Artigo de Divulgação

Considerações Clínicas sobre o Posicionamento

Vertical dos Acessórios
Clinical Considerations on the Vertical Positioning of Orthodontic
Accessories

Resumo ideal da banda era onde ela se ajustasse

Certas características das más oclusões
impedem o correto posicionamento verti-
cal dos acessórios nos dentes, causando di-
versos problemas na finalização dos casos
Guilherme Janson
ortodônticos. Portanto, com a finalidade
de fornecer algumas orientações úteis nes-
te procedimento este artigo discute o
posicionamento vertical dos acessórios de
acordo com diferentes prescrições e apre-
senta sugestões para a resolução de difi-
culdades clínicas para sua execução.
Introdução e Revisão
da Literatura
O correto posicionamento vertical dos
acessórios, preconizado na instalação dos
aparelhos ortodônticos, constitui um tema
de muito interesse clínico e/ou científico,
por refletir, ao término do tratamento, as
alturas dentárias adequadas. Erros de po-
sicionamento vertical implicarão em den-
tes desnivelados, além de alterações nos
torques, e conseqüentemente nas inclina-
ções vestíbulo-linguais1,6,8,9,11,15,27,34.
ANGLE5, em 1928, nos primórdios da
Ortodontia, recomendava que a posição
melhor mecanicamente, e os acessórios de-
viam ser posicionados no centro da face
vestibular.
Em 1970, ANDREWS3 apresentou um
novo aparelho, pré-ajustado, denomina-
do de Straight-wire Appliance, desenvol-
vido a partir do sistema edgewise. Toman-
do como referência a anatomia da face
vestibular dos dentes de 120 pacientes
não tratados ortodonticamente, seu apa-
relho passou a incorporar as inclinações
e angulações específicas para cada den-
te, eliminando as dobras nos arcos. Os
torques só eram obtidos anteriormente
por meio de torções efetuadas no sentido
do longo eixo dos fios retangulares e para
se obter as inclinações mésio-distais apro-
priadas, eram necessários ajustes de po-
sicionamento, angulando-se os acessóri-
os. Andrews afirmou que o correto posi-
cionamento dos acessórios deveria ser no
chamado ponto EV- eixo vertical, exata-
mente no centro da face vestibular de to-
dos os dentes. Para obter o posicionamen-
to correto, recomendou que as aletas dos
acessórios devem ficar paralelas ao lon-

Guilherme Janson A
Maria Helena Vasconcelos B
Roberto Bombonatti C
Marcos Roberto de Freitas D
José Fernando Castanha Henriques E

A
Professor Associado do Departamento de Ortodontia, Odontopediatria e Saúde Coletiva da Faculdade
de Odontologia de Bauru – USP. M.R.C.D.C (Membro do Royal College of Dentists of Canada).
B
Aluna de Doutorado em Ortodontia no Departamento de Ortodontia, Odontopediatria e Saúde Coletiva
da Faculdade de Odontologia de Bauru – USP.
Unitermos: C
Aluno de Mestrado em Ortodontia no Departamento de Ortodontia, Odontopediatria e Saúde Coletiva
da Faculdade de Odontologia de Bauru – USP.
Posicionamento verti- D
Professor Associado e Chefe do Departamento de Ortodontia, Odontopediatria e Saúde Coletiva da
cal; Acessórios orto- Faculdade de Odontologia de Bauru – USP.
dônticos. E
Professor Titular do Departamento de Ortodontia, Odontopediatria e Saúde Coletiva da Faculdade de
Odontologia de Bauru – USP.

Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.5, n.3, p.45-51 - maio/jun. - 2000 45
go eixo do dente. Desta forma, os
torques e as angulações contidas nos
acessórios iriam ser expressos.
THUROW35, dois anos depois, con-
cluiu que posições verticais diferentes
produzem, conseqüentemente, torques
distintos.
Após utilizar por cinco anos o apa-
relho pré-ajustado de ANDREWS,
ROTH29 publicou um artigo, em 1976,
intitulado “Cinco anos de avaliação
clínica do aparelho Straight- Wire de
Andrews”, expondo as vantagens por
ele observadas: resultados mais con-
sistentes em menos tempo e simplifi-
cação da técnica. Afirmou ter levado
um certo tempo para se familiarizar
com a técnica. Além disto, encontrou
dificuldades em obter uma oclusão
funcional nos pacientes com o ângu-
lo do plano mandibular acentuado,
devido à sobremordida ao término do
tratamento, como também aos torques
dos incisivos superiores e dos caninos,
dificultando os movimentos
excursivos a partir da cêntrica. Para
conseguir a intercuspidação dos den-
tes posteriores em relação cêntrica era
necessário modificar a coordenação
entre os arcos e os torques dos pré-
molares e molares, reconhecendo en-
tretanto ser mais fácil esta correção
utilizando a nova técnica.
Em 1978, MEYER, NELSON28 obser-
varam em pré-molares, que um erro ver-
tical de 3mm alterava o torque em 15o.
TAYLOR34 (1978); DELLINGER10
(1978); GERMANE et al.14 (1989) e
GERMANE et al.15 (1990) encontraram
grandes variações anatômicas na estru-
tura dentária, as quais podem afetar o
resultado do tratamento ortodôntico.
Em 1983, CREEKMORE, KUNIK9,
devido às inadequações de posiciona-
mento dos acessórios, idealizaram um
posicionador, denominado Slot
Machine. Este destina-se a orientar um
tipo de colagem indireta, com o auxí-
lio do modelo de estudo, onde ante-
riormente à colagem, são analisados
os detalhes da morfologia dentária
para orientar a posição final dos aces-
sórios. Segundo estes autores, as más
posições dentárias ao final do trata-
Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.5, n.3, p.45-51 - maio/jun. - 2000
mento podem resultar não só do posi-
cionamento inadequado dos acessóri-
os, das variações na estrutura dentá-
ria, como superfície vestibular irregu-
lar ou formato coronário irregular, mas
também de deficiências inerentes aos
aparelhos ortodônticos.
Na técnica Vari-Simplex, de ALE-
XANDER1, o posicionamento dos aces-
sórios deve seguir uma proporção a par-
tir da altura dos pré-molares, como se
vê abaixo (TAB. 1), utilizando um
marcador de altura, orientado pelo pla-
no oclusal em questão.
ROTH30, em 1987, modificou torques
e angulações nos acessórios de An-
drews, dentro do conceito de sobrecor-
reção, visando eliminar dobras de re-
versão e compensatórias, mudando
também a forma do arco na região an-
terior e estabelecendo uma nova, à
qual chamou de True-Arch form. Este
novo formato não é tão estreito quan-
to o arco ortodôntico, possibilitando a
obtenção da oclusão funcional. Com
essas modificações, os acessórios ante-
riores foram posicionados mais
incisalmente.
Em 1987, HUSSELS, NANDA20 con-
cluíram que a altura e a largura da co-
roa dentária podem aumentar ou dimi-
nuir o efeito da angulação no compri-
mento do arco.
Dentre estas pesquisas, a de
BALUT et al.6, em 1988, avaliou o po-
sicionamento de acessórios pré-ajus-
tados em 50 manequins, efetuados
por 10 professores de faculdades. En-
controu uma média de 0,34mm de
discrepância vertical e 5,54o na angu-
lação. Dentre todos os dentes, o se-
gundo pré-molar superior apresen-
tou-se como o mais dificultoso na ta-
TABELA 1
Arco Superior
Incisivos Centrais x Incisivos Centrais
Incisivos Laterais x - 0,5mm
Caninos x + 0,5mm
Pré-molares x Pré-molares
Primeiro molar x - 0,5mm
Segundo molar x - 1mm
Valores da altura (em milímetros) para o posicionamento vertical dos acessórios segun-
do ALEXANDER1.
refa, provavelmente por apresentar a
coroa mais curta. Além deste fato,
quando o primeiro molar recebeu
tubo duplo, ficando o tubo destina-
do ao arco extrabucal voltado para a
superfície oclusal, isto fazia com que
o tubo retangular se situasse mais
cervicalmente, induzindo o erro de
posicionamento do segundo pré-mo-
lar. Como os resultados das colagens
dos professores foram bastante seme-
lhantes, os autores concluíram que há
uma limitação humana embutida nes-
ta tarefa, implicando na necessidade
de dobras compensatórias ao térmi-
no do tratamento.
DIAMOND11, em 1989, reconhecen-
do a importância do posicionamento
adequado dos acessórios e a limitação
imposta pela anatomia dentária, pro-
pôs a utilização de um instrumento de
precisão para posicionar os acessórios,
semelhante a uma pistola, onde a pon-
ta ativa possui aletas de orientação,
tanto para o sentido horizontal quan-
to vertical. Justificou a utilização do
método, pela possibilidade de eliminar
erros mais freqüentes, induzidos pela
exposição inadequada da coroa, varia-
ções no tamanho dentário ou deficiên-
cia técnica.
Neste mesmo ano, GERMANE,
ISAACSON15 relacionaram três variá-
veis biológicas capazes de modificar a
inclinação vestíbulo-lingual dentária
quando da utilização dos aparelhos
pré-ajustados: 1. A grande variação no
contorno da face vestibular dentária,
implicando em expressões de torques
diferentes. Para eles, este fator é mui-
to mais importante do que a expres-
são dos torques das várias prescrições
existentes; 2. Diferentes posiciona-
Arco Inferior
x - 0,5mm
Incisivos Laterais x - 0,5mm
Caninos x + 0,5mm
x
Primeiro molar x - 0,5mm
Segundo molar não descrito
46
mentos dos acessórios no sentido ver-
tical e 3. A orientação do longo eixo
da coroa em relação ao da raiz.
MCLAUGHLIN, BENNETT27, em
1995, apresentaram o resultado de
quatro estudos realizados com a fina-
lidade de identificar os centros das
coroas clínicas. Estes autores motiva-
ram-se no fato de que existem diferen-
tes maneiras pelas quais a posição dos
acessórios pode desviar-se da ideal:
erros horizontais, onde rotações ocor-
rem; erros axiais ou de paralelismo, re-
sultando em angulações incorretas da
coroa; erros de espessura, com adição
de mais ou menos material na inter-
face dente-acessório; e também erros
verticais, levando à intrusão ou
extrusão, alterações no torque e na
posição vestíbulo-lingual. Dentes par-
cialmente irrompidos, inflamação gen-
gival e dentes muito inclinados para
a vestibular ou lingual, podem levar
também a erros de posicionamento.
O primeiro estudo avaliou o cen-
tro da coroa anatômica, definida como
a porção de dentina coberta por esmal-
te. Duas fontes publicadas foram usa-
das, uma delas com mais de 200 pa-
cientes. A maior diferença encontrada
entre os dois estudos foi de 0,4mm para
o incisivo lateral apenas.
No segundo estudo, os autores
avaliaram o centro da coroa clínica,
definida como toda a porção de esmal-
te visível na cavidade bucal. A média
das medições da altura da coroa clíni-
ca foi determinada em 120 modelos de
estudo anteriores ao tratamento, se-
lecionados a partir das seguintes ob-
servações: erupção completa; dente de
tamanho proporcionalmente correto;
nenhuma evidência de significante
inclinação vestibular ou lingual; au-
sência de inflamação gengival e au-
sência de desgaste excessivo ou fra-
tura. A distância da margem incisal ou
oclusal ao centro da coroa clínica foi
apenas em torno de 0,5mm menor do
que a distância ao centro da coroa
anatômica de cada dente. Estas mé-
dias resultaram num mapa de posici-
onamento teórico dos acessórios.
O terceiro estudo consistiu de uma
Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.5, n.3, p.45-51 - maio/jun. - 2000
avaliação de casos tratados de acordo
com as seis chaves de oclusão de An-
drews. Vários casos sem extração tra-
tados pela American Board of Orthodon-
tics ou pela Angle Society foram sele-
cionados por um dos autores. Os mo-
delos finais foram duplicados, os cen-
tros das coroas clínicas foram marca-
dos e qualquer desvio desta linha foi
registrado. Os resultados mostraram
desvios de posicionamento nos aces-
sórios dos pré-molares superiores e se-
gundos molares, de 0,5mm mais
oclusal e de 0,5 a 1mm mais gengival,
respectivamente. Nos dentes inferio-
res, houve desvios nos caninos e pri-
meiros molares, ambos de 0,5mm mais
gengival.
No quarto e último estudo, avali-
aram as alturas dos acessórios dos ca-
sos clínicos, anteriormente à remoção
do aparelho. Para a seleção dos casos,
as posições dos acessórios tinham que
estar permitindo a inserção dos arcos
sem nenhuma dobra. Assim como no
estudo anterior, os braquetes não es-
tavam posicionados nos centros das
coroas clínicas de todos os dentes. No
arco superior, as alturas dos braque-
tes dos pré-molares estavam 0,5mm
maiores do que aquelas encontradas
no mapa de posicionamento teórico, e
a altura dos braquetes dos segundos
molares estava de 0,5 a 1mm menor,
ou seja, mais para a oclusal. No arco
inferior, as alturas dos braquetes dos
caninos, dos primeiros e segundos
molares eram 0,5mm menores.
As variações mínimas encontradas
nos estudos 3 e 4 foram incorporadas
no Mapa de Posicionamento Teóri-
co para produzir um Mapa de Posici-
onamento Recomendado pelos auto-
res. Para a utilização deste mapa,
deve-se proceder da seguinte manei-
ra: 1. Medir as alturas das coroas clí-
nicas da maioria dos dentes irrompi-
dos no modelo de estudo; 2. Dividir
cada medida na metade, arredondan-
do para o 0,5mm mais próximo, para
obter a distância da borda incisal ou
oclusal ao centro da coroa clínica; 3.
Selecionar a fileira no mapa de posi-
cionamento que corresponda ao mai-
or número de coincidências com os va-
lores do paciente. Medidas de dentes
desproporcionais, maiores ou menores,
serão automaticamente ajustadas; 4.
Posicionar cada acessório inicialmen-
te visualizando o longo eixo vertical
como referência vertical, e o centro
estimado da coroa clínica como refe-
rência horizontal; 5. Usar um posicio-
nador para ajustar as alturas dos bra-
quetes aos valores exatos do mapa re-
comendado. Os autores recomendam
ainda a utilização de adesivo foto-
polimerizável, devido ao fato deste
não limitar o tempo de trabalho7,27.
A maior vantagem da utilização
deste mapa é eliminar erros causados
por variações da altura gengival, pois
a maioria dos erros verticais se devem
à inadequada visualização da metade
gengival da coroa clínica. Este mapa
também inclui um ajuste para dentes
desproporcionalmente grandes ou pe-
quenos, evitando interferências oclu-
sais, falta de contato oclusal e proble-
mas estéticos. As únicas situações des-
cobertas são os casos de cúspides mui-
to estreitas e longas ou de fraturas e
desgastes incisais ou oclusais. Nestas
situações deve-se fazer ajustes aos va-
lores sugeridos7,27.
Nenhum sistema de posicionamen-
to de acessórios consegue eliminar por
completo interferências com os aces-
sórios inferiores. Quando isto ocorre
na região dos molares, usualmente
deve-se à inclinação da coroa para lin-
gual, o que eleva os braquetes na face
vestibular. Neste caso ou se permite a
interferência até a verticalização da
coroa, ou se usa uma placa de levan-
tamento de mordida, ou ainda se po-
siciona todos os acessórios do arco in-
ferior proporcionalmente mais para
gengival6,27.
Quando ocorre interferência na re-
gião dos incisivos, normalmente deve-
se à sobremordida. Pode-se optar por
não colar os incisivos até a abertura
da mordida, deixar interferindo, ou
usar uma placa de levantamento de
mordida. Com isto, os autores acredi-
tam que a posição poderá variar em
função não só da morfologia da face
47
vestibular, como também de aspectos
tais como sobremordida ou mordida
aberta anterior.
Na Terapia Bioeficiente, de
VIAZIS37,38, a altura dos acessórios tam-
bém deve seguir uma proporção, mos-
trada no quadro abaixo (TAB. 2):
Discussão
Como existem algumas variáveis
que afetam diferentemente o posicio-
namento dos acessórios nos arcos su-
perior e inferior, a discussão será rea-
lizada separadamente para cada arco.
- Arco superior
Na determinação da altura dos
acessórios, a primeira preocupação
consiste em estabelecer qual dente irá
orientar a altura dos demais acessóri-
os no arco. De acordo com ALEXAN-
DER1 e VIAZIS37,38, os pré-molares de-
terminam esta altura, pelo fato das
alturas de suas coroas clínicas serem
muito variáveis. Segundo BALUT6, o
dente que oferece maior dificuldade na
colocação vertical do acessório é o se-
gundo pré-molar superior, provavel-
mente devido ao comprimento de sua
coroa clínica, algumas vezes curta.
Desta forma, a altura determinada
pelo dente mais curto caberá no dente
mais longo, enquanto que o inverso
não é verdadeiro. Isto pode fazer com
que os dentes anteriores apresentem
uma altura do acessório mais para
incisal, em relação ao centro da coroa
clínica, conforme recomendado por
ANDREWS3. Entretanto, deve-se lem-
brar que ROTH30, ao realizar pequenas
modificações no aparelho de Andrews
também recomendou o posicionamen-
TABELA 2
Arco Superior
Incisivos Centrais x Incisivos Centrais
Incisivos Laterais x - 0,5mm
Caninos x + 1mm
Pré-molares x Pré-molares
Primeiro molar x - 0,5mm
Segundo molar x - 1mm
Valores da altura (em milímetros) para o posicionamento vertical dos acessórios segun-
do VIAZIS 37,38.
Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.5, n.3, p.45-51 - maio/jun. - 2000
to dos acessórios mais para incisal vi-
sando obter uma boa oclusão funcio-
nal ao término do tratamento. Eviden-
temente que este posicionamento
pode causar ligeira alteração nos
torques recomendados para aquelas
técnicas que preconizam o posiciona-
mento dos acessórios no centro da co-
roa clínica. Deve-se lembrar que os
torques embutidos nos aparelhos são
médias de uma população de casos
com oclusões normais da natureza e
por essa razão apresentam certa sus-
ceptibilidade de sofrerem individuali-
zações, mesmo quando posicionados
de acordo com o recomendado. Além
do mais, variações anatômicas dentá-
rias também requerem dobras compen-
satórias de individualização10,14, 15,34.
Uma vez que alguma dobra compen-
satória poderá ser necessária em al-
guns casos, um pequeno aumento ou
diminuição dessa dobra por uma pe-
quena diferença não acarretará difi-
culdades clínicas ao operador. Por ou-
tro lado, se o dente mais comprido fos-
se tomado como referência, a altura do
acessório do dente mais curto seria me-
nor (por não comportar uma altura
maior devido ao seu tamanho) e este
estaria localizado aquém do plano
oclusal e necessitaria, invariavelmen-
te de um degrau de extrusão (FIG. 1).
Portanto, enquanto que na primeira
opção a realização de dobras compen-
satórias seria uma possibilidade, na se-
gunda seria uma necessidade impres-
cindível e com certeza tomaria maior
tempo clínico do profissional.
Outro fator que deve ser levado em
consideração é a dimensão do fio re-
tangular a ser instalado nos acessóri-
Arco Inferior
y
Incisivos Laterais y
Caninos y + 1mm
y
Primeiro molar y - 0,5mm
Segundo molar y - 1mm
os. Atualmente8-10,33,36-38, há uma tendên-
cia em se utilizar fios retangulares com
uma maior liberdade com as ranhuras
dos acessórios, como por exemplo fios
de 0,018 x 0,025 ou 0,019 x 0,025 po-
legada em ranhuras de 0,022 x 0,028
polegada. Isto permite um menor atri-
to durante os procedimentos de retra-
ção na mecânica de deslizamento e tam-
bém diminui a influência das variações
de posicionamento vertical dos acessó-
rios nas inclinações vestíbulo-linguais
dos dentes. Em casos específicos quan-
do se deseja a manifestação de todo o
torque dos acessórios nos dentes, pode-
se utilizar um fio de maiores dimensões,
ao final do tratamento9.
- Arco inferior
As mesmas considerações acima des-
critas para o arco superior se aplicam ao
arco inferior adicionadas dos cuidados
quanto à interferência que os acessóri-
os podem provocar na oclusão. Geral-
mente os casos com sobremordida pro-
funda são os que apresentam maiores
interferências com os acessórios9,27. Isto
acontece porque os casos de sobremor-
dida profunda estão associados geral-
mente com o padrão horizontal, que
apresentam as coroas mais curtas e uma
maior inclinação para lingual dos den-
tes posteriores do que casos de padrão
vertical13,17,21,31,32. Na região dos incisivos
este problema é contornado adiando-se
a colagem dos acessórios para a fase em
que os incisivos superiores já tenham
sido intruídos23, geralmente com a utili-
zação de curva acentuada no arco su-
perior2,4,10,27. Na região posterior essa so-
bremordida não é passível de correção,
na maioria das vezes e portanto o
FIGURA 1 - Segundo pré-molar superior
aquém do plano oclusal devido à peque-
na altura do acessório.
48
posicionamento dos acessórios deve se
adaptar a essa situação27. A melhor for-
ma é colocar o acessório o mais para
cervical até que não interfira com os
antagonistas superiores e assim esta-
belecer o X, no dente mais curto (FIG.
2, A e B). O posicionamento nos demais
dentes segue então a recomendação de
preferência do operador, de acordo com
as existentes. Mesmo seguindo essas
recomendações é possível que os
bráquetes dos pré-molares apresentem
uma taxa de falha de colagem relati-
vamente alta6,27. Por esse motivo é que
muitos profissionais preferem bandar
os pré-molares para evitar a perda de
tempo em recolar os acessórios7.
Um outro problema bastante co-
mum nos casos de sobremordida pro-
funda é a colagem dos acessórios nos
caninos, no arco inferior. O problema
da sobremordida profunda nos incisi-
vos é solucionado com a acentuação
da curva de Spee no arco superior2,4.
Entretanto, esse procedimento não é
capaz de possibilitar a colagem dos
acessórios nos caninos inferiores, sem
causar interferências. Na opinião dos
autores a melhor solução é bandar-se
os caninos e soldar os acessórios de
acordo com a prescrição utilizada
(FIG.3). Isto causará uma interferên-
cia com os caninos superiores, mas a
banda não se soltará e nem o acessó-
rio será removido se tiver sido bem
soldado. O paciente deve ser avisado
desta interferência e instruído a não
se alimentar com alimentos muito du-
ros pois poderão causar uma grande
sensibilidade. Uma vez que todos os
acessórios no arco inferior estiverem
em posição, inicia-se o nivelamento
com um arco apresentando reversão da
curva de Spee. Após 1 a 2 meses, com
ligeira intrusão dos dentes anteriores
inferiores, normalmente haverá elimi-
nação das interferências.
Recomendações especiais para
casos de sobremordida profun-
da e mordida aberta
Alguns detalhes no posicionamen-
to dos acessórios nos dentes anteriores
podem ajudar na correção da sobremor-
dida profunda e da mordida aberta. Nos
casos de sobremordida profunda, além
de se seguir as orientações acima des-
critas, pode-se ainda, para facilitar a
intrusão dos dentes anteriores superi-
ores e inferiores colar-se os acessórios
destes dentes mais para incisal7,9,27,37,38
(FIG. 4). Este procedimento ajudará na
reversão e acentuação da curva de Spee,
com a finalidade de obter o trespasse
vertical ideal ou até mesmo de se obter
uma sobrecorreção deste, devido à ten-
dência de recidiva deste proble-
ma12,18,24,26,39.
Nos casos de mordida aberta, o ra-
ciocínio é inverso, ou seja, os acessó-
rios dos dentes anteriores devem ser
fixados mais para cervical (FIG. 5),
principalmente dos dentes ântero-in-
feriores, com a finalidade de propiciar
uma normalização do trespasse verti-
cal, ou ainda uma sobrecorreção des-
te, para garantir uma maior estabili-
dade do resultado obtido1, visto que
há também uma grande tendência à
recidiva da mordida aberta anterior
quando tratada na dentadura perma-
nente16,19,22,25.
Conclusões
1 - Existem diferentes prescrições
para o posicionamento vertical dos
acessórios dos dentes em relação aos
outros e isto reflete principalmente o
aspecto estético final da oclusão, dese-
jado por cada autor.
2 - No arco superior, independente-
mente da prescrição vertical a ser utili-
zada pelo operador, o dente chave para

A B
FIGURA 2 - A) Acessório do segundo pré-molar inferior interferindo na oclusão. FIGURA 3 - Canino inferior bandado com
B) Posicionamento mais para cervical do acessório. altura do acessório de acordo com a pres-
crição.

FIGURA 4 - Sobremordida profunda - FIGURA 5 - Mordida aberta - acessórios

acessórios posicionados mais para incisal. posicionados mais para cervical.

Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.5, n.3, p.45-51 - maio/jun. - 2000 49
a determinação do posicionamento ver-
tical dos acessórios para os demais de-
verá ser o dente mais curto do arco, que
geralmente são os pré-molares.
3 - No arco inferior, o fator determi-
nante do posicionamento vertical dos
acessórios é a sobremordida profunda
nos dentes posteriores. O dente chave
para a determinação do posicionamen-
to vertical dos demais será o dente pos-
terior em que o acessório tiver que ser
colocado o mais cervicalmente, devido
à sobremordida, para evitar interferên-
cias com a oclusão.
4 - Nos casos de sobremordida pro-
funda na região dos caninos, estes de-
verão ser bandados e os acessórios po-
sicionados de acordo com a altura re-
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Rev Dental Press Ortodon Ortop Facial - v.5, n.3, p.45-51 - maio/jun. - 2000
comendada. As possíveis interferênci-
as resultantes serão corrigidas dentro
de 1 a 2 meses.
5 - Além dessas recomendações, ca-
sos de sobremordida profunda são be-
neficiados se os dentes anteriores ti-
verem os seus acessórios posicionados
mais para incisal em relação à prescri-
ção utilizada, facilitando a intrusão
destes e ajudando na estabilidade da
correção.
6 - Por outro lado, os casos de mor-
dida aberta são beneficiados se os
acessórios dos dentes anteriores, prin-
cipalmente os ântero-inferiores forem
posicionados mais para cervical, per-
mitindo uma sobrecorreção do trespas-
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Abstract
Certain malocclusion charac-
teristics prevent the correct bracket
positioning on the teeth causing
several problems at the finishing
stages of the orthodontic treatment.
Therefore, to provide some useful
guidelines in this procedure this ar-
ticle discusses the vertical position-
ing of orthodontic accessories ac-
cording to different prescriptions
and presents suggestions to over-
come clinical difficulties that may
be present.
Uniterms: Vertical positioning;
Orthodontic accessories.
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Endereço para Correspondência
Prof. Dr. Guilherme Janson
Departamento de Ortodontia
Fac. de Odontologia de Bauru – USP
Al. Otávio Pinheiro Brisolla, 9-75
Bauru – SP – 17043-101
e-mail: jansong@travelnet.com.br
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