seção•biomecânica

Formato dos
attachments e
sua influência na
movimentação
com alinhadores:
Parte I

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Martins RP, Parizotto J Formato dos attachments e sua influência na movimentação com alinhadores: Parte I

Resumo

O sucesso no tratamento com ali-

a)  Renato Parsekian MARTINS1,2,3,4,5,6
b)  Julianna PARIZOTTO7,8
1.  Mestre e Doutor em Ortodontia, Universidade Estadual Paulista, Faculdade
de Odontologia de Araraquara (Araraquara/SP, Brasil).
2.  Pós-doutor em Ortodontia, Universidade Estadual Paulista, Faculdade de
Odontologia de Araraquara (Araraquara/SP, Brasil).
nhadores não envolve somente um
bom planejamento virtual, mas tam-
bém um adequado conhecimento mecâ-
nico. Entretanto, o conhecimento clínico
ortodôntico obtido com braquetes vestibulares
não é suficiente para a compreensão completa da mecâ-
nica com alinhadores, incluindo o uso de attachments.
Esse conhecimento é mandatório para movimentos
complexos, como o de extrusão. O desenho dos attach-
ments que são utilizados tem um papel importante na
adaptação dos alinhadores e, combinado com a quanti-
dade adequada de ativação, possibilita um tratamento

3.  Doutorado sanduíche, Texas A&M University, Baylor College of Dentistry previsível com alinhadores.
(Dallas, EUA).

4.  Professor colaborador da pós-graduação em Ciências Odontológicas (área Palavras-chave

de Ortodontia), Universidade Estadual Paulista, Faculdade de Odontologia
de Araraquara (Araraquara/SP, Brasil).
Alinhadores estéticos. Ortodontia.
5.  Editor associado do Dental Press Journal of Orthodontics e da Revista
Clínica de Ortodontia Dental Press. Movimento ortodôntico.
6.  Professor no Curso de Especialização em Ortodontia, ABO Goiás (Goiânia/GO,
Brasil).

7.  Especialista em Ortodontia, Universidade de São Paulo, Hospital de

Reabilitação de Anomalias Craniofaciais (Bauru/SP, Brasil).

8.  Mestranda em Ortodontia, Universidade Estadual Paulista, Faculdade de

Odontologia de Araraquara (Araraquara/SP, Brasil).

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 Martins RP, Parizotto J
O
 tratamento com alinhadores orto-
dônticos tem se tornado uma opção
viável no consultório dos ortodontistas
nas últimas décadas. Entretanto, nem
todos os movimentos conseguidos com braquetes
convencionais têm a mesma eficiência quando são
realizados com alinhadores1. Sabe-se que, para
otimizar a previsibilidade de alguns movimen-
tos com esse tipo de aparelho, deve-se utilizar
attachments. Attachments, apoios ou engagers
são acessórios de resina confeccionados sobre
o esmalte dentário, com o objetivo de aumentar
o atrito dos alinhadores com os dentes e auxiliar
nas movimentações dentárias.
Para rotações, inclinações e angulações pequenas
e/ou sinérgicas , onde a mecânica é favorável,
2
muitas vezes dispensa-se o uso dos attachments.
Entretanto, para os movimentos como extrusão
e rotação de dentes com formato redondo ,
considerados complexos de se realizar com os
alinhadores, o uso de attachments é indispensá-
vel. Se mecânicas auxiliares ou attachments não
sejam utilizados nesses casos, os alinhadores são
incapazes de atingir, com previsibilidade, o movi-
mento planejado4,5. Os movimentos com menor
eficiência, como os de extrusão e os de rotação,
têm acurácia média, respectivamente, de 29,6%3,6
e de 54,2% a 66,8% . Assim, quando o ortodontista
5
planeja o tratamento com alinhadores, é preciso
escolher quais dentes precisarão de attachments
e quais são seus formatos adequados.
Entretanto, há um sério problema. O conheci-
mento ortodôntico tradicional com braquetes
auxilia pouco o ortodontista no planejamento do
formato dos attachments com alinhadores, pois os
princípios de funcionamento e as propriedades
mecânicas são diferentes em cada dispositivo.
Enquanto o ortodontista convencional baseia suas
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Formato dos attachments e sua influência na movimentação com alinhadores: Parte I
estimativas em deflexões dos fios ortodônticos
superelásticos ou hookeanos, nos alinhadores
é muito difícil estimar a deflexão do plástico e o
que ela irá causar. Adicionalmente, é mais fácil
deformar permanentemente os plásticos dos
alinhadores do que deformar os fios superelás-
ticos, sem contar que os primeiros possuem um
relaxamento de tensão diferente e maior do que os
metais ortodônticos. Assim, o uso de attachments
com formato inadequado pode causar deflexões
inesperadas no plástico do alinhador, de forma
que ele perca contato com a superfície do dente
e não consiga induzir o movimento planejado.
Visto que os movimentos de extrusão são conside-
rados complexos de se realizar com alinhadores,
iremos utilizá-los como exemplo. Esse tipo de
movimento é intricado porque, além do seu
sentido ser contrário à orientação do ligamento
3
periodontal, há pouco atrito entre o alinhador
e o dente. O fato de o alinhador não conseguir
“ter  pega” (coloquialmente falando) faz com
que não haja força transmitida ao dente para
gerar sua extrusão. Assim, um ortodontista com
conhecimento adquirido somente com Ortodontia
convencional pode imaginar um attachment com
superfície reta perpendicular à força extrusiva
como sendo o mais eficiente para realizar esse
tipo de movimento (Fig. 1A). Apesar de parecer
intuitivamente correto, e até mesmo produzir
um bom encaixe passivo (Fig. 1B), esse desenho
de attachment provavelmente não produzirá o
movimento desejado e poderá impedir outros,
como o de rotação, de ocorrerem.
O problema surge porque, durante a inserção do
alinhador ativo, o plástico com o formato de um
attachment de superfície reta e perpendicular não
se adapta à superfície do attachment de resina
preso ao dente (Fig. 2A). Essa deflexão inesperada
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irá produzir uma força de extrusão com direção
diferente da planejada. (Fig. 2B). O motivo disso
ocorrer é a falta de elasticidade do plástico (como
classe de material), que não permite um alonga-
mento elástico, tal qual poderia ocorrer em um
fio ortodôntico (que também pode deslizar pelos
braquetes). Um segundo problema é que a concen-
tração de forças em um ponto pequeno lavará a
um acúmulo de alta tensão no alinhador, causando
não somente uma deformação plástica, mas
também favorecendo um relaxamento de tensão.
Isso possivelmente terá um efeito detrimental
na intensidade da força aplicada. Um terceiro
problema claramente visível é que o alinhador
se desadapta em demasia da cervical do dente,
impedindo o plástico de envolvê-lo completamente.
Esse maior problema, entre os três citados, irá
influenciar de forma negativa a correção da má
posição dentária em outros planos do espaço
que necessitam de uma adaptação do alinhador.
Além disso, se a ativação utilizada para extrusão
exceder a adequada, a deflexão do plástico agravará
ainda mais a desadaptação do alinhador, podendo
potencializar todos os problemas citados (Fig. 2C).

A B

Figura 1: A) Attachment retangular desenhado para extrusão, com superfície perpendicular à força planejada. Conceitos
atuais de biomecânica levam o ortodontista a esse design. B) O encaixe do alinhador passivo pode dar uma falsa impressão
de que o attachment funcionará como planejado, extruindo o dente na mesma orientação da face ativa do attachment.

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A B C

Figura 2: A) Alinhador com ativação de 0,1mm para extrusão, recortado para exemplificar a sua falta de adaptação no
attachment e na cervical do central superior, causada pelo ângulo reto do attachment, na cervical, e pela baixa elasticidade
do plástico. B) Mesma imagem da Figura 2A mostrando o vetor de força desejado para a extrusão do central (seta azul)
e o vetor produzido pelo alinhador (seta vermelha). C) Alinhador com ativação de 0,2mm para extrusão, recortado para
exemplificar a sua maior desadaptação no attachment e na superfície cervical do dente: observa-se que essa ativação é
excessiva para a movimentação planejada.

Seguindo a deflexão do plástico do alinhador (Fig. 2A),

pode-se desenhar um attachment biselado na cer-
vical (Fig. 3). O propósito desse formato é impedir
a desadaptação do alinhador nessa mesma região.
Novamente, a falta de adaptação do alinhador é um
grande, talvez o mais importante, fator que impede
movimentações compostas e o tracking dos dentes
(o acompanhamento da movimentação de acordo
com o planejado para o alinhador)7.

Um attachment com a superfície ativa (a que receberá

a força) biselada é uma proposta mais adequada
para movimentos de extrusão, pois parece favorecer
o encaixe do alinhador sem que ele se desadapte.
Apesar de ser contraintuitivo, esse design possibilita
que sua superfície ativa fique em maior contato
com o plástico não somente quando está passivo
(Fig. 4A), mas também quando está ativo (Fig. 4B).
Figura 3: Attachment com formato triangular desenhado
Isso também possibilita uma menor tensão aplicada
para extrusão, com superfície biselada na cervical, seguindo
ao plástico, minimizando sua deformação, sem a estimativa de desadaptação do alinhador. O design é
contar que o aumento do atrito é crucial para que claramente contraintuitivo para a movimentação planejada.

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a força planejada consiga ser transmitida para o
dente. Infelizmente, mesmo quando esse attachment
de superfície biselada é utilizado, a direção da força
obtida pode, ainda, não ser a mesma da força dese-
jada; entretanto, a desadaptação do alinhador é bem
menor do que quando comparado ao attachment
com ângulo cervical reto (Fig. 4C). Deve-se lembrar
que, apesar de esse attachment com superfície bise-
lada ser mais adequado para movimentações, não
se altera o fato de que uma grande ativação vertical
irá favorecer a desadaptação e consequente perda
do tracking (Fig. 4D).

A B

C D

Figura 4: A) Alinhador passivo encaixado e recortado, para demonstrar a boa adaptação do attachment biselado, seme-
lhante à encontrada no attachment em ângulo reto da Figura 1B. B) Alinhador com ativação de 0,1mm para extrusão,
recortado para exemplificar a melhor adaptação ao redor do attachment e na cervical do incisivo central, comparada à
desadaptação mostrada na Figura 2A, com o attachment em ângulo reto. C) Nesse caso, a direção da força planejada (seta
azul) ainda não é a ideal e diferente da obtida (seta vermelha), mas o alinhador fica mais bem adaptado. D) Alinhador com
ativação de 0,2mm para extrusão, recortado para exemplificar que, com uma ativação maior, a desadaptação aumenta.
Nesse caso, apesar de aumentar, ela se mostra menor do que no attachment em ângulo reto.

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 Martins RP, Parizotto J
É importante ter em mente que o conceito de
utilização de superfícies biseladas para favorecer
o encaixe dos alinhadores aplica-se não somente
ao movimento de extrusão, mas também a todos
os outros planos do espaço. Devemos lembrar
que a nossa intuição nos leva a pensar que os
alinhadores se comportarão de uma certa maneira,
mas que isso pode não ser verdadeiro. Isso ocorre
porque não conseguimos, ainda, incorporar em
nossas “mentes ortodônticas” como o plástico dos
alinhadores se deforma. Talvez em alguns anos
possamos estimar de maneira mais segura como
a biomecânica dos attachments funciona.
Attachment shape and
its influence on aligner
orthodontics: Part I
Abstract
Successful treatment with aligners involves much
more than the virtual planning; mechanical
knowledge is also needed. Common mechanical
knowledge acquired with conventional ortho-
dontics with fixed appliance is not enough to fully
understand aligner mechanics, specially with
attachments. Their use is mandatory in challeng-
ing movements, such as extrusion. The design of
the attachment that will be used plays an important
role in aligner adaptation and, combined with the
adequate amount of activation, allows predictable
treatment with aligners.
Keywords
Clear aligner appliances. Orthodontics. Ortho-
dontic movement.
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Formato dos attachments e sua influência na movimentação com alinhadores: Parte I
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doi: 10.2319/020719-86.1. [Epub ahead of print].
Como citar: Martins RP, Parizotto J. Formato dos attachments e sua influência
na movimentação com alinhadores: Parte I. Rev Clín Ortod Dental Press. 2019
Dez-2020 Jan;18(6):28-34.
Enviado em: 05/12/2019 - Revisado e aceito: 10/12/2019
DOI: https://doi.org/10.14436/1676-6849.18.6.028-034.bio
Endereço para correspondência: Renato Parsekian Martins
E-mail: dr_renatopmartins@hotmail.com
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