Você está na página 1de 27

O planejamento da utilização de próteses parciais removíveis (PPRs) para a

reabilitação oral de um paciente determina, por princípio básico de funcionamento, a

necessidade de que o dispositivo protético seja inserido e removido de sua posição sobre o

sistema de suporte, sem que sofra ou cause a esse sistema prejuízos de qualquer ordem.

P
Também, que quando solicitado em função, possa ser mantido em posição e estável,

garantindo o sucesso funcional da reabilitação, além de oferecer boa estética.

S
Para chegar a esse resultado satisfatório algumas questões básicas precisam ser

compreendidas: -U
- o que é delineamento? Segundo vários autores é o conjunto de procedimentos de

diagnóstico que visa obter informações a respeito do padrão, da forma e do contorno dos

dentes pilares e tecidos adjacentes. Como procedimento de diagnóstico e fundamental para


RP
a PPR é de responsabilidade exclusiva do cirurgião-dentista, pois constitui uma das etapas

do exame do paciente (análise dos modelos de estudo);

- por que delinear? Há enorme variação das possíveis combinações de

desdentamento parcial, e essa variação acarreta a ocorrência, por várias razões, de dentes
FO

remanescentes assimétricos e desiguais, além de rebordos alveolares residuais de anatomia

também bastante diversa. Se o objetivo da reabilitação com PPR é devolver ao paciente

função e estética, preservando as estruturas remanescentes como condição inquestionável,

é fundamental que tais estruturas, dentais ou não, sejam estudadas para possibilitar o melhor

desenho à futura prótese;

- com que delinear? Para o processo de delineamento é utilizado um instrumento

denominado delineador, t a m b é m chamado de paralelômetro, tangenciômetro,

paralelímetro ou paralelígrafo, responsável pela identificação do paralelismo relativo entre


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 2

duas ou mais superfícies, dentais ou de estruturas adjacentes. Na construção de uma PPR

é utilizado desde as fases mais iniciais (exame e diagnóstico), precedendo o planejamento

da prótese, até as fases mais posteriores e complexas, como nos procedimentos de fresagem,

posicionamento de encaixes, etc. Sua importância para a PPR pode ser comparada à do

articulador semi-ajustável para a Prótese Parcial Fixa. O delineador tem sua concepção

baseada no princípio geométrico de que todas as perpendiculares a um mesmo plano são

P
paralelas entre si.

S
-U
RP

Há vários tipos de delineador, dos mais simples aos mais complexos, sendo que

os mais utilizados são baseados no desenvolvido pela Ney Co., nos Estados Unidos.
FO

São construídos da seguinte forma:

a) delineador propriamente dito => tem uma base plana, da qual parte uma haste vertical
Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 3

fixa. Dessa haste vertical parte um braço horizontal, que pode ser fixo ou móvel, inteiriço

ou articulado, em ângulo reto (90º) e que sustenta, na extremidade, uma outra haste

vertical, móvel, chamada de haste analisadora. Esta haste vertical móvel é que possibilita

a identificação do paralelismo, sendo construída perfeitamente perpendicular à base do

delineador e podendo ser movimentada verticalmente até que assuma o melhor

posicionamento em relação às estruturas a serem analisadas.

S P
-U
RP

b) Na extremidade inferior desta haste há um mandril ao qual são presas as pontas

acessórias, de uso específico: 1) pontas recortadoras de cera: em forma de facas ou

cinzéis, que são usadas para identificar a melhor trajetória de inserção e remoção da
FO

PPR e permitem a realização de alívios que bloquearão áreas retentivas não utilizadas

na confecção da estrutura metálica da prótese, mantendo a trajetória de inserção e

remoção definida; 2) porta grafites ou cera: em forma de bainha, expondo apenas um

lado da ponta utilizada para marcar o maior contorno dos dentes e outras estruturas; 3)

pontas calibradoras de retenção: usadas para identificar e quantificar áreas retentivas

para o correto posicionamento das partes responsáveis pela retenção da prótese. São

em número de três (03), correspondendo às medidas de retenção horizontal de 0,25mm

(0,01”), 0,50mm (0,02”) e 0,75mm (0,03”).


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 4

P
c) platina ou mesa porta-modelos: na qual é posicionado o modelo a ser analisado.

S
É constituída basicamente de duas partes: a base e o suporte de modelos, unidas entre si

por uma articulação do tipo esferóide ou junta universal, que permite a inclinação do
-U
suporte, e consequentemente do modelo, para qualquer posição anteroposterior e/ou

látero-lateral em relação à haste vertical do delineador.


RP
FO

Considerando a PPR convencional, é sabido que o posicionamento dos braços de

retenção dos grampos em áreas retentivas é que garante a manutenção da prótese em posição

sobre o sistema de suporte, quando em função. Também, que conectando estes elementos

de retenção há partes da estrutura metálica que são rígidas, não podendo, portanto, ser

colocadas em áreas retentivas. Para permitir o correto posicionamento de cada componente

da estrutura metálica, durante o processo de delineamento é identificado o traçado do


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 5

equador protético, definido como a linha de maior contorno do dente pilar quando

considerado proteticamente, ou seja, em relação aos demais dentes remanescentes e/ou

estruturas adjacentes, e que difere do equador anatômico, que considera cada dente

individualmente.

O equador divide o dente em duas áreas, uma retentiva, cervical ao traçado, e outra

não retentiva ou expulsiva, oclusal ao mesmo traçado. Este traçado do equador protético

P
é obtido pelo tangenciamento das paredes axiais dos dentes pilares com a ponta de grafite

ou cera, presas à haste vertical do delineador. Deve-se, sempre, ter o cuidado de posicionar

S
a extremidade da ponta traçadora ao nível da região cervical do dente pilar, permitindo

o contato apenas de sua lateral contra o dente analisado.

Equador
-U
RP

Equador protético
FO

A figura abaixo ilustra a maneira correta de manusear o delineador e a mesa porta-

modelos, que deve ser mantida, sempre, completamente apoiada na base do delineador,

durante a análise para delineamento do modelo de estudo:


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 6

S P
-U
Para entender o traçado do equador protético pode-se usar o seguinte raciocínio:

a inclinação acentuada de um modelo para o seu lado direito propicia a obtenção de um

traçado bem próximo à face oclusal, na face vestibular, e bem próximo à cervical, na face
RP
lingual/palatina do dente pilar deste lado.
FO
Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 7

Invertendo a inclinação do modelo para seu lado esquerdo e realizando novo traçado,

verifica-se que, na face vestibular, o traçado inicialmente oclusal passa a ser cervical, e que

na face lingual/palatina, o traçado assume posição próxima à oclusal.

S P
-U
RP
FO

Conclui-se, assim, que o traçado do equador protético é resultante da inclinação assumida


pelo modelo.
Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 8

O mesmo exercício descrito acima, se analisado com objetivos clínicos permite

compreender, com facilidade, que inclinações excessivas do modelo não são satisfatórias

devido às grandes discrepâncias observadas de um lado em relação ao outro.

Assim, se a cada inclinação do modelo varia o traçado do equador protético obtido,

pode-se afirmar que o equador protético somente deve ser identificado quando a trajetória de

inserção e remoção for definitiva para o caso em questão, passando a ser, então, o objetivo

P
final do processo de delineamento do modelo de estudo. Se para cada inclinação for feito um

traçado, em pouco tempo teremos vários equadores definidos e fica mais difícil identificar

S
aquele que está efetivamente sendo utilizado.
-U
RP

A trajetória de inserção da PPR é a trajetória seguida pela prótese desde o contato


FO

inicial da estrutura metálica com os dentes até o assentamento final sobre o sistema de

suporte. Com mesma direção, mas em sentido contrário, tem-se a trajetória de remoção.

Durante o processo de delineamento a movimentação da haste vertical do delineador

representa a trajetória de inserção/remoção dada à prótese. Desse modo, a cada inclinação do

modelo também corresponde uma trajetória diferente.

Conclui-se, portanto, que o objetivo do processo de delineamento é a definição da

trajetória de inserção/remoção para o caso analisado e, por consequência, a obtenção do

traçado do equador protético.


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 9

S P
Pergunta-se, então, como definir esta melhor trajetória de inserção/remoção?
-U
Recordando a análise experimental citada anteriormente, na qual foram determinadas

inclinações acentuadas do modelo de estudo, ora para o lado direito, ora para o lado esquerdo,
RP
é possível imaginar que uma determinada inclinação intermediária poderia equalizar o

traçado do equador protético obtido. Esta posição intermediária é a que mantém o plano

oclusal do modelo perpendicular à haste vertical do delineador. Fica determinada, assim, uma

trajetória de inserção perpendicular ao plano oclusal, ou de inclinação zero (em relação

ao plano oclusal).
FO

Para a determinação do plano oclusal do modelo o método mais utilizado é o de

Roach ou dos 3 pontos. Sobre o modelo são determinados, e marcados com uma lapiseira de

pontas finas, 3 pontos: um anterior e dois posteriores, distribuídos de forma a determinar um

triângulo equilátero ou o mais próximo disto. O ponto anterior é determinado na intersecção

dos terços incisal e médio dos incisivos centrais superiores e na borda incisal dos incisivos

centrais inferiores. Os pontos posteriores, preferencialmente simétricos, podem ser a ponta da

cúspide mésio-vestibular do 2º molar, por exemplo. Caso haja a falta de dentes para
Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 10

a determinação dos pontos, esta pode ser feita com base em planos de cera, determinando

pontos virtuais que representam o plano protético para a arcada em questão.

S P
-U
A orientação deste plano oclusal perpendicular à haste do delineador é obtida quando

a ponta analisadora, numa mesma altura, toca os 3 pontos escolhidos, e é feita por tentativa

e erro.
RP
FO

Imaginando outra situação, na qual houvesse a inclinação no sentido anterior dos

dentes remanescentes, o traçado do equador protético obtido sobre os dentes anteriores para

uma trajetória de inserção perpendicular ao plano oclusal estaria posicionado próximo à face

oclusal/incisal. O posicionamento de elementos retentivos em áreas de retenção


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 11

adequadamente dosadas, portanto não tão distantes do equador protético, cria um transtorno

estético importante.

S P
-U
RP
FO

Para contornar este problema estético fica determinado o posicionamento mais

cervical do elemento de retenção, o que pode comprometer a função do retentor por superar

sua capacidade de flexão, ou mesmo por gerar grande interferência ao assentamento da

prótese, já que o conjunto do grampo é passivo.


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 12

P
Desse modo, acompanhar a inclinação dos dentes, ou seja, inclinar o modelo para trás,

determinando uma trajetória de inserção/remoção inclinada em relação ao plano oclusal,

S
constitui solução mais favorável. A retenção final, determinada pelo posicionamento mais

cervical dos retentores, seria até maior que a necessária para manter a prótese em posição.
-U
RP
FO

Pode-se determinar, portanto, que a observação de dentes remanescentes com

inclinações normais em relação ao plano oclusal favorece a utilização da trajetória de


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 13

inserção/remoção perpendicular ao plano oclusal ou de inclinação zero. Se os dentes

remanescentes tiverem outra disposição, novas trajetórias devem ser analisadas até que se

localize a ideal.

Outro fator, importantíssimo, a ser considerado, é a existência da chamada trajetória

potencial de deslocamento (TPD), sempre perpendicular ao plano oclusal, qualquer que seja

a trajetória de inserção/remoção definida para a prótese. Esta trajetória potencial de

P
deslocamento é ativada exatamente no início do movimento de abertura da boca, durante

a mastigação, sempre que a prótese é tracionada pela adesão de alimentos (p. ex. balas

S
de caramelo).

Portanto, a trajetória potencial de deslocamento coincide com a trajetória de


-U
inclinação zero ou perpendicular ao plano oclusal e, consequentemente, se esta trajetória não

inclinada propicia a obtenção de áreas retentivas suficientes, o correto funcionamento

da prótese fica favorecido, sendo determinada, então, como posição de delineamento.


RP
FO

Até agora, todas as análises feitas levaram em conta as áreas retentivas, mas

tanto quanto retenção, estabilidade é fundamental para o sucesso do tratamento.

Retenção é a capacidade da prótese em resistir ao deslocamento vertical no sentido

de sua remoção do sistema de suporte; estabilidade é a capacidade da prótese de resistir

aos deslocamentos horizontais ou verticais, em sentido ocluso-gengival, e que contribui


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 14

para a retenção da prótese por manter o correto posicionamento dos braços de retenção

sobre os dentes pilares.

A estabilidade horizontal da prótese é garantida pelo contato de partes rígidas da

estrutura metálica (p. ex. braços de reciprocidade) com paredes axiais dos dentes pilares. Essa

rigidez limita o posicionamento destes constituintes ao nível do equador protético, ou seja, na

porção não retentiva da coroa dental. Em condições normais esta condição determina que o

P
contato destas partes rígidas da estrutura metálica com o dente ocorre apenas com a prótese

totalmente assentada, sendo que qualquer pequeno deslocamento vertical quebra a situação de

S
estabilidade. Isso fica evidente para os braços dos grampos: dada a situação natural de

contorno dos dentes, o traçado do equador protético nas faces vestibulares é mais cervical que
-U
nas faces linguais ou palatinas. Posicionados os braços dos grampos, e assumindo que a

relação entre eles é constante, pode-se facilmente visualizar que após um pequeno

deslocamento vertical no sentido da remoção da prótese o braço de reciprocidade fica afastado


RP
do dente, permitindo que o braço de retenção, ainda em contato, continue exercendo força

sobre o dente. Verifica-se, portanto, que o princípio de reciprocidade, estabelecido para o bom

funcionamento dos grampos, não funciona efetivamente, havendo a geração de cargas laterais

sobre os dentes pilares.


FO
Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 15

S P
-U
RP
FO

No entanto, se para o posicionamento destas partes rígidas da estrutura metálica forem

encontradas paredes axiais dos dentes pilares, planas e paralelas entre si, a condição é outra,

porque mesmo havendo o deslocamento vertical mantém-se a relação de contato

estrutura/dente, com preservação da estabilidade. Ainda, este contato, por fricção entre

o metal e o esmalte dental, provê retenção friccional à prótese.


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 16

S P
-U
RP
FO

Nesta situação encontram-se os chamados PLANOS GUIA, que são, portanto,

definidos como paredes axiais dos dentes pilares, planas e paralelas entre si e à trajetória de

inserção/remoção determinada. Sempre que possível deve-se usar o maior número de planos

guia disponíveis. O posicionamento dos braços de reciprocidade sobre planos guia permite

a obtenção de reciprocidade efetiva, mantendo o dente pilar rigidamente apoiado quando

da passagem do braço de retenção pelo equador protético, neutralizando a ação de cargas

laterais sobre o dente pilar. Ainda, os planos guia individualizam a trajetória de


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 17

inserção/remoção da prótese. Assim, se a ocorrência de planos guia naturais não for

detectada, deve-se, durante a análise do modelo de estudo, identificar paredes axiais dos

dentes pilares que possam ser preparadas para tal função.

S P
Voltando às áreas retentivas, como considerado acima, se forem grandes (muito
-U
cervicais em relação ao equador protético) podem representar INTERFERÊNCIA à

colocação da prótese, exigindo flexão além da capacidade do braço de retenção, ocasionando

deformação permanente e/ou fratura, ou mesmo colocando-o em posição que impeça


RP

a inserção da prótese sobre o sistema de suporte.

Desse modo, além de identificar as áreas retentivas dos dentes pilares, deve-se

quantificá-las para que possa ser determinada a exata localização das pontas ativas dos braços

de retenção. Para essa quantificação são utilizadas as pontas calibradoras de retenção


FO

anteriormente citadas. Fixadas ao mandril da haste vertical móvel do delineador são

posicionadas de modo que toquem lateralmente o dente pilar (no equador protético) e que

permitam o toque do disco calibrados, na sua extremidade inferior, no ponto exato da face

dental que apresenta a medida de retenção determinada pelo disco (0,25, 0,50 ou 0,75mm).

Para marcar o ponto exato da retenção localizada utiliza-se uma lapiseira de pontas finas,

afastando ligeiramente o delineador e marcando um ponto na área correspondente do dente

pilar. As áreas em que se deve buscar retenção são, preferencialmente, os quadrantes

cervicais das faces vestibulares, no mínimo 1mm acima da margem gengival livre.
Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 18

Pode acontecer, para dentes com coroas clínicas longas, que, a partir do equador

protético, sejam identificadas as três calibrações de retenção. Da mesma maneira, para dentes

com coroas clínicas curtas, pode não haver a identificação de retenção correspondente ao

mínimo aceitável (0,25mm). Retenções acima de 0,75mm não são consideradas em hipótese

alguma. De qualquer modo, cada ocorrência deve ser identificada no modelo de estudo para

futura consideração (marcar na base do modelo a quantidade de retenção observada em cada

P
área: P – pequena; M- média; G- grande; N- sem retenção).

S
-U
RP
FO
Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 19

Se, ao calibrar a retenção encontra-se situação na qual a haste da ponta calibradora

toque lateralmente o dente pilar, mas o disco não, verifica-se que a retenção encontrada é

maior que aquela indicada pelo disco. Ao contrário, se o disco toque o dente pilar e a haste da

ponta calibradora não, identifica-se que se encontra retenção menor que aquela indicada pelo

disco.

S P
-U
A quantidade de retenção também é determinada pelo ângulo de retenção ou de

convergência, formado entre a haste da ponta calibradora de retenção e a parede dental.


RP
Assim, para a mesma quantidade de retenção horizontal (dada pelo disco calibrador), quanto

maior for o ângulo de retenção, maior a efetividade do braço retentivo. O maior ângulo

de convergência implica em menor distância de ação para o braço de retenção, ou seja,

a distância percorrida desde o primeiro contato com o dente pilar até a posição final
FO

de assentamento.

O ideal é que a distância de ação do braço de reciprocidade seja igual ou maior que

a do braço de retenção correspondente.


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 20

Quanto às áreas de INTERFERÊNCIA à colocação da prótese, além das ocorrências

já descritas (retenção muito grande ou obstáculo propriamente dito), é possível que sejam

identificadas em tecidos moles. Por exemplo, a região da pré-maxila frequentemente

se apresenta retentiva na vertente vestibular do rebordo alveolar residual. A inserção da

prótese numa trajetória de inserção perpendicular ao plano oclusal, se houver necessidade de

sela na região anterior, implicará na confecção de grandes alívios que acabarão por

P
comprometer o assentamento natural do lábio superior, com evidente prejuízo estético e

funcional. Neste caso, a escolha de uma trajetória de inserção inclinada em relação ao plano

S
oclusal, acompanhando a inclinação da vertente do rebordo, permitirá íntimo contato

entre sela e fibromucosa de revestimento, promovendo, ainda, retenção adicional contra a


-U
trajetória potencial de deslocamento.
RP
FO

Outro fator não menos importante a ser considerado é a ESTÉTICA. Toda atenção

é necessária neste sentido, porque embora seja extremamente dependente de fatores culturais,

a estética não pode ser relegada a segundo plano. De nada adiantaria oferecer ao paciente

uma prótese mecanicamente perfeita e deficiente do ponto de vista estético. Poucos

pacientes a usariam. Obviamente, a PPR convencional por utilizar retentores extracoronários

nem sempre favorece a obtenção de resultados estéticos plenamente satisfatórios. No entanto,

se durante o delineamento a análise de todos os detalhes for criteriosa, é possível chegar

a resultados muito bons, melhorando a aceitação da prótese pelo paciente.


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 21

Analisando todos estes fatores, conclui-se, então, que a trajetória de inserção ideal

é aquela que permite a obtenção de:

- PLANOS GUIA

- RETENÇÃO

- AUSÊNCIA DE INTERFERÊNCIAS

- ESTÉTICA.

P
Didaticamente pode-se assumir, então, a existência de duas trajetórias de inserção:

1) inicial ou de inclinação zero (perpendicular ao plano oclusal); e 2) IDEAL ou

S
DEFINITIVA: aquela que contempla os quatro fatores acima.

Para grande número de casos, especialmente quando os dentes pilares são naturais,
-U
a trajetória de inserção inicial também é a ideal. No entanto, nem sempre é assim que

ocorre.

Conclui-se, portanto, que o delineamento bem conduzido é fundamental para a PPR,


RP
permitindo detectar as adequações que devem ser feitas sobre o sistema de suporte para

possibilitar o correto funcionamento da prótese. Como dito no início deste capítulo, permite

a determinação da realização de restaurações, desgastes, cirurgias, ortodontia, etc. Por

fornecer elementos de diagnóstico que vão possibilitar o correto planejamento e o


FO

estabelecimento do plano de tratamento, o processo de delineamento é parte integrante do

exame do paciente e, como tal, é de total responsabilidade do cirurgião-dentista.

Com base nestas considerações, a trajetória de inserção ideal pode, então, ser

definida como sendo aquela que melhor combinar os quatro fatores determinantes

(PLANOS GUIA / RETENÇÃO / AUSÊNCIA DE INTERFERÊNCIAS / ESTÉTICA),

reduzindo ao mínimo indispensável as intervenções a serem realizadas no sistema de suporte.

Determinada, a trajetória de inserção ideal para o caso deve ser registrada para

permitir qualquer futuro reposicionamento do modelo de estudo no delineador sem que


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 22

se precise partir do princípio do processo, novamente.

Há inúmeros métodos de registro descritos, mas o mais simples e preciso preconiza

a cimentação de um pino rígido à base do modelo analisado. Com o modelo ainda sobre a

mesa porta-modelos, um pino rígido (p. ex. um prego) é fixado ao mandril da haste

delineadora e posicionado num orifício feito na base do modelo em área que não

comprometa qualquer análise ou o futuro desenho da prótese. A cimentação pode ser

P
feita com gesso, cimento fosfato de zinco, Super Bonder, etc.

S
-U
RP
FO
Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 23

Para qualquer reanálise do modelo de estudo procede-se da seguinte forma: o modelo

deve ser posicionado na mesa porta-modelos; a junta universal deve estar totalmente solta;

o pino de registro deve ser preso ao mandril da haste delineadora. Ao apertar o mandril a

mesa é reorientada pelo registro e o modelo reassume a inclinação determinada

anteriormente. A junta universal é travada e pode-se, agora, reanalisar o modelo.

P
Complementando o estudo deste ponto há uma última questão a ser respondida:

S
inclinar o modelo durante o delineamento cria retenção?
-U
Hipoteticamente imagine-se uma situação na qual, para a trajetória de inserção inicial

(perpendicular ao plano oclusal ou de inclinação zero) não se localizam áreas retentivas, tanto
RP
nos pilares do lado esquerdo quanto do direito.
FO

A inclinação do modelo para o lado direito, por exemplo, em certo momento

propiciará a obtenção de retenção na face vestibular do pilar direito e na face lingual/palatina

do pilar esquerdo. Tal situação indicaria o posicionamento de braços de retenção nestas faces,

e de braços de reciprocidade nas faces opostas.


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 24

P
Deve-se lembrar, no entanto, que uma vez instalada, a prótese estará sujeita à ação

da trajetória potencial de deslocamento (TPD), sempre perpendicular ao plano oclusal.

S
Voltando à situação original, para a trajetória inicial, perpendicular ao plano oclusal, não

havia retenções disponíveis e, se tracionada, a prótese será deslocada com facilidade.


-U
RP
FO

Inclinar o modelo para criar retenções é, portanto, um dos maiores e mais frequentes

erros cometidos durante o delineamento, e acontece por basear a escolha da trajetória de

inserção em apenas um dos fatores determinantes, a retenção.

Continuando no mesmo esquema anterior, se, simultaneamente à localização da áreas

retentivas, fossem encontradas paredes axiais dos dentes pilares, oposta, planas e paralelas

entre si para a trajetória inclinada pretendida, os chamados PLANOS GUIA, os braços de

reciprocidade seriam nelas posicionados, estabilizando a PPR e a remoção da prótese


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 25

somente seria possível por esta trajetória inclinada, eliminando a ação da trajetória potencial

de deslocamento.

S P
-U
RP
FO

Considere-se, no entanto, que embora válida para o esquema proposto, tal situação é

puramente teórica e aplicada para o correto entendimento da biomecânica de funcionamento

dos planos guia, haja vista que braços de reciprocidade posicionados em faces vestibulares

criam problemas estéticos às vezes incontornáveis.

Concluiu-se, portanto, que a inclinação do modelo a partir da trajetória inicial ou

perpendicular ao plano oclusal, como recurso para melhor distribuir áreas retentivas, só

é válida se vinculada à localização de planos guia naturais ou de superfícies que possam


Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 26

ser preparadas para tal função.

Resumidamente o processo de delineamento pode ser assim descrito:

1. posicionamento do modelo de estudo com o plano oclusal perpendicular à

haste vertical do delineador => trajetória de inserção inicial ou de inclinação zero;

2. identificação de paredes dentais planas, paralelas entre si para esta trajetória de

inserção => PLANOS GUIA

P
3. inclinação do modelo nos sentidos Anteroposterior e/ou látero-lateral para localizar

o maior número possível de planos guia;

S
4. localização e quantificação das áreas de RETENÇÃO;

5. retorno ao passo 2 se localizadas ÁREAS DE INTERFERÊNCIA à colocação


-U
da prótese ou se houver comprometimento da ESTÉTICA;

6. definição e registro da trajetória de inserção ideal para o caso;

7. traçado do equador protético.


RP

Referências bibliográficas:

Phoenix RD; Cagna DR; DeFreest CF. Prótese Parcial Removível Clínica de Stewart. 3a ed.,
FO

São Paulo: Quintessence Editora Ltda. 2007. Cap. 7: Delineamento e Planejamento. pp. 215-

232.

Bezzon OL; Mattos, MGC; Ribeiro, RF. Surveying removable partial dentures: the

importance of guiding planes and path of insertion for stability. J Prosthet Dent, v. 78, n.

4, p.412-8, Oct. 1997.

Bezzon, OL; Ribeiro, RF; Pagnano, VO. Device for recording the path of insertion for

removable partial dentures. J Prosthet Dent, v. 84, n. 2, p.136-8, Aug. 2000.

Brudvik, JS. Advanced removable partial dentures. Carol Stream: Quintessence, 1999. 164p.
Prótese Parcial Removível - Delineamento – Prof. Dr. Ricardo Faria Ribeiro - 27

Davenport, JC et al. A clinical guide to removable partial denture design. London: Bristish

Dental Association, 2000. 112p.

Carr AB; Brown DT. McCraken Prótese Parcial Removível. 12a ed. Rio de Jnaneiro:

Elsevier. 2012. Cap. 11: Delineamento. pp. 130-149.

Miller EL. Protesis parcial removible. 1ª ed., Trad. Georgina Talancón. México:

Interamericana, 1975. 352p.

P
Todescan, R; Silva, EEB; Silva OJ. Atlas de prótese parcial removível. 1ª ed., São Paulo:

Santos, 1996. 345p.

S
Zanetti, AL; Laganá, DC. Planejamento: prótese parcial removível. 2a ed., São Paulo:

Sarvier,1996. 147p. -U
RP
FO

Você também pode gostar