacionais (atlas,
softwares, etc), geralmente fornecidos por uma média anual. Deve-se atentar que o
dimensionamento baseado na insolação média anual pode levar proporcionar falhas no
sistema por escassez de energia (inverno) e excesso de energia (verão).

As informações técnicas necessárias do módulo fotovoltaico para o cálculo da


energia produzida com base na insolação consistem de suas dimensões físicas (cálculo da
área) e eficiência, podendo ser fornecida pelo fabricante ou determinada através da
potência de pico (máxima potência nas condições STC - condições padrão do teste do
módulo, 1000 W/m2 e 25ºC). A energia produzida pelo módulo fotovoltaico pode ser
determinada por:

𝐸𝑃 = 𝐸𝑆 ∗ 𝐴𝑀 ∗ 𝑀 (3)
Onde: EP é a energia produzida pelo módulo diariamente (Wh), ES é a insolação diária
(Wh/m2/dia), AM é a área da superfície do módulo (m2) e M é a eficiência do módulo.

Exemplo: Calcule a energia produzida pelo módulo LD135R9W da LG com potência de


pico de 135 W desenvolvido especialmente para instalações autônomas (Tabela 3).
Considere que será instalado para geração de energia em um trailer para lanche localizado
na cidade de Natal/RN.

Tabela 3: Características do módulo LD135R9W da LG.

4.2 Método da corrente máxima do módulo

Neste caso, o sistema fotovoltaico não está equipado com o recurso MPPT
(rastreamento de máxima potência), impedindo a operação do módulo em seu ponto de
máxima potência condicionando a produção de eletricidade ao ponto de operação imposto
pelas baterias (Figura 6).

Figura 6: Operação do módulo fotovoltaico com e sem controlador MPPT.


O cálculo da energia produzida pelo método da corrente máxima requer a
obtenção das características do módulo em condições STC (condições padrão do teste do
módulo) ou NOCT (condições normais de operação do módulo). As condições NOCT
refletem as características reais de operação.
Neste método, o cálculo da energia produzida pelo módulo é obtida por:

𝐸𝑃 = 𝑃𝑀 ∗ 𝐻𝑆 (4)

Onde: EP é a energia produzida pelo módulo diariamente (Wh), PM é a potência do módulo


(W), HS é o número diárias de insolação (horas). A potência do módulo pode ser
determinada por:

𝑃𝑀 = 𝐼𝑆𝐶 ∗ 𝑉𝐵𝐴𝑇 (5)

Onde: ISC é a corrente de curto-circuito do módulo (A), VBAT é a tensão da bateria (V).

É importante ressaltar que o dimensionamento nestas condições é puramente


empírico de modo que requer ajustes em função das condições reais de funcionamento do
sistema fotovoltaico, observadas após verificação das condições verdadeiras.

Exemplo: Calcule a energia produzida pelo módulo LD135R9W da LG (Tabela 4 e


Figura 7) com o método da corrente máxima do módulo. Considere uma localidade com
8 horas diárias de insolação e um sistema fotovoltaico autônomo com um banco de
baterias de 12 V.

Tabela 4: Características em NOCT do módulo LD135R9W da LG.


Figura 7: Curvas características do módulo policristalino LD135R9W da LG.

Obs.: Os sistemas fotovoltaicos com bateria devem obrigatoriamente um controlador ou


regulador de carga, sendo capaz de evitar que a bateria seja sobrecarregada ou
descarregada excessivamente.

5. Levantamento do consumo de energia do sistema fotovoltaico

O dimensionamento do sistema fotovoltaico passa inicialmente pelo


levantamento do consumo de energia elétrica. O cálculo da energia necessária para
alimentar um aparelho elétrico ou eletrônico é realizado a partir da potência do aparelho
pelo número de horas de sua utilização, sendo calculado por:

𝐸𝐶 = 𝑃 ∗ 𝑇 (6)

Onde: EC é a energia consumida em Watts-hora (Wh), P é a potência em Watts (V) e T é


o tempo de uso em horas (h).

Exemplo: Calcule o consumo de energia dos seguintes itens: cafeteira elétrica de uso
doméstico (1400 W), geladeira (115W), TV (310 W) e lâmpada LED (12 W).
6. Dimensionamento do número de módulos

Após o cálculo da energia produzida por um módulo e da quantidade de energia


que se deseja produzir (diariamente ou mensalmente), deve-se determinar a quantidade
de módulos necessários para compor o sistema fotovoltaico:

𝐸𝑠𝑖𝑠𝑡𝑒𝑚𝑎
𝑁𝑃 = (7)
𝐸𝑚ó𝑑𝑢𝑙𝑜

Onde: NP é o número de módulos da instalação fotovoltaica, Esistema é a energia produzida


pelo sistema (KWh) no intervalo de tempo considerado e Emódulo é a energia produzida
por um módulo (KWh) no intervalo de tempo considerado.

7. Dimensionamento dos inversores

O inversor é um equipamento eletrônico que converte a eletricidade de tensão e


corrente contínua (CC) em tensão e corrente alternada (CA). A seleção do inversor deve
obedecer os seguintes critérios: (a) a tensão de circuito aberto do string não pode
ultrapassar a tensão máxima de entrada do inversor e (b) o inversor deve possuir uma
potência igual ou superior à potência de pico do conjunto de módulos.

Exemplo: Faça uma estimativa do número de módulos necessários para produzir 500
KWh ao mês em uma residência em Natal/RN com uma taxa de irradiação solar de 5400
Wh/m2/dia. Considere que nestas condições um painel fotovoltaico monocristalino de
240 W da Bosch (Tabela 5) produz 37 KWh ao mês. Determine ainda a tensão mínima
que o inversor deve apresentar baseando-se na tensão de circuito aberto (VOC) para
atender a produção de 500 KWh ao mês.
Tabela 5: Algumas informações do módulo fotovoltaico Bosch c-Si M60 EU 30117.

Referência

VILLALVA, M. G., Energia solar fotovoltaica: conceitos e aplicações: sistemas isolados


e conectados à rede. 2ª edição. São Paulo. Saraiva, 2015.

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