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Arno Locks
Mestre em Ortodontia pela UFRJ. Doutor em Ortodontia pela UNESP. Pós-doutorado em Ortodontia na Universidade de Aarhus-Dinamarca.
Professor da disciplina de Ortodontia da UFSC. Diplomado pelo Board Brasileiro de Ortodontia e Ortopedia Facial.
Como citar este artigo: Locks A, Locks RL, Locks LL. Diferentes abordagens para a verticalização de molares. Rev Clín Ortod Os autores declaram não ter interesses associativos, comerciais,
Dental Press. 2015 ago-set;14(4):32-48. de propriedade ou financeiros que representem conflito de
interesse nos produtos e companhias descritos nesse artigo.
Enviado em: 03/12/2014 - Revisado e aceito: 14/04/2015
O(s) paciente(s) que aparece(m) no presente artigo
Endereço de correspondência: Arno Locks autorizou(aram) previamente a publicação de suas fotografias
Rua Presidente Coutinho, 311, conj.1101, Florianópolis/SC - E-mail: ortoarno@gmail.com faciais e intrabucais, e/ou radiografias.
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Diferentes abordagens para a verticalização de molares
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Figura 1: Verticalização do molar com Figura 2: Verticalização do molar com o Figura 3: Verticalização do molar com o
movimento de coroa para a distal, man- centro de rotação na coroa: mantém-se a centro de rotação próximo ao ou no cen-
tendo a raiz mesial na posição, onde o coroa na posição e mesializam-se as raízes. tro de resistência do dente: a coroa vai
centro de rotação se encontra. para a distal e as raízes, para a mesial.
b a
a b
5A 5B 5C
Figura 4: Verticalização do molar com o centro de rotação no Figura 5: Esquema mostrando que um molar inclinado tem me-
ápice da raiz distal: distalização da coroa; porém, com extrusão nos altura do que quando verticalizado.
da raiz mesial.
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Figura 7: Verticalização do molar com ancoragem em mini-implante na região retromolar: Figura 8: Verticalização do molar com o
o centro de rotação estará no ápice da raiz mesial, ocorrendo intrusão da raiz distal. centro de rotação no centro de resistência
do molar: há mesialização desse dente, ne-
cessitando-se de um componente de força
no sentido mesial, ancorado nos dentes an-
teriores ou em ancoragem absoluta.
força no sentido mesial, ancorado aos dentes anteriores extrusão pode ser conveniente, mas deve haver con-
ou em ancoragem absoluta. Da mesma forma, há a ne- trole, pois um molar inclinado tem menos altura do
cessidade intrusiva, durante a verticalização. que se estivesse na vertical (Fig. 5); assim, só o fato
de se provocar a sua verticalização, sem nenhum efei-
to extrusivo na raiz distal, já é o suficiente para provo-
POSSÍVEIS MECÂNICAS EMPREGADAS car trauma e mordida aberta (Fig. 5C).
Verticalização com utilização de arco contínuo Portanto, ao verticalizá-lo, é saudável que haja tensão
Qualquer mecânica proposta utilizando arco contínuo, na mesial, pelo movimento distal da coroa e um pouco
com as mais diferentes dobras (“T” loop duplos ou de extrusão da raiz mesial. Já a raiz distal deve sofrer in-
simples, mola em “U”, utilização de fios iniciais mais trusão, para não provocar problemas oclusais (Fig. 5C).
flexíveis e com menor calibre), provoca extrusão do
dente a ser verticalizado. Vários autores11,20-25 com- Observa-se, na Figura 5B, que as distâncias ‘a’ (com-
provam que, quando o periodonto está saudável, a primento real das raízes) são maiores do que as distân-
extrusão melhora a área afetada — que, no caso, está cias ‘b’ (perpendiculares)
localizada na mesial do molar —, pois, com a verti-
calização, há incorporação de área de tensão nesse Independentemente de se usar dobras ou não, nos três
local. De um modo geral, nos casos de inclinação de exemplos (Fig. 9, 10, 11) ocorre extrusão total dos mo-
molar, as cúspides mesiais ficam sem contato com o lares, isso é, das raízes mesial e distal, além de haver
antagonista; portanto, há necessidade de extrusão. a tendência intrusiva da área de ancoragem. Pode-se
Mas as cúspides distais normalmente estão em con- impedir a intrusão da área de ancoragem usando mini-
tato com os dentes oponentes, e qualquer extrusão -implantes ou arcos mais espessos, ou pela colagem de
provocará problemas oclusais como trauma e tendên- fios por lingual (por exemplo, de canino a canino); mas,
cia à mordida aberta na região anterior. Assim, alguma de qualquer forma, haverá extrusão total do molar.
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Figura 9: Utilização de arco continuo com “T loop” na verticalização, Figura 10: Utilização de arco continuo mais flexível na verticalização,
ocasionando extrusão do molar. ocasionando extrusão do molar.
Figura 11: Utilização de arco contínuo, com dobra em forma de “U”, na verticalização, ocasionando extrusão do molar.
A utilização de fios mais flexíveis tem a vantagem de di- terminar, com facilidade, as forças aplicadas e o mo-
minuir a força extrusiva, mas essa estará sempre pre- mento (tendência de giro) gerado na verticalização
sente, até que ocorra a verticalização completa do mo- do molar: M = F x D, onde M = momento, F = força e
lar. Se o caso permitir esse tipo de extrusão (o que é D = distância (Fig. 12, 13).
muito raro), ou quando a inclinação for muito pequena,
pode-se utilizá-la com muito cuidado e controle. Assim, aumentando a distância do ponto de aplica-
ção da força (cantilevers mais longos), poderemos
Utilização de cantilevers aplicar forças menores e obter momento mais efe-
O sistema mecânico utilizando cantilevers é um sis- tivo, diminuindo os efeitos colaterais extrusivos no
tema estaticamente determinado, pois é possível de- molar e intrusivos nos dentes de ancoragem19,26,27,28.
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Figura 12: Verticalização do molar com uso de cantilever curto, Figura 13: Verticalização do molar com uso de cantilever mais lon-
mostrando seus efeitos. go, ocasionando um momento maior no dente.
De qualquer forma, a sua utilização sem os devidos cui- Uma das formas de se incorporar componente intrusivo
dados provoca extrusão do molar, o que, na maioria dos é a utilização de dois cantilevers (cantilever duplo), onde
casos, é contraindicado. um provocará a verticalização e o outro fará a intrusão
do molar, eliminando-se, assim, a extrusão indesejável.
O fio mais indicado e mais eficiente é o fio de titânio mo- Esse cantilever se apoia em um tubo vertical no arco
libdênio (TMA) 0,017” x 0,025”, pois é um fio que permi- (criss-cross). O inconveniente desse sistema é o des-
te ativações maiores, com produção de forças menores conforto ao paciente, com a presença de dois fios em
e atuantes por mais tempo. O fio de aço também pode uma área muito propícia a traumas na mucosa (Fig. 17).
ser utilizado, com incorporação de dobras, mas qual-
quer ativação, por menor que seja, provoca forças exa- Outra maneira mais simples é utilizar o próprio arco con-
geradas e com menor tempo de atuação. tínuo, deixando-o mais longo até o molar e amarrando a
sua extremidade sobre o tubo do molar, servindo como
O importante na verticalização é a eficiência do momen- cantilever com força intrusiva (Fig. 18).
to gerado, com a utilização da menor força possível, que
pode ser em torno de 40 a 50 gramas-força, com mag- Para diminuir os efeitos da mastigação sobre o fio contínuo,
nitude do momento necessário para a verticalização do pode-se fazer uma dobra em “U” (Fig. 19). É importante lem-
molar sugerida entre 1000 e 1500g.mm29. brar, sempre que possível, de se utilizar ancoragem absoluta.
Portanto, se a extrusão não for desejada, é importante que Não se deve ativá-lo nas presilhas, pois, com a defor-
se incorpore ao sistema algum componente intrusivo10,17,19. mação que o arco sofre, haverá incorporação de forças
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Figura 14: Cantilever apoiado em mini- Figura 15: Cantilever com alças para Figura 16: Cantilever usado com mini-im-
-implante: além da verticalização, ocorre abrir ou fechar espaço, apoiado em mini- plante para ancoragem indireta.
extrusão do molar. -implante: assim como no cantilever sem
alça, além da verticalização, há uma força
extrusiva do molar.
Figura 17: Cantilevers duplos, para con- Figura 18: Utilização da extremidade do Figura 19: Uso de arco contínuo com do-
trole vertical durante a verticalização. arco contínuo impedindo a extrusão do bra em “U” impedindo a extrusão do molar,
molar, quando do uso de cantilever. quando da utilização de cantilever, com
o intuito, também, de evitar os efeitos da
mastigação sobre o fio.
intrusivas na área de ancoragem e extrusivas na área do As duas ativações devem ser feitas exatamente iguais,
molar a ser verticalizado. para que haja somente incorporação de momentos
(geometria VI de Burstone) (Fig. 22). Se o lado de anco-
Para evitar esses efeitos colaterais, deve-se ativá-lo ragem estiver bem sedimentado, à medida que o mo-
na região anterior, com dobra tip-foward no lado de lar for se verticalizando, haverá incorporação de forças
ancoragem e dobra tip-back no lado do molar a ser intrusivas no molar a ser verticalizado (geometria V de
verticalizado (Fig. 21). Burstone), o que é saudável.
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Diferentes abordagens para a verticalização de molares
22A 22B
Figura 21: Local onde a ativação deverá Figura 22: A) Arco lingual ativado em geometria VI de forma errada, nas presilhas, cau-
ser feita no arco lingual (seta). sando forças intrusivas na área de ancoragem, e extrusivas na área do molar a ser
verticalizado. B) Arco lingual ativado em geometria VI da forma correta, ativando-se na
região anterior do arco lingual.
Portanto, a cada consulta, deve-se reativar, novamente, Para que, inicialmente, haja somente momento, as ativa-
de forma igual nos dois lados, para que o processo seja ções devem ser exatamente iguais, na área do molar e no
eficiente, observando-se com muita atenção a ancora- tubo criss-cross, na área de ancoragem (Fig. 26, 27).
gem do lado oposto.
A área de ancoragem deve estar bem sedimentada, de
O inconveniente desse sistema é o desconforto relatado preferência com uso de mini-implante, para que não
por alguns pacientes, apesar de ser uma mecânica bas- haja nenhuma alteração nela e, assim, a ativação reali-
tante interessante. zada, ao início, no criss-cross não se alterará.
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Figura 23: Verticalização com ancoragem Figura 24: Vista oclusal de verticalização Figura 25: Mola verticalizadora inserida
em mini-implante na região retromolar. ancorada em mini-implante na região re- no tubo do molar e em outro tubo na uni-
tromolar, sendo aplicada força tanto por dade de ancoragem.
vestibular quanto por lingual.
Figura 26: Utilização da mola verticalizadora em que a mesma ativação no molar é utili- Figura 27: Figura mostrando a anulação
zada na unidade de ancoragem, eliminando, assim, as forças e proporcionando somente das forças, ocorrendo somente momento
momentos (geometria VI). Para diminuir os efeitos colaterais, o mini-implante foi utilizado (geometria VI).
como ancoragem indireta.
Figura 28: Componente intrusivo atuando no molar, desde que a unidade de ancoragem
não se modifique (geometria V).
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Figura 29: Mola verticalizadora inserida Figura 30: Utilização da mola verticalizadora em que a mesma ativação no molar é utili-
no tubo do molar e diretamente no mini- zada na unidade de ancoragem, eliminando assim, as forças e proporcionando somente
-implante. momentos (Geometria VI), sendo inserida de maneira direta no mini-implante.
nesse caso ele deve ter rosca direita. Do lado oposto, É importante ressaltar que o movimento de vertica-
ele deve ser de rosca esquerda, para que haja tendên- lização com mesialização é mais complexo do que
cia de giro no sentido favorável a torná-lo mais firme somente a verticalização abrindo-se ou mantendo-
(Fig. 29, 30 e 31). -se o espaço 1,30, pois o componente mesial de força,
se estiver passando acima do centro de resistência,
Quando se deseja abrir ou fechar espaços, juntamente tenderá a inclinar novamente o molar. Para impedir
com a verticalização, pode-se incorporar à mola alguma essa tendência de inclinação, como já citado ante-
forma de loop, que poderá ser ativado para abrir ou fe- riormente, é importante incorporar um braço de for-
char espaços (Fig. 32). ça no tubo do molar, para que o ponto de aplicação
de força passe, se possível, abaixo do centro de re-
Outra forma de se impedir ou diminuir a abertura de es- sistência, de forma a auxiliar no movimento mesial
paços é fazer a ativação em todo o fio, encurtando a sua das raízes (Fig. 36) 31,32.
dimensão (Fig. 33, 34, 35); assim, ao se amarrar os tubos,
haverá tendência de fechamento de espaço. Para poten- Outro aspecto importante ao se optar por fechar espa-
cializar a mesialização do molar, pode-se incorporar um ço é observar a situação periodontal11,33. O osso alveo-
braço de força, com aplicação de força abaixo do centro lar somente está presente para sustentação do dente;
de resistência, na distal ou mesial do tubo auxiliar do molar, na ausência do dente, o osso alveolar se atrofia, pela
e adicionar mola ou elástico, ancorados em mini-implantes falta de função. Esse é um dos aspectos importantes a
(Fig. 36). É importante que se monitore a tendência de ro- serem observados quando se deseja verticalizar e me-
tação do molar, pois todas as forças com tendência mesial sializar o molar. Além desse problema, deve-se obser-
estão sendo aplicadas por vestibular. Isso pode ser realiza- var, também, a situação periodontal do próprio molar e
do fazendo dobra toe-in na mola verticalizadora. À medida a qualidade da gengiva na região, ou seja, a sua espes-
que o molar for se mesializando, é evidente que haverá sura — que deve ser de, pelo menos, 2mm de gengiva
necessidade de se instalar novas molas, mais curtas. ceratinizada na vestibular da raiz mesial34.
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Figura 31: Figura mostrando a anulação das forças, ocor- Figura 32: Mola verticalizadora com loop, para fechar ou abrir espaço.
rendo somente momento (geometria VI).
Figura 33: Mola verticalizadora inserida no tubo do molar e no Figura 34: Mola verticalizadora ativada em forma de curva, dimi-
criss-cross entre pré-molares. nuindo o seu comprimento.
Figura 35: Ativação da mola em forma de curva, para fechar espaço. Figura 36: Mola verticalizadora ativada em for-
ma de curva, para fechar espaço, com auxílio
de braço de força com mola ou elásticos, apoia-
dos em mini-implante.
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CASOS CLÍNICOS
A B C
D E
F G
Caso 1: A-D) Fotografias e radiografia panorâmica iniciais. E) Verticalização (mecânica utilizada): inicialmente, foram utilizados “po-
wer arms” nos molares e elástico em cadeia ancorado em mini-implante. Em seguida, foram utilizadas molas verticalizadoras, ativadas em
geometria VI, conforme as Figuras 33, 34, 35 e 36. F, G) Final: houve comprometimento periodontal, apesar da boa oclusão, necessitando
de enxerto de gengiva. Talvez o mais indicado, nesse caso, fosse a verticalização com abertura de espaço.
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A B C
E F
G H I
J K L
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A B C
D E F
G H I
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M N O
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A B C
D E
F G H
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A B C
D E F
Caso 5: A-D) Fotografias e radiografia iniciais, comparadas com as fotografias e radiografia finais, mostrando a verticalização do molar
com uso de arco lingual, ativado em geometria VI, conforme as Figuras 20 e 21. E, F) Fotografias ilustrando a mecânica utilizada no
fechamento de espaço e mostrando o espaço totalmente fechado.
Quando há comprometimento das estruturas de supor- Para qualquer movimento dentário individual, há ape-
te, muitas vezes é importante o tratamento periodontal nas um único sistema de força mais eficiente, ou seja,
prévio ao movimento de verticalização, pois a redução uma forma mais adequada de fazer o movimento de-
ou a eliminação completa de inflamação, juntamente sejado39. Compete ao ortodontista conhecer e buscar
com o movimento desejado, proporcionam condições essa melhor forma4.
de saúde ao periodonto35.
Grande parte dos aparelhos utilizados na verticalização
Para se obter os objetivos do tratamento, o fundamen- de molares produz forças extrusivas, as quais, na maio-
tal é produzir um sistema de forças desejado; portanto, ria das situações, estão contraindicadas, pois resultam
devemos planejar o aparelho adequado que ofereça o em contatos prematuros e na possibilidade de mordida
sistema mecânico correto, de acordo com o problema36. aberta (Fig. 9-16)1.
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Locks A, Locks RL, Locks LL
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